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co entre os animais. Narrativas em que animais pareciam exibir
"poder de raciocínio" foram publicadasem grandenúmero.
estímulos Masquando certos termos que até então tinham sido aplicados
distantes de bombas explodindo. Apresentam-se os só ao comportamento humano lhes foram atribuídos, surgiram
visuais em filmes, sem os sons que os acompanham no comba- algumas questões em relação ao seu significado. Os fatos ob-
te real. À medida que a extinção ocorre, a semelhança com :s- servadosindicariam processosmentais, ou deveriamos teste-
tímulos verdadehos aumenta. Finalmente, se o tratamento for munhos de aparente raciocínio ser explicados por outros meios?
bem-sucedido nenhuma ou quase nenhuma resposta será eli- Mais tarde viu-se claramente que não era necessáriopresumir
ciada pelos estímulos reais. processos interiores de pensamento. Mas passaram-semuitos
anos antes que a mesma questão fosse levantada com relação ao
comportamento humano, e os experimentou de Thomdike e a
Capítulo V alternativa de explicação que deram para o raciocínio dos ani-
Comportamento operante mais constituíram-se em passos importantes nessa direção.
Se um gato for colocado em um alçapãodo qual só pode
As consequênciasdo comportamento escapar abrindo uma porta, exibirá muitos tipos diferentes de
comportamento, alguns dos quais serão eficazes no abrir a por-
Os reflexos, condicionados ou não, referem-se principal-
ta. Thomdike verificou que, quando o gato já tinha sido colo-
mente à fisiologia interna do organismo. Muitas vezes estamos
cado no alçapão repelidas vezes, o comportamento que o leva-
mais interessados, entretanto, no comportamento que produz
À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 65
64 CIÊNCIA E COMPORTAMENTO HUh4ANO
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respostas podem se extinguir. A terapia consiste apenasno en-
terar a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente.
A língua portuguesacontém muitas palavras, tais como "re-
compensa" e "punição", que se referem a este efeito, mas só
-"'-'''' ' da conversa.$o de modo que o estímulo
corajamento . .. ,.assim au- através da análise experimental será possível formar uma no-
tomaticamente gerado possaocorrer sem ser reforçado. ção mais clara.
Se o estímulo condicionadoalicia respostas.muito fortes,
pode ser necessário apresenta-lo em doses gmdativas. Se aluna
Camas de aprendizagem
g
e outros animais aprenderama percorrer, as "caixas de esco-
lha" nas quais os animais aprendem a discriminar entre pro-
priedadesou padrõesde estímulos,os dispositivosque apre-
sentam seqüências de material a ser aprendido no estudo da
memória humana cada um destes produz seu próprio tipo de
curva de aprendizagem.
Tomando a média de muitos casos individuais podemos
sempre seguido pela abertura da porta. obter curvas tão regulares quanto quisermos em todos estes
A este fato, que o comportamento se estabelece quando
casos.Além disso, curvas obtidas em muitas circunstâncias di-
seguido de certas conseqüências,Thomdike chamou Lei do ferentes podem-se assemelhar e apresentar certas propriedades
Efeito". O que observou foi que certo comportamento ocorreu gerais. Por exemplo, quando, medida desta forma, a aprendiza-
cada vez mais prontamente em comparação com outras carac- gem é em geral "negativamente acelerada", as melhorias no
terísticas da conduta na mesma situação. Ao anotar as sucessi- desempenhoocorrem mais e mais lentamente à medida que se
vas demoras em sair da caixa, e projetá-las num.gráfico, .cons- aproxima o ponto em que é impossível ulterior melhoria. Mas
à" 'uma "curva de aprendizagem';. Esta primeira tentativa de
isto não quer dizer que a aceleraçãonegativa sda característica
do processo básico. Suponhamos, por analogia, que, ao encher-
=EH=,=.===::S=::1=':::.::1=ql===.=; mos umjarro de vidro com pedregulhos, estes estejam tão mis-
como um avanço importante. Revelou um processo que se turados que seus diferentes tamanhos se distribuam igualmente.
Se agitamlos o jano cuidadosamente, observaremos que os pe-
dregulhos se redistribuem. Os maiores vão para cima, os meno-
res para o fundo. Este processo, também, é negativamenteace-
curvas semelhantes foram registradas e tornaram-se a substân-
lerado. No começo, a mistura se separa rapidamente, mas, à
cia de capítulos inteiros sobre a aprendizagemnos textos de medida que a separaçãose processa, aproxima-se mais e mais
lentamente o ponto além do qual já não haverá mudança.A
Entretanto, as curvas de aprendizagem não descrevem o
curva resultante poderá ser muito regular e passível de reprodu-
cesso básico pelo qual os comportamentos se estabelece- ção, mas este fato, isoladamente, não tem grande significação.
ram. A medida de Thomdike, o tempo levado para escapar, m' A curva é resultado de um determinado processo fimdamental
=ll.';;ilih;,ã. d. «".; "mp'''m'-'.;, ' ' 'w"? ''p'"' que inclui o contato de esferas de diferentes tamanhos e a resul-
dia do número de coisas diferentes que o gato pudesse fazer em tante das forças originadas da agitação entre outras coisas, mas
um alçapão determinado. Dependia também do comportamen- não é, de maneira alguma, o registro direto do processo.
to selecionadocomo "bem-sucedido" pelo experimentadorou As curvas de aprendizagem mostram como os vários tipos
pelas características do aparelho, e de se este comportamento, de comportamento evocados em situações complexas se sepa-
no alçapão, comparado a outros comportamentos apresenta- ram, se afirmam e se reordenam. O processo básico da fixação
dos, em comum ou raro. Poder-se-iadizer que uma curva de de um determinado ato acarreta esta mudança, mas não é dire-
aprendizagem assim obtida reílete as propriedades da caixa- tamente descrito por çla.
problema, e não do comportamento do gato. O mesmo se apli-
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Condicionamento operante deve poder executare repetir determinado ato, sem que outro
comportamentointerfira de forma apreciável.Não se pode
saber até onde vai o interesse de uma pessoa pela música, por
exemplo, se por necessidadetiver de se ocupar com outras coi-
sas. Quando é preciso refinar a noção de probabilidade de res-
posta, para uso científico, vê-se que também aqui os dados são
i:==:.:='ft.:.==:'='"1=«:H:::?":ri..;=
teorias
as freqüências e que devem ser especificadas as condições sob
as quais são observados. O maior problema técnico no planea-
comportar-se de determinada maneira. Quas.etodas as
do comportamento usam termos como "potencial de excita- mento de um experimento controlado é conseguir condições
para a observação e interpretação de õ'eqtiências. Qualquer
ção", "força do hábito", ou "tendênciadetemiinante'. Mas
como se observauma tendência? E como se pode medi-la? condição que estimule comportamentos que concorram com o
Se uma dada amostra de comportamento fosse encontrá- comportamentoem estudodeve ser eliminada, ou pelo menos
vel somente em dois estados,um em que sempre e outro em mantida constante. Coloca-se um organismo em um comparti-
mento isolado em que seu comportamento pode ser observado
que nunca ocorresse, estaríamos quase impo?s.lbilitados de
continuar o programa de análise funcional. Um assunto que se através de um espelho falso ou registrado mecanicamente. Isto
não é, de modo algum, um vácuo ambiental, pois o organismo
possa ser descrito em.tempos de tudo-ou-nada só se presta a reagirá de várias maneiras às características da câmara; mas o
formas primitivas de descrição. Há uma grande vantagem em
seucomportamentofinalmente alcançaráum nível razoavel-
supor que, em vez disso, aprobabl/idade de ocorrência de uma
mente estável, ao qual se possa contrapor a freqüência da res-
respostavarie continuamenteao longo do.sextremostudo-ou
nada Poderemos assim lidar com variáveis que, diversamente posta selecionada a ser investigada.
Para estudar o processo que Thorndike chamou de fixa-
do estímulo eliciador, não "causam a ocorrência de um deter-
ção, precisamos ter uma "conseqüência". Dar alimento a um
minado comportamento", mas simplesmente tornam a ocor-
rência mais provável. Poderemos então lidar, por exemplo, organismo faminto pode servir. E possível alimentar conve-
com efeito combinado de muitas destasvariáveis. nientemente o sujeito experimental através de um pequeno
recipiente operadoeleüicamente. Quando o recipiente se abrir
As expressões do uso diário impregnadas da noção de:pro-
babilidade, tendência ou predisposição, descrevem a assidui- pela primeira vez, provavelmente o organismo reagirá de ma-
dade de ocorrência de tipos de comportamentos. Não podemos neira que interfira com o processo que planejamos observar.
nunca observar a probabilidade como tal. Diz-se que alguém é Finalmente, depois de obter repetidas vezesalimento no reci-
um "entusiasta" do bridge quando se observa que joga e fala piente, já comera rapidamente, e será então possível fazer que
esta conseqüência soja contingente ao comportamento e obser-
ÜliiliÜ'=nlH:H
encontrado tirando retratos, revelando-os e olhando fotos por
var o resultado.
Seleciona-seum comportamentorelativamentesimples
que possa ser livre e rapidamente repetido, facilmente obser-
vado e registrado. Se o sujeito experimental for um pombo,
ele e por outros obtidas. O "erotâmano' é aquele que com õ'e-
por exemplo, o comportamento de levantar a cabeçaacima de
qüência excessiva enceta comportamento sexual. O "dipsoma-
níaco" é o que bebe com freqüência. . uma determinada altura será conveniente. Pode ser observado
uma ao se olhar a cabeçado pombo através de uma escalafixada
Pressupõe-se, ao caracterizar o comportamento de
ssoa em termos de õ'eqüência, certas condições-padrão: em uma das paredes da caixa.!Primeiramente se verifica a al-
A ÀNÀLISEDO COMPORTAMENTO 71
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gente a um comportamento, sem identificam.,ou sem que se
tura em que a cabeça se mantém naturalmente e depois esco- possaidentificar, um estímulo anterior. O meio ambientedo
lhe-se uma linha na escala que raramente sela atingida. Olhan- pombo não foi alterado para e//cear o movimento de levantar a
do para a escala, podemos começar a abrir o recipiente com cabeça.É provavelmente impossível demonstrar que um deter-
alimento, assim que a cabeçase erguer acima da linha. Se o minado estímulo precede invariavelmenteeste movimento.
experimento for conduzido de acordo com as especifl:ações, Comportamento destetipo pode vir a ser colocado sob o contro-
o resultado é invariável: observamosuma mudança imediata le de estímulos, mas não o será a relação de eliciação. O termo
escolhida.
na õeqüência com a qual a cabeçacruz.aa linha 'resposta" não é por isso inteiramente apropriado, mas está tão
Também observamos, e isto tem certa importância teónca, bem estabelecido que o usaremos nas discussões frituras.
que linhas ainda mais altas estão sendo agora também alcan Uma resposta que já ocorreu não pode, é claro, ser previs-
çadas. E possível avançar quase que imediatamente pam u=a ta ou controlada. Apenas podemos prever a ocorrência futura
ilha mais alta ao determinar a condição para apresentação.do de respostas serre//zan/es. Desta fomla, a unidade de uma ciên-
alimento. Em um ou dois minutos a postura do pássaro mudou cia preditiva não é uma resposta,mas sim uma classede res-
tanto que raramente o topo da cabeça fica abaixo da linha ini- postas. Para descrever-se esta classe usar-se-á a palavra "ope-
cialmente escolhida. . .. rante". O termo dá ênfase ao fato de que o comportamento
Vemos, quando demonstramos o processo de fixação as- opera sobre o ambiente para gerar conseqüências. As conse-
sim tão simplesmente, que são supérfluas e comuns certas in- qüências definem as propriedades que servem de base para a
terpretações do experimento de Thorndike. Aqui a expreslno definição da semelhança de respostas. O termo será usado tan-
aprendizagem por ensaio e erro ' frequentemente associada à to como adjetivo(comportamento operante) quanto como
Lei do Efeito fica claramente desbocada. Estar-se-á dando uma substantivo para designar o comportamento definido para uma
interpretação ao que foi observado se denominarmos ' ensaio determinada conseqüência.
"-'-'r'''-'''
' i cima da cabeçado pássaro, e não há
qualquermovimentopar . . . . :... Cada ocasião singular em que um pombo levanta a cabe-
razão para chamar de "erro" todos os movimentos que não le- ça é uma raspas/a. Ê um segmento de história que pode ser
vem a conseqüência especificada. Mesmo o.termo "aprendiza- relatado usando qualquer sistema de referência que se queira.
gem" está mal-empregado.A afimlação de que um pássaro O comportamento denominado "levantar a cabeça", não im-
"aprende que obterá alimento estendendo o pescoço será um porta em que circunstânciasespecíficas ocorra, é um opera/z-
relato descurado do que aconteceu. Dizer que adquiriu o ' hábi- fe. Pode ser descrito, não como um ato acabado,mas como um
to" de estirar o pescoço é meramenterecorrer a uma ficção conjunto de ates definidos pela propriedade que a altura, até
explanatória,pois o único indício do hábito é a tendência ad- onde a cabeça for levantada, representa. Neste sentido um
quirida de realizar o ato. A maneira mais simples de enunclm o operante se define por um efeito que pode ser especificado em
determinada conse-
processo é a que segue: tornou-se uma termos físicos; a "craveira" a uma certa altura é propriedade
qüência contingente a certas propriedades físicas do rompo:a' do comportamento.
mento (o estirar a cabeça),e verificou-se um aumento na õ'e- O termo "aprendizagem"pode ser mantido proveitosa-
qüência do comportamento. mente no seu sentido tradicional para descrever a redisposição
' É costume o referir-se a qualquer movimento como uma de respostas em uma situação complexa. Tempos para o proces-
"resposta". A palavra foi emprestada do campo da ação reflexa so de aquisição podem ser tomados da análise pavloviana dos
e sugere um ato que, por assim dizer, responde a um evento reflexos condicionados. O próprio Pavlov denominou "refor-
anterior -- o estímulo. Mas é possível tomar um evento contin-
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Propriedades quantitativas
ujm n: : l =nml
descrevê-lascompletamente seria preciso seguir todos os mo-
vimentos da cabeça. Mesmo assim, o relato não seria comple-
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to. A altura até a qual a cabeça deve ser levantada foi escolhida
arbitrariamente, e o efeito do reforço depende desta escolha. Se
reforçarmos uma altura que foi raramente atingida, a mudança
no padrão será bem maior do que se tivéssemos escolhido uma
definido pela propriedade à qual o reforço for contingente -- a
altura mais acessível. Para um relato adequado necessitaríamos
altura até onde a cabeça for levantada. A mudança da.íteqüên-
de um conjunto de curvas cobrindo todas as possibilidades.
ciaxom que a cabeça for levantada à altura detemnnada consti-
Ainda outro elementoarbitrário aparecese forçarmos a cabeça
tui o processo de copzdícío/lume/z/o
opera/zfe.
a posições cada vez mais altas, pois poderemos seguir esque-
Enquanto estamos despertos, agimos constantemente so-
bre o ambiente, e muitas das conseqüências de nossas ações sao mas diferentes quando elevámos a linha selecionada para re-
forço. Cada esquemaproduz sua própria curva, e o quadro só
reforçadoras.Através do condicionamento operante, o meio
estaria completo quando tivéssemos abrangido todos os esque-
ambiente modela o repertório básico com o qual mantemos o
mas possíveis.
equilíbrio, andamos, praticamos esporte, mandamos mTrumen-
ramentas, falamos, escrevemos,velqamos um barco, Não se podem evitar estes problemas pela simples escolha
de uma respostamais rigorosamente definida por características
dirigimos um automóvel ou pilotamos um avião. Uma modifi.
do ambiente por exemplo, o comportamento de operar o ü.hco
cação no ambiente -- um novo automóvel, um novo amigo, um
de uma porta. Indicadores mecânicos do comportamento têm, é
novo campo de interesse, um novo emprego, uma nova residên-
claro,.suas vantagens por exemplo, ao nos ajudar a reforçar de
cia -- pode nos encontrar despreparados?mas o comportamento
forma consistente. Podemos registrar a altura da cabeça de um
ajusta-se rapidamente assim que adquirirmos novas respostas.e
pombo atravésde um dispositivo fotossensível, mas é mais sim-
deixarmos de lado as antigas. Veremos no capítulo seguinte
A ANÁLISEDO COMPORTAMENTO 75
74 CIÊNCIA E COMPORTAMENTO HUMANO
partimento. Mas perceber a conexão não é essencial no condi- dado aspectodo comportamento alcança uma freqüência tal
cionamento operante. Tanto durante quanto depois do processo que é reforçado muitas vezes. Vem a se tomar uma parte penna-
de condicionamento, os sujeitos experimentais humanos fre- nente do repertório do pássaro, mesmo que o alimento tenha
quentementefalam sobre seu comportamento em relação.ao sido dado por um relógio sem qualquer relação com o compor-
seu ambiente(capítulo XVll). Estes relatos podem ser úteis tamento do pombo. Respostas conspícuas que foram estabeleci-
para as explicações científicas e a reaçãoante o próprio com- das desta maneira incluem girar rapidamente para um lado, sal-
portamento deles pode mesmo ser um elo importante em certos titar de um pé para outro e para trás, inclinar-se e arrastar a asa,
processos complexos. Mas esses relatos e reações não são exi- girar ao redor de si mesmo e levantar a cabeça. A topografia do
gências nos processos simples de condicionamento operante. comportamento pode continuar a modificar-se com outros re-
Isto se demonstra pelo fato de que alguém pode não ser capaz forços, pois pequenasmodificações na fomla de responderpo-
de descrever uma contingência que nitidamente teve um efeito. dem coincidir com o recebimento da comida.
Nem é necessário que haja uma conexão pemtanente entre Na produção do comportamento supersticioso, os interva-
respostae reforço. Fazemoscom que a recepçãodo alimento los nos quais o alimento é fornecido são importantes.Em ses-
seja contingente à resposta do nosso pombo arranjando uma senta segundos o efeito de um reforço em grande parte se perde
ligação mecânica e eléüica. Fora do laboratório vários sistemas antes que outro possa ocorrer, e há maior probabilidade de que
Hisicossão responsáveis por contingências entre os comporta- outro comportamento apareça. Destarte, o comportamento su-
mentos e suas conseqüências. Mas estes não precisam afetar, e persticioso tem menos probablidade de emergir, ainda que pos-
geralmente não afetam, o organismo de nenhum outro modo. sa ocorrer se o experimento for continuado por longo tempo.
No que diz respeito ao organismo, a única propriedade impor- Aos quinze segundos o efeito é geralmente quase imediato.
tante da contingência é a temporal. O reforçados simplesmente Quando uma resposta supersticiosa estiver estabelecida, sobre-
sz/cedeà resposta. Como isso acontecenão importa. viverá mesmo quando só esporadicamente reforçada.
Devemos presumir que a apresentaçãode um reforçador O pombo não é excepcionalmente crédulo. O comporta-
sempre reforça alguma coisa, pois coincide necessariamente mento humano também é altamente supersticioso. Apenas uma
com algum comportamento.Vimos tambémque um único re- pequenaparte do comportamento que é reforçado por contin-
forço pode ter um efeito substancial. Se só uma conexão aciden- gênciasacidentaisevolui para os procedimentosrituais que
tal existe entre a resposta e a apresentaçãode um reforçados, o nós denominamos "superstições", mas o mesmo princípio está
comportamento é chamado "supersticioso". Isto pode ser de- presente. Suponha que encontramos uma nota de quinhentos
monstrado no pombo acumulando-se o efeito de diversas con- cruzeiros ao passearpelo parque (e suponha que este evento
tingências acidentais. Suponha que se dê a um pombo uma pe- tem um efeito reforçador considerável). O que quer que este-
quena quantidade de comida a cada quinze segundos, indepen- jamos fazendo ou acabandode fazer no momento em que
dentemente do que esteja fazendo. Quando o alimento for dado encontramos a nota, é preciso supor, foi reforçado. Seria difí-
pela primeira vez, o pombo estará se comportando de determi- cil provar isto de uma maneira rigorosa, é claro, mas é prová-
nada maneira -- mesmo que apenas fique parado -- e o condicio- vel que voltemos a passear,de preferênciano mesmoou em
namento acontecerá.Será então mais provável que o mesmo parque semelhante, provavelmente com os olhos no chão, como
comportamento estqa em curso quando o alimento for dado quandoachamoso dinheiro, e assim por diante. Este compor-
novamente. Se isto acontecer,o "operante" serámais reforçado. tamento variará com qualquer estado de privação para o qual
Se não, algum outro comportamentoo será. Finalmente um dinheiro sda importante. Não chamaríamos a isso supersti-
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Capítulo VI
significado presente a ser levado em conta. Isto é verdadeiro Modelagem e manutenção do comportamento operante
mesmo que perguntámos o que está fazendo e ele responda
.'Estou procurando meus óculos". Esta não é uma descrição do A contintlidade do comportamento
comportamento melhor que a anterior, mas uma descrição.das
variáveis das quais seu comportamento é função; é equivalen-
O condicionamento operante modela o comportamento
te a "Perdi meus óculos", "Pararei com o que estou fazendo
assim no como o escultor modela a argila. Ainda que algumasvezeso
quando encontrar os meus óculos", ou "Quando agi escultor pareça ter produzido um objeto inteiramentenovo, é
passado, encontrei meus óculos". Estas expressões podem pa- sempre possível seguir o processo retroativamente até a massa
recer desnecessariamenteredundantes, mas apenas porque as
original indiferenciada e fazer que os estágios sucessivos, atra-
expressõesque envolvem obletivos e propósitos não passam vés dos quais retomamos a essa condição sejam tão pequenos
deabreviações.
quanto quisermos. Em nenhum ponto emerge algo que seja
Muito frequentementeatribuímos um propósito ao com- muito diferente do que o precedeu.O produto final pareceter
portamento como outro meio de descreversuaadaptabilidade
mas uma especialunidade ou integridade de planejamento, mas não
biológica. Este tópico já foi suficientemente discutido,
condicionamento sepode encontrar o ponto em que ela repentinamente apareça.
podemos incluir mais um ponto- .Tanto no No mesmo sentido, um operante não é algo que surja totalmen-
operante, quanto na seleção evolutiva de características do te desenvolvido no comportamento do organismo. É o resulta-
comportamento, as conseqüênciasalteram as probabilidades do de um contínuo processo de modelagem.
futuras. Os reflexos e outros padrões inatos de comportamento
Isto fica demonstradoclaramenteno experimentocom o
desenvolvem-se porque aumentam as oportunidades de sobre-
pombo. "Levantar a cabeça" não é uma unidade do comporta-
vivência da espécie. Os operantes se fortalecem porque são
mento discreta. Não surge, por assim dizer, em um compar-
seguidos por conseqüências importantes na vida do í/zdívídzzo. timento separado. Reforçamos aspectos apenas levemente di-
Ambos os processosdão lugar à questãodo propósito pelo ferentes do comportamento observado, enquanto o pombo está
mesmo motivo, e os dois apelos às causas últimas podem.ser
de pé ou se move. Mudamos sucessivamente a altura até onde a
rdeitados da mesma maneira. Uma aranha não possui o elabo- cabeça devia ser levantada, mas não há nada que possa acura-
rado repertório comportamentalcom o qual constrói uma tela damente ser descrito como uma nova "resposta". Uma resposta
porque a teia a tornará capaz de capturar o alimento de que ne- como girar um trinco em uma caixa-problema pareceser uma
cessitapara sobreviver.Possuio comportamentoporque com unidade mais discreta,mas apenasporque a continuidadecom
portamentos semelhantes da parte das aranhas que viveram no
outros comportamentos é de observação mais difícil. No pom-
passado capacitaram-nas a capturar o alimento de que necessi
bo, a resposta de bicas um ponto na parede da caixa experimen-
tavam para sobreviver.Muitos eventosforam relevantesao tal parece diferir de estirar o pescoço porque não há outro com-
comportamento de construçãoda teia em suahistória evoluti-
observamos o portamento do pombo que lembre este. Se para reforçar essa
va primitiva. Estaremoserrados ao dizer que resposta simplesmente esperarmos que ela ocorra e podemos
"proposito" da teia quando observarmos eventos semelhantes ter que esperar muitas horas, ou dias, ou semanas a unidade
na vida de um indivíduo.
integral parecerá emergir em sua forma final e como tal ser
reforçada. Pode não haver nenhum comportamento apreciável
que se possa descrever como "quase bisar o ponto"
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