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TRABALHO EM ALTURA NA CONSTRUÇÃO CIVIL E A NORMA

REGULAMENTADORA 35: UMA REVISÃO

Álisson Franco do Couto (Engenheiro Civil, Universidade Estadual de Londrina);


alissoncouto@ymail.com
Alan Franco do Couto (Graduando em Engenharia de Materiais, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná)
Nicole Schwantes-Cezario (Engenheira Civil, Universidade Estadual de Londrina)
Geovana Ferreira Nogueira de Camargo (Engenheira Civil, Universidade Estadual de
Londrina)

Resumo: O trabalho em altura é uma atividade inerente e muitas vezes inevitável na


indústria da construção civil, consistindo em um fator de risco quase que constante. Dessa
forma, a participação dos profissionais de segurança no planejamento e fiscalização das
atividades realizadas nas etapas de execução e manutenção das edificações torna-se
fundamental. Este artigo teve por objetivo avaliar o estado da arte sobre as particularidades
da ocorrência de trabalho em altura na indústria da construção civil e sua adequação aos
critérios estabelecidos na Norma Regulamentadora (NR) 35, que devido a sua publicação
relativamente recente, ainda sofre com o desconhecimento de sua existência. Verificou-se
que embora o risco de queda de altura seja uma preocupação constante dos trabalhadores,
ainda impera uma cultura de descaso aos procedimentos de segurança, em especial a
correta utilização dos Equipamentos de Proteção Individuais e Coletivos, que têm a
capacidade de reduzir drasticamente a ocorrência de fatalidades. Por fim, ressalta-se a
importância de manter ativa no dia-a-dia dos trabalhadores e das empresas uma rotina de
segurança, em que a adoção de medidas como os Diálogos Diários de Segurança (DDS),
treinamentos periódicos com certificado e reciclagens podem contribuir para a disseminação
da segurança do trabalho como um investimento e não um custo.

Palavras-chave: Trabalho em Altura, Segurança do Trabalho, Construção Civil, NR 35.

Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 - 22ª edição – Novembro de 2019 - página 1 de 21
WORK AT HEIGHT IN CIVIL CONSTRUCTION AND THE
REGULATION STANDARD 35: A REVIEW

Abstract: Work at height is an inherent and many times unavoidable activity in the civil
construction industry, consisting in an almost constant risk factor. With that in mind, the
participation of the safety professional in the planning and inspection of the activities in the
steps of constructing and maintaining the buildings is fundamental. This article aimed to
evaluate the state of the art about the particularities of the work at height in the civil
construction industry and its suitability to the criteria stablished in the Regulation Standard
(RS) 35, which due to its recent publication, still suffers with the lack of knowledge of its
existence. It was verified that although the risk of falling is a constant worry of the workers, it
is still common a culture of neglecting safety procedures, especially the correct use of the
Individual and Collective Protection Equipments, which have the capacity to drastically
reduce the occurrence of fatalities. At last, it is emphasized that the adoption of measures as
the Toolbox Talks (TT), periodic trainings and recylings with certificates may contribute to the
dissemination of the safety at work as an investment and not a cost.

Keywords: Work at height, Safety at Work, Civil Construction, RS 35.

1. INTRODUÇÃO
Entende-se por trabalho ou ambiente de trabalho seguro aquele com baixo risco ou
ausência de acidentes, bem como o que não apresenta risco de provocar danos à saúde do
trabalhador (BAPTISTA; USSAN, 2016).
A segurança no trabalho pode ser tratada como um ponto de referência que
configura as empresas que zelam pela qualidade dos serviços que se propõem a executar.
As atividades de segurança não se fazem de maneira isolada, mas apoiadas em estratégias
que assegurem a organização, limpeza, higiene, produtividade, condições adequadas de
trabalho e dignidade dos operários (CAMARGO et al., 2018).
O trabalho em altura encontra-se entre as causas mais frequentes de acidentes com
vítimas fatais (KULKAMP; SILVA, 2014). Estima-se que mais de 30% dos acidentes
resultantes de queda possuem vítimas fatais. Na indústria da construção civil este
percentual é ainda mais alarmante, representando valor superior a 50% dos óbitos
(BRANCHTEIN, 2018).

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A ocorrência de trabalho em altura em edificações não se dá apenas durante a fase
de construção das mesmas. Ao longo de sua vida útil, as edificações são submetidas a
manutenções corretivas e preventivas, sendo que boa parte dessas ações exigem tal
condição de trabalho. Entre elas, destacam-se a manutenção de telhado, limpeza de calhas,
pintura de fachadas, manutenção em aparelhos de ar condicionado (KERBES; PUIATTI,
2018), entre outras.
Embora a NR 18 (BRASIL, 2018d) já tratasse sobre a questão do trabalho em altura
na construção civil, a NR 35 (BRASIL, 2016b) surgiu objetivando preencher uma lacuna nas
medidas protetivas contra as quedas, em especial para outras diversas empresas e setores
industriais, como o de telecomunicações, energia elétrica e montagem e desmontagem de
estruturas (KULKAMP; SILVA, 2014).
Por vezes ainda é perceptível o desinteresse e despreocupação dos trabalhadores
com relação à segurança individual e coletiva, além da ausência de treinamento específico
para a execução de trabalho em altura. Nesse sentido, o empregador deve ter atuação
direta na segurança do trabalho, mostrando a importância da mesma por meio de
treinamentos, orientações e incentivos em relação ao método correto de execução dos
serviços no tocante à segurança do trabalho em altura (KULKAMP; SILVA, 2014).
Frente a isso, este trabalho teve por objetivo avaliar o estado da arte sobre as
particularidades da ocorrência de trabalho em altura na indústria da construção civil e sua
adequação aos critérios estabelecidos pela NR 35, levando em consideração aspectos
legislativos e burocráticos, a gestão e o planejamento de segurança do trabalho nas
empresas e medidas adotadas para a garantia da segurança nas atividades realizadas.

2. METODOLOGIA
O tipo de pesquisa empregado nesse artigo foi a revisão de literatura, sendo realizadas
consultas a livros, dissertações, teses, artigos científicos, normas vigentes, legislações,
entre outras fontes, selecionadas através de buscas na internet, com foco em estudos de
caso realizados no Brasil. Entre os mecanismos utilizados nas pesquisas destacam-se o
Google Acadêmico, o SciELO e o Portal de Periódicos da CAPES.
O período da literatura consultada compreendeu os últimos 76 anos (1943-2019).
Entre as palavras-chave utilizadas na busca, ressaltam-se: trabalho em altura, segurança do
trabalho, construção civil, norma regulamentadora 35, NR 35.

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3. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

3.1 ASPECTOS LEGISLATIVOS, NORMATIVOS E DOCUMENTAÇÃO


Os primeiros avanços consistentes em termos da segurança do trabalho no Brasil se deram
com a promulgação da chamada Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, pelo presidente
Getúlio Vargas, em 1943. O Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943 destina seu
Capítulo V à questão da Segurança e Medicina do Trabalho, estabelecendo direitos e
deveres dos trabalhadores em relação a essas questões, bem como indicando as
competências dos órgãos fiscalizadores, como as Delegacias Regionais do Trabalho –
DRTs (BRASIL, 1943).
Entretanto, essa legislação, primordialmente conhecida por salvaguardar direitos
trabalhistas fundamentais, não foi suficiente para conter o surto de acidentes no país,
provocado, entre outros aspectos, pela rápida industrialização e urbanização ocorrida em
meados do século XX. Como consequência, em 1970 o Brasil chegou a ser considerado o
país com maior número de ocorrências de acidentes de trabalho (CABRELON, 2014).
Nesse sentido, a publicação das Normas Regulamentadoras (NRs) pelo Ministério do
Trabalho, a partir de 1978, foi parte de uma estratégia do Governo Federal para modificar a
visão internacional do Brasil no cenário da Saúde e Segurança dos trabalhadores,
promovendo regulamentações nacionais para as condições de trabalho. Embora tenham
sido publicadas no final dos anos 1970, as NRs sofrem constantes atualizações, devendo
ser frequentemente consultadas pelos profissionais de segurança.
Estas normas regulamentadoras são, desde 1994, elaboradas e revisadas por meio
de um processo tripartite, que envolve representantes de três esferas diferentes:
trabalhadores, empregadores e governo. Esse procedimento está de acordo com o
recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que também indica que
essas normas devem ser submetidas à consulta pública (BRANCHTEIN, 2018).
Atualmente encontram-se em vigor 37 Normas Regulamentadoras no Brasil, sendo
algumas de aplicação geral, como a NR 06, que trata sobre a utilização de equipamentos de
proteção individual (BRASIL, 2018a), e algumas para indústrias específicas, como a NR 18,
que trata das condições de trabalho na construção civil (BRASIL, 2018d).
O direito a um ambiente de trabalho seguro é uma conquista dos trabalhadores
brasileiros, atualmente garantido na carta magna do país. A Constituição Federal de 1988
trata da saúde e segurança dos trabalhadores em seu Capítulo II, que versa sobre os
Direitos Sociais, onde lê-se:

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXII –
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança (BRASIL, 1988).

Mais recentemente, no artigo 19 da lei 8.213/1991, traz-se a definição do que hoje se


entende por acidente de trabalho como aquele

[...] que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou de


empregador doméstico [...], provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL,
1991).

De acordo com a NR 01, as NRs

[...] são de observância obrigatória pelas empresas privadas e


públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta,
bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que
possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT (BRASIL, 2009).

Em relação à realização do trabalho em altura, Yonekubo e Machaloski (2017)


destacam dois aspectos principais normalmente verificados em empresas que possuem
esse tipo de atividade: um desconhecimento da atual legislação específica do assunto e a
negligência do empregador quanto ao cumprimento desta.
Camargo et al. (2018) ressaltam que empresas que descumprirem os preceitos das
Normas Regulamentadoras estão, sob o olhar da legislação, cometendo infrações que
remetem a penas, com a possibilidade de receberem punições ou notificações.
Dentro da indústria da construção civil, em especial no que se refere à realização de
trabalho em altura, destaca-se a necessidade de observância das seguintes
regulamentações:
a) NR 01 – Disposições Gerais;
b) NR 04 – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho – SESMT;
c) NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA;
d) NR 06 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI;

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e) NR 07 – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO;
f) NR 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA;
g) NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos;
h) NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção;
i) NR 35 – Trabalho em Altura.
Em termos da documentação legal exigida pelas NRs, ressaltam-se o PCMSO e o
PPRA. O primeiro “com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos
seus trabalhadores” e de “obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de
todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados”
(BRASIL, 2018b). Por outro lado, o PPRA visa

[...] à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores,


através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente
controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que
venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais (BRASIL, 2017).

As NRs também estabelecem a organização de dois grupos de funcionários de


funções distintas, porém ambos responsáveis pela observância do estabelecido no PCMSO
e no PPRA.
O SESMT tem “a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do
trabalhador no local de trabalho” (BRASIL, 2016a). A NR 04 estabelece, em seu Quadro II,
os critérios específicos para o dimensionamento do SESMT, que pode chegar a incluir os
seguintes profissionais: técnico de segurança do trabalho, engenheiro de segurança do
trabalho, auxiliar de enfermagem do trabalho, enfermeiro do trabalho e médico do trabalho,
a depender do número de funcionários da empresa e do grau de risco da mesma.
Segundo relatam Camargo et al. (2018), a formação e a dinâmica da organização do
SESMT terão influência quanto à implantação de ferramentas de controle na gestão e
prevenção de acidentes de trabalho.
Ao longo do tempo, em especial após a implantação das Normas Regulamentadoras,
o papel do Engenheiro de Segurança do Trabalho sofreu grande mudança, onde este deixou
de ser apenas um agente fiscalizador e passou a ser uma peça ativa no processo de
planejamento e desenvolvimento de técnicas ligadas ao gerenciamento de controle de riscos
(KULKAMP; SILVA, 2014).

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A importância da existência de um supervisor de trabalho está na necessidade de
auxílio ao técnico de segurança naquilo que pode escapar a sua percepção, além de
providenciar resgates quando necessário e fazer cumprir os procedimentos e normas de
segurança. É de extrema importância a comunicação entre o técnico e o supervisor, sendo a
utilização de rádios uma boa opção (BAPTISTA; USSAN, 2016).
A CIPA, por sua vez, “tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças
decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a
preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador” (BRASIL, 2011). Os membros
da CIPA, em sua maior parte, constituem-se por meio de eleições periódicas entre
funcionários, conforme estabelecido pela NR 05.
A NR 35 (BRASIL, 2016b), que regula a ocorrência do trabalho em altura, é
relativamente recente, tendo sua primeira versão entrado em vigor no ano de 2012 e sua
última retificação em 2016. Por essa razão, Yonekubo e Machaloski (2017) apontam que
existe a necessidade de uma melhor divulgação de seu conteúdo nas comunicações
internas das empresas, de maneira a envolver todos os colaboradores e promover
integração.
No primeiro item da NR 35, lê-se:

35.1.1 Esta Norma estabelece os requisitos mínimos e as medidas


de proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a
organização e a execução, de forma a garantir a segurança e a
saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta
atividade (BRASIL, 2016b).

No entanto, Stülp et al. (2017) ressaltam que a NR 35 não cobre todos os aspectos
relacionados ao trabalho em altura. Segundo os mesmos autores, ela falha, por exemplo, ao
não tratar de riscos que envolvam trabalhos em escadas e andaimes.
De qualquer forma, a NR 35 estabelece os requisitos mínimos e medidas de
proteção para realização de trabalho em altura, em aspectos que compreendem a
organização, planejamento e execução da atividade, de maneira a assegurar a saúde e
segurança dos colaboradores envolvidos direta ou indiretamente nas atividades. Ademais, a
norma destaca que os colaboradores que não acatarem as recomendações podem estar
sujeitos a multas, que podem variar segundo o nível da infração (TIECHER; DELWIG,
2017).

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Apesar da legislação acerca de Segurança do Trabalho no Brasil, o interesse e o
conhecimento do cidadão comum sobre ela ainda é bastante restrito e indicam que é
necessário maior afinco por parte dos órgãos competentes em termos de fiscalização
(CAMARGO et al., 2018).

3.2 GESTÃO E PLANEJAMENTO PARA O TRABALHO EM ALTURA


Para fins de definição, são consideradas trabalho em altura, conforme a NR 35, todas as
atividades exercidas em elevações superiores a 2,0 m (dois metros) do nível inferior, onde
exista risco de queda (BRASIL, 2016b).
Por Segurança do Trabalho entende-se

[...] a aplicação de medidas educacionais, técnicas e médicas, que


têm o objetivo de prevenir acidente, eliminando condições adversas à
segurança do trabalhador, adquirindo práticas de prevenção regidas
pelas Normas Regulamentadoras (NRs), que são exigidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (CAMARGO et al., 2018).

A gestão de segurança do trabalho trata-se da administração e o controle de fatores


relacionados a esse aspecto dentro da atividade de trabalho, além do atendimento de
questões legais, visando atingir níveis de segurança apropriados. Isso envolve manter o
grupo de colaboradores certificados, com treinamentos em dia ou reciclados, verificando
suas adequações física e psicossocial. Além disso, estão inclusas as tarefas burocráticas,
como manter atualizados e ordenados os registros de funcionários, dos equipamentos e
providenciar a emissão das Permissões de Trabalho - PTs (BAPTISTA; USSAN, 2016).
Um sistema de gestão de segurança do trabalho deve levar em consideração não
apenas as condições do ambiente, mas também dos colaboradores envolvidos na atividade.
O planejamento, a organização e execução de serviços por um trabalhador que esteja
capacitado e autorizado incluem a avaliação de seu estado de saúde quando no exercício
de atividades em altura e também a consideração de seu histórico clínico (YONEKUBO;
MACHALOSKI, 2017).
Em seus estudos, Stülp et al. (2017) concluíram que 62,5% dos acidentes em altura
relatados pelos colaboradores ocorreram por falta de EPI, 25% se deram devido à ausência
de EPC apropriado no local da ocorrência, enquanto 12,5% se acidentaram por não terem
recebido orientações adequadas em treinamentos sobre esse tipo de atividade. Conclui-se,
portanto, que todos os acidentes relatados pelos trabalhadores poderiam ter sido evitados

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com ações voltadas para a segurança do trabalho, em especial pelo uso adequado dos
equipamentos de proteção, tanto individuais quanto coletivos.
As empresas devem possuir um planejamento para as ações que serão adotadas em
situações de ocorrência de acidentes de trabalho, bem como para o resgate de
trabalhadores em situações emergenciais, objetivando sua retirada de maneira segura e
ágil, onde possam receber atendimento médico adequado. Tais ações devem constar em
seu plano de emergência e as pessoas por ele responsáveis devem estar devidamente
habilitadas (BAPTISTA; USSAN, 2016; TIECHER; DELWIG, 2017).
Segundo Camargo et al. (2018), as ferramentas de investigação de acidentes devem
ter como pontos fundamentais a coleta e organização dos fatos, sendo que esta deve ser
realizada logo após a ocorrência, para agilizar o processo de efeito retroativo e incluir os
incidentes, implicando à investigação um aspecto proativo.
O modo mais eficiente de se promover a segurança e a saúde dos trabalhadores é
estabelecer um bom sistema de gestão. No caso dos projetos da construção civil, a gestão
dos riscos deve se aplicar em todas as fases do ciclo de vida desses projetos: concepção e
planejamento, execução da obra, utilização, manutenção e demolição (BRANCHTEIN,
2018).
A preparação e análise prévia da tarefa a ser executada consiste no planejamento,
que visa identificar onde, como, quando e por que a atividade será realizada, sendo iniciada
sempre pela Análise Prévia de Riscos - APR (BAPTISTA; USSAN, 2016).
A análise das condições de trabalho tem como função auxiliar o empregador ou
responsável na busca de medidas técnicas de prevenção ou minimização na ocorrência de
acidentes com seus funcionários ou terceiros (KULKAMP; SILVA, 2014). Segundo os
autores, essa análise de risco deve ser realizada para cada uma das atividades
desenvolvidas, com exceção dos casos em que os riscos envolvidos sejam os mesmos.
A execução da APR, como o nome sugere, deve anteceder a realização do trabalho
em altura, tendo como vantagem a identificação e o conhecimento dos potenciais perigos
aos quais os trabalhadores estão sujeitos, além da identificação e desenvolvimento de
protocolos. Ela deve ser concebida a partir da listagem dos riscos associados a nível de
projeto, bem como na própria execução (TIECHER; DELWIG, 2017).
Na ficha de análise de risco devem constar primeiramente os procedimentos
conforme as exigências normativas, de modo a preservar a segurança dos envolvidos e, na
sequência, a análise dos riscos com as medidas de controle necessárias à referida atividade

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(KULKAMP; SILVA, 2014). Os autores ainda ressaltam que devem constar a relação com
nome e função de todos os envolvidos e, obrigatoriamente, as assinaturas do Técnico ou
Engenheiro de Segurança responsável pela obra e também pelo encarregado da equipe.
Mediante a identificação de cada perigo, também devem ser listadas as causas, os
efeitos e a gravidade dos potenciais acidentes, além das medidas corretivas e/ou
preventivas. A APR se torna mais completa quando são levadas em consideração todas as
experiências anteriores, consultando-se o maior número possível de fontes distintas, entre
elas os estudos de riscos em instalações similares e demais experiências operacionais
(TIECHER; DELWIG, 2017).
Vale ressaltar que no âmbito da construção civil os riscos de trabalho em altura não
se restringem à fase de projeto e execução, mas também ao longo da vida útil da edificação,
com as atividades de manutenção. Em seu estudo, Kerbes e Puiatti (2018) aplicaram um
questionário a onze representantes de condomínios na cidade de Arroio do Meio/RS,
relacionado à questão da segurança na manutenção das edificações. Entre as principais
observações realizadas pelos autores, destacam-se:
a) 64% dos condomínios contrataram autônomos ou empresas sem habilitação legal para as
atividades de manutenção;
b) apenas 18% dos condomínios relataram que os aspectos de segurança são levados em
consideração no momento da contratação;
c) somente 9% dos condomínios verificaram se o trabalhador possuía vínculo empregatício
com a empresa e se sua aptidão ao trabalho foi verificada por meio da emissão do Atestado
de Saúde Ocupacional (ASO);
d) 81% relataram desconhecer a existência das NRs e 54% disseram desconhecer a
responsabilidade solidária civil no caso de alguma ocorrência.
Quando da realização de trabalhos em altura, além do tipo das atividades que serão
desempenhadas, é necessário observar as condições do ambiente de trabalho e considerar,
por exemplo, a possibilidade da ocorrência de ventanias e chuva, da utilização de barreiras
para impedir a exposição dos trabalhadores e também se estes estão utilizando vestimentas
adequadas para a realização do serviço (TIECHER; DELWIG, 2017). Quando da ocorrência
de chuvas e/ou trovoadas, as atividades em canteiro devem ser imediatamente suspensas
(KULKAMP; SILVA, 2014).
Vale destacar que os tipos de barreiras contra quedas, segundo Branchtein (2018),
podem ser divididos da seguinte maneira:

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a) físicas (ou materiais): impedem o evento fisicamente, como os guarda-corpos.
b) funcionais (ou dinâmicas): impedem a ação de ser executada, como a porta de um
elevador.
c) simbólicas: requerem a interpretação ao agente submetido ao risco, como um cartaz
indicativo da necessidade de uso do EPI.
d) incorpóreas (ou imateriais): dependem do conhecimento do usuário, como os
regulamentos, procedimentos de trabalho e a experiência.
Ademais, abaixo da região de execução de um trabalho devem ser estabelecidas
zonas de exclusão, de maneira a evitar que outras pessoas se exponham à queda de
ferramentas e materiais (BAPTISTA; USSAN, 2016).
Segundo Stülp et al. (2017), comumente os empregadores colocam os colaboradores
nas obras sem que estes tenham recebido treinamento e tampouco equipamentos de
proteção adequados. Além disso, os autores destacam que é de extrema importância que os
trabalhadores da construção civil tenham ciência dos riscos a que estão sujeitos, dos itens
de segurança que devem ser observados na realização das suas atividades e das
responsabilidades das partes envolvidas, de maneira que o trabalho seja desempenhado
atendendo às legislações pertinentes.
Yonekubo e Machaloski (2017) ressaltam que a gestão do trabalho em altura por
parte das empresas envolve não apenas as medidas técnicas, como as APRs, mas também
a manutenção de um programa de capacitação para seus funcionários sobre tais atividades,
enquanto para estes a principal obrigação se refere a contribuir na aplicação das medidas
de segurança estabelecidas.
Stülp et al. (2017) realizaram entrevistas com 96 trabalhadores da construção civil
das cidades de Itapiranga e São João do Oeste, no estado de Santa Catarina, onde 30%
deles relataram nunca ter recebido qualquer tipo de treinamento sobre segurança no
trabalho em altura. Além disso, praticamente a metade dos colaboradores apontaram não
possuir ou não fazer uso do cinto tipo paraquedista para atividades em altura e outros 17%
indicaram não utilizar EPIs de qualquer natureza, consistindo em números preocupantes.
Esses números podem estar relacionados, com base nos dados de Stülp et al.
(2017), à percepção dos próprios trabalhadores em relação a sua segurança. Os
colaboradores que disseram sentir que “nunca sofrerão algum acidente relacionado à altura”
somaram 6%, enquanto aqueles que relataram “raramente se sentirem sob risco de
acidente” representaram 8% do total de entrevistados. Paradoxalmente, 61% dos

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funcionários elegeram as quedas de altura como o tipo de acidente mais temido, enquanto
25% optaram pelos choques elétricos e 8% por lesões nas costas.
A NR 18 estabelece, em seu item 18.28, os requisitos mínimos de treinamento ao
qual os colaboradores devem ser submetidos antes de desempenhar suas atividades. A
norma compreende que “todos os empregados devem receber treinamentos admissional e
periódico, visando a garantir a execução de suas atividades com segurança” e ainda que “o
treinamento deve ter carga horária mínima de 6 (seis) horas” (BRASIL, 2018d). A NR
também indica que o treinamento deve ser ministrado antes dos trabalhadores iniciarem
suas atividades e deve abordar, entre outros aspectos, informações sobre o seu meio de
trabalho e os riscos inerentes a sua função.
O tópico de treinamento e capacitação também é levantado pela NR 35, que
considera que os trabalhadores aptos a realizarem trabalhos em altura são aqueles que
foram submetidos e aprovados em treinamento, que devem envolver atividades teóricas e
práticas de carga horária mínima equivalente a 8h. Entre os assuntos abordados, devem
constar: as normas e regulamentos aplicáveis ao trabalho em altura, os riscos potenciais e
medidas de prevenção e controle nessas atividades, acidentes típicos relacionados a esse
tipo de trabalho, entre outros (BRASIL, 2016b).
Uma das ferramentas para a gestão do trabalho em altura são as Permissões de
Trabalho (PTs), documentos que têm foco em prevenção, liberando a execução de trabalho
em áreas de risco por um tempo pré-determinado (BAPTISTA; USSAN, 2016). A rotina de
emissão de uma PT é apresentada na Figura 1.

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Figura 1 - Rotina para Permissão de Trabalho em altura em uma indústria têxtil

Fonte: Yonekubo e Machaloski (2017).

As PTs devem estabelecer quais pessoas podem ter acesso ao local, barrando o
acesso de terceiros e evitando a exposição à riscos. Devem obrigatoriamente avaliar os
riscos existentes preliminarmente, propondo as medidas de segurança pertinentes
(BAPTISTA; USSAN, 2016).

3.3 MEDIDAS PREVENTIVAS PARA O TRABALHO EM ALTURA


A prevenção pode e deve ser uma constante nos setores de produção e manutenção, uma
vez que os custos humanos e materiais ocasionados pela ocorrência de acidentes de
trabalho são muitas vezes superiores ao valor investido nas atividades de prevenção
(CAMARGO et al., 2018).
Na indústria da construção civil, os maiores riscos de queda têm relação com o
arranjo inadequado de instalações; falta de proteção, como guarda corpos e telas em vãos
abertos; nos trabalhos em lajes e telhados; no levantamento de paredes e muros e também
nos trabalhos relacionados ao uso de andaimes e escadas (STÜLP et al., 2017).
Camargo et al. (2018) afirmam que a ocorrência de acidentes relacionados à altura
está ligada à prática de atos inseguros por parte dos colaboradores, mas a falta de

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comprometimento e monitoramento a partir dos responsáveis nas empresas também
merece destaque. Em consonância, Kulkamp e Silva (2014) elencam a rotatividade entre
colaboradores, a baixa qualificação desta mão de obra, as más condições do ambiente de
trabalho, os procedimentos de trabalho e, centralmente, o não cumprimento das normas de
proteção como causas de acidentes.
Cinco aspectos são fundamentais na segurança para realização de trabalho em
altura: padronização dos métodos, competência/capacidade profissional, uso de
equipamentos adequados, planejamento e gestão das tarefas (BAPTISTA; USSAN, 2016).
Stülp et al. (2017) apontam que a ocorrência de acidentes de trabalho afeta não apenas os
trabalhadores, mas também as empresas, com a perda de tempo, interrupção da produção,
danificação de materiais e insumos, despesas com afastamentos e contratação de novos
colaboradores que requerem treinamentos específicos. Além disso, os autores ressaltam o
custo social, pois ao afetar a capacidade de trabalho das pessoas, impactam diretamente na
rotina de suas famílias.
Ressalta-se a importância do aspecto humano na segurança do trabalho, uma vez
que sem a cultura de prevenção de acidentes não é possível atingir os baixos níveis de risco
desejados. Destacam-se, como qualidades indispensáveis, a disciplina profissional,
conhecimento adquirido em treinamentos e com a experiência, diligência e discernimento e
racionalidade na execução de tarefas (BAPTISTA; USSAN, 2016)
Sugere-se a cada atividade em altura, reunir os trabalhadores para que se
familiarizem com os riscos e as formas de preveni-los (KULKAMP; SILVA, 2014). Nesse
sentido, recomenda-se a prática dos Diálogos Diários de Segurança (DDS), em inglês
conhecidos como Toolbox Talks, uma ferramenta de prevenção que consiste em uma
conversa ou discussão de assuntos relacionados à segurança, em geral realizada antes do
início das atividades de trabalho, que objetiva estabelecer uma cultura de segurança e
proporciona aos supervisores a oportunidade de verificar as condições dos trabalhadores
antes do início dos trabalhos (BAPTISTA; USSAN, 2016).
Em relação à participação ou não do colaborador na ação protetiva, Branchtein
(2018) classifica os sistemas de proteção coletiva contra queda em duas frentes:
a) Sistema de Proteção Ativa contra Quedas (SPAQ): normalmente relacionado ao uso de
um Equipamento de Proteção Individual (EPI), como cintos de segurança, talabartes e linhas
de vida. Estes sistemas requerem treinamentos específicos para o trabalhador e dependem
diretamente da ação destes para seu funcionamento.

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b) Sistema de Proteção Passiva contra Quedas (SPPQ): em geral corresponde a um
Equipamento de Proteção Coletiva (EPC), como as redes de segurança e sistemas de
guarda-corpo e rodapé. São preferíveis aos sistemas ativos pois a capacidade de proteção
independe de fatores de participação do elemento humano.
A linha de vida pode ser montada com a utilização de cabos de aço ou corda de
segurança, sendo a escolha feita durante a análise de risco da obra ou do serviço específico
(KULKAMP; SILVA, 2014). Ela obrigatoriamente estará conectada a dispositivos de
ancoragem, que são regulamentados no Brasil pela NBR 16325:2014, em suas partes 1 e 2,
e pelo anexo II da NR 35 (ABNT, 2014a, 2014b; BRASIL, 2016b).
Entre as vantagens de utilização dos SPAQ estão o seu baixo custo de implantação,
bem como os rápidos procedimentos de implementação. Porém, esses sistemas têm a
desvantagem de terem baixa eficiência e confiabilidade, incerteza de sua disponibilidade e
grande dependência do elemento humano (BRANCHTEIN, 2018). O inverso se aplica aos
SPPQ.
Branchtein (2018) recomenda a não utilização de SPAQ como forma de proteção de
periferia, sugerindo a possibilidade da eliminação do trabalho em altura sempre que possível
ou o investimento em proteção passiva. O autor destaca que, caso haja a necessidade de
utilização dos SPAQ, deve-se proceder uma análise detalhada dos riscos, considerando
condições específicas da tarefa a ser executada e a busca de soluções adequadas para
eliminá-los.
A NR 18 dedica seu item 18.13 inteiramente às medidas de proteção contra quedas
de altura. Ela estabelece, entre vários outros itens, a obrigatoriedade de instalação de
Equipamentos de Proteção Coletiva em todos os locais onde houver risco de queda de
trabalhadores ou de projeção de materiais e também a necessidade de fechamento de todas
as aberturas no piso com material provisório resistente (BRASIL, 2018d).
Quanto ao tipo de proteção oferecido, Branchtein (2018) subdivide os equipamentos
de proteção coletiva em duas categorias:
a) Sistemas de restrição de movimentação: tem como função é impedir que o trabalhador
chegue até a zona com risco de queda, não permitindo sua ocorrência. Como exemplos,
tem-se os guarda-corpos.
b) Sistemas de retenção (ou captura) de queda: apesar de não impedir a ocorrência da
queda, tem função de minimizar suas consequências. Entre os exemplos estão as redes de
segurança e as linhas de vida horizontais.

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Quanto à utilização de Equipamentos de Proteção Individual, trata-se de

[...] uma estratégia de ação preventiva fundamental, sendo


indispensável para a segurança dos trabalhadores, pois visa proteger
e reduzir os riscos existentes no ambiente de trabalho, como também
amenizar as sequelas que venham ocorrer no caso de acidentes,
podendo ser ferramentas determinantes no que se refere a salvar
vidas dos trabalhadores (CAMARGO et al., 2018).

Entende-se por equipamento de proteção adequado o que é projetado, testado e


certificado para cumprir a demanda técnica, com cuidados de inspeção, manutenção e
armazenamento adequados. Estes equipamentos devem seguir parâmetros normativos
nacionais ou internacionais, em caso de ausência de regulamentação no país (BAPTISTA;
USSAN, 2016). Ademais, deve-se levar em consideração o seu conforto, eficiência, carga
admissível e fator de segurança (KULKAMP; SILVA, 2014).
Atualmente, o fornecimento gratuito de EPIs aos empregados em perfeito estado de
conservação e funcionamento é obrigatório às empresas brasileiras (KULKAMP; SILVA,
2014).
Estes EPIs devem ser sujeitos a inspeção sistemática e rígida, realizada por
profissionais treinados de maneira periódica, a cada seis meses ou a cada utilização,
dependendo do caso. Sistemas de ancoragem e áreas de exclusão também devem ser
inspecionadas, sendo os equipamentos danificados inutilizados e descartados corretamente.
Nesses casos, sugere-se a utilização de um diário de equipamentos (BAPTISTA; USSAN,
2016).
As cordas e demais equipamentos têxteis, como talabartes e cintos, constituem
equipamentos particularmente sensíveis a diversas situações, como exposição a arestas,
bordas cortantes, altas temperaturas, substâncias químicas, entre outras, que precisam ser
previamente identificadas (BAPTISTA; USSAN, 2016). Os autores ressaltam que, para o
caso de uso de cordas, deve-se protegê-las de quinas cortantes com o uso de
equipamentos adequados.
Camargo et al. (2018) apontam que entre os EPIs utilizados no trabalho em altura
estão as fitas, fivelas de engate e fivelas de encaixes, mas destacam que os principais itens
se tratam do cinto tipo paraquedista, regulamentado no Brasil pela NBR 15835:2011, e o
talabarte, que é o equipamento responsável por fixar o cinto nos pontos de ancoragem,
regulamentado pelas NBRs 14629:2011 e 15834:2011 (ABNT, 2011b, 2011c, 2011d).

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Além desses, merece destaque ainda o trava-quedas, que consiste em um
dispositivo de bloqueio automático na ocorrência de quedas e que se movimenta sobre as
linhas de vida rígidas ou flexíveis, regulamentado no Brasil pela NBR 14628:2011 (ABNT,
2011a; BRASIL, 2011a).
Conforme previamente mencionado, o aspecto da segurança não está restrito à
etapa de construção das edificações, mas deve também requerer atenção na ocasião de
utilização e manutenção. Quando da realização de atividades de manutenção, não apenas
os trabalhadores estão sujeitos à riscos de acidente, mas também os moradores ou
funcionários da edificação. Caso as atividades sejam executadas sem a devida análise de
risco, isolamento e sinalização das zonas de perigo, ocorrências como a queda de materiais
ou ferramentas podem vitimar os transeuntes (KERBES; PUIATTI, 2018).
Nas situações de manutenção das edificações, a técnica de acesso por cordas é
amplamente utilizada. Também denominada alpinismo industrial, ela permite acesso a locais
de trabalho de difícil entrada ou inacessíveis por outros métodos, como por exemplo, o caso
de estruturas verticais e espaços confinados. Este método permite um acesso de maneira
flexível, leve e ágil, dispensando o uso de andaimes ou outras estruturas de custo e tempo
de montagem elevados (BAPTISTA; USSAN, 2016). A NBR 15595:2016 traz os detalhes
para aplicação do método de acesso por cordas e também os procedimentos e condições
inerentes a essa atividade (ABNT, 2016).
Nessas situações é simples perceber que o principal perigo é expor o trabalhador à
altura por suspensão. Além deste, destacam-se a possibilidade de queda de objetos,
choques físicos pelo movimento de pêndulo, choques elétricos, liberação de gases, calor e a
existência de máquinas em funcionamento. Nesses casos, a garantia de um trabalho seguro
se dá pela a implantação de salvaguardas suficientes e necessárias para garantir a
segurança da operação (BAPTISTA; USSAN, 2016).

4. CONCLUSÕES

A indústria da construção civil apresenta inúmeros riscos inerentes aos tipos de atividades
nela envolvidos, não apenas na etapa de execução, mas também na manutenção da
edificação. Conforme foi possível identificar, a entrada em vigor das Normas
Regulamentadoras e a obrigatoriedade da presença dos profissionais de segurança nas
empresas tiveram papel fundamental na redução da ocorrência de acidentes de trabalho no
Brasil.

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Ainda assim, percebe-se que atualmente a grande maioria dos acidentes ocorrem
pela falta ou uso incorreto de equipamentos de proteção, individuais ou coletivos, por parte
dos trabalhadores. Infelizmente, ainda impera uma cultura de menosprezo às medidas de
segurança, relacionada por muitos autores ao baixo nível de instrução observado na mão de
obra dessa indústria.
Nesse sentido, é de fundamental importância e necessidade a valorização do papel
dos profissionais de segurança na construção de um ambiente de trabalho seguro, com foco
nas atividades de prevenção de promoção de uma cultura de segurança. O descaso sobre
essa questão por parte das empresas também deve ser combatido, reforçando-se o fato de
que os custos materiais e humanos com a ocorrência de acidentes são muito maiores do
que a manutenção de um plano prevencionista, com investimentos constantes em
treinamentos, reciclagem e equipamentos de proteção.
Por fim, ressalta-se que a prática dos Diálogos Diários de Segurança (DDS) é uma
alternativa de fácil utilização por parte das empresas como uma forma de manter a cultura
de prevenção constante e viva no imaginário dos trabalhadores, auxiliando na criação e
manutenção de um ambiente de trabalho seguro e saudável.

REFERÊNCIAS

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