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SIMBOLISMO

O Simbolismo, movimento literário que antecedeu a Primeira Guerra Mundial (1913-1918), surge como reação às
correntes materialistas e cientificistas da sociedade industrial do início do século XX. A palavra simbolismo é
originária do grego, e significa colocar junto. Os simbolistas, negando os parnasianos, aboliram o culto à forma de
suas composições. Resgatando um ideal romântico, os poetas desse período mergulharam no inconsciente, na
introspecção do eu; entretanto o fizeram de maneira bem mais profunda que Garret, Camilo Castelo Branco e outros
românticos.

Cronologia Século XIX Portugal

1890: Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro.


1915: Ano da Proclamação da República, com a publicação da Revista Orpheu.

Brasil

1893: com a publicação de Missal e de Broquéis de Cruz e Sousa.


Cabe lembrar que a poesia simbolista não teve no Brasil a mesma aceitação que na Europa.
A divulgação dessa estética ocorreu paralela ao Parnasianismo.
1902, com a publicação de Canaã, de Graça Aranha.

Origem

Em 1857, na França, Charles Baudelaire (1821-1867) publicou As Flores do Mal e em 1866 saiu o primeiro número
da antologia Le Parnasse Contemporain. Nesta, foram expostas tanto composições simbolistas quanto produções
parnasianas. A poesia simbolista está ligada à idéia de decadência, daí seu primeiro nome ter sido Decadentismo;
só mais tarde essa nova estética passou a chamar-se Simbolismo. Jean Moréas, teórico do grupo, em 1886 publicou
um artigo chamado O século XX, que definia o movimento como "não tanto em seu tom decadente quanto em seu
caráter simbólico"; essa publicação colocou um ponto final na nomeação da nova estética, que passou a chamar-se
Simbolismo. Tendo por base as idéias de Moréas, Eugênio de Castro lançou o movimento em Portugal com Oaristo;
o nome dessa obra, em grego, significa "Diálogo intímo". No Brasil, o movimento chegou, sem influências
portuguesas, com a publicação de Missal e de Broqueis, ambas de Cruz e Souza.

Características

O Simbolismo representa uma espécie de volta ao Romantismo, especificamente ao "mal do século", que marcou a
segunda fase romântica. Mas o mergulho simbolista no universo metafísico foi mais profundo que a imersão no
movimento anterior. Os simbolistas buscavam integrar a poesia na vida cósmica, usando uma linguagem indireta e
figurada. Cabe ainda ressaltar que a diferença entre o Simbolismo e o Parnasianismo não está primeiramente na
forma, já que ambos empregam certos formalismos (uso do soneto, da métrica tradicional, das rimas ricas e raras e
de vocabulário rico), mas no conteúdo e na visão de mundo do artista.

Apesar de seguir alguns efeitos estéticos do Parnaso, esse movimento desrespeitou a gramática tradicional com o
intuito de não limitar a arte ao objeto, trabalhando conteúdos místicos e sentimentais, usando para tanto a sinestesia
(mistura de sensações: tato, visão, olfato...). Essa corrente literária deu atenção exclusiva à matéria submersa do

"eu", explorando-a por meio de uma linguagem pessimista e musical, na qual a carga emotiva das palavras é
ressaltada; a poesia aproxima-se da música usando aliterações.

Autores portugueses

Eugênio de Castro (1869/1944)

Motivado pela influência recebida em sua estada na França, Castro, formado em Letras na Universidade de
Coimbra, inaugura o Simbolismo português com Oaristo, cuja técnica é baseada na poesia de Paul Verlaine.
Massaud Moisés, estudioso da Literatura, assinala que, apesar de fazer uso de prefácios polêmicos e agressivos
para inserir os pressupostos da estética simbolista em seus livros, esse artista revela uma tendência inata para o
equilíbrio clássico, para a contenção e para o formalismo de tradição. Essa tendência vai substituindo de forma
gradativa a postura simbolista.

Características

A produção literária de Eugênio de Castro apresenta versos livres, vocabulário erudito, pessimismo e ambigüidade
nos temas trabalhados(blasfêmias-liturgia; ocultismo-catolicismo).

Obras

OaristoS (1890), Horas (1891), Silva e Interlúdio (1894).

Antônio Nobre (1867/1900)

Em 1892, Nobre, advogado formado em Paris, publica sua obra mais importante: Só, uma coletânea de poemas em
que utiliza uma linguagem coloquial, para voltar ao passado, à infância. Sua produção revela uma
hipersensibilidade, um forte sentimento de tristeza e de completa inadaptação ao mundo. Suas descrições são
preenchidas por ambientes vagos ou nebulosos; por esses motivos, o poeta é chamado de crepuscular, ou seja, um
artista voltado para as horas de recolhimento.

Características

A produção literária de Antônio Nobre apresenta vocabulário simples, temas coloquiais, apego à terra, às raízes
populares; descrição de seu exílio parisiense e egocentrismo.
Obras
Só (1892), Despedidas (1902), Primeiros Versos (1921) e Alicerces (1983).
Camilo Pessanha (1871/1926)
Pessanha, estudioso da civilização chinesa, morreu em Macau. É considerado o maior simbolista português. Alguns
de seus poemas foram publicados na revista Centauro em 1916, graças ao interesse e esforço de João de Castro
Osório. Mais tarde, em 1920, conseguindo outras composições às quais reuniu as já publicadas, publicou Clepsidra.
O nome da obra significa relógio movido a água.
Características
Suas composições trabalham temas sentimentais, apresentam uma musicalidade marcante e uma postura de
resignação diante da adversidade. Esse quadro compõe imagens fugidias, carregadas de pessimismo, e
transitoriedade da vida.
Obra
Clepsidra (1920).

Autores brasileiros

Cruz e Souza
Nasceu em Santa Catarina, no ano de 1861 e faleceu em Minas Gerais, em 1898. Apesar de ser filho de negros
escravos, teve uma excelente educação, falava francês, latim e grego. Foi nomeado promotor em Laguna, SC, mas
não assumiu seu posto, devido a preconceitos raciais. Em 1886, mudou-se para o Rio de Janeiro, trabalhando como
arquivista da Central do Brasil e secretário e ponto de uma companhia dramática. Em 1885, publicou um volume
intitulado Tropos e Fantasias, em colaboração com Virgílio Várzea, com quem já tinha dirigido um jornal
abolicionista, o Tribuna Popular.

Em 1893 lançou Missal e Broqueis. O poeta teve quatro filhos; destes, morreram dois. Sua mulher enlouqueceu;
além disso, a família tinha uma péssima situação econômica. Todos esses acontecimentos afetaram profundamente
a vida desse artista, que morreu tuberculoso em 1898.
Características

Sua produção literária é carregada ora de erotismo e satanismo, ora de misticismo. As composições apresentam
uma visão trágica da vida e busca de transcendência (eu x mundo). O poeta, usando um vocabulário litúrgico e
apresentando obsessão pela cor branca, cria analogias e correspondências entre o concreto e o abstrato.

Obras

Tropos e Fantasias
Missal e Broquéis, 1893 (poesia)
Evocações, 1898 (prosa)
Faróis, 1900 (poesia)
Últimos Sonetos, 1905 (poesia)

Alphonsus de Guimaraens

(O solitário de Mariana ou O Poeta Lunar)


Nasceu em Ouro Preto (1870) e faleceu em Mariana, Minas Gerais, em 1921.
Formou-se em Direito, tendo sido promotor e juiz. A noiva morreu quando ambos tinham dezoito anos; ele nunca
superou este ocorrido, apesar de ter-se casado e ter tido quatorze filhos. Viveu isolado do mundo literário de sua
época, o que lhe valeu o apelido de "O solitário de Mariana".

Características

Sua obra revela um apelo constante à memória e à imaginação, os versos são melancólicos, dotados de uma
musicalidade marcante. Religião, Natureza e Arte servem de apoio para a exploração de seu tema preferido: a morte
da amada.

Obras

 Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899)


 Câmara Ardente (1899)
 Dona Mística (1899)
 Kyriale (1902)
 Pauvre Lyre (1921)
 Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923)

SIMBOLISMO
1893: MARCO
Obra: MISSAL E BROQUÉIS (1893)
Autor: Cruz e Sousa (1861-1898)

CONTEXTO HISTÓRICO

O fim do século XIX foi profundamente marcado pelo avanço científico e a corrida desenfreada do capitalismo
industrial em busca da tecnologia e matéria-prima. Era também a busca de novas tendências e caminhos, apesar de
haver um certo pessimismo com relação ao século vindouro, e o Brasil passou por mudanças expressivas dentro de
sua estrutura política, econômica e social. A abolição da escravatura (1888) não assegurou o direito de igualdade e
civilidade aos negros, acentuando o problema da miséria no país. Revoltas como a "A guerra de Canudos" e a
"Revolta da Armada" refletiam o descontentamento com as condições sociais vigentes. O império decadente deu
lugar a uma república (1889) que favorecia diretamente o sudeste do Brasil, com a política do "café-com-leite"
(domínio alternado de presidentes mineiros e paulistas). As cidades, com seus centros culturais e comerciais aos
moldes da Europa (principalmente de Paris), se preocupavam com o inchaço de suas periferias, onde estava a
miséria dos negros livres e das massas de imigrantes, provenientes principalmente da Europa e Japão, e que
surgiram para mudar o perfil do povo brasileiro, principalmente no sul do país. A industrialização, ainda em estado
fetal, e a cultura à moda francesa da elite contrastavam com uma nação tipicamente rural e analfabeta que
enfrentava os horrores das pestes e epidemias como a febre amarela, dizimando milhares de pessoas.

CARACTERÍSTICAS

O Simbolismo surge no final do século XIX como movimento de retomada de alguns ideais do Romantismo, bem
como de oposição ao Parnasianismo, Naturalismo, correntes literárias apreciadas pela elite social. Apesar disso,
conserva algumas peculiaridades parnasianas, como a estrutura dos versos, o vasto uso do soneto, e a
preciosidade no vocabulário. Sua poesia, no entanto, vai mais além. Há a constante busca de uma linguagem mais
rica, repleta de novas palavras, com o emprego de novos ritmos que associem de forma harmoniosa a poesia à
música, explorando muito o uso da sinestesia, das aliterações, ecos e assonâncias.

O poeta simbolista não quer somente cantar e evocar suas emoções. Ele quer trazê-las de uma forma mais palpável
para o texto, para que possam ser sentidas em sua plenitude. Por isso, o uso da sinestesia, isto é, a associação de
impressões sensoriais distintas, é amplo. Há também a forte ligação com as cores, ressaltando as sensações que
provocam no espírito humano. A cor branca é sempre a mais presente e já sugere, entre outras coisas, a pureza, ou
o opaco, indiciando a presença de neblina ou nuvem e tornando as imagens poéticas mais obscuras.

Obscuridade, aliás, é uma forte característica simbolista: a realidade é revelada de uma forma imprecisa e vaga.
Não há a preocupação de nomear os objetos, e sim evocá-los, sugeri-los. É o emprego do símbolo, que liga o
abstrato ao concreto, o material ao irreal. Servindo como ponte entre o homem e as coisas, o símbolo preserva o
domínio da intuição sobre a razão, bem como a exaltação das forças espirituais e místicas que regem o universo,
contrária ao Cientificismo, ao Positivismo e ao materialismo naturalista e parnasiano. É o culto ao sonho, ao
desconhecido, à fantasia e à imaginação, numa busca pela essência do ser humano, com todos os seus mistérios,
seu dualismo (espírito e matéria) e seu destino frente à vida e à morte.

A poesia, então, ganha o tom subjetivista que a aproxima muito do movimento romântico, disposto a explorar e
sentir tudo o que há entre a alma e a carne, entre o céu e a terra. O poeta se entrega muitas vezes ao seu
inconsciente e ao subconsciente para estar mais próximo dos segredos que ligam o homem a Deus. Esse caminho,
por vezes alucinado, leva ao isolamento, à solidão, à loucura e à alienação, evidenciando um clima mais pessimista,
mórbido e algumas vezes satânico. Rompendo com a linearidade do texto, dando voz ao fluxo da consciência e
trabalhando de forma mais desarticulada a palavra e seu significado, o Simbolismo antecipa características que
seriam marcantes dentro do Modernismo.

No Brasil, o movimento simbolista não alcançou o êxito obtido na Europa, devido ao forte predomínio das
tendências parnasianas em nossa literatura. Entre os poetas simbolistas, destacam-se as obras de Cruz
e Sousa, autor de nossa primeira obra simbolista Missal e Broquéis e Alphonsus de Guimaraens, o mais
místico de nossos poetas.

SIMBOLISMO PORTUGUÊS

CONTEXTO HISTÓRICO

O simbolismo dividiu aquele estilo o espaço cultural europeu entre o final do século XIX e o início do século XX.

O período que vai de 1890 a 1915 é marcado por inúmeras tendências literárias e filosóficas, representando, no
geral, a superação das teses centrais divulgadas pela geração de 70. Aliás, muitos autores realistas já não
endossam mais aquelas idéias radicais, como se pode ver pelo modo como Antero de Quental e Eça de Queirós,
por exemplo, revêem suas posições intelectuais.
Surgem movimentos renovadores de cunho antimaterialista e antipositivista. A filosofia do espírito ressurge e idéias
nacionalistas começam a ganhar terreno na literatura.

Cumpre destacar que a agitação política contra a monarquia tornava-se cada vez mais intensa, vindo a culminar, em
1910, com a instauração da república. O movimento nacionalista vinha, pois, fomentar a exaltação de valores
nacionais e, se por vezes pecou por um sentimentalismo excessivo, constituiu um fator importante na restauração
psicológica de uma sociedade em crise.

Sobre essa renovação espiritual, assim se manifesta o crítico Antonio Soares Amora : "O movimento de reabilitação
do espírito foi mais longo ; sem cogitar de p6or em dúvida as verdades e as possibilidades cognoscentes das
ciências positivas, no que respeita a matéria, impôs a convicção de que as verdades sobre o mundo exterior,
afirmadas por todas as manifestações da espiritualidade do homem, não são menos verdades que as apura a
inteligência com métodos científicos. Deste modo, reabilitaram-se as verdades do idealismo, as verdades morais e
sentimentos, as verdades da imaginação, as verdades do subconsciente, enfim, as verdades da alma, que nos dão
a realidade objetiva com uma natureza e com uma significação muito diferente de tudo o que nos oferece o
racionalismo científico e materialista. "

A esse ressurgir da filosofia do espírito e do nacionalismo, junta-se a reação ao Realismo com a proposta de uma
literatura mais c\voltada para as forças interiores do homem, para sua dimensão psicológica e transcendental,
beirando o místico e o irracional. Essa tendência literária recebeu influência direta do Simbolismo francês, que em
1886 já lançara suas bases.

Contudo, vemos que, em Portugal, esse período de 1890 a 1915, ainda que receba o nome geral de Simbolismo,
está longe de esgotar-se apenas nessa direção. Para melhor o compreendermos, temos que ter presente a de
intermediários para as novas posições que serão assumidas a partir da década de 20, inaugurando o Modernismo.

No Brasil, esse início se seu com a publicação, no mesmo ano (1893), dos livros Missal e Broqueis, de autoria de
Cruz e Souza, nosso melhor poeta simbolista. Nos dois países ( Portugal / Brasil), considera-se geralmente que o
início dos respectivos movimentos modernistas representou o surgimento de novas alternativas literárias : 1915, em
Portugal e 1922, no Brasil. a crítica literária brasileira por vezes opta pela escolha do ano de 1902 para demarcar o
fim da era parnasiano-simbolista, porque foi então que se deu a publicação do livro Os sertões, de Euclides da
Cunha, representativo de um nova preocupação social que, ausente nos estilos anteriores, passaria a dominar a
literatura nacional.

A Poesia

Contrariamente aos preceitos realistas, a poesia do Simbolismo valorizou o subjetivismo e o inconsciente, tornando-
se um meio de sondagem do mundo interior do "eu" lírico. Essa introspecção gerou caminhos diversos nos muitos
poetas simbolistas, levando tanto a um intimismo saudosista, à expressão dos desencontros da vida como à
angústia diante do destino e da morte.

Na linguagem, os simbolistas abandonaram o vocabulário filosófico dos realistas e utilizaram-se abundantemente


das metáforas inusitadas, dos termos "sugestivos", das analogias, das sinestesias. Ao tom incisivo do Realismo
opuseram a musicalidade, mais adequada à expressão dos vários matizes da vida psicológica. Essas características
subjetivas, que, por vezes, deságuam num sentimentalismo de mau gosto, marcaram também a prosa da época.

Dentre os numerosos poetas de tendências simbolistas, devem ser mencionados Camilo Pessanha, Eugênio de
Castro ( cuja obra Oaristos assinala, em 1890, o início do Simbolismo português ), Antônio Nobre, Florbela Espanca
e Teixeira de Pascoaes.

A prosa de ficção

Embora as características típicas do Simbolismo privilegiassem a poesia como meio de expressão mais adequado, a
prosa também foi bastante cultivada nesse período e, ainda que com menor intensidade, revela influências do
subjetivismo e do espiritualismo dominante nos poetas.

Sem deixar de considerar o contexto social, os ficcionistas, entretanto, analisaram suas personagens de modo bem
mais pessoal e introspectivo do que o fizeram os realistas. Mergulhando no interior do ser humano, daí extraíram
dramas de consciência e angústias existenciais que geraram páginas de grande densidade psicológica, traço que
vai influenciar a geração dos prosadores modernos.

A linguagem ganha em plasticidade e, não raro, os limites entre prosa e poesia não serão facilmente identificados
em obras de autores dessa época, dentre os quais merecem citação Raul Brandão, Teixeira Gomes, Carlos
Malheiro Dias, Antero de Figueiredo, entre outros.

Outros gêneros

O teatro não acompanhou a riqueza da prosa e da poesia, e daqueles que se dedicaram a escrever obras para o
palco, o único que se tornou mais conhecido foi Júlio Dantas (1876-1962) e, mesmo assim, em função apenas de
uma obra sentimental : A Ceia dos cardeais, de 1902.
Por outro lado, a cultura portuguesa viu-se enriquecida com o surgimento de uma geração de críticos e historiadores
importantes, como Antônio Sérgio e Fidelino de Figueiredo.

CARACTERÍSTICAS

A literatura simbolista surgiu, em parte, como reação ao espírito racionalista e cientificista do Realismo-Naturalismo
e do Parnasianismo. Nesse sentido, seguindo correntes filosóficas e artísticas de sua época, negou o poder absoluto
de explicação do mundo que se atribuía àquele espírito, fundamentando sua arte na rejeição do racionalismo e do
cientificismo.

O espiritismo funcionava, assim, como forma de abordagem de um mundo que se supunha existir para além da
realidade visível e concreta. No Brasil, o vocabulário litúrgico ( isto é, repleto de referências a celebrações
religiosas ) foi largamente usado como expressão dessa espiritualidade.

Os objetos, as figuras humanas, enfim toda a realidade era focalizada através de imagens vagas e imprecisas, que
propositadamente dificultavam sua compreensão e interpretação.

A inovação na combinação de expressões conhecidas conduziu naturalmente os simbolistas à criação de


neologismos, isto é,novas palavras.

Os procedimentos técnicos mais ligados ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade. A sinestesia corresponde
à mistura de sensações, provocada exatamente para acionar no leitor uma série de sentidos: "Tardes como músicas
de violinos " ( Emiliano Perneta ).

A musicalidade é obtida com a exploração da camada sonora dos vocábulos. A poesia desenvolveu, desde o final
da época trovadoresca, formas particulares de obtenção da sonoridade, que sempre foram utilizadas.

A musicalidade está presente na estética simbolista em dois procedimentos básicos: a aliteração (repetição de
consoantes: "Fujamos, flor ! à flor destes floridos fenos. "- Eugênio de Castro) e a assonância ( repetição de vogais:
"amarguras do fundo das sepulturas"- Cruz e Souza ).

AUTORES

PORTUGAL

 Camilo Pessanha
 Eugênio de Castro
 Antônio Nobre

BRASIL

 Cruz e Souza
 Alphonsus de Guimaraens

SIMBOLISMO
Nenhum movimento cultural é globalizante. Não se pode imaginar que todos os setores e pessoas da sociedade
viveram da mesma forma em determinado momento. Por isso, pode-se dizer que em certas épocas há uma
ideologia predominante, porém não globalizante.
No final do século passado, por exemplo, ao mesmo tempo que ainda vigorava a onda de cientificismo e
materialismo que deu origem ao Realismo e ao Naturalismo, já surgia um grupo de artistas e pensadores que punha
em dúvida a capacidade absoluta da ciência de explicar todos os fenômenos relacionados ao homem.
Já não se crê mais no conhecimento "positivo", que levaria a humanidade para um estágio evoluído. Acredita-se
que, assim como a ciência é limitada, igualmente a linguagem não pode pretender representar a realidade dentro
como ela de fato é. Pode-se, no máximo, sugerí-la.
No final do século XIX, a literatura que representou essa nova forma de ver o mundo foi o Simbolismo. Os
Simbolistas, insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial
européia na segunda metade do século passado, representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo
contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação
racional. O Simbolismo começa por ser, portanto, uma negação do materialismo, do positivismo, do determinismo e
outras atitudes científico-filosóficas que embasaram a estética Realista/Naturalista/Parnasiana. É, por outro lado, um
retorno ao subjetivismo romântico, ao predomínio do "eu", da imaginação e da emoção, ainda de modo mais
profundo e radical. É também uma volta à atitude conflitual tensa do Barroco e ao espiritualismo e religiosidade da
era medieval.
Para saber mais sobre o Simbolismo sugere-se: conhecer a obra de pintores impressionistas e pós-impressionistas
como Renoir, Manet, Cézanne, Van Gogh, Gaughin, Toulouse-Lautrec e Klimt; ouvir a música de Claude Debussy e
pesquisar sobre as relações entre o Simbolismo e o Romantismo, principalmente a 2° geração da poesia romântica
e a tendência gótica.

A linguagem da música.
Nenhuma arte é inteiramente objetiva. Até uma fotografia, por exemplo, que se aproxima bastante da realidade,
depende da seleção que o fotógrafo faz: o que fotografar, de que ângulo, a que distância, com que luz, em que
momento. Essas variantes estão sujeitas às intensões do fotógrafo; são, portanto, subjetivas e podem modificar o
resultado final, a foto.
Os simbolistas não acreditavam na possibilidade de a arte e a literatura poderem fazer um retrato total da realidade.
Duvidavam também das explicações "positivas" da ciência, que julgava poder explicar todos os fenômenos que
envolvem o homem e conduzi-lo a um caminho de progresso e fartura material.
Assim, os simbolistas representam um grupo social que ficou à margem do cientificismo do século XIX e que
procurou resgatar certos valores românticos varridos pelo Realismo, tais como o espiritualismo, o desejo de
transcendência e de integração com o universo, o mistério, o misticismo, a morte, a dor existencial (sem, contudo,
cair na afetação sentimental romântica.)
A ciência, até a pouco dona da verdade, passa a ser questionada, impondo um forte desencanto, pois à ela, que a
tudo enquadrava nuna forçada relação de causalidade, mostrava-se impotente, deixando incocadas as grandes
questões da vida, que continuavam como um profundo mistério. É exatamente esse mistério que vai seduzir alguns
filósifos e artistas desse período, na busca, muitas vezes, de um modo supra-racional de conhecimento. Este
caminho é o "coração" de Pascal ("O coração tem razões que a própria razão desconhece") e logo será, para muitos
pensadores, a "intuição", ou aquilo que, há muito tempo, têm experimentado os místicos, sem nenhuma explicação
concreta e provável.
Essa reação antimaterialista situa-se num contexto mais amplo da vivido pela Europa no último quarto do século
XIX, a forte crise espiritual a que sem tem chamado de decadentismo do final do século, ou ainda mal do século.
Conceito e âmbito
O símbolo sempre existiu na Literatura, mas somente no século XIX é que seu emprego se difundiu e se tornou
moda com a denominação de Simbolismo.
Restringindo-nos a um ciclo histórico mais próximo, verificamos que o Simbolismo deita raízes no Romantismo e que
alguns ideais românticos, sobretudo os mais vagos, tiveram que aguardar o Simbolismo para realizar-se de forma
mais ampla. Nesse sentido, o Simbolismo para realizar-se de forma mais ampla. Neste sentido, esse movimento
pode ser considerado um prolongamento ou uma etapa mais avançada da concepção do mundo e dos homens
inaugurada pelos românticos, transfigurando-a e levando-a às últimas consequências. Em suma, o Simbolismo só se
compreende quando inscrito no contexto sócio-cultural decorente da Revolução Francesa e da implantação das
doutrinas romântico-liberais.
Contrariamente aos românticos, os simbolistas propuseram que "a poesia não é somente emoção, amor, mas a
tomada de consciência desta emoção; que a atitude poética não é unicamente afetiva, mas ao mesmo tempo afetiva
e cognitiva". Por outras palavras, a poesia carrega em si uma certa maneira de conhecer.
Na busca do "eu profundo", os Simbolistas iniciam uma viagem interior de imprevisíveis resultados, ultrapassando os
níveis de razoabilidade em que, afinal de contas, se colocavam os românticos, mesmo os mais descabelados e
furiosos.
Imergindo nas esferas inconscientes, acbaram por atingir os estratos mentais anteriores à fala e à lógica, tocando o
universo íntimo de cada um, onde reina o caos e a anarquia, em decorrência de ali vegetare as vivências vagas e
fluídas, pré-lógicas e inefáveis, e que não se revelam ao homem comum senão por recursos indiretos como o sonho,
a alucinação ou a psicanálise.
Mais do que tocar os desvãos do inconsciente, pretendiam sentí-los, examiná-los.
O problema mais difícil era o de como transportar as vivências abissais para o plano no consciente a fim de
comunicá-las a outrem. Como proceder? Como exprimi-las? Como represent-alas sem esvaziá-las ou destruí-las? A
gramática tradicional, a sintaxe lógica, o vocabulário comum, petrificado nas várias denotações de dicionário, enfim
o material linguístico e gramatical corriqueiro eram insuficientes para comunicar os achados insólitos da
sensibilidade, antes desconhecidos ou apenas inexpressos.
Era necessário inventar uma linguagem nova, recuperando expressões consideradas obsoletas, ivificando outras
cujo lastro semântico ia sofrendo desgaste ou cristalização. Essa nova linguagem estaria fundamentada numa
sintaxe e gramática "psicológicas", num vocabulário adequado à comunicação de novidades estéticas, pela
recorrência a neologismos, inesperadas combinações vocabulares, emprego de arcaísmos e de termos exoóticos ou
litúrgicos, e ainda de recursos gráficos de várias ordens (o uso de maiúsculas alegórizantes, das cores na impressão
dos poemas ou partes de livros, de formas arcaicas, etc...)
Trata-se pois de uma revolução da expressão literária e, não obstante conectado com as outras artes, o Simbolismo
é antes e acima de tudo Literatura e nenhuma escola foi mais literária, no sentido de "uma estética que se
aproximou de pura, vacinada contra todo o contáto não estético, ou que, sendo estético, atentasse contra suas
prerrogativas literárias. (Massaud Moisés, "O Simbolismo", A literatura Brasileira, vol. IV, Cultrix, SP, 1973).
Características da Poesia Simbolista
Como movimento antimaterialista e anti-racionalista, o Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de
sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente, como queriam os realistas. Para isso, faz uso de símbolos,
imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a finalidade de exprimir o mundo
interior, intuitivo, antilógico e anti-racional. Podem ser encontrados esses traços em poetas e pensadores pré-
Simbolistas, que acabaram por dar as origens dessa escola. São eles:
Charles Baudelaire
poeta francês pós-romântico e precursor do movimento simbolista, para quem a poesia é a expressão da
correspondência que a linguagem é capaz de estabelecer entre o concreto e o abstrato, o material e o ideal. Coube
a ele desmistificar a poesia, trazendo-a para o plano do homem já então angustiado por uma existência sem deuses
ou mitos válidos. Sua poesia satânica, irreverente e cáustica, impulsionada por uma ânsia trágica de libertação e
narcisamento, influenciou nõa só o âmbito ético-literário, mas revolucionou o próprio campo da expressão, graças à
sua Teoria das Correspondências, expressa no trecho abaixo.
Como longos ecos que de longe se confundem
numa tenebrosa e profunda unidade.
Vasta como a noite e como a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.
A Teoria das Correspondências porpõe um porocesso cósmico de aproximação entre as realidades físicas e as
metafísicas, entre os seres, as cores, os perfumes e o pensamento ou a emoção, que se expressa através da
Sinestesia, um tipo de metáfora, que consiste na tranferência (ou "cruzamento") de percepção de um sentido para
outro, ou seja, a fusão, num só ato de percepção, de dois sentidos ou mais. É o que ocorre em "ruído aspero"
(audição e tato); "música doce" (audição e gustação); "som colorido" (audição e visão); "noite de veludo" (visão e
tato).
Essas correspondências entre os campos sensorial e espiritual envolvem obrigatoriamente a sinestesia. Sinestesia é
o cruzamento de campos sensoriais diferentes: por exemplo, tato e visão, como nas imagens "noite de veludo",
"amarelo quente", "cinza frio".
Em termos de ideologia, o Parnasianismo e o Simbolismo são movimentos diametralmente opostos, já que aquele
pregava uma poesia objetiva, racionalista, e voltada a temas universais. Apesar disso, ambos apresentam em
comum uma preocupação intensa com a linguagem e certo refinamento formal. Isso talvez possa ser explicado pelo
fato de ambas as tendências terem nascido juntas, na França, na revista Parnasse Contemporain, em 1866. Cruz e
Souza, o principal simbolista brasileiro, apresenta influências parnasianas em alguns de seus poemas.
Características da linguagem simbolista
As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:
Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e
imprecisos
Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias
Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior
Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo
Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior
Pessimismo, dor de existir
Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito
Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o
crepúsculo
Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela
loucura.
Observação: Na concepção Simbolista o louco era um ser completamente livre por não obedecer às regras.
Teoricamente o poeta simbolista é o ser feliz.
Contexto histórico
O movimento simbolista surge no último quarto do século XIX, na França, e representa a reação artística à onda de
materialismo e cientificismo que envolvia Europa desde a metade do século.
Tal qual o Romantismo, que reagiria contra o racionalismo burguês do século XVIII (o Iluminismo), o Simbolismo
rejeita as soluções racionalistas, empíricas e mecânicas trazidas pela ciência da época e busca valores ou ideais de
outra ordem, ignorados ou desprezados por ela: o espírito, a transcendência cósmica, o sonho, o absoluto, o nada, o
bem, o belo, o sagrado dentre outros.
A origem dessa tendência espiritualista e até mística situa-se nas camadas ou grupos da sociedade que ficaram à
margem do processo de avanço tecnológico e científico do capitalismo do século XIX e da solidificação da burguesia
no poder. São setores da aristocracia decadente e da classe média que, não vivendo a euforia do progresso
material, da mercadoria e do objeto, reagem contra ela. Propõem a volta da supremacia do sujeito sobre o objeto,
rejeitanto desse modo o desmedido valor dado às coisas materiais.
Assim, os simbolistas procuraram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos.
Buscam o sentimento de totalidade, que se daria numa integração da poesia com a vida cósmica, como se ela, a
poesia, fosse uma religião.
Sua forma de tratar a realidade é radicalmente diferente da dos realistas. Não aceitam a separação entre sujeito e
objeto ou entre objetivo e subjetivo. Partem do princípio de que é impossível o retrato fiel do objeto; o papel do
artista, no caso seria o de sugeri-lo, por meio de tentativas, sem querer esgotá-lo. Desses modo, a obra de arte
nunca é perfeita ou acabada, mas aberta, podendo sempre ser modificada ou refeita.

Os malditos

Essa concepção da realidade e da arte trazida pelos Simbolistas suscita reações entre setores positivistas da
sociedade. Chamados de malditos ou decadentes, os simbolistas ignoram a opinião pública, desprezam o prestígio
social e literário, fechando-se numa quase religião da palavra e suas capacidades expressivas.

O Simbolismo

com as propostas de inovação, oposição e pesquisa trazidas pela geração de Verlaine, Rimbaud e Mallarmé - não
sobrevive muito. O mundo presencia a euforia capitalista, o avanço científico e tecnológico. A burguesia vive a belle
époque, um período de prosperidade, de acumulação e de prazeres materiais que só terminaria com a eclosão da
Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Nesse contexto, o Simbolismo desaparece. Mas deixa ao mundo um alerta sobre o mal-estar trazido pela civilização
moderna e industrializada, além de códigos literários novos, que abrirão campo para as correntes artísticas do
século XX, principalmente o Expressionismo e o Surrealismo, também preocupados com a expressão e com as
zonas inexploradas da mente humana, como o inconsciente e a loucura.

O Simbolismo no Brasil

Ao contrário do que aconteceu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil o


Simbolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as
camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições
significativas, preparando terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.

As primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de 80 do século XIX. Apesar disso,
tradicionalmente se tem apontado como marco introdutório do movimento simbolista brasileiro a publicação,. Em
1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de nosso maior simbolista: Cruz e Souza.

Além de Cruz e Sousa, destacam-se, dentre outros, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry (recentemente
descoberto pela crítica).

Cruz e Sousa: O Cavador do Infinito

Cruz e Sousa (1862 - 1898), filho de escravos, foi amparado por uma família aristocrática, que o ajudou nos estudos.
Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e sempre foi alvo do preconceito racial.
Na juventude, teve uma grande decepção amorosa ao apaixonar-se por uma artista branca. Acabou casando-se
com Gravita, uma negra, que mais tarde ficaria louca. De quatro filhos que o casal teve, apenas dois sobreviveram.
Cruz e Souza morreu com 36 anos, vítima de tuberculose. Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e
Broquéis.

Hoje Cruz e Souza é considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro e um dos maiores poetas nacionais
de todos os tempos. Seu valor, contudo, só foi reconhecido postumamente, depois que o sociólogo francês Roger
Bastide colocou-o entre os maiores poetas do Simbolismo universal. Sua obra apresenta diversidade e riqueza. De
um lado, encontram-se aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, certo
satanismo, pessimismo, morte, etc. Observa-se algumas dessas características nesses versos do poema
"Inexorável":
Ó meu Amor, que já morreste,
Ó meu Amor, que morta estás!
Lá nessa cova a que desceste
Ó meu Amor, que já morreste,
Ah! Nunca mais florescerás?

Ao teu esquálido esqueleto,


Que tinha outrora de uma flor
A graça e o encanto do amuleto
Ao teu esquálido esqueleto
Não voltará novo esplendor?

De outro lado, há certa preocupação formal que o aproxima dos parnasianos: a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o
verbalismo requintado, a força das imagens; de outro, ainda, a inclinação à poesia meditativa e filosófica, que o
aproxima da poesia realista portuguesa, principalmente de Antero de Quintal.

A forma encontrada pelos Simbolistas de suspender a dor seria a música. Daí advém a tentativa de produzir textos
tão melodiosos e ritmados. Um exemplo claro é um dos mais belos textos de Cruz e Sousa. Ao le-lo, deve-se ficar
atento à musicalidade das palavras e construções.

Violões que choram...


Cruz e Souza

Ah! plangentes violões dormente, mornos,


Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,


Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,


Anseio dos momentos mais saudosos
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,


Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,


Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,


Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa


E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.

Poesia metafísica e dor de existir

Juntamente com o poeta realista português Antero de Quental e o pré-modernista brasileiro Augusto dos Anjos, Cruz
e Sousa apresenta uma das poéticas de maior profundidade em língua portuguesa, quanto à investigação filosófica
e à angústia metafísica.

O drama da existência, em sua obra, revela uma provável influência das idéias pessimistas do filósofo alemão
Shopenhauer, que marcaram o final do século passado. Além disso, certas posturas de sua poesia - o desejo de
fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo - parecem originar-se não
apenas do sentimento de opressão e mal-estar trazido pelo capitalismo, mas também pelo drama racial e pessoal
que vivia.

A trajetória de sua obra parte da consciência e da dor de ser negro, em Broquéis, à dor de ser homem, em busca da
transcendência, em Faróis e Últimos sonetos, obras póstumas. Observa-se a dor existencial por exemplo, em versos
de "Cárcere de Almas":

Ah! Toda alma num cárcere anda presa


Soluçando nas trevas entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!

As características mais importantes da obra de Cruz e Sousa são

No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre
a matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela
cor branca ("Ó Formas alvas, brancas, Formas claras / De luares, de neves, fluídas, cristalinas....").
No plano formal: destacam-se as sinestesias (cruzamento de campos sensoriais diferentes: tato e visão como em
"noites de veludo ou visão e olfato como "cheiro das cores"), as imagens surpreendentes, a sonoridade das
palavras, a predominância de substantivos e utilização de maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a
certos termos.
Mais poemas de Cruz e Souza aqui

Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens (1870 - 1921) nasceu em Ouro Preto, estudou Direito em São Paulo e foi durante muitos
anos juiz em Mariana, cidade histórica, vizinha de Ouro Preto.

Marcado pela morte da prima Constança - a quem amava e contava apenas 17 anos -, sua poesia é quase toda
voltada ao tema da morte da mulher amada, que aconteceu apenas dois dias antes de seu casamento. Todos os
outros temas que explorou, como natureza, arte e religião, estão de alguma forma relacionados àquele. A
exploração do tema da morte abre ao poeta, por um lado, o vasto campo da literatura gótica ou macabra dos
escritores ultra-românticos, recuperada por alguns simbolistas; por outro lado, possibilita a criação de uma atmosfera
mística e litúrgica, em que abundam referências ao corpo morto, ao esquife, às orações, às cores roxa e negra, ao
sepultamento, conforme exemplifica a estrofe a seguir:

Mãos de finada, aquelas mãos de neve


De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve
Que parece ordenar mas que suplica.
O conjunto da poesia de Alphonsus de Guimaraens é uniforme e equilibrado. Temas e formas se repetem e se
aprofundam, no decorrer de quase trinta anos produção literária, consolidando uma de nossas poéticas mais
místicas e espiritualistas.

O crítico Alfredo Bosi considera que "de Cruz e Sousa para Alphonsus de Guimaraens sentimos uma descida de
tom", isto porque a universalidade, a dor da existência e as sensações de vôo e vertigem que caracterizam a
linguagem simbolista de Cruz e Sousa ganham limites mais estreitos na poesia de Alphonsus de Guimaraens, presa
ao ambiente místico da cidade de Mariana e ao drama sentimental vivido na adolescência.

Formalmente o poeta revela influências árcades e renascentistas, sem contudo, cair ao formalismo parnasiano.
Embora preferisse o verso decassílabo, Alphonsus chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha
maior, de longa tradição popular, medieval e romântica.
Fontes Filosóficas seguidas pelo Simbolismo
Como já foi dito, o Simbolismo representou uma negação do materialismo, do Positivismo e do Determinismo, ou
seja, das atitudes científico-religiosas dos estilos Naturalista e Realista.
É também uma volta à atitude conflitual e tensa do Barroco e ao espiritualismo da Idade Média.
O Simbolismo seguiu algumas correntes filosóficas em voga no fim do Século XIX. São elas:
Intuicionismo, por Henry Bérgson
Tinha como objetivo a busca de novas realidades interiores. No entanto, essas realidades interiores, o "eu"
profundo, serão praticamente incomunicáveis, por constituírem um mundo extremamente vago, complexo e
corrompido à simples tentativa de ser traduzido em palavras, já que a própria consciência e natureza dessas
realidades são irredutíveis à fala, colocando-se fora de todo controle do pensamento e da razão.
Os poetas apelam então para a evocação, para a sugestão, a fim de buscar a tradução do "eu" profundo. Apenas
sugere os conteúdos sentimentais e emotivos, sem narra-los ou descreve-los.
Bergson reconhece porém que a maioria dos homens vive apenas num "eu" de superfície, atravessando a existência
sem jamais experimentar a verdadeira liberdade, que só seria alcançada ao romperem-se as barreiras da moral e da
religião.
Teorias de Arthur Schopenhauer
Em "O Mundo Como Vontade e Representação", Schopenhauer afirma que por mais maciço e imenso que seja este
mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em
que aparece. Assim, para o autor, o mundo não passa de uma representação, ou melhor, é igual à nossa percepção.
Por isso, não chegamos jamais à essência em si, ao Absoluto.
Por outro lado, o espírito ou a nossa psiquê corresponde à vontade, e essa é que seria real. Isto significaria dizer
que no fundo de todo ser ou coisa viveria a vontade. A filosofia do autor sustenta ainda que o real em si é mesmo
cego e irracional, enquanto vontade. As formas racionais não passariam de ilusórias aparências e a essência de
todas as coisas estaria alheia à razão.
Há nessa teoria um pessimismo extremo, já que a vontade é sem meta e gera dor. A felicidade seria apenas uma
interrupção temporária de um processo de infelicidade maior, pois não existiria satisfação durável. Em suma: viver
significaria sofrer.
Teorias de Soren Kierkegaerd
Definem o homem como uma síntese de infinito e finito; de temporal e eterno; de liberdade e de necessidade.
Kierkegaerd entende que qualquer opção do ser humano conduz ao desespero pela impossibilidade de conciliar a
finitude e a infinitude; a transcendência e a existência.
Filosofia oriental
De acordo com essa filosofia, a forma mais completa de salvação para o homem estaria na renúncia ao mundo e
suas solicitações, na mortificação dos instintos, na auto-anulação da vontade e na fuga para o nada, para o nirvana
dos filósofos budistas.
Teorias de Nicolal Von Hartamn
Em sua Teoria do Inconsciente, Von Hartamn cria o inconsciente, entidade desconhecia que existe por trás de tudo
e que é totalmente inalcançável.
O inconsciente daria explicação aos fenômenos, mas essa explicação não chegaria ao conhecimento do homem. O
sentimento de impotência diante do enigma do Universo, essa incógnita, gera o pessimismo.
Resumo das características do Simbolismo
Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e
desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.
Esse maior pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior,
individualismo.
Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea:
valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra. Os textos comumente retratam seres efêmeros
(fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a idéia de liberdade.
Conhecimento intuitivo e não-lógico.
Ênfase na imaginação e na fantasia.
Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural.
Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa.
Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.
Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua
sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.

3 SIMBOLISMO

ORIGENS

"O pintor austríaco Klimt, em Música I (1895),

enche o quadro de alusões simbólicas para representar a criação musical.

A partir de 1880, na França, verifica-se uma reação contra as concepções cientificistas da classe dominante,
representadas na literatura pelo fatalismo naturalista e pelo rigor parnasiano.

Neste sentido, o Simbolismo surge não apenas como uma estética oposta à literatura (poesia, especificamente)
objetiva, plástica e descritiva, mas como uma recusa a todos os valores ideológicos e existenciais da burguesia. Em
vez da "belle époque" do capitalismo financeiro e industrial, do imperialismo que se adonava de boa parte do mundo,
temos o marginalismo de Verlaine, o amoralismo de Rimbaud e a destruição da linguagem por Mallarmé.

O artista experimenta agora, à maneira dos românticos, um profundo mal-estar na cultura e na realidade. Mergulha
então no irracional, fugindo ao mundo proposto pelo racionalismo burguês, e descobrindo neste mergulho um
universo estranho de associações de idéias, lembranças sem um significado definido. Universo etéreo e brumoso,
de sensações evanescentes que o poeta deve reproduzir através da palavra escrita, se é que existem palavras para
exprimi-las. O Naturalismo e o Parnasianismo estão definitivamente mortos, conforme sentenciou um crítico literário
da época:

Em uma época que, sob o pretexto naturalista, a arte foi reduzida somente a uma imitação do contorno exterior das
coisas, os simbolistas voltam a ensinar aos jovens que as coisas também têm alma, alma da qual os olhos humanos
não captam mais do que o invólucro, o véu, a máscara.
O Simbolismo define-se assim pelo anti-intelectualismo. Propõe a poesia pura, não racionalizada, que use imagens
e não conceitos. É uma poesia difícil, hermética, misteriosa, que destrói a poética tradicional.

SURGIMENTO

Os primeiros indícios do movimento encontram-se em Baudelaire, cuja obra máxima, As flores do mal, antecipa
certas perspectivas simbolistas. Em 1884, Verlaine publica sua Arte poética, onde os princípios da escola já são
evidentes. Em 1886, Jean Moréas vale-se de um manifesto para elaborar teoricamente o Simbolismo. Diz Moréas:

Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura
vestir a Idéia de uma forma sensível.

CARACTERÍSTICAS

1) SUBJETIVISMO

Absinto (1876), do francês Degas, ilustra o mundo boêmio, semi-marginal e próximo das vertigens
oferecidas pelo absinto e outras drogas, no qual os simbolistas franceses viviam.

Os simbolistas retomam a subjetividade da arte romântica com outro sentido. Os românticos desvendavam apenas a
primeira camada da vida interior, onde se localizavam vivências quase sempre de ordem sentimental. Os simbolistas
vão mais longe, descendo até os limites do subconsciente e mesmo do inconsciente.

Este fato explica o caráter ilógico ou o clima de delírio de grande parte de sues poemas, como no fragmento
de Cruz e Sousa:

Cristais diluídos de clarões álacres,


Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos.

2) O EFEITO DE SUGESTÃO

Diz Mallarmé:
Os parnasianos tomam os objetos em sua integridade e mostram-nos. Por isso carecem de mistério. Descrever um
objeto é suprimir três quartas partes do prazer de um poema, que é feito da felicidade de adivinhar-se pouco a
pouco. Sugerir, eis o sonho. E o uso perfeito deste mistério é o que constitui o símbolo: evocar o objeto para
expressar um estado de alma através de uma série de decifrações.

Sua observação é chave para o entendimento da poética simbolista. Abandona-se o descritivismo parnasiano em
busca de uma revitalização do gênero lírico. São criadas novas imagens, novas metáforas e símbolos. Acentua-se o
caráter obscuro de certas palavras e o emotivo de outras, tudo como repúdio à linguagem poética usual, carregada
de lugares-comuns, clichês e frases-feitas que se repetiam de geração em geração.
Trata-se de reinventar a linguagem, explorar suas possibilidades, recriá-la palavra após palavra, à procura de
imagens originais e envolventes. A verdadeira poesia consiste em não-dizer, não-declarar, não designar as coisas
pelos seus nomes triviais. A verdadeira poesia está em insinuar, dizer figuradamente, sugerir.

Cruz e Souza foi especialista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão. Angústia sexual e erotismo
misturam-se na exaltação de uma mulher que parece devorar os homens:

Cróton* selvagem, tinhorão* lascivo, Planta mortal, carnívora, sangrenta, De tua carne báquica* rebenta A vermelha
explosão de um sangue vivo

Cróton - arbusto ornamental


Tinhorão - erva ornamental
Báquica - relativo a Baco, deus grego do vinho e da dissipação

3) MUSICALIDADE

Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas aproximam a poesia da música. Entendamos:
não se trata de poesia com fundo musical, mas poesia com musicalidade em si mesma, através do manejo especial
de ritmos da linguagem, esquisitas combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, sujeição do
sentido de um vocábulo a sua sonoridade, etc. Realiza-se assim a exigência de Verlaine: "A música antes de
qualquer coisa."

Rimbaud surpreende a França com o ardor de seus versos malditos, escritos em plena adolescência.
Verlaine leva a musicalidade e o efeito sugestivo das palavras a um limite até então desconhecido na
literatura européia.

Somos atingidos pelo efeito dos ritmos e dos sons de qualquer poema simbolista, mesmo que não conheçamos
profundamente o idioma em que ele foi escrito. Verlaine, por exemplo, deixou os mais célebres versos desta
sedução pela música em Canção de outono:

Le sanglots longs / Des violons / De l´automne / Blessent mon coeur / D´ une langueur / Monotone *

* Os lamentos longos / Dos violinos / Do outono / Ferem o meu coração / De um langor / Monótono.

A música é obrigatória, como nesta espécie de receita poética de Cruz e Sousa:

Derrama luz e cânticos e poemas


No verso e torna-o musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.

Mesmo a morte, na obra do simbolista brasileiro, possui uma terrível musicalidade:

A música da Morte, a nebulosa,


Estranha, imensa música sombria,
Passa a tremer pela minh'alma e fria
Gela, fica a tremer, maravilhosa...

4) IRRACIONALISMO E MISTÉRIO

No princípio, os simbolistas têm como projeto "revestir as idéias de uma forma sensível", isto é, traduzi-las para uma
linguagem simbólica e musical. Pouco a pouco, este intelectualismo se converte numa aventura anti-intelectual,
numa negativa à possibilidade de comunicação lógica entre os homens.

"Nós não estamos no mundo", brada Rimbaud, o mundo concreto se esvaiu, perdeu sua inteligibilidade. Agora é
puro mistério: atrás da ordem aparente das coisas estão o caos, a névoa, a bruma, a neblina, o incorpóreo, o
fantasmagórico, o estranho, o inefável*.

Tempestade, de Wilian Turner, reflete este mundo nevoento, nebuloso e quase incorpóreo que os
simbolistas tanto valorizam.

Rimbaud considera o artista um vidente que foge da realidade ilusória e penetra na realidade inexplorada das
sensações. Para adquirir esta vidência é indispensável um "desequilíbrio de todos os sentidos", uma ponte em
direção ao ilógico e à loucura. Só os "alquimistas do verbo" podem enxergar além da obviedade do cotidiano e
deparar-se com a essência misteriosa da vida. Cruz e Sousa chega a implorar pelo mistério:

Infinitos, espíritos dispersos,


Inefável, edênicos*, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Inefável - indescritível, o que não pode ser expresso.


Edênicos: que procedem do Éden, do paraíso

O SIMBOLISMO NO BRASIL

CONTEXTO CULTURAL

O Simbolismo no Brasil é um movimento que ocorre à margem do sistema cultural dominante. Seu próprio
desdobramento aponta para províncias de escassa ressonância: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É
como se o gosto dos poetas da escola por neve e névoas, outonos e longos crepúsculos exigisse regiões frias e
nebulosas.

Há quase um fatalismo geográfico: Alphonsus de Guimaraens produz seus textos nas cidades montanhosas e
fantasmagóricas de Minas Gerais. No Rio de Janeiro, de grandes sóis e clima tropical, o agrupamento simbolista,
mesmo com o reforço de Cruz e Sousa - que emigrara da antiga cidade do Desterro (hoje Florianópolis) - acaba
sufocado pela luz, pelo calor e pela onda parnasiana.
Os adeptos da nova estética tornam-se alvo de zombarias, quando não de desprezo. A maioria dos críticos não os
compreende e o público leitor mostra-se indiferente ou hostil frente aquela poética aristocrática, complicada,
pretensiosa. Somente depois do triunfo modernista, alguns desses poetas seriam revalorizados.

Não se pense contudo que a marginalidade simbolista implica numa mudança das relações de dependência entre os
letrados brasileiros e os valores europeus. A exemplo dos parnasianos - e às vezes é difícil identificar diferenças
poéticas entre ambos - os simbolistas transplantam uma cultura que pouco tem a ver com a realidade local. Daí
resulta uma poesia freqüentemente distanciada tanto do espaço social quanto do jeito íntimo de ser brasileiro. Um
pastiche dos "padrões sublimes da civilização".

Outra vez estamos diante do velho sonho colonizado: reproduzir aqui os modelos recentes da arte européia. A
grande exceção neste contexto parece ser a obra de Cruz e Sousa, embora outros poetas do período tenham
deixado criações isoladas de relativo interesse e qualidade.

As primeiras experiências de acordo com os novos preceitos são realizadas por Medeiros e Albuquerque, a partir de
1890. Porém, os textos que verdadeiramente inauguram o Simbolismo pertencem a Cruz e Souza que, em 1893,
lança duas obras renovadoras: Broquéis e Missal. A primeira compõe-se de poemas em versos e a segunda de
poemas em prosa.

4 SIMBOLISMO
O Simbolismo é um estilo literário, do teatro e das artes plásticas que surgiu na França, no final do século XIX,
como oposição ao Realismo e ao Naturalismo.

Histórico e características

A partir de 1881, na França, pintores, autores teatrais e escritores, influenciados pelo misticismo advindo do grande
intercâmbio com as artes, pensamento e religiões orientais - procuram refletir em suas produções a consonância a
estas diferentes formas de olhar sobre o mundo, de ver, e demonstrar o sentimento.

Marcadamente individualista e místico, foi com desdém apelidado de "decadentismo" - clara alusão à decadência
dos valores estéticos então vigentes. Mas em 1886 um manifesto traz a denominação que viria marcar
definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.

Principais características

 Subjetivismo
 Poesia Subjetiva
 Musicalidade
 O uso de Reticências
 Transcedentalismo
 Sinestesia
 Tom vago, impreciso e místico
 Sonoridade
 Aliteração

Literatura do simbolismo

Os temas são místicos, espirituais. Abusa-se da sinestesia (sensações produzidas pelos diversos órgãos
sensoriais), das aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração) e das assonâncias (aproximação
fônica entre as vogais tônicas das palavras) tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.

O Simbolismo em Portugal liga-se às atividades das revistas Os Insubmissos e Boêmia Nova, fundadas por
estudantes de Coimbra, entre eles Eugênio de Castro, que ao publicar um volume de versos intitulado Oaristos,
instaurou essa nova estética em Portugal. O movimento simbolista durou aproximadamente até 1915, altura em que
se iniciou o Modernismo.
Literatos simbolistas

Pode-se dizer que o precursor do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do
Mal", ainda em 1857.

Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por simbolismo em
manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como
Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.

Portugal

Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Eugênio de Castro, Antônio Nobre, Camilo Pessanha,
Augusto Gil, Alfonso Lopes Vieira, Antônio Patrício, Manuel Laranjeira (poesia), Raul Brandão (prosa), Júlio Dantas
(teatro).

Brasil

No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de
Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira: "Não há (na
literatura brasileira) gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".

Simbolismo nas Artes Plásticas

Oriundo do impressionismo, Paul Gauguin deixa-se influenciar pelas pinturas japonesas que aparecem na Europa,
provocando verdadeiro choque cultural - e este artista abandona as técnicas ainda vigentes nas telas do movimento
onde se iniciou, como a perspetiva, pintando apenas em formas bidimensionais. A temática alegórica passa a
dominar, a partir de 1890. Ao artista não bastava pintar a realidade, mas demonstrar na tela a essência sentimental
dos personagens - e em Gauguin isto levou a uma busca tal pelo primitivismo que o próprio artista abandonou a
França, indo morar com os nativos da Polinésia francesa...

Gauguin impressionista

Em França outros artistas, como Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, Paul Sérusier e Aristide Maillol,
aderem à nova estética. Na Áustria, usando de motivos eminentemente europeus do estilo rococó, Gustav Klimt é
outro que, assim como Gauguin, torna-se becido e apreciado. O norueguês Edvard Munch, autor do célebre quadro
"O grito", alia-se primeiro ao simbolismo, antes de tornar-se um dos expoentes do expressionismo.
Gauguin simbolista

No Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo.

Les Nabis

Como consequência do Simbolismo, apareceu o grupo de Les Nabis. Tem a particularidade de ter formas mais
simplificadas e cores mais puras. A arte torna-se desta forma uma realidade autónoma do real, pois nela estão
patentes emoções, sentimentos e ideologias.

Simbolismo no teatro

Buscaram os autores, dentre os quais o belga Maeterlinck, o italiano Gabriele D'Annunzio e o norueguês
Ibsen, levarem ao palco não personagens propriamente ditos, mas alegorias a representar sentimento,
idéia - em peças onde o cenário (som, luz, ambiente, etc.) tenham maior destaque.

SIMBOLISMO ÚLTIMO

Movimento Poético do séc. XIX

“Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer de
adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.” Mallarmé
O Simbolismo foi uma escola literária de poetas, que tinham colegas por todo mundo como o francês Charles
Baudelaire, mas tinham pouco reconhecimento e aceitação artística. Vários de seus integrantes morreram pobres,
não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecido até hoje.

Movimento de relações com o Modernismo, influencia a maioria dos poetas da 1ª fase do Modernismo. Aqui surgem
as primeiras rupturas com os padrões rígidos de composição e restabelecimento da relação entre poesia e
existência, separadas pelos parnasianos.

Referências históricas

Complexo momento de transição para o séc. XX:

1ª GM e Rev. Russa - últimas manifestações simbolistas e primeiras modernistas

o Brasil não teve momento típico para o Simbolismo - produto de importação européia

origens estão no Sul (região marginalizada pela elite cultural), palco da Revolução Federalista (1893/1895)

Revolta Armada (1893/1894) navios da Marinha (camada monárquica) em oposição ao governo Floriano

Floriano consolida a república apesar dos movimentos de revolta

clima marcado por frustrações, angústias, falta de perspectiva, resultando em afastamento do real e busca do sujeito

Características

Esta poesia representa uma reação contra toda produção poética anterior.

 nega Realismo e suas manifestações - contra materialismo, cientificismo e racionalismo


 valoriza as manifestações metafísicas e espirituais - subjetivismo
 eu = universo (também critica o eu “sentimentalóide” dos românticos)
 buscam a essência do homem - alma (poesia de auto-investigação)
 matéria X espírito, corpo X alma, sonho e loucura
 busca da purificação com o espírito atingindo regiões etéreas e integração com o espaço infinito
(cosmos)
 corpo = correntes que aprisionam a alma (libertação só pela morte)
 primado do símbolo, valorização da metáfora, onde o símbolo é sugestão
 palavras transcendem significado - cheio de sinestesias, assonâncias e aliterações
 musicalidade do verso
 “poesia pura” - surge do espírito irracional, não-conceitual e contrária à interpretação lógica
 temática da consciência da degradação da vida

Autores

Cruz e Sousa (1861-1898)

Filho de ex-escravos, foi criado por um Marechal e sua esposa como um filho e teve educação de qualidade.
Perseguido a vida inteira por ser negro, culminando com o fato de ter sido proibido de assumir um cargo de juiz só
por isso. É ativo na causa abolicionista. Morre jovem de tuberculose, vítima da pobreza e do preconceito.

Uma de suas obsessões era cor branca, como mostra a passagem a seguir.

"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras


de luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incenso dos turíbulos das aras..."
É considerado neo-romântico simbolista pois valoriza os impulsos pessoais e sua condição de indivíduo sofredor
como fonte de inspiração poética. Suas poesias sempre oferecem dificuldade de leitura. Trata-se de um poeta
expressivo, apelidado de “Cisne Negro” ou “Dante Negro".

“Alma! Que tu não chores e não gemas


Teu amor voltou agora.
Ei-lo que chega das mansões extremas,
Lá onde a loucura mora!”

Prenuncia duas tendências que marcam a poesia moderna: sondagem psicológica, pela expressão do mundo
interior e invenção lingüística, pela preferência a estruturas conscientemente elaboradas.

Obras Principais

Poesia: Broquéis (1893), Faróis (1900), Últimos Sonetos (1905)

Poesia em prosa: Tropos e Fantasias (1885), Missal (1893), Evocações (1898)

Alphonsus de Guimaraens (1870 -1921)

Apaixonado desde jovem por uma prima, sofre com a prematura morte da amada e passa por uma crise de doença
e boêmia. Forma-se em Direito e Ciências Sociais, colaborando sempre na melhor imprensa paulistana. Fica
conhecido como “O Solitário de Mariana”.

São constantes em sua obra a presença constante da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e
enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto a Virgem Maria). Sua
obra prenuncia o surrealismo

Seus versos tinham musicalidade e sutileza para a atmosfera religiosa que inspiravam, como mostra a
passagem a seguir.

"O céu é todo trevas: o vento uiva.


Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu."

Obras Principais

Poesia: Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Câmara Ardente (1899), Kiriale
(1902), Pauvre Lyre (1921), Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923), Poesias (Nova Primavera, Escada de
Jacó, Pulvis, 1938).

Prosa: Mendigos (1920)

Pedro Kilkerry (1855-1917)

Foi um dos vários poetas simbolistas quase anônimos. Pobre e boêmio, morreu tuberculoso em Salvador. Nada
deixou em livro, o que dele se conhece se reduz ao que publicou em revistas simbolistas baianas Nova Cruzada e
Os Anais. Sua obra só entrou em evidência em 1970, com Re-visão de Kilkerry (seleção de poemas organizada por
Augusto de Campos).

Sua poesia era forte e desconcertante, sendo uma das melhores do Simbolismo brasileiro. Caracteriza-se pela base
metonímica e metafórica.

"Primavera! - versos, vinhos...


Nós, primaveras em flor.
E ai! Corações, cavaquinhos
Com quatro cordas de Amor!"

Observação

Com menor expressão ainda apresenta-se como simbolista Emiliano Perneta (1866-1921) que publicou, em livros,
jornais e revistas, poesia e prosa poética simbolista.

Sinopse

Marco inicial = publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa - obras inaugurais em 1893

Marco final = 1922 com a realização da Semana de Arte Moderna

Textos

Cárcere das Almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço, olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tu se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!

Cruz e Sousa

Pressago

Nas ÁGUAS daquele lago


dormita a sombra de Iago...

Um véu de luar funéreo


cobre tudo de mistério...

Há um lívido abandono
do luar no estranho sono.

Dá meia-noite na ermida,
como o último ai de uma vida.

São badaladas nevoentas,


sonolentas, sonolentas...
Do céu no estrelado luxo
passa o fantasma de um bruxo

No mar tenebroso e tetro


vaga de um náufrago o espectro.

Como fantásticos signos,


erram demônios malignos.

Na brancura das ossadas


gemem as almas penadas.

Lobisomens, feiticeiras
gargalham no luar das eiras.

Os vultos dos enforcados


uivam nos ventos irados.

Os sinos das torres frias


soluçam hipocondrias.

Luxúrias de virgens mortas


das tumbas rasgam as portas.

Andam torvos pesadelos


arrepiando os cabelos.

Coalha nos lodos abjetos


sangue roxo dos fetos.

Há rios maus, amarelos


de presságios de flagelos.

Das vesgas concupiscências


saem vis fosforescências.

Os remorsos contorcidos
mordem os ares pungidos.

A alma cobarde Judas


recebe expressões cornudas.

Negras aves de rapina


mostram a garra assassina.

Sob o céu que nos oprime


langüescem formas de crime.

Com os mais sinistros furores,


saem gemidos das flores.

Caveiras! Que horror medonho!


Parecem visões de um sonho!

A morte com Sancho Pança,


grotesca e trágica, dança.

E como um símbolo eterno,


Ritmo dos Ritmos do inferno.
No lago morto, ondulando,
dentre o luar noctivagando,

corvo hediondo crocita


da sombra d’Iago maldita!

Cruz e Sousa

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-me na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria dar a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu.
Seu corpo desceu ao mar...

6 SIMBOLISMO
O Simbolismo é um estilo literário, do teatro e das artes plásticas que surgiu na França, no final do século XIX,
como oposição ao Realismo e ao Naturalismo.

Histórico e características

A partir de 1881, na França, pintores, autores teatrais e escritores, influenciados pelo misticismo advindo do grande
intercâmbio com as artes, pensamento e religiões orientais - procuram refletir em suas produções a consonância a
estas diferentes formas de olhar sobre o mundo, de ver, e demonstrar o sentimento.

Marcadamente individualista e místico, foi com desdém apelidado de "decadentismo" - clara alusão à decadência
dos valores estéticos então vigentes. Mas em 1886 um manifesto traz a denominação que viria marcar
definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.

Principais características

 Subjetivismo
 Poesia Subjetiva
 Musicalidade
 O uso de Reticências
 Transcedentalismo
 Sinestesia
 Tom vago, impreciso e místico
 Sonoridade
 Aliteração

Literatura do simbolismo

Os temas são místicos, espirituais. Abusa-se da sinestesia (sensações produzidas pelos diversos órgãos
sensoriais), das aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração) e das assonâncias (aproximação
fônica entre as vogais tônicas das palavras) tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.

O Simbolismo em Portugal liga-se às atividades das revistas Os Insubmissos e Boêmia Nova, fundadas por
estudantes de Coimbra, entre eles Eugênio de Castro, que ao publicar um volume de versos intitulado Oaristos,
instaurou essa nova estética em Portugal. O movimento simbolista durou aproximadamente até 1915, altura em que
se iniciou o Modernismo.

Literatos simbolistas

Pode-se dizer que o precursor do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do
Mal", ainda em 1857.

Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por simbolismo em
manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como
Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.

Portugal

Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Eugênio de Castro, Antônio Nobre, Camilo Pessanha,
Augusto Gil, Alfonso Lopes Vieira, Antônio Patrício, Manuel Laranjeira (poesia), Raul Brandão (prosa), Júlio Dantas
(teatro).

Brasil

No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de
Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira: "Não há (na
literatura brasileira) gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".

Simbolismo nas Artes Plásticas

Oriundo do impressionismo, Paul Gauguin deixa-se influenciar pelas pinturas japonesas que aparecem na Europa,
provocando verdadeiro choque cultural - e este artista abandona as técnicas ainda vigentes nas telas do movimento
onde se iniciou, como a perspetiva, pintando apenas em formas bidimensionais. A temática alegórica passa a
dominar, a partir de 1890. Ao artista não bastava pintar a realidade, mas demonstrar na tela a essência sentimental
dos personagens - e em Gauguin isto levou a uma busca tal pelo primitivismo que o próprio artista abandonou a
França, indo morar com os nativos da Polinésia francesa...
Gauguin impressionista

Em França outros artistas, como Gustave Moreau, Odilon Redon, Maurice Denis, Paul Sérusier e Aristide Maillol,
aderem à nova estética. Na Áustria, usando de motivos eminentemente europeus do estilo rococó, Gustav Klimt é
outro que, assim como Gauguin, torna-se becido e apreciado. O norueguês Edvard Munch, autor do célebre quadro
"O grito", alia-se primeiro ao simbolismo, antes de tornar-se um dos expoentes do expressionismo.

Gauguin simbolista

No Brasil, o movimento simbolista influenciou a obra de pintores como Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo.

Les Nabis
Como consequência do Simbolismo, apareceu o grupo de Les Nabis. Tem a particularidade de ter formas mais
simplificadas e cores mais puras. A arte torna-se desta forma uma realidade autónoma do real, pois nela estão
patentes emoções, sentimentos e ideologias.

Simbolismo no teatro

Buscaram os autores, dentre os quais o belga Maeterlinck, o italiano Gabriele D'Annunzio e o norueguês Ibsen, levar
ao palco não personagens propriamente ditos, mas alegorias a representar sentimento, idéia - em peças onde o
cenário (som, luz, ambiente, etc.) tenham maior destaque.

Fonte: pt.wikipedia.org

SIMBOLISMO ÚLTIMO

Movimento Poético do séc. XIX

“Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer de
adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.” Mallarmé

O Simbolismo foi uma escola literária de poetas, que tinham colegas por todo mundo como o francês Charles
Baudelaire, mas tinham pouco reconhecimento e aceitação artística. Vários de seus integrantes morreram pobres,
não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecido até hoje.

Movimento de relações com o Modernismo, influencia a maioria dos poetas da 1ª fase do Modernismo. Aqui surgem
as primeiras rupturas com os padrões rígidos de composição e restabelecimento da relação entre poesia e
existência, separadas pelos parnasianos.

Referências históricas

Complexo momento de transição para o séc. XX:

1ª GM e Rev. Russa - últimas manifestações simbolistas e primeiras modernistas

o Brasil não teve momento típico para o Simbolismo - produto de importação européia

origens estão no Sul (região marginalizada pela elite cultural), palco da Revolução Federalista (1893/1895)

Revolta Armada (1893/1894) navios da Marinha (camada monárquica) em oposição ao governo Floriano

Floriano consolida a república apesar dos movimentos de revolta

clima marcado por frustrações, angústias, falta de perspectiva, resultando em afastamento do real e busca do sujeito

Características

Esta poesia representa uma reação contra toda produção poética anterior.

 nega Realismo e suas manifestações - contra materialismo, cientificismo e racionalismo


 valoriza as manifestações metafísicas e espirituais - subjetivismo
 eu = universo (também critica o eu “sentimentalóide” dos românticos)
 buscam a essência do homem - alma (poesia de auto-investigação)
 matéria X espírito, corpo X alma, sonho e loucura
 busca da purificação com o espírito atingindo regiões etéreas e integração com o espaço infinito
(cosmos)
 corpo = correntes que aprisionam a alma (libertação só pela morte)
 primado do símbolo, valorização da metáfora, onde o símbolo é sugestão
 palavras transcendem significado - cheio de sinestesias, assonâncias e aliterações
 musicalidade do verso
 “poesia pura” - surge do espírito irracional, não-conceitual e contrária à interpretação lógica
 temática da consciência da degradação da vida

Autores

Cruz e Sousa (1861-1898)

Filho de ex-escravos, foi criado por um Marechal e sua esposa como um filho e teve educação de qualidade.
Perseguido a vida inteira por ser negro, culminando com o fato de ter sido proibido de assumir um cargo de juiz só
por isso. É ativo na causa abolicionista. Morre jovem de tuberculose, vítima da pobreza e do preconceito.

Uma de suas obsessões era cor branca, como mostra a passagem a seguir.

"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras


de luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incenso dos turíbulos das aras..."

É considerado neo-romântico simbolista pois valoriza os impulsos pessoais e sua condição de indivíduo sofredor
como fonte de inspiração poética. Suas poesias sempre oferecem dificuldade de leitura. Trata-se de um poeta
expressivo, apelidado de “Cisne Negro” ou “Dante Negro".

“Alma! Que tu não chores e não gemas


Teu amor voltou agora.
Ei-lo que chega das mansões extremas,
Lá onde a loucura mora!”

Prenuncia duas tendências que marcam a poesia moderna: sondagem psicológica, pela expressão do mundo
interior e invenção lingüística, pela preferência a estruturas conscientemente elaboradas.

Obras Principais

Poesia: Broquéis (1893), Faróis (1900), Últimos Sonetos (1905)

Poesia em prosa: Tropos e Fantasias (1885), Missal (1893), Evocações (1898)

Alphonsus de Guimaraens (1870 -1921)

Apaixonado desde jovem por uma prima, sofre com a prematura morte da amada e passa por uma crise de doença
e boêmia. Forma-se em Direito e Ciências Sociais, colaborando sempre na melhor imprensa paulistana. Fica
conhecido como “O Solitário de Mariana”.

São constantes em sua obra a presença constante da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e
enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto a Virgem Maria). Sua
obra prenuncia o surrealismo

Seus versos tinham musicalidade e sutileza para a atmosfera religiosa que inspiravam, como mostra a
passagem a seguir.

"O céu é todo trevas: o vento uiva.


Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu."

Obras Principais

Poesia: Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Câmara Ardente (1899), Kiriale
(1902), Pauvre Lyre (1921), Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923), Poesias (Nova Primavera, Escada de
Jacó, Pulvis, 1938).

Prosa: Mendigos (1920)

Pedro Kilkerry (1855-1917)

Foi um dos vários poetas simbolistas quase anônimos. Pobre e boêmio, morreu tuberculoso em Salvador. Nada
deixou em livro, o que dele se conhece se reduz ao que publicou em revistas simbolistas baianas Nova Cruzada e
Os Anais. Sua obra só entrou em evidência em 1970, com Re-visão de Kilkerry (seleção de poemas organizada por
Augusto de Campos).

Sua poesia era forte e desconcertante, sendo uma das melhores do Simbolismo brasileiro. Caracteriza-se pela base
metonímica e metafórica.

"Primavera! - versos, vinhos...


Nós, primaveras em flor.
E ai! Corações, cavaquinhos
Com quatro cordas de Amor!"

Observação

Com menor expressão ainda apresenta-se como simbolista Emiliano Perneta (1866-1921) que publicou, em livros,
jornais e revistas, poesia e prosa poética simbolista.

Sinopse

Marco inicial = publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Sousa - obras inaugurais em 1893

Marco final = 1922 com a realização da Semana de Arte Moderna

Textos

Cárcere das Almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço, olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tu se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!

Cruz e Sousa

Pressago

Nas ÁGUAS daquele lago


dormita a sombra de Iago...

Um véu de luar funéreo


cobre tudo de mistério...

Há um lívido abandono
do luar no estranho sono.

Dá meia-noite na ermida,
como o último ai de uma vida.

São badaladas nevoentas,


sonolentas, sonolentas...

Do céu no estrelado luxo


passa o fantasma de um bruxo

No mar tenebroso e tetro


vaga de um náufrago o espectro.

Como fantásticos signos,


erram demônios malignos.

Na brancura das ossadas


gemem as almas penadas.

Lobisomens, feiticeiras
gargalham no luar das eiras.

Os vultos dos enforcados


uivam nos ventos irados.

Os sinos das torres frias


soluçam hipocondrias.

Luxúrias de virgens mortas


das tumbas rasgam as portas.

Andam torvos pesadelos


arrepiando os cabelos.

Coalha nos lodos abjetos


sangue roxo dos fetos.

Há rios maus, amarelos


de presságios de flagelos.

Das vesgas concupiscências


saem vis fosforescências.
Os remorsos contorcidos
mordem os ares pungidos.

A alma cobarde Judas


recebe expressões cornudas.

Negras aves de rapina


mostram a garra assassina.

Sob o céu que nos oprime


langüescem formas de crime.

Com os mais sinistros furores,


saem gemidos das flores.

Caveiras! Que horror medonho!


Parecem visões de um sonho!

A morte com Sancho Pança,


grotesca e trágica, dança.

E como um símbolo eterno,


Ritmo dos Ritmos do inferno.

No lago morto, ondulando,


dentre o luar noctivagando,

corvo hediondo crocita


da sombra d’Iago maldita!

Cruz e Sousa

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-me na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria dar a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu.
Seu corpo desceu ao mar...

X X X X X SIMBOLISMO PORTUGUÊS
(1890-1915 )

O Simbolismo é originário da França e se iniciou com a publicação de As Flores do Mal, de Baudelaire, em 1857.
Nome inicial: Decadentismo.

Bases Filosóficas

Kiekegaard – o homem passa por três estágios em sua existência – estético (presença do novo), ético (gravidade e
responsabilidade da vida) e religioso (relação com Deus). Bergson – não é a inteligência que chega a compreender
a vida. É a intuição.

Em Portugal, o Simbolismo tem início em 1890, com o livro de poemas de Eugênio de Castro, Oaristos, e com
revistas acadêmicas, Os Insubmissos e Boêmia Nova, cujos colaboradores eram Eugênio de Castro e Antônio
Nobre.

Características

Os autores voltam-se à realidade subjetiva, às manifestações metafísicas e espirituais, abandonadas desde o


Romantismo. Buscavam a essência do ser humano, a alma; a oposição entre matéria e espírito, a purificação do
espírito, a valorização do inconsciente e do subconsciente.

Musicalidade: música, a mais importante de todas as artes. “A música antes de tudo.” Aliterações, assonâncias,
onomatopéias, sinestesias

Linguagem vaga, imprecisa, sugestiva: não mostrava as coisas, apenas as sugeria.

Negação do materialismo: reação ao materialismo e ao cientificismo realistas. Retorno à mentalidade mística:


comunhão com o cosmo, astros. Esoterismo.

Maiúsculas alegorizantes: personificação.

Mergulho no eu profundo: nefelibatas – habitantes das nuvens.

Características da linguagem simbolista

1. As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:

2. Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear.

3. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos;

4. Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias;

5. Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior;

6. Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo;

7. Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior;

8. Pessimismo, dor de existir;

9. Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito;

10. Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o
crepúsculo; Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o
subconsciente) e pela loucura.
Observação: Na concepção simbolista o louco era um ser completamente livre por não obedecer às regras.
Teoricamente o poeta simbolista é o ser feliz.

Resumo das características do Simbolismo

Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e
desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.

Essa maior ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior,
individualismo.

Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea: valorização máxima do cosmos, do


misticismo, negação à Terra.

Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...)
para expressar a idéia de liberdade.

Conhecimento intuitivo e não-lógico. Ênfase na imaginação e na fantasia. Desprezo à natureza: as concepções


voltam-se ao místico e sobrenatural.

Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa. Preferência por momentos incomuns:
amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.

Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua
sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.

Autores e obras

Eugênio de Castro e Almeida (1869-1944): a sua obra pode ser dividida em duas fases: simbolista e neoclássica. A
simboliza corresponde aos poemas escritos já no século XX.

Novas rimas, novas métricas, aliterações, versos alexandrinos, vocabulário mais rico, ele expõe no prefácio –
manifesto de Oaristos. Na fase neoclássica apresenta temas voltados à antigüidade clássica e ao passado
português (profundamente saudosista).

Antônio Nobre (1867-1900)

Ingressou na carreira diplomática, morrendo de tuberculose aos 33 anos. Estudou em Paris.

Obras: Só (Paris, 1892), Despedidas (1902), Primeiros versos (1921), Correspondência.

É simbolista, mas não tem seus cacoetes. Considerado como nacionalista e romântico retardatário.

Antônio Pereira Nobre exaltou a vida provinciana do norte de Portugal, por influência de Garrett e de Júlio Dinis.

A sua poesia manifesta rica musicalidade rítmica e linguagem com um falar cotidiano e coloquial, além do
pessimismo.

Camilo Pessanha (1867-1926)

É considerado o mais simbolista dos poetas da época.

Autor de apenas um livro

Clepsidra, influenciou a geração de Orpheu, que iniciou o Modernismo em Portugal.. Passou grande parte da vida
em Macau (China), tornando-se tradutor da poesia chinesa para o português.
Autor considerado de difícil leitura, pois trabalha bem a linguagem. No seu livro predomina o estranhamento entre o
eu e o corpo; o eu e a existência e o mundo.

Em sua obra, Clepsidra, Camilo Pessanha distancia-se de uma situação concreta e pessoal, e sua poesia é pura
abstração.

Teixeira de Pascoaes (1877-1952)

É o pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos. Deixou obras de cunho filosófico e biografias. De
seus livros de poesias citam-se Maranos, Regresso ao Paraíso, Sempre, Terra Proibida, Elegias.

Florbela Espanca (1894-1930)

Embora não pertença propriamente ao período áureo do Simbolismo, possui idéias simbolistas. É considerada uma
das mais perfeitas sonetistas da língua portuguesa. Suas obras: Juvenília, Livro de Mágoas, Livro de Sóror
Saudade, Relíquias e Chameca em Flor.

Raul Brandão (1867-1930)

Literatura forte e dramática. A sua melhor produção está na prosa de ficção: A Morte do Palhaço e o Mistério da
Árvore, A Farsa, Os Pobres, Húmus, O Pobre de Pedir.

Cronologia do Simbolismo em Portugal

Período: século XIX e XX


Início: 1890 - Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro.
Fim: 1915 - Surgimento da Revista Orpheu, inaugurando o Modernismo.
Fato histórico importante: em 1910 o movimento republicano, apoiado pela Inglaterra, é vitorioso.

Soneto

Antônio Nobre

Ó Virgens que passais, ao Sol-poente,

Pelas estradas ermas, a cantar!

Eu quero ouvir uma canção ardente,

Que me transporte ao meu perdido Lar.

Cantai, nessa voz onipotente,

O Sol que tomba, aureolando o Mar,

A fartura da seara reluzente,

O vinho, a Graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!

Das ruínas do meu Lar desterrai

Todas aquelas ilusões antigas


Que eu vi morrer num sonho, como um ai,

Ó suaves e frescas raparigas,

Adormecei-me nessa voz... Cantai!

Interrogação

Camilo Pessanha

Não sei se isto é amor. Procuro teu olhar,

Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;

E apesar disso, crê! nunca pensei num lar

Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.

E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.

Nem depois de acordar te procurei no leito

Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo

A tua cor sadia, o teu sorriso terno...

Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso

Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio

Da luz crespuscular, que enerva, que provoca.

Eu não demoro a olhar na curva do teu seio

Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...

Eu não sei que mudança a minha alma pressente....

Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,

Que adoecia talvez de te saber doente.


Ao longe os barcos de flores

Camilo Pessanha

Só, incessante, um som de flauta chora,

Viúva, grácil, na escuridão tranqüila,

- Perdida voz que de entre as mais se exila,

- Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila

E os lábios, branca, do carmim desflora....

Só, incessante, um som de flauta chora,

Viúva, grácil, na escuridão tranqüila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,

Cauta, detém. Só modulada trila

A flauta flébil... Quem há-de remi-la?

Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Vocabulário

grácil: delgado, delicado, fino


festão: ramalhete de flores e folhagens, grinalda;
cauta: acautelada, com cautela.
remir: recuperar, resgatar.

Simbolismo brasileiro

Ínicio:1893
Publicação das obras MISSAL E BROQUÉIS, de Cruz e Sousa

Fim: 1902

Publicação da obra OS SERTÕES, de Euclides da Cunha

CONTEXTO HISTÓRICO
O fim do século XIX foi profundamente marcado pelo avanço científico e a corrida desenfreada do capitalismo
industrial em busca da tecnologia e matéria-prima. Era também a busca de novas tendências e caminhos, apesar de
haver um certo pessimismo com relação ao século vindouro, e o Brasil passou por mudanças expressivas dentro de
sua estrutura política, econômica e social. A abolição da escravatura (1888) não assegurou o direito de igualdade e
civilidade aos negros, acentuando o problema da miséria no país. Revoltas como a "A guerra de Canudos" e a
"Revolta da Armada" refletiam o descontentamento com as condições sociais vigentes.

O império decadente deu lugar a uma república (1889) que favorecia diretamente o sudeste do Brasil, com a política
do "café-com-leite" (domínio alternado de presidentes mineiros e paulistas). As cidades, com seus centros culturais
e comerciais aos moldes da Europa (principalmente de Paris), se preocupavam com o inchaço de suas periferias,
onde estava a miséria dos negros livres e das massas de imigrantes, provenientes principalmente da Europa e
Japão, e que surgiram para mudar o perfil do povo brasileiro, principalmente no sul do país. A industrialização, ainda
em estado fetal, e a cultura à moda francesa da elite contrastavam com uma nação tipicamente rural e analfabeta
que enfrentava os horrores das pestes e epidemias como a febre amarela, dizimando milhares de pessoas.

CARACTERÍSTICAS

O Simbolismo surge no final do século XIX como movimento de retomada de alguns ideais do Romantismo, bem
como de oposição ao Parnasianismo, Naturalismo correntes literárias apreciadas pela elite social. Apesar disso,
conserva algumas peculiaridades parnasianas, como a estrutura dos versos, o vasto uso do soneto, e a
preciosidade no vocabulário. Sua poesia, no entanto, vai mais além. Há a constante busca de uma linguagem mais
rica, repleta de novas palavras, com o emprego de novos ritmos que associem de forma harmoniosa a poesia à
música, explorando muito o uso da sinestesia, das aliterações, ecos e assonâncias.

O poeta simbolista não quer somente cantar e evocar suas emoções. Ele quer trazê-las de uma forma mais palpável
para o texto, para que possam ser sentidas em sua plenitude. Por isso, o uso da sinestesia, isto é, a associação de
impressões sensoriais distintas, é amplo. Há também a forte ligação com as cores, ressaltando as sensações que
provocam no espírito humano. A cor branca é sempre a mais presente e já sugere, entre outras coisas, a pureza, ou
o opaco, indiciando a presença de neblina ou nuvem e tornando as imagens poéticas mais obscuras.

Obscuridade, aliás, é uma forte característica simbolista: a realidade é revelada de uma forma imprecisa e vaga.
Não há a preocupação de nomear os objetos, e sim evocá-los, sugeri-los. É o emprego do símbolo, que liga o
abstrato ao concreto, o material ao irreal. Servindo como ponte entre o homem e as coisas, o símbolo preserva o
domínio da intuição sobre a razão, bem como a exaltação das forças espirituais e místicas que regem o universo,
contrária ao Cientificismo, ao Positivismo e ao materialismo naturalista e parnasiano. É o culto ao sonho, ao
desconhecido, à fantasia e à imaginação, numa busca pela essência do ser humano, com todos os seus mistérios,
seu dualismo (espírito e matéria) e seu destino frente à vida e à morte.

A poesia, então, ganha o tom subjetivista que a aproxima muito do movimento romântico, disposto a explorar e
sentir tudo o que há entre a alma e a carne, entre o céu e a terra. O poeta se entrega muitas vezes ao seu
inconsciente e ao subconsciente para estar mais próximo dos segredos que ligam o homem a Deus. Esse caminho,
por vezes alucinado, leva ao isolamento, à solidão, à loucura e à alienação, evidenciando um clima mais pessimista,
mórbido e algumas vezes satânico. Rompendo com a linearidade do texto, dando voz ao fluxo da consciência e
trabalhando de forma mais desarticulada a palavra e seu significado, o Simbolismo antecipa características que
seriam marcantes dentro do Modernismo.

No Brasil, o movimento simbolista não alcançou o êxito obtido na Europa, devido ao forte predomínio das tendências
parnasianas em nossa literatura. Entre os poetas simbolistas, destacam-se as obras de Cruz e Sousa autor de
nossa primeira obra simbolista Missal e Broquéis e Alphonsus de Guimaraens, o mais místico de nosso poetas.

Cruz e Sousa
(1861-1898)

DADOS BIOGRÁFICOS

João da Cruz e Sousa nasceu em 1861 na cidade catarinense de Nossa Senhora do Desterro. Filho de escravos
alforriados, desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o Marechal Guilherme
Xavier d e Sousa.
Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu matemática
e ciências naturais. Em 1881, dirigiu o jornal "Tribuna Popular", onde já transpareciam suas idéias abolicionistas. Em
1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro, o que lhe causou profunda insatisfação e lhe acentuou
os ideais de abolicionismo. Foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Estrada de Ferro Central do Brasil,
colaborando também com o jornal "Folha Popular", onde entrou em contanto com as tendências simbolistas e
escreveu suas obras mais expressivas. Casado com Gavita Gonçalves no ano de 1893, foi pai de quatro filhos, mas
a tragédia não estava apenas reservada no preconceito racial que sofria: teve os quatro filhos mortos por
tuberculose e a mulher enlouquecida. Profundamente magoado e tuberculoso, foi para a cidade de Sítio (Minas
Gerais) em busca de um clima mais saudável. Lá morreu em 1898. Sua obra só seria realmente reconhecida algum
tempo depois, consagrando-o como um dos maiores poetas do Simbolismo.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

A poesia de Cruz e Sousa mantém a estrutura formal típica do Parnasianismo (uso de sonetos, rimas ricas, etc.),
mas em um tom mais musical, rítmico, com uma variedade de efeitos sonoros, uma riqueza de vocabulários, e um
precioso jogo de correspondências (sinestesias) e contrastes (antíteses). Transparece a preocupação social, onde a
dor do homem negro (fruto de suas próprias experiências de preconceito) funde-se à dor universal humana,
conferindo à sua obra um tom filosófico que reflete a angústia, o pessimismo e o tédio. A solução é sempre a fuga, a
preferência pelo místico, a busca pelo mundo espiritual que o consola. É o eterno conflito entre o real e o irreal
dentro do universo humano, os mistérios de Deus e do homem, da vida e da morte que convivem com o amor, o
misticismo, e os desejos. O resultado é sempre o sofrimento do ser, muitas vezes personificado pela dor do
preconceito (o que leva aos ideais abolicionistas dentro de sua obra). Em contraste com a cor negra, está o uso de
um vasto vocabulário relacionado à cor branca: neve, espuma, pérola, nuvem, brilhante, etc. Isso reflete sua
obsessão, tipicamente simbolista, pela imprecisão, pelo vago, a pureza e o mistério. Sua obra ainda é vastamente
tomada pela sensualidade, pela busca da auto-afirmação e pela subjetividade (indicada no uso constante da
primeira pessoa), pelo culto à noite, pela busca do símbolo e do mistério da existência, através de uma imagem
obscura, sugerida e distorcida. É considerado por muitos como um dos maiores poetas simbolistas do mundo, com
uma qualidade literária muito próxima a dos melhores poetas simbolistas franceses, como Mallarmé.

PRINCIPAIS OBRAS

Poesia

Broquéis (1893); Faróis (1900); Últimos Sonetos (1905); O livro Derradeiro (1961).

Poemas em Prosa

Tropos e Fanfarras (1885), em conjunto com Virgílio Várzea; Missal (1893); Evocações (1898); Outras Evocações
(1961); Dispersos (1961).

Antologia de Cruz e Sousa

VIOLÕES QUE CHORAM...

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,

Soluços ao luar, choros ao vento...

Tristes perfis, os mais vagos contornos,

Bocas murmurejantes de lamento.


Noites de além, remotas, que eu recordo,

Noites da solidão, noites remotas

Que nos azuis da Fantasia bordo,

Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,

Anseio dos momentos mais saudosos,

Quando lá choram na deserta rua

As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,

Quando os sons dos violões nas cordas gemem,

E vão dilacerando e deliciando,

Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,

Dedos nervosos e ágeis que percorrem

Cordas e um mundo de dolências geram

Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,

Mágoas amargas e melancolias,

No sussurro monótono das águas,

Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa

E vibra e se contorce no ar, convulso...

Tudo na noite, tudo clama e voa

Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos


São ilhas de degredo atroz, funéreo,

Para onde vão, fatigadas do sonho,

Almas que se abismaram no mistério.

Sons perdidos, nostálgicos, secretos,

Finas, diluídas, vaporosas brumas,

Longo desolamento dos inquietos

Navios a vagar à flor de espumas.

Oh! languidez, languidez infinita,

Nebulosas de sons e de queixumes,

Vibrado coração de ânsia esquisita

E de gritos felinos de ciúmes!

Que encantos acres nos vadios rotos

Quando em toscos violões, por lentas horas

Vibram, com a graça virgem dos garotos,

Um concerto de lágrimas sonoras!

Quando uma voz, em trêmulos, incerta,

Palpitando no espaço, ondula, ondeia,

E o canto sobe para a flor deserta,

Soturna e singular da lua cheia.

Quando as estrelas mágicas florescem,

E no silêncio astral da Imensidade

Por lagos encantados adormecem

As pálidas ninféias da Saudade!

Como me embala toda essa pungência,

Essas lacerações como me embalam,

Como abrem asas brancas de clemência

As harmonias dos violões que falam!

Que graça ideal, amargamente triste,

Nos lânguidos bordões plangendo passa.


Quanta melancolia de anjo existe

Nas visões melodiosas dessa graça...

Que céu, que inferno, que profundo inferno,

Que ouros, que azuis, que lágrimas, que risos,

Quanto magoado sentimento eterno

Nesses ritmos trêmulos e indecisos...

Que anelos sexuais de monjas belas

Nas ciliciadas carnes tentadoras,

Vagando no recôndito das celas,

Por entre as ânsias dilaceradoras...

Quanta plebéia castidade obscura

Vegetando e morrendo sobre a lama,

Proliferando sobre a lama impura,

Como em perpétuos turbilhões de chama,

Que procissão sinistra de caveiras,

De espetros, pelas sombras mortas, mudas...

Que montanhas de dor, que cordilheiras

De agonias aspérrimas e agudas.

Véus neblinosos, longos, véus de viúvas

Enclausuradas nos ferais desterros,

Errando aos sóis, aos vendavais e às chuvas,

Sob abóbadas lúgubres de enterros:

Velhinhas quedas e velhinhos quedos,

Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,

Sepulcros vivos de senis segredos,

Eternamente a caminhar sozinhos;

E na expressão de quem se vai sorrindo,

Com as mãos bem juntas e com os pés bem juntos

E um lenço preto o queixo comprimindo,


Passam todos os lívidos defuntos...

E como que há histéricos espasmos

Na mão que esses violões agita, largos...

E o som sombrio é feito de sarcasmos

E de sonambulismos e letargos.

Fantasmas de galés de anos profundos

Na prisão celular atormentados,

Sentindo nos violões os velhos mundos

Da lembrança fiel de áureos passados;

Meigos perfis de tísicos dolentes

Que eu vi dentre os violões errar gemendo,

Prostituídos de outrora, nas serpentes

Dos vícios infernais desfalecendo;

Tipos intonsos, esgrouviados, tortos,

Das luas tardas sob o beijo níveo,

Para os enterros dos seus sonhos mortos

Nas queixas dos violões buscando alívio;

Corpos frágeis, quebrados, doloridos,

Frouxos, dormentes, adormidos, langues,

Na degenerescência dos vencidos

De toda a geração, todos os sangues;

Marinheiros que o mar tornou mais fortes,

Como que feitos de um poder extremo

Para vencer a convulsão das mortes,

Dos temporais o temporal supremo;

Veteranos de todas as campanhas,

Enrugados por fundas cicatrizes,

Procuram nos violões horas estranhas,

Vagos aromas, cândidos, felizes.


Ébrios antigos, vagabundos velhos,

Torvos despojos da miséria humana,

Têm nos violões secretos Evangelhos,

Toda a Bíblia fatal da dor insana.

Enxovalhados, tábidos palhaços

De carapuças, máscaras e gestos

Lentos e lassos, lúbricos, devassos,

Lembrando a florescência dos incestos;

Todas as ironias suspirantes

Que ondulam no ridículo das vidas,

Caricaturas tétricas e errantes

Dos malditos, dos réus, dos suicidas;

Toda essa labiríntica nevrose

Das virgens nos românticos enleios,

Os ocasos do Amor, toda a clorose

Que ocultamente lhes lacera os seios;

Toda a mórbida música plebéia

De requebros de fauno e ondas lascivas;

A langue, mole e morna melopéia

Das valsas alanceadas, convulsivas;

Tudo isso, num grotesco desconforme,

Em ais de dor, em contorções de açoites,

Revive nos violões, acorda e dorme

Através do luar das meias-noites!

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