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Ficha de avaliação 1

Fernando Pessoa (ortónimo e heterónimos)

GRUPO I
A

Lê o poema a seguir transcrito.

O amor, quando se revela,


Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

5 Quem quer dizer o que sente


Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,


10 Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr’a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;


Quem quer dizer quanto sente
15 Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe


O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
20 Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa, in Poesias Inéditas (1919-1930), Ática

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1.Indica o possível referente dos pronomes pessoais “ela” (vv. 3 e 9), “lhe” (vv. 4, 11, 17,
18, 19 e 20) e “a” (v. 12) e comenta a utilização da terceira pessoa do singular. 15 pontos

2.Explicita o conflito interior expresso pelo sujeito poético, transcrevendo os versos


em que aparecem dois recursos estilísticos que melhor o traduzem. 20 pontos

3.Explica o verso 10, “Se pudesse ouvir o olhar”, comentando o valor expressivo
do recurso estilístico aí presente. 15 pontos

4.Explicita o sentido da última quadra, referindo a sua função no poema. 20 pontos

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30 pontos

Atenta nas seguintes palavras de Manuela Parreira da Silva sobre Ricardo Reis:

“É no estoicismo que vai beber a força para suportar o fatalismo da morte ou dor de viver […]. É ao
epicurismo que vai buscar a apologia da suprema indiferença.”
in Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português,
coord. de Fernando Cabral Martins, Caminho, 2008

Fazendo apelo à tua experiência de leitura, comenta, num texto de oitenta a cento e trinta palavras, o
enunciado acima transcrito sobre a poesia do heterónimo pessoano, Ricardo Reis.

GRUPO II

30 pontos

Lê o texto que se segue.

Jornalistas vs. máquinas: que vença o melhor

Se as redações do passado eram salas de fumo em que toda a gente gritava, as


redações do futuro podem ser salas assépticas e de temperatura controlada. As
máquinas começaram a escrever notícias. Bem-vindas e boa sorte!

Daqui a muitos anos, a seguinte frase poderá fazer parte da História: “O Wisconsin
5 parece estar ao comando, na rota para a vitória, ao liderar por 51-10 após o terceiro
quarto.” Quem escrever os futuros anais da História poderá dizer que este foi o primeiro
parágrafo de uma notícia articulada integralmente escrita por uma máquina.
Com alguma liberdade poética, o historiador do futuro até poderá acrescentar que foi
no primeiro quartel do século XXI que a figura do jornalista – essa espécie constan-
10 temente agarrada a telefones e a computadores, trabalhando horas a fio nos intervalos
dos cigarros – cedeu passagem à concorrência: um software que mastiga dados em
bruto e cospe artigos limpinhos. Mais rápido que uma bala. Sem úlceras, sem stress,
sem gralhas. O futuro do Tintim, do Bob Woodward e do Edward R. Murrow é um
computador. Será?
15 Voltemos ao início: a frase de abertura deste artigo foi efetivamente escrita por uma
máquina – ao contrário deste texto, facto que muito lamenta a sua autora. A frase é o
arranque de uma notícia sobre um jogo de futebol americano e foi escrita por um
software desenvolvido pela start-up americana Narrative Science.
O que este software faz é pegar em dados em bruto – como estatísticas desportivas
20 ou relatórios financeiros, por exemplo – e transformá-los em textos jornalísticos arti-
culados e interessantes, rigorosos e fiáveis. Não importa se os dados em bruto são tex-
tuais ou numéricos, estruturados ou não. A máquina resolve.

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E mais: os artigos são escritos com uma rapidez proibitiva para falangetas e neuró-
nios. O texto sobre o jogo de futebol americano foi escrito em 60 (sessenta) segundos
25 após o final do terceiro quarto de jogo. Toma lá, humano!
[…] Se o vídeo matou a estrela da rádio, será que a máquina pode matar o jorna-
lista? Os criadores da tecnologia acreditam que não. Reafirmaram ao NYT que ela é
apenas uma ferramenta low-cost para as publicações, a fim de que estas se possam
“expandir e enriquecer as suas coberturas de eventos numa altura em que os orçamen-
30 tos editoriais estão sob pressão”.
Mas as provas estão aí: a máquina não adoece, a máquina é mais rápida e mais
barata, a máquina não se sindicaliza, não tem filhos nem consultas médicas, a máquina
não tem pruridos editoriais nem para para comer. Mas a máquina não tem pernas, não
tem olhos, não tem cérebro. António Granado é da opinião de que “ainda passarão
35 algumas gerações até que um computador saia à rua e escreva uma reportagem de
qualidade”.[…]

Susana Almeida Ribeiro, in revista Pública, 13 de novembro de 2011 (com supressões)

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta. Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a
opção escolhida.

1.1A frase: “O Wisconsin parece estar ao comando, na rota para a vitória, ao liderar por 51-10
após o terceiro quarto.” (ll. 4-6), aparece entre aspas porque constitui 5 pontos

(A) uma citação de um autor mencionado no texto.


(B) a transcrição de parte de um diálogo.
(C) uma possível citação futura.
(D) um possível título de um artigo do futuro.

1.2Com a forma verbal “trabalhando” (l. 10), a ação é perspetivada como 5 pontos

(A) progressiva. (B) habitual. (C) pontual. (D) acabada.

1.3Segundo a autora, o historiador do futuro poderá dizer que o computador 5 pontos

(A) criou um jornalista mais perfeito.


(B) concebeu uma forma de escrita mais limpa.
(C) substituiu a figura do jornalista.
(D) se transformou num jornalista com maus hábitos.

1.4Em “transformá-los” (l. 20), o pronome sublinhado tem como antecedente 5 pontos

(A) “dados em bruto” (l. 19).


(B) “estatísticas desportivas” (l. 19).
(C) “estatísticas desportivas ou relatórios financeiros” (ll. 19-20).
(D) “textos jornalísticos” (l. 20).

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1.5A autora do texto refere também que os futuros artigos jornalísticos serão escritos 5 pontos

(A) de uma forma completamente ininteligível para o ser humano.


(B) de uma maneira que danificará o ser humano, mental e fisicamente.
(C) com tal rapidez, que os homens serão incapazes de os ler.
(D) a uma velocidade muito superior à do ser humano.

1.6A expressão “Toma lá, humano!” (l. 25) realiza um ato ilocutório 5 pontos

(A) expressivo. (B) diretivo. (C) assertivo. (D) declarativo.

1.7Na frase “[…] a máquina não adoece, a máquina é mais rápida e mais barata, a máquina não
se sindicaliza, não tem filhos nem consultas médicas, a máquina não tem pruridos editoriais
nem para para comer.” (ll. 31-33), a repetição de “máquina” constitui um mecanismo linguístico 5
pontos

(A) imprescindível para assegurar a progressão textual.


(B) indispensável para enumerar as qualidades de “máquina”.
(C) que permite apenas estabelecer uma coesão interfrásica.
(D) que enfatiza a ideia de superioridade associada à máquina.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.

2.1Classifica a oração iniciada por “que” em “[…] que foi no primeiro quartel do século XXI” (ll. 8-
9). 5 pontos

2.2Identifica o processo de formação de palavras de que resulta o vocábulo “low-cost” (l. 28). 5
pontos

2.3Identifica a função sintática desempenhada pela expressão “à rua” (l. 35). 5 pontos

GRUPO III

50 pontos

Em declarações acerca do tema “Como vamos viver em 2049”, à Revista Única, Nuno Crato afirma:

“Não me atrevo a prever o que acontecerá daqui a 38 anos. Os computadores e a Internet não
estupidificam as pessoas nem as tornam mais inteligentes. Tudo depende do uso que deles se faça.”

in Revista Única, Expresso, 26 de fevereiro de 2011

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras,
apresenta uma reflexão sobre o que é afirmado no excerto transcrito – o impacto das novas tecnologias
nas nossas vidas.
Para fundamentar o teu ponto de vista, recorre, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.

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FICHA DE AVALIAÇÃO 1 Pág. 39 1.5. (D) a uma velocidade muito superior à do ser
humano.
1.6. (A) expressivo.
GRUPO I
1.7. (D) que enfatiza a ideia de superioridade
A associada à máquina.
1. Os pronomes pessoais referem-se, 2.1. Subordinada substantiva completiva.
provavelmente, à mulher amada. Sendo o poema
2.2. Empréstimo.
uma declaração de amor, a utilização da 3.ª pessoa
foge à declaração tradicional que, por norma, é 2.3. Complemento oblíquo.
dirigida a uma 2.ª pessoa, evidenciando a
impossibilidade que o sujeito poético sente de
exprimir diretamente as suas emoções.
2. As antíteses e trocadihos – “O amor quando se
revela, / Não se sabe revelar” (vv. 1-2), “Quem quer
dizer o que sente / Não sabe o que há de dizer.” (vv.
5-6), “Fala […] / Cala […]” (vv.7-8), “Já não terei que
falar-lhe / Porque lhe estou a falar…” (vv. 19-20),…
– traduzem o desejo do sujeito poético de revelar o
seu amor e a dificuldade que sente em fazê-lo.
3. O recurso à sinestesia (“ouvir o olhar”) salienta o
desejo do sujeito poético de que a amada pudesse
perceber o seu amor por ela sem que ele tivesse de
recorrer às palavras e o fizesse, apenas, através da
interpretação do seu olhar.
4. A última quadra é a justificação da escrita do
próprio poema (“isto”) como solução encontrada
pelo sujeito poético para fazer passar a mensagem
à mulher que ama.

A resposta deve contemplar os tópicos que a seguir


se enunciam.
Na poesia de Ricardo Reis, são evidentes a
influência do estoicismo e do epicurismo:
– a fruição do momento presente, procurando
prazeres moderados;
– a fuga à dor e a ataraxia;
– a autodisciplina, a abdicação, a recusa de
compromissos afetivos e sociais;
– a aceitação calma e serena da ordem das coisas e
do destino;
– a consciência da passagem inexorável do tempo e
a obsessão pela morte;
–…

GRUPO II

1.1. (C) uma possível citação futura.


1.2. (B) habitual.
1.3. (C) substituiu a figura do jornalista.
1.4. (A) “dados em bruto” (l. 19).

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