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CENTRO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

DE PORTO ALEGRE

CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS
SOBRE A INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA

– GRUPO DE ESTUDOS EM EPISTEMOLOGIA DA PSICANÁLISE –


CLARICE MARIA JAHN RIBEIRO
DANIELA D’ARRIAGA DE MEDEIROS
DENISE HEBERLE JAEGER
JOÃO LUIZ COSTA RIBEIRO
LENICE CRISTINA DA SILVA CUNHA
THEOBALDO OLIVEIRA THOMAZ (Coord.)

Porto Alegre,
Abril de 1999.
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CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS
SOBRE A INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA

I — INTRODUÇÃO AO PROBLEMA DOS LIMITES DA INTERPRETAÇÃO

Levando em conta que nós psicanalistas não podemos esperar que nosso
desempenho se torne criticamente pobre de resultados para que venhamos a nos
tornar mais conscientes das exigências da tarefa analítica resolvemos discutir o
problema dos limites da intervenção interpretativa – matéria técnica de estatura
pouco concreta – a chamada interpretação, esta fala do analista que deve, acima
de tudo, reportar-se sempre e prioritariamente ao material associativo produzido
pelo analisando. Esta deverá ser, grosso modo, também a manifestação mais
absolutamente respeitosa que se possa desenvolver num contrato de trabalho
desta natureza. Não há lugar neste projeto (o analítico) para o que Eco (p. 15)
chama de “semiótica ilimitada” que admite interpretações arbitrárias, continente
quase sempre do ideário projetado do interlocutor analista, ainda que se possa
estar de acordo com a idéia de que o contexto todo (psicodinâmico) é, em si
mesmo, ilimitado.

Devemos nos perguntar permanentemente se há de fato um limite para a


interpretação psicanalítica e se somos capazes de conhecê-lo ou mesmo
reconhecê-lo. Se há, por acaso, possibilidade de aproximação empírica sobre tal
“subject”, ou um tipo de abordagem argumentativa, digamos, pós-empírico, que
contemple igualmente a questão da macrodinâmica (mais além da transferência),
ou sendo necessariamente constritivos na estrita singularidade do indivíduo,
incidindo sobre o pequeno mundo psicodinâmico da transferência.
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A interpretação é a linguagem da psicanálise enquanto técnica. Neste


sentido é limitada, constritiva e centrada na linguagem do paciente. Na dita
psicanálise aplicada, por outro lado, é ilimitada (ainda que no âmbito da teoria).
Não há aí, praticamente, limite semiótico. A obra de arte é, para o psicanalista,
indefesa.

Posto isto, digamos, as interpretações passam necessariamente pelas


palavras que como sabemos giram caleidoscopicamente na produção de
significados e às quais somos, como lembra Fédida, extremamente sensíveis (ao
seu poder). Com mais razão, o analisando que se encontra por força das
circunstâncias atípicas da assimetria e, felizmente apenas durante o tempo hábil
da análise, sob a tutela da autoridade transferencial. A fala do psicanalista tem,
exacerbado, o poder sugestivo do convencimento. Assim, qual o limite que nós
temos para construir a interpretação dentro do universo de palavras disponíveis,
diminuindo ao máximo este efeito indesejável ainda que inevitável?

Na tentativa de definirmos, dentro deste nosso plano de abordagem, a


palavra do analista, mesmo a palavra silêncio do analista – já que o silêncio define
por assim dizer um momento negativo da interpretação, nem o “nothing” nem o “no
thing” de Bion, apenas uma espécie de espaço projetivo onde já se está
construindo a intervenção – deparamo-nos, várias vezes, com uma multiplicidade
de qualidades acessórias atribuíveis às palavras que as tiram da condição
meramente comunicativa da técnica: a forma em toda sua atratibilidade enganosa,
ainda que útil, a estética, em sua necessária relação ao ato de sentir, a imagem,
capacidade da palavra de criar a idéia exata do que ela quer representar, a própria
criatividade, quando conseguimos criar um cenário visualizável a partir dos
elementos que o interlocutor analisando subsidia, mas que parece nunca ter visto,
configurando o efeito “sinistro” da maravilhosa construção poética de Freud e,
então, finalmente, ela própria, a poética, esta incorrigível liberdade que
reivindicamos sempre para nosso próprio discurso. Estas ora chamadas
qualidades da linguagem rondam o método interpretativo, conferindo-lhe certa
musicalidade, sem a qual a linguagem não é nada, ainda que com o risco de
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conduzi-la para longe do sentido, como a sereia a Ulisses. Apesar disso, e


paradoxalmente, instrumenta para que cheguemos a ele. Daí a caleidoscópica
ambigüidade das palavras e, por conseguinte, das técnicas que se valem delas,
como a Psicanálise.

A palavra, este elemento essencial da interpretação que é presença mesmo


no silêncio porque abre o espaço projetivo, vai ter e mobilizar poderíamos dizer, de
acordo com Ricoeur (p. 123), duas outras qualidades constitutivas do ser: a
certeza e a suspeita. Ambas na ordem do subjetivo. Que não se confunda, em
nenhum momento, como recomenda Popper (in Horgan, p.54), a certeza, que é
subjetiva, com a verdade, que é objetiva e absoluta. Entretanto, a retórica como
vai lembrar outro epistemólogo de peso ( Feyerabent, in Horgan, p. 72) é crucial
para que se sustente um argumento. Neste sentido, a própria verdade é um termo
retórico. E as interpretações psicanalíticas herdam, seja pela assimetria do
enquadre, quer dizer, pela autoridade transferencial, seja pela natureza do
contrato, esta qualidade retórica da certeza e da verdade que passa a ser
exatamente a razão pela qual incita a outra qualidade constitutiva de Ricoeur, a
suspeita. Em nossa opinião, justamente por essa ação invasiva e impositiva. Ao
nos limitarmos estritamente à fala do outro, conseguimos eliminar grande parte da
suspeita com que sempre são recebidas as palavras. Por isto recomenda-se uma
permanência quase absoluta na fala do analisando (lembrem-se, o absoluto pode
ser uma qualidade da verdade, e a verdade no caso é a fala do outro, o
interlocutor analisando). Nela deve estar a fala do analista que apenas vai
enxergar o símbolo, a fantasia, o conflito, ou o protopensamento, para o que está
habilitado. Vai fazer a “leitura em voz alta para os que não sabem ler” (Popper; 9,
p. 41).

A bem da verdade, temos que sugerir uma outra razão pela qual a fala do
psicanalista levanta suspeita, apesar do invólucro provisório de verdade com que
vai avalizada: é que ela nasce na suspeita, tira sua verdade daí. Ao dizer nas
interpretações que conteúdo latente, símbolo, fantasia ou conflito não são
exatamente o que conteúdo manifesto quer dizer, a Psicanálise estriba-se
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metodicamente no cinismo. Não se assustem com as palavras. Cinismo quer dizer


rigorosamente colocar sob suspeita tudo o que está sendo dito. Neste sentido, a
Psicanálise é cínica. E é também irônica. Irônica porque tem múltiplos
significados, nenhum definitivo, a não ser que queiramos abusar da retórica.
Novamente, herança da linguagem que é sua matéria prima.

Embora a linguagem, como diz Paul Ricoeur (p. 123), não possa ser
encarada como um mundo em si mesmo, como pretendia Popper, ela é
manifestação do mundo interno que está sendo investigado (não esquecer que
aqui entra o mundo imaginário do interlocutor psicanalista pela
contratransferência). Mas não só investigado, formado, se admitirmos uma
espécie de função organizadora da linguagem que vai criar algo que passa a ser
uma característica essencial, um traço, identificador a partir daquele momento e
até então inexistente porque não havia sido posto em linguagem, tanto no sentido
estritamente técnico (interpretativo), âmbito da pequena sociedade bipessoal dos
consultórios, quanto no sentido das características essenciais do grupo maior que
cria a linguagem e a utiliza. Kuhn (p. 257) é quem vai lembrar que “o
conhecimento científico, como a linguagem, é intrinsecamente a propriedade
comum de um grupo, ou então não é nada”. Chamamos a atenção para o que
denominamos de peculiar agrupamento essencial da Psicanálise, microsociedade,
cuja origem está na realidade do pequeno agrupamento da relação mãe-bebê.

Mas o que caracteriza os limites da interpretação? Os respectivos mundos


internos dos personagens em questão (analisando e analista) na sua peculiar
organização social? O controle dos recursos discursivos? O limite no tempo
presente, o chamado aqui e agora da transferência, que se insurge contra a
eventual historização do indivíduo? O tempo do aqui e agora, como se fosse todo
o tempo da vida afetiva, como se arbitrássemos que aquele é todo o tempo?

Historizar é importante para um tempo, talvez para o tempo de


compreender, mas não para o tempo de interpretar, dada a natureza
necessariamente limitante da interpretação, sua contenção para aquém de um
tempo que não conhecemos.
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II — REFLEXÕES SOBRE O TEMPO EM PSICANÁLISE, COMO LIMITE


PARA A INTERPRETAÇÃO
O trabalho analítico no aqui e agora desorganiza o sentido cronológico de
tempo com o qual o sujeito está (mal) acostumado. Seu pensamento refere-se à
cronologia dos acontecimentos que ele narra, enquanto o psicanalista pensa no
tempo em que está ocorrendo a narrativa, presentifica o ato de pensar ao qual
chama tempo do aqui e agora.

No mesmo ato interpretativo que desfaz o sentido histórico/cronológico dos


acontecimentos narrados, cria outra historicidade, baseada na relação para fora
dos horários, calendários, relógios ou quaisquer outros marcadores do tempo
conhecidos na comunicação extra psicanalítica, uma historicidade e cronologia
que subsiste na relação entre os interlocutores da microsociedade bipessoal do
enquadre, a cada momento. Propomos, provisoriamente, chamá-lo de tempo de
sentido representacional, espécie de qualidade metafórica para o tempo em
questão.

Partindo do tempo em que ocorre a narrativa do paciente, o analista propõe


uma outra dimensão cronológica, na qual o que relaciona um elo com o outro não
é o tempo cronológico em que ocorrem os fatos, mas a seqüência em que suas
representações aparecem na consciência. Assim, tanto o local (aqui) quanto o
tempo (agora) não constituem significado em si mesmos, mas favorecem a
emergência ou a criação de um significado através de um vínculo que se torna
consciente ou se forma entre os elementos que surgem naquela dimensão – do
aqui e agora.

Ao assinalar tal relação entre os elos do pensamento, relações entre uma e


outra unidade memorizada componente do pensamento, está o analista propondo
que existem elos, que são freqüentes e íntimos – tão íntimos que deles o indivíduo
nem se apercebe. Disto resulta uma organização que confere ao indivíduo a
sensação de continuidade psíquica. Continuidade que inclui, claro,
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descontinuidades, que o indivíduo aprenderá a reconhecer, no sentido de que


aprenderá a buscar-lhes representações, registros, mesmo na ausência da
presença objetiva de um referente. Não mais aceitará tacitamente esta
ingenuidade original da ausência de intimidade entre elos.

Isto ocorre quando o analista assinala que estão presentes representações


de um objeto que se encontra de fato ausente; então, a suposta descontinuidade
psíquica, decorrente da ausência momentânea e dissociativa do objeto, torna-se
presença da ausência, com as suas concomitantes emoções, sentimentos,
configurando uma espécie de tempo afetivo, elemento cíclico e invariável da
cronologia, na verdade fenômeno capaz de devolver esta consistência de história
que se repete.

Podemos, assim, pensar que o atrelamento ao tempo cronológico, aquele


dos relógios e calendários, serve como recurso e defesa contra a representação
da presença na ausência – presença de ausência –, gerando um tipo de
incapacidade relativa para a recuperação dos registros que poderiam ser
representacionalmente feitos.

O que se propõe com o aqui e agora é uma alternativa para a continuidade


psíquica, que tem a sua representação transtornada pelo uso de defesas
alienantes, que fixam a produção do pensamento no tempo de eventos sucessivos
criando uma continuidade falsa, pois baseada em uma historicidade cronológica
do tipo tempo-relógio/calendário, que subverte a cronologia representacional,
aquela que evidencia a relação entre dois elementos do pensamento, não
necessariamente postos em ordem cronológica.
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III — A POÉTICA NO DISCURSO INTERPRETATIVO: SOBRE O USO


(IN)DESEJÁVEL(?) DAS QUALIDADES SUBVERSIVAS DO DISCURSO
QUE AFRONTAM A PALAVRA DO INTERLOCUTOR ANALISANDO

Temos um precedente ilustre, espécie de jurisprudência que autoriza a


licenciosidade discursiva. Pois, que é o sonho senão uma produção poética em
imagens do inconsciente? Fenômenos privilegiados através dos quais se têm
acesso à subjetividade. Lá onde o sujeito se revela através de um truque
discursivo que faz emergirem as marcas originárias que habitam um tempo e um
espaço fundante do ser. A descrição de um sonho na cadeia associativa ausculta a
poética da alma. O sonho se apresenta estruturado como um escrito cifrado, cujo
deciframento é tão ilimitado quanto a possibilidade de combinação de seus signos,
mas é também uma manifestação poética espontânea do psiquismo, destinado a
encher de palavras a partir das imagens, já que umas resultam forçosamente das
outras, um nicho onde estas palavras ainda não haviam chegado (parafraseando
Rilke nas “Cartas a um jovem poeta”).

Pois bem, a psicanálise vale-se muitas vezes do discurso poético para


solucionar as falhas comunicacionais, já que a linguagem figurada, metafórica,
pode ser a única possível quando se trata de descrever processos psíquicos no
encontro clínico analítico, a exemplo do que acontece nos textos de literatura
psicanalítica. Freud mesmo já dizia que a forma de seus escritos estava mais
próxima da literatura que da ciência.

Pierre Fédida (p. 49/50) lembra que a fala interpretativa não se nutre
apenas da temporalidade complexa da regressão, em si mesma empobrecedora
da linguagem, mas comporta este recurso mais elaborado da formação poética,
portanto, recurso metafórico da linguagem, verdadeiro canal enriquecedor da
comunicação. A idéia desenvolvida por Fédida é a de que uma interpretação, a
fala que nomeia, não serve a uma representação, mas traz à luz uma imagem
singular (“que condensa em um tom a atmosfera de todas as sensações
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particulares desse encontro com as coisas que o fenômeno é”). Não é uma cópia
que descreve e representa a coisa e, sim, uma imitação que permite que a coisa
apareça singularmente, sem familiaridade. Neste sentido, opõe-se até ao
“unheimlich” freudiano.

A interpretação psicanalítica produz um efeito estético quando provoca a


ruptura dos referenciais em que se assentava a auto-representação do
analisando, gera angústia e impulsiona o sujeito à práxis poética da busca de um
sentido. Não se trata de uma tradução simultânea mas da inauguração de um
tempo e um espaço, e por conseqüência uma nova linguagem. As imagens
expressas por uma metáfora produzem uma representação memorável e
emocionante de como uma experiência foi percebida, ou de como uma idéia foi
concebida. A dupla analítica não pode ver-se privada desta vertente
comunicacional enriquecedora, mantendo-se apenas enquistada no território rígido
da técnica autorizada: o discurso do analisando e a atemporalidade relativa do
aqui-e-agora.

A interpretação se constrói a partir da fala do paciente fecundada pelo


silêncio que permeia a escuta até o momento de seu desenlace, mas não basta
analisar ou suportar o infantil trazido na transferência: o analista precisa convocar
o que ainda não pôde ser dito. Para tanto, inúmeras vezes se fará necessário
lançar mão de palavras-imagens, desdobramentos da fala, abertura de novos
espaços com o fazer poético – da imagem à fala, da fala à imagem, a palavra filha
da palavra.

Não se trata de um simples brincar com as palavras, mas, digamos, aplicar


ao método psicanalítico o princípio do ideograma: uma combinação de signos
capaz de produzir muitas dimensões comunicacionais. Se a fala interpretativa
obedece a uma temporalidade regida pelas associações do paciente, como
reiterado tantas vezes, parece-nos claro que devemos poder oferecer-lhe uma
nova alternativa de linguagem, baseada nas experiências – nomeando o desejo e
dando-lhe, assim, condição mesma de existência. O ideograma é uma espécie de
metáfora visual, donde resulta, ao mesmo tempo, a plasticidade e o laconismo: a
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simples combinação de dois ou três detalhes de ordem material proporciona uma


representação perfeitamente acabada de uma outra ordem – a psicológica.

Sabemos que o pensamento visual é mais antigo e se aproxima mais dos


processos inconscientes do que o pensamento verbal. Daí a necessidade de
usarmos metáforas de regressividade sucessiva, de retornar de alguma maneira
ao pensamento imagem e inaugurar uma linguagem onde antes as palavras já
muito usadas tinham o sentido de defesa contra uma vivência. A palavra, embora
representando o afeto e o sentido é apenas a própria palavra enquanto signo e
nessa ótica o signo transfere virtualmente uma metáfora. Às vezes o simples
pronunciar de uma mesma palavra pelo outro conduz a uma nova ou diferente
cadeia associativa.

Fazendo uma analogia com o verbo e a escrita, Nicolaídes (p. 125) formula
a hipótese de que o hieróglifo (escrita próxima à linguagem) assim como a fala
proveniente dessa escrita, são meios de comunicação delirante-alucinantes,
comparadas à escrita e à língua alfabética, meios de comunicação simbólicos por
natureza. Esta hipótese traz consigo outra, ou seja, que a língua materna
começaria de forma hieroglífica devido ao fato de que a fala é apenas um meio de
comunicação evoluído, substituto dos gestos, das posturas, das mímicas, através
dos quais efetuava-se, até então, a relação mãe-criança.

A introdução da língua como traço de união entre a mãe e a criança


representa o valor econômico, dinâmico e tópico de uma interpretação onde a mãe
é o primeiro agente. Como diz Aulagnier (citada por Nicolaídes, p. 109), é uma
evidência o fato de a interpretação ser uma violência inicial feita contra o sujeito e
contra a sua liberdade – esteja ela contida pelos limites da fala autorizada, seja
mascarada pelos atributos enriquecedores do discurso forte do processo
secundário, porque condena o indivíduo à imagem que ele próprio não quer, em
princípio, conceber. Mas, do mesmo modo, “é evidente o que tal violência tem de
necessário para que o grito se torne um apelo e não puro ruído, o sorriso um sinal
de amor e não simples jogo de músculos, o aleitamento um desejo de fazer viver e
não pura oferta de calorias”.
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Assim, a análise pelas palavras abre novos espaços de pensamento para


que o paciente recrie sentidos a partir de sua própria fala, contando com uma
postura continente para as associações que muitas vezes estão cheias de sentido
mas não conseguem encontrar forma, às vezes capturadas na forma e defendidas
de um sentimento em busca de uma representação e às vezes simplesmente
palavras em busca de um sentimento.

A interpretação deve romper o moto-contínuo de significações recorrentes,


convidar o paciente a questionar o antes-dito ou o interdito e transformá-lo em
autor de seu próprio texto. Interrompe, assim, o círculo da narrativa “era uma vez
um gato xadrez quer que eu te conte outra vez?”.

O fazer poético impede que se fique aprisionado em conceitos – nele, as


palavras mudam de sentido conforme o sentir.
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BIBLIOGRAFIA

1. AULAGNIER, Piera. O aprendiz de historiador e o mestre-feiticeiro. São Paulo,


Ed. Escuta, 1989.
2. ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo, Ed. Martins
Fontes, 1993.
3. FÉDIDA, Pierre. Comunicação e representação. São Paulo, Ed. Escuta, 1989.
4. HERMANN, Fábio. O divã a passeio. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1992.
5. HORGAN, John. O fim da ciência. São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 1998.
6. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. S. Paulo,
Perspectiva,1986.
7. NICOLAÍDES, Nicco. A representação. São Paulo, Ed. Escuta, 1989.
8. POPPER, Karl. Autobiografia intelectual. São Paulo, Ed. Cultrix, 1986.
9. ——— Conjecturas e refutações. Brasília, Ed. Universidade de Brasília,
1982.
10. RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações – ensaios de hermenêutica. Rio
de Janeiro, Ed. Imago, 1978.

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