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“OS MAIAS” 4

CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS E A SUA IMPORTÂNCIA NA ECONOMIA DA NARRATIVA

AFONSO DA MAIA: tem uma figura forte e imponente, fazendo lembrar uma personagem histórica; é afável e
sensível; o seu companheiro é o gato Bonifácio; simboliza o velho Portugal liberalista, movimento que defendeu,
quando jovem, e que lhe valeu a oposição do pai, Caetano da Maia, absolutista convicto; vai para Stª. Olávia e depois
para Inglaterra; com a morte do pai, regressa a Portugal e casa com Maria Eduarda Runa de quem tem o filho, Pedro;
enviuva; não tendo dado ao filho a educação que queria , tenta criar o neto, Carlos, segundo os seus princípios; já
velho, passa o tempo em conversas com os amigos, apregoando a necessidade de renovar o país; morre de uma
apoplexia, quando sabe do incesto de Carlos com a irmã.
PEDRO DA MAIA: é pequenino e nervoso como a mãe, tendo pouco da força dos Maias; como protótipo do romântico,
possui uma alma adormecida e passiva, tem crises de melancolia; nutre uma grande paixão pela mãe que o impede de
ir estudar para Coimbra; cedo desenvolve a sua tendência para os amor ( aos 19 anos teve o seu “bastardozinho”);
quando a mãe morre quase enlouquece de dor exagerada e mórbida; leva uma vida devassa; tem um temperamento
nervoso e instável; é o prolongamento físico e temperamental da mãe; o casamento com a Monforte falha e ele
suicida-se; é uma personagem desenhada de um modo fortemente naturalista.
CARLOS DA MAIA: é o protagonista; é elegante e teve uma educação ao estilo britânico; estudou Medicina em
Coimbra, onde conhece Ega; viaja pela Europa, após terminar o curso; instala-se no Ramalhete com o avô; as obras
que faz na casa mostram-nos o seu cosmopolitismo, sensualidade e luxo; monta consultório no Rossio, mas leva uma
vida oca e inútil, pois a falta de estímulos da sociedade lisboeta, ociosa, fútil, ignorante e mesquinha, leva-o à
ociosidade de rico; falha a vida devido à pequenez do meio; conhece Maria Eduarda com quem mantém relações, não
sabendo que ela é a sua irmã, e mesmo depois de o saber; morto o avô, viaja com Ega e instala-se em Paris; dez anos
depois regressa a Lisboa e revela-se um frustrado.

MARIA EDUARDA RUNA: é uma bonita morena, fraca e adoentada; é extremamente conservadora e antiquada;
profundamente religiosa e beata, é responsável pela educação de Pedro e, em parte, pela sua fraqueza e consequente
suicídio.
MARIA MONFORTE: é bela, fútil, leviana, sensual, romanesca, vítima da literatura romântica; o seu passado obscuro
fez com que a apelidassem de “negreira”; contra a vontade de Afonso (que passa a viver em Santa Olávia), casa com
Pedro de quem tem dois filhos: Carlos Eduardo e Maria Eduarda; foge com o italiano Tancredo, levando a filha; leva
uma vida dissoluta, após a morte do italiano, num duelo; entrega um cofre a Guimarães com documentos que
identificam a filha.
MARIA EDUARDA: surge na obra, bela e elegante, quando Carlos e Craft entravam no Hotel Central; é forte, leal,
cheia de dignidade; sabe a verdade quando Ega lhe dá a ler a carta; viveu num colégio francês até a mãe a apresentar
a um irlandês com quem viveu 4 anos e de quem teve Rosa; parte para Londres onde vive momentos difíceis com a
mãe e a filha; regressa a Paris e passa fome; a mãe morre e ela conhece Castro Gomes de quem se torna amante;
quando conhece a verdade, parte para Paris com parte da herança do avô que lhe é dada por Carlos; mostra-se digna
até ao fim; sabe-se que vem a casar com Mr. Trelain.

ALENCAR: influencia a Monforte, uma vez que é ele que lhe empresta o romance que lhe sugere o nome para o filho;
é cúmplice no relacionamento dela com Pedro; faz a ponte entre as duas intrigas, revelando a Carlos, ao ser-lhe
apresentado, que fora amigo de seu pai; simboliza, em forma de caricatura, o romantismo exacerbado que formou e
educou a sociedade satirizada na obra; representa a incapacidade de adaptação à “ideia nova”; a sua oposição ao
Naturalismo, defendido por Ega, define-se bem no jantar do Hotel Central; no final, falhados todos os projectos
renovadores de Carlos e Ega, é por estes encarado de forma positiva e reabilitadora.
JOÃO DA EGA: é um autêntico retrato de Eça de Queirós pela ideologia literária, pelo monóculo, pela figura
esgrouviada e seca, pelo bigode e pelo nariz adunco; é ateu, excêntrico, cínico, demolidor da política e da sociedade; é
amigo inseparável de Carlos e apaixonado por Raquel Cohen; tem grandes projetos que nunca chega a realizar; é
mais um que a sociedade de Lisboa arrastou na onda da corrupção; opõe acerrimamente a sua ideologia naturalista
ao romantismo de Alencar; tem grande importância a dada altura da intriga.
DÂMASO SALCEDE: é a personagem mais caricata da obra; é o “rafeiro de Carlos”; é o sobrinho de Guimarães;
admira e inveja Carlos, imita-o e trai-o; escreve uma carta para a “Corneta do Diabo”, mas aceita retratar-se como
bêbado; casa- se e é traído; o servilismo, o snobismo, a obsessão do “chique a valer”, a basófia, a pouca inteligência e
a cobardia tornam-no um ser abjecto, repelente, física e moralmente; é uma súmula dos vícios e futilidades da Lisboa
dos finais do séc. XIX.

CRAFT: é um inglês, amigo de Carlos e Ega, rico e boémio, colecionador de bricabraque; é ele quem aluga a casa a
Carlos para se encontrar com Maria Eduarda.
COHEN: banqueiro judeu, é o representante da alta finança.
CRUGES: amigo de Carlos; é ele que aluga a casa da rua de S. Francisco a Maria Eduarda; é ele que acompanha
Carlos a Sintra; é também ele que acompanha Ega a casa de Dâmaso para que este se desdiga; é o único que se
pode considerar um artista, de todos os que intervêm no sarau do Teatro da Trindade.

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