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PERÍODO 2022.2
TEXTO 03
LINGUÍSTICA TEXTUAL 1
Como se sabe, foi na década de 1960 na Europa, especialmente na Alemanha, que a linguística textual
começou a desenvolver−se como ciência da estrutura e do funcionamento dos textos. De acordo com Fávero
(2010), a origem do termo linguística textual encontra−se em Cosériu 2 embora, no sentido que lhe é
atualmente atribuído, tenha sido empregado pela primeira vez por Weinrich 3.
O objeto de investigação da Linguística Textual não é mais a palavra ou a frase, mas sim o texto,
uma vez que os textos são formas específicas de manifestação da linguagem. Dentro desta perspectiva, a
Linguística Textual ultrapassa os limites da frase e concebe a linguagem como interação. Assim, justifica−se
a necessidade de descrever e explicar a língua dentro de um contexto, considerando suas condições de uso.
Dentre as causas do seu desenvolvimento, é possível mencionar as falhas das gramáticas da frase
no tratamento de fenômenos como a referência, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções,
a ordem das palavras no enunciado, a entoação, a concordância dos tempos verbais, fenômenos estes que
só podem ser explicados em termos de texto ou em referência a um contexto situacional.
Portanto, o que legitima a Linguística Textual é a sua capacidade de explicar fenômenos
1
In: In: BONIFÁCIO, Carla Alecsandra de Melo; MACIEL, João Wandemberg Gonçalves. Fascículo: LINGUÍSTICA TEXTUAL. Editora
Universitária UFPB. 1ª edição. 2010. Meio Digital - Disponível em: <https://docero.com.br/doc/ce850e˃. Acesso em: 12 de abril de
2022.
2
COSÉRIU, E. 1955. Determinación y entorno. Dos problemas de uma linguística del hablar. Romanistisches Jahrbuch, 7: 29−54.
3
WEINRICH, H. 1966. Linguistik der Lüge. Heidelberg, Verlag Lambert Schneider.
inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado. Para Marcuschi (apud BENTES, 2001) “seu
surgimento deu−se de forma independente, em vários países de dentro e de fora da Europa Continental,
simultaneamente, e com propostas teóricas diversas”, havendo, assim, não só uma gradual ampliação do
objeto de análise da Linguística Textual, mas também um progressivo afastamento da influência
teórico−metodológica da Linguística Estrutural saussuriana.
É importante ainda salientarmos, antes de irmos para as fases da Linguística Textual que, de forma
geral a Linguística Textual teve alguns precursores históricos distintos, conforme aponta pesquisa de
Tafarello e Rodrigues (1993), que corresponde a três grandes linhas de pensamento: a Retórica Clássica
(Empédocles, Corax, Tísias) que das suas cinco partes duas têm relação com a linguística do texto: uma diz
respeito à definição de operações linguísticas subjacentes à produção do texto, ou seja, a sua
microestrutura; a segunda refere-se à localização do texto no processo global de comunicação, ou, a sua
macroestrutura.
A outra linha de pensamento foi a Estilística que se serviu da retórica, da gramática e da filosofia. A
Estilística tinha por objeto todas as relações acima do nível da frase, considerando que até bem pouco
tempo a maior unidade da linguística era a frase.
A terceira e última linha de pensamento foi a dos Formalistas Russos, pertencentes ao Círculo
Linguístico Moscou. Dentro os quais têm Propp (analisou as estruturas dos contos populares), Jakobson
(rompeu com os padrões tradicionais de análise de texto) a partir do esquema de comunicação (emissor,
canal, código, interlocutores etc.)
De acordo com Tafarello e Rodrigues (1993) também há precursores stricto senso, que de uma
forma ou de outra tiveram sua atenção voltada para o texto. Fazem parte deste conjunto de precursores:
Hjelmslev, Harris, Pike, Jakobson, Benveniste, Pêcheux, Orlandi, entre outros.
Após termos, brevemente, explicado quando, onde e quais as causas do surgimento da Linguística
Textual, esboçaremos neste momento, as suas fases, que para Bentes (2001), na história da constituição da
Linguística textual não se pode ter com precisão uma sequência cronológica e homogênea no
desenvolvimento das teorias da linguística de texto, porém, podem−se definir três momentos teóricos e
bastante diferentes entre si:
Tentaremos explicar, a partir de agora, como se deu cada uma dessas fases:
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1ª Fase: Transfrástica
De acordo com Koch (2004), a primeira fase se deteve ao estudo dos mecanismos interfrásticos que
fazem parte do sistema gramatical da língua, cujo uso possibilitaria a duas ou mais sequência ao estatuto
de texto.
Nesta época, os estudos possuíam orientações diversas, podendo ser estruturalistas, gerativistas
ou até mesmo funcionalistas e dentre os fenômenos a serem explicados podemos citar a correferência, a
pronominalização, a seleção do artigo (definido ou indefinido), a ordem das palavras, a concordância dos
tempos verbais, entre outros.
No entanto, uma vez que as gramáticas da frase tinham como unidade de estudo o enunciado, foi
observado que essas gramáticas apresentavam limitações, já que elas não traziam os fatores que
ultrapassavam o limite das frases que só podiam ser vistas/ analisadas no interior do texto como, por
exemplo, acontece com a correferência.
É interessante acrescentar que é nessa fase que muitos estudiosos apresentaram várias definições
para o texto, como, por exemplo, “frase complexa”, “signo linguístico primário” (HARTMANN, 1968),
“cadeia de pronominalizações ininterruptas” (HARWEG, 1968), “sequência coerente de enunciados”
(ISENBERG, 1971) ou “cadeia de pressuposições” (BELLERT, 1970).
Para que você entenda melhor, vamos analisar a seguinte frase:
Ao analisarmos a frase acima é notável a ligação entre o pronome Ela e o referente que, neste caso,
é Maria. A ligação que se dá entre Maria e o pronome ELA (correferente de Maria) ocorre essencialmente
pela predicação dos dois elementos, e não apenas por uma questão de concordância. Vale à pena chamar
a atenção para o fato de que só esse elemento de coesão por si não poderia garantir ao longo de uma
sequência a existência de um texto.
Os elementos de coesão, como as conjunções, também foram tema dos estudos na fase
transfrástica. Um fato que chamou a atenção de muitos estudiosos estava relacionado à presença de
coerência, que ocorria mesmo não havendo as conjunções em dado trecho, como podemos evidenciar
através da frase abaixo:
No exemplo acima, mesmo com a ausência do conectivo (mas), o ouvinte/leitor tem a capacidade
de construir o significado global da sequência, porque pode estabelecer as relações lógico−argumentativas
entre as partes dos enunciados.
Do exposto acima, podemos concluir que a constituição de um
texto com base apenas na soma de frases não estava
funcionando, concorda?!
Assim, essa importante questão abre o precedente para a
necessidade de outra forma de tratamento para o texto,
surgindo as Gramáticas Textuais que se configura como a
segunda fase da Linguística Textual.
Explicando melhor, queremos dizer que a transição da fase transfrástica para a fase de
gramáticas textuais ocorreu por dois fatores importantes:
Com relação a essas competências, CHAROLLES (1983) expõe que o falante possui três
que seriam básicas:
Está relacionada ao fato de o usuário ser capaz
1 Competência de produzir e compreender um número infinito
. formativa: de texto e avaliar, a boa ou má formação de
um texto;
Faz referência à capacidade de resumir um
2 Competência texto, parafraseá-lo, reformulá-lo, ou
. transformativa: atribuir-lhe um título, como também de
avaliar a adequação do resultado dessas
atividades;
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Está voltada à capacidade de o usuário
3 Competência identificar o tipo ou gênero de um dado tipo,
. qualificativa: assim como à possibilidade de produzir um
texto de um tipo particular.
Segundo Koch (2004, p.5), uma vez que todos os falantes teriam essas capacidades, as
tarefas básicas de uma gramática do texto seriam as seguintes:
a) Verificar o que faz com que um texto seja um texto, em outras palavras, determinar seus princípios de
constituição, os fatores responsáveis pela sua coerência, as condições em que se manifesta a
textualidade;
b) Levantar critérios para a delimitação de textos;
c) Diferenciar as várias espécies de texto.
Embora empenhados no sentido de desenvolver uma gramática textual, tais tarefas não
puderam ser contempladas por problemas na formulação das Gramáticas Textuais.
O primeiro se refere à conceituação do texto, que como já mencionamos, seria uma
unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a partir de um sistema finito de
regras, internalizado por todos os usuários da língua. Semelhante, em sua formulação, à
gramática gerativa da sentença, de Chomsky, esse sistema finito de regras constituiria a
gramática textual de uma língua. Com base nisto, propor um percurso gerativo para o texto não
seria fácil, já que ele não constitui uma unidade estrutural, originária de uma estrutura de base
e realizada por meio de transformações sucessivas.
Além disso, a separação entre as noções de texto (unidade estrutural, gerada a partir
da competência de um usuário idealizado e descontextualizado) e discurso (unidade de uso)
acabou se constituindo em um outro problema das gramáticas de texto pelo fato desta
separação não ter justificativa, uma vez que o texto só pode ser compreendido a partir do uso
em uma situação real de interação.
Apesar dos problemas, não se pode negar o mérito das gramáticas de texto que
estabeleceram dois pilares para a consolidação dos estudos voltados ao texto e ao discurso:
01) a verificação de que o texto constitui a unidade linguística mais elevada se desdobrando ou se
subdividindo em unidades menores, igualmente passíveis de classificação, onde as unidades
menores (inclusive os elementos léxicos e gramaticais) devem sempre ser consideradas a partir
do respectivo papel na estruturação da unidade textual;
02) a verificação que não existe continuidade entre frase e texto, pois se trata de entidades de ordem
diferente e a significação do texto não constitui unicamente o somatório das partes que o compõem.
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só o conhecimento declarativo (dado pelo conteúdo proposicional dos enunciados), mas
também o conhecimento construído através da vivência, condicionado sócio− culturalmente,
que é armazenado na memória, sob a forma de modelos cognitivos globais.
Givón e outros estudiosos filiados à linha americana da Análise do Discurso, buscando
subsídios em pesquisas nas áreas da Psicologia da Cognição e da Inteligência Artificial estão
voltados tanto com as formas de construção linguística do texto enquanto sequência de frases,
quanto com a questão do processamento cognitivo do texto (isto é, com os processos de
produção e compreensão) e, consequentemente, com o estudo dos mecanismos e modelos
cognitivos envolvidos nesse processamento. Na concepção de Weinrich toda Linguística é
Linguística de Texto. O objetivo dos seus trabalhos é a construção de uma macrossintaxe do
discurso, com base no tratamento textual de categorias gramaticais como os artigos, os verbos
etc. Utiliza como método heurístico a “partitura textual”, que consiste em unir a análise frasal
por tipo de palavras e a estrutura sintática do texto num só modelo, tal como uma “partitura
musical a duas vozes”. Para o autor, o texto é uma sequência linear de lexemas e morfemas que
se condicionam reciprocamente e que, de modo recíproco, constituem o contexto: texto é, pois,
“um andaime de determinações onde tudo se encontra interligado”, uma “estrutura
determinativa”.
Já Van Dijk vem, desde 1985, atuando na perspectiva da Análise Crítica do Discurso
(Critical Discourse Analysis). Seu trabalho está relacionado à questão da tipologia dos textos,
no que diz respeito ao estudo das macroestruturas textuais, e ao das superestruturas ou
esquemas textuais. Tendo dedicado, inicialmente, maior atenção às superestruturas narrativas,
passou, mais tarde, a examinar outros tipos de superestruturas, especialmente as do noticiário
jornalístico.
O trabalho de Petöfi a princípio se voltou para construção de uma teoria semiótica dos
textos verbais denominada de TeSWeST (Teoria da Estrutura do Texto – Estrutura do Mundo).
Esta teoria visa ao relacionamento entre a estrutura de um texto e a interpretação extensional
(em termos de mundos possíveis) do mundo (ou do complexo de mundos) que é textualizado
em um texto, implicando, assim, elemento contextuais (externos ao texto) e cotextuais
(internos ao texto). Como consequência, atualmente, os interesses desse autor e de seu grupo
estão direcionados à questão da compreensão/produção de textos.
Para Schmidt, a textualidade é o modo de toda e qualquer comunicação transmitida por
sinais, inclusive os linguísticos, preferindo a denominação Teoria de Texto a Linguística de
Texto. Segundo o autor, o texto é “qualquer expressão de um conjunto linguístico num ato de
comunicação – no âmbito de um ‘jogo de atuação comunicativa’ – tematicamente orientado e
preenchendo uma função comunicativa reconhecível, ou seja, realizando um potencial
ilocucionário reconhecível”.
Convém, ainda, lembrar dos linguistas franceses que se voltam às questões de ordem
textual assim também como à operacionalização dos fundamentos teóricos dedicados ao
ensino como é o caso de Charolles, Combettes, Vigner, Adam, entre outros.
Marcuschi (1983) apud Koch (1999) apresentou uma definição de Linguística Textual ao
detectar os pontos em comum às várias correntes acima mostradas, sugerindo que a Linguística
do texto seja vista como estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e
controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais.
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conceito de gêneros do discurso. Essa releitura de Bahktin tem sido feita com objetivos
didáticos, ou seja, para que possam ser aplicados no âmbito educacional, por muitos estudiosos
como, por exemplo, na Inglaterra, a obra de Swales; nos Estados Unidos, caba ressaltar autores
como Bhatia, Miller, Freedman, Coe e Bazerman; na França, a obra de Jean−Michel Adam,
destacando−se, neste domínio, os trabalhos conduzidos por Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz
e Jean−Paul Bronckart.
É importante ainda esclarecer que os estudos de Schneuwly, Dolz e Bronckart
consideram o gênero como suporte das atividades de linguagem, definindo−o com base em três
dimensões essenciais:
1) os conteúdos e os conhecimentos que se tornam dizíveis a partir do texto;
BAZERMAN, Charles. et al. Gênero, agência e escrita. São Paulo: Cortez, 2006.
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