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Os Maias- Crónica de costumes:

A Imprensa e as Ligações Amorosas na sociedade romântica

Introdução ao tema

Os Maias é uma das mais célebres obras portuguesas, escrita


por Eça de Queirós e publicada em 1888.
Eça de Queiroz fez parte da Geração de 70, grupo de jovens
revolucionários, que cansados dos sentimentalismos românticos
introduziram o realismo em Portugal. Esse despertar de consciência
manifestou-se em profundas mudanças em todos os ramos da
cultura e ainda na política.
A obra é composta por vários planos narrativos: a intriga
principal, história trágica de Carlos a partir do outono de 1875, após
a sua mudança para o ramalhete; a intriga secundária a história das
antigas gerações Maia; e ainda a crónica dos costumes, uma
grande crítica à sociedade lisboeta (e portuguesa) do século XIX.

Explicação do capítulo XV

O capítulo XV d´Os Maias inicia-se com uma conversa entre


Carlos e Maria Eduarda, onde esta lhe explica toda a sua história de
vida, caracterizada por constantes mudanças e por momentos
atribulados, sendo que desde o início são percetíveis as poucas
recordações dos seus primeiros anos de vida. Maria acaba o relato
dizendo que nunca amara antes de conhecer Carlos e que o seu
corpo permanecera sempre frio.
Dias depois, Carlos contou a Ega a história de Maria Eduarda,
manifestando o desejo de se casarem em Itália. É o seu amigo que
aconselha Carlos a aguardar a morte do avô para concretizar os
referidos planos, dada a idade avançada de Afonso e a sua
eventual oposição à união.
Por entre frequentes jantares nos Olivais onde os bon vivant
se reuniam para num clima de conforto e discussões culturais,
Carlos recebe uma carta de Ega. Inquieto, Carlos abre o bilhete e o
jornal que recebera: A Corneta do Diabo.
Este aparece como um jornal de maledicência e de
escândalos, afirmando o narrador que “na impressão, no papel, na
abundância dos itálicos, no tipo gasto, todo ele revelava imundície e
malandrice”. O Diretor e principal redator é Palma Cavalão, um
jornalista corrupto ao qual Dâmaso solicitara uma publicação com o
intuito de satirizar a intimidade da relação de Carlos da Maia e
Maria Eduarda.
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A Imprensa e as Ligações Amorosas na sociedade romântica

A suspensão da circulação deste número só é conseguida


graças a um pagamento efetuado por Ega de 100 000 réis, que
também permitiu a entrega da carta original aos injuriados.
Suspeitando a identidade do autor da mesma, Carlos da Maia
pede a Ega e a Cruges para irem a casa do Dâmaso em seu nome,
exigindo uma reparação pelas armas.
Este acaba por fazer uma confissão por escrito dizendo que a
carta era todo incoerente e que foi escrito por se ter encontrado, no
momento, no mais completo estado de embriaguez. Ega consegue
a publicação da dita carta escrita por Dâmaso, no jornal A Tarde,
dirigido por Neves, na altura deputado.
Esta decisão foi motivada não só pela injúria dirigida a Carlos,
mas também para Ega se vingar de uma possível ligação de
Dâmaso com a sua ex-amante, Raquel Cohen.
O capítulo termina com os amigos íntimos de Carlos a
aprovarem a publicação da carta, carta essa que, dias depois, é
esquecida com a redação d´A Tarde a desejar em amáveis palavras
uma boa viagem a Dâmaso Salcede, que partira numa viagem de
recreio para Itália.

As Ligações Amorosas e os sentimentos n’ Os Maias

O Amor e as relações amorosas são um tema central d’Os


Maias, apesar desta obra se inserir na corrente literária do
Realismo. Assim, estas provocam o avanço da intriga principal e
catapultam as personagens para um final trágico.
É ainda importante referir que algumas das seguintes
personagens podem ser consideradas personagens-tipo, ao
representarem a generalidade dos costumes e relações
interpessoais da época, no contexto da sátira Queirosiana.

Afonso da Maia e Maria Runa:


Passando à análise da relação de Afonso da Maia e Maria
Runa, jovem liberal que bebia as ideias da Revolução Francesa
(ideais Jacobinos) e jovem sensível, beata e melancólica ainda
absorvida pelos ideais absolutistas.
Estas duas personagens contrastam-se grandemente, não
conseguindo chegar a um acordo na educação do filho (oposição
entre uma educação tradicional inglesa e uma educação portuguesa
Romântica). Apesar da sua divergência de perspetivas, ideais e
valores, amam-se.
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Triângulo amoroso Pedro da Maia, Maria Monforte e Tancredo


(o italiano):
Passando agora para o filho do casal, Pedro da Maia, este era
um jovem apaixonado, romântico e nervoso (consequências da sua
educação) que, ao primeiro vislumbre de Maria Monforte, se perdeu
de amores venerando-a como uma Deusa. Tal encontra-se
relacionado com a paixão obsessiva que Pedro nutria pela sua mãe
se ter transferido para Maria: figura feminina, bela, fria, fútil,
caprichosa, sensual e manipuladora.
Afonso da Maia não aprovava o matrimónio do seu filho com a
filha de um antigo traficante de escravos, o que levou à revolta de
Pedro. A personagem assume a atitude típica de um herói
Romântico, que se opõem às normas sociais, desafiando o destino
e morrendo vítima do seu próprio amor.
Maria Monforte, caracterizada como sedutora, fria, caprichosa,
vaidosa e esbanjadora estava inicialmente apaixonada por Pedro
ou, pelo menos, com o estatuto social e vida confortável que iria ter
com aquele casamento. No entanto, irreverente às normas sociais
do século XIX, acaba por fugir com a filha e Tancredo, um italiano,
escolhendo o verdadeiro amor em detrimento do filho e do marido.
A fragilidade psicológica de Pedro torna-o incapaz de sobreviver à
fuga da mulher, suicidando-se. 

Carlos da Maia e a Condessa de Gouvarinho:


Carlos da Maia, filho de Pedro da Maia e Maria Monforte,
regressa a Lisboa após os seus estudos em Coimbra e a sua
viagem pela Europa.
Num jantar em casa do Conde de Gouvarinho, conhece a
Condessa de Gouvarinho, mulher apaixonada, impetuosa, leviana e
adúltera com quem tem um caso. Esta relação fugaz torna-se
enfadonha para Carlos, que não via futuro na mesma. Assim, este
procura distanciar-se de Gouvarinho, tarefa que se revelará algo
difícil, dado que a Condessa se encontrava perdidamente
apaixonada.

Triângulo Amoroso: Jacob Cohen, Raquel Cohen e João da


Ega:
Jacob Cohen, personagem-tipo Judia representativa da alta
burguesia capitalista, é fonte de admiração, tanto pela sua posição
social e económica, como pela beleza de Raquel, sua mulher. Esta,
caracterizada como provocante, protagoniza um romance adúltero
com João da Ega, amigo próximo de Carlos.
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Ega na sua irreverência, dandismo e assumido satanismo, é


uma personagem de contrassensos. Por um lado, é de facto é
um defensor acérrimo do movimento Naturalista. Não obstante, vive
o seu dia-a-dia de forma apaixonadamente romântica.
O espaço desta relação ilícita é a Vila Balzac, habitação de
Ega na Penha de França, cuja decoração em tons de vermelho e
tendo como elemento central o leito remete para a sensualidade e a
paixão vivida pelos adúlteros.
A intensa relação termina quando Cohen a descobre,
espancando Raquel e expulsando Ega de sua casa. Este episódio
trágico tem, no entanto, um certo tom cómico/ grotesco, dado que
os referidos acontecimentos sucedem no baile de máscaras dos
Cohen. O anfitrião encontrava-se vestido de beduíno, Ega de
Mefistófeles (personagem medieval aliada de Lúcifer) e Raquel de
Margarida (mulher seduzida por Mefistófeles). Tal era nada menos
do que inaceitável, dado que as relações extraconjugais deveriam
ser discretas, não proporcionando nada mais do que suspeitas.
Cohen não poderia permitir algo tão flagrante, que chegava a
atribuir-lhe a imagem de ingénuo, o que levaria a uma certa perda
de prestígio perante a sociedade.
Raquel e o marido reconciliam-se e mudam-se para Londres.
João da Ega, demora a ultrapassar o sucedido, sofrendo de
coração destroçado e evocando a passada relação junto de Carlos
e Craft. Por outro lado, quando Raquel regressa a Lisboa, é
possível verificar a continuação dos seus casos de adultério.

Maria Eduarda e McGren:


Maria Eduarda, quando saiu de um convento com uma
educação formal e rígida, foi viver com a mãe que, para a época,
tinha uma vida desregrada. Em Paris, conhece um homem irlandês,
McGren, primeiramente interessado em Maria Monforte, mas que,
na impossibilidade desta relação, acaba por fugir com Maria
Eduarda, que tinha diversas semelhanças com a mãe.
Estes casam e têm uma filha, Rosa, mas, passado algum
tempo, Mc Gren tem de partir para combater na guerra, onde acaba
por morrer. É assim que Madame MCGren acaba por ficar viúva e
com uma menina que precisa de sustentar.
A relação vivida pode-se descrever como fugaz e rápida, uma
paixão.
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Triângulo Amoroso: Castro Gomes, Maria Eduarda e Carlos da


Maia:

Aquando da apresentação na obra de Castro Gomes e Maria


Eduarda, o leitor fica com a imagem de um casal estável, feliz e
realizado. Após a partida de Castro Gomes para o Brasil, Rosa
adoece e, enquanto prestigiado médico lisboeta, Carlos torna-se
uma visita recorrente. Carlos da Maia, ao entender que Rosa era
filha da mulher por quem suspirava e desesperava nos últimos
meses desde a sua primeira aparição no Hotel Central, trata de
tornar estas visitas cada vez mais frequentes. De facto, Carlos
procurara Maria por toda a cidade de Lisboa, Sintra e arredores,
tendo-se perdido de amores com um simples olhar.
Durante estas visitas estabelece-se uma relação de
cumplicidade entre ambos e gratidão por parte de Maria Eduarda,
que se transforma numa atração inexplicável. Os dois apaixonam-
se mútua e perdidamente.
Deste modo, Carlos adquire a Toca, antiga casa de Craft nos
Olivais. Esta tornar-se-ia o refúgio íntimo de ambos, longe dos
olhares indiscretos da alta sociedade. O amor estre os dois
protagonistas da intriga principal brota de uma sintonia de
personalidades, por ambos serem inteligentes, cultos e requintados,
o que os coloca acima da sociedade mesquinha e coscuvilheira da
época
No entanto, a imagem de Maria Eduarda e Castro Gomes não
poderia estar mais longe da verdade, como Carlos irá descobrir
numa conversa com o mesmo. De facto, este e Maria Eduarda eram
apenas companheiros sexuais. Em troca de uma vida estável e
bem-vista pela sociedade conferida pelo gentleman, Maria Eduarda
era sua acompanhante na vida social e particular.
À luz desta informação, Carlos não contém o seu choque,
vendo Maria como mentirosa e temendo a possibilidade de ter um
filho ilegítimo que comprometeria a reputação de Maria Eduarda e
da família Maia. Deste modo, o protagonista pensa terminar esta
relação, mas o amor que sente por Maria fala mais alto, e acaba por
pedi-la em casamento, desejando profundamente legitimar tão
grande sentimento. Após este pedido, Maria conta a sua história de
vida através de uma analepse.
Esta felicidade não é duradoura sendo interrompida pelo Sr.
Guimarães, antigo conhecido de Maria Monforte que entrega a Ega
uma caixa onde se encontram documentos que provam o
parentesco de Carlos e Maria. Carlos mal pode crer no que lhe
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acontecera: a única mulher que realmente amava era sua irmã.


Assim, numa primeira tentativa, dirige-se à casa da Rua de São
Francisco a fim de comunicar a descoberta a Maria, falhando
miseravelmente e cometendo incesto com conhecimento. Assim,
acaba por recorrer a Ega, que conta a Maria Eduarda o sucedido e
esta parte com a filha para Paris.

Após a análise das relações românticas n’Os Maias podemos


encontrar vários géneros de relações amoras: manipuladoras tendo
como exemplo a de Pedro e Maria Monforte, em que a cegueira de
Pedro leva a que este seja usado por Maria. Quando a mesma o
deixa, este toma uma atitude romântica o suicídio, porque se não a
pode ter não pode viver. Outro tipo relações são as superficiais e
com mais interesse físico e sexual, como a de Carlos com a
condessa de Gouvarinho e a de Raquel Cohen com Ega. Por
último, temos relações baseadas na paixão, no romance, no
profundo desejo um pelo outro, mas onde o destino acaba por não
concretizar o amor tão intenso, como é exemplo a de Carlos da
Maia com Maria Eduarda.

Crítica ao Jornalismo- A Corneta do Diabo e A Tarde

N´Os Maias apercebemo-nos que o jornalismo refletia


costumes e valores culturais da sociedade portuguesa do século
XIX. Como Eça afirma neste capítulo, Tais jornais, tal país.
Deste modo, neste capítulo Eça procura criticar o baixo nível,
a intriga suja, o compadrio político e ainda a parcialidade inerente
ao consumo e à produção jornalísticas.
Quanto ao baixo nível, é claro o juízo de Eça, que observa na
sua sociedade um forte interesse por temas supérfluos. De facto, a
imprensa alimentava-se da vida privada das pessoas, ao invés de
se interessar por temas como a cultura e a arte.
Outro aspeto a criticar relaciona-se com a vingança
mesquinha e as amizades simuladas, verificadas através das
atitudes de Dâmaso, Carlos e Ega.
O episódio dos jornais denuncia ainda a decadência do
jornalismo português que se deixa corromper, em particular A
Corneta do Diabo, dirigido por Palma, que foi subornado por
Dâmaso, a fim de escrever um artigo, motivado, por isso, por
interesses económicos.
Os Maias- Crónica de costumes:
A Imprensa e as Ligações Amorosas na sociedade romântica

A Imprensa demonstra, em adição, uma preferência


comprometedora de feições políticas, espelhando o clientelismo
partidário da época. Neves, deputado, escreve em função dos seus
ideais, o que nos conduz a associar este ponto com a parcialidade
dos jornalistas.

Recursos expressivos

Em termos de registos de linguagem, a prosa de Eça de


Queirós revela-se admiravelmente versátil e maleável. Por um lado,
durante toda a obra somos confrontados com uma enorme
elegância e beleza em cada construção frásica, e com um léxico
extremamente cuidado e erudito. Por outro lado, principalmente na
reprodução das falas das personagens, recorre-se por vezes ao
calão para reproduzir com naturalidade e humor os tiques de
linguagem oral do português do fim de século. Grande parte desta
originalidade e riqueza linguística presentes n’ Os Maias, foram
conseguidas através da utilização de recursos expressivos, sendo
que no capítulo XV, alguns dos mais utilizados são:

● Hipálage:
o “ (…) manhã encoberta, entristecida ainda por um dobre
lento de sinos, que morria ao longe nos campos. “
o “ (…) escada lôbrega (…)”

A hipálage é um recurso expressivo utilizado ao se atribuir a


um objeto/ a algo uma característica que na verdade não lhe
pertence, mas que faz parte de outra pessoa/ objeto que se
encontra inserida na situação específica a que o texto se refere e
que, por consequência, se relaciona de certa forma com o objeto
em causa. No início do capítulo a manhã é-nos descrita como triste,
pacata e cinzenta, de forma a nos enquadrar no ambiente em que
Carlos e Maria Eduarda se encontravam. No entanto, toda esta
melancolia e tranquilidade sugerida pela manhã refletia, na
realidade, o estado de espírito dos protagonistas, aliviados, em
parte, por irem tornar o seu amor legítimo, mas por outro,
assoberbados pelos seus pensamentos sombrios e pelo receio de
conhecerem o passado que os perseguia. Mais concretamente,
Carlos estava prestes a saber toda a verdade sobre Maria, o que
lhe provocava uma profunda tristeza e emoção, fruto da apreensão
que sentia.
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Durante todo o capítulo, volta-se a recorrer inúmeras vezes à


hipálage, sendo “escada lôbrega” um dos vários episódios onde
este recurso expressivo aparece. Nesta situação o adjetivo
“lôbrega” que aparenta caracterizar a escada está, na verdade, a
descrever Carlos, que era quem subia a escada, uma vez que este
se encontrava bastante taciturno e desolado com toda a exposição
e vergonha pública de que havia sido vítima, não vendo forma de
sair daquele sofrimento e humilhação.

● Metáfora:
o “(…) estourar o bandulho a rir (…) “
o “(…) o velho Afonso é granítico.”

A metáfora é um recurso estilístico amplamente presente nesta


crónica, em que se verifica uma comparação subentendida, através
da utilização de certas expressões/ palavras que transferem o seu
significado para outras, explicando o objeto de uma forma não
literal. No primeiro exemplo, presente no artigo da Corneta do
Diabo a difamar a imagem de Carlos da Maia e Maria Eduarda,
recorre-se à metáfora de forma a intensificar o carácter cómico de
todo o caso romântico entre os protagonistas, segundo o ponto de
vista de Dâmaso, autor do artigo provocador. Neste caso, ao afirmar
que o que está prestes a revelar faz “estourar o bandulho a rir”
Dâmaso pretende mostrar que o riso vai ser tão forte que,
figurativamente, seria capaz de fazer explodir a barriga de qualquer
um. O segundo exemplo de metáfora corresponde a uma fala de
Ega em resposta a Carlos, afirmando que Afonso da Maia era
granítico. Esta analogia implícita do velho a um bloco de granito
pretende reforçar o seu espírito implacável, rígido e inflexível. Mais
precisamente, Carlos sabia que o avô nunca iria ceder nem aprovar
o seu romance com Maria Eduarda, devido a todo o passado fatal
da mesma. Afonso iria apenas olhar para os factos, não cedendo
por um segundo aos sentimentos puros e frágeis do neto, pelo que,
tal como granito, era duro e imaleável.

● Ironia:
o “O amigo Palma, está claro, é de toda a confiança”
o “Pensa o homem que botou conquista”

A ironia é um recurso expressivo que consiste na utilização de


palavras, expressões ou frases com sentido oposto ao seu
significado literal.
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A Imprensa e as Ligações Amorosas na sociedade romântica

Neste contexto específico, a ironia é utilizada para caracterizar,


mais uma vez, o Senhor Palma, redator e proprietário do jornal “A
Corneta do Diabo”. Ega, ao dizer que o jornalista é “de toda a
confiança” acaba por querer acentuar o oposto e remeter o leitor
para o caráter corrupto e imoral do jornalista que recebia dinheiro
para publicar ou remover diversos artigos.
Dâmaso, no artigo que escreveu, ao dirigir-se a Carlos e dizer
“Pensa o homem que botou conquista” pretende fazer troça de
Carlos por ele olhar para Maria como um amor duradouro,
verdadeiro e recíproco. Assim, Dâmaso difama a imagem de
ambos, afirmando que se Maria tem algum interesse nele, é devido
à sua riqueza e estatuto, e não ao seu carácter.

● Sinestesia:
o “doçura (…) do céu cinzento”

Uma sinestesia é um recurso expressivo bastante abundante


na lírica queirosiana, sendo que tem como objetivo estabelecer uma
relação entre dois ou mais planos sensoriais distintos.
Através da passagem acima transcrita e à semelhança da
hipálage anteriormente referida, podemos novamente, através do
contraste entre sensações, averiguar a presença de um conflito
interior em ambas as personagens, que se sentem reconfortadas
por estarem juntas, o que se reflete na “doçura” da manhã. Este
sentimento de tranquilidade estabelece um paralelismo com o “céu
cinzento” que acaba por refletir alguma melancolia no estado de
espírito das personagens.

● Comparação
o “(…) como um cão abandonado (…)”

A comparação, tal como o nome indica, é um recurso


expressivo que estabelece uma relação de semelhança entre dois
objetos. Nesta situação, Carlos relembrava-se do dia em que
procurava Maria incessantemente, sem parar para descansar,
dando valor a cada pormenor na sua busca intensa. Um cão
abandonado, por se encontrar completamente perdido e sozinho,
caracteriza-se por procurar abrigo e por farejar tudo aquilo que as
ruas lhe permitem. Carlos, nesta memória, revela que também ele
estava perdido e que a única pessoa no mundo que procurava e
queria consigo era Maria, o seu verdadeiro amor. Desta forma,
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perante toda a sua confusão interior, também Carlos “farejava” as


ruas em busca de Maria, à imagem de um cão abandonado.

Conclusão

Podemos reduzir esta herança que são Os Maias,


indiscutivelmente um símbolo do nosso património literário, a um
relato tão minucioso do quotidiano acompanhado de implacáveis
críticas à sociedade romântica oitocentista.
Por um lado, nesta obra as ligações amorosas, sem dúvida
alguma, assumem um papel crucial, retratando o modo em que se
manifestava o sentimento amoroso na época. Durante a nossa
apresentação abordámos algumas das relações amorosas deste
livro, dando mais destaque à de Pedro da Maia e Maria Monforte, à
de João da Ega e Raquel Cohen e, por fim, à de Carlos da Maia e
Maria Eduarda.
Por outro lado, numa das temáticas da Crónica dos costumes,
A Corneta do Diabo e A Tarde, dois jornais apresentados no
capítulo XV, condenam-se aspetos relativos ao funcionamento da
Imprensa.
Ironicamente, na atualidade continuamos a observar, em certas
circunstâncias, esta falta de ética associada à transmissão da
informação, pelos meios de comunicação social.
Também se perpetuou, quiçá por motivos propriamente
culturais, o estímulo a assuntos de pouca ou nenhuma relevância,
nomeadamente as bisbilhotices, que colocam em causa a
veracidade dos factos e a imagem de quem é difamado.

Fontes

https://www.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv/_11811_c.book/268/
resources/recursos_professor/u4_sistematizacao_os_maias.pdf

https://prezi.com/vanjc2mycd5y/capitulo-xv-dos-maias-o-jornalismo/
https://www.studocu.com/pt/document/universidade-do-algarve/
lingua-portuguesa/os-maias-resumo-detalhado-por-capitulos/
9426378
http://auladaproflis.blogspot.com/2012/04/os-maias-os-jornais-
corneta-do-diabo-e.html
Os Maias- Crónica de costumes:
A Imprensa e as Ligações Amorosas na sociedade romântica

https://www.coladaweb.com/resumos/os-maias-livro
https://www.jornaldapraceta.pt/lisboa/page3EcaQueiroz.html

Autores
Clara Gomes, Francisco Freire, José Araújo, Leonor Torrão Costa,
Mª Leonor Silva Pereira, Melissa do Ó 11º 1 A/5

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