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FCSHA. Semiótica da Comunicação, I Sem 2023/2024. 2º Ano CC e TMC.

A Teoria do Significado de Herbert Paul Grice

Querendo dizer outra coisa (Indirectividade). “...Frequentemente, o significado de


um enunciado, ou de uma parte do discurso, não é, e não pode ser, descoberto pelo
intelocuor com facilidade. Talvez, a dificuldade esteja em alguns dos níveis de
interpretação – na determinação do sentença, do significado do enunciado, ou do
significado do falante – e sua origem possa estar, talvez, na violação de alguns pré-
requesitos da transparência: uso de palavras incomuns ou de construções sintáticas
complexas, referência dêitica a elementos particulares que não estão disponíveis no
contexto imediato, falta da explicitação das intenções do falante, autoreferência do
enunciado, falta de semelhança “funcional”, “ideológica”, “social” entre os falantes
e os seus interlocutores, etc. Em muitos casos, tal falta de transparência é apenas um
“acidente” na comunicação. Mas há casos em que o falante está completamente
consciente dos problemas deste tipo ... Em todos estes casos, a falta de transparência
é usada pelo falante para algum fim específico, a saber, a fim de “querer dizer outra
coisa”. DASCAL, M. (2001). Pragmática e Filosofia da Mente I. O pensamento na
linguagem, trad. de Rodrigo B. de Faven. Coritiba: Editora UFPR, p. 207-208

Reelaborando livremente algumas sugestões de Grice (1957; 1968), distinguir-se-á


entre aquilo que a expressão «diz» convencionalmente e aquilo que alguém «quer
dizir» (ou entender) ao usar essa expressão. Definiremos estes dois tipos de
significado como convencional e situacional. ECO, U. (2001[1984]). Semiótica e
Filosofia da Linguagem, trad. de Mª de Bragança. Lisboa: I. Piaget, p.79.

Em 1957 aparece “Meaning (Significado)”, um artigo de P. Grice, que representa uma mudança metodológica radical
na forma de tratar o problema do significado. Grice está preocupado com a natureza geral do significado e, portanto,
preocupa-se com o que significam os atos, fatos ou objetos significativos, sejam linguísticos ou não, e como conseguem
significar o que significam. Depois de distinguir no “Significado” entre o significado natural e o significado não
natural de “meios” e, dentro deste último significado, distingue entre o significado do locutor (falante) e o sentido do
tipo enunciado, Grice propõe analisar a noção de significado do locutor (falante), investigando as condições que tornam
possível a um indivíduo querer dizer algo ao fazer um tipo de expressão. Esta análise é realizada em termos de intenções
e seu reconhecimento. O conceito de significado ocasional do falante é o conceito semiótico básico, o conceito a partir
do qual eles podem ser definidos, entre outos conceitos semióticos de significado atemporal do enunciado e do
significado atemporal da expressão.
Deste modo, a noção de significado do falante é definida em termos psicológicos independentes de noções semânticas,
uma vez que o reconhecimento das intenções que caracterizam o significado do falante não deve pressupor que o
significado do enunciado (i.e, sentencial) seja compreendido. A vantagem dessa nova abordagem é que, segundo ele,
noções semânticas, já consideradas perversas na época em que Grice trabalhava, deixam de ser primitivas. Isto não
significa que Grice teve problemas em reconhecer noções intensionais. Na verdade, ele acredita que esta é a forma correta
de abordar os problemas relacionados com a significatividade da linguagem (Grice, 1968:137) e nem sequer pretende,
como ele mesmo reconhece (1987: 351), elaborar uma teoria que reduça a noção de significado a uma noção menos
suspeita; o que ele tenta evitar a todo custo é pressupor a noção de significado na análise dessa noção para evitar cair num
círculo vicioso.
Contudo, a análise do significado do falante proposta em “Significado” (1957) foi rapidamente posta em causa. Críticas
notáveis são as feitas por Peter Strawson (1964), John Searle (1965) e Elizabeth Schiffer (1972). Alguns desses autores
propuseram certas reformulações da teoria. No entanto, Grice considerou algumas das objecções e tentou, com bastante
sucesso, explicá-las em 1969 com o seu importante artigo de leitura obrigatória “As Intenções e o Significado do
Falante”.
Em última análise, existem dois elementos que nos permitem explicar o que o falante quer dizer com o que pronuncia;
por um lado, o que o falante quer dizer é explicado apelando à intenção do falante de provocar uma crença no
interlocutor através do reconhecimento deste último da intenção deste último ao interpretar o ato ostensivo do falante e,
por outro lado, é assumido a racionalidade dos falantes, na medida em que fazem o que podem para que seus
interlocutores reconheçam a intenção que determina o significado do falante.
O próximo passo na estratégia de Grice é definir o significado dos enunciados-tipo com base na noção de significado
do falante, que, como foi dito, é o conceito semiótico básico. A sua proposta constituiria uma teoria do significado, no
sentido favorecido neste livro, se o significado dos enunciados típicos pudesse realmente ser elucidado a partir do
significado do locutor, uma vez que tenham sido selecionados a partir dos enunciados que são verbais. Contudo, deve-se
reconhecer que o trabalho de Grice não enfatiza esta etapa. Da quantidade de obras que produziu, dedicou-se apenas
parcialmente a esta tarefa na sua obra de 1968. Daí que a sua análise serve, no máximo, como ponto de partida para uma
teoria do significado.
A racionalidade do comportamento verbal dos falantes é também o ponto de partida daquilo que se tornou um tema
central da Filosofia da Linguagem: as implicaturas (convencionais e não convencionais). Em implicações não
convencionais, os falantes às vezes dizem mais do que realmente dizem literal e convencionalmente ao usar suas
expressões porque transgridem, mesmo que apenas na aparência, algumas das diversas formas que a racionalidade do
comportamento verbal pode assumir. in FRAPOLLI, M. J. e ROMERO, E. (2007). Una Aproximación a la Filosofía del Lenguaje. Madrid:
SINTESIS, Cap. 6., pp. 173-174.

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