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que dizem que morre por en2; bem vos juro, per bõa fé8:
5 5 e se assi morrer por mi, e se assi morrer por mi,
ai madre, perderei eu i3. ai madre, perderei eu i.
Vocabulário:
1
ende – disso, daí. 5
ca – que.
2
por en – por isso. 6
al – mais nada.
3
i – disso, nisso, em relação a isso. 7
guarir – salvar-se.
4
Gram sazom há – há muito tempo. 8
per bõa fé – (fórmula de juramento – por Deus).
A maior coita1 que eu vi sofrer E por maior hei eu, per bõa fé9,
d’amor a nulh’home2, des que naci, aquesta10 coita de quantas fará
eu mia a sofro; e já que est assi, 15 Nostro Senhor, e por maior mi a dá
meus amigos, assi veja prazer!, de quantas fez; e por que assi é,
3
5 gradesc ’a Deus que mi faz a maior gradesc’a Deus que mi faz a maior
coita do mundo haver por mia senhor. coita do mundo haver por mia senhor,
E bem tenh4’eu que faço gram razom5 pois que mi a faz haver pola melhor
d’a maior coita muit’a Deus gracir6, 20 dona de quantas fez Nostro Senhor.
Vocabulário:
1
coita – sofrimento. 6
gracir – agradecer.
2
nulh’home – ninguém. 7
mentre – enquanto.
3
gradecer – agradecer. 8
de coraçom – sinceramente.
4
teer – achar, considerar. 9
per bõa fé – (fórmula de juramento – por Deus).
5
faço gram razom – agir com sensatez; proceder bem. 10
aquesta – esta.
Parte A 1.
1.1 D. 1.2 C. 1.3 B. 1.4 C. 1.5 C.
Parte B
1. A donzela tenta convencer a sua mãe a deixá-la ver o seu amigo.
2. A donzela argumenta que se a mãe proibir o encontro com o amigo, este acabará por morrer e ela ficará mal vista por isso.
3. O refrão serve a estratégia de persuasão da donzela, reiterando a ideia de que o amigo morrerá se não a vir e que esta
será alvo de crítica.
Parte C
4. O trovador dirige-se aos seus amigos, como se verifica pela presença do vocativo «meus amigos» (v. 4).
5. O trovador considera que só pode agradecer a Deus o seu sofrimento. É o mais intenso de todos, mas, se sofre, é
também pela melhor dona do mundo.
SOLUÇÕES
1.
1.1 A. 1.2 B. 1.3 C. 1.4 B.
2.
2.1 «ninguém percebeu porque é que um grupo de investigadores poderia estar interessado numa planta que nem servia para
alimentar os animais» (ll. 3-5)
2.2 «A investigação começou em 2001, no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na Biblioteca Municipal do Porto.» (ll. 13-14)
3.
3.1 «a esses trapos» – complemento indireto
«que serviam como base de aguarelas» – modificador do nome apositivo
«um conhecimento muito grande» – complemento direto.
«de forma excecional» – modificador GV.
3.3 «que está na origem da cor» – modificador do nome restritivo.
4.
4.1 «bastava colocá-lo numa concha»
4.2 «Quando queriam fazer as iluminuras»
4.3 «como se fosse uma aguarela»
4.4 «e adicionar uma goma arábica, uma espécie de cola»
5.
5.1 Apócope de m e palatalização de li.
5.2 Síncope de n e assimilação de r.
5.3 Síncope de e e sonorização de p.
AMOR
Lê a cantiga de D. Dinis e responde às questões.
De mi vós fazerdes,
senhor, bem ou mal,
to’est’em vós é1, e
sofrer m’é, per bõa fé2,
o mal, ca3 o bem, sabedor
5 sõo4 que o nom hei d’haver;
mais5 que gram coit6’há de sofrer
quem é coitado7 pecador!
Vocabulário:
1
to’est’em vós é – tudo está nas vossas mãos. 8
nulha rem – nada, coisa nenhuma.
2
per bõa fé – (fórmula de juramento – por Deus). 9
atender – esperar, aguardar.
3
ca – pois, porque. 10
cuidar – pensar.
4
seer sabedor – saber. 11
al – mais nada.
5
mais – mas. 12
galardom – recompensa.
6
coita – sofrimento, mágoa. 13
se coita nom – senão coita.
7
coitado – infeliz, triste. 14
des – desde.
1. Expõe, fundamentadamente, dois traços próprios das cantigas de amor.
1. A cantiga desenvolve o tema do sofrimento por amor («cuido sempre no mal meu», v. 11; «sofro por vós tanto mal»
v. 16). Além disso, o sujeito lírico coloca-se numa posição inferior à da sua amada a quem trata por «senhor»).
2. O trovador sofre por não esperar que a amada lhe retribua o sentimento que ele por ela nutre.
3. Na primeira estrofe, verifica-se a presença da primeira e terceira pessoas gramaticais («hei», aqui um sujeito nulo
subentendido; «mais que gram coit’há de sofrer / quem é
coitado pecado»). Nas estrofes seguintes, verifica-se apenas a presença da primeira pessoa («eu»; «atendo»; «cuido»; «hei»;
«sofri»; «sofro»; «naci»; «houvi»; «vi»).
3.1 Na primeira estrofe, o sujeito lírico integra-se num grupo de quem, genericamente sofre por amor, passando de seguida a
expressar o seu sofrimento particular, como se mais nenhum outro homem sofresse como ele.
4. As formas verbais no pretérito perfeito simples «sofri» e no presente «sofro» sugerem que o sofrimento do trovador já dura
há algum tempo, não acreditando este que algum dia terminará, o que é sugerido pelo presente genérico.
DOMÍNIO: EDUCAÇÃO LITERÁRIA
AMIGO
Vocabulário:
1
por en – por isso. 6
cuidar – pensar.
2
ca – que. 7
asperar – esperar.
3
ledo – alegre. 8
u – onde.
4
des – desde. 9
esto – isto.
5
folgar – descansar.
1. Tendo em conta os diferentes momentos da ação, identifica as reações do amigo.
1. Antes da amiga chegar, o amigo estava a chorar, pois duvidava que ela fosse ao seu encontro.
2. Ao ver a sua amiga chegar, fica feliz, deixando de chorar.
3. O discurso direto corresponde ao que o amigo terá exclamado quando viu a sua amiga finalmente chegar, o que confere
vivacidade ao relato da rapariga à sua mãe.
4. O refrão reitera a felicidade do amigo ao ver a sua amiga e o prazer desta em verificar que o seu amado a quer como
nunca nenhum homem quis uma mulher.
5. A cantiga estrutura-se em três estrofes de quatro versos, seguidos de refrão (últimos dois versos a seguir a cada quadra.
Apresenta rima interpolada e emparelhada (segundo o esquema ABBA) nas quadras e emparelhada no refrão.
Pensar sobre a língua é difícil – mas não parece. É fácil encontrar quem jure saber
que os adolescentes já só usam X palavras; que garanta a pés juntos que a expressão Y
é um «erro que todos dão»; que saiba sem ninguém lhe dizer que a palavra Z entrou
na nossa língua nos últimos cinco anos… Sabemos estas coisas todas e, no entanto,
se tentarmos reproduzir, palavra por
5 palavra, uma conversa que tenhamos tido há poucos minutos, já só nos lembraremos
de uma ou outra expressão solta, umas quantas ideias, a impressão geral do sentido da
conversa. A língua é matéria mais fugidia do que parece e, por isso, com a nossa fome
de explicações, é terreno propício para impressões alçadas a certezas e para mitos que
enganam a mais informada das pessoas.
10 Os linguistas lá tentam perceber, com dados, aquilo que de facto se passa com a língua
– e, como acontece com outros cientistas, quanto mais trabalham, mais percebem a
dimensão do que falta saber. Cá fora, continuamos convencidos de que sabemos muito
– e é verdade que sabemos: temos uma gramática inteira na cabeça, que usamos para
criar frases sem fim. Mas sabemos muito menos do que julgamos sobre o
funcionamento e a variação dessa mesma
15 gramática.
Se isto é assim com a gramática, o que dizer da História da língua? Aí não serão os
mitos que nos bloqueiam a mente, mas antes o simplismo distraído. Sabemos que o
português vem do latim – e pronto. Quando ocorreu tal transição? Quando surge
Portugal, certamente. E onde? Em Portugal, obviamente. Exagerando um pouco (mas
só um pouco), a ideia que corre
20 por aí será esta: até ao século XII, o povo ali a Norte falaria latim; quando Afonso
Henriques se assume como rei, o povo decide mudar de língua. Enfim, com menos
exagero muitos diriam: falávamos latim, começámos a falar um português arcaico (ou
talvez galego-português) e logo nos decidimos pelo português tão belo, tão nacional.
Em Assim Nasceu Uma Língua – Sobre as Origens do Português, Fernando Venâncio
esborrata
25 esta bela pintura infantil. Mostra como as coisas foram muito menos simples do que
pensamos. Como tudo vinha já de trás, da língua desenvolvida na Galécia Magna, um
território que abrange grande parte da Galiza e um pouco do nosso Norte. Ficamos a
saber que o processo foi lento, muito lento – e que não chamámos português à língua
do reino até muito, muito tarde. Quando, por fim, lhe demos esse nome, já a língua
contava com séculos e séculos de percurso, com muitas
30 das suas estruturas já visíveis. O livro mostra-nos ainda como há séculos que muitos se
afadigam a tentar corrigir a língua, convencidos de que estão no fim dos tempos do
nosso pobre idioma.
1.3 O livro Assim Nasceu Uma Língua – Sobre as Origens do Português tem como
objetivo
(A) apresentar a evolução da língua e o modo como é utilizada.
(B) evidenciar a importância do conhecimento da história da língua.
(C) destacar o estudo relativo à evolução da língua.
(D) reconhecer o valor documental da evolução da língua.
3.1 «Cá fora, continuamos convencidos de que sabemos muito». (l. 12)
3.2 «temos uma gramática inteira na cabeça, que usamos para criar frases sem fim.» (l.
13)
3.3 «um material que Fernando Venâncio interroga com perícia.» (l. 37)
«Implica lutar contra esse círculo da ignorância que nos envolve, mas sem negar que ele
existe e continuará a existir.» (ll. 34-35)
5. Indica o referente do pronome lhe em «Quando, por fim, lhe demos esse nome, já a
língua contava com séculos e séculos de percurso.» (ll. 28-29)
SOLUÇÕES
1.
1.1 B. 1.2 A. 1.3 B. 1.4 D.
2. «Em Assim Nasceu Uma Língua, temos a rara junção dos dois conhecimentos»; «É uma obra de linguística que usa sem pedir
licença boas estratégias literárias. É um ensaio linguístico rigoroso – e uma história que apetece ler.»
3.
3.1 Predicativo do sujeito.
3.2 Modificador do nome apositivo.
3.3 Modificador do grupo verbal.
4.
4.1 «que nos envolve»
4.2 «mas sem negar que ele existe»
4.3 «e continuará a existir»
5. Língua do reino.
Unidade 1 | Teste de avaliação
GRUPO I
NOTAS
1
hei – tenho.
2
oí – ouvi.
3
end’ – disso.
4
prouguer – quiser.
5
a la minha fé – por minha fé.
1. Explicite duas características de género das cantigas de amor. Apresente, para cada uma delas, uma
transcrição pertinente.
Marca a página 10 Testes de avaliação
Do ponto de vista formal, a cantiga apresenta um refrão. Uma evidência é a) . Quanto
ao desenvolvimento temático, é possível associar o sentimento amoroso ao amor cortês. De facto, a
expressão “rog’eu a Deus” (v. 5) mostra não só a b) como também c) .
a) b) c)
GRUPO II
Leia o texto.
15
20 Daí a carga emocional que as minhas expectativas foram construindo sobre a sua
travessia. “Não atravesse a Vala por aí, essa é a ponte velha”, avisa-me uma senhora
apressada que se cruza no meu caminho. “Por ali tem a estrada com a ponte nova,
isso aí é só um desvio que lhe fica mais longe.” Hesito. Será que vale a pena explicar-
lhe que é isso mesmo que quero? Ou agradeço apenas, mas continuo a caminhar na
25 direção da ponte? Ao ver a minha hesitação, ela, para me convencer definitivamente
de que estou enganado, conclui com cumplicidade: “Vai para Fátima, não é?”
Gonçalo Cadilhe, Por este rio acima,
Lisboa, Clube do Autor, 2020, pp. 78-79
NOTAS
1
ponte medieval do Alcôrce – exemplar da arquitetura medieval, situada em Santarém.
2
rio do Alvisquer – troço de rio situado em Santarém.
3
Aeminium – antiga cidade romana de Coimbra.
4. Na expressão “solitário vestígio” (linha 17), a palavra “solitário” está associada à ideia de
(A) incomum.
(B) atual.
(C) exuberante.
(D) original.
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6. A oração destacada no segmento “Quem sabe o que aconteceu a essa primeira ponte?” (linha 3) é
(A) subordinada adjetiva relativa restritiva.
(B) subordinada adjetiva relativa explicativa.
(C) subordinada substantiva completiva.
(D) subordinada substantiva relativa.
GRUPO III
Escreva uma exposição, de 120 a 150 palavras, sobre os diferentes papéis que a Natureza pode
desempenhar nas cantigas de amigo.
A sua exposição deve respeitar as orientações seguintes:
- uma introdução ao tema;
- um desenvolvimento no qual indique dois dos diferentes papéis que a Natureza pode desempenhar nas
cantigas de amigo, fundamentando cada um deles com referência a poemas lidos;
- uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
FIM
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Marca a página 10 Testes de avaliação
Grupo I
1. .................................................................................................................................................. 20 pontos
Exemplo de resposta: A coita de amor e o elogio cortês são duas das características presentes no
poema que o inserem no género das cantigas de amor. Por um lado, o sujeito poético exprime o seu
sofrimento amoroso (coita de amor), cuja responsabilidade recai na saudade que sente pela amada,
desde que a viu, confessando que não poderá evitar enlouquecer ou morrer de amor (“se a nom vir,
nom me posso guardar / d’ensandecer ou morrer com pesar”, vv. 8-9). Por outro lado, o elogio cortês,
presente na exaltação das qualidades da “senhor” – “nom lhi fez par” (v. 15) e “fez das melhores
melhor” (v. 16), torna-a perfeita em relação a todas as outras mulheres na perspetiva do “eu”.
2. .................................................................................................................................................. 20 pontos
Exemplo de resposta: A hipérbole (“de quantas outras no mundo som / nom lhi fez par, a la minha
fé, nom; / e poila fez das melhores melhor,”, vv. 14-16) reforça a beleza da mulher amada, elogiada
como sendo a mais perfeita de todas e submetendo o sujeito poético ao seu poder.
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3 OU 9
2 OU 6
1 OU 3
3. .................................................................................................................................................. 20 pontos
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Exemplo de resposta: O dístico final (“cedo; ca tal a quiso Deus fazer, / que, se a nom vir, nom
posso viver.”, vv. 19-20) mostra a total submissão do “eu” face à amada, que é tão perfeita “ca tal a
fez Nostro Senhor” (v.13). Neste sentido, suplica a Deus que lhe permita ver a amada e,
consequentemente, o salve da morte.
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4. .................................................................................................................................................. 18 pontos
a) 2. b) 1. c) 1.
Grupo II
1. a 7. ............................................................................................................................................ 70 pontos
8. .................................................................................................................................................. 10 pontos
Grupo III
Sugestão de tópicos:
Diferentes papéis que a Natureza pode desempenhar nas cantigas de amigo:
– cenário dos encontros amorosos (“Bailemos nós já todas três, ai amigas”);
– confidente (“Ondas do mar de Vigo”);
– símbolo da variedade do sentimento amoroso (“Sedia-m’eu na ermida de Sam Simion”).
24 Lugares em Português 10
© Raiz Editora, 2021