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1. Introdução
Nos últimos anos o setor da construção civil vem crescendo consideravelmente, porém é um
dos setores que mais há relatos de acidentes de trabalho no Brasil. Dentre os acidentes de
trabalho, os relacionados a Trabalhos em Altura são os que mais geram óbitos e afastamentos.
Para se obter sucesso em uma obra, nos quesitos de segurança, saúde e meio ambiente, não
basta ter um ótimo contrato ou uma equipe de profissionais competentes, a empresa deve
cumprir, cobrar e exigir segurança, ou caso contrário, se esse quesito de segurança fracassar, a
empresa poderá ter muitos problemas e o mais indesejado: acidentes fatais.
Este trabalho consiste um estudo de caso em obra de pequeno porte situado no município de
Campo Belo – MG. O objetivo do presente trabalho é realizar uma comparação das medidas
estabelecidas pela NR-35 (Brasil, 2012) com a forma que a obra é executada e gerenciada,
verificando se as atividades em altura que são exercidas estão sendo executadas de maneira
adequada.
2. Referencial teórico
O setor da construção civil pode ser considerado um dos mais suscetíveis a graves acidentes
de trabalho, onde os trabalhadores estão sujeitos a riscos de hospitalização, incapacidade e até
mesmo vir a óbito. (YI et al., 2012).
Normalmente, quem trabalha neste setor, vive sob pressão, pois cada obra possui um tempo
limite para a sua conclusão, resultando assim, turnos dobrados, redução de intervalos, horas
extras e a contratação de mão de obra de última hora com pouco ou nenhum treinamento
(IRIART et al., 2008). De acordo com Kines et al. (2010) a indústria da construção opera sob
contínua pressão para trabalhar com qualidade juntamente com a redução de custos.
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Para Rodrigues et al. (2009) outros fatores que cooperam para os acidentes na construção civil
são: más condições de segurança no local de trabalho, falta ou uso inadequado de
equipamentos de proteção individual, falta de treinamento, ritmo desgastante de trabalho e,
até mesmo agentes físicos.
Acidentes fatais por queda de altura ocorrem principalmente: em obras e reformas, durante a
montagem de estruturas, nos serviços de manutenção e reforma de telhados, nos serviços de
manutenção e limpeza de fachadas, nos serviços em postes elétricos e em linhas de
transmissão, nos trabalhos em torres de telecomunicações etc.
Portanto, qualquer empresa que tenha atividades executadas acima de 2,0 metros de altura a
partir do solo, deve seguir as regulamentações estabelecidas na NR-35 (Brasil, 2012) e nos
tópicos sobre atividades em altura presentes na Norma Regulamentadora NR 18 (Brasil,
1978), para garantir a segurança de todos.
A NR-35 (Brasil, 2012) tem como objetivo estabelecer os requisitos mínimos e as medidas de
proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução,
de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou
indiretamente com esta atividade.
De acordo com a norma acima citada, algumas das responsabilidades estabelecidas que cabe
ao empregador são:
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Por parte dos funcionários são definidas as responsabilidades que cabe a cada um cumpri-las,
são elas:
c) zelar pela sua segurança e saúde e a de outras pessoas que possam ser afetadas por suas
ações ou omissões no trabalho;
De acordo com a NR-35, todo trabalho em altura deve ser planejado, organizado e executado
por trabalhador capacitado, autorizado e deve ser precedido de Análise de Risco.
A Técnica de Incidentes Críticos – TIC foi desenvolvida por Flanagan em 1947 no American
Institute for Research, onde foi usada para determinar requisitos críticos para o trabalho de
pilotos, cientistas etc. A técnica consiste em um conjunto de procedimentos usados para
coletar observações diretas do comportamento humano, que seriam usados para resolver
problemas e gerar teorias psicológicas.
Para um incidente ser crítico, o objetivo ou intenção do ato de comportamento deve ser
claramente refletido para o observador pelo contexto no qual o incidente ocorre de forma a
haver poucas dúvidas a respeito do que vão ser as consequências do ato observado.
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Silva et al. (2008) ressaltam que o método de incidente crítico evidencia a maneira com que as
pessoas percebem a empresa e o ambiente, sugerindo e contribuindo para o melhoramento da
organização.
Um incidente refere-se à
1) Determinar o objetivo geral do estudo (i.e. uma descrição do tópico de pesquisa). Esta
descrição não precisa ser complexa, mas deve ser clara o suficiente para permitir uma
posterior análise. Este passo é essencial para o planejamento e a avaliação do estudo.
3) O terceiro passo é a coleta propriamente dita dos dados. Neste estudo, a coleta foi feita por
intermédio de uma entrevista e a aplicação de um questionário. Como característica comum, o
autor sugere que o incidente tem que ser objetivo, para que possa ser válido; e define
objetividade como “a tendência para um número de observadores independentes reportarem o
mesmo incidente” (FLANAGAN, 1954, p.327). Esta definição pode não se aplicar a todos os
casos, no entanto, uma vez que o incidente pode ser particular e específico. Não existe uma
regra sobre a quantidade de dados que se deve coletar.
4) O quarto passo é analisar os dados. A análise deve ser sintetizada e descrita de maneira
eficiente e prática.
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5) O quinto e último passo é interpretar os dados com base no referencial teórico adotado pela
metodologia.
3. Metodologia
Esta pesquisa pode ser caracterizada como qualitativa, pelo fato de, seu método de abordagem
estabelecer uma relação dinâmica entre o mundo real e a subjetividade dos indivíduos que
foram entrevistados. Se tratando dos meios (procedimentos técnicos), o presente estudo
caracteriza-se como uma pesquisa de campo, pois as informações foram retiradas através de
um questionário que buscava avaliar o local natural onde fatos acontecem (local de trabalho).
O estudo de caso foi realizado em uma obra de pequeno porte situada no Município de Campo
Belo – MG. A obra consiste em uma construção de um cômodo de comércio e um
apartamento no segundo andar, tendo também um estacionamento no subterrâneo, dando um
total de 795 m² (setecentos e noventa e cinco metros quadrados) de área construída. A coleta
de dados foi realizada no período de Novembro a Dezembro de 2014.
Havia 6 (seis) funcionários com idades entre 31 e 45 anos, trabalhando na referida obra. O
tempo de trabalho de todos os funcionários na referida obra é entre 1 e 6 meses. As
informações foram obtidas através de observação direta, e uma entrevista estruturada. Essas
técnicas de coleta de dados foram escolhidas para suprir as informações necessárias para a
aplicação da técnica TIC.
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4. Resultados e Discussão
Para auxiliar na detecção das causas de falhas potenciais, a Técnica de Incidentes Críticos
pode ser utilizada. Foi realizada uma análise na obra para determinar quais fatores pudessem
causar quedas em trabalhos em altura. Os tipos de incidentes citados estão descritos na Tabela
1.
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A partir das entrevistas, observação direta, e resultados dos questionários, pôde-se fazer uma
comparação entre as normas estabelecidas pela norma e as atividades executadas na obra.
Foi observado e também citado por todos os funcionários que, dentre as responsabilidades
estabelecidas pela norma que cabe ao empregador, nenhuma medida é cumprida. E a única
medida cumprida dentre as que cabem aos trabalhadores, é zelar pela sua segurança e de
outras pessoas. As demais não são cumpridas, pois não há instrução por parte do empregador.
Todo trabalho em altura deve ser planejado, organizado e executado por trabalhador
capacitado e autorizado e, deve ser precedido de Análise de Risco (Brasil, 2012). Porém
observou-se que não houve nenhum planejamento e organização para a execução de trabalhos
em altura. A obra não é executada por trabalhadores capacitados e nem autorizados, pois
como já foi citado anteriormente, não há um treinamento para capacitação dos mesmos. E de
acordo com a entrevista, esta análise não é realizada e, para as atividades não rotineiras não é
emitido a Permissão de Trabalho.
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O último tópico da norma trata de emergência e salvamento. Nestas situações não há uma
equipe treinada para o salvamento, logo, é chamado algum órgão externo de emergência.
Dependendo da gravidade do acidente e/ou do tempo de espera da emergência, pode levar a
uma fatalidade.
Por se tratar de uma obra de pequeno porte, e seus executantes não serem de uma
empresa/empreiteira, mas trabalhadores autônomos que não possuem nenhum vínculo
empregatício com o dono da obra. Observou-se que não há uma preocupação quanto à
segurança no trabalho por parte dos trabalhadores e do empregador. Foi verificado também
que não há uma fiscalização por parte dos órgãos competentes a respeito da segurança do
trabalho nesse tipo de obra.
5. Conclusão
Através dos estudos realizados aplicando-se a técnica de análise de riscos TIC, entrevistas e
um questionário, conclui-se que a falta de EPI’s, condições inseguras e quedas de andaimes
são os fatores que geram maior risco de acidentes na referida obra.
Para o caso da obra analisada foi possível observar pontos que necessitam de correções para
garantir adequação completa tanto para a legislação NR-18 e NR-35, quanto para a segurança
geral dos trabalhadores.
Ainda que os dados representem apenas uma parcela de uma realidade complexa, seus
resultados podem servir de base para comparar, e imprimir melhoras no gerenciamento de
outros processos de trabalho que também são causadores de acidentes e doenças em
trabalhadores da construção civil, podendo adotar práticas e procedimentos que visem o
melhor gerenciamento da segurança no ambiente da produção da construção civil.
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Novos estudos podem e devem ser realizados para avaliar a condição do trabalho em altura
em outras atividades dentro da construção civil que também são fontes de inúmeros acidentes.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 35 – Trabalho em Altura. Redação dada pela Portaria SIT n.º
313, de 23 de março de 2012.
DRAGONI, J. F. Segurança, saúde e meio ambiente em obras: diretrizes voltadas a gestão eficaz de segurança
e saúde no trabalho, segurança patrimonial e meio ambiente em obras de pequeno, médio e grande porte. São
Paulo: LTr, 2005.
FLANAGAN, J. C. The critical incident technique. Psychology Bulletin, n.51, v.4, p.327-358, 1954.
IRIART, J. A. B., et al. Representações do trabalho informal e dos riscos à saúde entre trabalhadoras domésticas
e trabalhadores da construção civil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, n. 1, p. 165–174. 2008.
KINES, P; et al. Improving construction site safety through leader-based verbal safety Communication. Journal
of Safety Research, v. 41, p. 399–406. 2010.
RODRIGUES, P. P. et al. Análise dos níveis de ruído em equipamentos da Construção civil na cidade de
Curitiba. Revista Produção Online, v. 9, n. 4, 2009.
YI, J; KIMB, Y; KIMC, K; KOOD, B.A suggested color scheme for reducing perception-related accidents on
construction work sites. Accident analysis and prevention, v. 48, p. 185 -192, 2012.
QUESTIONÁRIO
Idade: _________
2- Pense em todas as situações, atos inseguros e condições inseguras, que teriam potencial de
se tornar um acidente no seu local de trabalho e assinale:
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Escada
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento
Andaime
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento
Telhado
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento
Abertura
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento
Poço
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento
Periferia
• ( ) Ausência de EPI/EPC
• ( ) Ato inseguro
• ( ) Condições inseguras
• ( ) Falta de treinamento