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Letras – Português e Espanhol

Disciplinas: Linguística Textual e Gêneros Textuais Acadêmicos (3° semestre)


Docente: Camila Candido
Discente: Emilly de Almeida Queiroz

RESENHA

KOCH, Ingedore Grünfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Conceito de coerência.


In: KOCH, Ingedore Grünfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência
textual. São Paulo: Editora Contexto, 1989.

KOCH, Ingedore Grünfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Coerência textual: um


princípio de interpretabilidade. In: KOCH, Ingedore Grünfeld Villaça; ELIAS, Vanda
Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Editora Contexto,
2006.

CREDENCIAIS DOS AUTORES

Ingedore Grünfeld Villaça Koch nasceu em 1933, na Alemanha. Chegou ao


Brasil em 1939 e se naturalizou brasileira. Licenciada em Letras pela Faculdade de
Filosofia, Ciência e Letras Castro Alves e bacharel em Direito pela Universidade de
São Paulo (USP), foi mestre e doutora em Língua Portuguesa pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e livre-docente em Análise do
Discurso pela Universidade de Campinas (Unicamp). Autora dos livros A coerência
textual, A coesão textual (1989), A Introdução à Linguística Textual (2004),
Argumentação e linguagem (1984), Desvendando os segredos do texto (2002), O
texto e a construção dos sentidos (1997), entre outros, Koch é uma das maiores
referências da linguística no país, principalmente nos estudos de texto e discurso.
Faleceu em 2018, aos 84 anos.

Luiz Carlos Travaglia é graduado em Licenciatura Plena Letras pela


Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em Letras (Língua Portuguesa)
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), doutor em
Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com pós-
doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem
diversos artigos publicados, e seus livros mais notáveis são: Na trilha da gramática:
conhecimento linguístico na alfabetização e letramento (2013), O aspecto verbal no
Português: A categoria e sua expressão (1981) e Gramática e interação - Uma
proposta para o ensino de gramática (1996).

Vanda Maria Elias é doutora em Língua Portuguesa pela Pontifícia


Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É professora do Departamento de
Letras da Unifesp. Desenvolve pesquisas relacionadas à leitura, produção de textos
e ensino de língua portuguesa. Integra os grupos de pesquisa Protexto
(CNPq/UFC) e Texto, Escrita e Leitura (CNPq/PUC-SP). Pela Contexto é
organizadora dos livros Ensino de Língua Portuguesa e Linguística Textual e
Ensino, e coautora dos livros Pequena Gramática do Português Brasileiro, Ler e
Escrever, Ler e Compreender, Escrever e Argumentar.

SOBRE O CAPÍTULO “CONCEITO DE COERÊNCIA” DO LIVRO “A COERÊNCIA


TEXTUAL”

Nesse capítulo os autores explanam, de forma muito didática, o conceito de


coerência, mostrando o que é, como ocorre e qual a sua relação com a coesão.

Mesmo sem perceber, a coerência é constante em nosso dia a dia. Quando


lemos ou ouvimos algo, pensamos se isso faz sentido ou não, e é ai que a
coerência se encaixa. Contudo, a coerência não depende exclusivamente do que é
dito no texto, mas também do que não é dito. Muitas vezes palavras ou expressões
decisivas para a compreensão do texto não estão escritas, mas estão ali de forma
implícita, e a habilidade de um bom leitor de conseguir ler o que não está escrito é
crucial para o completo entendimento. Para que isso ocorra, é necessária uma
interação entre leitor e texto, e um bom uso dos conhecimentos de mundo obtidos
pelo leitor. Afinal, nós produzimos sentido para aquilo que lemos.

Koch e Travaglia nos apresentam, como exemplo, um texto que leva o título
“Oito Anos”. Quando o lemos pela primeira vez, parece incoerente. O texto é
composto por várias frases interrogativas com os assuntos mais aleatórios possível,
totalmente desconexos. Mas quando entendemos que as perguntas presentes ali,
são, na verdade, perguntas do filho da autora do texto que tem, como mencionado
no título, 8 anos, tudo parece fazer sentido. Utilizamos o nosso conhecimento de
mundo para entender o que está implícito no texto e conceber um sentido para ele.

Por muito tempo coesão e coerência foram tratadas como sendo a mesma
coisa. Mas depois de estudos, perceberam que por mais que elas andem lado a
lado, não são iguais. A diferença básica entre elas seria que a coesão encontra-se
no texto, enquanto a coerência não encontra-se nele, mas ela se constrói a partir
dele. Como já dito, ela reflete os conhecimentos que o leitor já tem.

Os autores expõem a ideia de Charolles (1983) de que a coerência é um


princípio da interpretabilidade do discurso, e sempre que conseguirmos atribuir
sentido a um texto, significa que ele é do domínio da coerência. Vemos o exemplo
do texto “Sobrevivência na selva” de Carlos Heitor Cony, onde, mesmo cheio de
“contradições”, o leitor consegue facilmente encontrar a coerência.
Também encontramos os tipos de coerência mencionados por Van Dijk e
Kintsch (1983), que são:
• Coerência sintática – está relacionada ao conhecimento linguístico do leitor, o
uso de elementos e estruturas corretas;
• Coerência semântica – está relacionada ao sentido das palavras expressões
presentes no texto;
• Coerência temática – todos os enunciados precisam ser relevantes para o
entendimento do texto;
• Coerência pragmática – as falas que serão realizadas no texto precisam estar
relacionadas entre si, de alguma forma;
• Coerência estilística – utilização da variedade linguística adequada à
situação;

• Coerência genérica – o texto precisa estar de acordo com as exigências do


gênero textual ao qual pertence.
Por fim, conclui-se que a leitura requer não apenas entender e interpretar,
mas também uma consulta a todos os conhecimentos previamente adquiridos pelo
leitor para que possa interagir com o texto e encontrar os elementos implícitos nele,
fazendo com que o texto tenha um sentido completo.

SOBRE O CAPÍTULO “CONCEITO DE COERÊNCIA” DO LIVRO “LER E


COMPREENDER”

Koch e Elias iniciam o capítulo com uma informação que é, de fato, muito
importante: a coerência não pode ser definida por um único conceito, mas sim pelo
conjunto de vários deles.
É por meio da coerência que os leitores conseguem estabelecer o sentido do
texto, por isso é considerada um princípio de interpretabilidade. Mas para haver
coerência, é necessário encontrar uma forma de relacionar os elementos presentes
no texto, e isso só é possível após análise de todo o contexto. Que tipo de análise?
Perceber sobre o que o texto fala, se atentar ao título que por muitas vezes pode ser
o elemento “implícito” principal para o entendimento, não deixando de notar que a
relação semântica pode, muitas vezes, também ser pragmática.

Para Widdowson (1978) a coerência é a relação entre os atos da fala que as


preposições realizam, e temos como exemplo o seguinte diálogo:
A: O telefone!
B: Estou no banho!
A: Certo!

Para que esse diálogo seja coerente é necessário analisar também o que não
está escrito, as informações implícitas, ou ele não vai fazer sentido. A primeira frase
de A para B “o telefone!” indica que o aparelho está tocando e é para B atendê-lo,
mas quando B responde com “estou no banho!” seria o mesmo que dizer que não
pode atender o aparelho naquele momento pois está tomando banho. Se
levássemos em conta apenas o que está explícito no texto, e não as ideias
implícitas, seria impossível encontrar a coerência. Pareceria apenas um diálogo com
frases aleatórias, que não fazem o menor sentido.

Ao falar sobre a forma em que a coerência se estabelece na interação entre


dois usuários, as autoras mencionam Charolles (1979: 81), que compartilhava de
um pensamento muito parecido. Para ele, coerência é uma qualidade dos falantes e
do texto para que sejam reconhecidos como “bem formados”. No caso do texto, uma
boa formação não tem ligação com os elementos gramaticais utilizados, mas sim
com a ideia que ele passa.
Mencionam também os tipos de coerência de acordo com Dijk e Kintsch
(1983), que são:
• Coerência semântica – que é a relação entre os significados dos elementos
do texto;
• Coerência sintática – são os meios sintáticos para expressar a coerência
semântica, são os conectivos, pronomes, etc;
• Coerência estilística – é o uso da linguagem correta voltada para o público e
a situação correta;

• Coerência pragmática – é o texto visto como sequência de atos e falas.

Como bem notado por Charolles, a coerência se relaciona com a coesão pois
os elementos superficiais do texto servem como pistas para que a coerência seja de
fato estabelecida. Por mais que a coesão auxilie do estabelecimento da coerência,
ter um texto coeso não significa ter um texto coerente.
Embora o interesse em separá-las seja grande, as autoras concluem dizendo
que coesão e coerência são, na verdade, as duas faces de um mesmo fenômeno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após leitura e análise dos capítulos mencionados ao decorrer do trabalho,


podemos perceber uma grande similaridade entre as duas obras, isso talvez se
deva ao fato de que Ingedore Koch participa de ambos os livros, então essa
similaridade notada pode ser referente ao pensamento da autora.

As noções do que é coerência, de como podemos notar se um texto é


coerente ou não e os princípios baseados no pensamento de outros autores como
Charolles, Van Dijk e Kintsch estão presentes nas duas obras, de forma que se
completam. Os mesmos assuntos com abordagens um pouco diferentes talvez
facilitem a compreensão do leitor que optar por ler os dois livros.

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