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Curso: Filosofia Modalidade: EAD

Disciplina: História da Filosofia Antiga Turma: GEH02I0257

Professor: Dr. Itacir João Piasson / itacir.joão@p.ucb.br Carga horária: 80

Estudante: Francisco das Chagas Souto Maior Coutinho de Amorim (Matrícula:


UC22422410)

ATIVIDADE - UNIDADE 3

Tópico selecionado (2ª opção): CARTA SOBRE A FELICIDADE

1. Iniciamos as respostas aos questionamentos com uma breve exposição sobre o tema
da felicidade na Carta a Meneceu (ou Mênemo), pela qual Epicuro lança luzes sobre a
conduta humana (ética) para o caminho do princípio básico da eudamonia (Peri Tes
Eudamonias), alcançado através da imperturbabilidade (ataraxia). 1
O caminho da verdade, a fim de tornar o homem liberto (autarquia), dar-se-ia
através da natureza, por meio do que Epicuro denomina de “quatro remédios” (sendo
este o principal ensinamento em relação à busca pela felicidade, τετραφάρμακος,
tetrapharmakon): destemor dos deuses; destemor da morte; buscar o supremo bem (a
felicidade); e suportar o mal (a dor, a doença e outros infortúnios). Assim, a ataraxia de
Epicuro representa o completo afastamento dos receios, sendo a eudamonia conquistada
pelo homem (embora com muito esforço), sem a intervenção dos deuses.
Atenas vivia um conturbado contexto social e político, de modo que Epicuro nutriu
as raízes de sua filosofia na doutrina materialista de Demócrito e no hedonismo
Cirenaico (de inspiração socrática), amparando as necessidades prementes da sociedade
grega com a instabilidade e decadência do vetusto modelo de participação política na
coletividade da Pólis, através de um novo paradigma naturalista e introspectivo, dirigido
a problemas de ordem prática. Em uma época conturbada, a expectativa dos males,
punições ou mesmo o advento de dádivas por parte dos deuses, para Epicuro, retirava
do homem a satisfação da vida em sua plenitude, acorrentando-o aos grilhões da
angústia e do sofrimento, deixando de fruir a vida em sua inteireza ao rejeitar sua
própria finitude. E é a natureza mesma que nos ensina (e não os deuses) o que é bom (o
prazer) e o que é mau (a dor). Mas, para que possa alcançar a ataraxia, o homem deve
se valer da sabedoria prática (phrónesis), dando vazão ao seu prazer (hedoné) de uma
forma austera, ascética, regrando, assim, o puro hedonismo Cirenaico, com o propósito
de eliminar eventuais receios acerca da morte, dos excessos no deleite do prazer e de
outras vicissitudes cotidianas.
2. Recentemente, em nosso país, surgiram acesas polêmicas sobre a relação entre
Epicuro e o materialismo a partir da obra de Olavo de Carvalho o “Jardim das
Aflições”, que considera as atrocidades do regime stalinista como herdeira da filosofia
epicurista, pelo fato de Karl Marx, na juventude, haver discorrido em sua tese doutoral
sobre as diferenças entre as físicas de Epicuro e Demócrito, de maneira a influenciar
todo pensamento moderno ocidental.2
É fato que Epicuro provoca um retorno à física materialista de Demócrito, onde a
realidade é composta de vazio e átomos, causa e efeito, representando a morte como a
privação de sensações, sendo tão-somente a separação dos átomos que compõem o
nosso corpo, não devendo o homem temer qualquer punição ou almejar algum tipo de
regalo após o seu término. A vida e o cosmos seriam fruto do mero acaso, não havendo
um telos, com intencionalidade, a guiar a existência de todas as coisas.
É fato, também, que Epicuro, porém, rejeita o determinismo de Demócrito, para o
qual a física, o movimento, dos átomos regia todos os acontecimentos do cosmos,
tornando o homem um mero espectador do acaso, fadado às intempéries do
mecanicismo. Ao revés, entendia Epicuro que a felicidade é sim atingível,
fundamentada na busca serena pela tranqüilidade, pela saúde do corpo e pela plena
fruição da vida. Convém destacar que Epicuro não nega as divindades. Afirma, apenas,
que elas não sustêm os mortais com benesses ou males, pois habitam o “intermundos”,
ao largo de nossas necessidades.
Da mesma forma, Epicuro assimila o hedonismo Cirenaico com restrições,
afirmando que a eudamonia implica em um juízo de prudência (na tradição filosófica
grega, em especial de Aristóteles), com a aponia e ataraxia. Parece-se um rematado
equívoco a afirmação de que o tetrapharmakon seria um “remédio para todos os males”,
com isto querendo significar que se trata de uma “filosofia menor” ou o que chamamos
pejorativamente de “auto-ajuda”.
Assim, o epicurismo trouxe importantes contribuições à tradição do pensamento
filosófico ocidental, ao empreender críticas e reflexões profundas sobre o dogmatismo
exercido pelos antigos sacerdotes gregos acerca da influência dos deuses sobre a vida
dos mortais, cujas repercussões foram importantes para que outros filósofos,
futuramente, pudessem questionar e até mesmo aprimorar, de forma fundamentada, o
papel do conhecimento e da razão nos pensamentos de Aristóteles e Platão.
Igualmente, em que pese o caráter especulativo de suas elucubrações, Epicuro exerce
relevante função no pensamento filosófico ao buscar explicações para os fenômenos
naturais para além das meras superstições,
Para além de discursos políticos erísticos, à tort et à travers, é preciso se posicionar
firmemente contra a pseudofilosofia do “tudo ou nada”. Se é verdade que há muito que
se criticar e especular sobre a filosofia epicurista, também o é que Epicuro foi (e
continuará sendo) alvo de disputas, pesquisas e análises entre os filósofos. Constatada,
pois, sua relevância.
3. Eis a passagem da Carta a Meneceu3 que fundamenta o argumento acerca da
existência de divindades:
“Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a
imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não
costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os
deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos
dessa maioria.”
Sobre a crítica ao determinismo materialista, Epicuro aduz:
“Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos
naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses
através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma
necessidade inexorável.”

Epicuro, também, pondera sobre a prudência na busca pelo prazer no seguinte trecho:

“Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos
prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como
acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com
ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos
físicos e de perturbações da alma.”

Referências:

1
SPINELLI, Miguel. Epicuro e as bases do epicurismo. São Paulo: Paulus, 2013.
2
CARVALHO, Olavo de. O jardim das aflições: de Epicuro à ressurreição de César. Ensaio sobre o
materialismo e a religião civil. 3ª edição. Campinas: Vide Editorial, 2015.
3
https://ghiraldelli.files.wordpress.com/2008/07/epicuro1_1.pdf

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