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A CLASSE DOS ADVÉRBIOS LOCATIVOS:

ORDENAÇÃO, POLISSEMIA E GRAMATICALIZAÇÃO

Mariangela RIOS DE OLIVEIRA (Universidade Federal


Fluminense)

Resumo: Tomando por base os princípios do funcionalismo norte-americano (Bybee,


2003; Givón, 2001; Traugott, 1995), este artigo trata da ordenação de pronomes
adverbiais locativos, em fontes da sincronia atual da língua portuguesa do Brasil, com
foco na mudança de sentido – polissemia – e de categorização – gramaticalização.
Abordagem de um fenômeno gramatical em sua interface com questões do discurso,
conforme a postulação dos PCN para o ensino de língua em nosso país.

Palavras-chave: advérbios; espaço; ordenação; função

1. Introdução
No ensino-aprendizagem de língua materna em nosso país, um dos desafios tem sido o
do tratamento dos advérbios. Situado no contexto do que os PCN (2000, p. 38-39)
chamam de atividades metalingüísticas, a abordagem dessa categoria, como das demais,
deve pautar-se pelas regularidades, pelos traços de seu uso sistemático ou padrão.
Segundo os PCN, espera-se que o olhar sobre os aspectos gramaticais, nas aulas de
língua portuguesa, seja suporte para a análise e reflexão lingüística, em termos de
aprimoramento ou maior eficiência comunicativa, tanto na produção como na recepção
de textos, sejam eles falados ou escritos.
Uma alternativa para dar conta dessa perspectiva, que retira do ensino-aprendizagem da
morfossintaxe do português seu caráter finalista tradicional, é a consideração dos
advérbios numa perspectiva funcional (Bybee, 2003), como um continuum categorial,
cujos componentes localizam-se em pontos mais ou menos distintos do padrão adverbial
básico, conforme propõe Taylor (1995).
Nessa perspectiva, os pressupostos teóricos do funcionalismo norte-americano dariam
conta da derivação polissêmica espaço > tempo > texto e do processo de
gramaticalização advérbio > conector > operador, conforme propõem Givón (2001) e
Traugott (1995).
Como corpora para este trabalho, utilizamos textos escritos na sincronia atual, de três
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tipos distintos: a) religioso: em tom didático, procura levar ao leitor o meio de sua
salvação, da libertação dos pecados; b) biográfico: com alta freqüência de narrativas,
conta trajetórias da vida; c) carta de leitor: com base em fatos do cotidiano e num estilo
mais próximo da informalidade, defende pontos de vista. Esses materiais foram
levantados, classificados e analisados, num primeiro momento, pelos bolsistas Evelyn
Mendonça de Melo (Pibic/UFF), André Radomski (Pibic/UFF) e Luciana Pomponet
(Faperj), respectivamente.
Com base no suporte teórico referido e nas fontes citadas, nossa pesquisa toma como
objetos específicos os quatro itens pronominais locativos mais freqüentes no português
do Brasil: aí, ali, aqui e lá.

2. Status categorial dos advérbios locativos


Seja de um ponto de vista mais tradicional, como o de Camara Jr. (1976) ou o
de Bechara (1999), seja de uma perspectiva menos convencional, como a de
Ilari et al. (1990) ou a de Neves (2000), a classe dos advérbios é considerada
bastante problemática. Constituída por membros de natureza muito diversa, em
termos semânticos, sintáticos e mesmo morfológicos, esse conjunto parece
não resistir a uma definição mais geral, capaz de dar conta da totalidade de
seus membros.
Nesse sentido, a abordagem categorial prototípica, em conformidade com a concepção
funcionalista que nos orienta, apresenta-se como o tratamento mais adequado para os
membros desse conjunto tão híbrido. De acordo com tal concepção, podemos admitir
que, numa dada classe, encontram-se membros situados em pontos distintos em relação
ao eixo categorial básico, de acordo com o número de traços compartilhados pelos
mesmos. Assim, encontramos constituintes que de modo mais visível representam a
classe; em geral, são temos mais freqüentes e identificados pela comunidade lingüística
como pertencentes à categoria. Por outro lado, podemos registrar também elementos
que, por conta da perda de traços categoriais, tendem a ocupar posição periférica ou
marginal em relação ao padrão, situando-se praticamente no limite ou na interseção com
outra classe.
Neste segundo caso, como Hopper (1991), podemos falar em decategorização, em
relação à perda de traços da categoria fonte, e recategorização, em termos da
incorporação de traços da categoria alvo, com a identificação de processo de
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gramaticalização, de acordo com Givón (2001).
Segundo Ilari et al. (1990) e Neves (2000), os advérbios locativos caracterizam-se,
respectivamente, por sua função não-predicativa ou não-modificadora, uma vez que
informações acerca de espaço e tempo não incidem sobre ou afetam a predicação.
Assim definidos, estariam tais constituintes predispostos a ocorrer em pontos de maior
afastamento em relação ao verbo, conforme prevê o subprincípio icônico de
proximidade (Givón, 2001; Furtado da Cunha, Rios de Oliveira e Martellota, 2003),
segundo o qual conteúdos menos integrados são articulados por formas também menos
integradas na superfície textual.
Afora aspectos relativos ao status categorial e à localização, interessa-nos também
mencionar a questão da polissemia envolvida nos usos dos pronomes adverbiais aqui
tratados. Conforme a hipótese localista (Batoréo, 2000), podemos dizer que a referência
espacial seria a mais fundante ou original; a partir desse sentido mais concreto, teríamos
a derivação para tempo, de natureza mais abstrata, e, a partir daí, os sentidos lógicos ou
textuais, como a referência de modo, de conseqüência ou de conclusão, numa etapa de
maior abstratização. Segundo Pontes (1992, p. 8-9), através do uso dos mesmos
elementos gramaticais, projetamos as categorias de espaço para falar de tempo
metaforicamente; conforme a autora, trata-se de derivação de sentido desde tempos
imemoriais. O interessante nessa concepção é que os sentidos originais não são
necessariamente descartados diante dos mais recentes, o que vem a gerar polissemia dos
usos adverbiais.

3. Pronomes locativos – função e forma


A pesquisa da ordenação, polissemia e gramaticalização dos itens pronominais locativos
aí, ali, aqui e lá tem evidenciado que se trata de um grupo muito diverso, em que cada
membro apresenta padrões de função e de estruturação específicos. Por conta dessa
tendência, na presente seção, os quatro itens são tratados separadamente.

3.1. Usos de aí
Dos quatro locativos em análise, aí apresenta-se como o segundo constituinte mais
recorrente. Em termos de ordenação, este item tende a situar-se em posição pré-verbal,
imediatamente antes do verbo ou com interseção de outro constituinte.
Como motivação para a maior incidência da posição pré-verbal de aí nos corpora,
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identificamos a tendência deste locativo, hoje, situar-se mais à margem da categoria
adverbial, em processo de migração para a classe dos conectores e operadores. A
freqüência com que é usado e a tendência à função conectiva, aliados à redução
fonológica, fazem de aí um constituinte articulado preferencialmente antes do termo
verbal, em local destinado à informação dada, mais familiar e acessível, segundo Fenk-
Oczlon (2001). Com o trecho a seguir, ilustramos esse comentário:

(1) Quando conseguem entender que fazer sexo é uma coisa e fazer amor é outra, a
primeira coisa de que se descartam é das suas idéias de amor livre. Aí vem a burocracia.
(Um coração que seja puro).

Em (1), numa seqüência de exposição, o sentido do locativo encontra-se mais


abstratizado, oscilando entre espaço virtual (= neste ponto), espaço temporal (= neste
momento) e espaço textual (= então). A polissemia de aí revela seu não-alinhamento
categorial; o terceiro sentido já aponta para sua gramaticalização como elemento de
conexão. Trata-se de articulação semelhante ao exemplo seguinte, de uma carta de
leitor:

(2) Foi chocante assistir ao vivo e a cores nossos senadores da CPI terem que chamar
comprovados larápios do dinheiro público de ''Vossa Excelência''. Aí é cinismo demais e
não dá para agüentar tanta afronta. (Jornal do Brasil)

Uma outra motivação para essa tendência pré-verbal de aí fica por conta de sua
ocorrência em certas estruturas mais ou menos fixas, na composição de unidades pré-
fabricadas (UPF), conforme Erman e Warren (2000). Segundo os autores, as UPF
caracterizam-se pela forte vinculação semântico-sintática de seus constituintes, na
formação de um só arranjo, indivisível, em que cada um dos itens perde em autonomia
para que haja ganho no conjunto; as UPF representam formas de dizer ritualizadas pela
comunidade lingüística, estruturas prontas e acessíveis, colocas à disposição dos
usuários para a produção de textos. A seleção e freqüência das UPF depende das
condições pragmático-discursivas envolvidas na interação. Em geral, as UPF integradas
por aí articulam informações de fundo, como a exposição de argumentos:

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(3) O fato é que, no futuro, Mário Filho renegaria “Bonecas” e “Senhorita 1950” de tal
forma que se esqueceria de citá-los entre as “obras do autor” nos – aí, sim – grandes
livros que viria a escrever. (Anjo pornográfico)

No exemplo (3), retirado da biografia de Nelson Rodrigues, a expressão aí, sim,


intercalada a outra e com sentido enfático, constitui caso de UPF. A pausa, representada
pela vírgula, aponta estágio ainda intermediário de vinculação, que se mostra mais
avançado em (4), a seguir, numa carta de leitor:

(4) E, se quisesse estudar mesmo no Brasil, o jornalista norte-americano teria, aí sim,


grandes pautas do Cone Sul para o seu grande jornal do norte. (Folha de São Paulo).

3.2. Usos de ali


No conjunto dos corpora em análise, com exceção das cartas de leitores, ali mostrou-se
o locativo mais freqüente. Além da maior incidência, esse item tem outros padrões de
ocorrência: situa-se preferencialmente em posição pós-verbal, ao contrário de aí, e,
também de modo distinto do item anteriormente tratado, tende a articular sentidos mais
espaciais ou concretos. Esses traços têm a ver com o tipo de seqüência textual mais
regular composto por ali – a narrativa. A maior freqüência de narrativas nos textos
religiosos e nas biografias pesquisadas tem como motivação, respectivamente, a
referência a histórias ilustrativas dos preceitos religiosos apresentados e, no segundo
tipo de texto, é o ponto central, um vez que o foco é justamente a história do
protagonista. Nos dois exemplos a seguir, ilustram-se os usos regulares de ali nas obras
referidas:

(5) E porque está em pé, confiando sempre, pode receber ali a missão de ser a mãe dos
irmãos de Jesus. (Tocar o Senhor)
(6) Havia uma porta fechada que dava para a antiga sala de Mário Filho. Ninguém sabia
onde estava a chave ou o que havia ali dentro. (Anjo pornográfico)

Por conta das tendências de uso apontadas para ali, consideramos ser este o pronome
locativo prototípico. Ele reúne os traços que o fazem mais se aproximar do eixo central
da classe dos advérbios: posiciona-se imediatamente após o verbo, em referência a
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espaço concreto, em função acessória.

3.3. Usos de aqui


Esse locativo ocupa, nos corpora pesquisados, o terceiro lugar em termos de freqüência.
Funcionalmente, aqui tende a atuar como adjunto, com referência física concreta ou
virtual. Nesse sentido, situa-se, em termos de localização na categoria dos advérbios
locativos, mais próximo de ali do que de aí, ou seja, num lugar mais contíguo ao eixo
central prototípico da classe.
Via de regra, apresenta-se, conforme Paiva (2003), reduplicado, ou seja,
acompanhado de um sintagma preposionado, também de base locativa, que
promove a maior especificação da referência de lugar. Conforme a perspectiva
assumida no funcionalismo, trata-se de uma construção originariamente de
valor enfático que, progressivamente, por conta de certo “esvaimento”
semântico do pronome, vai se sistematizando, tornando-se mais “natural” e
regular no uso lingüístico.
Como aqui se refere ao espaço do locutor, sua funcionalidade varia nos textos em
análise. Assim, nas fontes religiosas, o locativo aqui pode ser o espaço terrestre, cheio
de imperfeições e pecados:

(7) Aqui na Terra a felicidade não é plena nem perfeita porque tudo que é humano traz a
marca da imperfeição. (Amor é vida)

Pode, também nesses textos, referir-se ao espaço do narrar, do ambiente


discursivo:

(8) Se parássemos aqui nossa reflexão, poderíamos supor que Pedro já está
completamente convertido. (Tocar o Senhor)

É o tipo de referência ilustrado a seguir, no texto biográfico:

(9) A responsabilidade pelo que se conta aqui é minha, inclusive pelos


possíveis erros e omissões. (Anjo pornográfico)

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Nas cartas de leitores, o locativo aqui tende a se referir ao ambiente da vida e da
experiência dos missivistas:

(10) O ministro Palloci parece estar vivendo em outra terra. Aqui em Pindorama, o
desemprego grassa e o emprego, triste, escassa. Juros sobem, a inflação, silenciosa,
desliza pelas gôndolas dos supermercados. (O Globo)

No texto biográfico pesquisado, aqui ocorre freqüentemente em trechos injuntivos, em


seqüências de discurso direto, tal como a seguir:

(11) “Escuta aqui, Figueiredo. Muitos presidentes realizaram obras maravilhosas,


faraônicas.” (Anjo pornográfico)
(12) “Se houver alguém na escuta, fique sabendo que aqui fala o doutor Hélio
Pellegrino, poeta e psicanalista!” (Anjo pornográfico)

Por se tratar de biografia, interpretamos a maior freqüência do discurso direto, e a


conseqüente utilização de aqui nesses trechos, como motivada pela necessidade de
detalhamento, de pormenorização, como a recriar antigas cenas, que vão,
progressivamente, traçando a trajetória da personagem principal.

3.4. Usos de lá
Dos quatro locativos em análise, lá aparece como o menos freqüente em textos
religiosos, o segundo mais recorrente em biografias e o mais usado nas cartas
de leitores. Essa distribuição desequilibrada, tal como apontado para a
polissemia de aqui, tratada anteriormente, também parece motivada por
questões de ordem discursiva.
Em relação a seu uso em textos religiosos, apontamos as seguintes
tendências: o locativo, em suas poucas aparições, ocupa preferencialmente
posição pós-verbal, com referência física, tal como a seguir:

(13) O fato é que Jesus fica lá conversando na sala com Maria, que não estava nem aí
com os problemas da casa! Simplesmente sentou-se aos pés de Jesus e ficou lá
escutando o Mestre falar. (Um coração que seja puro)
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Em (13), o locativo insere-se, por duas ocasiões, entre o verbo ficar e os gerúndios
conversando e escutando, respectivamente. Trata-se de uma localização que
compromete a vinculação dos constituintes verbais, em prol da maior autonomia de
ambos, que passam a funcionar com maior plenitude – o primeiro, como verbo, o
segundo, como circunstanciador de modo.
Possivelmente, a baixa ocorrência de lá nos textos religiosos deva-se à motivação dos
contextos articulados pelo referido locativo; trata-se, via de regra, de seqüências de
maior grau de informalidade, de usos lingüísticos menos comprometidos com a norma
escrita padrão. Portanto, como as fontes pesquisadas constituem exemplares da
modalidade escrita, num registro mais formal, justifica-se a menor ocorrência de lá
nesse tipo de material.
Por outro lado, nas demais fontes, lá tem maior incidência. No texto biográfico, os
trechos narrativos, combinados com o tom mais informal, propiciam o maior uso do
locativo, como em:

(14) No dia seguinte, D’Arcy apresentou-se ao Itamaraty e foi preso lá dentro, nas
barbas dos cisnes. (Anjo pornográfico)

Mas é nas cartas de leitores que se levanta, em maior grau, a ocorrência de lá. Nesse
tipo de texto, o tom mais informal, num tipo de procedimento lingüístico em que leitor
escreve e, de certa forma, dialoga com outros leitores, seus interlocutores, além da
temática do cotidiano, mais prosaica, motivam a alta freqüência do locativo, superando,
inclusive, os demais em termos numéricos. Trata-se de contextos como:

(15) Vão fazer festas para angariar fundos, com música alta, e, talvez, no meio da festa,
lá pelas 2 da manhã, soltem fogos de artifícios. (Época)
(16) Colocar a culpa do interrogatório – que ele mesmo fez – nos homens que comanda,
vá lá! Mas querer ser irônico e irresponsável perante uma situação que ele próprio
ajudou a construir com o governo desastrado e populista... (Jornal do Brasil)

As expressões lá pelas ... e vá lá, dos exemplos (15) e (16), respectivamente,


constituem, além de usos populares ou marcas de contextos de maior informalidade,
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casos de unidades pré-fabricadas, arranjos semântico-sintáticos quase indecomponíveis,
em que o status adverbial de lá encontra-se muito comprometido. Devido à freqüência
de estruturas como (15) e (16), consideramos esse locativo, tal como aí, em ponto mais
afastado do eixo básico da classe dos advérbios.

4. Considerações finais
Na pesquisa da ordenação de pronomes adverbiais locativos, e seus aspectos de
polissemia e gramaticalização, em termos de ensino-aprendizagem de língua
portuguesa, chegamos, até agora, aos seguintes resultados: a) os quatro itens mais
recorrentes da categoria não possuem um padrão de ordenação e funcionalidade geral,
antes, constituem uma classe prototípica, em que cada constituinte situa-se mais ou
menos no conjunto dos advérbios; b) ali constitui o locativo mais prototípico, dado que
costuma se ordenar imediatamente após o verbo, com referência a espaço físico, em
função adjuntiva; c) aqui surge num ponto mais afastado do eixo central da classe dos
advérbios, seguido por lá e, mais afastado ainda, na migração para a classe dos
conectores e operadores, encontra-se aí; d) fatores de ordem discursiva afetam usos
gramaticais, assim: narrativas tendem a se articular por ali, aqui e lá, enquanto trechos
expositivos motivam a ocorrência de aí; usos mais informais privilegiam o surgimento
de lá, em expressões cristalizadas no trato popular; e) o “espaço” da referência locativa
tende a cumprir uma trajetória de derivação, que vai da referência física mais básica,
passando a outra de caráter virtual, migrando para a temporal e daí para a textual, em
que o locativo passa a articular sentidos lógicos, como os de conseqüência ou
conclusão.

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