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3ª GERAÇÃO

MODERNISTA
1940/45 AOS DIAS
ATUAIS

NEIVA ANTUNES PINHEIRO


- Antropofagia: Apesar da utilização metafórica do termo, que está associado aos rituais
antropofágicos dos índios brasileiros, o escritor Oswald de Andrade utilizou a palavra
simbolicamente no sentido de “devorar e deglutir” a cultura, sem perder a originalidade dos
artistas brasileiros.

- Pau-Brasil: movimento embasado na revisão crítica de um passado histórico e cultural, que


defendia a criação de uma poesia primitiva, a aceitação e a valorização de riquezas. A
primeira geração do modernismo brasileiro também ficou conhecida como fase heroica, em
razão da coragem e o compromisso dos artistas com a renovação estética da arte.

- Verde-Amarelo: Ufanismo é a característica que melhor define esse movimento. Trata-se de


uma exaltação do Brasil e, ao mesmo tempo, hostilidade às proveniências estrangeiras. A
ideologia fascista - baseada no racismo - também estava presente nesse manifesto. A Escola
da Anta recebeu esse nome como representação da nacionalidade brasileira, dado o
contexto mítico desse animal na cultura tupi - principal tribo indígena brasileira.
A LITERATURA CONTEMPORÂNEA, 380 ATÉ 395.
Terminada a Segunda Guerra, o Brasil entrou em um novo período de sua história,
marcado pelo desenvolvimento econômico, pela democratização política e pelo surgimento de
novas tendências artísticas e culturais.
A primeira manifestação de mudança na literatura se deu com a geração de 1940-1950,
cujo objetivo era renovar os meios de expressão a partir de uma pesquisa em torno da
linguagem. No fim da década de 1950 e início da de 1960, esse movimento conviveu com o
Concretismo, que, de certa forma, deu continuidade às pesquisas da geração de 1940-1950,
porém acentuando seu aspecto formal. Esse foi o momento em que a Bossa Nova e o Cinema
Novo ganharam seu espaço. No final da década de 1960, em meio à efervescência cultural
refletida nos festivais de música da TV Record, surgiu o Tropicalismo, que representou a
retomada de algumas propostas do Modernismo de 1922.
Com o fechamento político do país imposto pelo AI-5, em 1969, e a onda de censura,
prisões e exílios, a produção artística como um todo sofreu um refluxo. A partir daí, houve
uma dispersão cultural, que teve como consequência o aparecimento de valores individuais
em lugar de movimentos artísticos organizados. Esse quadro tem se mantido até o início do
século XXI.
OS ANOS 1940-50: CLARICE LISPECTOR

A pesquisa estética e a renovação das formas de expressão


literária, tanto na poesia quanto na prosa, são os traços distintivos da
geração de 1940-50. Clarice Lispector, por exemplo, pondo em xeque
os modelos narrativos tradicionais, revitalizou os limites entre a
poesia e a prosa e obrigou a crítica literária a rever seus critérios de
análise e avaliação da obra literária.
Nas décadas de 1940-50, surgiram no Brasil publicações que
apontavam para uma nova direção da literatura. Sem propor uma
ruptura com as conquistas do Modernismo das gerações de 1922 e
1930, mas também sem defender as propostas desses grupos, os
novos escritores destacaram-se essencialmente pela maturidade
literária e pelas pesquisas em torno da linguagem.
O fragmento que segue se encontra nas primeiras páginas de A paixão segundo G. H., de
Clarice Lispector. Nelas o narrador dá início à história que vai ser contada.

Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a
palavra a mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua
onde boiarei sobre vagalhões de mudez.
[...]
Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível.
Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é
correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo.
Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo — traduzir o desconhecido para uma
língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais. Falarei nessa
linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.

(São Paulo: ALLCA XX/Scipione Cultural, 1997. p. 14-5.)


Metalinguagem, isto é, reflexão sobre o processo de criação literária.
Linguagem metafórica ou poética, que relativiza os limites entre poesia e prosa.
Invenção de palavras novas a partir de recursos disponíveis na língua
O texto que segue é um fragmento do conto “O burrinho pedrês”, que integra a obra
Sagarana, de Guimarães Rosa. Nele, o narrador descreve os movimentos de uma boiada que
está sendo conduzida.

As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas,
mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas,
estrondos e baques, e o berro queixoso do gado Junqueira, de chifres imensos, com muita
tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
“Um boi preto, um boi pintado,
Postura racional, cada um tem sua cor.
antissentimental.
Invenção de palavras Cada coração um jeito
novas a partir de recursos de mostrar o seu amor.”
disponíveis na língua Boi bem bravo, bate baixo, bota baba,
boi berrando... Dança doida, dá de duro, dá
de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem
na vara, vai não volta, vai varando...
guampa: corno, chifre. (25. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982. p. 24.)
O texto que segue é um fragmento do poema “A palo seco”, de João Cabral de Melo Neto, que integra a obra
Quaderna (1960).
Metalinguagem, isto é, reflexão
A palo seco A palo seco existem sobre o processo de criação
Se diz a palo seco situações e objetos: literária.
o cante sem guitarra; Postura racional,
Graciliano Ramos,
o cante sem; o cante; antissentimental.
desenho de arquiteto,
o cante sem mais nada; as paredes caiadas,
se diz a palo seco a elegância dos pregos,
a esse cante despido: a palo seco: expressão de origem
a cidade de Córdoba, espanhola que se refere a algo
ao cante que se canta o arame dos insetos. simples, sem floreios.
sob o silêncio a pino. Eis uns poucos exemplos
O cante a palo seco de ser a palo seco,
é o cante mais só: dos quais se retirar
é cantar num deserto higiene ou conselho:
devassado de sol; não de aceitar o seco
é o mesmo que cantar por resignadamente,
num deserto sem sombra mas de empregar o seco
em que a voz só dispõe porque é mais contundente.
do que ela mesma ponha. (Poesias completas. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 160-5.)
[...]
CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA DE 40/45
A ????????
• Metalinguagem, isto é, reflexão sobre o processo de
criação literária.
• Postura racional, antissentimental.
• Linguagem metafórica ou poética, que relativiza os
limites entre poesia e prosa.
• Invenção de palavras novas a partir de recursos
disponíveis na língua.
A LITERATURA NOS ANOS 1940-50: A FASE DA MATURIDADE

Durante o período de 1930-45, tanto a literatura quanto as artes plásticas no Brasil


foram essencialmente ideológicas, voltadas para a discussão dos problemas brasileiros.
Em 1945, terminou a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, a ditadura de Vargas. O
mundo passou a viver a Guerra Fria, e o Brasil, um período democrático e
desenvolvimentista, que chegaria à euforia no governo de Juscelino Kubitschek (1956-
1961).
Menos exigidos social e politicamente, os artistas empreendiam uma pesquisa
estética em busca de novas formas de expressão. Nas artes plásticas, por exemplo, a
pintura figurativista, cujo centro é uma figura representativa da realidade, passou a
dividir espaço com a pintura abstrata, antifigurativista, que não apresenta relação direta
com a realidade.
Na literatura, ao lado de obras que mantinham certa preocupação social e davam
continuidade até ao regionalismo, começaram a se destacar produções literárias em que
a grande novidade era a pesquisa em torno da própria linguagem literária.
A poesia
A poesia dessa geração trouxe ao cenário das discussões literárias a seguinte
proposição: a poesia é a arte da palavra. Esse princípio implicava a alteração de pontos de
vista da poesia de 30, que já tinha sido social, política, religiosa, filosófica...
O desejo de renovar a forma poética era a principal meta dessa geração, que, por
causa desse interesse formalista, chegou a ser chamada de neoparnasiana. Entre os
poetas desse grupo, alguns tenderam mais ao estilo culto e elevado, de feição
neoparnasiana; outros caminharam na direção da busca de uma linguagem essencial,
sintética, precisa, concreta e racional, dando continuidade a algumas experiências feitas
nesse sentido por Drummond e Murilo Mendes.
Panorama, a revista carioca em que foram divulgados os textos dessa geração, entre
1948 e 1953, anunciava: “Somos na realidade um novo estado poético, e muitos são os
que buscam um novo caminho fora dos limites do modernismo”. Foram publicadas nessa
revista produções de dezenas de novos poetas, entre eles Alphonsus de Guimaraens Filho,
Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos, José Paulo Paes, Paulo Bonfim e João
Cabral de Melo Neto, o poeta de maior destaque dessa geração.
A prosa
Várias obras significativas em prosa vieram a público nesse período,
principalmente nos gêneros conto e romance.
Parte dessa prosa retoma e aprofunda a sondagem psicológica que já
vinha sendo desenvolvida, especialmente por autores como Mário de
Andrade e Graciliano Ramos. É o que se verifica, por exemplo, nos
contos e romances de Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.
O regionalismo, fartamente explorado pela geração de 30, também
foi retomado, dedicando-se a esse tipo de produção João Guimarães
Rosa, Mário Palmério e outros, que procuraram dar-lhe um tratamento
renovado. O espaço urbano também foi objeto de enfoque,
representado nas crônicas de Rubem Braga e nos contos e romances de
Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector e
Carlos Heitor Cony, entre outros.
Clarice Lispector (1926-1977) é um dos três principais nomes da geração de 45 e uma
das principais expressões da ficção brasileira de todos os tempos. Quando publicou sua
primeira obra, Perto do coração selvagem (1944), a escritora provocou verdadeiro
espanto na crítica e no público. Acostumada a certo tipo de romance, como o de 30, a
crítica reco reconheceu o talento da jovem escritora (então com 17 anos), mas apontou-
lhe inúmeras falhas, sobretudo de construção. Álvaro Lins, por exemplo, importante
crítico da época, escreveu: “Li o romance duas vezes, e ao terminar só havia uma
impressão: a de que ele não estava realizado, a de que estava incompleta e inacabada a
sua estrutura como obra de ficção”*.
Clarice Lispector, na verdade, introduzia em nossa literatura novas técnicas de
expressão, que obrigavam a uma revisão de critérios avaliativos. Sua narrativa subverte
com frequência a estrutura dos tradicionais gêneros narrativos (o conto, a novela, o
romance), quebra a sequência “começo, meio e fim”, assim como a ordem cronológica, e
funde a prosa à poesia ao fazer uso constante de imagens, metáforas, antíteses,
paradoxos, símbolos, sonoridades, etc.
Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada
Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando
minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando
para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em
Tchetchelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem.
Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade.
Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser
brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu
pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever
pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é
claro. Criei-me em Recife. [...] E nasci para escrever. Minha liberdade é escrever.
A palavra é o meu domínio sobre o mundo.
(Apud Berta Waldman. Clarice Lispector. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 9-10.)
Fluxo de consciência e epifania
Outro aspecto inovador da prosa de Clarice é o fluxo de consciência, uma
experiência mais radical do que a introspecção psicológica, já praticada por vários
escritores desde o Realismo no século XIX.
A introspecção psicológica tradicional procura desvendar o universo mental da
personagem de forma linear, com espaços determinados e com marcadores temporais
nítidos. O leitor tem pleno domínio da situação e distingue com facilidade momentos do
passado
Significado de Epifania
substantivo feminino
Revelação manifestada a partir de algo inesperado; percepção intuitiva: aquela ideia genial resultou
de uma epifania.
[Religião] Revelação de Deus ou sua manifestação em Jesus: epifania do Senhor.
[Religião] Revelação do que é divino ou de qualquer divindade.
[Religião] Festa comemorada no dia 6 de janeiro, em louvor aos reis magos; primeiro indício da
vinda de Cristo.
Etimologia (origem da palavra epifania). Do latim epipháneia.as.
Muitas vezes, além do fluxo de consciência, as personagens de Clarice
vivem também um processo epifânico. (O termo epifania tem sentido
religioso, significando “revelação”.) Esse processo pode ser irrompido a
partir de fatos banais do cotidiano: um encontrão, um beijo, um olhar, um
susto. A personagem, mergulhada num fluxo de consciência, passa a ver o
mundo e a si mesma de outro modo. É como se tivesse tido, de fato, uma
revelação e, a partir dela, passasse a ter uma visão mais aprofundada da
vida, das pessoas, das relações humanas, etc.
De modo geral, esses momentos epifânicos são dilacerantes e dão
origem a rupturas de valores, a questionamentos filosóficos e existenciais,
permitindo a aproximação de realidades opostas, tais como nascimento e
morte, bem e mal, amor e ódio, matar ou morrer por amor, seduzir e ser
seduzido, etc.
PERFIS FEMININOS E UNIVERSALISMO

Clarice Lispector nunca aceitou o rótulo de escritora feminista. Apesar disso, muitos de
seus romances e contos têm como protagonistas personagens femininas, quase sempre
urbanas. A escritora, ao explicar sua vocação para a literatura, comenta:

[...] talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado,


enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor
de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever.

(Apud Berta Waldman, op. cit., p. 11.)


Clarice é considerada uma escritora intimista e psicológica. É dela esta explicação:
“Algumas pessoas cosem para fora; eu coso para dentro”. Mas, como toda boa literatura,
sua produção acaba por envolver outros universos. Sua obra não deixa de ser também
social, filosófica, existencial e metalinguística.
O último livro que publicou, por exemplo, A hora da estrela (1977), é uma narrativa
que, entre outros aspectos, aborda a condição social de uma migrante nordestina no Rio
de Janeiro e faz reflexões existencialistas sobre o ser humano, a condição e o papel do
escritor moderno e a história da própria escritura literária.
Clarice publicou romances, contos, crônicas e literatura infantil. De suas mais de
vinte obras, destacam-se, além de Perto do coração selvagem, O lustre (romance, 1946),
Laços de família (contos, 1960), A paixão segundo G. H. (romance, 1964), Uma
aprendizagem ou O livro dos prazeres (romance, 1969), Água viva (prosa, 1973), A hora
da estrela (romance, 1977), A bela e a fera (contos, 1979). No gênero infantil publicou,
entre outros, os livros O mistério do coelho pensante (1967), A mulher que matou os
peixes (1969), A vida íntima de Laura (1974).
3ª Geração do Modernismo

Clarice Lispector – 1920 -


1977

"Eu escrevo sem esperança de que o


que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada... Porque no fundo
a gente não está querendo alterar as
coisas. A gente está querendo
desabrochar de um modo ou de
outro..."
                                                
3ª Geração do Modernismo

João Guimarães Rosa 1908 - 1967


Quando escrevo, repito o que já vivi
antes. E para estas duas vidas, um léxico
só não é suficiente. Em outras palavras,
gostaria de ser um crocodilo vivendo no
rio São Francisco. Gostaria de ser um
crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um
homem. Na superfície são muito vivazes
e claros, mas nas profundezas são
tranqüilos e escuros como o sofrimento
dos homens.
Enxadachim Designa um trabalhador do campo, que luta pela sobrevivência. A palavra
reúne “enxada” e “espadachim”.
Taurophtongo Significa mugido, sendo a palavra uma junção de dois termos gregos,
relativos a touro (táuros) e ao som da sala (phtoggos).
Embriagatinhar A mistura de “embriagado” e “(en)gatinhar” serve para designar uma
pessoa que, de tão bêbada, chega a engatinhar.
Velvo Adaptação do inglês velvet, que significa “veludo”. Na linguagem de Guimarães
Rosa, é o nome dado para uma planta de folhas aveludadas.
Circuntristeza Como a própria palavra sugere, refere-se à “tristeza circundante”.
Ficou para o final por ser o meu neologismo favorito.
Grande Sertão: Veredas vários nomes aparecem para o demônio:

…
Cujo, o Oculto, o Tal, o Que-Diga, o Não-sei-que-Diga, o Que-não-Fala, o Que-
não-Ri, o Que-nunca-se-Ri, o Sem-Gracejos, o Tristonho, o Muito-Sério, o
Sempre-Sério, o Austero, o Severo-Mor, o Galhardo, o Romãozinho – um diabo-
menino, o Rapaz, o Homem, o Indivíduo, Dião, Dianho, Diogo, o Pai-da-Mentira,
o Pai-do-Mal, o Maligno, o Coisa-Ruim, o Tendeiro, o Mafarro, o Manfarri, o
Canho, o Coxo, o Capeta, o Capiroto, o Das-trevas, o Tisnado, o Pé-Preto, o
Pé-de-Pato, o Bode-Preto, o Cão, o Morcego, o Gramulhão, o Xu, o Temba, o
Dubá-Dubá, o Azarape, o Dê, o Dado, o Danado, o Danador, o Arrenegado, o
Dia, o Diacho, o Diabo, o Rei-Diabo, o Demo, o Demônio, o Drão, o Demonião,
Barzabu, Lúcifer, Satanás, Satanazim, Satanão, Sujo (…), o Dos-Fins, o Solto-
Terceira geração (1945 - 1960)
GUIMARÃES ROSA

Principais Obras:

 Sagarana

 Corpo de baile

 Grande sertão: veredas

 Primeiras histórias

Tutaméia (Terceiras histórias)

 Estas histórias

 Ave, palavra
3ª Geração do Modernismo

João Cabral de Melo Neto – Prêmio Camões de Literatura


1920 - 1999
Nascimento:
09/01/1920
Natural:
Recife – PE

“Fazer poesia para o povo começaria por


usar formas populares”
MORTE E VIDA SEVERINA

O poema dramático "Morte e Vida Severina" é a obra-


prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto
(1920-1999). Escrito entre 1954 e 1955, trata-se de um
auto de Natal de temática regionalista.
A OBRA
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;

(...)

Somos muitos Severinos


iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra
“(…)
azul
era o gato Ferreira Gullar
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu

tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia


sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor e bosta de porco
aberta como
uma boca do corpo (não como a tua boca de
palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu”
Sujo, por ser um homem contrário ao regime e perseguido por causa da sua arte.

Sujo, pelas experiências vividas de difícil lembrança, escondidas no porão de sua memória.

Sujo, por não ter, em seus versos, ritmo, rimas ou por cagar para as regras e métricas. Por
xingar e falar de cus e bucetas de forma livre.

Poema Sujo é livro de cabeceira dos amantes da poesia concreta; Um dos criadores do
neoconcretismo, Ferreira Gullar foi filiado ao PCB e exilado militar. Viveu na União
Soviética, Argentina e Chile.

Em 2014, foi considerado um imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a 37ª
cadeira. Gullar faleceu em dezembro de 2016 aos 86 anos.
Poesia – Década de 50
Reflete a modernidade:
- Industrialização acelerada
- Vida urbana

Haroldo de Campos; Augusto de Campos e Décio Pignatari


Concretismo
(1956)
Poesia concreta
Volta-se para a geração de 22
Valorização da forma e da comunicação visual,
sobrepondo ao conteúdo;
Recusa a poesia tradicional;
Explora as diversas possibilidades de espaços
visuais e a palavra em seus vários níveis.
Plano piloto para a poesia concreta:

verbivocovisual
Semântico Visual

Sonoro

Poesia se transforma em OBJETO – Torna o poema uma realidade


Poemas concretos
Poema Objeto

- a eliminação de versos, frases;

- a incorporação de figuras geométricas;

- enfatizam o conteúdo visual e sonoro das


palavras;

- Retirada a importância dos sentimentos do eu-


lírico.
Demais movimentos decorrentes do Concretismo:

- Poesia Social
- Poesia Neoconcreta
- Poesia Práxis
- Poesia Processo
Poesia social (1957) – Grupo tendência
poesia como instrumento de expressão social e política
Eu falo
tu ouves Eu defendo
ele cala. tu combates
Eu procuro ele entrega.
tu indagas
ele esconde. Eu canto
CONJUGAÇÃO tu calas
Eu planto ele vaia.
tu adubas
ele colhe. Eu escrevo
tu me lês
Eu ajunto ele apaga.
tu conservas Autor:     (Affonso Romano de Sant'Anna)

ele rouba.
Poesia Neoconcreta
(1959)
Mostra a realidade do homem de forma complexa;

Utiliza a linguagem escrita;

Os sentimentos do eu-lírico são importantes.

Luta contra a opressão e a injustiça social


Ouvindo apenas

e gato e passarinho
e gato Ferreira Gullar
e passarinho (na manhã
veloz
e azul  Sentido das palavras:
de ventania e ar
vores - Objetos
voando)
e cão - Nas ruas das cidades
latindo e gato e passarinho (só - Na noite
rumores
de cão - No sofrimento do povo
de gato
e passarinho - No cotidiano
ouço
deitado
no quarto
às dez da manhã
de um novembro
no Brasil)

Ferreira Gullar
Poesia práxis
(1961) ação

Retomou a palavra;
considerava a palavra um organismo vivo, que gera o
outro;
deve ser energética e dinâmica;
com um conteúdo de importância;
Pode ser transformada e reformulada pelo leitor,
permitindo uma leitura múltipla.
- Retirada a Importância dos sentimentos do eu-lírico.
O TOLO E O SÁBIO

O sábio que há em você


não sabe o que sabe
o tolo que não se vê.

Sabe que não se vê


o tolo que não sabe
o que há de sábio em você.

Mas do tolo que há em você


não sabe o sábio que você vê.
Poesia Processo
(1967)
Opõe-se ao discurso; poesia isenta de palavras;

apela para o campo visual, através do uso de cortes e colagens


e signos não-verbais;

Não existe a palavra, apenas a linguagem visual;

Poemas mais para serem vistos do que lidos;

 Assemelha-se as técnicas das histórias em quadrinhos.


José de
Arimathéia
Moacir Cirne
Álvaro de Sá
Álvaro de Sá
1. Crescer, de Arnaldo Antunes 2. Versão/interferência
de Moacy Cirne
Poesia dos anos 70 Poesia Marginal

A linguagem é marcada pela busca da descrição do


cotidiano

Linguagem simples

Humor, ironia
Desprezo à elite e sociedade
Características das obras de Oswald de Andrade

Eram, na maioria dos casos, rodadas em mimeógrafos


e entregues de mão em mão
(folhetos, jornais, revistas, comícios poéticos)
PAULO LEMINSKI
RAZÃO DE SER

 Escrevo. E pronto.
Suprassumos da Quintessência
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
O papel é curto.
Ninguém tem nada com isso.
Viver é comprido.
Escrevo porque amanhece,
Oculto ou ambíguo,
E as estrelas lá no céu
Tudo o que digo
Lembram letras no papel,
tem ultrasentido.
Quando o poema me anoitece.
Se rio de mim,
A aranha tece teias.
me levem a sério.
O peixe beija e morde o que vê.
Ironia estéril?
Eu escrevo apenas.
Vai nesse ínterim,
Tem que ter por quê?
meu intramistério.
MODERNISMO
Ariano Suassuna

“Em algumas ocasiões lanço


mão do riso para me
defender, porque, como
sertanejo, não gosto de ser
visto dominado pela emoção”
MODERNISMO
Ariano Suassuna

Ariano Vilar Suassuna nasceu em João Pessoa, então


"Cidade da Paraíba“ em 16 de junho de 1927, é um
dramaturgo, romancista e poeta brasileiro.
Filho do ex-governandor João Suaçuna (1924-1928). Ariano
é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor
dos célebres Auto da Compadecida e "A Pedra do Reino", é
um defensor militante da cultura brasileira.
Faleceu em 23/07/2014.
MODERNISMO
Ariano Suassuna

Seu nascimento acabou por ocasionar


a parada de uma procissão que
ocorrera em frente do palácio do
governo do estado.
MODERNISMO
Ariano Suassuna

Auto da compadecida é uma peça de


teatro, em forma de auto, em três atos
escrita e em 1955 por Ariano Suassuna. Sua
primeira encenação foi em 1956, em Recife,
Pernambuco.
É uma comédia de tipo sacramental que põe
em relevo problemas e situações peculiares
da cultura do Nordeste do Brasil. Insere
elementos da tradição da literatura de
cordel, apresenta traços do barroco católico
brasileiro, mistura cultura popular e tradição
religiosa.
Esta peça projetou Suassuna em todo o país
e foi considerada, em 1962, por Sábato
Magaldi "o texto mais popular do moderno
teatro brasileiro".
Terceira geração (1945 - 1960)
« Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino,
hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou
(e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino). « 
NELSON RODRIGUES
VIDA

Teatrólogo nascido em Recife, considerado criador de uma


obra revolucionária, um divisor de águas para o teatro
brasileiro.

Sua vida pessoal foi marcada por tragédias, como o


assassinato do irmão e o choque por saber que seu filho fora
torturado pela ditadura militar, regime que Nelson apoiou.

É considerado pela crítica o fundador do


moderno teatro brasileiro.
Terceira geração (1945 - 1960)
NELSON RODRIGUES
Características da obra

O teatro entrou em sua vida quando se encontrava em dificuldades


financeiras, achando uma possibilidade de sair da situação difícil em
que estava. Assim, escreveu "Vestido de Noiva", sua primeira peça.
Segundo fontes, Nelson tinha o romance como gênero literário predileto,
e suas peças seguiram essa predileção, pois as mesmas são como
romances em forma de texto teatral.

Nelson é um originalíssimo realista. Não é à toa que foi considerado


um novo Eça. De fato a prosa de Nelson era realista e, tal como os
realistas do século XIX, criticou a sociedade e suas instituições,
sobretudo o casamento. Sendo esteticamente realista em pleno
Modernismo, Nelson não deixou de inovar tal como fizeram os
modernos. O autor transpôs a tragédia grega para o sociedade
carioca do início do século XX, e dessa transposição surgiu a
tragédia carioca, com as mesmas regras daquela, mas com um tom contemporâneo.

O erotismo está muito presente na obra de Nelson Rodrigues, o que lhe garante o título de realista. Ele
não hesitou em denunciar a sordidez da sociedade tal como o fez Eça de Queirós em suas obras.
Em síntese, Nelson foi um grande escritor, dramaturgo e cronista, e está imortalizado na literatura
brasileira
Terceira geração (1945 - 1960)
NELSON RODRIGUES - OBRA Peças
A mulher sem pecado (1941)
Romances Vestido de noiva (1943)
•Meu destino é pecar (1944) Álbum de família (1946)
•Escravas do amor (1946) Anjo negro (19470
•Minha vida (1946) Senhora dos afogados (1947)
•Núpcias de fogo (1948) Dorotéia (1949)
•A mulher que amou demais (1949) Valsa nº.6 (1951)
•O homem proibido (1981) A falecida (1953)
•A mentira (1953) Perdoa-me por me traíres (1957)
•Asfalto selvagem (1960) Viúva, porém honesta (1957)
•O casamento (1966) Os sete gatinhos (1958)
•Núpcias de fogo (1948) Boca de Ouro (1959)
Beijo no asfalto (1960)
Ainda possui diversos: Bonitinha, mas ordinária (1962)
Contos e Crônicas,
Toda nudez será castigada (1965)
Telenovelas e Filmes baseados
Anti-Nelson Rodrigues (1973)
em suas obras. A serpente (1978)
“(…)
azul
era o gato Ferreira Gullar
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu

tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia


sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor e bosta de porco
aberta como
uma boca do corpo (não como a tua boca de
palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu”
Sujo, por ser um homem contrário ao regime e perseguido por causa da sua arte.

Sujo, pelas experiências vividas de difícil lembrança, escondidas no porão de sua memória.

Sujo, por não ter, em seus versos, ritmo, rimas ou por cagar para as regras e métricas. Por
xingar e falar de cus e bucetas de forma livre.

Poema Sujo é livro de cabeceira dos amantes da poesia concreta; Um dos criadores do
neoconcretismo, Ferreira Gullar foi filiado ao PCB e exilado militar. Viveu na União
Soviética, Argentina e Chile.

Em 2014, foi considerado um imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a 37ª
cadeira. Gullar faleceu em dezembro de 2016 aos 86 anos.
TERCEIRA FASE DO MODERNISMO – GERAÇÃO DE 45
• Continua a sequência das tendências da segunda fase da prosa urbana, intimista e
regionalista. Agora com uma renovação formal.

• Surge o grupo de escritores conhecidos como “geração 45” ou neparnasianos, que


procuram equilibrar a poesia, deixando elas mais sérias.
Principais autores
Prosa de Ficção
Produção Poética Teatro
João Guimarães Rosa; João Cabral de Melo Neto; Nelson Rodrigues;
Clarice Lispector; Ledo Ivo; Augusto Boal;
Lygia Fagundes Teles; José Paulo Paes; José Celso Martinez
Marina Colassanti; Concretismo;
Osman Lins; Ferreira Gullar;
Raduan Nassar;
João Ubaldo;
Rubem Fonseca ;
Cenário Histórico
 
• O fim da Segunda Guerra, em 1945: bomba atômica sobre as cidades
japonesas de  Estados Unidos versus União Soviética, ou capitalismo versus
socialismo: Guerra Fria; 
• Os presidentes que sucederam Getúlio, merece destaque a figura de
Juscelino Kubitschek, anos 50: construção de Brasília; 
• A década de 60 é marcada pelo Golpe Militar no ano de 1964: o presidente
João Goulart cai; 
• O ano de 1968 ficou conhecido pela instituição do Ato Constitucional
Número 5: censura.
Principais características do modernismo na terceira fase

• Existencialismo – visão universal, reflexões metafísicas sobre a


existência;
• Fluxo de consciência – monólogo interior, epifanias, ruptura com o
enredo linear; Profusão da crônica em detrimento do romance;

Produção Poética

• Formalismo – exploração da forma, do aspecto visual do texto e


semântico;
• Vanguardismo – o Concretismo e o Neoconcretismo;
Teatro

• A peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, inicia o


Modernismo no teatro brasileiro;
• Engajamento social, como no romance da Geração de 30.

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