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Língua Portuguesa II – Prof.

Cesar Casella

Variação linguística

UnU Goiás – Primeiro Semestre de 2013


Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Observe-se as duas frases abaixo:

Cê trouxe o livro?

Tu trouxeste o livro?

Linguisticamente falando, o que as distingue?


Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Semanticamente, apresentam valor muito parecido.

Sintaticamente, apresentam a mesma sequência SVO.

Os verbos apresentam o mesmo tempo: pretérito


perfeito do indicativo.

Mas, perceba-se que o verbo da primeira frase está


conjugado na terceira pessoa do singular enquanto o
outro está na segunda do singular.

E os pronomes utilizados como sujeitos são diferentes.


Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Porém, cê e tu parecem pronomes de segunda pessoa.

Assim, na primeira frase temos um pronome de


segunda pessoa funcionando como um pronome de
terceira pessoa, como um ele.

A variação diacrônica ajuda a entender:

Vossa mercê > vosmecê > você > cê

Na origem, o valor sintático de cê é o de terceira


pessoa do singular e ele o manteve mesmo variando de
forma.
Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Outro fenômeno, bastante conhecido, é a marcação do


plural feita somente no primeiro item do sintagma ou frase:

Os livros são do professor


Os livro é do professor
*O livros é do professor

Para o qual encontramos ocorrência semelhante no inglês:

The books
*Thes book
*Thes books
Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Observe-se as frases abaixo, na primeiro coluna temos


construções sintáticas do Português Brasileiro (PB), na
segunda, construções do Português Europeu (PE). Há,
nestes casos, variação diatópica.

Eu estou falando Eu estou a falar


Eu estou estudando Eu estou a estudar
Eu estou falando Eu estou a falar

Os estudos mostram que, geralmente, usamos a forma


com o gerúndio e os portugueses a forma com o infinitivo
Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Pronominais
Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Sensibilização para os fenômenos
de variação linguística

Questões como estas envolvem a variação linguística e


são estudadas – entre outras áreas – pela Sociolinguística
e pela Linguística Histórica.

LEITURAS:

- LABOV, William. Sociolinguística: uma entrevista com William


Labov. ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007.

- BELINE, R. A variação linguística. In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo:
Contexto, 2010.
Entrevista com Labov

Professor do Departmento de Linguística -


University of Pennsylvania

Livros importantes
The Social Stratification of English
in New York City (1966)
The Study of Non-Standard English (1969)
Sociolinguistic Patterns (1972)
Principles of Linguistic Change.
Volume 1: Internal Factors (1994)
Principles of Linguistic Change.
Volume 2: Social Factors (2001)

Página na internet
http://www.ling.upenn.edu/~wlabov/
Entrevista com Labov

“Quando eu comecei na Linguística, eu tinha em mente


1 uma mudança para um campo mais científico, baseado
na maneira como as pessoas usavam a linguagem na
vida cotidiana. Quando eu comecei a entrevistar
pessoas e gravar suas falas, descobri que a fala
2 cotidiana envolvia muita variação linguística, algo com
que a teoria padrão não estava preparada para lidar. As
ferramentas para estudar a variação e a mudança
sincrônica surgiram dessa situação. Mais tarde, o estudo
3 da variação linguística forneceu respostas claras para
muitos dos problemas que não eram resolvidos por uma
visão discreta da estrutura linguística.”
LABOV, William. Sociolinguística: uma entrevista com William Labov.
ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007.
Entrevista com Labov

“É a língua [o objeto de estudo da Sociolinguística], o


4 instrumento que as pessoas usam para se comunicar com
os outros na vida cotidiana. Esse é o objeto que é o alvo do
trabalho em Variação Linguística. Existem outros ramos da
5 Sociolinguística que estão preocupados primordialmente
com questões sociais: o planejamento linguístico, a escolha
pela ortografia oficial e outros que se preocupam com as
consequências das ações de fala. Todas essas são
importantes áreas de estudo, mas eu sempre tentei abordar
6 as grandes questões da Linguística, como determinar a
estrutura da linguagem – suas formas e organização
subjacentes – e conhecer o mecanismo e as causas da
mudança linguística.”
LABOV, William. Sociolinguística: uma entrevista com William Labov.
ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007.
Entrevista com Labov

1 Um campo científico de estudos que parte do uso efetivo


da linguagem e da língua na vida cotidiana das pessoas.

2 A teoria padrão - estruturalismo - não sabia lidar com a


enorme variação linguística da fala cotidiana.

3 O estudo da variação linguística permitiu resolver


problemas antes não solucionáveis no estruturalismo.

4 O objeto da Sociolinguística é a língua, encarada como


instrumento de comunicação da vida cotidiana.

5 Existem ramos da Sociolinguística mais voltados para as


questões sociais que envolvem a língua.

6 Preocupação de Labov é com a estrutura variável.


A variação linguística: os níveis de variação

As línguas variam:

- No nível lexical: jerimum/abóbora;


- No nível fonológico: a pronúncia do -r em final de sílaba
vibrante simples (flap) /r/ ou aspirado /h/;
- No nível morfológico: morfema de marcação do infinitivo
(anda-r/anda-Ø, faze-r/faze-Ø, sai-r/sai-Ø);
- No nível sintático: a pessoa em cuja casa eu fiquei/a pessoa
que eu fiquei na casa/a pessoa que eu fiquei na casa dela.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: os modos de variação
As línguas variam:

- Em relação ao espaço ou lugar de uso da língua: variação


diatópica (jerimum/abóbora, a pronúncia do -r em final de
sílaba /r/ ou /h/, o ditongo /aj/ pronunciado como /a:/ ou /aᵉ/) ;
- Em relação à situação de uso da língua (mais formal ou
mais informal): variação diafásica (anda-r/anda-Ø, sai-r/sai-Ø);
- Em relação à escolaridade do falante que usa a língua:
variação diastrática (anda-r/anda-Ø, sai-r/sai-Ø, a pessoa em
cuja casa eu fiquei/a pessoa que eu fiquei na casa/a pessoa
que eu fiquei na casa dela).

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: observações
Observe-se que:

- É possível abordar a variação de formas diferentes;


- É possível que haja mais de duas variantes numa mesma
variável (/aj/, /a:/, /aᵉ/; mandioca/macaxeira/aipim);
- É possível que a variação seja causada por mais de um fator
(anda-r/anda-Ø, sai-r/sai-Ø);
- O nível sintático é mais complexo que o fonológico e o
morfológico;
- Para haver variação é preciso que os elementos em causa
sejam intercambiáveis.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: a Sociolinguística

É a Sociolinguística que procura verificar de que modo fatores


de natureza linguística e extralinguística correlacionam-se ao
uso de variantes nos diferentes níveis da gramática de uma
língua. De duas perspectivas diferentes:

Da perspectiva variacionista quantitativa “a sociolinguística


ocupa-se em desvendar como a heterogeneidade – ou seja, a
variação – se organiza. O sociolinguista variacionista tem
como principal interesse compreender de que modo a
variação é regulada.” (p. 125)

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: a Sociolinguística
Da perspectiva dialetológica “a sociolinguística pode se
ocupar mais em estabelecer as fronteiras entre os diferentes
falares de uma língua. (…) interessa ao pesquisador verificar
se os falantes de uma mesma língua apresentam diferenças
nos seus modos de falar de acordo com o lugar que estão
(variação diatópica), de acordo com a situação de fala, ou
registro (variação diafásica), ou ainda de acordo com o nível
socioeconômico do falante (variação diastrática). Para o
dialetólogo, portanto, o interesse principal é o de localizar e
descrever, regional e socialmente, os dialetos de uma língua
– os diferentes falares que ela pode apresentar.” (p. 125)

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: os limites da variação

Os limites da variação vão depender da concepção de língua


adotada. Há mais de uma definição possível para 'língua' e
para cada definição tem-se um objeto de interesse diferente.

Isto fica expresso na questão: “A língua é um fenômeno


inerentemente variável, heterogêneo por definição ou,
diferentemente, é um sistema homogêneo que pode
apresentar casos eventuais de heterogeneidade?” (p. 126)

Para a Sociolinguística, o sistema é inerentemente variável.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: os limites da variação

As línguas tem um rol de regras de combinação (fonológicas,


morfológicas, sintáticas) que as fazem diferentes entre si:

Português: A, B, C, D
Espanhol: C, D, E, F

Mas as línguas podem variar elas mesmas, em relação aos


lugares em que é falada ou em relação aos aspectos sociais:

Português: A, A', A'', B, B', B'', C, C', C'', D, D', D''

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: os limites da variação

A variação pode ser vista em termos de região, classe e uso:

Português falado em São Paulo, por universitários de classe


alta, em situação informal, na faixa dos 25 anos: A'', B, C, D'.

Mais ainda, a variação pode chegar até o nível do indivíduo,


isto é, mesmo dentro da descrição acima, uma pessoa pode
ter um conjunto de regras diferente. Assim, entende-se que o
indivíduo opera com as regras variáveis de um sistema
heterogêneo, selecionando-as e usando-as conforme as suas
possibilidades e necessidades.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: comunidade de fala

“Embora o indivíduo possa utilizar variantes, é no contato


linguístico com outros falantes de sua comunidade que ele vai
encontrar os limites para a sua variação individual. Como o
indivíduo vive inserido numa comunidade, deverá haver
semelhanças entre a língua que ele fala e a que os outros
membros da comunidade falam” (p. 128).

Assim, o limite para a variação individual é a comunidade de


fala, isto é, o agrupamento de falantes que tem características
linguísticas comuns.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: comunidade de fala

A comunidade de fala seria formada por falantes que:

A). Compartilham traços linguísticos que distinguem seu


grupo de outros;
B). Comunicam-se relativamente mais entre si do que com
outros;
C). Compartilham normas e atitudes diante do uso da língua.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
Estudar a variação: quantificar as diferenças

A opção de estudo da Sociolinguística Variacionista é a da


quantificação das diferenças encontradas em comunidades
de fala ou entre comunidades de fala.

Por conta deste tipo de estudo, fala-se em “taxas-limite”,


“regra variável”, “pesos relativos” e em outros termos técnicos.
Por isso, também, utilizam-se programas de computador,
quadros e tabelas, possibilidades matemáticas e cálculos
estatísticos

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
A variação linguística: sistematização
1. A variação se dá em todos os níveis: lexical, fonológico,
morfológico e sintático;
2. A variação se dá por diferentes modos: diatópica, diafásica,
diastrática;
3. É possível haver mais de 2 variantes na mesma variável;
4. A variação pode ser causada por mais de um fator;
5. A variação só existe se os elementos são intercambiáveis;
6. Há, pelo menos, duas perspectivas na Sociolinguística:
variacionista e dialetológica;
7. O sistema é heterogêneo;
8. A comunidade de fala é o limite da variação;
9. Estudar a variação – na perspectiva variacionista – é
quantificar as diferenças.

Com base em BELINE, R. A variação linguística.In: FIORIN, J. L. [org.]


Introdução à linguística: I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2010.
Sociolinguística: pontos para debate

- Se linguagem e sociedade estão ligadas, relacionadas,


por que falamos de Sociolinguística? Por que é
necessário que exista esta área, que reafirma justamente
este vínculo?

- São as teorias linguísticas que definem o que interessa


ver nos fenômenos linguísticos. Um exemplo é a teoria
biologizante de Schleicher.

- A relação linguagem ↔ sociedade está ligada à relação


teoria ↔ fenômeno linguístico

Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.


In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística: pontos para debate

- A área científica escolhe o seu objeto de estudo. No


caso da Linguística de viés estruturalista, a opção foi pela
exclusão de “toda consideração de natureza social,
histórica e cultural na observação, descrição, análise e
interpretação do fenômeno linguístico” (p. 23).

- Não se desconsidera a tese saussuriana de que a


língua é um fato social, nem seu postulado de uma
'linguística externa' que cuidasse da 'fala', mas salienta a
dicotomia langue/parole e a divisão entre linguística
interna e linguística externa como marcos divisores entre
as orientações formais e as orientações contextuais.
Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.
In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística: pontos para debate

- Vê-se uma tradição teórica de orientações contextuais:


Meillet, Bakhtin, Jakobson, Cohen e Benveniste.

- Conclui-se que a relação entre linguagem e sociedade é


óbvia e complexa, mas que a sua consideração é um
'divisor de águas' na Linguística contemporânea.

- A Sociolinguística fixa-se como campo de estudos a


partir de um congresso em 1964. A proposta inicial de
Bright é a de que a Sociolinguística deve “demonstrar a
covariação sistemática das variações linguística e social”
(p. 28) e seu objeto de estudo é a diversidade linguística.
Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.
In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística: pontos para debate
- A Sociolinguística surge num contexto de estudos
formalistas (Gerativismo).

- A Sociolinguística surge como proposta interdisciplinar


(Hymes, Labov).

- Estipula-se que o objeto da Sociolinguística é “o estudo


da língua falada, observada, descrita e analisada em seu
contexto social, isto é, em situações reais de uso” (p. 31)
e seu ponto de partida é a comunidade linguística.

- Constatação imediata: existência da variação linguística.

Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.


In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística: pontos para debate
- A língua não se apresenta como uma entidade
homogênea. A língua é heterogênea, é um conjunto de
variedades. Língua e variação são inseparáveis: a
variação não é um problema para a Sociolinguística. O
aspecto formal e estruturado do fenômeno linguístico é
apenas uma parte do fenômeno total.

- Plano da diacronia: todas as línguas do mundo são


sempre continuações históricas (p. 33).

- Plano da sincronia: diversos fatores (origem geográfica,


idade, sexo, classe social).

Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.


In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística: pontos para debate
- Alkmin afirma que a separação das variações é para
efeito de estudo, pois “na realidade das relações sociais,
os fatores de variação se encontram imbricados” (p. 39).

- Observe-se que há sempre uma hierarquização das


práticas linguísticas decorrente da hierarquização social.
Por isso pode-se falar em variedade padrão, variedades
de prestígio e variedades não prestigiadas.

- “Toda a língua é adequada à comunidade que a utiliza,


é um sistema completo que permite a um povo exprimir o
mundo físico e simbólico em que vive” (p. 41).

Com base em ALKMIN, T. M. Sociolingüística.


In: MUSSALIM, F.; BENTES, C. A (Org.) Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras [v 1]. São Paulo: Cortez, 2008.
Sociolinguística variacionista

- O texto trata especificamente de uma das vertentes da


Sociolinguística: a variacionista (teoria da variação). Esta
possui uma metodologia bem definida e busca mostrar a
regularidade e a sistematicidade existentes por trás do
aparente 'caos' da comunicação cotidiana.

- Apresenta-se os objetivos da teoria da variação: a).


entender quais são os principais fatores que motivam a
variação linguística; b). qual a importância de cada um
dos fatores motivadores de variação; c). verificar qual o
grau de estabilidade de um fenômeno de variação.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Apresenta-se as noções de 'fatores linguísticos' e de


'fatores extralinguísticos'.

- Apresenta-se a noção de 'variante', definida como “uma


forma que é usada ao lado de outra na língua sem que se
verifique mudança no significado básico” (p. 142).

- Apresenta-se uma série de questões sociolinguísticas


possíveis a partir do exemplo de variação existente entre
'nós falamos', 'a gente fala', 'nós fala', 'a gente falamos'.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Aponta-se como positivo o fato de que a sociolinguística


demonstrou que muitas formas não-padrão ocorrem na
fala de pessoas de alta escolaridade.

- Aponta-se como positivo o fato de que a metodologia da


sociolinguística variacionista permite quantificar o número
de ocorrências no uso de uma variante, permitindo até
que se faça previsões sobre tendências de utilização.

- Estipula-se alguns procedimentos que o linguista deve


seguir em seus estudos (p. 143).

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Apresentam-se 2 exemplos de estudos sociolinguísticos


do português brasileiro: um sobre a vibrante final '-r' e
outro o uso do pronome 'eu'. Exemplos que mostram que
“o aparente caos da variação é desfeito, e o linguista
demonstra a sistematização que existe no uso das
variantes de uma língua” (p. 144).

- Apresenta-se três tipos básicos de variação linguística:


a). regional; b). social; c). de registro. Note-se que só se
apresenta as variações sincrônicas.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Há relações de interdependência e de independência


entre os três tipos de variação linguística mostrados.

- Mostra-se que a variação se dá em todos os níveis: do


fonético-fonológico ao situacional.

- Apresenta-se uma síntese deste início do texto (p. 146).

- Traça-se um pequeno panorama do surgimento da


corrente sociolinguística variacionista, incluindo os seus
'precursores'.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Trata-se da relação entre linguagem e sociedade, já


instalando o indivíduo dentro de uma comunidade de fala.
Mostra-se que em sociedades nitidamente marcadas pela
separação em classes, a relação entre a língua e as
classes se apresenta de modo claro. Para ilustrar isto,
traz à tona os trabalhos de Labov e Trudgill (p. 148). Para
além da relação língua e classes, mostra que há também
uma relação entre língua e gênero (p. 148-149).

- Aponta-se as 5 dimensões estabelecidas por Labov e


Weinreich (p. 149-150).

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista
- Aspectos teórico-metodológicos (p. 149-150):

a). parte-se do objeto de estudo para o modelo teórico;


b). o objeto geralmente está no uso do vernáculo;
c). trabalha-se com o falante-ouvinte e a situação real;
d). os dados são recolhidos a partir de gravações;
e). não se pede diretamente o que se deseja;
f). há critérios para a escolha dos informantes;
g). há competição entre as variações e o estabelecimento
de uma segue fatores linguísticos e não-linguísticos;
i). busca-se formular regras variáveis, descrever e
explicar os pesos que agem na ocorrência de variantes.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista
- A partir da década de 80, houve uma revalorização dos
aspectos linguísticos dentro da sociolinguística.

- Os resultados da análise de variantes, neste quadro,


podem apontar duas situações: a). estabilidade entre
elas; b). competição entre elas com predominância de
uma delas. Isto caracteriza a variação (a) e a mudança
em curso (b).

- Dá exemplos de variação estável (entre o [ƞ] e [n] no


inglês e entre o [l] e [ɾ] no português) e de mudança
(entre [l] e [w] no português).

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista
- Introduz-se as noções de 'tempo real' e 'tempo aparente'
(p. 151).

- Explica-se que a Sociolinguística não separa a diacronia


da sincronia (p. 152).

- Explicita-se uma súmula do fazer sociolinguístico e da


teoria da variação: “a Sociolinguística tanto descreve o
que ocorre nas diferentes comunidades de fala, tendo em
vista diferentes fatores linguísticos e extralinguísticos,
como dá explicações relativas às tendências de
mudanças” (p. 152).

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística variacionista

- Escreve-se que esta vertente trabalha com dados


estatísticos como ponto de partida para as análises do
linguista e que se utiliza de sofisticados programas
computacionais (p. 152).

- Ao final, dá notícia da expansão da Sociolinguística,


informando sobre os centros que fazem pesquisa deste
tipo no Brasil e refletindo sobre a importância destes
estudos para o ensino-aprendizagem da língua
portuguesa e de línguas estrangeiras.

Com base em: CESÁRIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolinguística. In:


MARTELOTTA, M. E. [org.]. Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
Sociolinguística interacional

Os sociolinguistas interacionais (também chamados de


interpretativos), de modo geral, partem de uma pergunta
básica: O que está acontecendo aqui e agora nesta
situação de uso da linguagem?

Assim, estes sociolinguistas propõem que se veja cada


um dos “pequenos momentos de interação face a face
como cenários de construção de significado social e de
experiência, passíveis de análise e de interesse
sociológico e linguístico” (p. 7)

Com base em: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística


interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
Sociolinguística interacional

Observe-se que a preocupação não é quantitativa mas


qualitativa e busca-se observar não as comunidades de
fala mas os momentos de interação social.

“Nessa abordagem do discurso, tanto o falante como o


ouvinte têm papéis ativos na elaboração da mensagem e
na definição de 'o que está se passando aqui e agora'.
(...) A noção de contexto ganha relevância, passando a
ser entendida como criação conjunta de todos os
participantes presentes ao encontro e emergente a cada
novo instante interacional” (p. 8)

Com base em: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística


interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social

Na apresentação do artigo, os organizadores escrevem


que Goffman alerta os pesquisadores para que observem
um aspecto pouco estudado até então: a situação social
engendrada na comunicação face a face.

Goffman mostra que as variáveis sociolinguísticas


envolvidas na interação verbal são complexas e
importantes para os participantes no contexto social
específico. E que elas tem de ser estudadas na sua
complexidade, sem que se negligencie a situação social
em que a interação verbal ocorre.

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social

Goffman parte da constatação de que há duas correntes


nos estudos sociolinguísticos, uma correlacional e outra
indicativa. E ambas são vigorosas e produtivas:

CORRENTE CORRELACIONAL CORRENTE INDICATIVA

Os estudos mostram cada vez mais Os estudos mostram cada vez


determinantes sociais (idade, sexo, mais propriedades identificáveis
classe, escolaridade, religião, etc) (semânticas, expressivas, etc) do
do comportamento linguístico comportamento linguístico

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social

Goffman aponta que, se comparamos as duas correntes,


algo importante tem sido esquecido.

Na corrente indicativa, os estudos da 'fala sonora' como


parte do ato de comunicação mostram que: 1. os gestos
não se desvinculam do cenário; 2. os gestos são usados
para negar a participação na comunicação.

Na corrente correlacional, os estudos mostram que é


importante conhecer os valores agregados aos atributos
da estrutura social na situação imediata.

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social

Essas dificuldades mostram que ambas as correntes


precisam se voltar para a situação social. Goffman critica
o tratamento geralmente inconsequente das situações
sociais nos estudos sociolinguísticos e afirma que elas
constituem uma realidade diferenciada, que são uma
organização social e que merecem uma análise própria.

Goffman define a situação social “como um ambiente que


proporciona possibilidades mútuas de monitoramento”
(página 17), de interação entre indivíduos.

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social

Goffman, na sequência de seu texto, define também


agrupamento e encontros, noções que ajudam a entender
e embasam o conceito de situação social.

Assim, o autor sugere que quando a fala ocorre, ela


ocorre dentro de um tipo de arranjo social, em turnos de
fala. E a fala, o contínuo sonoro, pode não estar presente
no contexto arranjado. “A fala é socialmente organizada
(…) como um pequeno sistema de ações face a face que
são mutuamente ratificadas e ritualmente governadas,
em suma, um encontro social” (página 19).

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social e a interação verbal

Estudar a interação verbal, sociolinguisticamente falando,


passa a ser investigar tudo o que envolve e engendra a
situação social que organiza a fala: as pistas dadas para
requisitar e ceder a palavra nos turnos, como se ratifica
os participantes, como se mantém o foco de atenção, etc.

“Devemos apresentar as elocuções com um revestimento


de gestos funcionais – gestos que propiciam estados de
fala, gestos que policiam esses estados de fala e mantêm
esses pequenos sistemas de atividade em
funcionamento” (página 19).

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.
A situação social e a interação verbal

“Em um nível de análise, o estudo de turnos de fala e de


coisas ditas durante o turno de alguém são parte do
estudo da interação face a face. A interação face a face
tem seus próprios regulamentos; tem seus próprios
processos e sua própria estrutura, e eles não parecem
ser de natureza intrinsecamente linguística, mesmo que
frequentemente expressos por um meio linguístico”
(página 20).

Texto-base: GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.;


GARCEZ., P. M. [orgs.]. Sociolinguística interacional. São Paulo: Loyola, 2002.

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