Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ATENDIMENTO AO
TRABALHADOR NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA
ATENDIMENTO AO TRABALHADOR NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA
A anamnese ocupacional
A anamnese ocupacional pode ser importante no atendimento a qualquer
pessoa que procura os serviços de saúde na atenção primária, mesmo
quando a queixa principal não tem relação direta com o trabalho, ou quando
o paciente está aposentado ou afastado do trabalho por tempo prolongado.
Uma anamnese ocupacional aprofundada, especialmente por meio da
coleta de uma história ocupacional completa, pode revelar processos de
adoecimento relacionados ao trabalho cujos sintomas podem surgir décadas
após a ocorrência de exposição. Como exemplos, pacientes com depressão
grave e risco de suicídio podem ser trabalhadores da agricultura
cronicamente intoxicados por agrotóxicos; ou um indivíduo que desmonta
bateria, cronicamente intoxicado pelo chumbo metálico, pode tornar-se um
paciente com hipertensão arterial sistêmica e alterações de memória e
concentração.
A anamnese pode atender a diversos objetivos, entre eles:9
→ identificar os riscos à saúde dos trabalhadores presentes no nível da
produção e do consumo, no meio ambiente e seus hábitos;
→ permitir o diagnóstico e o tratamento de doenças relacionadas ao
trabalho;
→ identificar novos riscos à saúde dos trabalhadores o mais cedo possível;
→ prevenir a recorrência de agravos em trabalhadores atingidos, e a
ocorrência de doenças em outros trabalhadores expostos ao mesmo
risco;
→ identificar novas relações entre exposições ocupacionais e doenças;
→ assegurar aos trabalhadores o acesso aos benefícios da Previdência
Social, previstos para as vítimas de acidentes e doenças do trabalho;
→ subsidiar a oferta de ações educativas voltadas para os trabalhadores;
→ reunir dados para a produção científica;
→ apoiar ações de vigilância à saúde dos trabalhadores.
História ocupacional
A história clínica é o elemento mais importante de que o profissional de
saúde dispõe para aproximar ou afastar a relação entre as queixas do
paciente e o trabalho. Por essa razão, a história ocupacional deve ser
investigada no atendimento de todos os pacientes, tenham eles queixas
relacionadas ao trabalho ou não. Diversas razões podem interferir na
obtenção de uma boa história ocupacional, e precisam da atenção e cuidado
do profissional de saúde:9
→ a insegurança do paciente, muitas vezes temeroso de perder o emprego,
ou mesmo após uma recente demissão;
→ a apresentação do paciente com insegurança, agressividade, confusão,
descrença ou contrariedade, frequentemente tendo peregrinado por
diversos serviços de saúde, onde suas queixas não foram abordadas ou
não foram consideradas por completo; ou, então, diante de um histórico
de negativas das empresas ou do Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS) quanto ao estabelecimento de nexo entre suas queixas e o
trabalho, muitas vezes ainda se sentindo incapacitado para assumir sua
função;
→ é comum o paciente se apresentar à consulta na atenção primária tendo
decorrido longo período de tempo entre a exposição a agentes e
processos de risco no(s) trabalho(s) e o momento da entrevista,
dificultando a recordação de informações importantes sobre essas
exposições e processos, agentes de risco, doses, intensidade, duração e
condições específicas relacionadas;
→ a desinformação e a dificuldade do próprio paciente de reconhecer a
relação entre adoecimento e trabalho, seja por limitações relacionadas
ao nível de escolaridade, seja por questões culturais, ou dificuldades de
se expressar e ser entendido, bem como pela existência de déficit
cognitivo (em alguns casos, até em consequência a determinada
exposição no trabalho);
→ as atitudes do próprio profissional de saúde diante das queixas do
paciente-trabalhador, muitas vezes por meio de gestos, palavras e
atitudes que induzem o paciente a restringir a sua manifestação,
algumas vezes por medo de ser culpabilizado e responsabilizado pelo
próprio adoecimento.
A seguir, são apresentadas algumas orientações para a coleta de uma
história ocupacional adequada:
→ registrar cronologicamente todas as ocupações já exercidas, formais ou
informais, de carteira assinada ou não;
→ obter e registrar o tempo que exerceu cada uma das atividades ou
trabalho, data de início e de término, atividades ocupacionais realizadas,
fatores de risco relacionados a cada uma das atividades, bem como grau
de exposição e intensidade;
→ investigar a ocupação atual:
→ há quanto tempo exerce a função?
→ quantos turnos por dia?
→ quantos dias por semana?
→ realiza horas extras?
→ quantas horas extras por semana?
→ tem intervalos ou pausas na jornada de trabalho?
→ tem recessos ou férias no trabalho?
→ exerce mais de uma atividade ocupacional ao mesmo tempo? Qual
delas considera a principal?
→ quais são os meios de transporte entre o local de trabalho e a
residência?
→ descrever a ocupação atual em relação à atividade realmente exercida,
não necessariamente aquela registrada em carteira de trabalho (p. ex.,
para auxiliar de escritório que realiza atendimento ao público como
atendente, registrar atendente);
→ aprofundar dados específicos de cada ocupação, principalmente se há
suspeita de nexo com as queixas atuais:
→ há exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos?
→ a empresa fornece equipamentos de proteção coletiva (EPCs) ou
equipamento de proteção individual (EPI)?
→ os EPCs e EPIs estão em boas condições de uso?
→ os EPCs e EPIs são utilizados corretamente pelo trabalhador?
→ investigar a relação com empregadores, patrões, superiores imediatos e
colegas de trabalho, principalmente quando o quadro clínico estiver
relacionado a assédio moral, sofrimento mental no trabalho ou
intoxicações ocupacionais coletivas;
→ elucidar e categorizar os afastamentos do trabalho, temporários ou
definitivos:
→ com que frequência?
→ gerou benefício pecuniário? Qual? (Auxílio-doença? Aposentadoria
por invalidez? Aposentadoria por tempo de contribuição ou por
idade?)
→ por quanto tempo? Houve demanda judicial?
Embora essas informações possam parecer excessivas ao profissional de
saúde que não está habituado ao atendimento de trabalhadores, é importante
destacar que são apenas informações básicas para uma anamnese
ocupacional satisfatória. Outras questões, quando pertinentes, poderão ser
aprofundadas. Além disso, aspectos comuns da anamnese-padrão podem ser
úteis na investigação da relação entre agravo e trabalho, como mostrados a
seguir.
História da doença atual
Devem ser valorizadas informações sobre o momento de surgimento dos
sintomas e a relação com o trabalho, como agentes de risco específicos ou
determinadas tarefas e processos de trabalho, especialmente se
recentemente modificados. Além do surgimento dos sintomas atuais, devem
ser verificadas mudanças como desaparecimento ou melhora de sinais e
sintomas em pausas, descansos, folgas, fins de semana e férias, por
exemplo.
Investigar as inter-relações entre as queixas do paciente e as atividades e
funções já exercidas no passado.
Considerar mudanças de função, de setor ou de trabalho e a duração das
queixas para discernir o grau de associação entre as queixas, a intensidade
dos sinais e sintomas e a ocupação atual.
Determinar a correlação entre o período de início da exposição e o
início dos sintomas, verificando se o curso dos sintomas é consistente com a
doença em suspeição.
História médica pregressa
Avaliar outras doenças concomitantes, como endocrinológicas,
reumatológicas, ortopédicas, neurológicas, etc. Investigar história de
traumas, fraturas, intervenções cirúrgicas, internações, fármacos já
utilizados ou em uso, tratamentos não farmacológicos e outros.
Além disso, registrar possíveis acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais relacionados à história médica pregressa e atual. Investigar
doenças genéticas e congênitas, que muitas vezes se relacionam com o
adoecimento atual.
História psicossocial
Devem-se questionar aspectos psicossociais, como condições de habitação,
vida afetiva, relacionamento familiar, consumo de álcool, abuso de drogas,
prática de exercícios físicos, hobbies, atividades de lazer, atividades em
grupo, etc.
Aprofundar as relações entre queixas psicossociais e o trabalho, bem
como as expectativas do trabalhador quanto à ocupação, às condições
financeiras e aos projetos para o futuro.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
Benefícios previdenciários
Para fins didáticos, os benefícios previdenciários atualmente em vigor no
Brasil serão divididos em dois grandes grupos: os benefícios de longo
prazo, compostos principalmente pelas aposentadorias, e os benefícios de
curto prazo, caracterizados por benefícios pagos por determinado intervalo
de tempo, enquanto durar a condição que o originou. Mais informações
podem ser encontradas no link.
Benefícios de longo prazo
Os benefícios previdenciários de longo prazo são:
→ aposentadoria por invalidez: devido ao cidadão incapaz de trabalhar e
que não possa ser reabilitado em outra profissão. É um benefício devido
ao trabalhador permanentemente incapaz de exercer qualquer
atividade laborativa e que também não possa ser reabilitado em outra
profissão, de acordo com a avaliação da perícia médica do INSS:
→ o benefício é pago enquanto persistir a invalidez, e o segurado pode
ser reavaliado pelo INSS a cada 2 anos;
→ inicialmente, o cidadão deve requerer um auxílio-doença, que possui
os mesmos requisitos da aposentadoria por invalidez. Caso a perícia
médica constate incapacidade permanente para o trabalho, sem
possibilidade de reabilitação para outra função, a aposentadoria por
invalidez será indicada;
→ não tem direito à aposentadoria por invalidez quem se filiar à
Previdência Social já com doença ou lesão que geraria o benefício, a
não ser quando a incapacidade resultar do agravamento da
enfermidade;
→ o aposentado por invalidez que necessitar de assistência permanente
de outra pessoa, nas condições previstas em lei, poderá ter direito a
um acréscimo de 25% no valor de seu benefício, inclusive sobre o
13º salário;
→ a aposentadoria por invalidez deixa de ser paga quando o segurado
recupera a capacidade e/ou volta ao trabalho ou por ocasião do
óbito;
→ o aposentado por invalidez deve ser reavaliado pela perícia médica
do INSS a cada 2 anos para comprovar que permanece inválido. Os
segurados com idade > 60 anos e os com idade > 55 anos com mais
de 15 anos em benefício por incapacidade são isentos dessa
obrigação;
→ o cidadão poderá solicitar a presença de um acompanhante
(inclusive seu próprio médico) durante a realização da perícia. No
entanto, poderá ser negado, com a devida fundamentação, caso a
presença de terceiro possa interferir no ato do perito do INSS;
→ aposentadoria por idade rural: benefício devido ao cidadão que
comprovar o mínimo de 180 meses trabalhados na atividade rural, além
da idade mínima de 60 anos (homem) ou de 55 anos (mulher);
→ aposentadoria por tempo de contribuição: benefício devido ao
cidadão que comprovar o tempo total de 35 anos de contribuição
(homem) ou de 30 anos de contribuição (mulher). Podem utilizar esse
serviço cidadãos que já possuem tempo mínimo de contribuição e
carência exigidos, conforme regras que podem ser consultadas em: http
s://www.gov.br/inss/pt-br/saiba-mais/aposentadorias/aposentadoria-por-t
empo-de-contribuicao.
→ aposentadoria especial por tempo de contribuição: a aposentadoria
especial é um benefício concedido ao cidadão que trabalha exposto a
agentes nocivos à saúde, como calor ou ruído, de forma contínua e
ininterrupta, em níveis de exposição acima dos limites estabelecidos em
legislação própria. É possível aposentar-se após cumprir 25, 20 ou 15
anos de contribuição, conforme o agente nocivo. Além do tempo de
contribuição, é necessário que o cidadão tenha efetivamente trabalhado
por, no mínimo, 180 meses. Períodos de auxílio-doença, por exemplo,
não são considerados para cumprir este requisito;
→ aposentadoria por idade urbana: benefício para o trabalhador urbano
com idade mínima de 65 anos (homem) ou 60 anos (mulher) e com
tempo mínimo de 180 meses de contribuição;
→ aposentadoria da pessoa com deficiência por idade: benefício devido
ao cidadão que comprovar o mínimo de 180 contribuições
exclusivamente na condição de pessoa com deficiência, além da idade
de 60 anos (homem) ou 55 anos (mulher). É considerada pessoa com
deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, impossibilita sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, de acordo
com a Lei Complementar nº 142, de 2013;
→ aposentadoria da pessoa com deficiência por tempo de
contribuição: benefício devido ao cidadão que comprovar o tempo de
contribuição necessário, conforme o seu grau de deficiência. Desse
período, no mínimo 180 meses devem ter sido trabalhados na condição
de pessoa com deficiência. A definição de pessoa com deficiência é a
mesma, conforme Lei Complementar nº 142, de 2013;
→ aposentadoria por tempo de contribuição do professor:
aposentadoria por tempo de contribuição do professor é um benefício
devido ao profissional que comprovar 30 anos de contribuição (homem)
ou 25 anos de contribuição (mulher), exercidos exclusivamente em
funções de magistério em estabelecimentos de Educação Básica
(educação infantil, ensino fundamental e médio). O tempo efetivamente
trabalhado de deve ser de 180 meses (carência).
I – O diagnóstico;
II – Os resultados dos exames complementares;
IV – O prognóstico;
Até quantos dias Não existe limite de O tempo concedido de dispensa à atividade,
de afastamento dias de afastamento necessário para a recuperação do paciente, é
do trabalho do trabalho que parte integrante do atestado médico. Deve
posso fornecer? podem ser corresponder às informações obtidas no ato
concedidos no médico praticado, respeitando a história
atestado médico. natural da doença.
REFERÊNCIAS
1. Brasil. Presidência da República. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 [Internet]. Brasília:
PR; 1990 [capturado em 25 ago. 2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei
s/l8080.htm.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para
os serviços de saúde [Internet]. Brasília: MS; 2001 [capturado em 25 ago. 2019]. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho_manual_procediment
os.pdf.
3. Brasil. Ministério do Trabalho. Ministério da Previdência. Ministério da Saúde. Política
Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador [Internet]. Brasília: MPS/MS/TEM; 2004
[capturado em 25 ago. 2019]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica
_nacional_seguranca_saude.pdf.