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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DAIANA TATIELE FIEDLER

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) DE ELETRICISTAS E


MONTADORES DE LINHA MÉDIA E ALTA TENSÃO

PONTA GROSSA - PR

2021
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DAIANA TATIELE FIEDLER

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) DE ELETRICISTAS E


MONTADORES DE LINHA MÉDIA E ALTA TENSÃO

Artigo Científico apresentado à Universidade


Cândido Mendes, como parte das exigências
para a obtenção do título de Engenheiro em
Segurança do Trabalho.

PONTA GROSSA - PR

2021
ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) DE ELETRICISTAS E
MONTADORES DE LINHA MÉDIA E ALTA TENSÃO

Daiana Tatiele Fiedler

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) de eletricistas e


montadores de linha média e alta tensão de uma empresa de Construção de Obras Elétricas de Ponta
Grossa - PR. Uma análise realizada no ambiente de trabalho que visou encontrar situações que possam
dar origem as doenças ocupacionais decorrentes das cargas físicas e psicossociais do trabalho. Após
a identificação das possíveis situações de risco, foram recomendadas medidas gerais e específicas,
adequando as atividades exercidas na empresa às normas regulamentadoras de segurança e saúde
do trabalhador, exigidas na NR-17. Permitindo à empresa adotar medidas preventivas e corretivas de
maneira fundamentada legalmente, podendo auxiliar na melhoria de qualidade de vida e no
desempenho no ambiente de trabalho após as mudanças nos postos de trabalho.

Palavras chave: Análise ergonômica do trabalho. Eletricista. Ergonomia de


concepção.

Introdução

Cerca dos anos 600 a.C. Tales de Mileto identificou que ao se atritar o âmbar
(resina petrificada de árvores) ele passada a atrair partículas leves como pedaços de
palha e tecidos, desprendendo-os logo em seguida. A este fenômeno deu-se o nome
de eletricidade, palavra derivada de elektron, que em grego significa âmbar (HADDAD,
2004).
Atualmente a eletricidade possui uma definição muito mais ampla. No site da
Companhia Paranaense de Energia (COPEL) a eletricidade está definida como
“fenômeno físico associado a cargas elétricas estáticas ou em movimento". Em virtude
do seu grande alcance, da praticidade de transporte e da facilidade em transformar-
se em qualquer outro tipo de energia, a energia elétrica tornou-se a modalidade
energética mais utilizada no século XX (COPEL, 2016).
É inegável sua importância, Haddad (2004) destaca que atualmente a
eletricidade é fundamental para manter hospitais, transporte, segurança,
comunicações, etc.. e a falta dela, para uso doméstico, industrial, comercial e público
poderia acarretar em grandes incômodos e prejuízos.
De acordo com Ciotta (2016), a área da concessionária que faz a distribuição
de energia elétrica é responsável pela confiabilidade do sistema de transmissão e pela
entrega do produto ao consumidor final e é essencial em uma concessionária de
energia. Porém, a qualidade desta entrega depende, além de máquinas e
equipamentos, de mão de obra humana, geralmente do profissional conhecido como
eletricista.
O risco de acidentes com lesões devido a eletricidade é iminente para um
eletricista, e há ainda, o risco de doenças ocasionadas pelo trabalho. Tal fato se deve
às condições ergonômicas inadequadas no que tange a postura incorreta, esforço
físico elevado e levantamento e transporte de peso.
Conforme matéria produzida pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás
(FIEG) e publicada no portal Globo em 16/01/2020, apenas em 2018 foram registrados
em torno de 623 mil acidentes de trabalho no Brasil. Entre os anos de 2014 e 2018, houve
registro de mais de 1,8 milhão de afastamento e cerca de 6 mil mortes relacionadas ao
trabalho. Este dado alarmante poderia ser reduzido com simples ações que as empresas
são capazes de aplicar no dia-a-dia.
A segurança no trabalho deve ser entendida como uma cultura na empresa, onde
todos os funcionários, lideranças e diretoria devem entender a importância e dar a devida
atenção para os riscos relacionados. Cada tipo de empresa e departamento têm seus
riscos, seja de explosão, incêndio, quedas de altura, etc. E cada tipo de operação
possui restrições diferentes. Alguma com regulamentações mais ou menos fortes,
acionistas mais engajados ou clientes com características particulares a serem
atendidos. Com base nisso, de que maneira cada organização, com suas restrições
próprias, pode disponibilizar uma condição satisfatória de segurança do trabalho em
suas decisões? Como a preocupação com a segurança dos funcionários deve ser
incluída nos processos e nas práticas? (ISCI, 2017).
Para padronizar a resposta para estas questões, o Ministério do Trabalho
estabeleceu requisitos técnicos e legais necessários para segurança e saúde
ocupacional. Estas normativas são conhecidas atualmente como as NR´s, ou Normas
Regulamentadoras.
A Norma Regulamentadora número 17 (NR-17), do MTE – Ministério do
Trabalho e Emprego (BRASIL, 1990) visa “estabelecer parâmetros que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente”. Ainda, conforme essa mesma norma, é responsabilidade do
empregador fazer a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), avaliando as condições
de trabalhado de seus colaboradores.
De acordo com Guimarães e Sant’Anna (2016), a ergonomia, foco da NR-17,
busca analisar o trabalho para então fazer a adaptação ao ser humano. Em geral, é
dado maior ênfase para a produtividade em detrimento ao trabalhador, o que pode
gerar acidentes de trabalho e problemas de saúde.
Além da análise das situações já existentes e da proposição de modificações
no ambiente de trabalho (ergonomia de correção) a intervenção ergonômica tem
ganhado força na concepção de projetos e meios de trabalho (ergonomia de
concepção). Desta maneira as etapas de concepção de projetos podem ser revisadas
antecipadamente de sua concepção, tendo foco ergonômico para atuar na
intervenção, melhoria de estrutura e prevenindo futuros transtornos.
Conforme Iida (2005), a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) visa aplicar os
conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir urna situação real
de trabalho. Para Ferreira (2015), o objetivo é adaptar a atividade ao trabalhador e
não o trabalhador à atividade e buscar melhoria nas práticas das tarefas trazendo
conforto, saúde, segurança e eficácia.
Para realizar a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) devem ser consideradas
as características psíquicas e fisiológicas dos trabalhadores bem como a utilização
dos equipamentos de proteção individual de acordo com a atividade requerida. De
acordo com o Núcleo de Ergonomia, Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho
(NERSAT), após identificada as situações de risco é recomendado a adequação das
atividades exercidas conforme as normas de segurança e saúde do trabalhador,
determinadas na NR-17. Isto favorece a adoção de medidas corretivas e preventivas
com fundamentação legal, facilitando o monitoramento dos resultados alcançados
após as alterações nos postos de trabalho.
Grandjean (1998) justifica o propósito deste estudo ao afirmar que o objetivo
da Ergonomia é a adaptar os instrumentos, máquinas, horários e fatores ambientais
como iluminação, ventilação, temperatura, ruído, organização espacial e higiene às
necessidades do trabalhador. A realização deste objetivo proporciona facilidade para
realizar o trabalho e uma maior produtividade.
Este estudo busca identificar quais são as atividades que se apresentam
como risco ergonômico e contribuem para desencadear doenças ocupacionais em
eletricistas e montadores de linha de média e alta tensão. Desta forma, seu objetivo é
investigar as condições ergonômicas para execução do serviço no que se refere ao
ambiente físico e as possíveis situações que possam dar origem a doenças
ocupacionais. Pretende-se, ainda, realizar sugestões para a melhoria da qualidade de
vida no trabalho destes profissionais. Através do levantamento destas informações
torna-se possível identificar focos para prevenção e segurança do trabalho na
empresa em questão bem como as ações para adequar a uma concepção ergonômica
dos locais e postos de trabalho.

Desenvolvimento

Para execução deste trabalho foram utilizadas informações técnicas da Norma


Regulamentadora número 17 (NR-17), de 23 de novembro de 1990 bem como a
pesquisa bibliográfica foi desenvolvida baseada em livros, teses, dissertações, artigos
científicos, manuais de entidades e normas relativas ao tema de pesquisa para o
levantamento de conceitos e definição de Ergonomia de concepção e Análise
Ergonômica do Trabalho (AET). Ainda foram utilizados dados e informações da
empresa estudada, como descrição de cargo, ordem de serviço e fotografias de
atividades executadas.
O levantamento de dados foi realizado in loco na empresa estudada,
observando profissionais envolvidos diretamente com a função de eletricista. O
objetivo destes acompanhamentos, realizadas entre julho e setembro de 2021, foi a
obtenção de dados mais relevantes para o desenvolvimento deste trabalho e buscar
compreender se há, e em caso positivo, quais são as situações ergonômicas que
possam dar origem a doenças ocupacionais para profissionais eletricistas e
montadores de linha de média e alta tensão. A observação, análise e investigação foi
realizada sem exposição e divulgação da empresa e dos funcionários envolvidos.
O estudo se baseou na metodologia apresentada por Iida (2015): Análise
Ergonômica do trabalho (AET), que é composta por 5 etapas, sendo 3 referentes ao
levantamento de dados: a análise da demanda, a análise da tarefa e a análise da
atividade. E as 2 etapas finais são o diagnóstico e as recomendações, onde são
apresentados os resultados encontrados e recomendações necessárias para
correção das falhas. As etapas sucederam-se conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma do processo de pesquisa


ANÁLISE DA PROBLEMAS ENCONTRADOS
DEMANDA

ANÁLISE DA CONDIÇÕES DE TRABALHO


TAREFA

ANÁLISE DAS
COMPORTAMENTO DO COLABORADOR
ATIVIDADES

DIAGNÓSTICO CAUSAS DOS PROBLEMAS

RECOMENDAÇÕ
ES ALTERAÇÕES SUGERIDAS

Fonte: a autora

Os dados obtidos foram analisados com base na fundamentação teórica deste


estudo e o resultado final foi um mapeamento dos principais riscos ergonômicos e as
recomendações que podem prevenir ou minimizar os Distúrbios Osteomusculares
Decorrentes do Trabalho (DORT) e trazer melhorias nas condições de trabalho dos
funcionários, evitando prejuízos à empresa referente a aumento de custos e perda de
produtividade.
Os eletricistas e montadores observados para desenvolvimento deste trabalho
são funcionários de uma empresa de Construção de Obras Elétricas, da cidade de
Ponta Grossa-PR, que ingressou no mercado no ramo da construção e manutenção
de obras elétricas em geral, no início dos anos 90. Atualmente possui cerca de 120
funcionários. A empresa presta atendimento na área de Topografia, Projetos,
Construção, Reforma e Manutenção de Redes Elétricas, Iluminação Pública,
Subestações, Obras Industriais, Eletromecânicas e Linhas de Transmissão até 230
KV com o fornecimento de materiais.
Desde sua fundação a empresa visa a qualidade nos serviços, adotando
critérios de inspeção, medição e avaliação dos serviços prestados, qualificação de
fornecedores e mão-de-obra, buscando sempre a conclusão das obras com qualidade
e satisfação dos colaboradores e clientes. Com uma postura de transparência e
seriedade, sempre prezando pela qualidade de seus serviços, conquistou um espaço
importante no setor de obras elétricas em todo o Paraná, ocupando uma posição de
destaque nos últimos 10 anos.
A empresa estudada não possui um mapeamento ergonômico específico para
a função de eletricista. Desta forma faz-se necessário a atenção ao tema nesta função
para prevenir riscos ocupacionais e garantir a integridade física dos trabalhadores
expostos.
Os profissionais que trabalham com eletricidade estão expostos a altos riscos
de acidentes graves ou fatais (GUIMARÃES et al., 2002). Castro (2011) ressalta
também os riscos de ordem biomecânica, que levam ao desenvolvimento de
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
Os profissionais foco deste estudo fazem parte do setor de Distribuição de
Energia Elétrica, enquadrado pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE) no grau de risco máximo 3, numa escala que varia de 1 a 4, segundo o anexo
V do Decreto 6.957/2009.
De acordo com o Quadro 1, entre os riscos ocupacionais a que estão expostos
os eletricistas de manutenção de linhas de transmissão da Companhia Paranaense
de Energia (COPEL), os agentes que afetam a ergonomia de forma habitual e
intermitente são: esforço físico intenso, levantamento e transporte de peso e exigência
de postura inadequada.

Quadro 1 – Riscos Ocupacionais para a função eletricista de manutenção de linhas


de transmissão

Fonte: COPEL (2015).


A investigação das condições ergonômicas às quais os eletricistas e
montadores estão sujeitos diariamente possibilita identificar pontos de atenção e de
ação, possibilitando a criação de programas preventivos e de adaptação de postos de
trabalho, favorecendo a saúde e o bem-estar dos colaboradores, resultando em
aumento de produtividade e satisfação dos funcionários (CIOTTA, 2016).
De acordo com Silva (1999), a ergonomia também tem papel importante na
concepção de projetos e meios de trabalho aliada a análise ergonômica da atividade,
podendo propor novas formas de trabalho, prevenindo transtornos futuros. Assim, a
ergonomia vem encontrando diversos campos de atuação, seja na correção ou na
concepção dos locais, espaços e condições de trabalho.
Segundo Santos (1995), a intervenção ergonômica por meio da concepção
segue a duas exigências: melhoria das condições de trabalho (item relacionado a
saúde) e a melhoria no sistema produtivo (item relacionado a produtividade). A
ergonomia, quando aplicada em ambiente empresarial tem o objetivo de atender
simultaneamente aos critérios de saúde e de produtividade.
O estudo foi concebido por meio da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e
posteriormente sugerido a concepção ergonômica dos locais e dos espaços de
trabalho com uma melhor adaptação das atividades conforme caraterísticas do
trabalhador e da empresa.
Iida (2015) afirma que a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) busca aplicar
a ergonomia para análise, diagnóstico e correção de situações relacionadas ao
trabalho e divide-se nas 5 etapas a seguir, que foram utilizadas para desenvolvimento
deste estudo:
A análise da demanda está relacionada às situações-problema encontradas na
empresa que justifiquem uma ação ergonômica (podendo ser levantadas pela
empresa ou funcionários). Neste trabalho este item foi verificado mediante a
observações dos trabalhadores no dia-a-dia de trabalho e concluiu-se que os
problemas estão relacionados a questões gerenciais e organizacionais.
Pôde-se constatar um descuido com os princípios da ergonomia. Atividades
rotineiras são realizadas sem o cuidado adequado, prejudicando especialmente a
coluna dos profissionais. Ferramentas como esmeril, lixadeira, policorte,
rosqueadeira, furadeira, makita e demais ferramentas são transportadas nas mãos,
ombros e em caixas. Sendo necessário inúmeras vezes por dia que o profissional se
abaixe e se levante, erguendo peso de forma inadequada, conforme os estudiosos
tradicionais, causando lesões nas costas, ombros, cotovelos e punhos (Foto 1).

Foto 1 – Eletricista erguendo ferramenta com as costas arcada

Fonte: a autora

Durante o manuseio dessas ferramentas também foram encontradas situações


de risco. A falta de espaço ou a posição de trabalho por vezes exige que o profissional
fique em postura incorreta ou curvada, segurando o equipamento com os pulsos tortos
ou com as costas curvadas durante a realização da atividade, bem como com o
pescoço curvado para trás (Fotos 2 e 3).

Foto 2 – Posição de cabeça inclinada para trás de um eletricista realizando


manutenção em poste

Fonte: a autora
Foto 3 – Posição de coluna curvada lateralmente de um eletricista realizando
manutenção em rede elétrica

Fonte: a autora

Além destes pontos, o trabalho em pé ou pendurado por longos períodos pode


acarretar problemas nos joelhos, pernas e pés, levando a problemas mais sérios como
hérnias de disco, tendinite e bursite (Foto 4).

Foto 4 – Posição estática de um eletricista realizando manutenção em poste

Fonte: a autora

A análise da tarefa busca avaliar o que o trabalhador deve fazer e o que ele
realmente faz. Busca identificar a disparidade entre a prescrição da tarefa e a tarefa
realmente executada. Para este levantamento foi constatado que algumas atividades
não são executadas de acordo com a ordem de serviço aberta e conforme instruções
da descrição de cargo e segurança de trabalho, faltando padrão para execução dos
trabalhos e treinamentos orientativos.
As tarefas laborais de um eletricista na empresa estudada são sintetizadas da
seguinte forma: operar e realizar manutenção de equipamentos energizados com
tensão de até 230 kV, instalados em redes, linhas e subestações; manutenção de
redes elétricas energizadas e desenergizadas (substituição e conexão de para-raios,
isoladores, chaves fusíveis, transformadores, postes); emendas de cabos; podas de
árvores; realizar atividades utilizando esmeril, lixadeira, policorte, rosqueadeira,
furadeira, makita e ferramentas manuais; cortar chapas de aço; passar fiação; escalar
e trabalhar em estruturas elevadas (postes, árvores); realizar atividades em espaço
confinado e ambientes quentes; limpar peças com álcool, solvente e desengraxante;
movimentar materiais com uso de talhas elétricas com a presença de ruídos,
exposição a agentes não-ionizantes.
A análise da atividade avalia o comportamento do colaborador no trabalho.
Pode sofrer influência de fatores internos, que são relacionados ao próprio trabalhador
(exemplos: motivação, fadiga, experiência) e a fatores externos, relacionados as
condições de trabalho (exemplos: normas, turnos, equipamentos, temperatura).
Para este estudo foi utilizado a observação direta in loco e o registro por
fotografias das atividades desenvolvidas por um eletricista e montador de linha média
e alta tensão. Através disso foi possível constatar as dificuldades de locomoção, falta
de conforto e fatores psicossociais aos quais os funcionários estão sujeitos.
O eletricista e montador de linha média e alta tensão são responsáveis por
realizar instalações elétricas industriais e prediais, testar infraestruturas (tubulações,
leitos, eletro calhas, eletro dutos, perfilados, cabeamentos, conexões de cabos,
passagem de fiação), efetuar ligações de painéis elétricos, fazer e liberar testes para
instalações, ligar painéis desenergizados e eventualmente energizados, energizar
painéis, fazer ensaios, trocar fusíveis reaberto, limpeza em painéis desenergizados
ou eventualmente energizados até 440 volts, rearmar/testar gavetas, fazer ligação de
motores, bloqueio e liberação de equipamentos, trocar lâmpadas, realizar trabalhos
em alta e baixa tensão, guiando-se por esquemas e outras especificações utilizando
ferramentas manuais e aparelhos de medição.
Durante o período de observação constatou-se relatos e comportamentos
semelhantes nos profissionais estudados. Como fatores internos observou-se que
praticamente todos os eletricistas são do sexo masculino, possuem experiência na
área, apresentaram indicações de desmotivação relacionadas ao distanciamento da
família, pois a maioria dos trabalhos requerem viagens constantes e permanência
longe de casa por semanas. A fadiga também foi observada, devido à falta de conforto
nas instalações para repouso e as condições de trabalho que exige longos períodos
em pé ou em trabalho em altura.
E como fatores externos, tratando das condições em que a atividade é
desenvolvida, verificou-se que o trabalho de eletricista não atende aos requisitos
constantes na Norma Regulamentadora (NR-17), pois não há definição clara das
regras de Ergonomia que devem ser seguidas para execução do trabalho.
Assim, grande parte dos trabalhos são extenuantes e realizados em ambientes
com temperatura alta, cerca de 35°Celsius. A rotina de trabalho também se
apresentou cansativa para os profissionais, que se revezam em turnos que podem
durar mais de 10 horas de trabalho, de segunda a segunda. Para cumprir o contrato
com a empresa que contratou, a empresa estudada exige rotinas acima do limite legal
de seus trabalhadores. Os equipamentos nem sempre se encontram nas condições
adequadas para serem utilizados, sendo necessário um esforço maior para utilizá-los.
Os espaços para trabalho na maioria das vezes são pequenos e comportam um
profissional de forma justa e desconfortável.
Com o diagnóstico busca-se revelar as causas dos problemas levantados na
demanda. Podendo ter como fatores: absenteísmo, rotatividade, acidentes, erros de
dimensionamento de postos de trabalho ou sequência inadequada de tarefas.
Nos profissionais observados os principais problemas ergonômicos
encontrados foram os relacionados:
- ao dimensionamento dos postos de trabalho, que são pequenos ou apertados,
obrigando os profissionais a ficarem em situação ergonômica desfavorável;
- ao trabalho excessivamente realizado em pé ou pendurados, com pouca
movimentação durante o dia, dificultando a circulação do sangue e favorecendo o
desenvolvimento de hérnias;
- a postura de coluna inadequada, tendo o tronco voltado para cima, no caso
de trabalhos desenvolvidos acima da linha dos ombros, ou para baixo, quando a
atividade é desenvolvida no chão ou em superfície abaixo da linha dos joelhos;
- ao transporte de ferramentas e equipamentos de forma manual, sem auxílio
de um carrinho ou de mais de um profissional para auxiliar.
São as alterações que deverão ser adotadas para resolução dos problemas
encontrados. Devem conter todas as etapas detalhadas, com prazo e responsáveis
por cada ação demandada.
Para minimizar as consequências negativas trazidas pelo trabalho de
eletricista, a Norma Regulamentadora (NR-17) traz sugestões para reduzir as chances
de possíveis danos físicos a estes.
Os eletricistas e montadores observados possuem problemas semelhantes,
para tanto as recomendações, sob ótica da ergonomia de concepção, para cada uma
das situações encontradas são:
- Sempre que possível adequar as atividades para serem realizadas em local
mais adequado, como bancadas montadas no canteiro de obra ou container de obras,
diminuindo o tempo de exposição a situação ergonômica inadequada.
- Designar dois profissionais para desenvolver uma atividade que exige ficar
muito tempo em pé. Desta maneira, os dois profissionais podem fazer o revezamento
das atividades e proporcionando um tempo de descanso entre os períodos de trabalho
mais exaustivo.
- Realizar o ajuste de altura nas superfícies de trabalho, evitando-se trabalhar
com os cotovelos erguidos ou com a coluna arcada para trás ou para frente.
- Transporte de ferramentas e equipamentos:
Recomenda-se que o transporte de equipamentos e materiais pesados seja
realizado próximo ao corpo, evitando tensão nos braços, costas e articulações. E
evitar movimentos bruscos, dando tempo para o musculo se aquecer gradualmente
de se realizar um grande esforço.
Com base nas tarefas observadas durante a execução do trabalho pode-se
verificar que as ocorrências de posturas inadequadas são fáceis de serem
identificadas e fazem parte de uma grande lista de agentes de risco existente na
função observada.
Conforme observação da execução de tarefas realizadas pelos eletricistas e
montadores, os riscos ocupacionais relacionados a ergonomia aos quais estão
expostos são semelhantes aos encontrados no trabalho desenvolvido por Ciotta
(2016), no estudo realizado na Companhia Paranaense de Energia (COPEL), que se
resumem, basicamente, em esforço físico intenso, postura inadequada, levantamento
e transporte de peso e manuseio de ferramentas e materiais.

Conclusão
Os resultados obtidos neste trabalho evidenciam a necessidades de se tomar
medidas de adequação nos postos de trabalho dos eletricistas e montadores. Há,
também a necessidade de conscientização dos funcionários quanto à adoção da
postura corporal correta. A expectativa é que este estudo sirva de subsídio para o
alavancar a produtividade, e, sobretudo, para melhoria na saúde e segurança dos
funcionários.
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é uma ferramenta muito útil para os
trabalhadores, pois levanta a necessidade de adequação de um ambiente de trabalho
propício, possibilitando maior segurança à saúde e segurança.
Apesar da grande maioria dos pesquisadores considerarem a adoção de
postura correta como um dos pontos principais dentro da Ergonomia, há estudiosos
como o Raoni Rocha, mestre e doutor em Ergonomia, que faz uma análise diferente.
Ele defende que a “Postura Correta” é um mito e que ninguém consegue ficar mais do
que 5 minutos na posição considerada correta pelos pesquisadores tradicionais sem
sentir incômodo ocasionado pela falta de movimentação dos músculos e ligação
sanguínea e oxigenação. Em seu vídeo “O Mito da Postura Correta” ele defende que
apenas o trabalhador sabe o que é confortável ou não na realização da sua atividade
e que estudos recentes provam que sentar na dita postura correta agrava problemas
na coluna e pressão lombar.
Ainda há muito o que se estudar nesse tema. Seja com abordagem mais
tradicionalista ou mais revolucionária as próximas pesquisas serão importantes para
nos atualizar sobre de que forma devemos abordar estes assuntos no ambiente
profissional, informando e orientando sobre o que seria a postura mais adequada e
globalmente aceitável em cada situação de trabalho.

REFERÊNCIAS

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2004. Brasília: 2004.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. NR-17 Ergonomia. Portaria


MTPS nº 3.751, de 23 de novembro de 1990. Brasília: 1990.

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