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Apresentação
Diferentemente das abordagens sintáticas, semânticas, morfológicas e textuais, os conteúdos atinentes aos estudos
fonéticos e fonológicos não são tão prestigiados nos cursos de português, nos concursos públicos, tampouco nos
manuais de redação de Direito, Jornalismo, Administração etc. Por isso mesmo, discutiremos nesta aula o quão
importante é o domínio dos compêndios desta disciplina, visto que trabalha com conceitos muitos peculiares e próprios,
como o fone e o fonema.
Aprenderemos um pouco mais sobre as variações linguísticas presentes em nosso dia a dia, traçando um paralelo com os
conceitos de dialeto e idioleto. E já que estaremos abordando diferentes manifestações linguísticas, seja em âmbito social,
seja no individual, lançaremos mão dos conceitos de pidgin e crioulo dentro da abordagem de língua arti cial, criada para
determinado m.
Ao nal, mostraremos o leque avantajado de possibilidades para um pro ssional de fonética e fonologia no mercado de
trabalho da atualidade, deixando de lado alguns mitos que cercam a área de Letras, mas trazendo novos caminhos inter e
multidisciplinares, que enxergam os formados nessa área com muito bons olhos.
Objetivo
Identi car o objeto da Linguística e seus objetivos na relação com a Fonética e com a Fonologia;
Reconhecer as diferenças mais salientes entre as variantes padrão e não padrão, e o papel da Fonética e da
Fonologia nesse âmbito;
Relacionar os estudos de Fonética e Fonologia com as diversas áreas do saber atuantes com linguagem.
Nesta aula, faremos um panorama inicial sobre os principais aspectos dos estudos linguísticos relacionados com a nossa
disciplina: Fonética e Fonologia.
Começando a responder às perguntas feitas, podemos a rmar que, segundo Ferdinand de Saussure (considerado o fundador
da Linguística como ciência autônoma, com seu Curso de Linguística Geral):
Bem, tendo dito isso, podemos começar a analisar as situações de língua por que passamos e veremos como os estudos
linguísticos fazem parte de nossa vida sem que percebamos. O que a Linguística vai fazer é teorizar essas experiências que
temos com a linguagem, trazendo um aparato cientí co inovador na abordagem sistêmica da língua.
Não demora muito e os amigos cariocas começam a fazer observações (jocosas ou curiosas) sobre essa variante linguística
utilizada pelo seu amigo mineiro:
Obviamente que não só o avô, mas qualquer um que estude um pouco das regras gramaticais de nossa língua sabe que essa
não é a variante padrão ou a variante de prestígio adotada pela gramática da língua portuguesa. Isso porque as variantes
prestigiadas não estão ligadas somente a questões linguísticas, mas sociais e culturais.
É claro que você já percebeu os erros de concordância da frase acima, mas há também detalhes fonéticos que mostram uma
transformação dentro da estrutura fônica da palavra: vemos que, na produção oral de determinados grupos, “a gente” pode virar
“a rente”, e “não” pode se tornar “num”. Essas transformações fonéticas muitas vezes indicam qual a origem geográ ca e social
do falante, sua idade, sexo, pro ssão etc.
Esses exemplos nos dão uma ideia melhor da diferença entre língua, dialeto (ou variante) e idioleto:
As variantes ou dialetos são Os idioletos são escolhas
A língua é a unidade sistemática
exatamente a forma como nos pessoais, modo bem individual
da estrutura comunicativa, a
valemos da língua para nos de comunicação, e isso inclui
base com que e pela qual todos
comunicarmos uns com os aquelas gírias bem especí cas,
nós nos comunicamos, nos
outros; ou palavras que só dentro de um
entendemos e continuamos
pequeno grupo são usadas
uma conversa, introduzindo
daquele modo.
assuntos diversos;
Exemplo
A língua portuguesa estabelece, na sua ordem direta, a forma Sujeito-Verbo-Objeto. Então, essa sintaxe da língua nos permite,
mesmo em variantes diferentes, não sair do limite normativo que a língua estabelece.
As diferenças fonéticas entre as duas frases não impedem a compreensão, apesar de sabermos que o primeiro se vale da
norma culta e o segundo de uma norma coloquial para se comunicar.
Estamos vendo como os estudos sobre Fonética e Fonologia vão além das questões fônicas e permeiam também as questões
sociais. É claro que você não vai deixar de falar do seu jeito, quando a ocasião não exigir de você um uso mais culto da língua,
no entanto é muito importante que você perceba que as simpli cações fonéticas, substituições de letras e acréscimo de outras
revelam muito sobre os falantes.
Atenção
Pode parecer, mas Fonética e Fonologia não são ramos idênticos de estudo da língua. A respeito do assunto, há a explicação: A
Fonética estuda os sons da fala como entidades físico-articulatórias isoladas (aparelho fonador). É a Fonética que descreve os
sons da linguagem e analisa suas particularidades acústicas e perceptivas. Ela fundamenta-se em estudar os sons da voz
humana, examinando suas propriedades físicas independentemente do seu papel linguístico de construir as formas da língua.
Sua unidade mínima de estudo é o som da fala, ou seja, o fone.
A Fonologia estuda as diferenças fônicas intencionais, distintivas, isto é, que se unem a diferenças de signi cação; estabelece a
relação entre os elementos de diferenciação e quais as condições em que se combinam entre si para formar morfemas,
palavras e frases. Sua unidade mínima de estudo é o som da língua, ou seja, o fonema.
Na maioria dos estados brasileiros, no que diz respeito à produção oral dos falantes em geral, o fonema /t/ é pronunciado de
duas formas diversas, dependendo da vogal que lhe procede: diante de [i], o fonema é materializado como [tʒ] (como em tia, na
fala do carioca), à proporção que, diante das outras vogais, é materializado como [t] (tato, teu, tua).
Já em regiões como Pernambuco, o fonema /t/ diante de [i] é pronunciado da mesma forma que diante das outras vogais (o
vocábulo tia é pronunciado de maneiras diferentes no Rio de Janeiro e em Pernambuco).
Mas como não existe uma contraposição semântica entre as duas formas de pronúncia, a Fonologia não concebe os dois sons
como fonemas diferentes. Na verdade vai concebê-los como uma mesma unidade (funcionalmente falando) e examina as
condições sob as quais se dá a alternância entre eles (geogra camente, por exemplo).
Mais à frente, entenderemos que essas ocorrências se dão porque [d͡ʒ] e [dão] são alofones. Mas isso é assunto para outra
aula.
A unidade básica de estudo para a Fonética é o fone. A fala humana é capaz de produzir inúmeros fones. A forma mais comum
de representar os fones pelos linguistas é através do Alfabeto Fonético Internacional (AFI), desenhado pela Associação
Internacional de Fonética (IPA).
Quando fazemos a transcrição fonética de uma palavra, devemos utilizar a tabela acima.
A palavra casa, por exemplo, seria foneticamente escrita /’kazɐ/. Observe que a tabela fonética fornece uma letra especí ca
para cada som, e mesmo as letras “a”, por serem pronunciadas diferentemente devido à tonicidade, recebem um símbolo
distinto (uma é vogal, a outra semivogal).
Pidgins e crioulos
Vimos que a língua é um conglomerado complexo de estruturas que tornam a linguagem codi cada e relativamente uma para
um grande grupo de falantes.
Foneticamente, as línguas são bastante ricas, complexas, valem-se de combinações variadas entre consoantes (encontros
consonantais) e vogais (ditongos, tritongos e hiatos). Mas existem estruturas linguísticas que são extremamente simples, não
usam quase nenhuma combinação complexa e são formadas por palavras dissílabas, basicamente compostas por consoante
+ vogal.
Exemplos:
Estamos falando de pidgins: línguas em estágios primitivos, construídas para contatos entre povos de diferentes origens, com
objetivos bastante delimitados. Os pidgins não possuem muita variedade de palavras, quase nenhuma exão de gênero ou
número, e a combinação fonética é basicamente como vimos anteriormente, consoante + vogal.
Comentário
Os primeiros registros de um pidgin foram quando do contato entre portugueses e nativos africanos com o propósito de permitir o
comércio entre eles.
A evolução de um pidgin se dá quando os falantes nativos adotam essa estrutura linguística como sua língua materna,
passando a se chamar crioulo.
Crioulo é, portanto, quando um pidgin permanece como língua de um grupo, mesmo que pequeno, e é passado pelas gerações.
Áreas de trabalho
Poucos são os quem sabem que pro ssionais especializados na área de fonética e fonologia possuem um mercado de
trabalho bastante amplo e não somente na área do magistério.
Um levantamento feito pela pesquisadora Silva (2009) nos mostra esses dados:
b) Teórico da linguística;
d) Planejamento linguístico-social;
e) Tradução e interpretação;
f) Dramaturgia;
g) Fonoaudiologia;
h) Linguagem de surdo;
i) Linguística computacional;
j) Linguística forense;
k) Ciência da telecomunicação;
l) Linguística indígena.
Atividades
1. Dentre os objetos de estudo da Linguística, assinale aquele que mais se relaciona com a Fonética e a Fonologia:
a) Investigação da língua como sistema, sem observar as produções de fala dos indivíduos.
b) Investigação da língua em estado sincrônico, sem avaliar a evolução da fala pelos tempos.
c) Análise das produções de livros e revistas em língua portuguesa.
d) Pesquisas sobre a aplicação de textos em contextos profissionais.
e) Investigação e análise das produções de fala dos falantes de uma dada língua, mostrando as variedades e especificidades das
construções linguísticas.
2. Relacione as colunas com as devidas informações acerca do que estudamos na aula de hoje:
3. Aponte um aspecto do português que marque a variação linguística entre faixas etárias diferentes. Dê exemplos para
melhorar sua resposta.
4. Analisando o amplo mercado que possui um especialista em Fonética e Fonologia, marque (V) para verdadeiro e (F) para falso:
a) Um pro ssional especializado em Fonética e Fonologia jamais poderia trabalhar com fonoaudiologia, pois não tem formação em medicina.
b) O pro ssional de Letras com especialização em Fonética e Fonologia está restrito à sala de aula.
c) Para ser um bom professor de língua portuguesa para estrangeiros, é bom ter domínio de Fonética e Fonologia, pois nem todos os sons da
fala produzidos por um nativo o são por um estrangeiro. Daí a necessidade de um especialista.
Referências
Notas
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. ver. ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à Fonética e à Fonologia. 5. ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1995.
SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2009.
Próxima aula
Explore mais
Assista ao documentário. Você fará uma imersão em um universo linguístico riquíssimo e aprenderá muito com as variedades
nordestinas sertanejas:
Sertão como se fala. Direção: Leandro Lopes. Brasil: Bil’s Cinema e Vídeo, 2016. 71 min, son., color.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Na primeira aula, vimos alguns fundamentos da Linguística e agora daremos início ao estudo de conceitos mais
aprofundados na Fonética e na Fonologia.
Uma primeira de nição que ajuda a delimitar o campo de atuação dessas áreas é o tema que abordaremos neste
encontro: a teoria da dupla articulação da linguagem, estruturada pelo linguista francês André Martinet.
Objetivo
De nir o conceito elaborado por Martinet e sua relação com a produção de linguagem;
Palavras iniciais
Nesta aula, vamos construir as respostas a essas duas perguntas por meio do entendimento do conceito que dá nome a este
segundo encontro.
Vamos, entretanto, elencar antes algumas semelhanças para, depois, entender alguns motivos que tornam a expressão do ser
humano tão característica e única.
Em segundo lugar, podemos
Primeiro, nota-se que os animais
também reconhecer que a
conseguem, assim como o ser
recepção dessa mensagem é
humano, transmitir informações
efetiva, tendo em vista que
entre si, inclusive por meio de
bandos inteiros são alertados
sons e movimentos.
quanto a determinados perigos,
por exemplo.
Ainda assim, é possível mencionar um terceiro aspecto, de acordo com o qual pode-se reconhecer que a comunicação entre
animais também é afetada pelas emoções, que podem incluir, por exemplo, o aumento de volume na emissão sonora em
contextos de gravidade.
Tendo em vista essas semelhanças, vamos compreender agora a dupla articulação da linguagem e, assim, estabelecer uma
diferença essencial que torna a comunicação humana bastante especí ca.
As articulações da linguagem
Como você já sabe, a dupla articulação da linguagem é um conceito sistematizado por André Martinet. Vamos, então,
compreender essa teoria por partes, começando por de nir o que é articulação.
Tendo em vista esse entendimento, vamos compreender quais são os dois planos em que, segundo Martinet, a linguagem é
articulada.
A dupla articulação
[...] é o conjunto cabeça que signi ca cabeça, e não a soma de eventuais sentidos de cada um dos segmentos em que
podemos dividi-lo: ca -be e -ça, por exemplo. (MARTINET, 1978)
Martinet ilustra de maneira bastante clara, mas é importante destacar que os morfemas nem sempre coincidem
perfeitamente com vocábulos. Tomemos, por exemplo, a palavra gatos. Há mais de um elemento formando essa
estrutura:
gat-, radical que signi ca mamífero felino, geralmente pequeno e peludo, criado como bicho de estimação;
Esse radical ainda pode unir-se a outros morfemas e dar origem a mais vocábulos, como gatil, engatinhar, gatinho etc.
Segunda articulação
Lembra-se de que dissemos que os morfemas não podem ser divididos? Isso ocorre porque, como também
explicamos, eles são unidades mínimas. Assim, para manterem o sentido que veiculam, não podem ser partidos em
elementos menores.
Vamos fazer novamente um paralelo com os ossos do corpo humano: um osso longo (o fêmur, por exemplo) é
composto pelas epí ses (as extremidades do osso) e pela diá se (o corpo do osso). Mas repare: a epí se não é o osso,
ela faz parte da composição do osso.
Fonte: //ral.fmrp.usp.br/tumores_osseos.pdf
<//ral.fmrp.usp.br/tumores_osseos.pdf>
Assim também, o /g/ de gatos não é um morfema porque gat- não pode ser dividido. A esse elemento dá-se o nome de fonema,
que é uma unidade desprovida de sentido e que compõe o morfema gat-, junto com os fonemas /a/ e /t/.
Os fonemas, então, fazem parte da segunda articulação da linguagem e têm apenas valor distintivo, o que signi ca dizer que, se
substituirmos, no morfema gat-, o fonema /g/ por /p/, teremos outro radical, pat-, que forma patos, por exemplo.
Quanto ao caráter distintivo dos fonemas, que não possuem signi cado, observe, ainda, a seguinte explicação:
Um simples grito de dor, inanalisável e inserido no contexto da expressão, pode ser o mesmo em comunidades diferentes. Já a
construção estou com dor de cabeça, na exempli cação de Martinet, além de ser analisável em unidades dotadas de uma
expressão fônica e de um conteúdo semântico, será também diferentemente construída conforme o sistema linguístico em que se
situa. (VIEGAS, 1986)
Para sistematizar, podemos pontuar que a primeira articulação diz respeito às unidades signi cativas, situadas no plano do
conteúdo, relaciona-se, portanto, com a morfologia. Já a segunda articulação, que aponta as relações entre os fonemas, opera no
plano da expressão e está inserida no campo da fonologia. Repare também que os morfemas são sempre indicados utilizando-se
hífen para limitar seu início ou m. Já os fonemas são sempre representados entre barras.
Economia linguística
Repare no fato de que unidades mínimas podem, nos dois planos identi cados por Martinet, unirem-se a outras unidades e,
mesmo dentro de um conjunto nito de itens, formar uma in nidade de estruturas. resume bem essa qualidade:
Uma forma muito palpável de analisar o domínio da dupla articulação proposta por Martinet é observar como poetas de todos
os tempos valeram-se dessa possibilidade para expressar conceitos novos, unindo, por exemplo, morfemas que nunca haviam
sido utilizados conjuntamente.
É provável que, ao mencionar essa forma de manipular a linguagem, você logo pense em Guimarães Rosa ou, mais
contemporaneamente, em Manoel de Barros e Ondjaki. Esses são, de fato, bons exemplos do trabalho minucioso de
observação do comportamento da língua e do polimento linguístico que possibilita a expressão poética.
Iniciamos esta aula propondo a questão de se a linguagem é uma faculdade exclusiva dos seres humanos ou se os outros
animais também a possuem. Esse assunto foi tópico de ampla explicação de Margarida Petter (2004), que menciona estudo de
Karl von Frisch sobre a estrutura e a comunicação das colmeias, especialmente quanto a fontes de alimentos encontradas por
abelhas-obreiras.
O primeiro ponto a ser citado é que a qualidade articulatória da linguagem humana não se replica na comunicação animal: não
há a possibilidade de se decompor uma determinada mensagem em elementos mínimos que sejam combinados com outros
elementos em outras situações para formar uma mensagem distinta. A dança feita pela abelha, por exemplo, atende ao
propósito único de informar determinadas coordenadas quanto à posição e tipo do alimento encontrado.
Uma segunda questão diz respeito ao conteúdo da mensagem: enquanto animais têm certa limitação sobre o que comunicar, a
linguagem humana permite que se produza conteúdo sobre basicamente tudo, inclusive — e aqui está a terceira diferença —
sobre a própria linguagem, que é o que temos feito ao estudar Linguística. O exercício metalinguístico permite-nos pensar
concreta e abstratamente sobre a linguagem humana.
Atividades
1. Explique o que postula a dupla articulação da linguagem e quais são as áreas da Linguística que se relacionam diretamente
com cada uma delas.
2. Estudamos, nesta aula, que a dupla articulação da linguagem sistematiza a análise da constituição lexical em nível
morfológico e fonológico. Vamos, então, praticar, relembrando as aulas dos ensinos fundamental e médio. Para isso,
decomponha as seguintes palavras, apontando os morfemas que as compõem (lembre-se de que a divisão dos morfemas é
apontada com hífen): meninos; bobo; falamos; ta; in nitamente. Após, escolha quatro desses morfemas e faça novas
composições.
3. Observe o seguinte texto do poeta Manoel de Barros:
Nem outra —
A m de dizer todas —
Assim,
Desexplicar —
(BARROS, 2009)
O autor cria a palavra desexplicar, uma palavra ainda não dicionarizada. Qual é o sentido que o morfema des- confere ao
sentido de explicar:
a) Certeza.
b) Afirmação.
c) Dúvida.
d) Negação.
e) N.R.A.
a) 2.
b) 3.
c) 4.
d) 5.
e) 6.
5. O estudo da dupla articulação da linguagem permite que a rmemos que:
a) O falante faz uso de um número ilimitado de fonemas para criar dezenas de morfemas que, combinados, dão origem a uma finitude de
palavras, qualidade expressa no princípio da economia linguística.
b) O falante faz uso de um número limitado de morfemas para criar milhares de fonemas que, combinados, dão origem a uma infinidade
de palavras, qualidade expressa no princípio da economia linguística.
c) O falante faz uso de um número limitado de fonemas para criar milhares de palavras que, combinados, dão origem a uma infinidade de
morfemas, qualidade expressa no princípio da economia linguística.
d) O falante faz uso de um número limitado de fonemas para criar milhares de morfemas que, combinados, dão origem a uma infinidade
de palavras, qualidade expressa no princípio do desperdício linguístico.
e) O falante faz uso de um número limitado de fonemas para criar milhares de morfemas que, combinados, dão origem a uma infinidade
de palavras, qualidade expressa no princípio da economia linguística.
Referências
Notas
BARROS, M. O guardador de águas. Rio de Janeiro: Record, 2009.
PETTER, M. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, J. L. Introdução à linguística. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
PIETROFORTE, A. V. A língua como objeto da Linguística. In: FIORIN, J. L. Introdução à linguística. 3. ed. São Paulo: Contexto,
2004.
VIEGAS, A. M. A dupla articulação da linguagem. In: Revista do Centro de Estudos Portugueses, [S.l.], v. 9, n. 12, p. 53-57, dez.
1986. ISSN 2359-0076. Disponível em: //www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/cesp/article/view/4442/4217
<//www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/cesp/article/view/4442/4217> . Acesso em: 4 jun. 2019.
Próxima aula
Aparelho fonador;
Fonética articulatória.
Explore mais
Além das obras indicadas no decorrer da aula e nas referências, você pode ler mais sobre o assunto em:
MARTELOTTA, M. E. Dupla articulação. In: MARTELOTTA, M. E. Manual de Linguística. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Na aula passada, entendemos o conceito de dupla articulação da linguagem, esquematizada pelo linguista André Martinet.
Nesta etapa, vamos entender melhor a produção da voz pelo viés anatomo siológico e, com isso, dar início aos estudos
da fonética articulatória, começando pelo entendimento de como funciona o aparelho fonador e suas características, além
de brevemente reconhecer o campo de estudo da fonética.
Objetivo
Descrever o funcionamento do aparelho fonador e as bases siológicas da produção da fala;
O processo fonatório
A produção da fala é um processo complexo que envolve quase metade do nosso corpo, utilizando recursos desde o cérebro
até o diafragma, um músculo localizado abaixo dos pulmões que tem papel fundamental na respiração.
Mas, antes de entendermos um pouco sobre todo o processo fonatório, precisamos saber que a fala não é uma habilidade
possibilitada por um órgão especí co e dedicado apenas a essa função. Isso porque produzir a fala é uma atividade secundária
de diversos órgãos do corpo.
Fonte: Africa Studio / Shutterstock
A faringe, por exemplo, é um órgão que participa ativamente dos sistemas digestivo e respiratório, fazendo a função de
passagem do ar e de alimentos ingeridos para os outros órgãos, nunca permitindo que esses dois se encontrem, pois a faringe
possui mecanismos que bloqueiam a entrada de cada um nas vias erradas.
Assim, a fala é um processo sensório-motor resultado de uma complexa estrutura que inclui a formação dos pensamentos,
ideias e a execução, da qual participam múltiplos sistemas.
Como vimos no texto de Cagliari, há várias instâncias envolvidas na produção da fala humana. Nós, porém, nos deteremos
nesta aula a estudar o aparelho fonador, composto pelos sistemas:
Antes de entendermos cada um desses sistemas, vamos observar como eles estão estruturados:
Sistema vibrador
Nesta etapa, as pregas vocais emitem o som glótico a partir do uxo de ar expirado. É neste sistema que se encontra a
laringe, onde estão as pregas vocais, músculos estriados que podem causar obstrução à passagem do ar na
expiração. Quando não ocorre essa obstrução, o espaço decorrente é chamado glote.
Sistema ressoador/articulador
É composto pelos articuladores (lábios, dentes, língua, mandíbula, palato e faringe) que modi cam os espaços
supraglóticos a m de garantir a ressonância no trato vocal e a geração das fontes de ruído, ou seja, o som que é
produzido na laringe aumenta sua amplitude no trato vocal e com a barreira total ou parcial que se produz na
articulação é que são produzidas as vogais e as consoantes.
Articulador ativo
São considerados articuladores ativos os que têm possibilidade de movimentar-se, causando uma mudança no trato
vocal. Fazem eventualmente a função de articuladores ativos:
O ápice;
Parte anterior;
Parte medial;
Parte posterior.
Articulador passivo
Uma vez que a mandíbula superior não se move, são seus componentes mais o véu palatino (localizado na parte
posterior do palato) que atuam como articuladores passivos:
Lábio superior;
Dentes superiores;
Céu da boca, que se divide em alvéolos (localizados um pouco acima dos dentes superiores);
Palato duro;
Véu palatino;
Úvula.
Características articulatórias
Agora que temos uma noção melhor da produção da fala, vamos estudar com mais profundidade os conjuntos de sons que se
assemelham pelas características articulatórias. Assim sendo, vamos entender como os segmentos consonantais podem ser
descritos.
Corrente de ar
Como mencionamos, o sistema produtor de coluna de ar faz parte da produção da fala, porém há alguns poucos sons que
são realizados por seres humanos sem a necessidade de ar, como é o caso do ranger dos dentes. Excetuando-se esses
raros casos, a maioria dos sons da fala faz uso da corrente de ar, que pode ser pulmonar, glotálica ou velar. No português,
apenas o primeiro tipo é o mecanismo utilizado.
Direção da corrente de ar
O ar pode ser egressivo (quando o diafragma exerce pressão nos pulmões e o ar é expelido) ou ingressivo (quando o ar é
aspirado, em direção ao pulmão). No português, há apenas os sons produzidos pela corrente de ar egressiva.
Estado da glote
Como explicamos, a glote é o espaço entre as pregas vocais, que, na produção da fala, podem ou não causar obstrução à
saída do ar. Quando as pregas vocais vibram durante essa obstrução, o estado da glote é denominado vozeado ou sonoro.
Quando a passagem do ar ocorre sem a vibração das pregas vocais, tem-se a glote desvozeada ou surda.
Se você abrir sua boca na frente do espelho, vai reparar que, atrás de todos os dentes, no fundo da boca, há uma
campainha, como costuma ser chamada a úvula. Ela localiza-se no m do véu palatino ou palato mole e pode ajudar a
identi car se um som é oral ou nasal, haja vista que, nos sons orais, a úvula ca levantada e, por isso, o ar não é expelido
pela cavidade nasal.
Já nos sons nasais, a úvula abaixa e o ar consegue ressonância na cavidade nasal. Essa observação é mais facilmente
feita na produção das vogais (sons de a e ã, por exemplo) porque, nesses casos, a observação do interior da boca é mais
fácil tendo em vista que não há obstrução da passagem de ar.
Na aula passada, estudamos a dupla articulação da linguagem e, com isso, entendemos que um dado conteúdo linguístico
pode ser segmentado em morfemas, na primeira articulação da linguagem, e em fonemas, na segunda, sendo esses dois
conceitos aprofundados, respectivamente, na morfologia e na fonologia.
Para a Fonética, a unidade mais importante de estudo é o fone. Conforme explicam Santos e Souza (2008), o fone é o som
discreto (segmentável, divisível) e concreto (realização material de um segmento) que pode ser medido sicamente. Isso
signi ca que o fone é um produto material que pode decompor-se em unidades formativas, os traços, os quais se combinam e
ocorrem ao mesmo tempo, invariavelmente.
Exemplo
Veja o exemplo é o da letra [p] que, decomposta, explicita os seguintes traços:
[+consonantal] trata-se de uma consoante, que causa algum tipo de obstrução à passagem de som;
Esses traços se aglutinam para formar o som [p], então são elementos que ocorrem ao mesmo tempo, o que não acontece
com os fones, que não podem se sobrepor no momento de uma produção linguística.
Mas, embora não possam ser produzidos linearmente, os traços são substituíveis. Se, por exemplo, em vez de [-sonoro] e [-
nasal] fossem colocados [+sonoro] e [+nasal], o fone seria [m].
Santos e Souza (2008) explicam que ao contrário dos traços, os sons são segmentáveis, isto é, podem ser separados numa
sequência sonora. Essa segmentação só é possível dado o caráter linear dos segmentos. É impossível produzir dois
segmentos ao mesmo tempo. Por exemplo, não é possível produzir os quatro sons da palavra pata ao mesmo tempo. Um
ocorre depois do outro. Além da operação de segmentação, também é possível a substituição. Por exemplo, no lugar de pata,
podemos ter cata, lata, bata substituindo o primeiro fone dessas palavras.
Atividades
1. Espalme suas mãos sobre seu pescoço, na parte central, onde os homens têm o pomo de Adão. Pronuncie, então, as
seguintes consoantes e perceba se elas são vozeadas ou desvozeadas:
4. Identi que a opção que descreve, de maneira correta, os traços das consoantes representadas:
5. Os articuladores ativos desempenham papel importante na produção dos sons, pois causam mudanças no trato vocal.
Dentre eles, podemos destacar a língua, que interage com vários dos articuladores passivos na produção do som.
Observe, de frente para o espelho, que parte da língua é utilizada na produção do som [l] — você pode pronunciar, por exemplo,
a palavra be[l]o. Trata-se:
a) Da lâmina.
b) Do ápice.
c) Do palato duro.
d) Dos alvéolos.
e) Da úvula.
Notas
Referências
SANTOS, R. S.; SOUZA, P. C. Fonética. In: FIORIN, J. L. Introdução à Linguística II: Princípios de análise. São Paulo: Contexto,
2008.
SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto, 2009.
Próxima aula
Explore mais
Além dos livros indicados nas referências, sugerimos também a seguinte leitura:
MARTINS, M. R. D. Ouvir falar: Introdução à fonética do português. Lisboa: Editora Caminho, 1998.
Assista ao vídeo:
Apresentação
Nesta aula, vamos relembrar alguns conceitos importantes de Física e Biologia que apoiam o entendimento do trabalho
com Fonética.
Estudaremos alguns aspectos de acústica, processamento auditivo, sua utilização nas pesquisas fonéticas e como esses
conhecimentos são largamente aplicados na sociedade contemporânea.
Objetivo
Examinar conceitos físicos e biológicos relacionados à fala;
Palavras iniciais
Focamos na produção da fala como assunto principal na aula passada, tendo em vista que, após os sinais cerebrais, é a partir
do aparelho fonador que emitimos e articulamos os sons. Para isso, fazemos uso de uma lista de fones que, combinados, dão
origem aos morfemas, os quais, por sua vez, vão também se unir para formar os vocábulos de um idioma (lembra-se da aula 2,
em que estudamos a dupla articulação da linguagem, de Martinet?).
Nesta aula, vamos entender o percurso do som, começando ainda no sistema vibrador, passando pelo sistema
ressoador/articulador até chegar aos ouvidos do interlocutor e, a partir daí, como é recebido e processado.
Som e silêncio
Antes de prosseguirmos, vamos, por meio da poesia, observar nossa relação com os sons do cotidiano e com o silêncio. A
seguir, leia em voz alta a poesia de Fernando Pessoa, que descreve um som particularmente conhecido do nosso cotidiano:
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
O som do relógio
Tem a alma por fora,
Só ele é a noite
E a noite se ignora.
Parece dizer
Sempre a mesma coisa
Como o que se senta
E se não repousa.
(PESSOA, 2016)
Em uma rápida análise, que pontos podemos ressaltar dessa poesia? Há o registro de um modo de expressão, uma alusão ao
cotidiano social e a um dos cinco sentidos humanos, concorda?
Pois é, Pessoa menciona o relógio como um objeto que produz um som contínuo e ininterrupto, sem variação, que faz
referência a um dado momento (a noite). Esse som é captado pelos ouvidos.
Agora, vamos ver um texto que, dentre outros assuntos, aborda a ausência do som, especi camente na terceira estrofe:
A perda do olfato
eu não lamento
A nal o olfato
Só serve para cheirar
Os quatro elementos
Vamos ao fato
O paladar eu perdi
Mas não porque o perdesse
Tirei da cabeça
O gosto do abacaxi
Uma consequência
Toma conta de mim
Como se fosse um barato.
(LEMINSKI, 2013)
O poeta, nesse texto, busca fazer o caminho inverso ao proposto por Pessoa, pois começa a negar os estímulos externos, que
são captados pelos sentidos humanos, relatando a perda do olfato, do paladar e a procura pelo silêncio.
Iniciamos esta aula com essas duas formas de análise do som (sua existência contínua e sua ausência) para entender a
importância de se observar o que captamos com nosso ouvido.
Limpeza da audição
Vamos ainda continuar esse exercício de atenção aos estímulos sonoros que recebemos. O compositor, escritor e educador
musical canadense Schafer (2011), em um de seus cursos, propôs aos alunos que abrissem seus ouvidos:
Como pontua Schafer (2011), ao contrário de outros órgãos dos sentidos, os ouvidos são expostos e vulneráveis, tendo em
vista que, diferentemente dos olhos, por exemplo, os ouvidos não podem ser fechados, de forma a isolá-los dos estímulos.
Além disso, os olhos podem focalizar e apontar nossa vontade, enquanto os ouvidos captam todos os sons do horizonte
acústico, em todas as direções.
Primeiro, vamos prestar atenção aos ruídos a que estamos expostos. A depender do local e das condições com as quais você
lida enquanto acompanha esta aula, há pouco ou muito ruído com o qual seu ouvido entra em contato e talvez grande parte
seja ignorada por você.
Reconhecer o que é ruído e valorizar a existência do silêncio são atitudes importantes no trabalho fonético porque qualquer
interferência sonora pode atrapalhar e di cultar a catalogação e análise dos dados. Como vimos nas aulas passadas, há traços
que estabelecem diferenças muito pequenas entre sons (o traço [+sonoro] diferencia, por exemplo, o fone [p] de [b]).
Fonética acústica
Tendo feito esse reconhecimento da importância do silêncio e aprendendo a reconhecer os ruídos, vamos agora relembrar
alguns conceitos de Física a m de entender as contribuições da fonética acústica para o estudo das línguas.
Conceitos de Física
O som é um tipo de onda mecânica, ou seja, precisa de um meio material para se propagar (não se propaga no vácuo
como as ondas eletromagnéticas, como é o caso da luz e das ondas do rádio).
Na imagem anterior, vemos uma pessoa movendo verticalmente uma corda para cima e para baixo em intervalos de
tempo iguais. Esses movimentos periódicos causam pulsos que se propagam ao longo da corda. Como podemos ver,
a parte mais elevada da onda tem o nome de crista e o vale é a cavidade entre duas cristas. O tempo que duas cristas
consecutivas levam para passar pelo mesmo ponto é denominado período T, e frequência f representa a quantidade
de cristas consecutivas que passam pelo mesmo ponto em uma unidade de tempo. A frequência é medida em Hertz
(Hz). Assim, pode-se calcular a frequência de uma determinada emissão com a seguinte equação: f = 1/T.
Na imagem, ainda aparecem o comprimento de onda, que é a distância entre duas cristas ou dois vales consecutivos,
representado pela letra grega ƛ, e a amplitude da onda, representada pela letra a.
Lembra-se de quando falamos de som e ruído? Agora temos condições de de nir acusticamente o que podemos
chamar de som e como entender o ruído. O som do relógio, que Pessoa descreve como o que parece dizer/sempre a
mesma coisa, é um exemplo de onda periódica, um tipo de onda que se repete com intervalos de tempo iguais. Um
ruído é um tipo de onda inconstante, irregular e imprevisível, o que o torna uma onda aperiódica. A fala possui também
esse tipo de produção, como é o caso das sibilantes (o [s] de [sus], por exemplo).
Abordamos até agora os aspectos de onda simples, porém grande parte dos corpos que produzem som emitem
ondas complexas, que são compostas pela junção de ondas simples, como a que vimos.
Quando um corpo vibra, ele emite ondas em determinada frequência. Pense, por exemplo, nas pregas vocais. Quando
há a produção de som, elas estão vibrando. Porém, outras partes também se movem (por exemplo, os músculos que
participam da fonação). Temos, então, a frequência fundamental, sendo a primeira produzida pelo corpo por inteiro, e
os harmônicos, ou seja, as frequências múltiplas da frequência fundamental.
Cada corpo possui uma frequência, pela qual podemos reconhecê-lo. Características como cor, formato e textura, por
exemplo, são frequências que nossos olhos captam. Assim também, quando as ondas sonoras são emitidas, elas são
reforçadas ao entrar em contato com os corpos que têm a mesma frequência, a chamada frequência natural. Por
exemplo: se você emitir um som agora em 200Hz, um corpo que vibra nessa mesma frequência agirá como um
reforço desse som, apoiando na propagação dele. A isso dá-se o nome de ressonância.
Essas ressonâncias, dentro de um tubo acústico (como é o caso do trato oral, no sistema ressoador/articulador do
aparelho fonador), são chamadas de formantes. Por meio dos formantes, podemos reconhecer os traços que
compõem determinado fone.
Tendo em vista as noções de frequência fundamental e formantes, poderemos entender a teoria fonte- ltro na qual,
segundo Fukuyama (2001), a fonte é a vibração laríngea e o ltro é o trato vocal. Assim, temos o sistema vibrador, no
qual:
A laringe (a fonte - onde estão localizadas as pregas vocais) emite um som na produção da fala, a frequência
fundamental;
Os articuladores ativos modi cam o formato do tubo no sistema ressoador/articulador, agindo como um ltro
que reforça determinadas frequências que serão ressoadas.
Fonética no laboratório
As noções de Física que trabalhamos aqui, embora introdutórias, são elementares para as pesquisas acústicas em Fonética e,
portanto, para as análises laboratoriais. Com essas noções, os pesquisadores têm condições de analisar, por meio de
espectrogramas, a qualidade dos fones e o que muitas vezes é imperceptível ao ouvido humano.
Lembra-se da tabela do IPA, na primeira aula? Fica muito mais fácil, por exemplo, observar as diferenças entre dois fones com
traços muito semelhantes, com a análise de um espectro, que indica vozeamentos, oclusões da boca etc., características que
nem sempre são notadas por não falantes de determinado idioma. Além disso, também é possível determinar padrões de
entonação, segmentando a produção oral de homens e mulheres, adultos, crianças, idosos, até mesmo paradigmas individuais,
que são muito úteis na análise forense, tendo em vista que se trata de um instrumento cientí co.
Outro uso muito comum que tem base nas pesquisas de fonética acústica são:
Porém, como este não é o foco do nosso curso, não nos deteremos nos instrumentos laboratoriais utilizados na análise de
dados da fonética instrumental. Ainda assim, incentivamos com muito ânimo que você se aventure nos programas gratuitos
Audacity ou Praat, que são muito intuitivos e oferecem, inclusive, um manual de utilização.
Saiba mais
Você pode conferir trabalhos que exempli cam as possibilidades de pesquisa em Fonética fazendo uso dos programas citados,
como é o caso da obra de Masip, 2015. Além disso, você também pode acessar as produções do laboratório de Fonética Aplicada
da Universidade Federal de Santa Catarina (FONAPLI), em cujo site você encontra um corpus com áudios para trabalhar nos
programas e extensa indicação bibliográ ca.
Fonética auditiva
Até agora, vimos conceitos importantes para as abordagens:
Vamos, nesta etapa, entender o processamento auditivo da fala, que dá base para a fonética auditiva. Para um som ser
detectado pela audição humana, precisa estar em uma faixa de frequência entre 20 e 20.000 Hz; os sons com maior frequência
são chamados de ultrassônicos, e os de menor frequência, infrassônicos.
Mesmo dentro dessa faixa de captação possível da audição humana, estamos muitas vezes expostos a estímulos múltiplos.
Assim, por meio do processo da atenção auditiva, é possível monitorar um determinado sinal acústico e, dessa forma, de nir
sua prioridade em detrimento dos outros estímulos sonoros que porventura estejam competindo.
Audição humana
A audição faz parte do sistema sensorial do ser humano e é possibilitada pelas orelhas. Cada uma delas está dividida em três
partes: a orelha externa, a orelha média e a orelha interna.
Clique nos botões para ver as informações.
Orelha externa
A orelha externa é um canal que tem início no pavilhão auricular (veja na foto onde estão a concha, a hélice e o lóbulo
auricular, por exemplo) e termina na membrana timpânica. A estrutura do pavilhão amplia o campo de captação sonora e
direciona o som para a orelha média. Assim, quando um som é produzido, as moléculas do ar são agitadas pela onda
originada pela fonte sonora e vão transmitindo a energia recebida às outras moléculas, até chegar, conduzido pelo meato
acústico externo, ao tímpano, que passa a vibrar com a mesma frequência das ondas.
Orelha média
A membrana timpânica tem o formato de um cone e separa a orelha externa da orelha média, também chamada de
cavidade timpânica. Trata-se de um espaço oco no osso temporal, preenchido por ar, entre o tímpano e a orelha interna,
onde estão os três ossículos auditivos, o martelo, a bigorna e o estribo, que são articulados entre si. Quando a membrana
timpânica é excitada, ela move esses três ossos, responsáveis pela condução da vibração até a orelha interna.
Há também, nessa parte da orelha, a tuba auditiva que, conectando a cavidade da orelha média à nasofaringe, iguala a
pressão na orelha média à pressão atmosférica, pois devem ser sempre a mesma nos dois lados do tímpano. Quando
isso não ocorre, ou seja, enquanto há desequilíbrio, não ouvimos bem.
Orelha interna
De acordo com o Dr. Dráuzio Varella (2019), a orelha interna é formada por escavações no osso temporal, cobertas por
membranas e preenchidas por líquido. Pode ser dividida em:
A orelha também é responsável pelo equilíbrio. Porém, nos interessa mais entender o processo de audição. Segundo
Varella (2019), após a recepção das vibrações sonoras, os ossículos auditivos transmitem essas ondas até a janela oval,
entrada da orelha interna, onde movimentam o líquido da cóclea. As células ciliadas da cóclea, por sua vez, transmitem,
por meio de impulsos nervosos, as vibrações até o córtex cerebral, onde as informações são interpretadas.
Processamento auditivo da fala e a Fonoaudiologia
Os conhecimentos biológicos são muito importantes para a pesquisa fonética. Como vimos nesta etapa, desde a produção até
a recepção da fala muitos fatores estão envolvidos. Porém, um elemento também relevante é o processamento auditivo desse
estímulo sonoro.
Para a Fonoaudiologia, esses conhecimentos são indispensáveis, pois muitas vezes a produção da fala não é comprometida,
mas há uma desordem do processamento auditivo central (PAC), o que causa diversas di culdades, como aprender a ler e a
escrever, letra feia, inversões de letras etc.
Atividades
1. Tendo em vista que no espaço sideral existe o vácuo, ou seja, não há moléculas e, portanto, não há meio material, podemos
concluir que nesse ambiente:
2. Para que a orelha humana pudesse captar um som de 24.500Hz produzido por um gol nho, o ideal seria estar longe ou perto
do animal? Justi que.
3. Explique o que postula a teoria fonte- ltro.
Referências
Notas
FUKUYAMA, E. E. Análise acústica da voz captada na faringe próximo à fonte glótica através de microfone acoplado ao
brolaringoscópio. In: Rev. Bras. Otorrinolaringologia. v. 67, n. 6, p. 776-786. São Paulo, 2001. Disponível em:
//www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72992001000600005&lng=en&nrm=iso <//www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0034-72992001000600005&lng=en&nrm=iso> . Acesso em: 5 jun. 2019.
MASIP, V. Fonética e fonologia portuguesas: um modelo didático latoratorial. In: Linha D’Água, v. 28, n. 1, p. 177-196, 30 jun.
2015. São Paulo: USP, 2015. Disponível em: //www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/89281
<//www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/89281> . Acesso em: 5 jun. 2019.
PESSOA, F. Obra poética de Fernando Pessoa. v. 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
Próxima aula
Os segmentos consonantais;
Os segmentos vocálicos.
Explore mais
MOLLICA, M. C. Limites entre normal e patológico. In: MOLLICA, M. C. (org.). Linguagem para formação em letras,
educação e fonoaudiologia. São Paulo: Contexto, 2009;
MOLLICA, M. C. Distúrbios fonoarticulatórios na Síndrome de Down. In: MOLLICA, M. C. (org.). Linguagem para formação
em letras, educação e fonoaudiologia. São Paulo: Contexto, 2009.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Agora que conhecemos em linhas gerais as bases biológicas da produção da fala, vamos adentrar mais propriamente na
análise fonética.
Nesta aula e na próxima, trabalharemos mais detidamente a análise, a descrição e a transcrição dos sons da fala do
português brasileiro, comparando, quando possível, com o português europeu e com outros idiomas.
Iniciaremos estudando as consoantes e as características formais de análise. Após, daremos início ao estudo das vogais,
o qual será aprofundado na aula seguinte.
Objetivo
Identi car os segmentos consonantais com base na tabela do IPA;
Palavras iniciais
Hoje retomaremos os conceitos articulatórios da fala, aqueles que estudamos na aula 3. Se puder, revise com mais a nco os
conceitos e os itens que estudamos lá para que possamos dar prosseguimento à análise da língua portuguesa levando em
consideração a segunda articulação proposta por Martinet, ou seja, os fones.
Sendo assim, vamos recuperar o que estudamos na terceira aula, no item 2, sobre as características articulatórias, em que
elencamos:
e) Os articuladores ativos;
f) Os articuladores passivos.
Nesta aula, vamos trabalhar com mais ênfase os dois últimos itens, ou seja, os articuladores ativos e os passivos. Como
dissemos, é importante que esses conhecimentos estejam sólidos na sua memória para que possamos avançar.
Vamos lembrar também que as consoantes apresentam algum tipo de barreira para a passagem do ar, assim, não existe uma
facilidade para que o ar saia e é essa obstrução o principal elemento dos segmentos consonantais. O que vamos ver a seguir é
que essa obstrução ocorre de diferentes modos e em diferentes lugares, o que gera sons diferentes uns dos outros.
Lugar de articulação
Quando pensamos nos articuladores, não devemos imaginar que a sua ação ocorra isoladamente. Como vimos anteriormente,
a posição de cada elemento do trato vocal cria uma con guração que promove a ressonância de determinado som. Dessa
forma, mesmo que não haja contato direto entre articulador ativo e passivo, é a atuação de ambos que cria certo formato do
sistema ressoador/articulador.
À posição de ambos analisada conjuntamente, damos o nome de lugar de articulação. Vamos ver, então, quais são as
possibilidades para o português. Revise, antes, as indicações dos pontos importantes do aparelho fonador:
Labiodental
02 O articulador ativo é também o lábio inferior, já o articulador passivo são os dentes. Basta lembrar de como [f] soa em
fazenda.
Dental
03 Para produzir esse som, você utiliza o ápice ou a lâmina da língua como articulador ativo e os dentes incisivos
superiores (os quatro primeiros dentes da parte de cima da arcada dental). Fale, por exemplo, a palavra data.
Alveolar
O articulador ativo também é o ápice ou a lâmina da língua, enquanto o articulador passivo são os alvéolos. A
diferença entre esse tipo de consoante e o tipo anterior é o articulador passivo: enquanto as consoantes dentais são
04 produzidas com os incisivos superiores, as alveolares têm como articulador passivo os alvéolos. Experimente falar a
palavra data tocando os dentes incisivos superiores com o ápice ou a lâmina da língua, e depois tente essa mesma
palavra com a língua tocando os alvéolos.
Palatal
06 O articulador ativo para produzir essa consoante é a parte média da língua, que encosta no m do palato duro, o
articulador passivo. Reconhecemos esse tipo de consoante na palavra palha.
Velar
07 Para esse tipo de consoante, o articulador ativo é a parte posterior da língua (ou seja, a parte mais próxima da úvula) e
o articulador passivo é o véu palatino, também chamado de palato mole. Exemplo desse som: gata.
Glotal
08 Como explica Silva (2009), os músculos ligamentais da glote comportam-se como articuladores, produzindo, assim,
sons como rata, na pronúncia típica de Belo Horizonte.
Modo de articulação
À lista que retomamos no início desta aula, vamos adicionar o grau e a natureza da estrutura. Assim, a lista atualizada ca
sendo:
e) Articuladores ativos;
f) Articuladores passivos;
Esse elemento diz respeito à posição do articulador ativo em relação ao articulador passivo, levando em consideração como e
quanto a corrente de ar passa pelo trato vocal.
A partir dessa de nição, temos como categorias para descrever, no português, o modo de articulação:
Oclusiva
Os articuladores criam uma obstrução total para a passagem do ar na boca. Assim, o ar sai como uma explosão (por isso,
muitas vezes esse tipo de consoante é também chamada de plosiva), após a abertura para a corrente de ar. Nesse tipo de
consoante, o véu palatino está levantado, o que impede a passagem do ar para a cavidade nasal. Assim, esse tipo de som
é oral. Em português, temos as consoantes oclusivas: pá, bar, cá, gata e dá.
Nasal
Nesse tipo de consoante, os articuladores também criam uma obstrução total para a passagem do ar na boca, também
provocando uma explosão quando o ar sai. A diferença essencial aqui é a posição do véu palatino: como ele está
abaixado, permite que o ar passe pelas cavidades oral e nasal. Essa, portanto, é a única diferença entre as nasais e as
oclusivas. As consoantes nasais do português são: má, nasal e banho.
Fricativa
Os articuladores se aproximam, mas não causam obstrução total à passagem do ar, como no caso das consoantes
oclusivas. Assim, o ar passa pela cavidade oral com obstrução parcial, causando uma fricção entre os articuladores. Em
português, as consoantes fricativas são fava, sol, zelo, racha (pense no som desse r como o feito no Rio de Janeiro.
Vamos em breve diferenciar modos de articulação existentes para essa consoante).
Africada
Pense nesse modo como sendo uma junção de uma consoante oclusiva e uma fricativa, pois o que ocorre é basicamente
isto: no início da produção, há uma completa obstrução da passagem do ar e o véu palatino encontra-se levantado (como
nas oclusivas), ou seja, o ar passa apenas pela cavidade oral. Na fase nal, o ar atravessa com fricção entre os
articuladores (como nas fricativas) e o véu palatino permanece levantado, então essa consoante também é oral. Além
disso, as duas etapas da produção da africada ocorrem no mesmo lugar de articulação.
No português, temos as africadas dia e tia (pense também na pronúncia feita no Rio de Janeiro, em que falamos *djia e
*tchia).
Para produzir esse som, o articulador ativo toca rapidamente o articulador passivo, causando uma oclusão breve, que
obstrui a passagem do ar pela boca. Em português, temos como exemplos da realização dessa consoante em arara e
brava.
Vibrante (múltipla)
O articulador ativo realiza vários toques no articulador passivo. Esse tipo de som ocorre em algumas variantes do
português, como no estado de São Paulo na pronúncia de "marra" (pense na língua fazendo vibrações múltiplas, o que
diferencia essa palavra de "Mara").
Retro exa
A ponta da língua toca o palato duro, ou seja, geralmente há um encurvamento da língua que se dobra para alcançar o
palato duro. Pense na pronúncia do interior de São Paulo para falar as palavras mar e carta.
Laterais
Existe uma oclusão da passagem do ar, mas não é total nem causa saída com fricção dos articuladores. O que ocorre é a
obstrução do ar na parte central do trato vocal, fazendo com que o ar seja expelido pelos lados.
No português, esse tipo de consoante está em lá, palha e sal (pense, neste caso, em pronunciar sal como se fosse
pronunciar sala, e não como saudade).
Articulação secundária
Há ainda descrições que consideram o que é chamado de articulação secundária, que tem a ver com o contexto em que as
consoantes são produzidas. Observe, por exemplo, que sala e Sula têm pronúncias bastante similares, mas o segmento [s]
apresenta um arredondamento em Sula (a título de curiosidade, esse fenômeno é descrito como labialização).
Porém, neste curso, não trabalharemos com a transcrição fonética restrita, que leva em consideração esses dados. Vamos,
então, usar a transcrição fonética ampla, que, como descreve Silva (2009), explicita apenas os aspectos que não sejam
condicionados por contexto ou características especí cas da língua ou dialeto.
Neste momento, interessa-nos apenas conhecer a representação dos segmentos consonantais produzidos no português. Por
isso, con ra, a partir do conhecimento que você já adquiriu, a localização das consoantes que indica as três informações
apontadas no item 3. Aproveite para observar também os símbolos usados na transcrição fonética desses sons:
Articulação
Dental ou
Bilabial Labiodental Alveopalatal Palatal Velar Glotal
alveolar
Maneira Lugar
Desv p t k
Oclusiva
Voz b d g
Desv t∫
Africada
Voz 𝑑3
Desv f s ∫ X h
Fricativa
Voz v z 3 Ɣ ʱ
Nasal Voz m n ɲỹ
Tepe Voz
Vibrante Voz
Retroflexa Voz
Lateral Voz
Vamos começar já entendendo que os segmentos vocálicos não apresentam interrupção da corrente de ar na linha central,
assim, não se trata de obstrução ou fricção no trato vocal durante a produção das vogais.
Na próxima aula, iniciaremos esse estudo, entendendo os três aspectos que interferem na qualidade das vogais:
Posição da língua no sentido da altura que ela apresenta durante a passagem do ar;
Atividades
1. Assinale a opção incorreta a respeito da palavra churrasqueira:
3. Transcreva as palavras NASA, parada, sala e catraca. Para isso, use o símbolo [a] para todas as vogais (estudaremos com
mais detalhes os segmentos vocálicos na próxima aula) e lembre-se de usar os colchetes, que indicam que se trata de
transcrição fonética.
Notas
Referências
Próxima aula
Os segmentos vocálicos;
Explore mais
Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto.
Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Até aqui, você já deve ter reparado que estamos reestruturando muitos conhecimentos que formamos no Ensino Básico.
Começamos a entender os sons que produzimos de maneira mais cientí ca, identi cando os mecanismos que entram em
jogo para que um som seja produzido e reconhecido.
Vimos as bases biológicas da fala e da audição, bem como relembramos conceitos físicos. Esses conhecimentos,
somados, capacitaram-nos a descrever os sons que ouvimos, distinguindo qualidades que, no caso do português
brasileiro, já são internalizadas e reconhecidas porque somos falantes nativos.
Com esta aula, analisando os segmentos vocálicos, terminamos nossos estudos de Fonética. A partir desse
conhecimento, conseguiremos partir para um estudo mais especí co do português e suas regras fonológicas.
Objetivo
Classi car os segmentos vocálicos com base na tabela da IPA;
Segmentos vocálicos
Na aula passada, vimos as consoantes e aprendemos a identi car os traços que as formam, levando em consideração, por
exemplo, o ponto em que ocorrem no trato vocal e o modo como se dá a obstrução (total ou parcial). Na aula de hoje, vamos
mudar um pouco a perspectiva porque os segmentos vocálicos da fala seguem parâmetros diferentes.
Lembra-se de quando mostramos que as consoantes são oclusões que ocorrem à passagem do ar e que esse bloqueio pode
ser completo ou apenas parcial? Segundo Cagliari (2007), o que ocorre com as vogais não é uma oclusão, mas uma
aproximação dos articuladores de modo que o estreitamento do canal fonatório bucal não produza fricção local.
Vamos recorrer, novamente, à tabela da IPA para observar como estão dispostas as vogais e entender as categorias que
entram em jogo para as suas descrições.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Altura da língua
Uma das qualidades que utilizamos para descrever um som vocálico é a posição que a língua ocupa na estrutura bucal.
Exemplo
Fale a vogal [a] e perceba em que altura está a sua língua. Agora, produza o [i]. Reparou que a língua subiu para que esse som
fosse produzido? E como se dá a localização da língua produzindo [u], [e] (como em você) e [o] (como é vovô)?
Essa mudança ocorre porque a língua move-se verticalmente. Assim, ela pode localizar-se em uma posição mais alta, mais
baixa ou em posições intermediárias, de onde vêm os títulos que as vogais recebem nesse quesito.
Baixa Média-baixa
3 4
Média-alta Alta
Anterioridade/posterioridade da língua
Câmara Junior (2009), ao tratar do verbete vogal, explica que, nesta categoria, que descreve o avanço ou recuo da língua, outra
forma de nomear as vogais anteriores e posteriores é, respectivamente, palatal e velar.
Vamos fazer o mesmo exercício que zemos na categoria acima: onde você diria que sua língua se posiciona horizontalmente
para produzir a vogal [i]? E a vogal [u]? Reparou que a primeira ca mais à frente do que a segunda? Há uma outra diferença
também entre essas duas vogais, que é tema da próxima categoria.
Continue lendo sobre os aspectos que utilizamos para descrever um som vocálico.
É importante observar como é a sua realização vocálica para que a sua transcrição fonética seja o mais el possível à
produção. Vamos, assim, olhar para alguns exemplos. Indicamos, de antemão, que as vogais átonas (as que cam em posição
pretônica ou postônica) são as que mais demandam nosso cuidado, haja vista que as variações em todo o Brasil demonstram
uma pluralidade de possibilidades de realização desses segmentos, o que exige igualmente a delidade na transcrição. Observe
bem o quadro e lembre-se também dos glides:
Atenção
Pedimos a atenção para a transcrição, uma vez que as realizações podem ser diversas, a depender do local de onde o falante é.
Por exemplo: a palavra beleza poderia ser transcrita como [bɛ'lezə] ou [be'lezə]. Esse é um caso de vogal pretônica. No entanto,
essa não é a única ocorrência desse tipo de variação. Para a palavra pérola, poderia haver tanto a possibilidade de transcrever
['pɛɾolə] quanto ['pɛɾɔlə].
Atividades
1. Selecione entre os colchetes o símbolo que representa a vogal descrita. Siga o exemplo:
2. Complete a indicação na transcrição fonética das palavras com a vogal que melhor representa a pronúncia na sua região:
a) terreno [t 'xẽnʊ]
b) seriedade [s ri 'da ɪ]
c) pedal [p 'daw]
d) moleza [m 'lezə]
3. Transcreva as palavras a seguir, lembrando-se de indicar a vogal tônica com o símbolo ['] antecedendo a sílaba acentuada.
Referências
Notas
CAMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática: referente à língua portuguesa. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
CAMARA JR. Estrutura da língua portuguesa. 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
FIORIN, J. L. Introdução à linguística II: princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
Próxima aula
Explore mais
Você pode explorar mais a pronúncia das vogais, comparando-as, por meio do site:
//www.ipachart.com/ <//www.ipachart.com/>
O site também oferece a realização dos outros símbolos descritos na tabela da IPA.
Fonética e Fonologia do Português
Aula 7: Fonologia
Apresentação
Comentamos em uma das aulas que o elemento de estudo da Fonética é o fone, ou seja, determinado segmento sonoro
sem sentido vinculado e sem peso contrastivo.
Assim, nas últimas aulas, preocupamo-nos em entender quais são os fatores que entram na produção e na recepção do
som e, principalmente, em aprender como reconhecer e descrever os fones, com especial atenção aos segmentos
consonânticos e vocálicos.
Nesta e na próxima aula, começaremos a utilizar esse conhecimento para notar como as línguas organizam-se em
sistemas com regras nem sempre nomeadas claramente pelos seus falantes, mas de usos bastante comuns.
Objetivo
Explicar a Fonologia;
Conhecimento fonológico
Em sua crônica A favor do medo, de 11 de novembro de 1967, Lispector (1984) faz uso da palavra passeíto, narrando um
convite que havia recebido.
Vamos para outro exemplo. Se você lê a palavra estrepurizoital, mesmo sem saber seu signi cado ou se ela existe na realidade,
é bem provável que a classi que como um adjetivo, tendo em vista a partícula nal.
Isso ocorre não só morfologicamente, relacionado à forma das palavras, mas também fonologicamente, tendo em mente que a
estrutura vocabular segue determinadas regras.
Por exemplo:
Se em vez de estrepurizoital você tivesse que ler eshthypwrizoitap, certamente a rmaria que essa palavra não pode ser da
língua portuguesa. Falantes de determinada língua são profundos conhecedores do inventário fonético de tal idioma, ou seja,
sabem quais sons de todos os possíveis nas línguas do mundo são utilizados num dado código e dominam também a
organização desses sons em sequências carregadas de signi cado.
Isso é importante porque muitas vezes falantes nativos com pouco conhecimento acadêmico de seu idioma se consideram
não conhecedores. Porém, o uso de uma língua e a habilidade de entender seus processos muitas vezes complexos
independem de um estudo mais aprofundado e cientí co. Buscaremos mostrar, a partir da fonologia e, mais ao m do curso,
com a sociolinguística, como todo falante tem conhecimento cabal de regras linguísticas nas.
Fonema
Vamos novamente resgatar nossa segunda aula: a dupla articulação da linguagem. Você se lembra? Lá, adiantamos que a
segunda articulação se relaciona à fonologia, que se ocupa com o plano da expressão. Assim, nessa segunda forma de
decomposição de um enunciado, chega-se aos fonemas, os quais são, segundo Fiorin (2008), as suas menores unidades
linearmente segmentáveis, não dotadas de signi cado, mas que permitem a distinção de signi cado.
Os fonemas, a unidade de estudo da fonologia, são linearmente segmentáveis porque não podem ser produzidos sobrepostos,
ao mesmo tempo. Sua execução se dá de maneira sequencial. Essas unidades, como já mostramos, não carregam signi cado,
mas, como veremos, são capazes de alterar o signi cado.
Vejamos as palavras:
Pata
Bata
Mata
Cata
Gata
Data
Nata
Com exceção das consoantes iniciais, todo o restante da palavra permanece igual. Mas essa mínima mudança foi su ciente
para que sentido também fosse alterado.
O que estamos mostrando, com isso, é que [p], [b], [m], [k], [d] e [n] —
a representação fonética das consoantes — não carregam signi cado
em si, mas possibilitam que os signi cados sejam alterados pela
simples alternância dessas consoantes. Assim, essas consoantes são
consideradas fonemas no português brasileiro. Para representar os
fonemas, utilizamos os símbolos grá cos entre barras, assim: /bata/.
Câmara Junior (2007) explica que o fonema é um conceito da língua oral e não se confunde com a letra na língua escrita.
Nesta, o mesmo fonema pode ser representado com letra diferente, como em aço e asso, chá e xá (o rei da Pérsia), o su xo -
esa (de portuguesa) e -eza (de tristeza) e assim por diante.
Alofones
Vimos então que os fonemas são elementos que têm caráter distintivo em um dado sistema fonológico. Há ainda os alofones,
que são realizações possíveis e equivalentes para um mesmo fonema.
Vamos pensar, por exemplo, olhando novamente a tabela da IPA, quais seriam as possibilidades de pronúncia de r da palavra
mar, em português, sem perda de sentido. Essa consoante, na posição de nal de palavra, costuma ser pronunciada como:
Realização típica de Belo Horizonte, pense em um som levemente aspirado, pois essa fricativa é produzida na glote.
É típica do Rio de Janeiro e é produzida pelo dorso da língua contra o véu palatino, assim, a fricção gera um pouco mais de
som.
É uma aproximante e é característica de falantes caipiras (pense em como uma pessoa que mora no interior de São Paulo
produziria a palavra mar).
Realização típica de Portugal. Para entender como é essa pronúncia, pense, por exemplo, na palavra ma[ɾ]inho e pronuncie
apenas até o tepe ma[ɾ]. Lembre-se de que o tepe é uma batida rápida e única do articulador ativo no articulador passivo;
quando há mais de uma batida, já se trata de uma vibrante.
Vamos pensar em mais um exemplo: a palavra más tem uma consoante fricativa no m. Ocorre, porém que, dependendo da
região de onde você seja, a realização muda sem perdas para o entendimento. Por enquanto, vamos ignorar o contexto em que
a palavra está se inserida, ou seja, se há antes ou depois outra palavra. Estamos, assim, considerando-a isoladamente.
Para um falante, digamos, do Rio de Janeiro, a pronúncia dessa palavra será ['maʃ]. Considerando outro local, que poderia ser o
centro de São Paulo, a pronúncia seria ['mas].
Percebe a diferença?
No primeiro exemplo, a consoante é produzida na região pós-alveolar. Já no segundo, a obstrução ocorre nos dentes/alvéolos.
Todas essas possibilidades são alofones, ou seja, fones possíveis de realizar um mesmo fonema sem perda ou troca de
sentido.
Par suspeito, par mínimo e par análogo
Para iniciar uma análise fonológica, é importante levantar um corpus que leve em consideração o maior número de palavras de
uma língua, de modo que o recorte não seja prejudicado por uma seleção incompatível ou de pouca representação do código
linguístico. Assim, ao analisar uma nova língua, é importante que a seleção leve em consideração todos os sons utilizados no
sistema linguístico nas mais variadas posições (início de sílaba, m de sílaba, pretônica, postônica etc.).
Após o levantamento dos fones de um determinado idioma, localizar os pares suspeitos é simples: procure por dois sons
foneticamente semelhantes (SFS), que podem ser um som vozeado e seu correspondente desvozeado.
Exemplo
[p] e [b];
Quando esses pares são identi cados, é a hora de con rmar se tais fones são fonemas nessa língua. Para fazer isso, nós
precisamos selecionar pares mínimos, ou seja, duas palavras com signi cados diferentes cuja cadeia sonora seja idêntica.
Vamos continuar observando os exemplos que citamos acima. As palavras pata e bata têm sentidos diferentes e possuem a
mesma estrutura, o que demonstra que [p] e [b], em português, são fonemas e podem, no âmbito da fonologia, ser transcritos
como /p/ e /b/. O par pata e bata, assim, demonstra uma oposição fonêmica, caracterizando os fonemas /p,b/ por contraste
em ambiente idêntico (CAI). Para que dois sons sejam classi cados como fonemas, é necessário pelo menos um par mínimo.
Ocorre também, às vezes, que não são encontrados pares de palavras com cadeia sonora idêntica, mas contextos muito
semelhantes. Suponhamos, por exemplo, que não tivéssemos encontrado a palavra cata e que a palavra que mais oferecesse
contexto fonético próximo de gata para a constituição de um par fosse cada. Haveria aqui um contraste em ambiente análogo
(CAA), pois as palavras, neste caso, assemelham-se muito, diferenciando apenas no vozeamento da consoante da sílaba
seguinte ao par cuja classi cação como fonemas estamos tentando con rmar. Nesse caso, mesmo esse par quase mínimo,
quase perfeito também pode ser utilizado para designar fonemas de uma língua.
Atividades
1. Selecione qual das opções abaixo fornece pares suspeitos de sons foneticamente semelhantes, tendo em vista sua
proximidade de traços:
4. De acordo com Fiorin (2008), para entendermos o funcionamento do sistema fonológico de uma língua, precisamos fazer
um levantamento dos fones que nela ocorrem e depois passar a examiná-los para veri car quais são distintivos e quais não
nessa língua. Como os sons podem ser modi cados de acordo com o contexto em que ocorrem, pode ser que dois sons
diferentes sejam apenas versões ligeiramente modi cadas de um mesmo elemento. A frase destacada faz referência ao:
a) Morfema.
b) Fonema.
c) Alofone.
d) Contraste em ambiente idêntico.
e) Lugar de fala.
5. Marque a opção que esclarece quais são os aspectos da língua portuguesa analisados na fonologia:
a) As semivogais são os fonemas /i/ e /u/ quando aparecem com outras vogais em uma mesma sílaba.
b) Na palavra nexo, há 4 letras e 5 fonemas.
c) Sons orais são aqueles cuja corrente de ar é liberada apenas pela boca.
d) As palavras terça e peço são pares mínimos.
e) As letras são as representações gráficas dos fonemas.
Referências
Notas
CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática: referente à língua portuguesa. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
CÂMARA JR. Estrutura da língua portuguesa. 40. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
FIORIN, J. L. Introdução à linguística II: princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
Próxima aula
Arquifonema;
Processos fonológicos.
Explore mais
Um estudo mais aprofundado sobre a representação grá ca dos fonemas do português pode ser encontrado no livro:
FERREIRA NETTO, W. Introdução à fonologia da língua portuguesa. São Paulo: Hedra, 2001.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Estudamos duas maneiras principais de analisar a linguagem humana. A primeira, a Fonética, tinha seu enfoque nas
unidades sonoras mais elementares da fala oral. Identi camos, nesse âmbito, os traços que constituem os sons, partindo
de conhecimentos da Física e da Biologia para entender sua produção, propagação e recepção. Assim, conseguimos
descrever esses sons de maneira objetiva.
Na aula passada, conhecemos com mais profundidade a segunda maneira: a Fonologia. Nessa área do conhecimento
linguístico, olhamos os idiomas e sua utilização das amplas possibilidades de sons, aprendendo a reconhecer formas
usuais em cada grupo de falante.
Nesta aula, veremos que essas formas não são tão rígidas porque sua produção pode variar dependendo da faixa etária
do falante, do gênero, da sua localização geográ ca e do estrato social ao qual pertence. Além disso, expandiremos para a
próxima aula, quando faremos algumas re exões levando em consideração também os conhecimentos da
Sociolinguística.
Objetivo
Descrever a distribuição complementar e a variação livre;
De nir o arquifonema;
Vimos que o elemento de estudo da fonologia é o fonema, uma unidade distintiva de uma língua, e que, como mencionamos
também acima, as realizações às vezes podem ser múltiplas sem que, no entanto, haja mudanças de sentido (se não se
lembrar desse conceito, reveja, na última aula, nossa explicação sobre os alofones).
Mas não é porque pode haver variação que estamos impedidos de estudar e sistematizar essas possibilidades.
Quando falamos em alofones, entendemos que certos sons, próximos em alguns traços linguísticos, podem ser equivalentes
na produção de determinada palavra. Demos o exemplo, na aula passada, da palavra mar, em que o som de r pode ser descrito
como [h], [X], [ɹ] e [ɾ] (reveja a tabela da IPA e tente comparar esses sons).
Lembre-se de que estamos tratando aqui de uma análise fonológica e, por isso, restringindo-nos aos elementos puramente
linguísticos. Logo, há equivalência dessas formas na produção da palavra que estamos estudando, não sendo possível
hierarquizá-las com base em fatores sociais, por exemplo.
Repare também que nosso exemplo apresenta essa variação em nal de palavra, mas esse não é o único contexto em que tal
relação ocorre. Esse tipo de fenômeno aparece em nais de sílabas, e não somente em nais de palavras. Pense, por exemplo,
nas palavras Marta, mirtilo, mortal, camurça (nesses casos a consoante é sucedida por oclusiva ou fricativa surda, e isso faz
diferença na fala, como veremos melhor no item que trata da assimilação).
Fonte: Undrey / Shutterstock
Mas é preciso chamar a atenção a outro fator: até aqui, essa variação livre apresenta essas quatro formas equivalentes na
produção da consoante em nal de sílaba.
Podemos usar como exemplo as palavras carro e caro. Essas, aliás, podem ser descritas fonologicamente como pares
mínimos porque a variação entre os quatro sons não é mais livre. Para falar caro, inevitavelmente é preciso usar o tepe — [ɾ].
Qualquer dos outros três sons vai ser a produção sonora de carro.
Nesse contexto, ainda será possível produzir com uma vibrante [r], que pode ser associada a falantes de faixa etária mais
avançada. Percebe a diferença entre essas situações?
Voltemos, então, à sistematização do uso dos alofones. Além da variação livre, existe uma outra forma de relação entre eles na
organização das palavras: a distribuição complementar. Vamos pensar na distribuição dos fones [t] e [t∫] em palavras do
português, especialmente na produção do sudeste do país.
Pronuncie as palavras:
Tanque;
Tato;
Tempo;
Teto;
Tipo;
Time;
Tolo;
Tombo;
Tuba;
Tumba.
Essa conclusão decorre do fato de que, estando diante de [i] e suas variantes (incluindo aí aquelas que não são grafadas nas
entradas lexicais, como é o caso de atmosfera), /t/ é realizado como [t∫]. Nos outros contextos, a fala utilizará [t].
Arquifonema e neutralização
Você reparou que alguns sons foram classi cados como fonemas, mas em determinados contextos perdem o traço
distintivo e são utilizados com certa equivalência e sem alteração de signi cado?
Reveja, por exemplo, o caso da palavra mar. Podemos pensar também em outras situações, como dos sons [s, z, ∫, ʒ].
Conseguimos identi car no português os pares mínimos assa, asa, acha e haja, correto?
Com esses exemplos, é possível a rmar que os sons [s, z, ∫, ʒ] em posição intervocálica apresentam contraste fonêmico e, por
isso, são considerados fonemas. Assim também, em início de palavra, há igualmente contraste fonêmico desses sons, haja
vista os exemplos (ele) seca, Zeca, (ele) checa e jeca.
Note que, para a palavra mês, encontramos como formas possíveis de realização: ['mes] ou ['me∫] mês; [mezbu'nitʊ] ou
[meʒbu'nitʊ] mês bonito; e [mezatra'zadʊ] mês atrasado. Mesmo com as variações apresentadas, conseguimos entender que
todas fazem referência à palavra mês.
Comentário
Com esses exemplos, podemos concluir que, no português brasileiro, os fones [s, z, ∫, ʒ] são fonemas em posição de início de
palavra e entre vogais, mas não apresentam o mesmo contraste fonêmico em m de sílaba. A esse último caso, então, damos o
nome de neutralização, tendo em vista que o que ora era um contraste foi neutralizado na posição nal de sílaba.
Quando ocorre neutralização de sons que representam fonemas em uma língua, descrevemos fonologicamente com um
arquifonema, um símbolo que indica a perda de traço fonêmico e que, por isso, em determinado contexto linguístico, há dois ou
mais sons que são possíveis. No caso descrito acima, o arquifonema que indicará tal possibilidade é /S/.
No caso do exemplo que também demos nessa aula (a análise de mar), temos também uma neutralização. O arquifonema que
representa esse caso é /R/.
Processos fonológicos
Continuemos estudando os contextos fonológicos e como
eles podem afetar a realização dos sons. Um fone pode ser
afetado de forma a tornar-se mais parecido com um ou
mais sons próximos. Esse processo é nomeado
assimilação.
Assimilação
Quando se fala em assimilação como um processo fonológico, refere-se genericamente à aquisição de características que
determinado som sofre por conta de outro(s) som(ns) que o rodeia(m).
Esse processo pode ser total, como no exemplo em Fiorin (2008, p. 48), que descreve o su xo transitivizador em ainu, uma
língua falada no norte do Japão:
No caso descrito acima, temos um exemplo de assimilação total porque a vogal que funciona como su xo é uma cópia exata
da vogal da raiz. É mais comum, no entanto, que ocorra uma assimilação parcial, que pode ocorrer de várias maneiras. Vamos
observar algumas.
Observemos, assim, que a consoante nasal se modi cou de acordo com o contexto. Como [p] é um som bilabial, o segmento
nasal que o antecede adquiriu esse traço. Da mesma forma, [t], sendo um segmento coronal – ou seja, ocorrendo com a ponta
da língua como articulador ativo que se move em direção ao articulador passivo – também in uencia o som nasal que o
precede. E, por último, a oclusiva velar sonora [g] contamina a nasal anterior com seu traço dorsal.
Nasalização
Continuemos observando as palavras citadas no item anterior. Muitas vezes, no português brasileiro, a realização desses
vocábulos não incluirá uma consoante nasal, mas apenas a nasalização da vogal.
Assim, nem sempre serão pronunciadas as consoantes nasais, o que pode ser descrito da seguinte forma: ['kãpɐ], ['kãtɐ] e
['kãgɐ]. Esse tipo de processo é muito comum no português, em especial no caso de vogais tônicas precedendo consoantes
nasais, como ocorre com as três palavras citadas.
Harmonia vocálica
Podemos observar, em português, casos em que a fala promove uma certa aproximação entre vogais. Vamos analisar, por
exemplo, a palavra Sepetiba, um bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. É comum ouvir tanto a pronúncia [sepe'tibɐ] quanto
[sepi'tibɐ]. O que ocorre, no segundo caso, é uma harmonização vocálica, pois a vogal da sílaba imediatamente anterior à sílaba
tônica se apropria da altura da vogal tônica. Assim, de [e], uma média-alta anterior não arredondada, passa-se a [i], uma vogal
alta anterior não arredondada.
Atividades
1. Veja o exemplo e indique o que muda nos processos indicados a seguir:
a) Variação livre.
b) Variação livre, distribuição complementar e variação livre.
c) Distribuição complementar.
d) Distribuição complementar, variação livre e variação livre.
e) Variação livre, distribuição complementar e distribuição complementar.
4. Explique por que a palavra samba pode ser pronunciada, no português do Brasil, tanto como ['sãbɐ] quanto como ['sãmbɐ].
5. O caso descrito nesta aula que tratou da assimilação de ponto de articulação pode ser relacionado a uma regra morfológica
que se aprende no Ensino Fundamental. Escolha a opção que representa corretamente essa regra:
a) Antes de p e t, escreve-se m.
b) Antes de p e t, escreve-se n.
c) Antes de p e b, escreve-se m.
d) Antes de p e b, escreve-se n.
e) Antes de d e b, escreve-se n.
6. Descreva a harmonia vocálica que existe comparando as seguintes pronúncias da palavra botijão, sendo em São Paulo, por
exemplo, pronunciada majoritariamente como [bot∫i'ʒãʊ], e, no Rio de Janeiro, falada como [but∫i'ʒãʊ].
Notas
Referências
FIORIN, J. L. Introdução à linguística II: princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
Próxima aula
Variação linguística;
Preconceito linguístico.
Explore mais
Sugestões de leitura:
CAMARA JUNIOR, J. M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Esta obra explora com mais profundidade os estudos fonológicos e apresenta também uma análise sobre a rima na poesia
brasileira, comparando, por exemplo, o que compõe uma rima no português europeu e não é encarado desse modo por aqui.
SIMÕES, D. Considerações sobre a fala e a escrita – fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
Esta obra apresenta soluções dentro do conhecimento fonológico para apoio especialmente nas tarefas de alfabetização.
Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Nesta aula, vamos sistematizar uma análise da língua tendo como parâmetros alguns estudos sociolinguísticos, utilizando
ainda os conhecimentos fonéticos e fonológicos que adquirimos neste curso.
Entenderemos os conceitos de língua, norma e fala, que nos ajudarão a compreender como as estruturas sociais in uem
na organização das comunidades de fala. Dessa forma, adentraremos a um campo de estudo importante para futuros
professores: como estabelecer uma educação livre do preconceito linguístico.
Objetivo
Avaliar a variação linguística;
Diversidades linguísticas
Os estudos da linguagem têm um grande espaço na área acadêmica e variam de acordo com o campo de pesquisa. A
sociolinguística é um deles, que apresenta análises, dentre outros assuntos, sobre os falares, os quais são diversos a
depender de localização geográ ca (variação diatópica), classe social (variação diastrática), registro (variação diafásica) e
outros fatores.
Assim, um jovem português provavelmente fala diferente de uma senhora angolana e de uma menina brasileira.
Todos eles falam português, mas de maneiras diferentes. Outras variantes linguísticas também são a norma culta padrão e a
linguagem coloquial.
Nessa tirinha, que circulou bastante na internet, vemos dois homens conversando acerca de algum conteúdo que está sendo
transmitido na televisão. Vamos nomeá-los Falante 1 e Falante 2.
O Falante 1 questiona. Ele diz: Iae cumpadi, rme?, ao que o Falante 2 responde: Não, futebor.
O Falante 1 está provavelmente chegando no local onde está o Falante 2, haja vista a saudação inicial (iae cumpadi). Ele,
portanto, desconhece do que trata o conteúdo apresentado na tevê. Ao expressar sua pergunta, tem-se a ideia de que seu
questionamento busca saber da situação de seu companheiro ( rme?). Mas esse entendimento é rapidamente modi cado pela
resposta do Falante 2, que diz: Não, futebor.
A partir daí, identi camos com mais clareza o local onde provavelmente o diálogo se dá: em alguma cidade das Minas Gerais. E
identi camos o sentido relacionado à palavra rme, que não é o mesmo que imaginamos quando lemos a primeira fala do
diálogo.
Comentário
Temos em rme e em futebor um fenômeno chamado rotacismo, que é comum no português, talvez mais em outros contextos
fonológicos. Ainda assim, esse é um fenômeno nada raro. E, suponhamos que esse diálogo tivesse sido escutado, não seria muito
difícil entender as palavras utilizadas com a pronúncia apresentada.
Esse exemplo mostra que, além das possibilidades de realização que temos estudado na fonologia (lembre-se dos alofones em
sua variação livre), há muitas outras formas de produção. Talvez você nunca fosse imaginar que palavras como lme e futebol
pudessem ser pronunciadas trocando-se um glide por uma aproximante – ou, mais provavelmente, nesse caso, uma lateral
tenha sido a pronúncia mais próxima dessa variante.
Vamos entender melhor isso. É muito provável que você pronuncie o som do l em lme e em futebol como uma semivogal, ou
um glide, como temos nomeado aqui, e não como uma consoante.
Contudo, no caso que estamos analisando, tendo em vista a realização, uma retro exa alveolar sonora [ɹ], é possível que as
pronúncias mais próximas (e, por isso, mais facilmente convertidas nas pronúncias descritas na tirinha) sejam [' ɬmə; fute'bɔɬ],
com uma lateral alveolar sonora. A proximidade entre os dois fones é grande, sendo diferente apenas o modo de articulação.
Mas, vamos avançar um pouco mais para entender como o ensino de língua portuguesa nas escolas pode ser positivamente
impactado pelos estudos linguísticos.
Disso, devemos depreender que toda língua admite uma pluralidade de realizações, sendo todas elas igualmente válidas.
Assim, o que está previsto dentro do código linguístico não pode ser classi cado como erro. Vamos já entender melhor essa
questão.
Fonte: Shutterstock
O que estamos pontuando, então, é que não se pode a rmar, linguisticamente, que, de duas formas previstas por dado idioma,
uma é superior ou mais correta do que outra. O que se pode analisar, do ponto de vista da frequência, é se uma ocorre mais que
outra, bem como se uma tende a ser usada em determinado contexto em detrimento de outra.
Vejamos como exemplo o fenômeno que estudamos na aula passada, chamado de alteamento (a vogal passa a ser falada
com um traço mais alto no sentido da posição da língua). A harmonização vocálica que faz com que a pronúncia passe de
[sepe'tibɐ] a [sepi'tibɐ] mostra que ambas são possíveis, não sendo uma mais correta do que outra. Seria interessante,
entretanto, pesquisar qual a frequência em que ambas ocorrem, em que contextos, produzidas por quais falantes etc.
Comunidades de fala
Temos, então, um dado importante: as produções linguísticas individuais têm certas características que as agrupam em
determinadas comunidades de fala porque, segundo Fiorin (2004), embora o indivíduo possa utilizar variantes, é no contato
linguístico com outros falantes de sua comunidade que ele vai encontrar os limites para a sua variação individual.
Fonte: Shutterstock
Assim, as variações ocorrem no nível individual (cada falante tem um certo uso do sistema linguístico em questão), mas
também em determinado agrupamento de pessoas (as comunidades de fala compartilham certos usos coletivos, que as
diferenciam de outras). Pense, por exemplo, nos casos que estudamos relacionados à pronúncia da palavra mar.
A dicotomia saussuriana língua/fala dava conta de demonstrar que a língua é um sistema coletivo composto por elementos
gerais e abstratos que se combinam e se diferenciam entre si, mas são igualmente válidos. Já a fala é a realização concreta e
individual desse código linguístico, feita de maneira dinâmica.
O linguista Eugenio Coseriu atualizou essa dicotomia propondo que há ainda uma instância medial que se dá num âmbito mais
abrangente das realizações pessoais, mas que ainda não abarca todo o sistema linguístico.
Com isso, tem-se a ideia de norma linguística que Leite (2005) explica como aquilo que já se realizou e, teoricamente, sempre
se realizará no grupo social; é a tradição à qual todos estão submetidos e obedecem, sem sentir, ou conjunto estruturado de
entidades reais, prescritivas. É a realização coletiva do sistema. Não é estática, mas conservadora por excelência.
Arendt (1979) alerta para responsabilidade coletiva, com menção especial à educação formal, de trazer alguém novo ao
mundo, bem como de apresentar esse mesmo mundo, já antigo, para o recém-chegado à educação. É quando decidimos se
amamos nossas crianças o bastante para não as expulsar de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e
tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em
vez disso com antecedência para tarefa de renovar o mundo comum.
Ao se quali car como professor de língua portuguesa, deve-se levar em consideração o trabalho com pessoas diferentes de
origens diversas e vivências várias, que já possuem bagagem cultural, a qual não deve ser desprezada no processo de
educação.
Fonte: Shutterstock
"Aqueles de nós que veem a educação como prática da
liberdade não a podem aceitar como transmissão rígida do
saber e da cultura, nem como o despejar de relatos ou fatos
sobre o educando."
LEAHY-DIOS, 2000
Sendo o Brasil um país multiétnico, formado por pessoas de origens diversas, os brasileiros convivem, mesmo sem se darem
conta frequentemente, com a variedade cultural. Entretanto, nem sempre o diálogo intercultural é feito de forma igualitária, nem
mesmo nos bancos escolares.
O sociólogo Fernandes (1966), ao analisar a crise do ensino no Brasil, mostra que as mudanças engendradas na sociedade,
com a dissolução da antiga organização escravocrata e senhorial não foram acompanhadas por alterações também na
estrutura educacional da escola, o que torna essa instituição obsoleta.
Fernandes (1966) mostra, então, que o nanciamento dessas tendências vem dos interesses em conservar a ordem
estabelecida, isto é, manter uma hierarquia social, sem propostas e perspectivas de mudança da sociedade.
A noção de norma que explicamos anteriormente tem sido usada para pensar organizações de estrutura linguística comuns a
determinado coletivo, mas também foi utilizada para dar nome a um tipo de uso que seria modelo para a sociedade, a
chamada norma culta.
Bagno (2003) apresenta amplamente esse conceito, terminando por examinar e opor-se ao que ele chama de preconceito
milenar, construído pelo senso comum.
"As pessoas que usam a expressão norma culta como um
preconceito tentam encontrar em todas as manifestações
linguísticas, faladas e escritas, esse ideal de língua, esse
padrão preestabelecido que, como uma espécie de lei, todos
teriam obrigação de conhecer e de respeitar."
BAGNO, 2003
Essa lei é a gramática normativa, prescritiva, aquela tradicional que todo curso de Letras indica como fonte de pesquisa, a qual
leva em consideração os usos considerados corretos e condena as outras formas de utilização da língua.
É preciso que se aborde nas escolas a norma considerada culta de forma cientí ca, analisando-a como um modo de expressão
linguística entre outros. Obviamente, deve-se apresentá-la como a norma utilizada nas comunicações o ciais, pro ssionais e
escolares. Mas não se deve ignorar ou condenar os falares distintos, que são formas construídas e igualmente importantes
dentro do código linguístico.
Atividades
1. Comparando as interjeições destacadas em "Devolve, pô!" e "Devolve, meu!", podemos dizer que estamos diante de uma
variação:
a) Normativa.
b) Diafásica.
c) Prescritiva.
d) Diastrática.
e) Diatópica.
2. A noção de norma linguística versa sobre:
3. Levando em consideração que toda língua admite variações, é correto a rmar que:
Referências
ARENDT, H. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. pp. 221-247.
Notas
BAGNO, M. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 54. ed. São Paulo: Loyola, 2011.
FERNANDES, Florestan. A crise do ensino e Mudança social e educação escolarizada. In: Educação e sociedade no Brasil. São
Paulo: Edusp, 1966. pp. 84-99 e 114-122.
FIORIN, J. L. Introdução à linguística I: objetos teóricos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
LEAHY-DIOS, C. Conceituando di culdade em educação literária. In: Educação literária como metáfora social. Niterói: UFF,
2000. pp. 203-205.
LEITE, M. Q. Variação linguística: dialetos, registro e normas linguísticas. In: SILVA, L. A. A língua que falamos - Português:
história, variação e discurso. São Paulo: Globo, 2005.
Próxima aula
Explore mais
Apresentação
Nesta aula, conheceremos um breve resumo da origem da língua portuguesa de forma a entender o desenvolvimento do
latim e sua conexão com as diversas formas de falar e escrever português na atualidade.
A partir disso, entenderemos a estratégia do Novo Acordo Ortográ co assinado pelos países lusófonos e aprenderemos as
novas regras que passam a ditar a gra a das palavras em língua portuguesa.
Objetivo
Descrever brevemente a história do português;
Palavras iniciais
Vimos neste curso aspectos importantes do estudo de Fonética e Fonologia, tais como diferenças e proximidades na língua
falada, comparando muitas vezes os diversos falares do Brasil.
Aprendemos formas de descrever, levando em consideração, na Fonética, a pura e simples produção de sons e ainda a
in uência do aparelho fonador, do ambiente em que o som se propaga e do sistema auditivo; e, na Fonologia, as regras que
orientam o uso da língua.
Nesta aula, conheceremos alguns pontos da origem da língua portuguesa de forma a entender o histórico único de várias
realizações linguísticas na contemporaneidade e, a partir disso, reconhecendo o passado comum, entenderemos o que
algumas estratégias políticas têm buscado realizar: tornar mais próxima a forma de expressão escrita em língua portuguesa.
História Arcaica – do século XII ao XVI, quando surgem os primeiros textos em português propriamente;
História Moderna – século XVI, com a publicação de Os Lusíadas, e vem até os dias de hoje.
No início do século III, os romanos chegam à Península Ibérica, no ano de 218 a.C., durante a segunda das três guerras
púnicas, nas quais a ainda República Romana disputava territórios com Cartago, potência que é arrasada pelos
romanos. A região situava-se em um local bastante privilegiado e estratégico por ser ponto de passagem entre dois
continentes.
Com o estabelecimento do Império Romano, a cultura e, portanto, as línguas romanas passam a impor-se e
expandem-se pelos territórios conquistados. Mas deve-se ressaltar que o latim que se espraiava era o vulgar, o falado
pelos legionários, colonos, comerciantes e funcionários públicos romanos.
Em 409 d.C., povos germânicos invadiram a Península. Vândalos, suevos, alanos e, posteriormente, visigodos
chegaram ao território e, ainda que rompendo a unidade romana, adotaram o latim como língua o cial. Mesmo assim,
agregaram diversas contribuições linguísticas nos três séculos de dominação.
Em 711, os árabes invadem e conquistam os territórios ibéricos, permanecendo neles por oito séculos e em 1492, são
expulsos de nitivamente. Esse tempo foi mais do que su ciente para que novas alterações fossem feitas à língua.
Antes disso, em 1249, após separar-se da Galícia (que integrará posteriormente o reino de Espanha) ao norte e
conquistar terras ao sul, Portugal assume uma extensão territorial bastante próxima da atual.
Comentário
Some-se ainda que, entre os séculos XVII e XVIII, o espanhol e o francês, também línguas neolatinas, tinham grande prestígio
entre os falantes mais nobres. Também devem-se levar em consideração as línguas com as quais os falantes nas colônias
tinham contato e que contribuíram de forma signi cativa para a estrutura variável do português, principalmente acerca do léxico:
Iorubá;
Quimbundo.
Esforço para uni car a língua portuguesa escrita
Com esse resumido histórico, construímos base para entender que, embora compartilhando a mesma origem, a língua
portuguesa falada difere quando pensamos nas regiões onde ela é usada o cialmente:
Angola;
Brasil;
Cabo Verde;
Guiné-Bissau;
Guiné Equatorial;
Moçambique;
Timor Leste.
Mas não é apenas a língua falada que apresenta distinções — como foi o foco deste curso. A língua portuguesa escrita
também apresentava dois sistemas ortográ cos: o português, que também foi adotado pelos países africanos e pelo Timor
Leste; e o brasileiro. Essa situação é decorrente de um acordo que tentou estabelecer uma uni cação em 1945, mas que foi
adotado apenas por Portugal, haja vista que o Brasil voltou ao acordo de 1943.
Os oito países que têm o português como língua o cial compõem a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Assim, a diferença
de escrita, embora não seja tão gritante, é considerada possível causa de
di culdades na difusão internacional da língua.
Idiossincrasias brasileiras
Vale a pena citar uma peculiaridade da história brasileira, em sua relação com a língua, que muito in uenciou na diferenciação
signi cativa entre o português europeu e o dos trópicos: desde a chegada dos jesuítas em terras brasileiras até meados do
século XVIII, a população indígena era muito mais numerosa do que o povo português, ou mesmo brasileiros descendentes de
portugueses, e por uma questão lógica a língua mais falada no Brasil nunca fora o português, porém o chamado tupi jesuítico
(uma língua simpli cada pelo Pe. José de Anchieta em sua Gramática da Língua mais falada na costa do Brasil, reunindo
elementos comuns de diversas línguas indígenas da costa brasileira).
Não su ciente a maciça in uência do tupi no imaginário linguístico do Brasil, o aumento do número de escravos africanos no
país gera uma miscelânea linguística que torna mais difícil ainda uma padronização linguística no que concerne ao português.
Uma medida drástica só seria tomada na segunda metade dos setecentos: o então primeiro-ministro português, o famoso
Marquês de Pombal, institui o Diretório do Índio, o qual proibia o ensino de tupi nas escolas da colônia, obrigando os cidadãos a
usarem apenas a língua portuguesa como língua materna. Consequentemente, com o passar dos séculos, o Brasil foi se
tornando de fato um país legitimamente lusófono. No entanto, as marcas das línguas nativas e africanas já se constituíam
indeléveis em nossa memória linguística e em todos os campos da linguagem: fonética, morfológica e sintaticamente, o Brasil
jamais teria uma unidade genuína com Portugal.
O novo acordo propõe mudanças basicamente na constituição do alfabeto, na utilização do trema (a queda desse sinal grá co),
em alguns casos de acentuação e de uso do hífen. Vamos conhecer detalhadamente quais são as novas regras de uso
ortográ co.
Vamos utilizar como referência o Guia Prático da Nova Ortogra a (TUFANO, 2008).
Clique nos botões para ver as informações.
Alfabeto
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
Essas letras são usadas em unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt); e na escrita de palavras e
nomes estrangeiros: show, playboy, playground, windsurf, kaiser etc.
Trema
A partir do acordo, essa indicação grá ca não mais será marcada. Assim, palavras como bilíngüe e freqüente passam a
ser grafadas como bilíngue e frequente.
Mas, no caso de palavras estrangeiras e suas derivadas, como por exemplo, Bündchen, Müller, mülleriano, o trema
permanece.
Acentuação
Houve algumas alterações na acentuação, principalmente o acento agudo, mas também com in uência em palavras com
o circun exo.
Hífen
Veja as observações mais recorrentes no uso do hífen em palavras formadas por pre xos ou por elementos que podem
funcionar como pre xos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra,
geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre,
sub, super, supra, tele, ultra, vice etc.
Muitos não sabem, mas se no Brasil a reforma ortográ ca ainda é encarada com certa má vontade, em Portugal isso é muito
mais evidente, visto que os portugueses simplesmente desprezam o acordo ortográ co.
Desde o início do texto da reforma, a ideia era aproximar os países lusófonos a m de evitar que a mesma palavra tivesse em
cada país uma regra diferente para acentuação, padronizando, assim, os textos em língua portuguesa. No entanto, o que se vê
em algumas palavras escritas em português de Portugal em comparação ao português do Brasil é exatamente o contrário: o
português corrente lusitano ainda mantém sua escrita tradicional em palavras como académica, bebé, eléctrico, factual, entre
outras.
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Fonte: Shutterstock
O texto do Acordo Ortográ co até ampara algumas palavras com dupla gra a, em especial aquelas com p ou c após vogais
(factual, eléctrico, exacto etc.), mas não entra no mérito de que uma palavra possa receber tanto acento agudo quanto
circun exo.
En m, ca aí a re exão: se nem os países lusófonos aprovaram a reforma, para quem então foi o acordo ortográ co?
Atividades
1. Assinale a opção em que há um vocábulo cuja gra a não atende ao previsto no Acordo Ortográ co:
3. Como jiboia, a gra a da palavra está conforme o Novo Acordo Ortográ co em:
a) Fieis.
b) Tuiuiu.
c) Trofeu.
d) Papeis.
e) Heroico.
4. Considerando que o Novo Acordo Ortográ co alterou o emprego do hífen em palavras compostas, a sequência de palavras
grafadas corretamente é:
7. Algumas palavras sofreram alteração de escrita com o advento do Novo Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa. Tendo
em vista essas mudanças, assinale a opção incorreta:
a) A palavra pessoa, quando nome próprio, pode vir acentuada com acento circunflexo na penúltima sílaba, o que não altera em nada sua
pronúncia.
b) A palavra ideia perde seu acento agudo na penúltima sílaba, mas em termos de pronúncia, o ditongo continua aberto.
c) As palavras pôr e pôde mantêm seu acento para se diferenciarem das formas por e pode.
d) Acerca do uso de hífen, houve algumas mudanças importantes nas regras concernentes à sua colocação.
e) A palavra paranoia perdeu seu acento agudo na penúltima sílaba, influenciando na forma se pronunciar o ditongo: antes aberto, agora
esse ditongo é pronunciado como fechado. A mudança na escrita afetou a prosódia.
8. O Novo Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa obviamente não modi cou todas as palavras presentes em nosso léxico,
pelo contrário, alterou a escrita de um número bem restrito de palavras. Todavia, uniformizou as regras de acentuação, o que,
na teoria, facilita a integração lusófona.
Dito isso, assinale a palavra que não foi alterada quanto à colocação do hífen pelo Novo Acordo Ortográ co, mantendo a sua
regra de antes:
a) A palavra antinflamatório continua sem levar o hífen, visto que, quando o prefixo termina com a mesma letra da iniciada pela palavra
posterior, acontece o fenômeno da composição por aglutinação.
b) A palavra sócio-econômico manteve o seu hífen, visto tratar-se da união de um substantivo (sócio) a um adjetivo (econômico).
c) A palavra mini-saia manteve seu hífen, pois o prefixo mini- requer o uso do hífen sempre que estiver diante de palavras iniciadas com
h, s ou r.
d) A palavra para-choque manteve o seu hífen, pois se trata de uma forma verbal (para) unida a um substantivo (choque).
e) A palavra antissocial sempre foi escrita dessa forma, não havendo intervenção de hífen na separação de prefixo e substantivo. No
entanto, há rumores de que o novo acordo ortográfico esteja viabilizando uma emenda, a fim de hifenizar essa palavra.
9. Alguns pro ssionais que trabalham com a língua portuguesa como objeto especí co e instrumental, como professores da
alfabetização e operadores do direito, reclamam bastante de algumas alterações fonéticas, às quais, vez ou outra, chamam
desnecessárias.
Sem entrar nesse mérito, certo é que a maioria dos professores que ensinam a língua materna não entendem bem o motivo de
palavras como ideia, jiboia, assembleia, heroico, terem perdido seu acento, pois era isso o que os diferenciava de palavras
como baleia, apoio etc.
Já os advogados não gostaram muito da mudança de palavras que fazem parte de seu cotidiano, como por exemplo
contrarrazões, visto que, para formular uma petição, agora é preciso dar uma olhadela no Novo Acordo.
Marque a opção que apresenta a nova regra de acentuação e hifenização das palavras elencadas acima:
a) Acentuam-se todas as paroxítonas com ditongo fechado; não se coloca hífen em prefixos terminados com vogal e iniciados com s ou r.
b) Não se acentuam mais as paroxítonas cuja sílaba tônica tenha um ditongo aberto; não se coloca hífen entre o prefixo terminado por
vogal e a palavra iniciada com r ou s: as palavras se unem com a dobra da letra r ou s.
c) Não se acentuam mais as paroxítonas cuja sílaba tônica tenha um ditongo aberto; coloca-se hífen em prefixos terminados com vogal e
em nomes iniciados com s ou r.
d) Acentuam-se as paroxítonas cuja sílaba tônica tenha um ditongo aberto; não se coloca hífen entre o prefixo terminado por vogal e a
palavra iniciada com r ou s: as palavras se unem com a dobra da letra r ou s.
e) Acentuam-se as paroxítonas cuja sílaba tônica tenha um ditongo fechado; não se coloca hífen entre o prefixo terminado por vogal e a
palavra iniciada com r ou s: as palavras se unem com a dobra da letra r ou h.
I – Texto de aprovação da lei dependerá de votação na assembléia hoje – O texto produzido não levou em conta a reforma
ortográ ca introduzida pelo Novo Acordo.
II – Governo canadense investe mais de 5% do PIB em bolsas para estudantes de iniciação cientí ca. A idéia é modernizar
ainda mais o país, com o auxílio das novas tecnologias - O texto produzido levou em conta a reforma ortográ ca introduzida
pelo Novo Acordo.
III – Farmácia do interior de SP comercializa anti-in amatórios a R$ 1,00 – O uso do hífen está de acordo com o Novo
Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa.
IV – Marvel pretende faturar mais que o dobro do valor de 2018 com super-heróis – No texto produzido, há dois erros graves:
o primeiro, o uso indevido do hífen. Por último, o acento equivocado na palavra heróis.
a) I e III.
b) I, II e III.
c) II e IV.
d) Todas.
e) Apenas III.
11. Acerca do Acordo Ortográ co visto nesta aula, é incorreto a rmar que:
Referências
Notas
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2008.
BAGNO, M. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola Editorial, 2001.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CARDOSO, E. A. A formação histórica do léxico da língua portuguesa. In: SILVA, L. A. A língua que falamos: Português - história,
variação e discurso. São Paulo: Globo, 2005.
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ortogra co> .