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Capítulo 9

o que é comportamentol

Júlio Cés." CoC'lho (/r RosC'


1I1!t~C"

De modo genérico, o termo comportamento refere-se à atividade do~ org~~.!


nismos (animais. incluindo o homem), quo mantêm intercâmbio com o ambiente. Essa
atividade inclui os movimentos dos músculos estriados e dos músculos lisos, e a secre·
ção de glândulas. Na linguagem cotidiana, freqüentemente nos reler,mos aos comporta·
mentosquo envolvem a musculatura estriada como comportamentos voluntários, en·
quanto denominamos involuntários aqueles que envolvem a musculatura Ilisa o as glandu·
las. Numa linguagem mais rigorosa, esses termos são evitados. e fallamos de comporta­
mentos operantes e respondentes (ou reflexos).. Nos comportamentos respondentes,
uma resposta é eliciada, provocada. por um estimu'o antecedente: a comida na boca
(estimulo antecedente) elic1a salivação ,(resposta), um toque na pálpebra (esUmu'lo ante·
cedente) elicia fechamento da pálpebra (respostal, um barulho forte e súbito (estimUlo
antecedente) elicia um conjunto de respostas. incluindo aceleração da taxa cardfaca,
aumonto de pressão arterial, queda da resistência elétrica da pele provocada pela atividade
das glândulas sudor(paras, etc. A eliciação desse coniunto de respostas está envolvida
na emoção que denominamos medo. A ocorrência dessas respostas em presença desses
estrmulos é importante para o funcionamento e sobrevivência do organismo. e constitui
parte de suas capacidades ·'inatas": quando a propensão para um estfmuloeliciar uma.
resposta é inata, denominados a relação entre estimulo e iresposta como um reflexo
incondicionadQ, o denominamos tanto o ,estfmulo quanto a resposta como incondicionados.
Essas respostas podem ser condicionadas. passando a ocorrer em presença de esti­
mulosassociados com os estfmulos incondicionados. Assim, o cheiro do limão, ou a
pnlo"rn limA0, poln sun n6l8ocinç,fto com o suco do liml\n. pnR,,"nm nnlicinf n rnRfloRIB rio
salivação. Um grito de um adulto é. para um bebê, um estJmulo incondicionado para
respostas de medo; a simples pr1esença de uma pessoa que grita freqüentemente com
ele se torna capaz de eliciar as respostas de medo. O processo de condicionamento é
muno importante na determinação de nossas emoções.
Uma parte significativa do comportamento humano (e de outros animais) não é
efáciada por estlmulos antecedentes. 'Esses com,portamentos. como diz B. E Skinner.
modificam o ambiente e essas modificações no ambiente Ilevam, por sua ve2, a modifica­
ções no comportamento subseqüente. Denominamos esses comportamentos de
operantes, para enfatizar que eles operam sobre o ambiente. Dirigir um carro. pregar
um prego. talar, fazer contas. sào exemplos de comportamentos ope,rant,es. Comporta­
mentos oparantes constituem a maior parte das atividades visfveis dos se,res humanos.
mas até mesmo aquela atividade freqüentemente inv,isivel que nós denominamos pensa­
mento envolv,e comportamentos operantes, reduzidos em sua magnitude ao ponto de
tornarem-se linvisíveis par.a os demais. como quando uma pessoa fala '''para si prõprja....
Nesse caso, o comportamento operante de falar está ocorlrendo. mas tão reduzido em
sua escala que não é vislvel para os demais. A capacidade para comportamentos enco­
bertos é resultado de aprendizagem: um músico aprende a ler uma partitura. tocando as
notas em um instrumento ou cantando. Com a prática. ele torna-se capaz de cantar as
notas de modo inaudlvel para os demais. mas audível para ele mesmo. O mesmo ocorre
quando uma criança aprende a ler em silêncio. Esses comportamentos invisíveis são
denominados de comportamentos encobertos. Infelizmente, em nossa cultura. inven­
tou-se. para explicar a ocor,rência de comportamentos encobertos. uma ent!idada imaterial
denominada mente. Essa noção nos levou a perder de vista o lato de que comportamen­
tos encobertos sAo operanfes. do mesmo modo que os compo.rtamentos vJsSveis. Pior,
essa entidade inventada, que denominamos mente. passou a ser tomada como explica­
ção dos comportamentos visfveis e. deste modo. as causas reais desses comportamen­
tos têm passado despercebidas.

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o comportamento de qualquer organismo é continuo, um fluxo de atividade que


nunca cessa. Nesse "comportamento·" tomado em sentido genérico. distinguimos "com­
portamentos" especlficos. isto é. procuramos encontrar unidades que se repetem. .As­
sim. falamos dos com,portamentos de acender a luz. ,contar uma piada. dilrigir um cano.
etc. Mas, como dissemos anteriormente. a atividade de um individuo é contfnua e somos
nós que arbitrariamente a dividimos em unidades. Estamos supondo que esses "compor­
tamentos" especificos podem ocorrer repetidas vezes ao longo da vida de um individuo.
Mas, se fizermos uma observação rigorosa. veremos que não hã nada na atividade de
um org,anismo que se repita de modo rigorosamente igual. Tomemos como exemplo o
comportamento operante de contar uma piada. desempenhado por um humorista. Ele
conta muitas piadas ao longo de sua vida, o nunca conta a mesma piada de modo
rigorosamente igual. POdemos dizer que o operante de "contar piadas" é na verdade

80 Júlio l:n.n <':Ot'lho de Rose


li mo t _Iasse Que englobamultas respostas 1 diferentes: contar diferentes piadas, e contar
cada piada particular de muitos modos diferentes, Por que consideramos que todas essas
respostas pertencem a mesma classe? Porque todas elas têm. tipicamente. uma canse·
qüõncla Importante em comum: a ,conseqüência é produzir nsos na audiência (note que a
consoqüência não precisa ocorrer 'odes as vezes que o comportamento ocorre: às vozes,
a pessoa conta uma piad,a o ninguém ri). Quando a resposta do conta'r uma pIada tem,
como conseqüÔncia. risos da audiência, a ocorrência de respostas da mesma classe no
futuro torna-se mais provável. Dizemos que as rlisadas da ,audiência reforçam o operante
do conlar piadas, Se nós observarmos quo as risadas que ocorrem como conseqüência
de uma IrCsposta do ,contar uma piada tornam mais provàvel a mpehç,ão da mesma piada,
nós poderemos conSliderar que as rospostas de contar aquela determinada piada constituem
uma classe de respos'tas que são reforçadas por uma con.seqüêncla comum, IrJsadas da
audiência" No entanto. para a maioria das pessoas. nOs podemos observar que as risadas
da ,iuldiência após uma piada aumentam a probabilid,ade subseqüente de contar não apenas
íl mesma piada, mas várias outras piadas" Pmesse motivo, consideramos que a classe
ue respostas engloba contar piadas, ,em geral" e nào apenas conlar a mesma pIada. De
modo semelhante. acender (1 luz é uma classe de respostas. Esta classo inclui várias
Itormas de resposta: com a mão direita. com a mão esquerda, com o indicador, com o
dedo médio. com o braço completamente esticado ou com ele parcialmente lIexionado.
etc, Todas essas respostas têm, como conseqüênclla, iluminar o ambiente, ,e esla
consequcncia torna mais provável, no futuro,. a ocorrênCia de respostas desta classe, Ê
essa relação de uma classe de respostas com uma consequênclla comum, e o fato de
esla conseqüênCia levar, no futuro, a um aumento na probabilidade de respostas dessa '
classe. que nos permite Identificar o que constitui uma unidade de comportamento, um
operante. Unidades de comportamento respondente também são Identificadas em termos
de classes de resposta. mas as classes são relacionadas com os estímulos anteoedentes.
ú não com a conseqüência.

Como você pode ver, exphcalr o que é comportamento não é tão simples como
parece. Se voci! quiser saber mais a respeito. estude os livros de O. F. Skinner, princi­
palmente CIência e Comportrlmellto Humano e Contingbncias de Reforço (este üllllimo
disponível em tradução parCial na coleção Os Pensadores. da Editora Abril Cultural).

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