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Depto. de Linguística. Programa de Pós-graduação em Linguística – UFRJ.
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Doutor em Linguística/UFRJ. Prof. Adjunto – Depto. de Linguística/UFRJ. Programa de Pós-
graduação em Linguística.
Revista Investigações Vol. 28, nº 2, Julho/2015
Introdução
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Para um maior detalhamento dessas propostas, ver Richards (1936) e Black (1965).
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Lilian Vieira Ferrari e Diogo Ramires Pinheiro
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Reddy (1979) chama atenção para o fato de que, na verdade, o que colocamos no papel é grafite ou
tinta de caneta, não ideias. Da mesma forma, não há como passar ideias ou emitir palavras ocas. O
que fazemos é produzir cadeias sonoras que chegam ao ouvido de nossos interlocutores e são
processadas mais detalhadamente no cérebro, de forma bem mais complexa e abstrata do que a
metáfora nos leva a crer.
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Fenômeno semelhante ocorre com a conceptualização metafórica do TEMPO, por exemplo. Embora
a metáfora TEMPO É ESPAÇO seja bastante produtiva em português e em várias outras línguas (ex.
Ele chegou em cima da hora), encontra-se também a metáforas TEMPO É DINHEIRO (ex. Não vou
gastar meu tempo com isso), intimamente relacionada às metáforas TEMPO É UM RECURSO
LIMITADO (ex. Não tenho tempo suficiente) e TEMPO É UM BEM VALIOSO (ex. Obrigada pelo tempo
dedicado ao projeto).
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A noção de construal tem sido reconhecida como fundamental para tratar do significado das
expressões linguísticas, na medida em que as línguas fornecem vários modos de categorizar as
diferentes situações. Como ilustrou Langacker (1991, p.61), a distribuição de um grupo de estrelas
pode ser descrita por um falante através de expressões semanticamente distintas: constelação,
conjunto de estrelas, pontos de luz no céu, etc. Essas expressões refletem construals alternativos da
cena; cada um deles compatível com as propriedades objetivas observadas. No que se refere às
metáforas, o construal envolve o ponto de vista do falante no estabelecimento da correspondência
entre domínios, influenciando não apenas a escolha do domínio-fonte como também a seleção de
elementos e inferências que serão projetados.
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DOADOR FALANTE
OBJETO IDEIA/SIGNIFICADO
RECIPIENTE PALAVRAS
ENVIAR COMUNICAR
RECEPTOR OUVINTE
DOMÍNIO-FONTE DOMÍNIO-ALVO
TRANSFERÊNCIA DE OBJETOS COMUNICAÇÃO VERBAL
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Fauconnier & Turner (2002, p. 119-135) apresentam, ainda, a rede simplex e a rede em espelho. A
descrição desses tipos de rede foge ao escopo do presente trabalho, já que as metáforas aqui
analisadas organizam-se, principalmente, em termos de redes de escopo único. A rede de escopo duplo
também foi observada, como será apontado na seção “O discurso como ação sobre tecido em rede
de duplo escopo”.
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Competição
entre
oponentes
Boxeador1 Executivo1
Boxeador2 Executivo2
Boxeador1 Executivo1
nocauteia o vence o outro
outro
Exec1 / Box1
Boxe Negócios
Exec2 / Box2
Exec1
nocauteia Ex2
Executivo-boxeador
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O exemplo é adaptado de Fauconnier e Turner (2002, p. 131). Os autores discutem a sentença He
digested the book, cuja tradução literal seria “Ele digeriu o livro”. A mudança para “Ele devorou o
livro” na adaptação do exemplo deve-se ao fato de que o verbo “devorar” é mais idiomático em
português nesse contexto.
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Em inglês, “to dig one’s own grave”
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As expressões listadas no quadro apresentam graus variados de idiomaticidade. Por exemplo,
alinhavar uma proposta, costurar um acordo e tecer um comentário instanciam o esquema genérico [V
+ SN], em que se tem um verbo que ativa o frame de ‘costurar’ e um objeto direto referente a
produções linguísticas específicas. Exemplos com outros tipos de produções linguísticas também
podem ser instanciados (ex. alinhavar um acordo, costurar um texto, tecer uma crítica). Já as
expressões rasgar o verbo e cortar a palavra são mais cristalizadas, e não admitem outras
instanciações (*rasgar a palavra, *cortar o verbo). O detalhamento dessas diferenças, entretanto,
foge ao escopo do presente trabalho.
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http://www.linguateca.pt
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http://www.linguateca.pt/cetenfolha/
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A representação dos exemplos (8) e (9) seria similar, com modificação apenas do tipo de produto
linguístico que aparecerá na mescla.
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produtor
ação
produto
agente falante
ação(tecer) ação verbal
produto produto
têxtil linguístico
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No estabelecimento da teoria dos espaços mentais, Fauconnier (1994, 1997) retoma a noção de
função pragmática, proposta por Nunberg (1978, 1979), para o tratamento da referência . De acordo
com essa noção, se dois objetos de naturezas diferentes puderem ser relacionados por razões
psicológicas, culturais ou localmente pragmáticas, o falante poderá se referir ao objeto ‘a’ para
identificar o objeto ‘b’. Por exemplo, podemos nos referir a Salvador Dalí para identificar uma obra
do artista (‘Aquele Salvador Dalí é maravilhoso’).
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Embora não tenham sido encontrados exemplos de tricotar com o sentido mais especifico de
fofocar no corpus NILC/São Carlos, esse uso também ocorre no português brasileiro, como ilustra o
seguinte exemplo encontrado através do Google: “A mulherada está com a língua afiada no Big
Brother Brasil 14. Ontem, sisters ficaram tricotando sobre o ator Cauã
Reymond.” (http://www.agenciaodia.ig.com.br/cultura-e-variedades/2014-02-04/Mulherada-
tricotando-0502Sisters-soltam-a-lngua-contra-o-ator-Cau-Reymond-no-Big-Brother-BrasilREALITY-
SHOW-DA-GLOBO-A-mu-1037742)
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indivíduo
ação
objeto
agente falante
alfinetar ação verbal
tecido objeto da
crítica
tecido/tópico
ESTRUTURA EMERGENTE:
Ação verbal negativa em relação ao
tópico (criticar algo ou alguém)
Figura 5 – Mesclagem conceptual referente a ‘alfinetar’.
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O verbo tesourar é polissêmico, e pode apresentar o significado de cortar (‘Ela tesourou seus
cabelos’), além de significados metafóricos como retirar (‘O governo cortou a verba destinada aos
estudantes’) e cortar a palavra ‘Ele tesourou o entrevistado alegando falta de tempo’)
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Acessado em https://fanfiction.com.br/historia/228921/Cante/capitulo/10/, em 29/7/2015.
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Obviamente, esse exemplo é compatível com cortes de outros objetos que não tecidos (ex. árvores,
pão, etc). De qualquer forma, a produtividade da metáfora COMUNICAÇÃO VERBAL É ATIVIDADE
TÊXTIL permite que se estabeleça a hipótese de que a expressão reflita essa mesma correspondência
metafórica.
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Os exemplos (15) e (16) foram acessados, respectivamente, em:
http://www.lancenet.com.br/atletico-mineiro/Kalil-socios-acabar-Galo-Veia_0_1180681975.html e
https://palavrasemvertigem.wordpress.com/2013/09/30/rock-in-rio-2013-2-fim-de-semana/, em
29/07/2015.
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Considerações finais
Referências
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