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Introdução

O presente trabalho da cadeira de Línguas Bantu é orientado sobre a temática das estruturas dos
nomes nas línguas bantu. Importa referenciar que Quando ouvimos a palavra nome, temos logo a
ideia de identidade. Isso é porque o nome é uma palavra atribuída a pessoas, animais, eventos,
coisas e objectos, para os distinguir dos demais seres ou objectos semelhantes, atribuindo-lhes
uma identidade própria. Assim, quando atribuído aos seres humanos, por exemplo, a uma criança
ao nascer, esse nome denomina-se de nome próprio, apelido, nome de casa, nome tradicional,
entre outras denominações, neste sentido a mesma dinâmica funciona para as línguas bantu.

O trabalho esta estruturado da seguinte forma; introdução a qual vai compreender a


contextualização, a estrutura do trabalho, os objectivos do trabalho e a metodologia.
Desenvolvimento que compreende o desenrolar das discussões a respeito da temática proposta, a
conclusão que se vai focar em fazer um resumo a respeito do tema discutido no decurso do
trabalhos as referencias bibliográficas que é na sua essência uma listagem das principais fontes
do trabalho.

Objectivos
Geral
 Compreender a estrutura de nomes nas línguas bantu

Específicos
 Descrever os aspectos essenciais da morfologia das línguas bantu;
 Analisar as principais classes nominais das línguas bantu;

Aspetos Morfológicos das Línguas Bantu

A morfologia tem por objeto descrever as estruturas e os processos de formação de palavras em


qualquer língua natural, tendo por base as unidades mínimas Morfemas/lexemas que compõem
uma palavra (cf. Azuaga, 1996, Villalva, 2008, Mota, 2016). A presente secção dedica-se, como
já referimos, à descrição da morfologia das LB, retendo o essencial da morfologia do verbo.

As LB são ricas em morfologia flexional, e em morfologia derivacional (Ngunga, 2002, 2004). O


autor parte do pressuposto de que nas LB cada elemento (morfema) que compõe uma palavra
(Nome, Verbo, Adjetivo, etc.,) contém um significado. As palavras nas LB apresentam a forma
típica, prefixos-base-sufixos. Ou seja, a estrutura morfológica do nome, p. e., consiste de duas
partes, um radical nominal (RN) e um prefixo ou um morfema zero (Ø), que precedem o RN, a
que o nome pertence (Ngunga, 2002; Andrade, 2007). Pelo contrário, os verbos apresentam uma
estrutura morfológica diversa, no sentido em que o verbo na forma infinitiva apresenta um
morfema de infinitivo na posição inicial e o radical verbal, e na forma finita apresenta uma
estrutura com vários elementos (morfemas), sendo que cada um destes desempenha uma função
específica.

Morfologia nominal em bantu

Segundo Ngunga (2004), o nome é definido como uma palavra variável que se usa para designar
coisas, seres, eventos, estados, pessoas. Ainda segundo este autor, nas diferentes línguas, o nome
pode apresentar diferentes estruturas, podendo variar em termos de classe, género e número. O
que tem chamado atenção a vários estudiosos em relação ao nome em bantu é a “forma
sistemática como nessas línguas os nomes se organizam de acordo com os seus prefixos que
indicam tanto o número como o género (numa perspectiva totalmente diferente da oposição
feminino vs. masculino ou vs. neutro” (Ngunga 2004:107). Nas línguas bantu a relação entre o
nome e as outras palavras sintacticamente dependentes deste é marcada por concordância numa
frase usando várias estratégias. Uetela (2009) estudou as estratégias de concordância com
sintagmas nominais complexos em Citshwa de que concluíu que nesta língua as estratégias de
concordância eram complexas, complexidade que não se deve a existência de um vasto
reportório de estratégias, mas à factores intrínsicos à língua.
Classes nominais

Quanto à abordagem das classes nominais, Ngunga (2004) refere que foi Bleek (1862,1869)
quem notou pela primeira vez que os nomes das línguas bantu se organizavam em grupos de
acordo com seus prefixos ou com o mesmo tipo de padrão de concordância.Antes da sua morte,
Bleek (1869) teria conseguido estabelecer 16 classes nominais a partir da observação de
diferentes línguas. Ainda segundo Ngunga (2004:108),

“o trabalho deixado incompleto por este autor foi continuado por outros
estudiosos, dentre os quais Meinhof que, em 1899, acrescentou três prefixos
locativos à lista de Bleek, ficando assim uma lista de 19 prefixos. Mais tarde,
Meinhof (1906) acrescentou dois prefixos, nomeadamente, ‫أل‬u- (classe 20) e ‫أل‬u-
(classe 21). Como corolário das suas investigações Meinhof (1910) apresentou
uma lista de prefixos nominais correspondentes, a 21 classes nominais do que
seria para ele Proto-Bantu, que representa uma espécie de síntese do seu trabalho
e do trabalho de Bleek”.

Prefixos nominais segundo a proposta de Meinhof (1910), (Ngunga, 2004).

Classes Prefixos
1 *um-
2 *va-
3 *um-
4 *mi-
5 *li-
6 *ma-
7 *ki-
8 *vi-
9 *ni-
10 *lî-ni-
11 *lu-
12 *tu-
13 *ka-
14 *vu-
15 *ku-
16 *pa-
17 *ku-
18 *um-
19 *Pî-
20 *Yu-
21 *Ya-

Para Guthrie (1967-1971) citado em (Aurélio, 2017), outro estudioso que se interessou pelo
estudo das línguas bantu, depois de analisar a lista de prefixos nominais apresentada por Bleek
com acréscimos deMeinhof que propôs uma nova lista composta apenas por 19 classes nominais,
tal como inicialmente fora proposta por Bleek, conforme atesta a tabela em baixo:

Lista de prefixos nominais proposta por Gutrhie (1967-71), (Ngunga, 2004) citado por (Aurélio,
2017)

Classes Prefixos (1)


1 *mu-
2 *ba-
3 *mu-
4 *mi-
5 *į-
6 *ma-
7 *ki-
8 *bį-
9 *N-
10 *N-
11 *du-
12 *tu-
13 *ka-
14 *bu-
15 *ku-
16 *pa-
17 *ku-
18 *um-
19 *pį-

O sistema de classes nominais, tem conhecido uma mutação constante ao longo da história.
Como se pode verificar acima, da lista proposta por Bleek, passando por Meinhof até Guthrie, há
mudanças tanto no número de classes como na realização de prefixos correspondentes a
diferentes classes.

Ainda sobre as classes nominais, para Ngunga (2004:108), “elas constituem um conjunto de
nomes com o mesmo prefixo e/ou o mesmo padrão de concordância”.

Portanto, para que um nome se possa considerar como pertencendo a uma certa classe é preciso
que exiba o mesmo prefixo e/ou o mesmo prefixo de concordância que outros nomes da mesma
classe. Caso contrário não pode ser membro da classe (Ngunga, 2004).

Sitoe (1996) diz que nas línguas bantus, o nome compreende duas partes: (i) o prefixo, que varia
em função do tema nominal e (ii) o tema nominal, que recebe o prefixo para em conjunto
formarem o nome pertencente a uma determinada classe nominal.

Em relação à morfologia do nome, Ngunga (2004) defende que este obedece a uma estrutura
constituída por afixos que transportam as marcas de (singular/plural) e tema nominal que
expressa informação semântica.

No geral, tanto os nomes como os verbos apresentam uma base precedida de um ou mais
morfemas ligados (cf. Andrade, 2007:122). Veja-se os exemplos em (2) e (3) ilustrativos de
nome e em (3a) ilustrativos de nome derivado, e o exemplo em (3b).

(2) Yao:

a. mu-si

PN - RN
“aldeia”

b. lu-sulo

PN - RN

“Rio”

Exemplos:
Ciyaawu: Cipula ca muumbele cila cijaasiice. “Aquela faca que me deste perdeu-se.”

cigaayo ca cikulungwa “moagem grande”

Cithswa: Mugondzisi avhumele muholo. “O professor não teve seu salário.”

Josiyani avitanilwe hi kokwani. “O Jossias foi chamado pela vovó.”

Nos exemplos de Ciyaawo e Citshwa, observamos o que se disse anteriormente. Em Ciyaawo,


temos nomes cipula e cigaayo, que exibem os mesmos prefixos, e, por conseguinte, o mesmo
padrão de concordância. Em contraste, nos exemplos em Citshwa, o nome Josiyani não exibe
nenhum prefixo como acontece com mugondzisi, embora os mesmos nomes pertençam à mesma
classe. Com efeito, ambos desencadeiam o mesmo padrão de concordância avhumele e
avitanilwe, cujo morfema de concordância é a-, respectivamente.

No que concerne à organização lexical, estudos indicam que a organização das palavras em
classes tem, historicamente, uma base semântica, uma vez que (i) em muitos casos ainda persiste
a ocorrência de nomes pertencentes ao mesmo grupo semântico e (ii) existem também outras
classes onde há predominância de nomes que, facilmente, podem ser agrupados em conjuntos
mais gerais. Porém, independentemente desta realidade, é quase impossível encontrar uma classe
nominal que seja constituída apenas e, exclusivamente, por nomes da mesma classe semântica.

Por exemplo, em Emakhuwa, mwalapwa /alapwa “cão /cães” encontram-se nas classes 1 e 2,
respectivamente, predominantemente, referentes ao ser humano.

A seguir, apresenta-se uma tabela ilustrativa de prefixos e classes nominais das línguas
moçambicanas.
Prefixos Alomorfes dos prefixos
Classes do do Proto-Bantu nas
Categorias semânticas predominantes
nominais Proto- línguas bantu de
Bantu Moçambique

1 *mu- mu-, mwa-, n’-, Nomes que se referem a seres


2 *ba- n’wa-, m’-, ø- humanos, basicamente
va-, a-

3 *mu- mu-, n’-, ø- Nomes que se referem a plantas,


4 *mį- mi- predominantemente

5 *į li-, lu-, ni-, ri-, di-, ø- Nomes que se referem a animais e


6 *ma- ma-, ø- frutas, basicamente, e a substâncias e
coisas incontáveis

7 *ki- xi-, ci-, e-, shi-, ki-, gi- Nomes que se referem a coisas,
8 *bį- svi-, zvi-, i-, si-, vhi-, vi-, objectos, basicamente.
pi-, bzi-, yi-

9 *N- ø-, ya-, m-, n- Nomes que se referem a alguns seres


10 *N- ø-, dza-, ti-, di-, zi- do reino animal e outros

11 *du- lu-, li- Nomes que se referem


predominantemente a coisas longas

12 *ka- ka- Nomes que se referem


13 *tu- tu- predominantemente ao diminutivo no
singular
Nomes que se referem ao diminutivo
no plural

14 *bu- wu-, vu-, u-, o- Nomes que se referem


predominantemente a coisas abstractos,
incontáveis
15 *ku- ku-, gu-, o- Formas infinitivas verbais

16 *pa- pa-, ha-, va- Locativos situacionais


17 *ku- ku-, gu-, o- Locativos direccionais
18 *mu- mu- Locativos de interioridade

19 *pį-

Tabela: Resumo dos prefixos e classes nominais das línguas bantu moçambicanas.

Fonte: Ngunga (2004)

Estrutura do nome nas línguas Bantu de Moçambique

O nome/substantivo pode ser classificado usando-se vários critérios e daí surgir a sua
categorização. Um dos principais critérios para a classificação do nome é a sua estrutura. Nas
línguas moçambicanas e noutras do mundo, o nome varia em classe, género e número. Nas
línguas moçambicanas, o nome chama atenção pela forma como se organiza de acordo com os
prefixos que indicam, tanto o número gramatical, como o género, ao contrário da oposição
feminino e masculino ou neutro, dos quais estamos habituados na língua portuguesa. Aliás. Uma
das características principais que vimos é que as línguas moçambicanas são, por excelência,
prefixais. (Ngunga, 2002)

O nome na sua língua moçambicana apresenta duas partes muito bem destacadas e que ocupam
lugares distintos e estáveis. Essas partes têm características específicas, sendo que a primeira,
denominada por prefixo que, geralmente, mostra a distinção entre o singular e o plural, é
variável, ao passo que a segunda, designada tema, é constante, excepto em situações em que os
segmentos do prefixo ocasionam alterações morfofonológicas. Veja-se os exemplos seguintes:

Exemplos:
Emakhuwa: kharumu vs. akharumu “leão vs. leões”
mwalapwa vs. alapwa .[mu-alapua] “cão vs. cães”

Cinyungwe: mwezi .[mu-ezi] “lua/mês”

Citshwa: cimanga vs. zvimanga “gato vs. gatos”


Empréstimos nominais e critérios de sua integração nas línguas moçambicanas

De acordo com (Patel, Majuisse, & Tembe, 2018) os empréstimos constituem uma forma de
enriquecimento do vocabulário de uma dada língua e estas línguas não são uma excepção. Os
empréstimos são, em geral, palavras vindas de outras línguas, próximas ou distantes, para
incrementar o vocabulário da língua de chegada ou para designar uma realidade nova entre os
falantes dessa mesma língua.

a) Critério semântico Quando uma palavra de uma língua qualquer entra para uma língua
bantu, a primeira preocupação dos falantes dessa língua é procurar o significado da
palavra em questão por forma a encontrar a classe semântica onde integrá-la. Veja-se os
seguintes exemplos do Xichangana e do Ciyaawo.
Exemplos:
Xichangana: bixopo “bispo”, (do Ing. bishop)
vabixopo “bispos”
Ciyaawo: m’puluungama “eucalipto”

A razão de ser do enquadramento destes nomes recém-adoptados nestas classes, parece residir na
sua semântica. Com efeito, a palavra bixopo, de ‘bishop’, em Inglês, é semanticamente relativa a
pessoas. Por isso, ela foi integrada na classe 1, referente a seres humanos. Por conseguinte, o seu
plural acede, automaticamente, ao prefixo nominal da classe 2, va-. A mesma interpretação se
pode fazer para os casos do Ciyaawo, em relação ao critério adoptado para a integração do nome
m’puluungama, “bluegum’” em Inglês, nas classes 3 e 4 (mu- e mi-), que semanticamente alojam
predominantemente nomes de plantas.

b) Critério fonético As línguas indo-europeias não organizam o léxico tal como o fazem as
línguas moçambicanas. As palavras nessas línguas não apresentam prefixos de classe, daí
que, quando uma palavra proveniente destas línguas entra para uma língua moçambicana
e os falantes dessa língua não encontrarem uma classe semântica na qual a possam
enquadrar, recorrem à possível semelhança entre o som inicial dessa palavra e o som de
um prefixo de uma das classes nominais existentes na língua. Assim, o critério fonetico
observa a semelhança fonética entre o som inicial da nova palavra (vinda de outra língua)
e o som inicial do prefixo de uma das classes nominais existentes na língua moçambicana
de chegada.
Exemplos:

Gitonga: xineli “chinelo” dzixineli “chinelos” < (do Port. chinelo)

Xichangana: xipuni “colher” svipuni “colheres” < (do Ingl. spoon)

c) Critério de prefixo zero

Para (Patel, et al. 2018) Em certos casos, quando uma nova palavra entra numa língua
moçambicana, os falantes podem não encontrar uma classe semântica na qual a possam
enquadrar e nem uma possível semelhança entre o som inicial dessa palavra e o som de um
prefixo de uma das classes nominais existentes na língua. Assim, a hipótese mais comum é a
de incorporar a nova palavra em classes onde os prefixos não estão expressos. São,
geralmente, os casos das classes 5, 9 e 10 (nas línguas em que existem) e são as mais
propensas para alojar nomes vindos de outras línguas não prefixais. Vejam-se os seguintes
exemplos de Gitonga e Ciwute:

Exemplos

Gitonga: Øthayi “gravata” mi-thayi “gravatas” < (do Ing. tae)

Citewe: Øgaradi “grade” ma-garadi “grades” < (do Ing. grade)

Øbora “bola” ma-bora “bolas” < (do Port. bola)

Considerações finais
O nome nas línguas bantu apresenta características pouco comuns relativamente a outras línguas
do mundo. Ele é constituído por duas partes distintas, nomeadamente o prefixo, a parte variável
do nome, e o tema, a parte invariável. Nestas línguas, os nomes estão organizados em classes,
que são conjuntos de duas ou mais palavras que apresentam o mesmo prefixo ou que exibem o
mesmo padrão de concordância. Dependendo da língua, as classes nominais variam entre 10 e
20, sendo que as classes nominais de 1 a 11 e 15 são as mais produtivas. Existem vários
mecanismos para o enriquecimento do vocabulário de uma língua, dentre as quais a derivação, a
composição, o empréstimo e a neologia. A derivação é o processo mais produtivo na formação
de nomes nas línguas moçambicanas. A derivação nominal pode ser feita a partir de nomes,
verbos e ideofones. Os empréstimos, que são palavras vindas de outras línguas, constituem
também um processo de enriquecimento do vocabulário de uma língua. A integração dos
empréstimos nas línguas moçambicanas é feita por meio de três critérios, nomeadamente (i)
semântico, (ii) fonético e (iii) de prefixo zero.
Referências
Andrade, M. M. (2010). Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas.

Aurélio, A. A. (2017). Omissao de constituentes pos-verbais no Umbundu (lingua Bantu) uma prespectiva
de comparada com o PE. Lisboa : FL.

Ngunga, A. (2002). Elementos da Gramática da Língua Yao. Maputo: Imprensa Universitária. UEM.

Ngunga, A. (2004). Introdução à Linguística Bantu. UEM:Maputo: Livraria Universitária.

Patel, S., Majuisse, A., & Tembe, F. (2018). Manual de Línguas Moçambicanas Formação de Professores
do Ensino Primário Educação de Adultos. Maputo - Moçambique: MINEDH.

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