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Funcionalismo

Aluna: Amanda Brito de Medeiros Farias


Fichamento tradicional:
FURTADO DA CUNHA, Maria angélica; COSTA, Marcos Antônio Costa; CEZÁRIO, Maria Maura. Pressupostos teóricos fundamentais. In:
FURTADO DA CUNHA, Maria angélica; OLIVEIRA, Mariangela Rios de; MARTELOTTA, Mário Eduardo. (orgs.) Linguística funcional:
teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, p. 29-55, 2003.
Página/ CITAÇÃO
Parágrafo
29-30/2ºe 0º “Em linguística, iconicidade é definida como a correlação natural entre forma e função, entre o código linguístico
(expressão) e seu designatum (conteúdo). Os lingüistas funcionais defendem a idéia de que a estrutura da língua
reflete, de algum modo a estrutura da experiência. Como a linguagem é uma faculdade humana, a suposição geral é
que a estrutura linguística revela as propriedades da mente humana”.

30/3º “O filósofo Peirce (1940) discorda parcialmente da ideia de total arbitrariedade, recuperando, em certa medida, a
posição adotada pelos antigos naturalistas e conjugando-a à postura dos convencionalistas. Segundo ele, a sintaxe
das línguas naturais não é totalmente arbitrária, e sim isomórfica ao seu designatum mental. No entanto, esse
isomorfismo da sintaxe, ou correlação transparente entre forma e função, não é absoluto, e sim moderado. Na
codificação sintática, princípios icônicos (cognitivamente motivados) interagem com princípios mais simbólicos
(cognitivamente arbitrários), que respondem pelas regras convencionais.”

31/1º “Peirce estabeleceu dois tipos de iconicidade: a imagética e a diagramática. A primeira diz respeito à estreita relação
entre um item e seu referente, no sentido de um espelhar a imagem do outro (ex. pinturas, estátuas); já a segunda
refere-se a um arranjo icônico de signos, sem necessária intersemelhança. Ambos os tipos de relação icônica têm
interessado pesquisadores de orientação funcionalista.”
32/2º, 3º e 4º. “Segundo o subprincípio da quantidade, quanto maior a quantidade de informação, maior a quantidade de forma, de
tal modo que a estrutura de uma construção gramatical indica a estrutura do conceito que ela expressa. [...] O
subprincípio de integração prevê que conteúdos que estão mais próximos cognitivamente também estarão mais
integrados no nível da codificação [...]. O subprincípio da ordenação linear diz que a informação mais importante
tende a ocupar o primeiro lugar da cadeia sintática, de modo que a ordem dos elementos no enunciado revela a sua
ordem de importância para o falante.”
33/1º “No discurso falado, a pronúncia do não tônico que precede o verbo freqüentemente se reduz para num átono, ou até
mesmo para uma simples nasalização. Para reforçar a idéia de negação, o falante utiliza um segundo não no fim da
oração, como uma estratégia para suprir o enfraquecimento fonético do não pré-verbal e o conseqüente
esvaziamento do seu conteúdo semântico. Assim, o acréscimo do segundo não tem motivação icônica: quanto mais
imprevisível se torna a informação, mais codificação ela recebe.”
34/2º “O princípio da marcação, herdado da linguística estrutural desenvolvida pela escola de Praga, estabelece três
critérios principais para a distinção entre categorias não- marcadas, em um contraste binário:
a) complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa ( ou maior) que a estrutura não
marcada correspondente;
b) a distribuição de frequência: a estrutura marcada tende a ser menos freqüente do que a estrutura não-marcada
correspondente;
c) complexidade cognitiva: a estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do que a estrutura
não-marcada correspondente. Incluem-se, aqui, fatores como esforço mental, demanda de atenção e tempo de
processamento”.
34/4º “Givón (1995) admite que uma mesma estrutura possa ser marcada num contexto e não-marcada em outro, e
acrescenta que, desse modo, a marcação é um fenômeno dependente do contexto, devendo, portanto, ser explicada
com base em fatores comunicativos, socioculturais, cognitivos ou biológicos. Cita, como exemplo, que a tendência
para a colocação do agente como sujeito e tópico da oração transitiva, que representa o caso não-marcado,
provavelmente reflete uma norma cultural de se falar egocentricamente mais acerca de seres humanos volitivos do
que sobre objetos inanimados.”
35/1º “Outra observação importante feita por Givón é que a marcação não se restringe apenas às categorias lingüísticas,
mas pode estender-se a outros fenômenos, tais como a distinção entre o discurso formal e a conversação espontânea.
Por tratar de assuntos mais abstratos e complexos, o discurso formal é mais marcado em relação à conversação
informal, que é cognitivamente processada com mais rapidez e facilidade, por referir-se, em geral, a assuntos
comuns e fisicamente perceptíveis do cotidiano social.”
36/0º “Dado o caráter fluido e criativo da língua, é necessário adotar parâmetros de gradualidade na análise da marcação,
em vez de considerar as categorias lingüísticas em termos discretos ou binários”.

37/1º “Para a gramática tradicional, transitividade refere-se à transferência de uma atividade de um agente para um
paciente. É, portanto, uma propriedade dos verbos, classificados como transitivos, quando acompanhados de objeto
direto ou indireto, ou intransitivos quando não complemento. Segundo a formulação de Hopper e Thompson, a
transitividade é concebida como uma noção contínua, escalar. Trata-se de um complexo de dez parâmetros sintático-
semânticos independentes, que focalizam diferentes ângulos da transferência da ação em uma porção diferente da
sentença”.
38/1º “Pela classificação da Gramática Tradicional, as três primeiras sentenças são transitivas, pois apresentam um objeto
como complemento do verbo. Segundo a formulação de Hopper & Thompson, (9a) é a que ocupa lugar mais alto na
escala de transitividade, uma vez que contém todos os dez traços do complexo: dois participantes (Batman e
Pingüim); verbo de ação (derrubou); aspecto perfectivo (verbo no passado); verbo punctual (ação completa); sujeito
intencional; oração afirmativa; oração realis (modo indicativo); sujeito agente (Batman); objeto afetado e
individuado (Pingüim – referencial, humano, próprio, singular)”.
39/1º “O modo como o falante organiza seu texto é determinado, em parte, pelos seus objetivos comunicativos e, em
parte, pela sua percepção das necessidades do seu interlocutor. Nesse sentido, o texto apresenta uma distinção entre
o que é central e o que é periférico. [...] Em termos de estrutura de texto, ou de planos discursivos, a divisão entre
central e periférico corresponde à distinção entre figura e fundo. [...] orações com alta transitividade assinalam
porções centrais do texto, correspondentes á figura, enquanto orações com baixa transitividade marcam as porções
periféricas, correspondentes ao fundo”.
40/2º “O fundamento cognitivo para plano discursivo, com suas dimensões originais de figura e fundo, provém da
psicologia gestaltista: identificamos mais prontamente as entidades que se apresentam em primeiro plano, como
figuras bem recortadas e focalizadas, em oposição a tudo o mais, que passa a ser percebido contrastivamente como
em plano de fundo.”
41/1º “Extrapolando o domínio da narrativa, Martelotta (1998) testa a possibilidade de aplicação dos parâmetros da
transitividade em outros tipos de gênero textual, demonstrando que as noções de figura e fundo também podem ser
extremamente úteis na análise de descrições, relatos de procedimento ou relatos de opinião. Mostra que um tipo de
texto pode servir de fundo a outro tipo textual. Um trecho narrativo, por exemplo, dentro de um contexto maior não-
narrativo, pode servir de fundo, pois, neste caso, está em posição secundária em relação ao foco central do texto. Em
situações como essas, a seqüência narrativa que se acha em segundo plano pode apresentar-se, ao mesmo tempo,
como figura em relação à outra não-narrativa de nível mais inferior.”
42/2º Atualmente não se trabalha mais com a concepção dicotômica de figura e fundo. Algumas pesquisas (TOMLIN,
1987; SILVEIRA, 1991) mostraram a necessidade de redefinir a categoria plano discursivo, não mais em termos
binários, e sim como um continuum, cujos os pólos seriam a superfigura, do lado mais saliente ou relevante, e
superfundo, do lado mais difuso ou mais vago.
43/2º “A informatividade manifesta-se em todos os níveis da codificação linguística e diz respeito ao que interlocutores
compartilham, ou supõem que compartilham, na interação. Do ponto de vista cognitivo, uma pessoa comunica-se
para informar o interlocutor sobre alguma coisa, que pode ser algo do mundo externo, do seu próprio mundo
interior, ou algum tipo de manipulação que pretende exercer sobre esse interlocutor. Tradicionalmente, a parte da
cláusula que apresenta a informação velha é denominada tema, enquanto a parte que apresenta a informação nova é
denominada rema”.
44/1º “O primeiro esforço no sentido de formular um modelo de discurso em que o grau de conhecimento compartilhado
desempenha um papel essencial se deve a Prince (1981). O domínio que tem registrado mais avanço refere-se à
codificação da informação nos referentes nominais. Mesmo aqui, as tipologias de status informacional são ainda
muito incompletas e as escalas propostas como refinamento da dicotomia clássica entre informação velha e
informação nova não cobrem todos os casos e se concentram exclusivamente nos nomes”.
44/3º “O tema informatividade é tratado na lingüística funcionalista principalmente a partir da classificação semântica e
da codificação de referentes no discurso, demonstrando que a forma como um referente é apresentado no discurso é
determinada por fatores de ordem semântico-pragmática. Segundo Lyons (1981), a referência é a relação que se
estabelece entre expressões lingüísticas e o que elas representam no mundo ou no universo discursivo”.
46/2º “Prince (1981, p. 235) classifica os referentes (ou entidades) do discurso a partir da noção de conhecimento
compartilhado, que é assim descrito: ‘ O falante assume que o ouvinte conhece, admite ou pode inferir algo
particular (sem estar necessariamente pensando nisso)’. Organiza as entidades em três grupos: novas, evocadas e
inferíveis.”
47/1º “Um referente denomina-se inferível quando é identificado através de um processo de inferência (exemplos 23 e 24)
a partir de outras informações dadas. As entidades inferíveis podem estar contidas em outras que já fazem parte do
modelo de discurso, como evocadas ou mesmo inferíveis.”
48/2º “Görski concluiu que, numa narrativa, os personagens principais geralmente são codificados através de pronomes ou
de anáfora zero, enquanto os secundários são identificados por SN pleno, como no exemplo (34) em que o
personagem principal é o amigo do marido e o personagem secundário é o médico. Os referentes humanos, na
função de sujeito, são geralmente codificados por anáfora zero (exemplos 21 e 30), enquanto os referentes não-
humanos são freqüentemente representados por SN plenos, mesmo quando evocados.”
49/5º e 50/0º “Entre os lingüistas, o debate sobre a origem e o desenvolvimento das categorias gramaticais não é recente. No
século XIX, por exemplo, acompanhando a orientação diacrônica e comparada do período, encontramos importantes
estudos nessa área. Dentro do quadro da lingüística funcional, a gramaticalização e a discursivização são
fenômenos associados aos processos de regularização do uso da língua.”
50/1º “O termo discurso está relacionado às estratégias criativas utilizadas pelo falante para organizar funcionalmente seu
texto para um determinado ouvinte em uma determinada situação comunicativa. Por um lado, o discurso é tomado
como o ponto de partida para a gramática; por outro lado, é também seu ponto de chegada. Quando algum fenômeno
discursivo, em decorrência da freqüência de uso, passa a ocorrer de forma previsível e estável, sai do discurso para
entrar na gramática. No mesmo sentido, quando determinado fenômeno que estava na gramática passa a ter
comportamentos não previsíveis, em termos de regras selecionais, podemos dizer que sai da gramática e retorna ao
discurso”.
51/2º “O termo gramaticalização, portanto, é tomado em dois sentidos relacionados: a gramaticalização stricto sensu se
ocupa da mudança que atinge as formas que migram do léxico para a gramática; a gramaticalização lato sensu busca
explicar as mudanças que se dão no interior da própria gramática, compreendendo aí os processos sintáticos e/ou
discursivos de fixação da ordem vocabular.”
52/2º e 53/0º “Costa (1995) trabalha com a hipótese de o português estar sofrendo um processo de discursivização no sentido de
que a categoria sintática sujeito estaria retornando da gramática ao discurso, na forma de tópico. Essa hipótese se
fundamenta no pressuposto de que a categoria sujeito emerge a partir da categoria tópico. Para Givón (1979), a
linguagem humana teria evoluído do modo pragmático para o sintático e, por isso mesmo, a sintaxe teria evoluído a
partir do discurso. A trajetória tópico > sujeito > tópico nos remete ao caráter cíclico da trajetória lingüística
sugerida por Givón (1979), que toma como marco de partida o discurso, passa pela sintaxe, pela morfologia, pela
morfofonologia até retornar ao discurso, completando o círculo.”
54/1º “O caráter cíclico da evolução lingüística é postulado por Givón (1979), que formula o seguinte esquema processual
para representar os processos diacrônicos de regularização do uso da língua, desde o ponto mais imprevisível até a
fase terminal: discurso > sintaxe > morfologia > morfofonologia > zero.”
54/2º “Alguns teóricos funcionalistas propõem que, semanticamente, a trajetória de gramaticalização se manifesta na
passagem do concreto para o abstrato. Entidades abstratas emergem da experiência humana com o mundo concreto.
Traugott e Heine (1991), por exemplo, propõem a seguinte escala para representar o processo de abstratização
gradativa no percurso de gramaticalização dos elementos lingüísticos: espaço > (tempo) > texto.”
55/1º “O segundo desdobramento dessa escala diz respeito à abstratização progressiva de significado de um dado
elemento lingüístico sem que haja, necessariamente, mudança de categoria gramatical.”

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