Você está na página 1de 20

FICHAMENTO DE

LIVRO

ANÁLISE DE DISCURSO
Princípios e Procedimentos

Eni Puccinelli Orlandi

Campinas, SP: Pontes, 2003


Inicialmente, ao prefaciar o livro, o autor cita as primeiras características
do discurso: movimento dos sentidos, errância do sujeito, lugares provisórios de
ancoragem e dispersão; de unidade, diversidade, indistinção, incerteza, trajetos
e de vestígios.
Como se dá a construção dos sentidos? Salienta que a construção dos
sentidos se dá através do estabelecimento provisório do sujeito e dos sentidos e
na estabilidade.
Os sentidos estão sempre “administrados”, não estão soltos. Diante de qualquer fato, de
qualquer objetos simbólico somos instados a interpretar, havendo uma injunção a interpretar.
Ao falar, interpretamos. Mas, ao mesmo tempo, os sentidos parecem já estar sempre lá. (pg.
10)

I O DISCURSO
** CONCEITO DA ANÁLISE DE DISCURSO:
A Análise de Discurso, como seu próprio nome indica, não trata a língua, não trata da
gramática, embora todas as coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso,
etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O
discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso
observa-se o homem falando.(pg. 15)

** ANÁLISE DO DISCURSO E A MEDIAÇÃO:


A Análise do Discurso concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a
realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a
permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da
realidade em que ele vive. O trabalho simbólico do discurso está na base da produção da
existência humana. (pg. 15)
** FINALIDADES DA ANÁLISE DE DISCURSO:
Trabalha com a língua no mundo, com maneiras de significar, com
homens falando, considerando a produção dos sentidos enquanto parte de suas
vidas, seja como sujeito ou seja com parte integrante de um grupo social.
Há a possibilidade de perceber outros sentidos, compreendendo como
eles se constituem. “Em suma, a Análise de Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz
sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos.(pg. 26)”.

A Análise de Discurso se propões construir escutas que permitam levar em conta esses
efeitos e explicitar a relação com esse “saber”que não se aprende, não se ensina mas que
produz seus efeitos. Essa nova prática de leitura que é discursiva, consiste em considerar o
que é dito em um discurso e o que é dito em outro, procurando escutar o não dito naquilo que
é dito, como uma presença de uma ausência necessária.(pg. 34)

** O QUE FAZ O ANALISTA DE DISCURSO?


Ele articula, de modo particular, conhecimentos do campo das Ciências
Sociais e do domínio da Linguística, objetivando a transformação nos seus
interiores. Aqui confrontam-se o político e o simbólico, devido ao pensar o
sentido dimensionado no tempo e no espaço das práticas do homem,
descentrando a noção de sujeito e relativizando a autonomia do objeto da
Linguística.
** OBJETO DA ANÁLISE DE DISCURSO = DISCURSO

** O QUE A ANÁLISE DE DISCURSO TRABALHA?


Ela trabalha a relação língua-discurso-ideologia. Não existe discurso
sem sujeito, segundo M. Pêcheux (1975) citado pela autora, e não existe sujeito
sem ideologia.

** DIFERENÇA ENTRE ANÁLISE DE DISCURSO E ANÁLISE DE CONTEÚDO:


A Análise de Conteúdo procura extrair sentidos dos textos,
respondendo o que o texto quer dizer.
Diferente, a Análise de Discurso não considera a língua transparente, e
sim procura a resposta para a pergunta: como este texto significa? Não
atravessa a mensagem do mesmo para procurar sentido do outro lado. Acredita
ter uma materialidade simbólica própria e significativa, concebendo com sua
discursividade.
** FILIAÇÃO TEÓRICA:
Materialismo histórico - A Linguística tem o seu objeto próprio que é a língua.
Assim, a relação linguagem, pensamento, mundo não é uma relação direta que
se faz termo-a-termo. Ela precede de características e conhecimento que a
significam e ultrapassa a fronteira do signo.
Daí, conjugando a língua com a história na produção de sentidos, esses estudos do discurso
trabalham o que vai-se chamar a forma material (não abstrata como a da Linguística) que é a
forma encarnada na história para produzir sentidos: esta forma é portanto linguístico-histórica.
(pg. 19)

Características da Análise de Discurso:


-A língua tem sua ordem própria e as vezes é autônoma.
- Os fatos trazem sentidos.
-O sujeito de linguagem é descentrado pois é afetado pelo real da língua e
também pelo real da história, não tendo o controle sobre o modo como elas o
afetam. O sujeito discursivo funciona pelo inconsciente e pela ideologia.

** DISCURSO – relações de sujeitos, sentido e efeitos, através da linguagem,


sendo múltiplos e variados. “O discurso é efeito de sentido entre locutores.”
Assim, o discurso não se reduz a objeto da lingüística, e sim a interroga
pela historicidade que ela deixa de lado, questiona o Materialismo perguntando
pelo simbólico e se demarca da Psicanálise pelo modo como trabalha a ideologia
no inconsciente.
Cuidar na compreensão do discurso, pois nele ocorre, ao mesmo tempo,
os processos de significação e não estão separados de forma estanque.
Característica do discurso:
-Regularidade e funcionamento que não se opõe ao social e ao histórico, o sistema
e a realização, o subjetivo ao objetivo, o processo ao produto.
II SUJEITO, HISTÓRIA, LINGUAGEM
Aqui entende-se que a linguagem só é linguagem porque esta escrita na
história.
[ ]...três regiões de conhecimento em suas articulações contraditórias: a a teoria da sintaxe e da
enunciação; b. a teoria da ideologia e c. a teoria do discurso que é a determinação histórica dos
processos de significação. Tudo isso atravessado por uma teoria do sujeito de natureza
psicanalítica. (pg. 25)

Compreender, assim, é saber como um objeto simbólico (texto, pintura,


enunciado...) produz sentido. É saber como as interpretações funcionam e, quando
se interpreta, já esta preso a um sentido.
É de responsabilidade do analista as questões que desencadeiam a
análise de discurso e uma análise não é igual a outra, mobilizando diferentes com-
ceitos e isso tem influência na descrição dos materiais.
Feita a análise, e tendo compreendido o processo discursivo, os resultados vão estar
disponíveis para que o analista os interprete de acordo com os diferentes instrumen
tais teóricos dos campos disciplinares nos quais se inscreve e de que partiu. Nesse
momento é crucial a maneira como ele construiu seu dispositivo analítico, pois de
pende muito dele o alcance de suas conclusões. (pg. 28)

**ONDE ESTÃO OS SENTIDOS?


a) Relação com a exterioridade:
“Os sentidos não estão só nas palavras, nos textos, mas na relação com a exteoridade, nas condições em que
eles são produzidos e que não dependem só das intenções dos sujeitos. (pg. 30)”, assim, deve-se conhecer o
contexto histórico.
b) Dizeres:
Os dizeres, neste contexto, não são apenas mensagens que devem ser
decodificadas, elas possuem EFEITOS DE SENTIDOS que são produzidos em
condições determinadas e que estão presentes nos discursos fornecendo
pistas ao analista do que deve reter para analise.

c) Condições de produções:
Compreendem o sujeito e a situação.
Também a memória faz parte da produção do discurso, através da maneira como
for acionada.
As condições de produções incluem o contexto sócio-histórico, ideológico.
a) contexto: amplo, que traz elementos para as considerações dos efeitos de
sentidos.
b) História: produção de acontecimentos que significam a maneira como as coisas
estão relacionadas.
c) Memória: tratada como interdiscurso (fala antes em outro lugar independente).
Disponibiliza dizeres que afeta o modo com está o sujeito em uma dada
situação.
d) Palavra: não é só de um sujeito; ela significa pela história e pelo sujeito. “O sujeito
diz, pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem
nele. (pg. 32)”

e) Inter e intradiscurso: interdiscurso- eixo vertical onde ocorre todos os dizeres já


ditos e esquecidos nos enunciados; intradiscurso – eixo das formulações (pg.
33), aquilo que está sendo dito naquele momento dados, em condições dadas.
INTERDISCURSO = MEMÓRIA
INTRADISCURSO = FORMULAÇÕES NA ATUALIDADE
O interdiscurso especifica as condições de um acontecimento histórico.
f) Interdiscurso X Intertexto – Interdiscursos (“É todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas
que determinam o que dizemos. (pg. 33)”. Dá ordem de saber discursivo, memória afetada pelo
esquecimento; intertexto, restringe-se à relação de um texto com outros textos.
Ocorrem dois tipos de esquecimentos: enunciação (falamos de uma forma
não de outra, mas poderiamos ter feito o contrário.); e ideológico (inconsciente
afetado pela ideologia). “Quando nascemos os discursos já estão em processo e nós é que entramos nesse
processo. (pg. 35)...[ ]...por isso é que dizemos que o esquecimento é estruturante. Ele é parte da constituição dos sujeitos e
dos sentidos. (pg. 36)”

**QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRIATIVIDADE E PRODUÇÃO?


Produção: mantém o homem num retorno constante ao mesmo espaço divizível.
Criatividade: ruptura no processo de produção da linguagem, pelo deslocamento
das regras, introduzindo o novo.

** A PARAFRASE E A POLISSEMIA POSSIBILITAM O CONFRONTO ENTRE O


SIMBÓLICO E O POLÍTICO. DISTO, RESULTA DIZERES IDEOLÓGICOS E QUE
SE MARIALIZAM COM A LÍNGUA.
Fatores das Condições de produção:
a) Relação de sentidos – não há discurso que não se relacione com o outro.
b) Antecipação – todo sujeito tem a capacidade de colocar-se no lugar do outro
que irá ouvir suas palavras.
c) Relação de força – o lugar ao qual fala o sujeito é constitutivo a partir do que
diz.
d) Formações imaginárias – suas imagens resultam de projeções que permitem
passar de situações empíricas para posicionar o sujeito no discurso.
Implicações das Condições de produção:
- Material (língua sujeita a equívocos e a historicidade).
- Institucional (formação social em sua ordem).
- Mecanismo imaginário.
e) Relação discursiva – imagens que constituem as diferentes posições. As
identidades resultam desses processos de identificação, em que o imaginário te
sua eficácia. (pg. 41). “O imaginário faz necessariamente parte do funcionamento da linguagem. (pg. 42)”.
Consequentemente, podemos dizer que o sentido não existe em si mas é
determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-
histórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam de sentido
segundo as posições daqueles que as empregam. Elas “tiram” seu sentido
dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais essas
posições se inscrevem. (pg. 42)

Conforme determinada conjuntura, o discurso admite duas compreensões:


a) As formações discursivas representam as formações ideológicas. Assim, o
discurso “se constitui em seu sentidos porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação
discursiva e não outra para ter um sentido e não outro.” (pg. 43). Tudo que é dito tem um traço
ideológico em relação a outros traços ideológicos. Estudar o discurso é
perceber como a linguagem e a ideologia se articulam, se afetam em
relação recíproca. Aplica-se aqui o conceito de metáfora, ou seja, a tomada
de uma palavra pela outra, ou seja, transferência com o estabelecimento do
modo de como as palavras significam.
b) Palavras iguais podem significar coisas e situações diferentes porque
inscrevem-se diferentes. Ex: Terra e terra. O uso da palavra se dá em
condições de produção diferentes e pode referir-se a diferentes formações
discursivas. O analista irá perceber isso verificando as condições de
produção e o funcionamento da memória.
A ideologia e o sujeito se articulam conforme o movimento de
interpretação, ocorrendo o aparecimento do sentido como evidência, como se
estivesse sempre lá. “Este é o trabalho da ideologia: produzir evidências, colocando o homem na relação
imaginária com suas condições materiais de existência. (pg. 46)”. Assim, a ideologia é a condição para
a constituição do sujeito e dos sentidos. O individuo é transformado em sujeito
pela ideologia para que se produza o dizer.
*EVIDÊNCIA DO SENTIDO / EFEITO DA DETERMINAÇÃO DO
INTERDISCURSO = As palavras recebem seus sentidos de formações
discursivas em suas relações.
** EVIDÊNCIA DO SUJEITO = já somos sujeitos, desconsiderando a interpelação
do indivíduo pela ideologia para que o transforme em sujeito.
Assim considerada, a ideologia não é ocultação mas função da relação necessária
entre linguagem e mundo. Linguagem e mundo se refletem no sentido da refração,
do enfeito imaginário de um sobre o outro. ..[ ] A relação de ordem
simbólica com o mundo se faz de tal modo que , oara que haja
sentido, como dissemos, é preciso que a língua como sistema
sintático passível de jogo – de equivoco, sujeita a falhas – se inscreva na
história. Essa inscrição dos efeitos lingüísticos materiais na história é que é a
discursividade. (pg. 47)

A ideologia constitui-se o efeito necessário da relação do sujeito com a


língua e com a história para que se produza o sentido. A relação
linguagem/mundo é intervinda pela ideologia que a ajuda a materializar-se,
através de seu modo imaginário.
EFEITO IDEOLÓGICO ELEMENTAR = EXISTÊNCIA DO SUJEITO
Referir-se a algo ou falar de uma determinada posição identifica o sujeito
e o ajuda a elaborar sua identidade. O trabalho ideológico é da memória que,
quando esquecida, produz o real efeito. Os sentidos, assim, não se esgotam de
imediato, fazendo efeitos diferentes para diferentes interlocutores.
Em o sujeito e sua forma histórica afirma que o sujeito é ao mesmo
tempo livre e submisso, com liberdade sem limites e uma submissão sem falhas,
tornando-se a base do conhecido assujeitamento.
Aqui, sujeito de direito distingui-se de indivíduo por ser um efeito de uma
estrutura social bem determinada: a sociedade capitalista.
O sentido primitivo de literalidade é o fato de que constitui-se produto
histórico, efeito de discurso que “sofre as determinações dos modos de assujeitamento das diferentes
formas-sujeito na sua historicidade e em relação às diferentes formas de poder. (pg. 52)”

Quanto a incompletude, afirma:


A condição da linguagem é a incompletude. Nem sujeitos, em sentidos estão
completos, já feitos, constituídos definitivamente. Constituem-se e funcionam sob
o modo do entremeio, da relação, da falta, do movimento. Essa incompletude atesta
a abertura do simbólico, pois a falta é também o lugar do possível. (pg. 52)

O homem e os sentidos tem, no discurso, no movimento simbólico, a


língua e história com sua materialidade. Pela natureza incompleta, há a
possibilidade de uma estabilização bloqueando movimentos significantes. O
sujeito acaba por não se deslocar e o sentido não flui.
Acaba sendo pego pelos lugares e dizeres já estabelecidos, num imaginário
estacionado na memória, repetindo-se. Distinção de três formas de repetição:
a) A repetição empírica (mnemônica) que é a do efeito papagaio, só repete;
b) A repetição formal (técnica) que é um outro modo de dizer o mesmo;
c) A repetição histórica, a que desloca permitindo o movimento porque historiciza
o dizer do sujeito, fazendo fluir o discurso, nos seus percursos.

III DISPOSITIVO DE ANÁLISE


Aqui cabe a construção de um dispositivo da interpretação, tendo a
incumbência de colocar o dito em relação ao não dito (escutar no dito o que
não é dito). “A análise de discurso não procura o sentido “verdadeiro”, mas o real do sentido em sua
materialidade lingüística e histórica. (pg. 59)” .

O outro lugar é o da interpretação, manifestação do inconsciente e da


ideologia na produção dos sentidos na constituição dos sujeitos. Por que
existe o outro é que há possibilidades de haver ligação, identificação e
transferência e, consequentemente, há uma filiação histórica podendo se
organizar em memórias e as relações sociais em redes de significantes.
SENTIDOS E SUJEITOS SE CONSTITUEM NOS PROCESSOS DE
TRANFERÊNCIA, JOGOS SIMBÓLICOS E EQUÍVOCOS (trabalho da
ideologia e do inconsciente).
a) transferência:
As transferências presentes nos processos de identificação dos sujeitos
constituem uma pluralidade contraditória de filiação histórica. Uma mesma palavra, na
mesma língua, significa diferentemente, dependendo da posição do sujeito e da
inscrição do que diz em uma ou outra formação discursiva. O analista deve poder
explicitar os processos de identificação pela sua análise: falamos a mesma língua
mas falamos diferente. Se assim é, o dispositivo que ele constrói deve ser capaz
de mostrar isso, de lidar com isso. Esse dispositivo deve poder levar
em conta ideologia e inconsciente assim considerados. (pg. 60)

b) interpretação:
A interpretação aparece em dois momentos da análise:
b.1) a interpretação faz parte do objeto de análise, ou seja, o sujeito que fala
interpreta e o analista deve procurar descrever este gesto de interpretação.
Sentido submetido a análise.
b.2) não descrição sem interpretação e o próprio analista está envolvido nesta
interpretação.
A interpretação, segundo a autora, precisa ultrapassar o efeito de
transparência da linguagem, literalidade do sentido e da onipotência do
sujeito.
Não há análise do discurso sem sua mediação teórica permanente, em todos os
passos da análise, trabalhando a intermitência entre descrição e
interpretação que constituem, ambas, o processo de compreensão do analista. ..[ ]
...Não há discurso fechado em si mas um processo discursivo do qual se
podem recortar e analisar estados diferentes.(pg. 62)

Existe a necessidade da intervenção da teoria para reger a relação do


analista com o seu objeto de análise, com os sentidos, com ele mesmo e com a
interpretação.
Constituído o corpus ele permanecerá sujeito a novos discursos
mediante a diferentes interpretações. Lembrando que o discurso é parte de um
processo discursivo mais amplo que recorta-se e a forma deste determina o modo
da análise e o dispositivo teórico da interpretação construída.
O texto é a unidade que o analista tem diante de si e da qual ele parte
não sendo documentos que ilustram idéias pré-concebidas, mas momentos em
que se inscrevem múltiplas possibilidades.
A análise parte da desconstrução da superfície lingüística para a
formulação do texto que o contrapõe, organizando um recorte, e fazendo surgir
um objeto discursivo. Ao mesmo tempo passa-se para o delineamento das
formações discursivas entendendo a relação com a ideologia, o que permite
compreender como se constituem os sentidos desse dizer.
O que é chamado de historicidade é o acontecimento do texto como
discurso, o trabalho dos sentidos nele. O texto pode ser uma letra que, na
memória, já possui um efeito de sentido, ou um livro significativo no processo
discursivo. Se é escrito ou oral não muda a definição do texto. Cada um possui as
suas propriedades particulares materiais. O texto é texto porque significa,
interessando para a análise de discurso não o aspecto lingüístico e sim a relação
da língua com a história no trabalho significante do sujeito em sua relação com o
mundo. Natureza lingüística-histórica.
Compreender como um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-
lo enquanto objeto lingüístico –histórico, é explicitar com ele realiza a discursividade
que o constitui.(pg. 70)
Daí que D. Maingueneau (1984) remontando Foucault (1969), dirá que o discurso
é uma dispersão de textos cujo modo de inscrição histórica permite definir com um
espaço de regularidades enunciativas, diríamos, enunciativo-discursivas.(pg. 71)

O discurso em si é uma prática, um processo e não se fecha. Assim,


durante um procedimento de análise deve-se remeter os textos ao discurso e
esclarecer as relação deste com as formações discursivas pensando as relações
desta com a ideologia. (pg. 71)
Assim, a análise de discurso não está interessada no texto em si com
objeto final e sim como unidade que lhe permite ter acesso ao discurso. Torna-se,
então, espaço significante com jogo de sentidos, trabalho da linguagem e
funcionamento da discusividade. É um exemplar do discurso e não pode ser
tomado com ponto de partida ou chegada.
O analista não falará sobre o texto e sim sobre o discurso presente
neste texto.
O discurso tem como função assegurar a permanência de uma certa
representação.
O discurso é efeito de sentidos entre locutores, enquanto o texto é uma
unidade gráfica que pode representá-lo. O autor é a representação da unidade
textual limitado na prática social como uma função específica do sujeito. “Como o
lugar da unidade é o texto, o sujeito se constitui como autor ao constituir o texto
em sua unidade , com sua coerência e completude...[ ] ...imaginárias”. (pg. 72)
A função autor, que é uma função discursiva do sujeito, estabelece-se ao lado de outras
funções, estas enunciativas, que são o locutor e o enunciador, tal como as define O. Ducrot
(1984): o locutor é aquele que se representa como “eu” no discurso e o enunciador é a
perspectiva que esse “eu” constrói. (pg. 74)

A autoria implica uma inserção do sujeito na cultura, uma posição dele


no contexto histórico-social.
O sujeito precisa passar da multiplicidade de representações possíveis para a organização
dessa dispersão num todo coerente, apresentando-se como autor, responsável pela unidade e
coerência do que diz. Essa representação do sujeito, ou melhor, essa sua função, tem seu pólo
correspondente que é o leitor. (pg. 76)

O que é dito e não dito: existem os silênicios:


a) SILÊNCIO FUNDADOR: silêncio que indica que o sentido pode sempre ser
outro.
b) SILÊNCIO CONSTITUTIVO: uma palavra apaga outra palavras – para dizer é
preciso não dizer.
c) SILÊNCIO LOCAL: que é a censura. Aquilo que é proibido dizer em uma certa
conjuntura. – o sujeito não diz o que poderia dizer.

Diferentes formas de análise da linguagem:


a) Diferentes concepções da língua;
b) Diferentes naturezas de exterioridade;
c) Diferentes concepções do não-dito.

Diferentes modos de funcionamento do discurso:


a) Discurso autoritário; aquele em que a polissemia é contida.
b) Discurso polêmico: aquele em que a polissemia é controlada, o referente é
disputado pelos interlocutores;
c) Discurso lúdico: aquele em que a polissemia está aberta , o referente está
presente como tal.

Não há nunca um discurso puramente autoritário, lúdico ou polêmico.


Acontecem misturas e articulações entre eles.
Resta dizer que há relações de múltiplas e diferentes naturezas entre diferentes discursos e isso
também é objeto de análise: relações de exclusão, de inclusão, de sustentação mútua, de
oposição, migração de elementos de um discurso para outro. (pg. 88)

O leitor comum fica sob o efeito dessas relações; o analista deve


atravessá-lo e encontrar o modo como se organizam os sentidos.
Marcas formais seriam “ao pé da letra”, ou seja, interpretar literalmente ao
que remete o texto, sem analisar a questão histórica do sujeito e o contexto.
ANÁLISE LINGUÍSTICA E ANALISE DE CONTEÚDOS – trabalha-se com
produtos; ANALISE DE DISCURSO – trabalha-se com os processos de
constituição (dos sujeitos e dos sentidos).
Em suma, penso que o que faz a diferença é a própria noção de língua trabalhada na análise de
discurso – como um sistema sujeito a falhas – e o da ideologia como constitutiva tanto do sujeito
quanto da produção dos sentidos. (pg. 92)

Você também pode gostar