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Pero Gomes Barroso (CBN 1366, CV 974), in LOPES, Graça Videira (Ed.), 2002.
Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores e Jograis Galego-Portugueses. Lisboa: Estampa (p. 420)
1. nulha rem: nada, coisa nenhuma; 2. i cuido: penso nisso; 3. realmente, por Deus; 4. porque; 5. ouvi; 6. Este; 7. há gram sazom: há muito
tempo; 8. conheço; 9. E se me a mim Deus quisess’ atender, / per boa fé, ũa pouca razom: E se Deus quisesse atender o meu pedido e me
desse um pouco de razão; 10. post’ havia: tinha decidido; 11. nada, coisa alguma; 12. aí.
3. Indica duas características temáticas do poema que contribuem para a sua inclusão
no género das cantigas de escárnio e maldizer.
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1. e 1.1. Ao longo da cantiga, o sujeito poético salienta a dificuldade em perceber o mundo e
critica as constantes mudanças na sociedade, que o fazem duvidar dos seus próprios sentidos, por
ver e ouvir coisas que nunca antes experienciara. [Esta constatação contribui para o valor
documental da cantiga, que reflete as transformações sociais e morais da época medieval.] A
reflexão desenvolvida pelo sujeito poético leva-o a sentir estranheza e até uma certa incredulidade
(manifestada no recurso às interjeições “per boa fé”, v. 4, e “par Deus”, v. 7) face ao mundo em que
vive, levando-o a querer-lhe mal e a desejar os tempos passados (vv. 6-10). Mostra-se
desencantado (v. 15) e desiludido inclusivamente com as pessoas, pois não reconhece
bondade nem nos amigos (v. 16). Por isso, deseja a morte (vv. 13-14) ou a capacidade de
“nunca jamais nem um bem fazer” (v. 22).
2.1. O primeiro momento coincide com as duas primeiras estrofes, nas quais o sujeito poético
medita sobre as alterações que vislumbra no mundo. O segundo é constituído pelas estrofes três e
quatro e dedicado à situação mais particular do “eu” face à mudança. Nele o sujeito poético assume
preferir a morte a viver nas condições que descreve.
3. O poema configura uma cantiga de escárnio, pela sua temática crítica e satírica,
denunciadora de situações da vida social e moral que, aos olhos do trovador, merecem repreensão.
Esta crítica dirige-se a uma coletividade e não a um alvo individual identificado. [Estas
características temáticas aproximam a composição do serventês.