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ALKMIN, T. Sociolinguística. In MUSSALIN, F; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. Vol. 2. 8ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2012
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s0cÍ0ríNGUrsïrcA
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Tânia Maria Alknint

t. coNsrDERAçoes
lulctnts

Linguageme sociedadeestãoligadasentresi de rlodo inquestionável. Mais


do que isso, podemos afirmar que essarelaçãoé a baseda constituiçãodo ser
humano.A história da humanidadeé a históriade seresorganizadosem socie-
dadese detentoresde um sistemade comunicaçãooral, ou seja,de uma língua.
Efetivamente,a relaçãoentre linguageme sociedadenão é postaem dúvida por
ninguém,e não deveriaestarausente,portanto,das reflexõessobreo fenômeno
O?u m e l h o r , p o r q u e
l i n g ü í s t i c o .P o r q u e s e f a l a , e n t ã o ,e m S o c i o l i n g ü r í s t i c a
existe uma área, dentro da Lingüística, para tratar,especificamente,das rela-
çõesentre linguageme sociedade- a Sociolingüística?A linguagernnão seria,
essencialmente, um fenômenode naturezasocial?As respostasa questõescomo
essasnão são tão óbvias.Pararespondê-las, é precisoconsiderarrazõesde natu-
rezahistórica,mais precisamente, o contextosocialmaisamplo em que se situam
aquelesque se dedicama pensaro fenômeno lingüístico.Assim, inicialmente,é
n e c e s s á r i ol e v a r e m c o n t a q u e o s e s t u d i o s o sd o f e n ô m e n ol i n g ü í s t i c o ,c o r r ì o
homensde seu tempo,assumiramposturasteóricasem consonânciacom o fazet
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rNïtoDUçÁo
A LrNGÜisïrCA :.. SocloLlNGúÍ5TlcÁ:
porleI

a l í n g u aà r a ç ad e m a n e i r ai n d i s s o l ú v eAl .d v o g o uq u ea l í n g u aé o c r i t é r i om a i s
científico da tradiçãocultural em que estavaminseridos.Nessesentido,as teo-
adequado paraseprocederà classilicação racialda humanidader.
r i a sd e l i n g u a g e m ,d o p a s s a d o u a t u a i s s, e m p r er e f l e t e mc o n c e p ç õ e psarticula-
r e s d e f e n ô m e n ol i n g ú í s t i c oe c o m p r e e n s õ edsi s t i n t a s d o p a p e l d e s t en a v i d a
A o r i e n t a ç ã ob i o l o g i z a n t eq u e s c h l e i c h e ri m p r i m i u à L i n g ü í s t i c ad a s u a
social. Mais concretamente,em cada época,as teorias lingüísticasdefinem, a
épocaafastou,evidentemente,toda consideraçãode ordem social e cultural no
seu modo, a naturezae aScaracterísticas relevantesdo fenômenolingüístico.E,
trato do fenômeno lingüístico.
evidentemente,a maneirade descrevê-loe de analisá-lo.
A relaçãoentre linguageme sociedade,reconhecida,mas nem sempreas-
Alguns manuaisde históriada Lingüística nos oferecemum panoramade
sumida como determinante,erìcontra-se diretamenteligada à questãoda deter-
diversasabordagensno estudodo fenômeno lingüísticor.Observemos,a título
minação do objeto de estudo da Lingüística. Isto é, embora admira-seque a
ilustrativo, alguns comentáriosde Câmara Jr., em História cla Líttgíiística,a
relaçãolinguagem-sociedade sejaevidentepor si só, é possívelprivilegiar uma
respeitodo IingüistaalemãoAugusto Schleicher,cujos trabalhostiveram forte
determinadaóptica, e estadecisãorepercutena visão que se tem clo fenômeno
impacto no séculoXIX:
lingüístico,de sua naturezae caracterização.Nesse sentido, a Lingüística do
Schleichernãoera apenasum lingüistamastambémum estudioso dasciências séculoXX teve um papel decisivo na questãoda consideraçãoda relaçãolin-
naturaisdedicando-se Estefato dera-lheuma orientação
à botânica. a favor das guagem-sociedade: é estaque se encaÍregade excluir toda consideraçãode na-
ciênciasda natuieza.Ademais,de acordocom a filosofiade Hegel,quedominou turezasocial,históricae cultural na observação,descrição,análisee interpreta-
o pensamento alemãodessaépoca,asciênciashumanas, incluindoa história,são ção do fenômeno lingtiístico. Referimo-nos,aqui, à constituição da traclição
o produtodo livrepensamento do homeme nãopodemsercolocadas soba int-lu- estruturalista, iniciadapor Saussureem seuCursocleLingíiísticageral, em 19 16.
ênciade leisimutáveise geraistaiscomoo fenômenoda natureza. E Saussurequem define a língua, por oposiçãoà fala, como o objeto centralda
Ora, Schleicher,como todosos lingüistasanteíioresa ele' tinhaa ambiçãode Lingüística.Na visão do autor, a língua é o sistemasubjacenteà atividadeda
elevaro estudoda linguagem de umaciênciarigorosacomrigorosas
ao statLts leis fala, mais concretanìente,é o sistema invariante que pode ser abstraídodas
dedesenvolvimento2. múltiplas variaçõesobserváveisda fala. Da fala, se ocupará a Estilística,ou,
mais amplamente,a LingüísticaExterna.A Lingüística,propriamentedita, terá
É assim que Schleicherse propõe a colocar a Lingüística no campo das como tarefadescrevero sistemaforma[, a língua.Inaugura-se,assim,a chama-
ciênciasnaturais,dissociando-ada tradiçãofilológica, vista por ele como um da abordagemimanenteda língua,que, em termossaussureanos, significa afas-
ramo da História, ciênciahumana.Parao referido lingüistaalemão,o desenvo[- tar "tudo o que lhe sejaestranhoao organismo,ao seu sistema"a.
vimerÌto da linguagem era comparávelao de uma planta que llasce,crescee Interessantemente, para saussure,a língua é um fato social, no senticlocle
mone segundoleis físicas.A linguagemé vista como um organismonatural ao q u e é u m s i s t e m ac o n v e n c i o n aal d q u i r i d op e l o si n d i v í d u o sn o c o n v í v i o s o c i a l .
qual se aplica, portanto,o conceito de evolução,desenvolvidopor Darwin. A
Mais precisamente,ele apontaa linguagemcom a faculdadenaturalque pcrmi-
esserespeitocâmara Jr. reÌatao que se segue: te ao homem constituir uma língua.Em conseqüência,a língua se caracteriza
pol' ser "um produto social da faculdadeda Ìinguagem"5.
De acordocom Schleicher, cadalínguaé o produtoda açãode um complexode
substâncias no cérebroe no aparelho
naturais fonador.Estudarumalínguaé, por- Saussureprivilegia o caráterformal e estruturaldo fenômeno lingüístico,
tanto,uma abordagem indiretaa estecomplexode matérias.Destamaneira,foi embora reconheçaa importânciade considerações de naturezaetnológica,his-
ele levadoa adiantarque a diversidadedas línguasdependeda diversidadedos tórica e política. segundo ele, "o estudodos fenômenoslingüísticosexternosé
cérebrose órgãosfonadores doshomens, de acordocom assuasraças.E associou muito frutífero; mas é falso dizer que sem estesnão seria Dossívelconhecero

l. Ver CâmaraJr., J. M. H ìstóriada Lingiìístü:a.Rio de Janeiro,Vozes, 1 9 7 5 ;M a l m b e r g B , . Histoirc


3.Câmara J r . ,J . M . O p . c i t . ,p . 5 1 .
de la Linguistíque.De Suninera.Sar.r.rure, Paris,PUF, l99l I Wartburg,W. von & Ulmann,S. Problenn"'
4 . S a u s s u r eF,. d e .c u r s od e L f u g í i í s t i r ag e r a l .3 . e d .s ã o p a u l o ,C u l t r i x , Ì 9 g L ( t í t u l oo r g i n c l ,l 9 l ó b )
e nútodos da Ltugüística.São Paulo,Difel, 1975.(título original, 1943)
5 . S a u s s u rF e ., d e .O p . c i t . ,p . 1 7 .
2 . C â m a r aJ r . ,J . M . O p . c i t . ,p . 5 0 .
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S O C I O L I N G U I S ï IpCcÁr l;oÍ 25
?4 TNTRODUçÁO
Á LrNGÚiSTrCA

i A verdadeira substância da línguanãoé constituída por um sistemaabstratode


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o r g a n i s m ol i n g ü í s t i c oi n t e r n o " 6S. a u s s u r ei n s t i t u c i o n a l i zaa d i s t i n ç ã oe n t r eu m a
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f o r m a sl i n g ü í s t i c a sn,e m p e l ae n u n c i a ç ãm
o o n o l ó g i c ai s o l a d a n, e m p e l o a t o
L i n g ú í s t i c aI n t e r n ao p o s t aa u m a L i n g ü í s t i c aE x t e r n a .E e s s ad i c o t o m i a q u e psicofisiológico de suaprodução, maspelcfenômeno socialda itúeraçr1o verbal
d i v i d i r á ,d e m a n e i r ap e r m a n e n t eo, c a m p od o s e s t u d o si i n g ü í s t i c o sc o n t e m p o r â - realizada atravésda,enunciação ou dasenunciações. A interação verbalconstitui
neos, em que orientaçõesformais se opõem a orientaçõescontextuais,sencio assima realidade fundamental da líneua8.
q u e e s t a s ú l t i m a s s e e n c o n t r a m f r a g m e n t a d a ss o b o r ó t u l o d a s m u i t a s
i n t e r d i s c i p l i n a sS: o c i o l i n g ü í s t i c aE,t n o l i n g ü í s t i c aP, s i c o l i n g ü í s t i ceat c .
De uma perspectivadiferente da de Bakhtin, Jakobson,outro lingüista
A tradição de relacionarlinguageme sociedade,ou, mais precisamente, russo,explicita sua visão sobrea relaçãoentrelinguageme contexto social,em
língua,cultura e sociedade,estáinscritana reflexãode vários autoresdo século que a noção de comunicaçãotem também um papel central.Para Jakobson,o
XX. Integradosou não à grandecorrenteestruturalista, que ocupou o centro da
p r i n c í p i o d a h o m o g e n e i d a d ed o c ó d i g o l i n g ü í s t i c o ,p o s t u l a d op o r S a u s s u r e
cena teórica, particularmente,a partir dos anos 1930, encontramoslingüistas (1916), e adotadopela Lingüística,"não passade uma ficção desconcertante"e,
cujas obras são referênciasobrigatórias,quandose tratade pensara questãodo já que todo indivíduo participa de diferentescomunidadeslingüísticase todo
social no campo dos estudoslingüísticos.Não caberia,aqui, enumerar todos
código lingüístico é "multiforme e compreendeuma hierarquiade subcódigos
essesestudiosos,mas uma brevereferênciaa algunsnomes,ligadosao contexto
diversos,livrementeescolhidospelo sujeitofaiante"r0,segundoa funçãoda men-
e u r o p e u ,i m p õ e - s e :A n t o i n e M e i l l e t , M i k h a i l B a k h t i n , M a r c e l C o h e n ,É m i l e
sagem,do interlocutorao qual se dirige e da relaçãoexistenteentre os falantes
Benvenistee Roman Jakobson.
envolvidosna situaçãocomunicativa.
Meillet, aluno de Saussure,filia-se à orientaçãodiacrônica dos estudos
lingüísticos,mas, para ele, a história das línguasé inseparávelda história da Para Jakobson(1960), o ponto de partidaé o processocomunicativo âm-
cultura e da sociedade:é essaabordagemque podemosver em sua obra, sobrea plo, e isso o leva a ultrapassara óptica estreitade uma análise do fenômeno
história do latim, EsqtLisse cl'utteltistoire de la lcutguelatitrc.A propósitodesse lingüísticoancoradaapenasem suascaracterísticas estruturais.Ao privilegiar o
lingüista francês,cabedestacarsua visão do fenômenolingüístico,bem ilustra- processocomunicativo,o referido autor privilegia tambérnos aspectosfuncio-
da por um trecho de sua aula inauguralno ColègecleFratrce,em 1906: nais da linguagem. É o que podemos ver com clareza em seu célebre artigo
Lingüística e poética, em que Jakobson identifica os fatores constitutivos de
Ora,a linguagem é, eminentemente, um fatosocial.Tem-se,freqüentemente, re- todo ato de comunicação verbal: o remetente,a mensageft4o destinatário, o
petidoqueaslínguasnãoexistemÍbradossujeitos queasfalam,e,em conseqüên- contexto, o canal e o código. Cada um dessesfatores determina uma diferente
cia disto,nãohá r'azões paralhesatribuirumaexistência autônoma, um serpalti- função de linguagem, seguindo-se,então, que "a estrutura verbal de uma men-
cular.Estaé umaconstatação óbvia,massemforça,comoa maiorpartedaspro- sagemdependebasicamenteda função predominante"rt.Assim é que, por exem-
p o s i ç õ eesv i d e n t e P
s .o i s ,s ea r e i i l i d a ddee u m al í n g u an ã oé a l g oc l es u b s t a n c i a l ,
plo, a predominânciado fator remetenteconfiguraa função emotiva ou expres-
istonãosignificaquenãosejareal.Estarealidade é, ao mesmotempo,lingüística
siva, que exprime "a atitude de quem fala em relação àquiÌo de que está falan-
e socialT.
do"r2,e se evidencia,entre outrosprocedimentos,pelo uso de interjeições,pela
alteraçãode duração de vogais (por exemplo, em português,graande).
Bakhtin (1929), com sua crítica radical à posturasaussureana,
traz para o
centro da cena dos estr.rdos
lingüísticosa noçãode comunicaçãosocial:

8. Bakhtin, M. Marxisnn e JiLosrfÍada linguagent.5.ed. São Paulo, Hucitec, 1990, p. 123.(título


6, Saussure F ,. d e .O p , c i t . ,p . 3 l . original,1929)
7 . O ( e x t oo r i g i n a ld e M E I L L E T é o q u e s e s e g u e": O r , l e l a n g a g e s té n r i n e m e nutn f a i t s o c i a l O . na 9. Jakobson,R. Relaçõesentre a ciôncidda linguageme as outras riAtu:ìat.Lisboa,Bertrand,1973,
s o u v c n tl e p e t éq u e l e s Ì a n g u e n s ' e x i s t e npt a se n d e h o r sd e ss u j e t sq u e l e s p a r l e n te, t q u e p a r s u i t eo n n ' e s t p.29.
p a s f o n d é à l e u t a t t r i b u c ru n e e x i s t e n c ea u t o n o m eu, n ê t r ep r o p r c .C ' e s t u n e c o n s t a t a l i oénv i d c n t c ,m a i s 1 0 . I b i d e m ,p . 2 9 .
s a l ì sp o Ì t é e c, o m m el a p l u p a r td e s p r o p o s i r i o nésv i d c n t e sC. a r s i l a r é a l i t éd ' u n e l a n g u en ' e s tp. a sq u e l q u c ll. Jakobson,R. Lingüísticae poética.ln: Lüryuísticae conturúcação.São Paulo, Cultrix, 1970,
c h o s ed e s u b s t a n t i e le, Ì l e n ' e n e x i s t ep a s m o i n s .C e t t er e r l i t é e s t à l a f o i s l i n g u i s t i q u ee t s o c i a l c " .I n : p . 1 2 3 .( t í t u l oo r i g i n a l ,1 9 6 0 )
M c i l l c t , A . E s t l u i s sde' w r c l ú s í o i r ed e l a l a n g u al a t ü r c .P x i s , K l i n c k s i e k ,1 9 7 7 ,p . 1 6 . ( t í t u l o o r i g i n a l ,
São PauÌo,Cultrix, p, 124
12. Jakobson,R. Linguísticae corttutticaçã.o.
I928)
rNïRoouçÁo S O C I O L I N G U I S TpI C
o rAl eTI
À Lncúisrrcn

Em 1956,o francêsMarcel CohenpublicouPour u.nesociologiedu langage correspondertal estruturasocial a tal estruturalíngüísticaparecetrair uma vi-
- republicado,em I'971,com o novo título de Mutériau.xpour rurc sociologie s ã om u i t o s i m p l i s t ad a sc o i s a s " r TI s. t o p o r q u es o c i e d a d e l í n g u as ã og r a n d e z a s
du langage - em que advoga a necessidadede um diálogo entre as ciências d e o r d e m d i s t i n t a ,o u m e l h o r , t ê m o r g a n i z a ç õ eess t r u t u r a i sd i v e r s a s .A s s i m é
humanas,afirmando que 'líosfenômenoslingüísticosse realizam no contexto q u e a l í n g u a s e o r g a n i z ae m u n i d a d e sd i s t i n t a s ,q u e s ã o e m n ú m e r o f i n i t o ,
variáveldos acontecimentos sociais"r3.
Mas, ao assumiro postuladosaussureano combináveise hierarquizadas- o que não se observana organizaçãosocial.
de que é preciso separaraspectosinternose aspectosexternosno estudo das Mas, segundoo autor, algumas propriedadesaproximam língua e sociedade:
línguas,Cohen assumea questãodas relaçõesentre linguagem e sociedadea são realidadesinconscientes,representama natureza,são sempre herdadase
partir da consideraçãode fatoresexternos.Nessesentido,o referido auror esra- não podernser abolidaspela vontadedos homens.Há, no entanto,uma dimen-
belece um repertório de tópicos de interessepara um estudo sociológico da s ã op r i v a t i v ad a l í n g u a ,q u e a c o l o c an u m p l a n oe s p e c i a ls: e u p o d e rc o e r c i t i v o ,
linguagem,como, por exemplo,o estudodas relaçõesentre as divisõessociaise que transformaum agregadode indivíduosem uma comunidade,criandoa pos-
as variedadesde linguagem,que permiteabordartemascomo: a distinçãoentre , a r aB e n v e n i s t ea, q u e s t ã od a
s i b i l i d a d ed a p r o d u ç ã oe d a s u b s i s t ê n c icao l e t i v a P
variedadesrurais,urbanase de classessociais,os estilosde linguagem(varieda- relaçãoentre língua e sociedadese resolve pela consideraçãoda língua como
des formais e informais), as formas de tratamento,a linguagem de grupos segre- instrumentode análiseda sociedade.Ele afirma que a língua contérna socieda-
gados(argão de estudantes,de marginais,de profissionaisetc.). de e por isto é o interpretanteda sociedade.Essepapel de interpretanteé garan-
tido pelo fato de que a língua é "o instrurnentode comunicaçãoque é e deve ser
Finalmente,algunsrápidos comentáriossobreBenveniste,lingüista fran-
cês, cuja reflexão marcou profundamente a Lingüística francesa contemporâ- comum a todos os membrosda sociedade",possibilitando,assim, "a pr"odução
nea em geral e, particularmente,o campo da Análise do Discursota.Exporemos indefinidade mensagensem variedadesilimitadas"rs.Mais exatamente:"a lín-
aqui apenasalguns comentáriosque tematizama questãodas relaçõesentre
gua é necessariamente o instrumentopróprio paradescrever,paraconceitualìzar,
para interpretartanto a naturezaquanto a experiência"re. Além disso, a língua
linguageme sociedade.ParaBenveniste(1963),"é dentroda, e pela língua,que
indivíduo e sociedadese determinammutuamente"15, dá forma à sociedadeao exibir o semantismosocial, que consiste,principal-
dado que ambos só ga-
mente,de designações, de fatos de vocabulário.Particularmente,o vocabulário
nham existênciapela língua.É que a línguaé a manifestaçãoconcretada facul-
dade humana da linguagem,isto é, da faculdadehumanade simbolizar.sendo se apresentacomo uma fonte importantepara os estudiososda sociedadee da
assim,ó pelo exercícioda linguagem,peia utilizaçãoda língua, que o homem cultura, pois retém informaçõessobre as formas e as fasesda organizaçãosocial,
constróisua relaçãocom a naturezae com os outroslromens.Em outrostermos, sobre os regimes políticos etc. Essa linha de reflexão é exemplarmenterepre-
"a linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura lingüís- sentadana obra de Benveniste(1969/1970)Vocobuláriodas instituiçõesInclo'
tica definida e particular, inseparávelde uma sociedadedefinida e pafticular"16. européias.
Logo, língua e sociedadenão podem ser concebidasuma sem a outra. Finalmente,cabeassinalaruma outraconsideração relevantede Benveniste.
Particularmente, em "Estrutura da língua e estrutura da sociedacle", Paraele, a língua permite que o homem se situe na naturezae na sociedade;o
Benveniste(1968) discute a questãoque nos interessaaqui. segundo ele, "a homem "se situanecessariamente em uma classe,sejauma classede autoridade
idéia de procurar entre estas duas entidades relações unívocas que fariam ou classeda produção"20. Em conseqüência, a língua,sendouma práticahuma-
na, "revela o uso partìcularque gruposou classesde homensfazem ldela] (...) e
as difelenciaçõesque daí resultamno interiorde uma língua comum"zr.Vemos,
1 3 .O t e x t oo r i g i n a ld e C o h e n( 1 9 5 6 )é o q u e s e s e g u e ": L e s p h é n o m è n elsi n g u i s t i q u esse r e a l i z e n t
dansle cadrechangeantdesévénements sociaux".In: Cohen,M. Malériauxpour unesrxktlogiedu langage.
P a r i s ,M a s p c r o ,1 9 5 6 ,v . 2 , p . 3 0 .
1 4 . C f . p a r t i c u l a r m e n toe f a m o s o a r t i g o d e B e n v e n i s t e",O a p a r e l h of o r m a l c l ae n u n c i a ç ã o "i,n 17. Benveniste,E. Problenm.çde Lingiií.tticaCeral II. São Paulo,Cia. Editora Nacional/EDUSP,
Benveniste,E., Problenus de lhgiií.ttica geral II, Sío Paulo,Cia. EditoraNacional/EDUSp,1989.(título 1 9 8 9 ,p . 9 5 . ( t í t u l oo r i g i n a l ,1 9 6 8 )
original,1974;. 1 8 .I b i d e m p, . 9 8 ,
l5' Benveniste,E. Proltlenasde Lhgüístk:aGerat..SãoPaulo,Cia. EclitoraNacional/EDUSp,1976. 1 9 . I b i d c m ,p . 9 9 .
D .Z t . 2 0 . I b i d e m p, . l 0 l .
1 6 .I b i d e mo. . 3 1 . 2l . lbidemp , .1 0 2 .
TNTRoDUçAo
À uNoúÍsrrce porteI
SOCIOLINGUiSTiCÂ:

a s s i m ,q u e B e n v e n i s t ea r t i c u l aa q u e s t ã od a r e l a ç ã oi í n g u ae s o c i e d a d e
no plano b) identidadesocialdo receptorou ouvinte- relevante,por exemplo,no
geral da construçãodo humano e, particularmente,no plano das relaçõescon- estudodas formas de tratamento,da baby taLk(fala utilizadapor adul-
cretase contingentesestabelecidas na vida social. tos para se dirigirem aos bebês);
O esboçofeito até aqui pode ser reduzidoa uma afirmaçãomuito simples: c ) o contexto social - relevante,por exemplo,no estudodas diferenças
a questãoda relaçãoé óbvia e complexa ao mesmo tempo. Sabemosque é ine- entre a forma e a função dos estilos formal e informal, existentesna
gável, mas também que a passagemdo social ao lingüístico- e do lingüístico grandemaioria das línguas;
ao social - não é feita com tranqüilidade.Não há consensosobre o modo de d ) o julgamento social distinto que os falantesfazem do próprio compor-
tratar e de explicitar a questãoda relaçãoentre linguageme sociedade:o fato é tamentolingüísticoe sobreo dos outros,isto é, as atitudeslingüísticas.
que o lugar reservadoa essaconsideraçãoconstitui um dos grandes"divisores
de águas"no campo da reflexão da Lingúística contemporânea. A p r o p ó s i t od o n a s c i m e n t od a S o c i o l i n g ü í s t i c aB,a c h m a n ne t a l . ( 1 9 8 1 )
tecem consideraçõesinteressantes. Segundoestesautores,o novo campo é o
lugar
2.A SOC|OttNcÜíSrrCA:
FIXAçÃO
DEUMCAMPO
DEEsÌUDOS
ondevão se encontraros herdeirosde tradições
antigascomoa da antropologia
O termo Sociolingüística,relativo a uma áreada Lingüística,fixou-se em - casode Hymes- ou dadialectologia
lingüÍstica social- comoLabov- e de
1964. Mais precisamente,surgiu em um congresso,organizadopor William especialistas
daexperimentaçãoou da intervençãosocial:psicólogos,
sociólogos,
Bright, na Universidadeda Califórnia emLos Angeles(UCLA), do qual partici- e mesmoplanificadores2a.
param vários estudiosos,que se constituíram,posteriormente,em referências
clássicasna tradiçãodos estudosvoltados para a questãoda relaçãoentre lin- Os referidosautoresobservam,tarnbém,que a Sociolingüísticase consti-
guageme sociedade:JohnGumperz,EinarHaugen,Wiliiam Labov, Dell Hymes, tui e floresceno momentoem que o formalismo,representado pela gramáticade
John Fisher, JoséPedro Rona. Ao organizare publicar, em 1966, os trabalhos Chornsky25, alcançaenorme repercussão, em rota parao seupercursovitorioso.
apresentadosno referido congressosob o título Sociolinguisrics,Bright escreve Vemos, assim,que, de um lado, a preocupaçãocom as relaçõesentre linguagem
o texto introdutório "As dimensões da Sociolingüística"22,em que define e ca- e sociedadetinha raízeshistóricasno contexto acadêmiconofie-ameficano,e
racterizaa nova áreade estudo. A propostade Bright para a Sociolingüística é a também que a oposiçãoentre uma abordagemimanenteda língua versusa con-
de que ela deve "demonstrara covariaçãosistemáticadas variaçõesiingüística sideraçãodo contextosocial é postacom grandevitalidadeno campo dos estu-
e social. Ou seja,relacionaras variaçõeslingüísticasobserváveisem uma co- dos lingüísticos.De fato, a constituiçãoda Sociolingüísticase fez, cleramente,
munidadeàs diferenciaçõesexistentesna estruturasocialdestamesmasocieda- a partir da atividadede vários estudiosose pesquisadores que deram continui-
de"23.Segundo o referido autor, o objeto de estudoda Sociolingüísticaé a di- dade à tradição,inauguradano começodo séculoXX por F. Boas ( 191l) e seus
versidadelingüística.E, como que estabelecendo um roteiro paraatividadesde discípulosmais conhecidos- Edward Sapir(1921)e BenjaminL. Whorf ( l94l):
pesquisaa seremdesenvolvidasna áreada Sociolingüística,Bright, na mesma a chamadaAntropologiaLingüística.Nessavertente,em que linguagem,cultu-
obra, identifica um conjunto de fatoressocialmentedefinidos,com os quais se ra e sociedadesão consideradosfenômenosinseparáveis, lingüistase antropó-
supõeque a diversidadelingüísticaestejarelacionada,como: logos trabalhamlado a lado e, mesmo,de modo integlado.Nessesentido,o que
a) identidadesocial do emissorou falante- relevante,por exemplo, no há de novo é a definiçãode uma áreaexplicitamentevoltadapara o tratamento
estudodos dialetosde classessociaise dasdiferençasentrefalas femi- do fenômenolingüísticono contextosocial no interior da Lingüística,animada
n i n a se m a s c u l i n a s : pela atuaçãode lingüistase, particularmente,de estudiososformados em cam-
pos das ciências sociais. A Sociolingüísticanasce marcadapor uma origem
2 2 . V e r B r i g h t . W . A s d i m e n s õ e sd a S o c i o l i n g ü í s t i c Ian. F o n s e c aM
. . S . & N c v e s ,M . F . ( o r g s . )
Sot:hlüryliística.Rio de Janeiro,Eldorado,1974. 24. Bachmann,C. et al. Languageet cotrununü:atìorts striales. P:rrìs,Hatier, 1914,p.11.
2 3 . I b i d e m ,p . 3 4 . 2 5 . R e m e t e m oos l c i t o ra o c a p í t u l od e " S i n t a x e "n e s t em e s m ov o l u m e .
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#
#
&

TNTRODUçAO
A LrNGUl5ÌrCA
# porie I
SOCIOLINGUISTICA:

i n t e r c l i s c i p l i n aÉr .o p o r t u n oa s s i n a l aqr u e o e s t a b e l e c i m e n dt oa S o c i o l i n g ü í s t i c a , na. Surgem,assim,pesquisasvoltadaspara as minorias lingüísticas(imigrantes


em 1964,é precedidopela atuaçãode váriospesquisadores, que buscavamarti- porto-riquenhos,poloneses,italianosetc.)r8,e paraa quesÌãodo insucessoesco-
c u l a ra l i n g u a g e mc o m a s p e c t o d s e o r d e ms o c i a le c u l t u r a l .D e s t a c a r e m o sa,q u i . Iar de criançasoriundasde grupos sociaisdesfavorecidos(negrose imigrantes,
d o i s d e s s e sp e s q u i s a d o r e E s .r n 1 9 6 2 ,H y m e s p u b l i c au m a r t i g o e m q u e p r o p õ e particularmenteE ) . m s u m a , a r e a l i d a d ed i v e r s i f i c a d at,a n t o l i n g ü í s t i c ac o m o
um novo domínio de pesquisa,a Etnografiada Fala,rebatizadamais tardecomo I cultural dos Estados Unidos, torna-se um ponto de reflexão básico para um
Etnografia da Comunicação?6. De caráter ìnterdisciplinar,buscandoa contri- contingentesignificativo de estudiosos.A propósito,vale lembrar que, também
'i
buiçãode áreascomo a Etnologia, a Psicologiae a Lingüística,o novo domínio em 1964, houve um congressoem Bloomington, Indiana,em que lingüistase
pretendedescrevere interpretaro comportamentolingüísticono contextocultu- cientistassociaisdebateramquestõesrelativasàs relaçõesinterdisciplinares, ao
ral e, deslocandoo enfoque tradicionalsobreo código lingúístico,procuradefi- campoda dialectologiasocial,à escolarìzação de criançasprovenientesde meio
nir as funçõesda linguagem a partir da observaçãoda fala e das regrassociais socialpobre e de origem estrangeira.Três obrasreferenciaisforam organizadas
próprias a cada comunidade. Questõescomo Qual o cotnportantentoLingiiístico a paftir dos trabalhosapresentados nessecongresso:Ferguson( I 965) Directiorts
acleclttaclo para lrcttrens,mulheres e crianças na conwniclade X? ou Que nw- in Sociolinguìstics:report on a interdisciplìnarysenúner,Lieberson( 1966)(ed.)
ftrcntossão adecluaclospara o exercícìo dafala na conturúdade Y? podem ser Exploratiotts in Sociolinguistics, e Schuy (1964) (ed.) Social dialects artcl
tomadascomo ponto de partida para pesquisasem Etnografiada Comunicação. Languagelearníng.
Mais tarde,Hymes (1912) publicou um artigo de grandeimpacto- "Models of
the interactionof languageand social life" - no qual estabeleceos princípios
3.A SOCIOLTNGÚiSrtCl,
OBJETO, PRESSUPOSTOS
CONCETTOS,
teóricose metodológicosda Etnografiada Comunicação.
Em 1963,Labov publica seu célebretrabalhosobrea comunidadeda itha Pondode maneirasimplese direta,podemosdizerque o objetoda Sociolin-
de Martha's Vineyard, no litoral de Massachusetts, em que sublinha o papel güística é o estudo da língua falada, observada,descrita e analisadaem seu
decisivo dos fatores sociais na explicaçãoda variação lingüística,isto é, da contextosocial, isto é, em situaçõesreaisde uso.Seu ponto de partidaé a conu-
diversidadelingüísticaobservada.Nessetexto, o autor relacionafatorescomo nidade lingüística, um conjunto de pessoasque interagem verbalmente e que
idade, sexo, ocupação,origem étnica e atítucleao comportamentolingüístico compartiiham um conjunto de normas com respeitoaos usos lingüísticos.Em
manifesto dos vineyardenses,mais concretamente,à pronúncia de determina- outras palavras, uma comunidade de fala se caracterizanão pelo fato de se cons-
dos fones do inglês. Logo em 1964, Labov finaliza sua pesquisa sobre a tituir por pessoasque falam do mesmo modo, maspor indivíduosque se relacio-
estratificaçãosocial do inglêsem New Yolk, em que fixa um modelo de descri- nam, por meio de redescornunicativasdiversas,e que orientam seu comporta-
ção e interpretaçãodo fenômenoÌingüísticono contextosocialde comunidades mento verbal por um mesmo conjunto de regras.Tomemos, como exemplo, o
urbanas- conhecidocomo SociolingüísticaVariacionistaou Teoria da Varia- uso do modo imperativoem português.Paraos falantesdo português,o impera-
ção, de grande impacto na Lingüística contemporãnea27. A segundaparte desse tivo denota ordem, exortação,conselho,solicitação,segundoo significadodo
capítulo trataráespecificamentedessavertenteda Sociolingüística. verbo e o tom de voz utilizado, como em: "Vai-te embora"l "Ouve esteconse-
Assim, o rótulo "sociolingüística",como foi possível observar,reuniu e lho!"; "Vem cá!"; "Descedaí!". Consideremos,agora,as seguintesobservações
agregou,no seu início, pesquisadoresmarcadospela formação acadêmicaem de Cunha & Cintra:
diferentescamposdo sabere marcadostambémpelapreocupaçãocom as impli-
Atenuação.
caçõesteóricase práticasdo fenômenolingüísticona sociedadenorte-america-
Por deversociale moral,geralmenteevitamosferir a suscetibilidade
de nosso
interlocutorcom a rudezade umaordem.Entreos numerosos meiosde oue nos
2 6 . H y m e s ,D . T h e e t h n o g r a p hoyf s p e a k i n gI,n ; G l a d w i n T t , . C .( o r g s . A
, . & S t u t e r v a nW ) ntlrroytktgv
and lur.nmnbaltavior.Washington,D.C., The AnthropologicalSocietyof Washington,l9ó4. (título origi-
nal, Ì962) 2 8 . V e r F i s h m a nJ. A . et al. Lntryuagaktyalty in tlw UtLitedStates.Mouton,The Hague,196ó.Ver
2l . Lrbov. W. The stratiJícationof Ettglishin New York city. Washrngton,D.C., Centerfor Applied tambémFishman,J. A . el ^1.Bìlitlsualistttitt tlrc Barrio; tlu nfta.\urenwnland des<rìptkttt of languagc
L ì n s u i s t i c s l.9 ó 6 . d.ontünnr:ein bìtinguals. W a s h i n g t o nD, . C . ,D e p t .o f H e a l t h .E d u c a t i o n
a n d W e l f a r e .l 9 í r 8 .
s

32 |NÌRODUçAOÁ LlNGUlSÌlCA tr: porleI


socloLlNGüÍsÏlcA:
ï
servimos para enfraquecera noção de comando,devemos ressaitar(além dos já ,, essasdiversasvariedades
de holandês e de Íiancêsconstituemo repenóriolingíìís-
estudados),pela sua eficiência,o empregode fõrmulas de polidez ou de civilida-
de, tais como'.por favor, por gentilezo, cligne-sede, tenlw a botrcludeetc.:
- Fale mais alto, por favorl (F. Botelho, X, 177).
rr
lÌ tico de certoscomplexossociaisflamengos em Bruxelas3o.

Caso consideremosuma comunidadecomo a de Salvador,observaremos


-Entrem. porfavor, que não ocupam lugar- exclamouSeu Pio. ( A . F. Schmidt, i! que o seurepertóriolingüísticose constitui de variedadeslingüísticasdistintas,
\
GB,r65) dadoque os habitantesda cidadefalam de modo diferenteem função,por exem-
- Tenhama bondadede sentare esperarum momento.[= Sentem-se e esperem plo. de sua origem regional, de sua classe social, de suas ocupações,de sua
um momento.l(R. Braga,CCE,272) escolaridadee tambémda situaçãoem que se encontram.Assim é que um falan-
E claro que tambérnaqui o tom de voz é de uma sumaimportância.
Qualquer te que pronunciaa palavra"doido" como ['dojd3u] revelasua proveniênciada
dessasfrasespode,não obstanteas fÓrmulasde cortesiaempregadas,
tornar-se regiãoiuteriorana,assimcomo a pronúnciada palavra"cozinha" como [cú4'ãe]
rudee seca,ou mesmoinsolente, com a simplesmudançade entoação?e. indica, alérn da origem social, a sua pouca escolaridade.Um mesmo habitante
de Salvador,segundoa situaçãoem que se encolìtrar,poderáoptar entÍe usaras
A dependerdo alcancee dos objetosde um trabalhode naturezasocioiin- expressões"Fiquei retado" ou "Fiquei aborrecido", assim como entre "João
güística,podemosselecionare descrevercornunidadesde fala como a cidadede convidou ele" ou "João o convidou".
New York ou a cidade do Rio de Janeiro,de São Paulo, de Belém. Ou o povo
iartontânú,que vive no Estadodo Amapá. Ou, ainda,âs comunidadesdos pes- Qualquer língua, falada por qualquer comunidade,exibe sempre varia-
cadoresdo litoral do Estadodo Rio de Janeiro,da iÌha de Marajó, dos estudan-
ções.Pode-seafirmar mesmoque nenhumalínguase apresentacomo uma enti-
tes de Direito, dos rappers etc. dade homogênea.Isso significa dizer que qualquer lín-quaé representadapor um
Ao estudarqualquercomunidadelingúística,a constataçãomais imediata conjunto de variedades.Concretamente:o que chamamosde "língua portugue-
é a existênciade diversidadeou da variação.Isto é, toda comunidadese caracte- sa" englobaos diferentesmodos de falar utilizado pelo conjunto de seusfalan-
riza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essasdiferentes maneiras de tes do Brasil, em Poftugal,em Angola, Moçambique,Cabo Verde, Timor etc.
falar, a Sociolingüística reservao nome de variedades lingiiísticas. O conjunto Língua e variaçãosão inseparáveis:a Socìolingüísticaencaraa diversida-
de variedadeslingüísticasutiÌizadopor uma comunidadeé chamadorepertório de lingüísticanão como um problema,mas como uma qualidadeconstitutivado
verbal. Assim é que, a propósito da cidade de Bruxelas, na Bélgica - país fenômeno lingúístico. Nesse sentido, qualquer tentativa de buscar apreender
caracter-izadopelo bilingüismo francês-flamengo (variedade do holandês) - apenaso invariável,o sistemasubjacente* 56 vnlel de oposiçõescomo "iíngua
Fishman aponta: - significa uma redução na compreen-
e fala", ou competênciae perfornrtat'Lce
são do fenômeno lingüístico. O aspecto formal e estruturadodo fenômeno
Os funcionários administrativosdo Governo,em Bruxelas,que são de origem lingüísticoé apenasparte do fenômeno total.
flamenga,nemsempre falam holandês ente sl, mesmoquandotodossabemho-
landèsmuito bem e igualntentebem. Não só há ocasiõesem que falam francês
ente si, em vez de holandês,comotambémhá algumasocasiões em que falam
3.Ì. A vorioçóo lingüísficd:um recorte
entresi o holandêsstandardenquantoem outrasusamestaou aquelavariedade
regionaldo holandês.De fato,algunsda mesmaformausamdiferentesvariedades
Todasas línguasdo mundo sãosemprecontinuaçõeshistóricas.Em outras
de francês:uma variedadeparticularmente carregadade termosadministrativos
palavras,as geraçõessucessivasde indivíduos legam a seus descendenteso
oficiais,outracorrespondendo ao francêsnãotécnicofaladonoscírculosde edu-
um "fran- domínio de uma língua particular.As mudançastemporaissão parte da história
caçãosuperiore refinados da Bélgica,e, aindaoutra,quenãoé apenas
cêsmaiscoloquial"maso francêscoloquialdosque sãoflamengos. Em suma, das línguas.Dois exemplosde mudançahistóricano portuguêssão ilustrativos:

2 9 . C u n h a ,C . & C i n t r a ,L F. L. Nova granútk'a do porlugu1scontemporâneo.


Rio de Janeiro,Nova 3 0 . F i s h m a n ,J . A . A s o c i o l o g i ad a l i n g u a g e m .I n : F o n s e c aM
, . S . V , & N e v e s ,M . F . ( o r g s . )
F r o n t e i r a 1, 9 8 5 . Sociolingiií.ttica. Rio de Janeiro,Eldorado,1974,p.28
A tlN6U15ÌlCA
1NTRO0UçAO p oAr.t cI
SOCIOUNGUISÌlC
34

a) no portuguêsarcaico (entre os séculosXII e XVI), ocorriam constru- b ) e n t r e f a l a n t e sb r a s i l e i r o so r i g i n á r i o sd a s r e g i õ e sn o r d e s t e( i n c l u í d aa


d o s u j e i t oe r a i n d i c a d ap c l o
ç õ e s i m p e s s o a ies m q u e a i n c l e t e r m i n a ç ã o Bahia) e sudeste,percebemosdiferençasfonéticas,como, por exem-
, , h o m e r n "c, o l l o m e s l r o s e n t i d oq u e , a t u a l m e n l eu, s a m o so p l o , a p r o n ú n c i ad e v o g a i sm é d i a sp r e t ô n i c a -s c o m o o c o r r en a p a l a -
vocábulo
,,se".Por exempÌo: "E pode lrornemhyr de Santarema Beia v r a " m e l a d o " _ - p r o n u n c i a d a sc o m o v o g a i s a b e r t a sn o n o r d e s t e
pronome
a "E pode-
IBeja] em quatro dias"3r,que conesponde,modenrâmente, [ m e ' l a d u ]e f e c h a d a sn o s u d e s t eI n r c ' l a d u l .P e r c e b e m otsa m b é md i f e -
s e i r d e S a n t a r é ma B e j a e m q u a t r od i a s " ; r e n ç a sg r a m a t i c a i sc, o m o . p o r e x e n r p l o a. p r e f e r ê n c i a p e l ap o s p o s i ç ã o
verbal da negação,colrìo etrÌ"sei não" (nordeste)e "não sei" (ou, "não
b) a forma de tratamento"Vossa Senhoria"é ateStadanos meadosdo sé-
culo XV como expressãoreservadaao rei. Já no finaì do século XVI, s e i , n ã o " , n o s u d e s t e )o; u s o d o a r t i g o d e f i n i d o a n t e sd e n o m e sp r ó -
estapercleSeuestatutode realeza,sendoempregadano trato com arce- p r i o s c o r n o e r r r" F a l e i c o m J o a n a " ( n o r d e s t e e) " F a l ei c o r Ì ì a J o a n a "
(sudeste);
bispos,bispos,duques,marqueses,condes,além de uma gama de altos
funcionárioslcomã, por exemplo, vice-rei ou governadorda Ínclia)12. c ) n o E s t a d od a B a h i a , p o r e x e m p l o ,a o r i g e m u r b a n ao u r u r a l p o d e s e r
" d e p r i m e i r o " [ d i p r i r n e r o l .e r n l u -
e v i d e n c i a d ap e l o u s o d a e x p r e s s ã o
No plano sincrônico,as variaçõesobservacias nas línguassão relacionáveis gar de "antigamente", "anteriormente".
a fatores diversos:dentro de uma mesmacomunidadede fala, pessoasde origem
geográfica,de idacle,de sexo diferentesfalam distintamente.E bom frisar que não Tomando-sea comunidadede fala de lírrguaportuguesacomo um todo,
ãxisienenhumarelaçãode causalidade entreo fato de nascerem uma determina- podemo-nosreferir às variedadesbrasileira, portuguesa,baiana.curitibana,ru-
da r.egião,ser de uma classesocial determinadaetc.,e falar de uma cefta maneira. r a l p a u l i s t a( o u c a i p i r a )e t c .
os falantesadquirem as variedadeslingüísticaspróprias a sua região, a A v a r i a ç ã os o c i a lo u d i a s t r á t i c ap, o r s u a v e z , r e l a c i o n a - s a
e um conjunto
Suaclassesocial etc. De uma perspectivageral,podemosdescrevet'as varieda- de fatoresque têm a ver com a iderrtidadedos faÌantese também com a or-qrni-
cleslingiiísticasa partir de dois parâmetrosbásicos:a variaçãogeográfica(ou zaçãosocioculturalda comunidadede fala. Nestesentido,podernosapontaros
diatópica) e a variaçãosocial (ou diastrática). seguintesfatoresrelacionadosàs variaçõesde naturezasocial: a) classesocial;
A variaçãogeográficaou diatópicaestárelacionadaàs diferençaslingüís- b ) i d a d e ;c ) s e x o ;d ) s i t u a ç ã oo u c o n t e x t os o c i a l .E m r e l a ç ã oa o s t r ê sp r i m e i r o s
ticasdistribuídasno espaçofísico, observáveisentrefalantesde origensgeográ- fatores,nos limitalemos a fornecerexemplos,rerneteudo,para um tratamento
ficas distintas.Alguns exemPlos: variacionistados fatoresern questão,à segundapartedestecapítulo.No que diz
a) brasileirose poüuguesesse distinguemem vários aspectosde sua fala. respeitoao fator situaçãoou contextosocial,faremosuma exposiçãoum pouco
No plano lexical, apenasum exemplo:"combóio" em Poftugal,"trem" mais aprofundada.
no Brasil. No plano fonético: a pronúnciaabertada vogal anteriormé- s l g u n se x e m p l o si n d i c a t i v o sd e p e r t e n c e n t e
a ) C l a s s es o c i a l :o b s e r v e m o a
dia como em "prémio" ['premju], em contrastecom a pronúncia fechada à f a l a d e g r u p o ss i t u a d o sa b a i x on a e s c a l as o c ì a l :
,'prêmio"
no Brasil, ['premju]. No plano gramatical:derivaçõesdiver- d e d u p l a n e g a ç ã o ,c o m o e m " n i n g u é m n ã o v i u " , " e u n e m n u Ì r Ì
sasde uma raiz comum, como em ficheiro, paragem,bolseiro, que no gosto";
Brasil correspondema fichário, paradae bolsista;a colocaçãode ad- - nr'Ècên.rr rle Írl om l',o''. '1a f ll , ,- . ì g r u p o sc o r ' Ì s o n a n t e rcso. m o e m
a
vérbioscomo em "Lá não vou" (Portugal)e "Não vou Ìá" (Brasil);3i " b r u s a " ( b l u s a )c " g r o b o " ( g l o b o ) ;
-_ na Índia, existemas castasbrâmane(superior),não brâmane(médie)e
, l á s s i c a1, 9 5 9 , p ' 2 2 .( t í t u l o o r i g i n a l .
3 1 , D i a s .A . E . S . S ü r r a . rlet i s t ó r ì c a p o r ü t g t t t s a . 4e.r l .L i s b o a C i n t o c á v e l( i n f e r i o r ) ,q u e c o r r e s p o n d e m
à h i e r a r q u i as o c i a l v ì g e n t e N
. a
r8 8 4 )
área de Bangalore,a língua Kannada apfeserìtadados lelativos a csta
32. Cintra, L. F. L, Origens do sistemacleformas de tratamentodo portuguêsactual ln: Sobrc as
".1'ortnd aes i l a t a t n e i l t o "n a l í n g u ap o r [ t ] S t t e r aL.i s b o a ,H o r i z o n t e1, 9 7 2 ( t í t u l oo r i g i n a l '1 9 6 5 ) diferenciaçãosocial: a palavra"nome" teÍn as fonnas /hesru/,"hesru",
3 3 . V e r C â m a r ai r . , J . M , L í n g u a se u r o p é i acsl eu i t r a m a ro: p o r t u g u êdso B r a s i Ì I. n : D i r p e r s o sl.ì i o r l c na variedadecoloquial dos brâmanes,e /yesru/,"yesru", na variedade
J a n e i r oF
, un<.laçG ã oe t ú l i oV a r g a s ,1 9 7 5 ,( t í t u l oo r i g i n a l ,1 9 6 3 ) .V e r t a m b é mB o l é o .M . P . B r e s i ì e i r i s m o .
Bra:ília, v. 3, pp. 3-42, 1943.
n ã o b r â m a n e ;a e x p r e s s ã o" c o m l i c e n ç a "é r e a l i z a d ac o m o / k l a m i s u / ,
rNÍRoDuçÁo
À trNoúísrrcr porr"t
soctoLtt,tcüísTtcA,

"k5antisu", na variedadecoloquial dos brâmanese /cemsu/,"cemsu", to determinado"3r. Uma definíçãodessetipo possibilitadescreveros padrõesde
n a v a r i e d a d ec o l o q u i a ld o s n ã o b r â m a n e s( B r i g h t , i 9 6 0 ) . uma determinadasociedadecom respeito ao uso das variedadeslingüísticas.
Isto é, qual o comportamentolingüístico adequadoàs situaçõesem que se en-
b) Idade: contram os falantes.Consideremos,por exemplo. a situaçãode uma defesade
- o uso de léxico particular,como presenteem certasgírias ("maneiro", tesee a comemoraçãoque se segueà aprovaçãodestatese,que envolve as mes-
" e s p e r t o " ,c o m o s e n t i d od e a v a l i a ç ã op o s i t i v as o b r ec o i s a s ,p e s s o a se s n t r ea s d u a ss i t u a ç õ e s- t e m ad a sc o n -
m a sp e s s o a sA. s d i f e r e n ç a se x i s t e n t e e
versas,local etc. * podem fazer com que uma sociedadeconsidereadequado
situações),denotafaixa etáriajovem;
utilizar variedadeslingüísticasdiferentesou a mesma.Segue-se,então,que cada
- uso de pronome Írr em situaçõesde interaçãoentre iguais no Rio de grupo social estabeleceum contínuode situaçõescujos pólos extremose opos-
Janeiro, como em "Tu viu só?", tarnbém sugere que os falantes são tos são representados pelafonrrctlidadee irtfornnliclctde.Em nossasociedade,
jovens; conferências,entrevistaspara obtençãode emprego,solicitaçãode informação
- a pronúncia fechada da vogal tônica posterior da palavra "senhora" a um desconhecido,contato entre vendedorese clientes são, ern geral, vistos
de algunsfalantesmais
[seloce] , em lugar de [sclrrce], é característica como situaçõesformais. Já situaçõescomo passeatas,mesas redondassobre
velhos. esporte,bate-papoem bar, festasde Natal nas empresassão definidas como
informais. As variedadeslingüísticasutilizadaspelos participantesdas situa-
c) Sexo: ções devem corresponderàs expectativassociaisconvencionais:o falanteque
- a duraçãode vogaiscomo recursoexpressivo,como em "maaravilhoso", não atenderàs convençõespode receberalgum tipo de "punição", representada,
por exemplo, por um franzft de sobrancelhas.
costuma ocoÍrer na fala de mulheres(Camacho, 1978),assim como o
uso freqüentede diminutivos,como "bonitinho", "gostosinho","verme- Há um tipo de interaçãosocialparticularern que urn falantedecidemudar
lhinho"; de variedadelingüísticasem que tenha ocorrido mudançade situação:é o que
Fishman (L972) chama de mudança ntetafórica.Um bom exemplo é uma con-
- na língua Zuã| faladapor um grupo indígenada América do Norte, os
versa em que o pai interroga a filha nos seguintestermos: "Aonde a senhora
fones [ty] e lcl faladospor pessoasdo sexo feminino conespondema
pensaque vai?" - em que o uso da forma de tratamento"senhora"estáobvia-
Iky] na falamasculina; rnentecxrregadode ironia.
- no japonês,para o pronolnede primeira pessoaeu, aIémde uma forma
Aprende-sea faìar na convivência. Mas, maís do que isso, aprendemos
utilizável por todos os falantes,existemas formas "atashi", usadaex-
quandodevemosfalar de um certo modo e quandodevemosfalar de outro. Os
cÌusivamentepor mulheres,e "boku", própria aos homens.
indivíduosque integramuma comunidadeprecisamsaberquandodevem mudar
d) Situaçãoou contexto social:é um fato muito conhecidoque qualquer de uma variedadepara outra. SegundoFishman (1,972),os membros de qual-
pessoamuda sua fala, de acordocom o(s) seu(s)interlocutor(es)- se quer comunidade"adquirem lenta e inconscientemente as cotnpetênciasconur-
este é mais velho ou hierarquicamentesuperior,por exemplo -, se- nicativa e sociolingiiísrica,com respeito ao uso apropriadoda língua"35.Em
gundo o lugar em que se encontra- em um bar, em uma conferência termos collcretos,é possívelafirmar que os falantesaprendemquandopodem
- e até mesmo segundoo tema da conversa- fofoca, assuntocientí- falar e quandodevem permanecerem silêncio,se podem utilizar a forma impe-
rativa para dar uma ordem ou se devem se valer de uma expressãomodalizada,
fico. Ou seja,todo falante varia sua faÍa segundoa sìtuaçãoem que se
como em "saiam daqui, já" ou "por favor, dirijam-se à saída"; se é oportuno
encontra.

Fishman(1972)assimse pronuncia:"uma situaçãoé definidapela co-


3 4 . F i s h m a n J, . A . A s o c i o l o g i ad a l i n g u a g c mI.n : F o n s c c aM , . S . V . & N c v c s ,N í . F . ( o r g s . )
ocorrênciade dois (ou mais)interlocutores
mutuamenterelacionados
de uma S o r i o l ü t g i i í s t ì r cR. i o d e J a n e i r oE
, l d o r a d o ,1 9 7 4 .p . 2 9 . ( t í t u l oo r i g i n a l ,1 9 7 2 )
maneiradeterminada, comunicando sobreum determinado
tópico.numcontex- 35. lbidem.
Á LtNçúísrtcn
TNTRoDUçÃo S O C i O t l N G U I S ï | Cp A
o r l eI

; u , a i n d a ," a g e n t en ã o s a b i a "o u " n ã o IzabelS. Magalhães(1985), Tlrc rezasuttl benzeçrles: healüryspccchactivities


d i z e r " t ô f o r a " o u " n ã o v a i s e rp o s s í v e l " o
irt Brazil, que focaliza a prática lingüísticade benzedores,a partir de dados
sabíamos",ou ainda "desconhecíamos".
c o l e t a d o se r n c i d a d e s - s a t ó l i t e
d se B r a s í l i a .
Às variaçõeslingüísticasrelacionadasao contexto chamamosde vu'irt-
W . M . O ' B a r r & J . F . O ' B a r r ( 1 9 7 6 )o r g a n i z a r a m u m v o l u m e ,d e e x t r e m o
ções estíLísticrÍ.r ou registros.Nessesentido,os falantesdiversificamsua fala -
interesse- Lrntgu.age atd politícs - em que analisama questãodas relações
isto é, usam estilos ou registrosdistintos- em íunção das circunstânciasem
entre linguageme o funcionamentodo sistemacieordenaçõeslegaisna Íncliae
que ocorrem suas interaçõesverbais.SegundoCamacho,os falantesadequam
na Tanzânia,dois paísesque compartilhamalgumascaracterísticas marcantes:
suasformas de expressãoàs finalidadesespecíficasde seu ato enunciativo,sen-
s ã o e x - c o l ô n i a si n g l e s a ss, o c i e d a d eps l u r i l í n g ü e se p l e c i s a mp e n s a ra q u e s t ã o
do que tal adequação"decorrede uma seleçãodentreo conjunto de formas que
d a r e l a ç ã oe n t r e a h e r a n ç ah i s t ó r i c at r a d i c i o n a le a r e c e n t e ,p r o d u z i d ap e l o
c o n s t i t u io s a b e rl i n g ü í s t i c oi n d i v i d u a l ,d e u m m o d o m a i s o u m e n o sc o n s c i e n -
c o l o n i a l i s m oi n g l ê s .
te"36.A seleçãode formas envolve, naturalmente,um grau maior ou menor de
Os parâmetrosda variaçãolingüísticasão diversos,como se pode inferir
reflexão, por parte do falante:o uso do estilo formal, em relaçãoao informal,
da exposiçãofeita até aqui. Para efeito de apresentação, isolamosos fatoresa
requer uma atuaçãomais consciente.Assim é que observamosestilos distintos
que a variaçãolingüística,como um todo, estárelacionada.Não podernosdei-
quando um falante conversacom um amigo ou colrl vizinhos recém-conheci-
xar de apontar,no entanto,que, na realidadedas relaçõessociais,os fatoresde
dos,ou com um rnédico,duranteuma consulta,bem como ao escreverum bilhe-
variaçãose encontramimbricados.No ato de interagirverbalmente,um falante
te a um colega de faculdade,uma carta à seçãode leitoresde utn jomal ou ao
utilizará a variedadelingüísticarelativa a sua região de origem, classesocial,
elaborar um relatório dirigido a um superior no trabalho.A terminologia pal'ase
idade, escolaridade,sexo etc. e segundoa situaçãoem que se encontrâr.Por
referir aosdiferentesestilosde fala não é nadaptecisa.Utilizamos,muito generi-
e x e m p l o : u m b r a s i l e i r o , n a s c i d o e m R e c i f e , a p r e s e n t a r á s, e m p r e , v o g a i s
camente,expressõescomo estilosforutal, infornnl, coloquial,.faniliar, pessoal.
pretônicasabertascoltlo ern [reau] "real", mas ainda a dependerde sua escola-
A noção de situação- tal como foi definida- tem um alcancerestrito, ridade, da origem rural ou urbana, utllizará,o verbo "assuntar" ou "prestar aten-
reduzindo-se,praticamente,à consideraçãoda cenaem que ocorrem as interações ção" e, a dependerda situação,dirá "Fui nada" ou "Fui não".
verbais.É,itit e proclutivoentendersituaçãode umaperspectivamaisabrangente,
a saber,como o contexto social global de uma comunidade,com suas marcas
históricase culturais próplias. Pensamosaqui, particularmente,nos contextos 3.2.Asvoriedqdes
lingüísticos
e o estruturo
sociql
ritualísticose religiososque, tomadoscomo ponto de partida,sugeremo estudo
de variedadese usoslirigüísticosespeciais.Assim, por exemplo,o contexto das Comojá foi dito,emqualquer defala,podemos
comunidade observar
a
tradiçõesreligiosassugereo estudo das linguagensesotéricas,das fórmulas e coexistênciade um conjuntode variedades lingüístìcas.Essacoexistência, en-
invocaçõesplopiciatóriasàs práticasda relaçãocom o mundo do sagtado' O tretanto,
nãosedáno vácuo,masno contextodasrelações sociaisestabelecidas
contexto da ordenaçãojur'ídica,por sua vez, sugereo estudo das variedades pelaestruturasociopolítica
de cadacomunidade. Na realidade objetivada vida
lingüísticasparticularesutilizadaspelos tabeliães,advogados,juízes e promo- sociai,há sempreumaordenação valorativadasvariedades lingüísticasem uso,
tores nos julgamentos.
que refletea hierarquiados grupossociais.Isto é, em todasas comunidades
existemvariedades quesãoconsideradas superiores e outrasinferiores.Em ou-
No campo dos usos religiosos,cabe citar o fascinautetrabalhode Michel
traspalavras,comoafirmaGnerre,"uma variedade lingüística'vale' o que 'va-
Leiris (1948), La larryuesecrèïedes Dogort cleScutga,que se ocupa da língua lem' na sociedade os seusfalantes,isto é, vale como reflexodo podere da
iniciática do povo Dogon que habita uma região do atual Mali (antigo Sudão autoridade que elestêm nasrelaçõeseconômicas e sociais"rT.Constata-se, de
Francôs).Sobre a comunidadebrasileira,há um interessanteestudo de Maria

3 7 . C n e r r e ,M . L h g u a g e t n e, s c r i t ae p o d e r . S r ' oP a u l o .M a r t i n sF o n t e s 1
, 9 8 5 ,p . 4 . ( c â p í t u l oI L i n -
36. Camacho,R. A variaçãolingüística.lt'. Subsídiosà propostacurrbular tle líttgua portusutsQ
guagem,podere discrimrnação)
para o sagundogrzrr. São PaLrlo,CENP, Secretariado Estadoda Educação,v. lV, I 978, p. | 7.
r
40 lNrRoDUçÂo
À LtlcÚÍsrtcr

modo muito evidente, a existência de variedaclesde prestígio e de varieclatles


rm
Ë
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soclOtlNGÜÍSTICA:
porte| 4r

&
o que é consideradonão padrãopode ser estabelecidocomo padrão.A história
rtão prestigiadas nas sociedadesem geral. As sociedadesde tradiçãoocidental È da língua portuguesa,como a de tantasoutras,oferece-nosinumeráveisexem-
oferecem um caso particular de variedadeprestigiada:a variedadepaclrão. A g
,i
plos dessaordem de fatos. Consideremos,a propósito,os seguintesexemplos
variedadepadrão é a variedadelingüísticasocialmentemais valorizada,de re-
conhecidoprestígiodentrode uma comunidade,cujo uso é, normalmente,reque- fr d o s é c u l oX V I :
- as formas "dereito", "despois", "frecha", "frito", "premeìramente",hoje
rido em situaçõesde interaçãodeterminadas,deflinidaspela comunidadecomo It desabonadas, são encontradasno texto da carta de Pero Vaz de Cami-
próprias,em função da formalidadeda situação,do assuntotratado,da relação i
entre os interlocutoresetc. A questãoda língua padrãotem uma enoÍrneimpor-
tância em sociedadescomo a nossa.Algumas consideraçõesa seu respeitose
n -
n h a .d e 1 5 0 0 ;
as formas "frauta", "escuitar", "intonce", assim como as construções
impõem.
i sintáticasdo tipo "desejade comprar" (com a presençada preposição
I cle) e "se esta gente, cuja valia e obra tanto amaste/nãoqueres que
A variedadepadrão de uma comunidade- também chamadanorma culta, p a d e ç a m v i t u p ó r i o " ( c o n c o r d â n c i ad o s u j e i t o g e n t e c o m o v e r b o
i
ou língua culta - não é, como o sensocomum fazcrer, a línguapor excelência,
flexionado no plural) - hoje consideradasincorretas- são encontra-
a iíngua original, posta em circulação,da qual os falantesse apropriam como
podem ou são capazes.O que chamamosde variedadepadrãoé o resultadode
I"4 das em Os Lusíadas, de Camões (1572).
i
uma atitude social ante a língua,que se traduz,de um lado, pela seleçãode um como se vô, representações de pronúnciase construçõesgramaticaisates-
dos modos de falar entre os vários existentesna comunidadee, de outro, pelo tadasem textos legitimadosnão são mais consideradas como "bom uso". como
estabelecimentode um conjunto de normas que definem o modo "cometo" de i
entender,então,que ocorrênciasequivalentes,tão vivas em variedadesnão pa-
falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso drõescontemporâneas, como por exemplo "Framengo","ele deve de sair, ago-
correspondemaos hábitoslingüísticosdos grupossocialmentedominantes.Em ra" e "a gente fomos lá", sejam consideradascomo "erradas", "flruto de ignorân-
nossas sociedadesde tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente, cia"? A fala das classesaltas mudou e a de outros grupos sociaisreteveesses
coincide com a variedadefalada pelas classessociais altas, de determinadas usos:essefoi o "erro".
regiões geográficas.Ou melhor, coincide com a variedadelingüística falada A avaliação social das variedadeslingüísticasé um fato observávelem
pela nobreza,pela burguesia,pelo habitantede núcleosurbanos,que são cen- qualquercomunidadeda fala. Freqüentemente, ouvimos falar em línguas"sim-
tros do poder econômicoe do sistemacultural predominante. ples", "inferiores", "primitivas". Para a Lingi.iística,essetipo de afirmaçãoca-
Fishman (1970) define a padronização,isto é, o estabelecimentoda varie- rece de qualquerfundamentocientífico.Toda línguaé adequadaà comuniclade
dade padrão, como um tratamento social caracteístico da língua, que se verifi- que a utiliza, é um sistemacompÌetoque permitea um povo exprirnir o mundo
ca quando há diversidadesocial suficientee necessidade de elaboraçãosimbó- físico e simbólico em que vive. É absolutamente impróprio dizer que há línguas
lica. Em outras palavras,a definição de uma variedadepadrão representao ideal pobresem vocabulário.Não existemtambémsistemasgramaticaisimperfeitos.
da homogeneidadeem meio à realidadeconcretada variação lingüística - algo seria um contra-sensoimaginar sereshumanoscom uma "meia língua". A falta
que, por estaracimado corpo social,representao conjuntode suasdiversidades de léxico específicopara descrever,por exemplo,a astronomiana línguade urn
e contradições.A variedade alçada à condição de padrão não detém proprieda- povo correspondeao desinteresse por esteassunto:a sociedadenão tem neces-
des intrínsecasque garantem uma qualidade "naturalmente" superior às demais sidade de dominar este dado do real. caso a sociedadenecessite,basta fazer
variedades.Na verdade,a padronizaçãoé sempre historicamentedefinida. Isto empréstimoslingüísticos:o contatocuItural com outrospovos.o conhecimento
é, cada época determina o que consideracomo forma padrão: determinadaspro- de novos conteúdosou a descobertade realidadesatéentãodesconhecidas são o
núncias, construçõesgramaticaise expressõeslexicais. Segue-se,então, que motor da elaboraçãode novosconceitose da produçãode novaspalavras.euanto
certas formas podem ser consideradascomo pertencentesà variedade padrão ao aspectogramatica[,o estudodas mais distintaslínguastem reveladoque ele
em uma época e deixar de sê-lo em outra. As línguasmudam incessantemente,e se apresentasemprecomo um sistemaorganizadoe coerentede regras.As lín-
a definição do "certo", do "agradável" e do "adequado" também. Na prática, guas diferem entre si em numerososaspectos,e essasdiferençascorrespondem
podemos concordar com Fishman, o que é padrão pode tornar-senão padrão, e ao patrimônio expressivoda humanidade.
rNïRoDUçÃo S O C I O L I N G U I S TpI C
oaAe: | 43
42 À uNcüisrrce

A s s i m c o m o n ã o e x i s t e ml í n g u a s" i n f e r i o r e s " n, ã o e x i s t e mv a r i e d a d e lsi n - l í n g u aé u n r d o s c o m p o n e n t edso s i s t e m ac u l t u r a l .A e x i s t ê n c i ad e u m a v a r i e d a -


g ü í s t i c a s" i n f e r i o r e s " .C o m o v i m o s , a s l í n g u a sn ã o s ã o h o m o g ê n e a e s a varia- d e p a d r ã o ,q u e d e s l o c at o d a sa s o u t r a sv a r i e d a d elsi n g ú í s t i c a e
s cria um contex-
ção observávelem todas elas é produto de sua história e do seu presente.Enr to de relaçõesassimétrìcasentre falantesde uma comunidade,é um exemplo
que se baseiam,então,as avaliaçõessociais?Podemosafirmar, com toda tran- objetivo dessaquestão.Cabe aos usuáriosdas variedadesnão-paclrões adotara
q ü i l i d a d e ,q u e o s j u l g a m e n t o ss o c i a i sa n t e a l í n g u a- o u m e l h o r a s a t i t u d e s a c e i t á v e-l p e l o m e r Ì o se, m c e r t a sc i r c u n s t â n c i a sc ,o m o
v a r i e d a d es o c i a l m e n t e
sociais- se baseiamem critériosnão [ingüísticos:sãojulgamentosde natureza e r n s i t u a ç ã od e f a l a p ú b l i c ao u d u r a n t eu r r r ae n t r e v i s t ae m u m a a g ê n c i ad e e m -
p o l í t i c ae s o c i a l .N ã o é c a s u a l ,p o r t a n t o ,q u e s e j u l g u e " f , e i a "a v a r i e d a d ed o s prego.Por que aprenderum outro modo de falar?Onde adquirir esteoutro n'ìodo
falantesde origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridade,de de falar? A motivaçãopara falar um outro rnodode falar é sempresocial,e isso
regiõesculturalmentedesvalorizadas. Por que se considera"desagradável"o r p o d es e r p r o d u z i d op e l ae s c o l a .o u p e l ae x p e r i ê n c i as o c i a l .D e q u a l q u e rm a n e i -
retroflexo, o chamado r ccLipira,presenteem realizaçõescomo ['pc4tu] "por- ra, a decisãode falar de um modo distinto daqueleque aprendemosnão se con-
ta"? Afinal, a mesmaarticulaçãoretroflexaocorreern palavl'asdo inglês como cretiza facilmente:há sempreum longo caminho a percorrer,tanto mais longo
[kafl "car" (carro),que ninguém sentecomo "feia". Em resumo:julgamos não quanto mais distantese encontrao falante dos padrõeslingüísticose culturais
a fala, mas o falante,e o fazemosem função de suainserçãona estruturasocial. legitimados.
Para a Sociolingüística,a naturezavariável da língua é um pressuposto
fundamental,que orientae sustentaa observação,a descriçãoe a interpretação
rrHatS
4.CONSTDERAçótS
do comportamentolingüístico.As diferençaslingüísticas,observáveisnas co-
munidadesem geral,são vistascomo um dado inerenteao fenômenolingüístico. Marcada por uma heterogeneidadeoriginal, a Sociolingüísticados anos
A não aceitaçãoda diferençaé responsávelpor numerosose nefastosprecon- 1960pode ser vistacomo o ponto de partidade novascorrel'ltese orientaçõesde
ceitossociaise, nesteaspecto,o preconceitolingüísticoteÌÌìum efeito particular- pesquisas,centradasno trato do fenômeno lingúísticorelacionadoao contexto
mentenegativo.A sociedadereagede maneiraparticulârmente consensualquan- social e cultural, que se distinguem,de forma mais evidente,pela vinculação
do se trata de questõeslingüísticas:ficamos unanimementechocadosdiante da explícitaa algum campo das ciênciashumanas.De uma perspectivabem gelal,
paÌavrainadequada,da concordânciaverbalnão realizada,do estilo impróprio à podemosapontara Antropologia e a Sociologiacomo áreasrelevantes.Dentre
situaçãode fala. A intolerâncialingüísticaé um dos comportamentossociais estascofferìtes,destacaremosapenasalgumas:
mais facilmenteobserváveis,seja na mídia, nas relaçõessociaiscotidianas,nos - a Sociologiada Linguagem, representada por J. Fishman;
espaçosinstìtucionaisetc. A rejeiçãoa certasvariedadeslingüísticas,concreti-
- a SociolingüísticaInteracional,ligadaao nome de J. Gumperz;
zada na desqualificaçãode pronúncias,de construçõesgramaticaise de usos
vocabulares,é compartilhadasem maioresconflitos pelos não especialistasem - a Dialectologia Social, associadaao trabalho de estudiososcomo R.
linguagem. O sensocomum opera com a idéia de que existe uma língua - o Shuy e P. Trudgil;
bem social à disposiçãode todos - que é adquiridadistintamente,em função - a Etnografiada Comunicação,inseparáveldo nome de D. Hymes, refe-
de condiçõesdiversas,pelos falantes.Na realidade,existe sempreum conjunto rida anteriormente.Caberia,também, uma referência,nesta vertente,
de variedadeslingüísticasem circulaçãono meio social.Aprende-sea varieda- aos trabalhosde R. Bauman e J. Sherzer,voltados, particularmente,
de a que se é exposto,e não há nada de erradocom essasvariedades.Os grupos para a questãoda arte verbal e da poéticados gênerosde fala.
sociaisdão continuidadeà herançalingüísticarecebida.Nessesentido,é preci-
so ter cìaro que os grupos situadosembaixo na escalasocial não adquirem a Algumas antologias,bastantecitadas,oferecemuma visão da produçãono
línguade modo imperfeito,não deturpama língua"comum". A homogeneidade campo da Sociolingüísticae permitem observara diversidadede ternasestuda-
lingüísticaé um mito, que pode ter conseqüências gravesna vida social.Pensar dos e de abordagenspraticadas,como, por exemplo: Pride, J. B. & Holms, J.
que a diferençalingüísticaé um mal a sereruadicado justifica a práticada exclu- (1972) (orgs.),SociolirryLristlcs;
Giglioli, P. P. (1974) (org.), Lcuryuagearu! so-
são e do bloqueio ao acessoa bens sociais.Trata-sesemprede impor a cultura cìal context;Coupland,N. & Jaworski,A. (1997)(orgs.),Sociolinguistics.Duas
dos grupos detentoresdo poder (ou a eles ligados) aos outros grupos - e a outrasreferênciasmerecemser feitas: a coletâneade trabalhosreoresentativos
rNÌRoDUçÁo
À trNcüÍsrtcr porle I
S0CiOLlNGUlSÍlCÂ:

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