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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE LETRAS

PERÍODO 2022.2

COMPONENTE CURRICULAR: Texto e Discurso


CÓDIGO: LET 0577 – T01
CARGA HORÁRIA: 60 HORAS (04 Créditos)
HORÁRIO DAS AULAS: 3N1234 - Local: 2B3
PROFESSOR: Marcos Antonio Costa

TEXTO 03
LINGUÍSTICA TEXTUAL 1

BREVE HISTÓRICO DA LINGUÍSTICA TEXTUAL

Como se sabe, foi na década de 1960 na Europa, especialmente na Alemanha, que a linguística textual
começou a desenvolver−se como ciência da estrutura e do funcionamento dos textos. De acordo com Fávero
(2010), a origem do termo linguística textual encontra−se em Cosériu 2 embora, no sentido que lhe é
atualmente atribuído, tenha sido empregado pela primeira vez por Weinrich 3.
O objeto de investigação da Linguística Textual não é mais a palavra ou a frase, mas sim o texto,
uma vez que os textos são formas específicas de manifestação da linguagem. Dentro desta perspectiva, a
Linguística Textual ultrapassa os limites da frase e concebe a linguagem como interação. Assim, justifica−se
a necessidade de descrever e explicar a língua dentro de um contexto, considerando suas condições de uso.
Dentre as causas do seu desenvolvimento, é possível mencionar as falhas das gramáticas da frase
no tratamento de fenômenos como a referência, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções,
a ordem das palavras no enunciado, a entoação, a concordância dos tempos verbais, fenômenos estes que
só podem ser explicados em termos de texto ou em referência a um contexto situacional.
Portanto, o que legitima a Linguística Textual é a sua capacidade de explicar fenômenos

1
In: In: BONIFÁCIO, Carla Alecsandra de Melo; MACIEL, João Wandemberg Gonçalves. Fascículo: LINGUÍSTICA TEXTUAL. Editora
Universitária UFPB. 1ª edição. 2010. Meio Digital - Disponível em: <https://docero.com.br/doc/ce850e˃. Acesso em: 12 de abril de
2022.

2
COSÉRIU, E. 1955. Determinación y entorno. Dos problemas de uma linguística del hablar. Romanistisches Jahrbuch, 7: 29−54.

3
WEINRICH, H. 1966. Linguistik der Lüge. Heidelberg, Verlag Lambert Schneider.
inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado. Para Marcuschi (apud BENTES, 2001) “seu
surgimento deu−se de forma independente, em vários países de dentro e de fora da Europa Continental,
simultaneamente, e com propostas teóricas diversas”, havendo, assim, não só uma gradual ampliação do
objeto de análise da Linguística Textual, mas também um progressivo afastamento da influência
teórico−metodológica da Linguística Estrutural saussuriana.
É importante ainda salientarmos, antes de irmos para as fases da Linguística Textual que, de forma
geral a Linguística Textual teve alguns precursores históricos distintos, conforme aponta pesquisa de
Tafarello e Rodrigues (1993), que corresponde a três grandes linhas de pensamento: a Retórica Clássica
(Empédocles, Corax, Tísias) que das suas cinco partes duas têm relação com a linguística do texto: uma diz
respeito à definição de operações linguísticas subjacentes à produção do texto, ou seja, a sua
microestrutura; a segunda refere-se à localização do texto no processo global de comunicação, ou, a sua
macroestrutura.
A outra linha de pensamento foi a Estilística que se serviu da retórica, da gramática e da filosofia. A
Estilística tinha por objeto todas as relações acima do nível da frase, considerando que até bem pouco
tempo a maior unidade da linguística era a frase.
A terceira e última linha de pensamento foi a dos Formalistas Russos, pertencentes ao Círculo
Linguístico Moscou. Dentro os quais têm Propp (analisou as estruturas dos contos populares), Jakobson
(rompeu com os padrões tradicionais de análise de texto) a partir do esquema de comunicação (emissor,
canal, código, interlocutores etc.)
De acordo com Tafarello e Rodrigues (1993) também há precursores stricto senso, que de uma
forma ou de outra tiveram sua atenção voltada para o texto. Fazem parte deste conjunto de precursores:
Hjelmslev, Harris, Pike, Jakobson, Benveniste, Pêcheux, Orlandi, entre outros.
Após termos, brevemente, explicado quando, onde e quais as causas do surgimento da Linguística
Textual, esboçaremos neste momento, as suas fases, que para Bentes (2001), na história da constituição da
Linguística textual não se pode ter com precisão uma sequência cronológica e homogênea no
desenvolvimento das teorias da linguística de texto, porém, podem−se definir três momentos teóricos e
bastante diferentes entre si:

1ª FASE 2ª FASE 3ª FASE

Transfrástica As gramáticas textuais Elaboração de uma teoria


de texto

Tentaremos explicar, a partir de agora, como se deu cada uma dessas fases:
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1ª Fase: Transfrástica
De acordo com Koch (2004), a primeira fase se deteve ao estudo dos mecanismos interfrásticos que
fazem parte do sistema gramatical da língua, cujo uso possibilitaria a duas ou mais sequência ao estatuto
de texto.
Nesta época, os estudos possuíam orientações diversas, podendo ser estruturalistas, gerativistas
ou até mesmo funcionalistas e dentre os fenômenos a serem explicados podemos citar a correferência, a
pronominalização, a seleção do artigo (definido ou indefinido), a ordem das palavras, a concordância dos
tempos verbais, entre outros.
No entanto, uma vez que as gramáticas da frase tinham como unidade de estudo o enunciado, foi
observado que essas gramáticas apresentavam limitações, já que elas não traziam os fatores que
ultrapassavam o limite das frases que só podiam ser vistas/ analisadas no interior do texto como, por
exemplo, acontece com a correferência.
É interessante acrescentar que é nessa fase que muitos estudiosos apresentaram várias definições
para o texto, como, por exemplo, “frase complexa”, “signo linguístico primário” (HARTMANN, 1968),
“cadeia de pronominalizações ininterruptas” (HARWEG, 1968), “sequência coerente de enunciados”
(ISENBERG, 1971) ou “cadeia de pressuposições” (BELLERT, 1970).
Para que você entenda melhor, vamos analisar a seguinte frase:

Maria saiu gritando. Ela estava com muito medo .

Ao analisarmos a frase acima é notável a ligação entre o pronome Ela e o referente que, neste caso,
é Maria. A ligação que se dá entre Maria e o pronome ELA (correferente de Maria) ocorre essencialmente
pela predicação dos dois elementos, e não apenas por uma questão de concordância. Vale à pena chamar
a atenção para o fato de que só esse elemento de coesão por si não poderia garantir ao longo de uma
sequência a existência de um texto.

Os elementos de coesão, como as conjunções, também foram tema dos estudos na fase
transfrástica. Um fato que chamou a atenção de muitos estudiosos estava relacionado à presença de
coerência, que ocorria mesmo não havendo as conjunções em dado trecho, como podemos evidenciar
através da frase abaixo:

Chamei por você, ninguém me ouviu.

No exemplo acima, mesmo com a ausência do conectivo (mas), o ouvinte/leitor tem a capacidade
de construir o significado global da sequência, porque pode estabelecer as relações lógico−argumentativas
entre as partes dos enunciados.
Do exposto acima, podemos concluir que a constituição de um
texto com base apenas na soma de frases não estava
funcionando, concorda?!
Assim, essa importante questão abre o precedente para a
necessidade de outra forma de tratamento para o texto,
surgindo as Gramáticas Textuais que se configura como a
segunda fase da Linguística Textual.

2ª Fase: Gramáticas de texto


Segundo Marcuschi (1998), as gramáticas do texto introduziram, pela primeira vez, o
texto como objeto de estudo da linguística, procurando estabelecer um sistema de regras finito
e recorrente que seria partilhado por todos os usuários da língua. Tal sistema permitiria que os
usuários identificassem se uma determinada sequência de frases constitui ou não um texto e
se esse texto é bem formado. De forma que, de maneira análoga, esta segunda fase da
linguística textual, recebeu influências do gerativismo, levando em consideração a chamada
competência linguística do falante.

Explicando melhor, queremos dizer que a transição da fase transfrástica para a fase de
gramáticas textuais ocorreu por dois fatores importantes:

01) A percepção que muitos textos não apresentavam o fenômeno da correferenciação;


02) Para a compreensão de textos seria essencial que se levasse em consideração o conhecimento
intuitivo do falante.
Assim, com base nisto, chegou−se à conclusão de que todo falante de uma determinada
língua seria capaz tanto de produzir textos inéditos quanto de ter a capacidade de elaborar
paráfrase, sendo ainda possível que ele reconheça os diversos tipos textuais como o narrativo,
descritivo, dissertativo.

Com relação a essas competências, CHAROLLES (1983) expõe que o falante possui três
que seriam básicas:
Está relacionada ao fato de o usuário ser capaz
1 Competência de produzir e compreender um número infinito
. formativa: de texto e avaliar, a boa ou má formação de
um texto;
Faz referência à capacidade de resumir um
2 Competência texto, parafraseá-lo, reformulá-lo, ou
. transformativa: atribuir-lhe um título, como também de
avaliar a adequação do resultado dessas
atividades;

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Está voltada à capacidade de o usuário
3 Competência identificar o tipo ou gênero de um dado tipo,
. qualificativa: assim como à possibilidade de produzir um
texto de um tipo particular.

Segundo Koch (2004, p.5), uma vez que todos os falantes teriam essas capacidades, as
tarefas básicas de uma gramática do texto seriam as seguintes:

a) Verificar o que faz com que um texto seja um texto, em outras palavras, determinar seus princípios de
constituição, os fatores responsáveis pela sua coerência, as condições em que se manifesta a
textualidade;
b) Levantar critérios para a delimitação de textos;
c) Diferenciar as várias espécies de texto.

Embora empenhados no sentido de desenvolver uma gramática textual, tais tarefas não
puderam ser contempladas por problemas na formulação das Gramáticas Textuais.
O primeiro se refere à conceituação do texto, que como já mencionamos, seria uma
unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a partir de um sistema finito de
regras, internalizado por todos os usuários da língua. Semelhante, em sua formulação, à
gramática gerativa da sentença, de Chomsky, esse sistema finito de regras constituiria a
gramática textual de uma língua. Com base nisto, propor um percurso gerativo para o texto não
seria fácil, já que ele não constitui uma unidade estrutural, originária de uma estrutura de base
e realizada por meio de transformações sucessivas.
Além disso, a separação entre as noções de texto (unidade estrutural, gerada a partir
da competência de um usuário idealizado e descontextualizado) e discurso (unidade de uso)
acabou se constituindo em um outro problema das gramáticas de texto pelo fato desta
separação não ter justificativa, uma vez que o texto só pode ser compreendido a partir do uso
em uma situação real de interação.
Apesar dos problemas, não se pode negar o mérito das gramáticas de texto que
estabeleceram dois pilares para a consolidação dos estudos voltados ao texto e ao discurso:

01) a verificação de que o texto constitui a unidade linguística mais elevada se desdobrando ou se
subdividindo em unidades menores, igualmente passíveis de classificação, onde as unidades
menores (inclusive os elementos léxicos e gramaticais) devem sempre ser consideradas a partir
do respectivo papel na estruturação da unidade textual;

02) a verificação que não existe continuidade entre frase e texto, pois se trata de entidades de ordem
diferente e a significação do texto não constitui unicamente o somatório das partes que o compõem.

Portanto, ao invés de procurar descrever a competência textual do falante, como


pretendia a gramática textual, o foco mudou para a análise de como se constituem os textos, o
seu funcionamento e a sua produção em uma situação real de interação verbal.
Para tanto, os estudiosos iniciaram a elaboração de uma Teoria de texto que o via não
mais da perspectiva de um produto acabado, mas de um processo que é resultado de aspectos
sociocognitivos, interacionais e comunicativos.

3ª Fase: Elaboração de uma teoria de texto

De acordo com Marcuschi (1998), no final da década de setenta, a competência


textual deixa de ser o enfoque, passando a noção de textualidade a ser considerada, sendo
também relevantes para a Linguística Textual o contexto, ou seja, o conjunto de condições
externas à língua, e necessárias para a produção, recepção e interpretação de texto, e também
a interação já que o sentido não está no texto, mas acontece na interação entre o escritor /
falante e o leitor / ouvinte.
É importante ressaltar que essa fase da Linguística Textual se dá com uma nova
concepção de língua, encarada agora, não mais como um sistema virtual autônomo, mas como
um sistema real que ocorre em dados contextos de comunicação, e também com um conceito
diferente de texto, não mais visto como algo pronto e acabado, e sim como um processo em
construção.
De forma que é possível notar que o objetivo nesta fase não é mais a depreensão de
regras subjacentes a um sistema abstrato, mas uma análise e possível explicação do texto em
funcionamento. Como afirma Marcuschi (1998), nesse estágio de evolução a Linguística Textual
assume nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não
considera a língua como entidade autônoma ou formal.
Em seu livro intitulado A coesão textual, Koch (1999, p.8) apresenta de maneira
bastante clara as Teorias do Texto afirmando que embora elas sejam fundamentadas em
pressupostos básicos comuns, diferem muito umas das outras, conforme o enfoque
predominante.
Beaugrande & Dressler – Se aproximam da linha americana da Análise do Discurso e
seus estudos estão voltados aos critérios ou padrões essenciais de textualidade e do processo
cognitivo do texto, sendo centrados no texto os critérios de textualidade a coesão e a coerência,
enquanto a informatividade, a situacionalidade, a intertextualidade, a intencionalidade e a
aceitabilidade são centrados nos usuários. Entre outros pressupostos adotados estão os da
semântica procedural, que realçam o estudo da coerência e do processamento do texto, não

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só o conhecimento declarativo (dado pelo conteúdo proposicional dos enunciados), mas
também o conhecimento construído através da vivência, condicionado sócio− culturalmente,
que é armazenado na memória, sob a forma de modelos cognitivos globais.
Givón e outros estudiosos filiados à linha americana da Análise do Discurso, buscando
subsídios em pesquisas nas áreas da Psicologia da Cognição e da Inteligência Artificial estão
voltados tanto com as formas de construção linguística do texto enquanto sequência de frases,
quanto com a questão do processamento cognitivo do texto (isto é, com os processos de
produção e compreensão) e, consequentemente, com o estudo dos mecanismos e modelos
cognitivos envolvidos nesse processamento. Na concepção de Weinrich toda Linguística é
Linguística de Texto. O objetivo dos seus trabalhos é a construção de uma macrossintaxe do
discurso, com base no tratamento textual de categorias gramaticais como os artigos, os verbos
etc. Utiliza como método heurístico a “partitura textual”, que consiste em unir a análise frasal
por tipo de palavras e a estrutura sintática do texto num só modelo, tal como uma “partitura
musical a duas vozes”. Para o autor, o texto é uma sequência linear de lexemas e morfemas que
se condicionam reciprocamente e que, de modo recíproco, constituem o contexto: texto é, pois,
“um andaime de determinações onde tudo se encontra interligado”, uma “estrutura
determinativa”.

Já Van Dijk vem, desde 1985, atuando na perspectiva da Análise Crítica do Discurso
(Critical Discourse Analysis). Seu trabalho está relacionado à questão da tipologia dos textos,
no que diz respeito ao estudo das macroestruturas textuais, e ao das superestruturas ou
esquemas textuais. Tendo dedicado, inicialmente, maior atenção às superestruturas narrativas,
passou, mais tarde, a examinar outros tipos de superestruturas, especialmente as do noticiário
jornalístico.
O trabalho de Petöfi a princípio se voltou para construção de uma teoria semiótica dos
textos verbais denominada de TeSWeST (Teoria da Estrutura do Texto – Estrutura do Mundo).
Esta teoria visa ao relacionamento entre a estrutura de um texto e a interpretação extensional
(em termos de mundos possíveis) do mundo (ou do complexo de mundos) que é textualizado
em um texto, implicando, assim, elemento contextuais (externos ao texto) e cotextuais
(internos ao texto). Como consequência, atualmente, os interesses desse autor e de seu grupo
estão direcionados à questão da compreensão/produção de textos.
Para Schmidt, a textualidade é o modo de toda e qualquer comunicação transmitida por
sinais, inclusive os linguísticos, preferindo a denominação Teoria de Texto a Linguística de
Texto. Segundo o autor, o texto é “qualquer expressão de um conjunto linguístico num ato de
comunicação – no âmbito de um ‘jogo de atuação comunicativa’ – tematicamente orientado e
preenchendo uma função comunicativa reconhecível, ou seja, realizando um potencial
ilocucionário reconhecível”.

Convém, ainda, lembrar dos linguistas franceses que se voltam às questões de ordem
textual assim também como à operacionalização dos fundamentos teóricos dedicados ao
ensino como é o caso de Charolles, Combettes, Vigner, Adam, entre outros.
Marcuschi (1983) apud Koch (1999) apresentou uma definição de Linguística Textual ao
detectar os pontos em comum às várias correntes acima mostradas, sugerindo que a Linguística
do texto seja vista como estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e
controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais.

A Linguística Textual nos dias atuais

Você, também, pode consultar o livro de Koch (2002, p.149) “Desvendando os


segredos do texto” para se ter uma visão mais ampla da linguística nos dias
atuais.

Atualmente, se levarmos em consideração o desenvolvimento pelo qual estão passando


as investigações na área cognitiva, questões relacionadas ao processamento do texto, no que
diz respeito à produção e compreensão, às estratégias sociocognitivas e interacionais, entre
outras passaram a ser o foco de interesse de diversos estudiosos do campo, como é o caso no
Brasil dos estudos desenvolvidos por Marcuschi e Koch (Marcuschi & Koch, 1998; Koch &
Marcuschi, 1998; Marcuschi, 1998, 1999; Koch, 1997, 1998, 1999), e fora do Brasil como as
obras de Heinemann & Viehweger (1991), Koch & Oesterreicher (1990), Nussbaumer (1991),
Adam (1990 e 1993), e Van Dijk (1994, 1995, 1997), entre outros.
Além do interesse que vem sido dado aos processos de organização global dos textos,
podemos ainda citar a importância das questões de cunho sociocognitivo que envolvem a
referenciação, a inferenciação, o acesso ao conhecimento prévio, etc.; o tratamento da
oralidade e da relação oralidade/escrita; e o estudo dos gêneros textuais, este agora
conduzido sob outras luzes, isto é, dentro da perspectiva bakhtiniana, os gêneros estão
ocupando lugar de destaque nas pesquisas sobre o texto e tornando−se hoje um terreno
extremamente promissor (Koch, 2002).
No tocante à questão dos gêneros, ainda segundo Koch (2002), vale à pena salientar a
releitura que vem sendo realizada na obra de Bakhtin (1953), na qual o autor propõe o seu

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conceito de gêneros do discurso. Essa releitura de Bahktin tem sido feita com objetivos
didáticos, ou seja, para que possam ser aplicados no âmbito educacional, por muitos estudiosos
como, por exemplo, na Inglaterra, a obra de Swales; nos Estados Unidos, caba ressaltar autores
como Bhatia, Miller, Freedman, Coe e Bazerman; na França, a obra de Jean−Michel Adam,
destacando−se, neste domínio, os trabalhos conduzidos por Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz
e Jean−Paul Bronckart.
É importante ainda esclarecer que os estudos de Schneuwly, Dolz e Bronckart
consideram o gênero como suporte das atividades de linguagem, definindo−o com base em três
dimensões essenciais:
1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis a partir do texto;

2) os elementos das estruturas comunicativas e semióticas partilhadas pelos textos

reconhecidos como pertencentes a determinado gênero;


3) as configurações específicas de unidades de linguagem, traços, principalmente, da posição
enunciativa do enunciador, bem como dos conjuntos particulares de sequências textuais e de tipos
discursivos que formam sua estrutura.
De forma que se estabelece, então, distinção entre gêneros, tipos discursivos e
sequências textuais que são vistas como esquemas que fazem parte da constituição dos vários
gêneros, variando menos que eles em função das circunstâncias sociais.
Finalizando, é possível afirmar veementemente que a Linguística Textual tem
contribuído significativamente com seu escopo, tanto para o texto, quanto para a construção
de sentido do mesmo, alcançando assim, grandes avanços no campo da textualidade.
Vimos, através de suas fases, que o que era apenas um estudo da frase, passou para
um estudo da gramática de texto, na tentativa de suprir algumas lacunas não preenchidas pela
corrente estruturalista e gerativista; e logo em seguida, chegou−se aos conceitos de texto, que
por sua vez o define não mais como algo pronto e acabado, mas como um processo em
construção e, nesse sentido as contribuições tem sido ainda mais significantes, pois, hoje se
tem conceitos mais globais do seja um texto, bem como dos gêneros textuais, gêneros do
discurso e tipos de suportes dos gêneros textuais.
Assim, atualmente, a Linguística Textual tem como objeto particular de investigação
não mais a palavra ou a frase isolada, mas o texto, considerado a unidade básica de
manifestação da linguagem, isto porque o homem se comunica por meio de textos, ocorrendo
diversos fenômenos linguísticos que só podem ser explicados no seu interior.
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