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AS CONDIÇÕES E MEDIDAS DE SEGURANÇA DO TRABALHO

APLICADAS NOS CANTEIROS DE OBRAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

THE CONDITIONS AND SAFETY MEASURES OF WORK APPLIED IN


CIVIL CONSTRUCTION WORKSHOPS

Nathalia Silva Castro1


Engenheiro Civil. MBA em Gerenciamento de Projetos. Especialização em Construções
Civis. Gustavo Talge Ferreira2

Resumo

Através de uma análise geral sobre a situação das condições dos canteiros de obras na
construção civil, pode-se considerar que este setor apresenta elevados valores de
acidentes e incidentes de trabalho em relação à grande maioria dos demais setores
industriais como um todo. Melhorias nas medidas de controle de segurança do trabalho
podem trazer benefícios como a preservação da vida humana e o aumento da
competitividade das empresas no mercado com a redução de custos decorrentes de
acidentes ou quase incidentes (podendo gerar atraso no prazo de entrega e consequente
desgaste de colaboradores e empresa), multas e embargos. Pensando nisso, o artigo
apresenta, de forma clara e objetiva, as condições que diariamente os colaboradores do
setor de construção civil encontram-se nos canteiros de obras, bem como os principais
riscos de acidentes e as medidas de segurança que podem ser adotadas para mitigar e
contribuir para uma maior segurança do colaborador. O artigo também estabelece os
conceitos de segurança do trabalho e cita seus principais elementos e a possibilidade de
integração com os sistemas de gestão da qualidade e ambiental. Após discussão, concluiu-
se que devemos impor melhorias significativas nas condições do ambiente de trabalho,
principalmente quando acompanhada da instituição de uma nova cultura global, que
considera segurança e saúde no trabalho um dos fatores essenciais na avaliação geral do
desempenho da empresa.

Palavras-chave: Medidas de segurança do trabalho. Construção civil. Canteiro de obras.

Abstract

Through a general analysis of the situation of the conditions of construction works, we


could consider that this sector presents high rates of accidents at work in relation to most
of the industrial sectors as a whole. Improvements in occupational safety control
measures can bring benefits such as the preservation of human life and increased business
promotion in the marketplace with reduced accident or near-incident costs (can lead to
delays in delivery and consequent employee and company burnout), fines and embargoes.
With this in mind, the article presents, clearly and objectively, as daily conditions for
employees of the construction industry - whether the construction sites, as well as the
main risks of accidents and safety measures that can be adopted to mitigate and contribute
for greater employee safety. The article also defines the concepts of occupational safety

1
Aluna concluinte do curso de Engenharia de Segurança do Trabalho- E-mail:
nathalia.arquiurb@gmail.com
2
Orientador – Eng. Civil, MBA em Gerenciamento de Projetos, Especialização em Construções Civis- E-
mail: Gustavo.ffca@gmail.com
and cites its main elements and the possibility of integration with quality and
environmental management systems. After the discussion, conclude that you should
improve the working conditions of the environment, especially when accompanying the
establishment of a new global culture, that occupational safety and health are essential
factors in the overall assessment of company performance.

Keywords: Occupational safety measures. Construction. Construction site.

Submissão: 21 de fevereiro de 2020

1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil representa, para o Brasil, um dos setores


empresariais com maior absorção de mão de obra, além de ser, segundo Takahashi et al.
(2012), um dos maiores poderes econômicos, com alta geração de oportunidade de
emprego. É um segmento caracterizado pela precariedade na qualificação da mão de obra
e pela não continuidade do processo industrial, pois há mobilização e desmobilização das
equipes a cada obra executada. Esta situação vivida pelo setor pode resultar no
comprometimento da integridade física do trabalhador e acidentes, sendo estes grandes
desafios encontrados na construção civil. Patrício (2013) afirma que construção civil é
um termo usado para todo o tipo de construção que tenha interação com a população,
comunidade ou com a cidade, e tem sido um nome adotado até os dias atuais.
Inicialmente, a engenharia era subdividida nas áreas civil e militar, mas, com o passar dos
anos, esta divisão perdeu seu efeito, passando-se a utilizar o termo construção civil para
tudo o que envolve o trabalho de engenheiros e arquitetos civis com demais profissionais
de diferentes áreas de conhecimento.
A solução para os problemas relacionados com as precárias condições de trabalho
nos canteiros de obras existe e é viável, embora a insegurança continue sendo uma
constante na maioria das obras. Mesmo as empresas que aplicam a Segurança no Trabalho
em seu processo produtivo, o fazem de forma pontual e momentânea, sem planejamento
e sem uma política de Segurança e Saúde no Trabalho definida.
Considerando essas questões de segurança e tendo em vista que na construção de
prédios e edifícios, o perigo aumenta e consequentemente a segurança deverá ser mais
eficaz, adequada e redobrada. Com base no exposto, o objetivo geral é demonstrar a
importância da segurança no trabalho aplicado ao setor da construção civil para a redução
de acidentes. É preciso ajudá-los, fornecendo-lhes conhecimentos acerca da Segurança
no Trabalho para se aplicar à construção civil e, mais especificamente, ao canteiro de
obra, de modo que seja promovida a proteção e segurança dos colaboradores. Contudo, é
sempre viável dobrar a segurança dos trabalhadores deste setor oferecendo-lhes recursos
de trabalho no qual os deixarão satisfeitos, mostrarão resultados no período já
estabelecidos e sem acidentes.
Diante das apresentações desses dados alarmantes e extremamente pertinentes, o
artigo abordará o tema através de uma análise dos parâmetros e dados brasileiros, bem
como mundiais, sobre os acidentes ocorridos no âmbito da construção civil, mais
especificamente, dos canteiros de obras, para que possa ser de conhecimento de todos, e
para que as devidas providencias possam ser tomadas, afim de evitar possíveis acidentes
e/ou incidentes aos colaboradores envolvidos nessas áreas em todo o país e fora dele.
2. PARÂMETROS BRASILEIROS

Os acidentes de trabalho ocorrem desde os tempos antigos quando ainda nem se


falava em Segurança do Trabalho. Para Chiavenato (2010, apud PINTO et al, 2016, p.03)
o princípio de todo acidente de trabalho está vinculado a duas causas fundamentais: as
condições inseguras e os atos inseguros. As condições inseguras são circunstâncias físicas
ou mecânicas efetivas nas máquinas, nos locais, nos equipamentos ou nas instalações
elétricas e consistem nas principais motivações dos acidentes de trabalho. Seus acidentes
estão relacionados à equipamentos sem proteção, equipamentos defeituosos,
procedimentos arriscados em máquinas ou equipamentos, armazenamento inseguro,
congestionado ou sobrecarregado.
Os atos inseguros estão relacionados aos comportamentos dos trabalhadores,
carregando materiais pesados de maneira inadequada, burlando esquemas de segurança e
assumindo posições inseguras. Os trabalhadores estão sempre expostos aos riscos na sua
rotina diária em busca de condições melhores para viver.
Na área da construção civil, a segurança e a saúde do trabalho direcionam-se
através de normas regulamentadoras, descritas no Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), sendo a mais importante para as atividades exercidas em canteiros de obras a NR-
18, que obriga a elaboração e cumprimento do PCMAT, (Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção). De acordo com a NR 18.3.1, o
PCMAT é obrigatório apenas para obras a partir de 20 funcionários (MOTERLE, 2014).
As condições de segurança do trabalho na construção civil brasileira sempre foram
muito precárias. Os primeiros indicadores mais ou menos abrangentes são referentes ao
período da ditadura militar, quando se convencionou que o Brasil seria “campeão mundial
de acidentes de trabalho”. Nesse cenário, a construção civil ganhou notoriedade,
especialmente pelas mortes nas grandes obras.
O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil brasileira deve crescer 2,0%
em 2019, de acordo com projeção divulgada pelo Sindicato da Indústria da Construção
do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas
(FGV). Se a estimativa se confirmar, representará o fim de um ciclo de cinco anos de
quedas consecutivas no nível de atividade do setor. O PIB da construção encolheu 28%
entre os anos de 2014 e 2018. No acumulado dos últimos 12 meses até novembro de 2018,
a baixa estava em 2,3%. Situações similares têm sido identificadas em outros países. Por
exemplo, na Espanha, Díaz, Orden e Zimmermann (2010) apontam que a construção é
um dos setores industriais mais importantes, porém, com os piores índices de acidentes,
o que nos faz direcionar um pouco mais de atenção para o setor.
Diante desse contexto, entende-se que a construção civil tem como papel o elo
com o bem-estar da população, compreendendo os princípios de cidadania, divisão de
espaços públicos, inclusão social e a divisão de espaços particulares (SIMÕES, 2010).
No Brasil, a construção civil é uma das atividades que apresenta um dos maiores
índices de acidentes a nível mundial. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), a “construção civil ocupa o terceiro lugar no número de acidentes de
trabalho” (CBIC, 2013, s/d).
No Brasil, milhões de trabalhadores sofrem acidentes ou adoecem anualmente em
decorrência do seu trabalho. Apenas os casos apurados pelo Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS) têm totalizado mais de 700 mil infortúnios a cada ano. Contudo,
esse indicador está muito distante do número efetivo de vítimas. A literatura sobre o tema
apresenta estimativas de que os acidentes não notificados (incluindo doenças
ocupacionais e acidentes de trajeto) pelos empregadores podem atingir mais de 80% do
universo de infortúnios. A transformação dos benefícios previdenciários efetuada pelo
INSS desde 2007, via NTEP, revela apenas uma pequena ponta do iceberg, mas mesmo
assim tem constituído mais de 10 vezes o número de doenças ocupacionais comunicadas
pelas empresas e mais de 20% do total de acidentes computados pelo órgão previdenciário
brasileiro.
As consequências da falta de segurança nos canteiros de obra, visíveis através das
perdas de ordem humana, econômica ou social, têm estimulado a busca por melhorias no
desempenho da segurança na construção.
No setor da construção civil, geralmente os acidentes não surgem por motivos de
fácil solução, pois são originados de consequências de maior profundidade e sem haver
consciência dos fatores reais das suas causas. Trata- se de uma situação comum em casos
de acidentes que não geram lesões ou que sejam de natureza leve. Por isso, com um estudo
da área para verificar os riscos que envolvem os trabalhadores precisa ser feito no canteiro
de obra com base em uma elaboração e implantação de medidas de segurança que sejam
de fato eficazes.
Apesar da grande importância da construção civil, o setor apresenta uma série de
problemas e entraves em sua estrutura. A indústria da construção é considerada altamente
fragmentada em grande número de pequenas empresas, situando-se em um ambiente
complexo, com muitos fatores intervenientes (internos ou externos a empresa) e
tecnologicamente atrasada com relação a outros setores. A sobrevivência dessas
empresas, pode ser obtida através do desenvolvimento de atividades econômicas e
tecnológicas a custo menor que os concorrentes, mantendo ou aumentando a qualidade
de seus produtos.
Existem determinados fatores de riscos que estão associados ao setor da
construção civil que precisam ser levados em consideração, principalmente, por ser um
segmento que se destaca por empregar intensiva mão de obra, muitas vezes,
desqualificada. Relacionado a isso, os serviços de construção tendem a ser concentrados
e ocorrer sob pressão, o que leva a um maior risco de acidentes. Desta forma, pode-se
apontar como fatores que levam aos acontecimentos de acidentes na construção civil, o
tempo das obras que é relativamente curto; a pouca ou nenhuma qualificação de mão de
obra, resultando em alta rotatividade de pessoal; maior contato pessoal com os
equipamentos da construção, causando exposição aos riscos; e execução das atividades
sob condições climáticas desfavoráveis (BRUSIUS, 2010).
Levantamentos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em pesquisa realizada em convênio com o Ministério da Saúde, estima que, em
2013, cerca de 4,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais sofreram acidentes de trabalho
no Brasil, aproximadamente 7 vezes mais do que o número captado pelo INSS.
Dos acidentes registrados anualmente pelo INSS, quase 3 mil se referem a morte
de trabalhadores. Numa investigação preliminar, a partir de relatórios de investigação de
Auditores Fiscais do Trabalho e reportagens, foi constatado que, no ano de 2018, por
exemplo, dezenas de acidentes fatais não possuíam as respectivas CAT (Comunicação de
Acidente de Trabalho) nos sistemas disponíveis do Ministério do Trabalho (que
apresentam os registros do próprio INSS). Até acidentes fatais com repercussão nacional
não haviam sido comunicados pelos empregadores. Mesmo com tamanha subnotificação,
os casos que conseguem ser registrados evidenciam uma grande quantidade de acidentes
e mortes no mercado de trabalho brasileiro, especialmente quando comparada com países
capitalistas centrais, como o Reino Unido. Por lá, a despeito dos ataques que os
instrumentos de regulação protetiva do trabalho vêm sofrendo, ocorrem menos de 200
acidentes fatais por ano, numa população de quase 30 milhões de trabalhadores.
Cotejando esses números com a relação entre mortes no trabalho e população que pode
ser contabilizada em caso de acidente no Brasil (simplificando, trabalhadores assalariados
formais com inscrição na Previdência), temos como resultado uma incidência mais de 10
vezes superior de acidentes fatais no nosso país em relação ao Reino Unido.
Esse cenário de riscos e acidentalidade verificados no conjunto da economia
brasileira parece ser ainda pior na construção civil. Segundo os indicadores oficiais
disponíveis, a construção civil é a atividade econômica que mais mata trabalhadores no
Brasil. Considerando apenas os empregados formalmente vinculados aos CNAES
(Classificação Nacional de Atividade Econômica) que integram a Construção (Setor F) e
os dados dos últimos Anuários Estatísticos de Acidentes de Trabalho (AEAT, 2010, 2011,
2012, 2013) do INSS, morrem mais de 450 trabalhadores no setor, a cada ano, no país.
À luz da quantidade de trabalhadores ocupados na construção civil em relação ao
conjunto do mercado de trabalho, a partir dos dados da RAIS (Relação Anual de
Informações Sociais) de 2010 a 2012, apura-se que o risco de um trabalhador morrer na
construção é mais do que o dobro da média. Em 2018, a probabilidade de um empregado
se incapacitar permanentemente no referido setor foi 60% superior ao restante do mercado
de trabalho. Ainda de acordo com dados dos AEAT, dobrou o número de trabalhadores
na construção que sofreram agravos que provocaram incapacitação definitiva para o
trabalho. Ou seja, além de a construção ser historicamente um dos setores mais
problemáticos da economia brasileira em termos de saúde e segurança do trabalho, os
indicadores apontam para uma piora desse setor em termos absolutos e proporcionais.

3. CONDIÇÕES DIÁRIAS DO TRABALHADOR

A construção civil se difere dos outros setores industriais por possuir


características próprias, sendo que uma das principais é a pouca importância das máquinas
e tecnologias para a obtenção da qualidade do produto, dependendo esta, quase que
exclusivamente, da mão-de-obra utilizada.
A grande dependência que a construção civil tem da mão-de-obra utilizada deveria
contribuir para que este fosse um setor desenvolvido no aspecto de segurança no trabalho,
porém o que se nota é que este continua sendo um dos setores industriais com maior
percentual de acidentes.
O trabalho não é visto somente como um valor econômico e/ou instrumental, mas
também como um valor cultural e uma dimensão estruturante na vida dos indivíduos. Por
isso, o estudo sobre as condições de trabalho tem sido considerado necessário para a
elaboração de indicadores sociais da qualidade de vida no. No entanto, o termo
“condições de trabalho”, tem sido empregado de forma inespecífica. Segundo esses
autores, tal fato pode decorrer de as condições de trabalho serem um fenômeno complexo
e referido nas publicações da Psicologia do Trabalho e das Organizações (PTO) ao longo
de seu desenvolvimento histórico.
Por muito tempo, vem sendo observado problemas relacionados com o trabalho
de forma sistemática. Isso é identificado por meio dos acidentes causados ao homem
primitivo por meio da pesca, caça e guerra, antes consideradas as atividades importantes,
o que afetava a integridade física e capacidade produtiva dos indivíduos. Desde então,
grande parte das atividades praticadas pelo homem às quais ele tem se dedicado ao longo
dos anos, foram apresentando diversos riscos em potenciais frequentemente
concretizados em lesões, afetando a integridade física e da saúde do trabalhador.
Para facilitar a execução dos trabalhos, os homens fabricavam e utilizavam
instrumentos cortantes e o manuseio destes objetos eram puramente manuais sem
proteção nas mãos causando diversos acidentes. Na medida em que se deu a evolução dos
processos de produção, também foram aumentando os riscos de acidentes de acidentes do
trabalho, e, a partir da Revolução Industrial começou a ser verificada a intensificação da
degradação do meio ambiente natural pelo próprio ser humano o que aumentou a
exposição aos riscos do trabalho.
Com o surgimento das máquinas, as exigências de aumento de produção foram
crescendo cada vez mais, e, especialmente, com o advento do processo de globalização
da economia que resultou em desemprego. Consecutivamente, o aumento do número de
desempregados fez com que estes trabalhassem no mercado informal, sem o apoio devido
e sem as normas protetivas trabalhistas e das normas de segurança e medicina do trabalho,
o que os fizeram se tornar vítimas de acidentes no trabalho, porém, desamparados pelo
seguro social. Contudo, todo um processo faz parte da segurança do trabalho as condições
de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de
materiais, organização do trabalho, mobiliário, postura corporal e layout do local de
trabalho.
As atividades laborais nasceram com o homem e pela sua capacidade de raciocínio
e pelo seu instinto gregário. Isso fez com que, através da história, o homem criasse a
tecnologia que possibilitou seu desenvolvimento e, também, promovesse acidentes.
Entretanto, muitas foram as alterações introduzidas na CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho), especificamente no Capítulo V, Título II em dezembro de 1977 e 1978,
conforme a Lei n. 6514, por ser a construção, um cenário de construção de grandes obras
que dependiam de recursos internos.
No Brasil, o governo foi pressionado por organismos internacionais de
financiamento e, devido a isso, teve que adotar algumas ações, dentre elas, aprovar a
legislação referente à segurança e medicina do trabalho e a inadequada formação de
profissionais da área. A referida legislação foi inicialmente copiada da legislação
americana, mas, com o passar dos anos, foi sendo adaptada conforme as necessidades
brasileiras. Nota-se, neste contexto, que a Segurança do Trabalho no setor da construção
civil surgiu como uma reação ao grande número de acidentes ocorridos durante a
atividade laborativa e, inclusive, devido à realidade econômica vigente na época, entre os
anos 1964 e 1985, que não privilegiava o social. Foi um período em que as construções
civis estavam em alta expansão.
Orgãos como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização
Mundial da Saúde (OMS) e Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo
(INSHT) têm partido da concepção de que condições de trabalho incluem os elementos
que se situam em torno do trabalho e também o trabalho em si mesmo (conceito amplo).
Blanch (201q3), na mesma linha conceitual, afirmou que as condições de trabalho
incidem diretamente sobre a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar psicológico, a
satisfação e a implicação com o trabalho, além de doenças ocupacionais e o rendimento.
A constante convivência com situações de risco, urdida na ausência ou na
fragilidade de práticas preventivas, tem sido um pesado ônus para os operários da
construção civil.
Segundo HEINECK, “São conhecidos através de estudos de canteiros de obras
uma série de atitudes gerenciais que levaram a melhoria do desempenho do esforço
construtivo, assim como também foram desenvolvidas muitas técnicas de análise e
medição do trabalho que potencialmente diminuem o desperdício, a imobilização de
capital, o conteúdo de mão-de-obra das tarefas, a dispersão do esforço produtivo e os
retrabalhos”. Estas estratégias envolvem: programação da obra; gestão clássica da
produtividade; organização do posto de trabalho, motivação e treinamento de recursos
humanos; e a adoção de novas tecnologias e procedimentos de trabalho.
As mudanças têm sido bastante significativas pois, de forma geral, o setor da
construção civil tem caminhado buscando se mobilizar para responder às exigências do
novo contexto, adotando medidas que elevem os níveis de qualidade e produtividade e
reduzam custos. Nesse sentido, temos que identificar, nos canteiros de obra, as melhorias
que as empresas da construção civil têm adotado, em termos de segurança do trabalho,
ferramentas, máquinas e técnicas especiais e comunicação interna.
A situação de muitos canteiros de obras é, em grande número ainda hoje,
degradante. Condições de trabalho a que estão submetidos muitos trabalhadores,
principalmente os terceirizados, e as formas utilizadas, em alguns casos, para encobrir ou
dificultar a apuração das causas dos óbitos, acabam possibilitando uma maior exposição
a riscos desnecessários.
Os índices mais elevados de acidentes e/ou incidentes correspondem às ocupações
que, por absorverem maior contingente de mão-de-obra e por participarem de diversas
etapas do processo produtivo, estariam mais expostas aos riscos. Dentre elas, destacam-
se os serventes de obra, com 28% do total, que, por sua baixa qualificação profissional,
estão permanentemente sujeitos às tarefas mais desgastantes. Em seguida, figuram os
carpinteiros e os pedreiros, com 14% cada, e os encarregados de turma, com 5%.
Eletricistas, pintores, bombeiros-hidráulicos e impermeabilizadores correspondem, cada
um, a 3%. Outras ocupações, como auxiliares de escritório, gesseiros, soldadores, mestres
de obra, auxiliares de escritório, montadores, operadores de grua, marteleiros e armadores
de ferro, perfazem, cada uma, 1% do total. A ocupação não é esclarecida em 18% dos
eventos com morte.
Nota-se, com base no exposto, que a Segurança no Trabalho na construção civil é
uma forma de reduzir os acidentes no setor e fazer com que os operários ganhassem maior
importância por parte das empresas.
Há também a convivência com situações geradoras de desgaste físico e mental,
aliada às exigências empresariais de gerenciamento da mão-de-obra, pode conduzi-los a
naturalizar as formas de adoecer e morrer no cotidiano dos canteiros. Impor atividades
que requerem destreza e coragem, em circunstâncias incompatíveis com a preservação da
saúde e da vida, induzem os trabalhadores a encarar o acidente como fatalidade intrínseca
ao trabalho. A banalização do perigo, as condutas omissas e o silêncio podem decorrer,
em muitos casos, da tentativa de se resguardarem de um possível mal-estar perante o
sofrimento que, como elos da cadeia de comando, acabam por infligir.
As quedas de altura, causa maior dos acidentes fatais no setor, seriam
drasticamente reduzidas se respeitados princípios elementares de proteção coletiva
presentes na NR-18. Dentre aquelas cuja origem foi identificada, evidencia-se o uso de
material reconhecidamente inadequado por sua fragilidade –aglomerado de madeira – no
revestimento de vãos e andaimes, bem como a ausência de proteção no fosso do elevador.
Outros fatos refletem a constante negligência com a segurança: a utilização de material
desgastado e a ausência de escoramento. Esses exemplos são casos reais que podem e,
infelizmente, ocorrem diariamente no local de trabalho dos colaboradores dos canteiros
de obras.
Há também as condutas fraudulentas para escamotear os acidentes fatais, onde, a
mais comum é a descaracterização dos locais onde ocorreram. Subtrair indícios
inviabiliza a atuação da perícia. A frequente impunidade reforça e amplia tais
procedimentos.

4. NORMAS E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A Norma Regulamentadora n° 9 (NR-9) Programa de Prevenção de Riscos


Ambientais estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), visando a preservação da saúde e
da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a
existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e
dos recursos naturais (BRUSIUS, 2010).
Outra norma regulamentadora que se faz presente nos canteiros de obras é a NR-
6, a qual define que a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI
adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento.
De acordo com a NR-6, o Equipamento de Proteção Individual é “todo dispositivo
ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos
suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. ” Todos os EPI’s só poderão
ser colocados à venda com a indicação do Certificado de Aprovação – CA. Portanto,
quando realizar a compra do seu EPI, certifique-se da validade do CA para garantir a
qualidade do equipamento e a proteção ao usuário.
A NR-6 estabelece todos os requisitos sobre o Equipamento de Proteção
Individual. Dentre eles, as responsabilidades do empregador, empregado e também do
fabricante de EPI’s, nacional ou um EPI importado. Neste último caso, o importador
também deverá seguir as NR-6, cumprindo e respeitando as normas de segurança para
garantir a eficiência do equipamento de proteção e proteger o usuário.
Reconhecer, analisar e avaliar os agentes ambientais é fundamental para a
definição dos EPI’s. Para cada tarefa ou processo de trabalho, deve realizar a análise do
risco e o nível de exposição para escolher o EPI adequado para cada trabalhador. O
equipamento não irá modificar a dimensão do risco, a função dele é eliminar ou reduzir a
ação do agente no corpo do trabalhador. É muito importante que todos saibam o porquê
da utilização do dispositivo, assim como, a maneira correta do uso do Equipamento de
Proteção Individual para garantir a eficiência do produto e a segurança dos colaboradores.
Do ponto de vista prevencionistas, o EPI não evita acidentes, mas apenas evitam
a ocorrência de lesão ou atenuam sua gravidade, protegendo o corpo e o organismo contra
os efeitos de substâncias químicas (tóxicas, alergênicas, dentre outras) que possam
determinar doenças ocupacionais. Isto significa que, o EPI é, na realidade, um
instrumento de uso pessoal, cuja finalidade é neutralizar a ação de certos acidentes que
poderiam causar lesões ao trabalhador, e protegê-lo contra possíveis danos à saúde,
causados pelas condições de trabalho.
Os riscos químicos estão relacionados a toxicologia, que estuda os efeitos nocivos
decorrentes das interações de substâncias químicas no organismo. Os agentes químicos
são diversas substâncias, produtos ou compostos que penetram no organismo através do
contato ou pela pele; por ingestão; pela via respiratória, durante o manuseio,
armazenamento, transporte ou descarte dos mesmos, sob a forma de gases ou vapores,
poeiras, fumos, neblinas ou névoas. A identificação do produto, sua natureza e sua
concentração no ambiente devem ser verificadas, uma vez que alguns dos produtos que
não são considerados perigosos, podem apresentar algum ou graves riscos com o uso
indevido ou inadequado.
A toxicologia é uma ciência que estuda os efeitos nocivos consequentes das
interações de substâncias químicas com o organismo, o qual pode ser observado em
diversos campos de atuação. Os riscos físicos são representados por meio de um
intercâmbio brusco de energia entre o organismo e o ambiente, em quantidade maior de
que o organismo é capaz de suportar, podendo acarretar uma doença profissional. Além
disso, também são considerados riscos físicos as radiações não ionizantes, as pressões
anormais, o ruído e as vibrações.
Há também os riscos ergonômicos. A construção civil por ser conhecida como
um dos setores que mais problemas apresentam tem sido alvo de preocupação para a
busca pela melhor maneira dos trabalhadores realizarem o trabalho, o qual inicia-se com
os aspectos ergonômicos.
Quanto aos esforços físicos que causam problemas ergonômicos, pode-se citas
que os movimentos de rotação e flexão são os mais comuns e com maior frequência nas
atividades em canteiro, seja devido ao esforço para pegar o tijolo ou para levantar e
depositar sacos de cimento e argamassas. Os reflexos causados pelos esforços no
comportamento da coluna vertebral do trabalhador são verificados quando as forças
resultantes interagem provocando patologias e problemas de natureza psicofisiológicas,
muitas vezes, irrecuperáveis. Além disso, os problemas ocasionados à coluna do
trabalhador da construção civil se devem às inclinações laterais constantes, extensões,
flexões, torções e principalmente em atividades de carga e descarga em obra.
Conforme apontado pela NR-17, os riscos ergonômicos são aspectos relacionados
à organização do trabalho, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do
posto de trabalho, e ao levantamento, transporte e descarga de materiais. Estendem-se
desde uma inadequação antropométrica até uma análise de jornada, pela rotina de
atividade, conforto das vestimentas e calçados, adaptação ao trabalho.
O estudo científico das relações entre o homem e o seu ambiente de trabalho
conhecido por ergonomia tem como objetivo aumentar a eficiência das atividades
humanas, minimizar os custos impostos pelas atividades do trabalhador, através da
remoção de características de projeto que são capazes de causar danos, queda de
eficiência no trabalho e da habilitação física.
A indústria da construção civil tem se destacado por apresentar uma ampla
diversidade de risco de acidentes e de doenças em virtude das condições de trabalho e dos
aspectos específicos de cada canteiro de obra. Os elevados números de acidentes de
trabalho ocorridos no setor de construção civil trazem à tona a questão do cumprimento
das normas de segurança, como, por exemplo, da Norma Regulamentadora 18 (NR-18),
específica para a indústria da construção (BRASIL, 2015).
O reconhecimento da constrangedora realidade expressa-se no fato desse setor
contar com uma norma específica, a NR-18, que regulamenta a Segurança e Medicina do
Trabalho na Indústria da Construção Civil. No entanto, apenas 50% dos canteiros de obra
atendem aos preceitos de segurança do trabalho. O descumprimento nas instalações de
andaimes e proteções periféricas é o que mais se destaca. Essa observação explica a
permanência das quedas de altura como causa principal dos acidentes fatais.
A NR-18 talvez seja a norma regulamentadora mais importante para o setor da
construção civil. Ela estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e
organização que objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas
preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho
na indústria da construção.
Como consta na NR-18, é vedado o ingresso ou a permanência de trabalhadores
no canteiro de obras, sem que estejam assegurados pelas medidas previstas nesta NR e
compatíveis com a fase da obra.
Os principais objetivos da NR-18 são:
 Garantir a saúde e a integridade dos trabalhadores;
 Definir atribuições e responsabilidades às pessoas que administram;
 Fazer previsão dos riscos que derivam do processo de execução de obras;
 Determinar medidas de proteção e prevenção que evitem ações e situações de
risco;
 Aplicar técnicas de execução que reduzam ao máximo os riscos de doenças e
acidentes com os colaboradores;
O fato adquire relevância ainda maior quando se constata que, em sintonia com a
nova ordem econômica e produtiva, o setor vem incrementando uma prática extensiva e
intensiva de terceirização. Tal prática, pautada eminentemente na redução de custos,
reflete-se na transferência de responsabilidades das empresas principais para
empreiteiras, subempreiteiras e, frequentemente, para organizações irregulares ou até
mesmo ilegais, colocando os trabalhadores em situações de desproteção social e de
insegurança.
No curso dessa tendência das empresas em reduzir, ao mínimo, o número de
trabalhadores centrais, emprega-se, cada vez mais, uma força de trabalho facilmente
dispensável, em condições que intensificam sua vulnerabilidade. A dinâmica desse
processo provoca a externalização de um número crescente de tarefas em circunstâncias
progressivamente mais precárias e menos protegidas. Recruta-se e incorpora-se, em
função da exigência de prazos contratuais, um expressivo contingente de mão-de-obra
não qualificada, o que se alia à falta de treinamento, que acaba por refletir-se no
descompromisso humano e social com os trabalhadores e suas famílias.
A duração dos contratos restringe-se, em sua grande maioria, a prazos exíguos,
remetendo à convivência com situações intermitentes de emprego e desemprego e suas
drásticas consequências. Implica ainda na alta mobilidade e na grande rotatividade que
caracterizam a construção civil, setor no qual, 42,7% dos trabalhadores não permanecem
no emprego por mais de 6 meses. O compromisso com o próprio sustento e o de seus
dependentes, num contexto de desemprego, induz esses operários a se submeterem a
condições e relações de trabalho degradantes e degradadas. A luta pela sobrevivência de
forma digna se confronta com modos perversos de viver e morrer.
O desrespeito à NR-18 não é recente, além de acentuado. Infelizmente, nos
últimos anos, o comportamento empresarial não parece ter melhorado. Muitas
irregularidades têm sido apuradas pela Fiscalização do Trabalho todos os anos,
frequentemente com descumprimento de itens elementares da norma.
Refere-se ao uso de equipamentos de segurança e outros requisitos previstas na
NR-18, bem como medidas, que evitem problemas com acidentes de trabalho. A
segurança do trabalho tem sido uma das áreas nas quais as empresas têm investido com
mais intensidade, embora tenha-se ainda, muito a evoluir. Percebeu-se que essa ênfase à
segurança nos canteiros tem ocorrido principalmente em virtude das novas exigências na
NR-18 em vigor. Em alguns dos aspectos abordados, constantes no questionário, todas as
empresas estão se enquadrando com rapidez, devido à forte atuação da fiscalização nos
canteiros de obra. A maioria das empresas relatam que o grande número de exigências da
norma tem restringido a implantação de inovações em outras áreas, devido ao alto
investimento financeiro na área de segurança.
O que pode ser verificado também no ambiente de trabalho dos colaboradores é
que há um padrão de gestão do trabalho predominantemente predatório no Brasil, aqui
particularmente analisado o caso da construção civil. Isso significa um comportamento
empresarial que tende a não respeitar qualquer limite que considere entrave ao processo
de acumulação, engendrando consequências deletérias para a saúde e segurança dos
trabalhadores, incluindo sua eliminação física. Essa característica é evidenciada, por
exemplo, pelo caráter pró-cíclico dos acidentes no Brasil, tanto no conjunto da economia,
quanto na construção civil, quando o avanço da tecnologia poderia implicar exatamente
o contrário, ou seja, a redução sistemática do adoecimento laboral. Ao reverso, as
iniciativas predominantes são de resistência à incorporação de novas tecnologias mais
seguras.
A perpetuação desse padrão de gestão do trabalho na construção civil e nos demais
setores da economia brasileira está fortemente associada à individualização da saúde e
segurança do trabalho, um senso comum hegemônico há décadas, muitas vezes
deliberadamente propagado por empresas e seus representantes, que restringe ao
indivíduo o debate sobre regulação da integridade física dos trabalhadores.
Desse modo, os empregadores tendem a culpar as vítimas, inclusive tirando o
descumprimento das normas do efetivamente contribuíram para os acidentes, que se
reiteram. Antes da individualização do trabalho, da resistência às normas de proteção e
da adoção de uma série de posturas que incrementam a acidentalidade (como as
modalidades de contratação e relacionamento com os empregados), o padrão de gestão
da saúde e segurança do trabalho no Brasil se caracteriza pela tendência a negar a própria
existência do problema, qual seja, o adoecimento laboral. A grande subnotificação de
acidentes e doenças ocupacionais é uma estratégia deliberada de condução dos negócios,
e parece ter se intensificado instrumentalmente nos últimos anos, como demonstra a
sucessiva queda da quantidade de doenças ocupacionais comunicadas pelos
empregadores após a introdução do NTEP pelo INSS.
Pela importância do assunto o Ministério do Trabalho está tomando medidas que,
de forma lenta e gradativa, vem provocando uma melhoria nas ações preventivas,
fundamentais para a diminuição dos acidentes no trabalho, através da realização da
Campanha Nacional Contra os Acidentes do Trabalho. Esta campanha, num primeiro
momento, tem como principal objetivo fiscalizar as empresas que foram responsáveis por
mortes, invalides permanente e parciais.
A questão é que o crescimento da economia vem acompanhado de avanço
tecnológico. Mesmo com as particularidades do nosso capitalismo, especialmente em
termos de capacidade de inovação endógena, os setores econômicos incorporam
crescentemente novos materiais e meios de produção. Isso possibilita a redução do
adoecimento. Afinal, se trabalhos penosos e perigosos, como carregar sacos de cimento
por escadas, são substituídos pelo uso de equipamentos, como elevadores, não deveria o
número de acidentes cair substancialmente com o crescimento da economia?
Grande número de acidentes, infortúnios relacionados a conhecidos riscos, de
conhecimento técnico difundido, com normas aplicáveis para os casos diretamente
infringidas, ocorrência de uma grande quantidade de infrações às normas pelos
empregadores, subnotificação dos agravos, dinâmica pró-cíclica da acidentalidade, são
algumas das características da estrutura da saúde e segurança do trabalho na construção
civil brasileira. Por conta de tudo, classificar o padrão de gestão da força de trabalho no
Brasil como predatório não parecer ser descabido. Denomina-se o padrão como
predatório porque comumente caminha (e luta para assim continuar) no sentido da
dilapidação, inutilização ou mesmo eliminação física daqueles que vivem do trabalho, é
o cenário cotidiano vivido por milhões de brasileiros todos os dias.

5. MEDIDAS DE ATUAÇÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO

O planejamento e controle da segurança é requisito obrigatório de normas


opcionais e obrigatórias de segurança, sendo também uma prática comumente empregada
por empresas líderes em gestão de segurança.
A dinâmica entre acidentes e padrão de gestão do trabalho no Brasil,
especialmente em relação ao comportamento dos empregadores frente às normas, não se
atém à construção civil e já foi identificada por outras publicações.
Mais do que descumprir itens básicos da norma, é comum a reiteração do
comportamento ilícito. Na construção civil, o primeiro estudo encontrado foi o de
Dedobbeleer e Béland (1991), que obtiveram como resultado um modelo de duas
dimensões: (a) comprometimento da gerência com a segurança e (b) envolvimento dos
trabalhadores com a segurança. Por sua vez, Siu, Phillips e Leung (2004) – quando
exploraram as relações entre clima de segurança (atitudes seguras e comunicação),
questões psicológicas (sofrimento psíquico e satisfação no trabalho) e desempenho em
segurança (autorrelato de acidentes e doenças ocupacionais) – encontraram que: as
atitudes seguras são preditoras de doenças ocupacionais; o nível de sofrimento psíquico
é preditor do número de acidentes e tem relação direta e mediação sobre as taxas de
acidentes; e, por fim, a comunicação não é preditora de desempenho em segurança
Diversos estudos indicam que se pode aumentar a eficiência e eficácia dos planos
de segurança através da integração do planejamento da segurança e da produção.
Entretanto, a maioria dos estudos realizados adota uma visão muito restrita de
planejamento e controle da segurança.
Saurin et al. (2014), por sua vez, propuseram um modelo de planejamento e
controle integrado da segurança e produção, no qual se buscou integrar de forma mais
ampla a gestão da segurança ao planejamento e controle da produção, considerando-se
conceitos e práticas de gestão da produção adotados com sucesso na indústria da
construção e em outros setores.
O estudo de Saurin (2012) indicou que a definição do método de execução do
processo, isto é, a maneira como o grupo de trabalhadores vai realizar o trabalho, constitui
uma atividade crítica para o sucesso do planejamento da segurança.
Além disso, o esforço de planejamento dos métodos parte do pressuposto de que
deve ser minimizada a necessidade de tomada de decisões no momento da execução pelos
trabalhadores, como, por exemplo, a definição da sequência de execução e das medidas
preventivas necessárias, assim como, onde as mesmas devem ser implantadas no canteiro.
Desta forma, pretende-se reduzir a probabilidade de os trabalhadores se depararem com
condições novas e imprevistas, visto que nessas condições a chance de erro aumenta
muito.
O padrão de gestão aqui analisado também se expressa na ampla resistência
empresarial contra as normas de segurança do trabalho, seja na evolução das prescrições
normativas, seja no cumprimento das disposições vigentes. Todos os anos, os itens das
Normas Regulamentadoras (incluindo a NR-18, concernente à construção civil) mais
elementares são aqueles mais flagrados sendo descumpridos pelas empresas. Esse padrão
é facilitado e objetivamente incentivado por uma postura do Estado (por meio das suas
instituições de regulação do direito do trabalho) hegemonicamente conciliadora com os
ilícitos praticados pelos empregadores. Recentemente, reiteradas pesquisas,
contemplando escopos diversos, inclusive dados populacionais, têm analisado a dinâmica
da regulação do trabalho pelo Ministério do Trabalho (MTE), Ministério Público do
Trabalho (MPT) e Justiça do Trabalho (JT) (FILGUEIRAS, 2012, 2013, 2014a, 2014b;
SOUZA, 2013, 2014). Infelizmente, posturas condescendentes com a ilegalidade
contribuem para a reprodução das mortes no trabalho.
As perspectivas para o futuro da segurança e saúde do trabalho na construção civil
brasileira são pouco alentadoras. É verdade que há alguns focos de mudança nas ações do
MTE, MPT e JT, no sentido de responsabilizar infratores e promover uma política pública
de imposição das normas, método inteligível aos empregadores. Todavia, a hegemonia
do conciliacionismo ainda é profunda, tanto nas bases, quanto nas cúpulas dessas
instituições. Ainda mais grave, em termos de preservação da vida de trabalhadores, é que
a conjuntura tem sido de radicalização da parcela majoritária das empresas e seus
representantes contra qualquer regulação que limite seu arbítrio sobre o trabalho
assalariado. Entidades empresariais, inclusive as maiores, têm se apresentado cada vez
mais agressivas e resistentes a mudanças no seu padrão de gestão do trabalho.
A estrutura de gestão predatória do trabalho engendra um círculo vicioso de difícil
saída, e que contribui para condicionar o próprio tipo de desenvolvimento do capitalismo
no Brasil. Há uma generalização da concorrência espúria via redução ilegal dos custos.
Isso prejudica as empresas que cumprem as leis e respeitam a saúde, incentivando,
portanto, a espiral da burla à legislação e a reprodução da depredação do trabalho. Sem o
respeito a patamares mínimos de civilidade, a concorrência via elevação da produtividade
com incorporação ou desenvolvimento de tecnologia é mitigada. Esse processo de
depredação do trabalho na construção civil teve, nas últimas décadas, a terceirização do
trabalho como um fator importante para seu agravamento. Além disso, a precarização do
trabalho engendrada pela terceirização tem contribuído para o incremento dos acidentes
e das mortes na construção civil.
É verdade que as instituições de regulação do direito do trabalho, em particular a
Fiscalização do Trabalho, têm sofrido algumas mudanças nas suas formas de atuação nos
últimos anos, com o aumento de ações impositivas sobre a ilegalidade. Ações como a
paralisação de obras para saneamento de irregularidades reduzem exposição a riscos e
evitam a ocorrência de mais mortes. Contudo, posturas menos conciliadoras ainda estão
muito distantes de predominar nas instituições, ao mesmo tempo em que a Fiscalização
do Trabalho se vê cada vez mais desestruturada, com um número decrescente de
Auditores Fiscais e insuficiência de condições básicas de funcionamento.
Pela importância do assunto o Ministério do Trabalho está tomando medidas que,
de forma lenta e gradativa, vem provocando uma melhoria nas ações preventivas,
fundamentais para a diminuição dos acidentes no trabalho, através da realização da
Campanha Nacional Contra os Acidentes do Trabalho. Esta campanha, num primeiro
momento, tem como principal objetivo fiscalizar as empresas que foram responsáveis por
mortes, invalides permanente e parciais.
A ofensiva patronal contra o direito do trabalho, por seu turno, abarca diversas
frentes, que vão da elaboração das normas até o assédio aos agentes encarregados de
efetiva-las. O endurecimento da atuação de parte das instituições tem implicado revolta
empresarial, inclusive das suas entidades representativas, que poderiam colaborar para
estabelecer padrões gerais de concorrência por meio do incentivo ao cumprimento da
legislação. Numa sociedade como a nossa, a efetividade das normas trabalhistas é
essencial para reduzir agravos à integridade física dos trabalhadores. É óbvio que, mesmo
que a legislação fosse plenamente respeitada, os acidentes não seriam completamente
eliminados. Contudo, seria um grande passo para a melhora das condições de trabalho.
Críticas que não sejam muito contextualizadas a normas de saúde e segurança são
completamente anacrônicas e nada contribuem para promover melhores condições de
trabalho, especialmente porque vivemos numa pandemia de desrespeito ao direito do
trabalho, mesmo dos itens mais básicos.
Outro grande responsável pelos acidentes de trabalho é o ato inseguro, porém, o
mesmo, pode ser reduzido com ações de educação em serviço e conscientização do
trabalhador em relação ao respeito às normas de segurança. É observada a falta de
utilização de EPI’s por parte de alguns trabalhadores mesmo sendo disponibilizado pelas
empresas, causando esses atos inseguros. O investimento das empresas com treinamento
e a fiscalização desses profissionais ainda são precários.
6. CONCLUSÃO

Através de todos os dados explicitados anteriormente, percebemos que este


assunto é de extrema importância e devemos considerar, desde já, as situações cotidianas
e os perigos diários enfrentados pelos colaboradores nos canteiros de obras. Além disso,
o ambiente da construção civil como um todo é extremamente otimista em relação ao que
efetivamente se verifica nas obras. Além disso, a Segurança no Trabalho tem apresentado
um grande avanço no que se refere ao número de acidentes no setor da construção civil.
Conforme analisado neste artigo, este ramo é uns dos segmentos que fazem parte da
economia mundial e também apresenta elevado índice de acidentes por ser uma atividade
que exige mão de obra quase que exclusiva do trabalhador
Vimos também que os indícios apurados por diversos autores nas décadas
passadas parecem se confirmar e se reproduzir. Os acidentes na construção civil e nos
canteiros de obras normalmente são previsíveis e estão relacionados a descumprimento
expresso da NR-18.
Evidentemente, o descumprimento das normas não esgota a explicação de cada
evento. Contudo, a evasão recorrente corrobora fortemente a existência do padrão de
gestão da força de trabalho que temos chamado de predatório. Além disso, nos últimos
anos, forças empresariais têm intensificado sua resistência à evolução da NR-18.
Em sendo produto de lutas, o direito do trabalho não é unilateral. Portanto, as
Normas Regulamentadoras têm problemas e alguns itens podem evoluir. Mas, de forma
geral, elas constituem um instrumento importante de defesa da vida e podem ser um limite
substantivo à depredação do trabalho.
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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, neste espaço, primeiramente à Deus, por me proporcionar todo


conhecimento e oportunidade de aprendizado. À minha família, por todo apoio e carinho
que sempre me deram durante toda a minha caminhada até este momento. Aos amigos e
colegas que adquiri durante o curso, pelos momentos de risada e companheirismo que
levarei por toda vida. Aos professores e mestre, pela oportunidade de aprendizado e novos
conhecimentos. À minha filha, por todo amor, carinho e dedicação que tem me
proporcionado todos os dias.

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