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RESUMO
As transformações no cenário nas últimas décadas trouxeram grandes desafios com relação ao
entendimento dos fenômenos que direta e indiretamente afetam o trabalho das pessoas. Concernem
as mudanças organizacionais que diz respeito às condições de trabalho, que nada mais é do que a
ergonomia. A ergonomia vem assumindo um papel de grande importância no ambiente de trabalho,
que envolvem a relação do homem com as diversas tecnologias presentes nesses ambientes e as
necessidades de qualidade, e de produtividade. A Construção Civil é um setor que se destaca no
cenário nacional no que diz respeito a afastamentos devido a doenças ocupacionais ou acidentes
de trabalho. As obras de pequeno porte hoje dependem ainda da força dos homens, os quais
apresentam baixo grau de instrução, trabalhando normalmente ao ar livre com condições de
segurança precárias e materiais e ferramentas inadequadas no que se refere à ergonomia. Ao
longo deste Paper será apresentado um estudo sobre o aspecto conceitual da ergonomia e seus
benefícios para o ambiente produtivo e com objetivo geral mostrar a importância da ergonomia
para a saúde do trabalhador dentro de um canteiro de obras e avaliar os constrangimentos
ergonômicos. Para obter as referências necessárias ao entendimento do tema, este Paper foi
baseado em pesquisa bibliográfica e estudo in loco.
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Considerando-se que o presente estudo busca avaliar riscos e adequar as práticas incorretas
visando um maior bem-estar ao trabalhador em um canteiro de obras, este Paper seguiu diretivas
presentes em Normas Regulamentadoras para a correta fundamentação teórica e legal da pesquisa.
A vista disto, este estudo baseia-se principalmente na NR 17 (Norma Regulamentadora 17)
que se refere à ergonomia, a qual estabelece parâmetros que possibilitem a adequação das condições
e do ambiente de trabalho, garantindo além de tudo, saúde e segurança do trabalhador juntamente
com a eficácia do processo.
Entende-se que o estado de saúde de um trabalhador não independe de sua atividade
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profissional, porém, de um modo geral, o assunto acerca da relação saúde-trabalho, está mais
voltado à degradação de saúde enquanto ausência de doença ou dano funcional ao seu organismo.
Não obstante isso se deve ter em mente que as marcas deixadas por uma atividade profissional
dependem de fatores, como a natureza da atividade, as condições nas quais ela se realiza, o tempo
de duração desta atividade e as características individuais do trabalhador (TEIGER et al., 1981 apud
MUSSI, 2006).
A análise do trabalho busca encontrar dados que permitam a diminuição da disfunção do
sistema de produção, entre as concepções prescritas do trabalho e a atividade real do trabalhador.
Existem diversas definições de ergonomia, pois muitas procuram ressaltar o caráter interdisciplinar
e como diz Iida (2005, p. 02) “o objeto de estudo é a interação entre o homem e o trabalho no
sistema homem-máquina-ambiente, ou mais precisamente, as interfaces desse sistema, onde
ocorrem trocas de informações e energias entre o homem, máquina e ambiente, resultando na
realização do trabalho”.
Segundo o mesmo autor, ressalta que a melhor definição é da Associação Brasileira de
Ergonomia que adota a seguinte definição:
Entende-se por Ergonomia o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a
organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de
forma integrada e não-dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficâcia das
atividades humanas.
Wachowicz (2013), destaca que a ergonomia, independente da situação, visa sempre adaptar
o trabalho ao homem e para tal, a NR 17 estabelece que as condições de trabalho levem em
consideração as características psicofisiológicas dos operários juntamente com a natureza da obra
executada, tais condições incluem manuseio de materiais, utilização de equipamentos, condições
ambientais e a própria organização das tarefas. Ou seja, cabe à chefia e aos profissionais
habilitados, adequar o volume de trabalho físico/mental que o operário poderá realizar a fim de
protegê-lo de acidentes e doenças ocupacionais (WACHOWICZ, 2013).
Segundo Vieira (2010), a indústria da construção civil gira em torno de investimentos que
possibilitem a produtividade esperada, porém, tal produtividade só acontece com o envolvimento do
trabalhador. Para isso, é de suma importância cuidar da saúde e segurança desse trabalhador, o qual
impacta diretamente em perdas e qualidade de produção no setor (NETTO, 2015).
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Silva (2001) afirma que o setor da construção civil possui área de atuação para todos os
tipos e tamanhos de empresas, com diferenças, que mostram como as empresas que atuam neste
setor podem ter características bem diferentes, tanto no que diz respeito à parte tecnológica,
capacidade de investimento, especialidade nos serviços, sem falar na rotatividade das empresas, e
também pela diferença no número de empregados dos subsetores.
Conforme Silva (2014), o ramo da construção civil é destaque em afastamentos e acidentes
de trabalho no Brasil, pois se trata de um trabalho árduo e de intenso esforço físico. Reforça ainda,
que a ergonomia deve ser um fator de preocupação, pois através de boas práticas podemos
minimizar riscos laborais e proteger a integridade física dos trabalhadores do setor.
Com base nos dados do MPT (Ministério Público do Trabalho, 2018), em um intervalo de
tempo de apenas cinco anos, entre 2012 a 2017, a construção civil apresentou uma taxa de
afastamentos de 2,4% do total de ocorrências no país, o que corresponde a 7,5 milhões de dias de
trabalho perdidos.
QUANTIDADE DE ACIDENTES DO
TRABALHO
Atividade Doença do Sem CAT
Econômica An Típic Traj trabalho Assinada Total de
os o eto Acidentes
20 40.69 7.324 800 13.590 62.408
13 4
Construção 20 39.40 7.457 617 12.254 59.734
Civil 14 6
20 31.94 5.913 505 2.649 41.012
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Tabela 1. Quantidade de acidentes do trabalho por situação do registro e motivo na construção civil no Brasil
(Fonte: Anúario Estático de Acidentes do Trabalho – MTPS)
Observa-se que, no período de 2013 a 2015, houve uma queda na quantidade de acidentes do
trabalho, mas apesar dessa queda, o alto índice de acidentes ainda é preocupante, pois segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que 6.000 sofram acidentes no mundo
devido a atividade relacionadas com o trabalho
Barkokébas Jr. et al. (2003) comenta que as condições e meio ambiente de trabalho na
construção civil apresentam diversos riscos de acidentes do trabalho, isso devido à mutação
constante do ambiente de trabalho e a confusão que se faz em acreditar que o “provisório” significa
“improvisado”, ou seja, medidas falhas.
A Lei 8.213/91 (Plano de Benefícios da Previdência Social), em seu artigo 19, define
acidente de trabalho como da seguinte forma:
Dentre as principais doenças que acometem o trabalhador, faz-se destaque para a LER
(Lesões por Esforços Repetitivos) e a DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
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Trabalho), sendo atualmente as mais conhecidas e que atingem principalmente a coluna vertebral e
os membros superiores (JUNIOR, 2005).
Conforme Netto (2015) apud Guimarães (2009), a LER e a DORT são decorrentes de
diversas atividades praticadas pelo trabalhador, as quais se manifestam em músculos, articulações,
tendões, ligamentos, nervos e vasos e, a dor provocada por tais lesões, são as causas principais dos
afastamentos devido a incapacidade laborativa gerada por ela.
Os riscos ergonômicos mais frequentes na construção civil, na opinião de FERNANDES et
al. (1989), são: levantamento e transporte manual de peso, postura e jornada de trabalho.
A intervenção ergonômica na construção civil é mais difícil do que nas outras indústrias.
São vários os fatores que contribuem para isto: O local de trabalho é mudado todo dia; há grande
rotatividade dos trabalhadores; muitos trabalhadores são contratados por empreiteiras e os
proprietários da obra alegam não terem condições de contratarem um especialista em ergonomia
(SCHENEIDER, 1995).
O sistema terceirizado de produção acaba sendo um método das empresas desvincularem o
vínculo empregatício dos trabalhadores, e com este os direitos a seguridade social dos obreiros.
Segundo Barros (2003) este modelo de produção, negligencia direitos como aposentadoria, INSS,
FGTS, plano de saúde, entre outros, submetendo o trabalhador à exclusão social.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Tendo em vista a obtenção das percepções e sugestões dos trabalhadores quanto às questões
de ergonomia e segurança no posto de trabalho foi levantado um questionamento com questões
abertas para a coleta de dados como tempo de serviço em construção civil, se das atividades
desenvolvidas alguma causa qualquer tipo de desconforto, tarefa mais difícil, identificação dos
riscos ergonômicos, pausas, transporte de cargas, postura, ruído, vibração, esforço físico,
movimentos repetitivos, riscos dispersos pelo canteiro, dentre outras. Com base nos resultados o
quadro a seguir (Quadro 1) mostra os riscos ergonômicos detectados com relação a cada ocupação
pesquisada, sendo assinalados os que foram mais visíveis em cada uma delas.
MOVIMENT
OCUPAÇ POSTU FOR PE OS RUÍ VIBRAÇ
ÃO RA ÇA SO REPETITIV DO ÃO
OS
Servente x x x x
Pedreiro x x x x x x
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Ferreiro x x x
Carpinteiro x x x
Quadro 1. Riscos ergonômicos.
Fonte Autor
A postura neste posto de trabalho variou muito com o tipo de estrutura que estava sendo
armada. As posturas dominantes eram as inclinadas e as totalmente inclinadas (inclinação para
frente > 90°), apresentando estas um grande esforço na coluna dos trabalhadores. Foi observado que
o armador levantava uma carga média de 5-20 kg a cada 4 minutos, e o que dificultava este trabalho
é que quase todo levantamento de peso implicava no carregamento, e este era feito na maioria das
vezes em uma superfície ruim. Foram observados movimentos repetitivos de grande intensidade na
hora de armar as ferragens, onde os trabalhadores precisavam torcer o punho várias vezes.
Ao longo das visitas foram constatados postura inadequada durante o preparo da massa na
própria obra, utilizando a betoneira, pois o mesmo era obrigado a ficar curvado por um longo
período de tempo para misturar a massa. Isso ocorreu principalmente nas edificações de pequeno
porte, os ruídos estavam presentes na hora da mistura do concreto onde era utilizada a betoneira,
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isso também no caso do concreto ser fabricado na própria obra.
Avaliando essas posturas, o sistema WinOWAS classifica em quatro categorias, as quais são
apontadas dependendo do tempo de duração das posturas, conforme a jornada de trabalho realizada,
que são:
A partir deste ponto o software classifica as posturas executadas de acordo com as categorias
de ação a serem tomadas com isso foi possível ter uma visão ampla das tarefas executadas pelos
trabalhadores e percebeu-se que para a fase de preparação de argamassa, que representou 15% do
serviço, assentamento na alvenaria: representaram 39% do serviço, aplicação de argamassa e reboco
representou 31% das tarefas, e encontra-se na categoria três, necessitando de correções logo que
possível e em relação à movimentação de materiais, que representou 15% é necessário fazer
correção ao longo do processo.
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Através do estudo apresentado notou-se que há uma demanda intensa em relação à coluna,
membros superiores e inferiores, e as atividades apresentou ser excessivamente desgastante e ao
longo do cumprimento das atividades os trabalhadores realizam as tarefas de forma errada, o que
implica na saúde a curto e longo prazo.
Foi possível observar que esporadicamente os trabalhadores vão ao banheiro. A jornada de
trabalho no canteiro não possui pausas de descanso regulares, além do período de almoço e lanche.
A temperatura 15°C e 26°C ao ar livre, entretanto os trabalhadores frequentemente entravam em
contato, manual ou por via respiratória, com poeira, areia e cimento, não utilizaram máscara e
muitas das vezes tossiam. Existia uma boa parceria entre os trabalhadores, que quando questionados
sobre isto, relataram uma necessidade de rápida realização da tarefa e dependência de tarefas entre
os colaboradores.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final desta pesquisa bibliográfica foi possível formular uma série de constatações, grande
parte das empresas desconhecem a NR 17, também, as recomendações ergonômicas. Em sua
maioria as empresas fornecem, gratuitamente, os EPI’s aos seus trabalhadores, porem pode-se
constatar que em um canteiro de obras apenas 15% dos trabalhadores utilizam luvas e óculos de
proteção, os demais alegam que as luvas atrapalham a execução de suas tarefas, e por isso não as
utilizam. Nesse sentido, não existe nenhum tipo de treinamento e/ou esclarecimento fornecido pelas
empresas, com relação às recomendações ergonômicas. Quase em sua totalidade os DDR não
aplicam os procedimentos corretos para se efetuar o levantamento, transporte ou empregabilidade
de materiais em um canteiro de obras, bem como as consequências advindas de procedimentos
incorretos para tal. Serviços que exigem a utilização da pá são frequentes nos canteiros de obras, e
levam o trabalhador a efetuar movimentos que forçam a coluna vertebral, de forma semelhante ao
que ocorre durante o levantamento e transporte manual de cargas. Relacionando-se a este fato, as
maiores queixas dos trabalhadores que executam as tarefas de levantamento e transporte de cargas,
nos canteiros de obras. Com base nas pesquisas e in loco, pode se chegar ao resultado de um
número próximo a 60% dos trabalhadores de canteiro de obras apresentam dores lombares, mas não
reconhecem que estas dores são provenientes do levantamento e/ou transporte de cargas de forma
inadequada.
5. CONCLUSÃO
Com base nas pesquisas bibliográficas e visitações pode-se dizer que as condições dos
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canteiros de obra em si já configuram um risco à saúde e à segurança do trabalhador. Estes riscos
são aumentados em função da forma de executar as atividades pelo funcionário, pois não existe
dentro das empresas um procedimento para cada tarefa. O que existe são orientações verbais dadas
pelo engenheiro ou pelo mestre de obra. A qualificação da mão de obra é baixa e muitas vezes o
próprio operário toma decisões de como realizar a atividade. Muitas empresas pagam os
funcionários pela produtividade do mesmo o que leva, principalmente em trabalhadores novos e
inexperientes, a realização das tarefas com maior rapidez e assim se desgastando fisicamente com o
trabalho pesado. Seria proveitoso que antes de iniciar a jornada dentro de um canteiro de obras os
trabalhadores fizessem aquecimentos que, segundo Iida (2005), previnem distensões musculares e
aumentam a irrigação sanguínea. Assim o operário começaria sua jornada de trabalho mais atento,
reduzindo o risco de acidentes.
Identifica-se que há coerência entre os fatores estudados, na medida em que, internamente
aos grupos de risco e proteção, os fatores se inter-relacionam. Além disso, alguns fatores de risco se
contrapõem diretamente aos outros fatores de proteção, o que só ratifica sua classificação desta
forma. Neste sentido, ficam como colaboração deste estudo os indicativos que podem alterar
numericamente o número de acidentes de trabalho. Lembrando ainda, que tais fatores, na medida
em que se relacionam com condições de trabalho, requerem uma mudança cultural, no sentido de
valorizar mais os trabalhadores que a compõem, dando-lhes subsídios para um trabalho digno,
decente, que satisfaça a necessidade de sua clientela e que, ao mesmo tempo, não seja danoso para
quem executa as tarefas. Cabe ressaltar a importância da satisfação no trabalho, ponto tão discutido
pela ergonomia, que se aplica intimamente à área da saúde, fato bem marcado pelas conclusões
deste estudo.
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REFERÊNCIAS
DEJOURS. C., et. al. Por um trabalho, fator de equilíbrio. RAE São Paulo 1993;33:98-104.
FERNANDES, M.B. et al. Riscos Ergonômicos na construção civil. Revista CIPA. São Paulo, p.
34-36, 1989.
GUÉRIN F. et. al. Compreender o Trabalho para transformá-lo. Editora Edgar Blucher, São
Paulo, SP, 2001.
WACHOWICZ, M. C. Ergonomia. e-Tec Brasil. Instituto Federal do Paraná. Curitiba - PR. 2013.