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Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se
artisticamente. A “dor” constitui-se em objeto poético, concretiza-se em arte.
“O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto
mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a
outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer
tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele lendo-as sinta exatamente o que eu senti.”
Bernardo Soares
Observa Pessoa que (…) “a base de toda a arte é, não a insinceridade, mas sim uma sinceridade
traduzida”. Assim, o poeta “finge” emoções só imaginadas, “sentidas no intelecto”, artisticamente
sinceras, e “finge”, também, outras vezes, emoções que humanamente sentiu. No segundo caso
há ainda fingimento porque as emoções passam a ser forma, são filtradas, transpostas em função
da expressão poética – e dizer por palavras implica um processo de intelectualização. “A arte é a
intelectualização da sensação (sentimento)”
1
Autopsicografia
1ª estrofe
A intelectualização é expressa de forma tão artística que parece mais autêntica do que a
realidade (“tão completamente que”)
O leitor não sente a dor fingida, pois essa pertence ao poeta/criador artístico
Ao ler o texto, o leitor não sente, pois, as duas dores do poeta nem a dor que ele tem
O leitor apenas sente o que o objeto artístico lhe desperta: uma quarta dor (a dor que ele
constrói na leitura, enquanto ato intelectual)