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Língua Portuguesa:

Linguística Textual
Material Teórico
Introdução à Linguística Textual

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elaine A. Souto Antunes

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Introdução à Linguística Textual

• Introdução
• Alguns autores fundamentais
• Como as coisas aconteceram no Brasil
• O texto, nosso incrível objeto de estudo

··Aprender como se desenvolveram os estudos textuais até chegar ao


momento atual;
··Conhecer os grandes nomes no campo da Linguística Textual;
··Diferenciar as definições de texto propostas em cada um dos momentos de
estudo dos textos.

Nesta unidade, vamos falar dos desenvolvimentos teóricos da linguística textual, para tanto
trataremos da conceptualização de texto. Apesar de ser um objeto utilizado pelos professores em
sala de aula e de estruturação social de um povo, ele envolve uma série de questões.
Para obter um bom desempenho, você deve começar pela leitura do Conteúdo Teórico.
Aqui, você encontrará o material principal de estudo na forma de texto escrito. Depois, assista
à Apresentação Narrada e à Videoaula, que sintetizam questões importantes. Consulte as
indicações sugeridas e leia os textos na íntegra. É importante ir aos textos indicados, pois eles
trazem pormenores e curiosidades a respeito do assunto abordado nesta unidade.
É muito importante que você exerça a sua autonomia de estudante para construir novos
conhecimentos.

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Contextualização

Coordenar a rotina da sala de aula não é tarefa fácil e muito menos simples. No entanto, a
nova abordagem, introduzida pela Linguística Textual, vem ajudar os professores a otimizarem
seus trabalhos no dia a dia. A partir do momento que se abarca o texto como um “evento
comunicativo” que apreende o mundo nas suas mais variadas possibilidades de manifestação
entra em cena uma noção dialógica desse objeto, transformando-o em objeto de comunicação
e de construção de saberes. Assim sendo, utilizar os textos, nas suas mais diversas possibilidades
de realização, tornará, com certeza, as aulas mais dinâmicas e interessantes, tanto para os alunos
como para os próprios professores.
Por tudo isso, o campo da LT ganha a cada dia maior importância e mais visibilidade
no ambiente acadêmico e escolar, pois trata-se de uma disciplina que fornece elementos de
aplicação e uso direto pelos educadores que estão no labor da sua profissão. O estudo da
Linguística Textual também fornece elementos para aqueles que querem entender melhor o
mundo textual e produzir com mais propriedade seus textos.

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Introdução

A disciplina de Linguística Textual delimita como seu corpus de estudo “O texto”. Alguns,
então, perguntarão:

• O texto não é um objeto que sempre existiu?


• Qual a novidade em estudá-lo?
• De qual tipo de estudo estaremos tratando se nos livros sempre
Para pensar
trabalhamos com textos?

Falaremos a respeito dessas e de muitas outras questões que giram em torno desse objeto.
Ora, aparentemente, tão conhecido, mas que na realidade envolve diversos mistérios.
Antes de qualquer coisa, apresentamos abaixo alguns objetos para que você, reflita se eles
são ou não textos.

AV I S O
APAGUE
A LUZ
AO SAIR
Fonte: Thinkstock / Getty Images

Dos elementos acima, quais você definiria como texto e Por quê?
Antes de respondermos a essas perguntas, vamos conversar um pouco sobre a linguística
textual, seu desenvolvimento e seu objeto de estudo, o texto.
A década de 1960 apresenta uma inquietação a respeito da noção de texto que culminará na
criação da disciplina Linguística Textual (LT). Ela, a LT, surge primeiro na Alemanha e entre nós, aqui
no Brasil, os primeiros estudos começam a ganhar visibilidade e maiores discussões em meados da
década de 1970 e na década de 1980 propriamente dita. Alguns nomes expressivos nessa área são
Ingedore Villaça Koch, Luiz Antônio Marcuschi, Anna Christina Bentes, Leonor Lopes Fávero, entre

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

outros que serão por diversas vezes citados ao longo de nossa disciplina, porque são estudiosos que
contribuíram com diversos trabalhos acadêmicos sobre a Linguística Textual.
A Linguística Textual surge em contraposição aos estudos da Linguística Estrutural, como
bem nos ensina a Prof.ª Anna Christina Bentes:

Sem dúvida, o surgimento dos estudos sobre o texto faz parte de um


amplo esforço teórico, com perspectivas e métodos diferenciados,
de constituição de outro campo teórico (em oposição ao campo
construído pela Linguística Estrutural), que procura ir além dos
limites da frase, que procura reintroduzir, em seu escopo teórico, o
sujeito e a situação da comunicação, excluídos das pesquisas sobre
a linguagem pelos postulados dessa mesma Linguística Estrutural
– que compreendia a língua como sistema e como código, com
função puramente informativa. (Bentes, 2000. p. 259)

Ou seja, surge aqui uma proposta de trabalho que não mais está relacionada à análise de
frases isoladas, pois os estudiosos perceberam que ocorriam fenômenos linguísticos que a
análise sintática não dava conta de explicar. E, foi na perspectiva de solução de uma série de
questionamentos que uma nova área de conhecimento começou a ganhar seu escopo.
A Linguística Textual, até transformar-se no que é hoje, galgou um caminho que pode ser
estruturado em três momentos, apesar de não ser consensual entre os estudiosos dessa área
a ideia de passagem gradual de um momento para o outro. No entanto, essa perspectiva nos
servirá como balizador do desenvolvimento da LT ao longo do tempo.

1º Momento 2º Momento 3º Momento


Análise Transfrástica Gramáticas textuais Teoria do Texto

Percorreremos, brevemente, cada um desses momentos para entendermos, principalmente,


nosso momento atual, como chegamos a LT e suas vantagens na abordagem do texto.
O primeiro momento, conhecido como da análise transfrástica observa e tenta explicar os
fenômenos que acontecem no interior das frases e suas ligações na formação de períodos dando
que por fim, formam o texto. Nesse momento, os estudos caminham em uma direção que vai da
frase para o texto, para tentar explicar ocorrências que não eram satisfatoriamente equacionadas
por teorias sintáticas ou semânticas e que estavam notoriamente presentes nos enunciados como,
por exemplo, a construção de significados por meio de elementos de coesão referencial (aqueles
elementos que remetem a outros dentro do texto) ou até mesmo pela ausência desses elementos.

Trataremos dos elementos de conexão textual na unidade relativa a coesão. Aqui, queremos
que você perceba apenas que ouve uma mudança na tratativa da língua e para isso podemos
destacar dois conceitos de texto presente nesta fase:

...neste primeiro momento de constituição da Linguística Textual,


um dos principais conceitos de texto era o de Harweg (1968),
afirmando que um texto era “uma sequência pronominal
ininterrupta” e que uma de suas principais características era o
fenômeno do múltiplo referenciamento. Outro conceito de texto
importante era o de Isenberg (1970): um texto era definido como
uma sequência coerente de enunciados. (Bentes, 2000. p.261)

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Esses dois conceitos demonstram que a definição de texto está estritamente correlacionada a
ideia de encadeamento dos enunciados e seus significados por meio da presença ou ausência de
conectores textuais na cadeia sintagmática. Contudo, percebia-se que era necessário considerar
outros pontos interessantes: Por exemplo, o falante-leitor no momento de compreender o texto
ativa conhecimentos prévios sobre as relações significativas dos enunciados, independente se
existe ou não conectivos textuais grafados no sintagma; isso fez os teóricos perceberem relações
que transpassavam a noção de texto como um encadeamento dos significados de suas frases
e, na tentativa de depreender novas relações textuais, surge o segundo momento, denominado
como das “Gramáticas textuais”.
Era um projeto ambicioso, pois consistia na ideia de elaboração de uma gramática que
explicasse os fenômenos que ocorrem em todos os textos, da mesma maneira que se procedia
com as análises das frases.

É interessante ressaltar aqui que o projeto de elaboração de


gramáticas textuais foi bastante influenciado, em sua gênese,
pela perspectiva gerativista. Essa gramática seria, semelhante à
gramática de frases proposta por Chomsky, um sistema finito de
regras, comum a todos os usuários da língua, que lhes permitiria
dizer, de forma coincidente, se uma sequência linguística é ou não
um texto, é ou não um texto bem formado. Este conjunto de regras
internalizadas pelo falante constitui, então, a sua competência
textual. (Bentes 2000, p. 265)

Observe, caro(a) aluno(a), que existia a vontade de construir um compêndio que desse conta
de todos os elementos implicados na formação do texto e que servisse para justificar todas
as ocorrências dentro dele, por meio de regras aplicáveis a todo tipo textual. Ainda citando a
Prof.ª. Anna Christina Bentes:

Nas primeiras propostas de elaboração de gramáticas textuais, nas


palavras de Marcuschi (1998a), tentou-se construir o texto como
objeto da Linguística. Apesar da ampliação do objeto dos estudos da
ciência da linguagem, ainda se acreditava ser possível mostrar que
o texto possuía propriedades que diziam respeito ao próprio sistema
abstrato da língua. Dizendo de outra forma, as primeiras gramáticas
textuais representavam um projeto de reconstrução do texto como
um sistema uniforme, estável e abstrato. Neste período, postula-se
o texto como unidade teórica formalmente construída, em oposição
ao discurso, unidade funcional, comunicativa e intersubjetivamente
construída. (Bentes, 2000. p. 263)

Talvez, a contribuição mais relevante deste momento foi uma mudança de olhar, passou-se a
observar o texto não mais como uma projeção da frase para o texto, como se ele fosse o resultado
do encadeamento contínuo dos enunciados. Os autores que trataram desse tema nos trouxeram
contribuições interessantes pois “... possuem alguns postulados em comum. Em primeiro lugar,
consideram que não há uma continuidade entre frase e texto porque há, entre eles, uma diferença
de ordem qualitativa e não quantitativa, já que a significação de um texto, segundo Lang (1972),
constitui um todo que é diferente da soma das partes.” (Bentes, 2000. p. 263)
O projeto da gramática textual não vingou, pois os estudiosos perceberam que o texto não se
constituía como uma extensão das frases. Ao contrário, ele apresenta proposições bem distintas
das que organizam frases e parágrafos.

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Neste momento, emerge a noção de Competência Textual, que se apoia na percepção de


que o falante/leitor ativa muito mais do que os seus conhecimentos sobre regras gramaticais ao
produzir um texto, ele coloca em ação:

sua competência (de elaborar ilimitadamente um novo texto e avaliar se ele está bem
formativa construído ou não);

sua competência (competência a partir de um texto já existente de resumir, parafrasear ou


transformativa reformular o texto original);

sua competência ( competência para dizer a qual tipologia um dado texto se insere: narração,
qualificativa descrição, dissertação ou argumentação).

Assim sendo, a necessidade agora passa a girar em torno de uma teoria que busque responder
a questão. Quais os elementos que fazem de um texto um texto?
A Gramática textual não deu conta de responder a questão colocada acima, porém possibilitou
a transposição para um terceiro momento, no qual:

Os estudiosos começaram a elaborar uma teoria do texto, que,


ao contrário das gramáticas textuais, preocupadas em descrever
a competência textual de falantes/ouvintes idealizados, propõe-
se a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a
compreensão dos textos em uso. (Bentes, 2000. p. 265)

Apesar de interessante e importante para os estudos textuais, o projeto


de uma Gramática textual teria como dar certo? Você acredita ser
possível construir um modelo de análise textual que abarcasse todo e
Para pensar qualquer tipo de texto?

Esse, terceiro momento de estudo sobre o texto, foi denominado de Teoria Textual ou
Linguística Textual e será o sustentáculo dos estudos que norteiam o ensino de língua hoje
em todos os seus aspectos. Na base dessa teoria são observados os elementos que constituem
um texto, como ele funciona de forma prática ao circular nas mãos dos seus leitores, quais
mecanismos estão implicados na sua produção e quais os conhecimentos ativados para a
compreensão dos textos, ou seja, o texto passa a ser pensado pragmaticamente.

Pragmática é a ciência que estuda os fatos relacionados ao


Glossário
uso efetivo da língua no momento da comunicação.

Essa alteração na abordagem textual introduziu uma perspectiva que não apenas visualizava
os elementos internos ao texto, mas também considerava o contexto (elementos externos) como
responsável na produção de significados, e a partir de então o texto passa a ser visto como um
objeto dialógico e concreto e não apenas como uma unidade virtual e fechada em si mesmo.

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Caro(a) aluno(a), essa nova perspectiva, como verá no decorrer dessa disciplina, tem uma
função essencial no uso do texto pelos educadores, pois altera toda uma doutrina de análise
textual estruturante que estava arraigada nos estudos e nas produções textuais. Aqui surge uma
abertura na tratativa do texto. As mudanças teóricas

... fizeram com que se passasse a compreender a Linguística de Texto


como uma disciplina essencialmente interdisciplinar, em função das
diferentes perspectivas que abrange e dos interesses que a movem.
Ou ainda, mais atualmente, segundo Marcuschi(1998a), pode-se
desenhar a LT como “uma disciplina multidisciplinar, dinâmica,
funcional e processual, considerando a língua como não autônoma
nem sob seu aspecto formal.” (Bentes, 2000. p. 266)

Essas considerações nos permitem olharmos para o texto não mais fechado em si mesmo,
mas principalmente num processo multidisciplinar, ou seja, em constante conversa entre diversos
saberes e das mais diferentes formas. Atribuindo-lhe uma característica dialógica.

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Alguns autores fundamentais

Você viu que a LT desenvolve-se a partir de estudos realizados na Alemanha. Agora,


conversaremos um pouco sobre alguns autores que tiveram expressiva importância no
desenvolvimento da LT e com os quais você irá se deparar ao ler as bibliografias a respeito de LT.
Não faremos aqui um relatório exaustivo sobre cada um deles, ao contrário, apenas desejamos
que você se familiarize com os nomes, pois é muito comum observar que o aluno, quando
estuda sobre uma disciplina qualquer que seja, algumas vezes encontra enorme dificuldade em
compreendê-la por se deparar com citações e nomes de autores que nunca ouviu falar.
Respaldamo-nos aqui pelo texto “Linguística Textual: Retrospectos e Perspectivas”, da
Professora Ingendore Grunfeld Villaça Koch - 1997, de quem falaremos mais adiante, e
seguiremos a mesma ordem cronológica apresentada por ela no seu texto. Pois, como citamos
anteriormente, o nosso objetivo é situar você dentro de um contexto.

Roland Harweg
Roland Harweg é considerado um dos primeiros estudiosos da Linguística Textual na
Alemanha. Seus trabalhos adotam a noção de referencialização na análise textual e para
a constituição do texto. Pois, ele define texto como “uma sucessão de unidades linguísticas
constituídas por uma cadeia de pronominalizações ininterruptas”.
Dentro dessa concepção o texto se constitui como unidade pela boa articulação dos usos
dos pronomes ou expressões nominais quando retomam e/ou antecipam nomes. No entanto,
esse conceito não dará conta de definir o que seria um texto, pois somente o recurso da
referencialização não define a unidade textual e o texto como um todo.

Harald Weinrich
Harald Weinrich é um estruturalista, portanto suas propostas serão de base estrutural de
análise, para atingir esse intuito ele define o texto

como uma sequência linear de lexemas e morfemas que se


condicionam reciprocamente e que, também reciprocamente,
constituem o contexto. Isto é, o texto é uma “estrutura determinativa”,
“um andaime de determinações, em que tudo está necessariamente
interligado. Assim sendo, para ele, toda linguística é necessariamente
uma linguística de texto. (Koch,1997. p. 71)

Para esse autor tudo dentro do texto está intrinsecamente ligado formando uma estrutura
maior que será concebida como a unidade textual, sendo passível a construção de uma
“macrossintaxe do discurso” com o olhar voltado para as classes gramaticais. Koch comenta que
ele “postula como método heurístico o da “partitura musical”, que consiste em unir a análise
frasal por um tipo de palavras e a estrutura sintática do texto em um só modelo, tal como uma
“partitura musical a duas vozes”.” (Koch, 2001. p.13)

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Dieter Wunderlich
É um autor de grande importância na medida em que introduz os conceitos pragmáticos
na análise textual, pois aborda questões relativas à interação face a face, aos atos de
fala e a dêixis enunciativa.

interação face a A Interação face a face se estabelece em um contexto comunicativo onde os


face participantes do discurso estão presentes.

atos de fala Os atos de fala estão relacionados a produção linguística de certo tipo
enunciados e como eles devem ser compreendidos pelo receptor. (pedido,
ordem, proibição, desejo etc.)

dêixis Dêixis enunciativa designa um conjunto de palavras, conhecidos como dêiticos,


enunciativa que possibilita instaurar as categorias de pessoa, espaço e tempo no discurso.

Siegfried J Schmidt
Segundo Koch, este autor prefere a denominação Teoria de Texto à Linguística de Texto.
Isso se deve a sua concepção de texto como “qualquer expressão de um conjunto linguístico
num ato de comunicação – no âmbito de um ‘jogo de atuação comunicativa’ – tematicamente
orientado e preenchendo uma função comunicativa reconhecível”.

Elisabeth Gülich
Seus trabalhos se desenvolveram na Alemanha da década de 1970 e segundo Koch, sua
contribuição foi que “Entre seus objetos de pesquisa, destacaram-se os sinais de articulação
do texto (Gliederungssignale), os procedimentos de reformulação textual, a narrativa oral (em
conjunto com U. Quastoff), bem como a interação face a face de modo geral.”

Robert de Beaugrande e Wolfgang U. Dressler


Beaugrande & Dressler contribuíram na medida em que fazem uma abordagem considerando
tanto os elementos centrados no texto quanto aqueles centrados no usuário (leitor/ falante); ou
seja, trataram tanto do campo da coerência quanto da coesão, trazendo à tona o que chamaram
de padrões ou critérios de textualidade, como também questões relativas ao uso do texto. Koch
faz o seguinte comentário sobre eles:

Na obra Einführung in die Textlinguistik, Beaugrande & Dressler (1981) procederam ao


levantamento do que denominam critérios ou padrões de textualidade, que, segundo eles, seriam:
coesão e coerência (centrados no texto); informatividade, situacionalidade, intertextualidade,
intencionalidade e aceitabilidade (centrados no usuário). A obra é dedicada ao exame de cada
um desses critérios, bem como ao estudo do processamento cognitivo do texto, tomando por
base os pressupostos da semântica procedural. A maioria dos trabalhos posteriores na disciplina
incorpora essas questões, inclusive alargando o rol dos fatores de textualidade e dedicando
especial atenção, à questão da coerência. (Koch, 1997. p. 72)

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Teun A. Van Dijk


Van Dijk, na década de 1970 e meados da década de 1980, contribui com os conceitos:

• de macroestruturas textuais que está intrinsecamente ligado às questões de produção de


resumo;

• de superestruturas ou esquemas textuais que diz respeito ao estudo descritivo dos mais
diversos tipos de texto que circulam na sociedade.

Koch conta que Van Dijk “no início da década de 1980, passa a dedicar-se, parcialmente
em coautoria com Walter Kintsch (Van- Dijk & Kintsch, 1983), ao estudo das estratégias de
processamento textual, buscando construir um modelo de compreensão do discurso.”(1997, p.
73) e também desenvolve estudos com notícias de jornal. Esses estudos irão direcioná-lo a uma
linha de pesquisa denominada Análise Crítica do Discurso.
Abordamos alguns autores que participaram ativamente nas discussões que ocorriam entre
as décadas de setenta e oitenta e que colaboraram para a elaboração de um constructo teórico
a respeito dos estudos dos textos, cada qual com suas contribuições. No entanto, como bem nos
lembra Koch 1997, p. 73):

Não se pode falar de Linguística Textual sem mencionar alguns


autores funcionalistas, cujos trabalhos, embora não sejam
comumente considerados como fazendo parte dos quadros dessa
disciplina, tiveram enorme importância no seu desenvolvimento. É
o caso de Halliday e Hasan (1976), cuja obra Cohesion in English
define e explica o conceito de coesão, básico para os estudos
textuais; e dos funcionalistas de Praga (Danes, Firbas, Mathesius,
Sgall, entre outros), que descreveram a organização hierárquica da
informação em frases e sequências textuais, a partir da perspectiva
funcional, desenvolvendo as noções de tema/rema, dinamismo
comunicativo e progressão temática, que não só se mostraram
bastantes produtivas para o estudo do texto, como podem ser
consideradas como um de seus pontos de partida.

Apesar de não comentarmos sobre a relevância dos estudos dos linguistas franceses vale
colocar aqui uma pequena nota da Prof. Koch (2001:14) a respeito deles:

É preciso lembrar, também, os linguistas franceses como Charolles,


Combettes, Vigner, Adam e outros que se dedicaram aos problemas
de ordem textual e à operacionalização dos construtos teóricos para
o ensino de línguas. Eles abarcaram as questões relativas à coesão
e coerência que estavam em destaque na década de oitenta.

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Como as coisas aconteceram no Brasil

Para conversarmos a respeito da introdução da Linguística Textual no Brasil, contaremos


com um trabalho da Profa. Leonor Lopes Fávero, chamado “Linguística Textual: Memória e
Representação”- 2012.
Anteriormente, falamos sobre os grandes nomes da Linguística Textual, principalmente na
Alemanha, agora queremos que você conheça os três primeiros textos que introduzem essa
disciplina no Brasil.
Como mencionado anteriormente, foi na década de setenta que os estudos a respeito do
texto se desenvolveram até chegar a uma Teoria do Texto (conhecida como Linguística Textual).
No entanto, no Brasil, foi apenas na década de oitenta que surgiram os primeiros trabalhos
nesta área. Aqui, nos deteremos nos três primeiros trabalhos que se tem notícia (e que são
objeto do referido artigo da Prof. Fávero)

Ano Autor Obra


1981 Prof. Dr. Ignácio Antonio Neis Por uma gramática textual
1983 Prof. Luiz Antônio Marcuschi Linguística de texto- o que é e como se faz?
Profas. Ingendore Villaça Koch e
1983 Linguística textual - Introdução
Leonor Lopes Fávero

Essas três obras formam juntas um marco inicial nas discussões sobre linguística textual,
falaremos um pouco de cada uma delas a seguir.
O trabalho do Prof. Ignácio Antônio Neis é um artigo publicado na revista Letras de Hoje,
revista do curso de Pós-Graduação em Linguística e Letras do Centro de Estudos Portugueses da
PUCRS, em junho de 1981, n. 44. Esse artigo, apesar da sua importância, foi pouco mencionado
e utilizado nos trabalhos de LT, no entanto, cabe ressaltar o que Fávero (2012. p. 228) comenta
sobre ele:

O artigo objetiva dar uma visão de conjunto quanto ao surgimento


e ao objeto da gramática textual. Divide-se em quatro partes mais
uma introdução em que diz ser de grande interesse a hipótese de
que a comunicação linguística se efetua, não com frases sucessivas,
mas com textos, e em qualquer texto, encontram-se elementos
essenciais, ausentes ou inexplicáveis dentro das frases tomadas
isoladamente

E continua:

Constatando a existência de relações específicas interfrasais e a


possibilidade de se definir um texto como um todo coerente, um
grande número de linguistas modernos europeus desde a década
de 1960, passaram a formular hipóteses e a estabelecer princípios
de novos modelos de descrição linguística que ultrapassem o

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

âmbito da frase; e procuraram elaborar gramáticas que deem


conta dos problemas de coerência textual e que sejam adequadas
tanto para caracterizar os diversos aspectos dos diferentes tipos de
textos quanto para engendrar modelos de produção de textos bem
formados de acordo com determinada língua. (Fávero 2012: 228)

Neste trabalho, o Prof. Neis falou sobre diversos conceitos da teoria do texto voltados para as
questões da pragmática, da coesão e coerência e seus precursores.
Já o trabalho do Prof. Luiz Antônio Marcuschi, surgiu por ocasião de uma conferência
realizada na PUC/SP no IV Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa do Instituto de Pesquisas
Linguísticas. O que foi em um primeiro momento um artigo tornou-se depois um livro (apesar de
algumas modificações) com o mesmo nome e publicado pela editora Parábola. Marcuschi deixa
claro que o objeto da linguística é o texto, “o texto é uma unidade linguística hierarquicamente
superior à frase. E com certeza: a gramática de frase não dá conta do texto.” (2012. p.16) e
ainda nos diz mais...

Julgo de interesse uma análise sistemática do que seja e como se


faz a LT, pois ela é uma das linhas de pesquisa mais promissoras
da linguística atual. Os resultados existentes, mesmo não sendo
definitivos, são muito animadores, especialmente pelas perspectivas
de revitalização teórica que oferecem à linguística e pelas soluções
que poderão propiciar ao estudo da comunicação humana e ensino
de línguas. (2012. p.16)

Neste trabalho, Marcuschi trará algumas definições de texto e as categorias textuais, a saber:
Fatores de contextualização, Fatores de conexão sequencial (coesão), Fatores de conexão
conceitual-cognitiva (coerência) e Fatores de conexão de ações (pragmática).
Por fim, veremos a obra das Professoras Leonor Lopes Fávero e Ingedore Villaça Koch –
Linguística Textual – Introdução, foi escrita em 1982 e publicada em 1994. Esse livro nos permite
criar um panorama da linguística textual, e está dividido em três capítulos:

1° O primeiro capítulo apresenta quais fatores propiciaram o surgimento das gramaticas textuais;

2° O segundo é voltado aos autores que abordaram em seus estudos elementos que vão
além da fronteira dos enunciados além de falarem de algumas disciplinas que tiveram
o texto como interesse;

3° O terceiro volta-se para autores tanto estruturalistas quanto gerativistas.

Caro(a) aluno(a), sugiro como leitura de aprofundamento tanto o livro do


Prof. Marcuschi, como o livro das Professoras Fávero e Koch, que estão na
bibliografia dessa unidade ao final do material teórico.

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O Texto, Nosso Incrível Objeto de Estudo
Vamos conversar um pouco sobre o objeto de estudo da Linguística Textual, o texto. Esse que
desperta fascínio em todos aqueles que se interessam por ele e que apesar de nos ser tão familiar
no dia a dia, também nos reserva mistérios ainda por serem decifráveis.
Existe uma única coisa da qual se pode ter certeza, lembrando Marcuschi (2012. p.16), ao falar
que a LT dispõe, porém, de um dogma de fé: o texto é uma unidade linguística hierarquicamente
superior à frase. E a gramática de frase não dá conta do texto.
Para nos apropriarmos de uma definição de texto que nos seja mais confortável, trataremos
de algumas definições propostas por Marcuschi em seu texto “Algumas definições de texto” que
se encontra no livro “Linguística de texto: o que é e como se faz?”.

Caro(a) aluno(a), sugiro a leitura do livro Linguística de texto: o que é e


como se faz?, por tratar-se de obra indispensável para quem deseja aprofundar-
se nos estudos textuais.

Apesar de as pessoas saberem intuitivamente o que seja um texto e quais as suas diferentes
funções, a dificuldade está em definir esse objeto. Essa dificuldade não se encontra apenas
entre pessoas leigas no assunto, mas também ocorre entre aqueles que desejam tomar o texto
como seu instrumento de análise.
As definições que mostraremos a seguir, orientam-se por dois caminhos distintos, a saber:

A partindo de critérios internos ao texto (olhando-o do ponto de vista imanente ao


sistema linguístico) e

B partindo de critérios temáticos ou transcendentes ao sistema (considerando o texto


como uma unidade de uso ou unidade comunicativa) (Marcuschi, 2012. p.22)

Imanente significa interno ao texto. Transcendente que


Glossário está fora do texto.

Essas duas definições dizem respeito a duas possibilidades de observação analítica do texto:

1° A primeira, diz respeito a uma abordagem que considere os elementos constitutivos do


texto e a sua boa formação interna e

2° A segunda, parte dos elementos ativados quando se coloca esse texto em uso, os
critérios externos, relativos ao contexto.
Agora, observaremos algumas definições que se baseiam nos critérios da alternativa A e,
logo em seguida, algumas definições que se sustentam nos critérios da alternativa B.
A classificação de texto baseada no primeiro critério de imanência do sistema linguístico
subsidia a proposta de criação das gramáticas textuais, pois considera o texto como uma
sequência coerente de sentenças.

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Ou seja, o texto seria definido apenas pelos seus elementos internos, desconsiderando os
elementos que fazem parte do nível cognitivo-conceitual e pragmático.
No entanto, essa abordagem do texto apresentou uma série de brechas porque na construção
de sentido dos textos os elementos do nível cognitivo-conceitual e pragmático são fundamentais.
A seguir, apresentaremos as definições de Zellig S. Harris, Roland Harweg, Irena Bellert
e Harald Weinrich. Que se definem pelo primeiro critério, aquele que observa os elementos
internos do texto. Veja:

“Um texto (discurso) compõe-se de uma sequência


de expressões ou sentenças ligadas, podendo ir desde
Zellig S. Harris sentenças de uma só palavra até uma obra de vários
volumes”. (Apud Marcuschi, 2012. p.23)

“Texto é uma sucessão de unidades linguísticas


Roland Harweg constituídas por uma cadeia pronominal
ininterrupta”(1968, p. 148.). (apud Marcuschi, 2012. p 24)

“Um texto é uma sequência de sentenças S1S2,...Sn


de tal modo que a interpretação semântica de cada
Irene Bellert sentença Si (para 2> i>n) depende da interpretação
S1 ... Si1”[Cf. I. Bellert (1970, p. 335)]. (apud Marcuschi,
2012. p.25)

“Texto é uma sequência ordenada de signos linguísticos


entre duas interrupções comunicativas importantes”[cf.
Harald Weinrich H. Weinrich (1976, p. 186 – 187)]. (apud Marcuschi
2012. p.25)

Observe que todas as definições propostas trabalham com a ideia de ordenação das palavras
na frase como forma de constituição do texto.
Passemos agora, as definições de texto a partir de critérios temáticos e transcendentes ao texto.
Essas definições encontram suas bases em relações que ultrapassam o limite do encadeamento
frasal, ao perceberem que existem elementos que colaboram para a construção do texto e que
estão fora dele.
Na perspectiva que considera também os elementos externos ao texto, trabalha-se com as noções de
contextos (os elementos que estão fora do texto) e cotexto (trata-se dos elementos de ligação estrutural
dentro do texto). Esses dois termos, contextual e cotextual, são propostos por Petöfi.
Cotejemos as definições de Janos S. Petöfi, Teun van Dijk, Siegfried Schmidt e M. A. K.
Halliday e R. Hasan:

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“Uma sequência de elementos linguísticos escritos
ou falados organizados como um todo, com base em
Janos S. Petöfi algum critério qualquer (geralmente extralinguístico),
resultam num texto”. (Apud Marcuschi, 2012: 26)

O texto “é uma estrutura superficial governada por


uma estrutura semântica profunda motivada”, ou seja,
Teun van Dijk “um conjunto ordenado de sentenças da estrutura
profunda”(cf. van Dijk, 1978 e 1977). (Apud Marcuschi
2012: 27)

“Texto é qualquer expressão de um conjunto linguístico


num ato de comunicação (no âmbito de um jogo-de-
ação comunicativa), sendo tematicamente orientado e
Siegfried Schmidt preenchendo uma função comunicativa reconhecível,
ou seja, realizando um potencial ilocutivo reconhecível”.
(Apud Marcuschi 2012: 28)

“Um texto é uma unidade em uso. Não é uma unidade


M. A. K. Halliday gramatical, tal como uma frase ou uma sentença; e não
é definido por sua extensão. (...) Um texto é, melhor
e R. Hasan dizendo, uma unidade semântica: não uma unidade de
forma e sim de sentido”. (Apud Marcuschi, 2012. p.28)

Nas definições propostas agora, observe que ocorreu uma transposição da abordagem
puramente interna (cotextual) para a abordagem que considera os elementos externos
(contextual). Essas definições consideram o texto como elemento comunicativo.
Chegamos ao fim da nossa unidade, você teve ao longo dela o prazer de passear pelo
universo da Linguística textual, conhecendo sua trajetória, alguns de seus grandes nomes e seu
objeto de estudo.
Esperamos ter despertado em você o interesse ou pelo menos a curiosidade de saber mais
sobre os mistérios que envolvem o TEXTO.

19
Unidade: Introdução à Linguística Textual

Material Complementar

Para aprender mais sobre os conteúdos trabalhados nesta unidade, indicamos os links a seguir:
Vídeo:
Palestra de atualização do site Livro e Net, proferida pelo Prof. Aguinaldo Martino. Título: A
linguística textual: um novo enfoque para o estudo da língua. A palestra aborda as questões
sobre o desenvolvimento da Linguística Textual. Último acesso em 15/10/2014.
https://www.youtube.com/watch?v=iGpXlQzyckQ

Leituras:
Entrevista escrita, da Professora Ingedore Villaça Koch à Revista Virtual de Estudos da
Linguagem - ReVEL. Vol. 1, n. 1, agosto de 2003. Nesta entrevista, a Prof. Ingedore fala
sobre o ensino de Língua portuguesa a partir dos conceitos introduzidos pela linguística
textual. Último acesso em 10/10/2014.
http://www.revel.inf.br/files/feae2f57341478af7ec218b4fc44d8e8.pdf

Linguística Textual X Produção de Texto na Escola: Uma Combinação Possível? - Artigo


da Profª. Marcilene Oliveira Sampaio (UFES/UNEB) que traça um panorama dos
desenvolvimentos da linguística textual.
http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/Linguística textual x produção de texto na escola- uma combinação possível - MARCILENE.pdf

Não deixe de acessar o material complementar, pois é muito importante sua ação como
protagonista na construção dos seus conhecimentos.

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Referências

BENTES, Anna Christina. A Linguística Textual. In: Mussalim & Bentes (orgs.) Introdução a
Linguística, vol. I, São Paulo: Cortez, 2000.

FÁVERO, Leonor Lopes. Linguística Textual: Memória e representação. In: Revista


Filologia e linguística portuguesa, n.14 (v.2): 225-233, 2012.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Linguística Textual: Retrospectos e Perspectivas. In: Revista


Alfa, v. 41: 67-78, 1997.

____________. A coesão Textual. 16.ed. – São Paulo: Contexto, 2001. – (Repensando a


Língua Portuguesa)

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? – São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.

Referência Bibliográfica: (disponível para consulta)

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? – São Paulo:
Parábola Editorial, 2012.

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Unidade: Introdução à Linguística Textual

Anotações

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