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Estruturalismo Saussureano;

Estruturalismo norte-americano ("distribucionalismo") - o que está em foco é


como os elementos que constituem o sistema estão distribuídos e que
restrições existem nesse processo de distribuição;
Gerativismo;
Funcionalismo;

A LINGÜÍSTICA D E S C R I T I V A

P a u l o A. F r o e h l i c h

O presente t r a b a l h o c o n s t i t u i u m relatório das p r i n c i p a i s


técnicas e princípios f u n d a m e n t a i s d a lingüística d e s c r i t i v a
usadas p o r vários pesquisadores, e m b o r a s e m a preocupação
de estabelecer ligação f o r m a l c o m esta o u a q u e l a orientação
lingüística. E s t a s técnicas de análise d e s c r i t i v a são e x e m p l i f i -
cadas através de p r o b l e m a s c o m base e m específicos corpus
lingüísticos. N ã o c o n s t i t u i u m relatório crítico dos vários mé-
todos p a r a l e l o s o u divergentes de descrição lingüística e x i s t e n -
tes a t u a l m e n t e . I s t o r e s u l t a de a b s o l u t a f a l t a de tempo p a r a a
apresentação de u m t r a b a l h o de m a i o r fôlego, pois encontra-se
o a u t o r pressionado n a elaboração de u m outro t r a b a l h o c o m
p r a z o c u r t o e que exige m u i t o m a i o r atenção n a s circunstân-
c i a s a t u a i s . F i n a l m e n t e , serão apresentadas a l g u m a s c o n c l u -
sões práticas que a lingüística d e s c r i t i v a poderá s u g e r i r p a r a
o estudo das línguas v i v a s , s e m entretanto, p r e s c r e v e r r e g r a s
a b s o l u t a s e infalíveis.

I) CONCEITUAÇÀO

P a r a c o n c e i t u a r b e m o que se entende p o r lingüística des-


c r i t i v a são m u i t o a p r o p r i a d a s a s seguintes afirmações p r o f e r i -
d a s p o r Z e l l i g S . H a r r i s no s e u l i v r o Structural Linguistics
( c a p . 2, P r e l i m i n a r e s Metodológicas, p p . 5 - 6 ) :

" A Lingüística D e s c r i t i v a , c o m o o t e r m o está s e n d o


u s a d o , é u m c a m p o p a r t i c u l a r d e p e s q u i s a q u e t r a t a não
d a totalidade d a s atividades d a fala, m a s d a s r e g u l a r i d a -
d e s e m c e r t o s traços tônicos. E s t a s regularidades se
e n c o n t r a m n a s relações d e distribuição e n t r e o s traços
tônicos e m questão, i.e., a ocorrência d e s s e s traços r e l a -
t i v a m e n t e u n s a o s o u t r o s , d e n t r o d e enunciações. É cer-
t a m e n t e possível e s t u d a r a s várias relações e n t r e p a r t e s
o u e n t r e traços tônicos, p. ex. semelhanças ( o u o u t r a s
relações) d e s o m o u d e s e n t i d o , o u relações genéticas n a
história d a língua. E n t r e t a n t o , a p r i n c i p a l p e s q u i s a d a
- Campo particular de pesquisa - analisa uma parte, não o todo;
- Regularidades em alguns traços fônicos - admitimos que tem irregularidade, MAS ele tem algo regular. Isso é investigado;
- Essa irregularidades estão distribuídas nos traços fônicos;
- A ocorrência desses traços relativamente uns aos outros, dentro de enunciações;
- É possível estudar as várias relações entre partes ou traços fônicos;
- A principal pesquisa na Linguística Descritiva ( e a única relação ou disposição no fluxo fônico como relevante na atual análise) é a
distribuição ou disposição no fluxo fônico de certas partes ou em traços fônicos em relação a outros;
- O único passo preliminar que é essencial a essa ciência é a restrição da distribuição como determinante da relevância da pesquisa;
lingüística d e s c r i t i v a ( e a única relação q u e será a c e i t a
c o m o r e l e v a n t e n a a t u a l análise), é a distribuição o u d i s -
posição n o f l u x o fônico d e c e r t a s p a r t e s o u traços e m
relação a o u t r o s . . . .

O único p a s s o p r e l i m i n a r q u e é e s s e n c i a l a e s t a ciên-
c i a é a restrição d a distribuição c o m o d e t e r m i n a n t e d a
relevância d a p e s q u i s a . O s métodos p a r t i c u l a r e s d e s c r i -
tos n e s t e l i v r o não s ã o e s s e n c i a i s . E l e s são o f e r e c i d o s
c o m o p r o c e d i m e n t o s g e r a i s de análise d i s t r i b u c i o n a l a p l i -
cável a m a t e r i a i s lingüísticos... A e s c o l h a de específicos
procedimentos aqui selecionados p a r a tratamento deta-
l h a d o e, e n t r e t a n t o , e m p a r t e d e t e r m i n a d a p e l a s p r ó -
p r i a s línguas d a s q u a i s o s e x e m p l o s são extraídos. A aná-
l i s e de o u t r a s línguas p o d e r i a c o n d u z i r à discussão e e l a -
b o r a ç ã o de o u t r a s técnicas... I s t o seria verdadeiro desde
q u e a s n o v a s operações t r a t a s s e m e s s e n c i a l m e n t e d a d i s -
tribuição d o s traços fônicos r e l a t i v a m e n t e a o u t r o s t r a -
ços n a s enunciações, e d e s d e q u e f o s s e m e x e c u t a d o s expli-
c i t a m e n t e e c o m r i g o r científico".

I I ) DEFINIÇÃO D E P R I N C I P A I S T E R M O S F U N D A M E N T A I S

a. Enunciação. É tudo o que u m falante n a t i v o de u m a


c o m u n i d a d e lingüística pode p r o n u n c i a r c o m finalidades de
comunicação. V a i desde o s i m p l e s " s i m " , " n ã o " , " t a l v e z " , até
às m a i s extensas mensagens lingüísticas, amiúde r e f e r i d a s
c o m o período, de vários tipos e duração. A s enunciações são
geralmente i n t e r r o m p i d a s p o r espaços de silêncio que poderão
ser de m a i o r o u m e n o r extensão. O procedimento geral d a l i n -
güística d e s c r i t i v a é a n a l i s a r c a d a enunciação de p e r s i e n u n -
c a várias enunciações ao m e s m o tempo. O p e s q u i s a d o r geral-
mente a n a l i s a as inter-relações de elementos dentro de u m a
enunciação n u m m o m e n t o (i.e., s e p a r a d a m e n t e ) . Poderá ( e
geralmente a s s i m p r o c e d e ) entretanto, c o m p a r a r as inter-
relações e m c a d a enunciação que se apresenta, p a r a estabele-
c e r princípios gerais de i n t e r - r e l a c i o n a m e n t o c o m relação a
u m a d e t e r m i n a d a língua o u d i a l e t o . I s t o porque geralmente
os grupos de enunciações não p a s s a m de repetições de proces-
sos que o c o r r e m e m c a d a s i m p l e s enunciação. E s t e é o único
método que p o s s i b i l i t a a análise do m a t e r i a l e c a p a c i t a o l i n -
güista a d e s c o b r i r os r e l a c i o n a m e n t o s entre os vários elemen-
tos que c o n s t i t u e m a e s t r u t u r a das enunciações e p o s s i b i l i t a r
a formulação de princípios que r e g e m a todas a s enunciações
c o m relação a u m a língua o u d i a l e t o .
Fluxos fônicos são os conjuntos de sons que formarão uma enunciação;
b. F l u x o Fônico. É a corrente, série, o u segmento de
elementos o u u n i d a d e s que se s u c e d e m e m f l u x o s r e l a t i v a -
mente c u r t o s n u m a d a d a língua o u dialeto. A diferença entre
enunciação e f l u x o fônico é m a i s de aspecto o u de ponto de v i s -
t a do que de n a t u r e z a essencial, porque todas a s enunciações
são f o r m a d a s de segmentos m a i o r e s o u menores de f l u x o fôni-
co. N o f l u x o fônico temos a n o s s a atenção v o l t a d a p a r a o c a -
ráter l i n e a r o u segmentai d a enunciação; que esta é constituí-
da de u n i d a d e s o u elementos que se sucedem u n s aos o u t r o s ;
n a enunciação a n o s s a atenção está v o l t a d a p a r a os períodos
audíveis l i m i t a d o s p o r períodos de silêncio, porém c o n s i d e r a -
dos g l o b a l m e n t e ; no f l u x o fônico a n o s s a atenção está v o l t a d a
p a r a os elementos c o n s t i t u t i v o s .
Cada são individualmente; fone ou fonema;
c. Traços Fônicos. São todos os possíveis elementos ió-
nicos identificáveis a c u s t i c a m e n t e ) no fluxo fônico o u n a s
enunciações, e que podem o c u p a r u m l u g a r definido dentro
d a e s t r u t u r a geral de u m a língua dada. N e m todos os traços
acústicos ( o u fonéticos) são traços fônicos, pois apenas u m a
p a r t e é u t i l i z a d a p a r a f i n s de comunicação; o restante é igno-
r a d o o u relegado à condição de traços i r r e l e v a n t e s . Os traços
fônicos ( o u s i m p l e s m e n t e f o n e s ) c o n s t i t u e m , no nível fonético,
o fundamento d a base articulatória, o u padrão fonético, que se
c a r a c t e r i z a p e l a e s c o l h a toda especial que u m a língua o u dia-
leto faz, d a totalidade de possíveis traços fônicos, e lhes con-
fere u m s t a t u s determinado e r e s t r i t o .

d . Distribuição. É a s o m a de ocorrências de u m o u m a i s
traços fônicos e m relação a outros n a s enunciações de u m a
d e t e r m i n a d a língua. É a descrição d e t a l h a d a de todas as posi-
ções onde u m dado elemento pode ocorrer. Corolário m u i t o
i m p o r t a n t e é a r e l a t i v i d a d e d a distribuição de u m dado ele-
mento n u m a língua. S o b o ponto de v i s t a p u r a m e n t e d e s c r i -
tivo não podemos f a l a r , p. ex., dos fonemas hipotéticos indo-
europeus * p , * t , * k , quando se o b s e r v a que c a d a língua e d i a -
leto ( m e s m o dentro do m e s m o grupo o u sub-grupo lingüístico,
h i s t o r i c a m e n t e f a l a n d o ) , c o n s t i t u e m u m a e s t r u t u r a fonética
toda p a r t i c u l a r e única n a s padronizações. C o n c o m i t a n t e -
mente, somente podemos dizer que u m elemento x é d e s c r i t i -
v a m e n t e equivalente a u m elemento y quando d i s t r i b u t i v a -
m e n t e se c o r r e s p o n d e m e m todos os seus pontos, i.e., q u a nd o
o c o r r e m e m contextos equivalentes e podem, p o r t a n t o , s e r
substituídos u m pelo outro, indiferentemente. A s s i m , pode-
m o s dizer que n a língua inglesa os elementos fônicos p, t, k,
e m início de p a l a v r a , são d e s c r i t i v a m e n t e equivalentes, como
podemos v e r pelo s e g u i n t e :

[iyt] [itl [il] [in] [ót] [aet] [ent] [ó:l]

p-eat p-it p-ill p-in p-ot p-at p-ent p-aul


t-eat t-it t-ill t-in t-ot t-at t-ent t-all
k-eats knt k-ill k-in c-ot c-at k-ent c-all

E m b o r a os exemplos a c i m a não i n c l u a m a totalidade de


contextos de ocorrência e m posição vocábulo-inicial, demons-
t r a m que, e m l i n h a s gerais, os elementos fônicos p, t, k , são
( n o que se refere à ocorrência), d i s t r i b u t i v a m e n t e equivalen-
tes, o u a p r e s e n t a m , n e s t a posição, distribuição l i v r e , i.e., q u a l -
q u e r desses elementos pode o c o r r e r c o m q u a l q u e r dos contex-
tos fônicos ocorrentes, o u c o m q u a l q u e r dos d e m a i s elemen-
tos fônicos c o m os q u a i s f o r m a m seqüências p a d r o n i z a d a s .

Quando a f i r m a m o s , que n a s enunciações de u m a língua


d a d a temos a sequência x-y, i s t o q u e r dizer que o elemento y
somente pode o c o r r e r n a posição i n d i c a d a , i.e., logo após o
elemento x e n u n c a antes, s a l v o sob indicação explícita. C o m o
podemos v e r através do seguinte c o r p u s d a língua m i w o k
(Califórnia):

[lot-i-m] — e u agarro [lot-i-t] — êle m e a g a r r a

[ ? in-i-m] — e u venho [ ? in-i-t] — êle v e m a m i m

[siyich-i-m] — e u vigio [ s i y i c h - i - t ] — êle m e v i g i a

[yil-i-m] — eu mordo [ y i l - i - t l — êle m e morde

[lot-a-k] — vocês agarraram [ l o t - i - k ] — vocês agarram

[ ? i n - a - k ] — vocês foram [ ? i n - i - k ] — vocês vão

[ s i y i c h - a - k ] — vocês vigiaram [ s i y i c h - i - k ] — vocês vigiam

[ y i l - a - k ] — vocês morderam [ s i y i c h - i - k ] — vocês mordem

A q u i o b s e r v a m o s que estes itens léxicos são constituídos


p o r elementos d i s t i n t o s que o c u p a m três posições r e s p e c t i v a s
( o u r e l a t i v a s ) a-b-c. Os elementos lot-, ? i n - , s i y i c h - y i l - , somente
podem o c u p a r a posição " a " ; os elementos - a - o u - i - somente
p o d e m o c u p a r a posição " b " ; os elementos -m, - k , -t, somente
podem o c u p a r a posição " c " . É esta u m a distribuição l i n e a r
mandatória. E s t e s dois processos de comparação d i s t r i b u c i o -
n a l o r a apresentados, através do p r o b l e m a d a língua inglesa
e d a língua m i w o k , p o d e r i a m também s e r respectivamente des-
critos c o m o distribuição simultânea e distribuição l i n e a r .

S e n u m a língua d a d a temos os elementos fônicos x, x',


x " . . . n, e o b s e r v a m o s que c a d a u m desses elementos fônicos
estão m u t u a m e n t e relacionados a u m certo padrão fônico; se
também n e s s a língua temos os contextos fônicos y, y', y " . . .
n, que também estão r e s p e c t i v a m e n t e r e l a c i o n a d o s a esse p a -
drão fônico; s e a f i r m a m o s que os elementos fônicos x, x' x " . . .
n, r e s p e c t i v a m e n t e o c o r r e m c o m os contextos fônicos y, y',
y " . . . n, então sabemos que os elementos fônicos x, x' x " n u n c a
podem ser d e s c r i t i v a m e n t e equivalentes, m a s a p r e s e n t a m dis-
tribuição complementar. C o m o podemos v e r através do se-
guinte corpus d a língua oneida ( E s t a d o de N o v a Y o r k ) :

[zh] — surda branda 13. [ t u z a h a t i t e :ní] — eles


m u d a r a m de novo
1. [zhátyi] — sente-se 14. [ w e z a : k i i — ela o v i u
2. [zhayólhiye?] — o próxi-
mo dia [ s ] — surda tensa

3. [lákzha] — menino 15. [ l á s h e t ] — deixe-o contar


4. [ l ó h z h u ] — êle j á t e r m i - 16. [ l a ? s l u : n i ] — homens
nou brancos

5 . [tha?zhítha?l — êle o 17. [ l o y e s w á : t u ] — èle t e m


derruba aqui brincado

6. [ t k a k h a w á k z h i ] — a p i o i 18. [ s k a h n é h t a t ] — u m pi-
comida nheiro

19. [ t h i s k a : t é l — diferente
7. [tzhá:kat] — o mesmo
20. [snimúhe] — voce com-
8. [wáhzheke] — você o pra.
comeu
21. [washisnistake?] — você
comeu milho
[z] — sonora branda

[sh I — surda tensa


9. [kawine:zú:ze?] — pala-
v r a s longas
22. [shvá:túhe?l — você es-
10. [ k h a : w í z e ? ] — e s t o u le- creve
vando comigo
23. [téhshya?k] — d e i x o vo-
11. [lá:zel] — deixe-o arras- cê q u e b r a r
tar
24. [ya?tisvatekhásshyahte?]
12. [ t a h á : z í h t e ? ] — êle d e r - — de repente, eles se se-
boU-o p a r a r a m novamente.
A q u i o b s e r v a m o s que os elementos fônicos [ z ] , [ z h ] , [ s ] ,
[ s h ] , estão s i s t e m a t i c a m e n t e r e l a c i o n a d o s ; c o n s t i t u e m , d e s c r i -
t i v a m e n t e , u m padrão fônico. E s t e s vários elementos fônicos
estão também s i s t e m a t i c a m e n t e r e l a c i o n a d o s c o m q u a t r o con-
textos fônicos d i s t i n t o s e m u t u a m e n t e e x c l u s i v o s O elemento
fônico [ z ] — s o n o r a b r a n d a — ( i t e n s 9, 10, 1 1 , 12, 13, 14) so-
mente ocorre e m posição silábico-inicial ( m a s não vocábulo-
i n i c i a l ) ; o elemento f ô n i c o [ z h ] — s u r d a b r a n d a ( i t e n s 1, 2, 3 , 4 ,
5, 6, 7, 8 ) somente ocorre e m posição i n i c i a l , o u m e d i a l quando
precedido de u m elemento fônico s u r d o ( ? , h , k ) ; o elemento
fônico [ s ] — s u r d a t e n s a — ( i t e n s 15, 16, 17, 18, 19, 20, 2 1 )
somente o c o r r e q u a n d o seguido de u m elemento fônico conso-
nântico ( h , 1, w , n , t ) ; e f i n a l m e n t e o elemento f ô n i c o [ s h ] —
s u r d a a l v e o p a l a t a l t e n s a — ( 2 2 , 23, 2 4 ) somente ocorre c o m
o contexto fônico [ y ] . Os elementos Iónicos C z l , [ z ] , ( s ) ,
[ s ] , poderão s e r substituídos pelos sub-rogados x, x', x " , x ' " ,
e os contextos fônicos correspondentes pelos sub-rogados y,
y'» y"> y'"> e
v e m o s que as ocorrências são efetivamente x-y,
x'-y', x " - y " , x " ' - y " ' , e concluímos daí que os elementos fônicos
x, x', x " , x'", c o n s t i t u e m u m único padrão fônico e que c a d a
respectivo elemento fônico está e m distribuição c o m p l e m e n t a r
c o m os d e m a i s elementos fônicos. Está patente a q u i a d i s t r i -
buição c o m p l e m e n t a r o u distribuição p o s i c i o n a i , i.e., onde u m
elemento ocorre, n e n h u m dos outros ocorre, e v i c e - v e r s a .

E s t e s dois exemplos o r a c i t a d o s também d e m o n s t r a m a


r e l a t i v i d a d e de distribuição de u m dado elemento x n u m a lín-
gua o u dialeto. M a s poderemos também a p r e s e n t a r o m e s m o
fato, tomando-se e m consideração três línguas d i s t i n t a s e ve-
r i f i c a r que não podemos fazer p a r a l e l i s m o s s e m u m a análise
b e m d e t a l h a d a . T a n t o no inglês ( E u r o p a O c i d e n t a l ) , como no
y o r u b a (Nigéria, A f r i c a O c i d e n t a l ) , c o m o no m a c h i p u ( B r a s i l
C e n t r a l ) , e x i s t e u m elemento fônico, o [ n g ] ( o u n v e l a r ) , c o m
características acústicas semelhantes. Porém de que v a l e d i -
zer que estas três línguas p o s s u e m o m e s m o traço fônico [ ng ] ?
E s t a afirmação não n o s fornece n e n h u m a informação p r e c i s a
sobre os r e l a c i o n a m e n t o s deste d e t e r m i n a d o traço fônico [ n g ]
nestas línguas. É necessário e s t u d a r m o s a s u a distribuição.
V e m o s então, que no inglês, o elemento fônico [ n g ] somente
o c o r r e n a posição f i n a l de r a i z e precedido dos contextos fôni-
cos [ I ] , [ a e ] , [ o ] , t i ] , como o c o r r e u respectivamente n a s pa-
l a v r a s sing, sang, song, s u n g ; e também no s u f i x o v e r b a l -ing
[ n g ] , p . e x . , c o m o e m sing-ing, rin-ing, long-ing, study-ing.
Já n a língua y o r u b a o b s e r v a m o s que o elemento fônico
[ n g ] s o m e n t e o c o r r e n a posição silábico-inicial, porém somente
quando seguido dos elementos consonânticos [ k ] , [ g ] , [ w ] .
C o m o podemos v e r através dos seguintes e x e m p l o s :
[mbá] — está alcançando [ n w á ] — está c h e g a n d o

[ m b a ] — está e s c o n d e n d o [nlo] está i n d o


[ m b à ] — está e m p o l e i r a d o
[njo] — esta lutando
[ m f ó ] — está quebrado
[ngko] - está e s c r e v e n d o Intél - está e s p a l h a n d o

[ n g ú n ] — está s u b i n d o f n d ü n ] — está d o e n d o
A d e m a i s , n o t a m o s que o elemento fônico [ n g ] está de u m
certo m o d o ligado ao sentido de " p r e s e n t e contínuo" dessas
formas verbais.
F i n a l m e n t e , n a língua m a c h i p u o b s e r v a m o s que o elemen-
tos fônico [ n g ] somente o c o r r e e m posição silábico-inicial, e m
contexto c o m qualquer vogal, não sendo o b s e r v a d a ocorrência
e m n e n h u m a o u t r a posição. P . e x . :
[ n g o n g o l — pó, t e r r a [thawínga] — jacaré

fngúne] — l u a [hwúngel — ôvo

Ttúnga] — água [kángal — peixe

[hwitúngu] — cabeça [hwingi] — mandioca

[olóngu] — passarinho [yumutúngu] — flor

Podemos, p o r t a n t o , v e r pelo que f i c o u exposto a c i m a quão


i m p o r t a n t e é a determinação d a distribuição de u m elemento
dado n u m a língua. M a i s a d i a n t e i r e m o s v e r como estas p a d r o -
nizações de ocorrência d e t e r m i n a m de u m modo m a r c a n t e o
a p r e n d i z a d o de u m a segunda língua p o r n a t i v o s dessas línguas.
e. Contexto. O u posição de u m elemento dado é a p r o -
x i m i d a d e de o u t r o s elementos que estão e m relação c o m este
elemento e m questão. I n d i c a ocorrência antes, o u depois, de
d e t e r m i n a d o s elementos e m relação c o m o elemento sob con-
sideração. É, e m o u t r a s p a l a v r a s , a contiguidade que sempre
exerce c e r t a influência sobre u m elemento e m questão. A s s i m ,
n a língua t o l o j a b a l ( M é x i c o ) , v e m o s que os elementos fôni-
cos [ t ] e [ t h ] a p r e s e n t a m esta variação de traços fonéticos
devido ao fato de e s t a r e m e m contextos fônicos m u t u a m e n t e
e x c l u s i v o s , como podemos v e r através dos seguintes exemplos :
[chitam] — porco [ c h a t a t h ] — n o m e de p l a n t a

[ m a k t o n ] — venda (de olhos) [muth] — frango

[ p o t o c h ] — n o m e de p l a n t a [nahath] — comprido

[ t i n a n ] — d e p o n t a à cabeça [?inath] — semente

Onde vemos que o elemento fônico [ t ] está sempre segui-


do de contexto vocálico, ao passo que o elemento fônico [ t h j
está s e m p r e seguido do contexto fônico [ 0 ] (silêncio). E m
o u t r a s p a l a v r a s , poderíamos dizer que o elemento fônico [ t ]
o c o r r e e m início e m e i o de p a l a v r a s , ao passo que o elemento
fônico [ t h ] somente ocorre e m f i m de p a l a v r a ( d i a n t e de u m a
j u n t u r a ) . Pelo menos esta é a conclusão b a s e a d a n o c o r p u s
a c i m a . É possível que c o m u m c o r p u s m a i o r tenhamos que
m o d i f i c a r pelo menos e m p a r t e a n o s s a conclusão.

O u t r o exemplo é o do dialeto bolonhês do i t a l i a n o . Há


n e s s a língua os elementos fônicos 11], [ l y ] , [ l ] , [ l h ] . A acor- w

rência de c a d a u m desses elementos é c o n d i c i o n a d a p o r con-


textos fônicos m u t u a m e n t e e x c l u s i v o s , c o m o podemos v e r
através do seguinte c o r p u s :

1. t r a g a s u l w ' ] — m e n i n a 10. [ a v r i l : l ] — a b r i l

2. [ v o : l w f ] — v e z e s 11. T f r a d e :1] — irmão

3. [ a c h k o : l w ' ] — chalé 12. [ f r a d e : 1 ] — irmãos

4. l a l h - m i n ó m m ' ] — m e u n o m e 13. [ l i ] — e l a

5. [ a l h - m i n u t : t ' l — o m i n u t o 14. [ l a t u : l w ' ] — (êle) pega

6. [ a l h - m i d i a : t ' ] — i m e d i a t a m e n t e 15. [ l u : s l — l u z

7. [aly-iónt'] — o d e n t e 16. [ l o ] — êle

8. i a l - i u r a c h ' ] — a o r e l h a 17. [ l e i — é

9. [aly-ióra] — a h o r a 18. [ a t u l a n ] — ( n ó s ) pegamos

Através dos exemplos a c i m a podemos v e r c l a r a m e n t e co-


m o o contexto exerce m a i o r o u m e n o r influência sobre u m
elemento dado. 1) O b s e r v a m o s que o contexto de ocorrência
do elemento fônico [ 1 ] é somente quando precedido de vogais
posteriores ( i t e n s 1, 2, 3 ) , e somente quando a vogal faz p a r t e
d a m e s m a sílaba; quando isto não se dá, i.e., quando a vogal
precedente pertence à sílaba a n t e r i o r , o elemento fônico e m
questão a p r e s e n t a o u t r o s traços fonéticos, como podemos v e r
pelas f o r m a s [ f a s u l a : t ' ] t a - t u l a n ' ] , [ k u t u l a : t ' ] , onde a d i v i -
(

são silábica é fa-su-la :t', a-tu-lan', k u - t u - l a :t'. 2 ) A ocorrência


do elemento fônico [ l y ] se dá somente q u a n d o este é seguido
do contexto vogal [ i ] (não silábica, o u e m ocorrência sonân-
t i c a ) , ( i t e n s 7, 8, 9 ) . 3 ) A ocorrência do elemento fônico [ l h ]
somente se dá q u a n d o seguido do contexto [ m ] , o q u a l p r o -
v o c a a variação, ( i t e n s 4, 5, 6 ) . 4 ) A ocorrência do elemento
fônico [ 1 ] se dá 1º e m posição silábico-inicial, quando seguido
de vogal e m ocorrência silábica; 2 " ) e m posição silábico-final
quando precedido de vogal a n t e r i o r que pertença à m e s m a
sílaba do elemento fônico e m questão ( i t e n s 10 a 1 8 ) . A i n -
fluência do contexto é m u i t a s vezes e x e r c i d a m e s m o q u a n d o
situados e m o u t r a s posições do vocábulo, que não a c o n t i n g u i -
dade i m e d i a t a , como podemos v e r pelo seguinte c o r p u s d a
língua t u r c a contemporânea:

1. [ b a s h i m l — m i n h a cabeça 9. [ d i s h i m ] — m e u d e n t e

2. l y a s h i m l — m i n h a idade 10. [ e v i m ] — minha casa

3. [ k l z l m ] — m i n h a m e n i n a 11. [ e l i m ] — m i n h a m ã o

4. I b a ü k l m ] — m e u p e i x e 12. [ z i l i m ] — m e u s i n o

5. [ k o l u m ] — m e u b r a ç o 13. t g ü l ü m ] — m i n h a r o s a

6. [ k u s h u m ] — m e u p á s s a r o 14. [ g õ z ü m ] — m e u olho
7. T d o s t u m ] — m e u amigo 15. [ s ü t ü m ] — m e u leite

8. f g u r u r u m ] — m e u orgulho 16. [ g õ n ü l ü m ] — m e u coração.

Onde v e m o s que a ocorrência dos segmentos - i m , i m ,


-um, -üm, é d e t e r m i n a d a pelo segmento vocálico p r e c e d e n t e :
se f o r [ a ] o u [ f ] o c o r r e H m ] se f o r [ e ] o u f ] o c o r r e - i m ; se
;
[

f o r [ o ] o u [ u ] o c o r r e - u m ; se f o r [ õ ] o u [ ü ] ocorre-üm. E s t e
fato é geralmente denominado a r m o n i a vocálica t u r c a . Pelo
que f i c o u exposto a c i m a podemos a q u i l a t a r a grande i m p o r -
tância do contexto, i.e., do r e l a c i o n a m e n t o exercido p o r u m
elemento sobre o u t r o quando e m contiguidade, o u m e s m o e m
o u t r a s posições. Resta-nos f i n a l m e n t e dizer que este fato l i n -
güístico não deve s e r entendido como u m a influência " n a t u -
r a l " e x e r c i d a p o r u m elemento sobre o u t r o , p. e x . p o r u m [ i ]
sobre u m [ s ] precedente, tornando-o p a l a t i l i z a d o , devido à
articulação n o r m a l m e n t e p a l a t a l do elemento fônico [ i ] . I s t o
pode acontecer às vezes, m a s não é condição a b s o l u t a . O que
parece " n a t u r a l " n u m a língua pode não o ser e m o u t r a , e vice-
v e r s a ; o u tome-se o m e s m o e x e m p l o do dialeto bolonhês, já
citado, onde não há u m a explicação " n a t u r a l " articulatória
p a r a a ocorrência d a v a r i a n t e [ l h ] diante de contexto fônico
L m ] . O fato i m p o r t a n t e é o r e l a c i o n a m e n t o mútuo, e a r e s t r i -
ção d a distribuição de u m elemento dado n u m a língua o u dia-
leto.

f. F o n e m a . É u m dos conceitos m a i s i m p o r t a n t e s d a
m o d e r n a lingüística d e s c r i t i v a . U m dos p r i m e i r o s passos p a r a
a c l a r a compreensão do fato é entender o f o n e m a c o m o a mí-
n i m a u n i d a d e de c o n t r a s t e . A s enunciações m i n i m a m e n t e dife-
rentes ( p a r e s mínimos), d i f e r e m e m apenas u m de seus ele-
mentos ( s e g m e n t o s mínimos). E s t a s enunciações são segmen-
tadas em u n i d a d e s e s t r u t u r a l m e n t e idênticas (porém não ne-
c e s s a r i a m e n t e idênticas sob o ponto de v i s t a do " t e m p o " foné-
t i c o ) . A s s i m , t e m o s n a língua inglesa os seguintes itens léxi-
cos : Só é fonema se tiver prova que contrasta;

1. pit [phif] 13. team [thiym]

2. bit — [bit'] 14. deem — [diym]

3. pat — [ p a e t l 15. town — [thawn]

4. bat — [baetl 16. down — [dawn]


Fonética é a descrição
concreta dos sons, 5. peat — [phiyt'1 17. cut — [khaf]
como os sons são
produzidos; A 6. b e a t — [biyt'l 18. gut — [gat'l
transcrição fonética
busca representar 7. pill — [phil] 19. come — [ k h a m ]
fielmente como se fala;
8. bill — [bill 20. gum — [gam]
A fonologia interpreta a
fala; Analisa os fones; 9. tip — [thip'J 21. cold — [khowld']
Interpretação os sons;
10. dip — [dip'] 22. gold [ g o w l d ' l
11. ton — [than] 23. kilt — [khilf]

12. done — [dan] 24. guilt — [gilt']

Onde v e m o s que os itens de número p a r e os itens de


número ímpar se c o n t r a s t a m pela ausência, n o s p r i m e i r o s , do
traço acústico (fonético) d a sonorização das cordas v o c a i s , e
d a presença, n o s segundos, desse traço. Os itens a c i m a são
exemplos típicos de p a r e s mínimos, c o m o traço fonético dife-
r e n c i a d o r voz-sem voz.
Fonética - fone (fala: sequencia de sons que tem significado dentro de um sistema de comunicação);

Fonologia - fonema (língua: quais são os sons que um sistema de comunicação {língua} produz?);

Ortografia - língua e fala;

Observemos, porém, m a i s os seguintes i t e n s :

25. top — [thop'] 31. st6p — [stop']

26. tap — [thaep'] 32. stap — [staep']

27. tick — [thik] 33. stick — [stik']

28. tink — [thingk] 34. stink — [stingk']

29. pot — [phot'] 35. spot — [sp6t']

30. pit — [phif] 36. spit' — [spit']

37. tick — [thik'] 44. attic — [aetik]

38. ting — [thing'] 45. acting — [aekting]

39. Tom — [thorn] 46. atom — [aetam]

40. tin — [thin] 47. eaten — [iytan]


41. purr — [par] 48. upper — [apar]

42. picks — [phiks] 49. sticks — [stiks]

43. ticks — [thiks] 50. attics — [aetiks]

Onde vemos que há u m a identidade sob o ponto de v i s t a


do " t e m p o " acústico, m a s não do ponto de v i s t a d a p a d r o n i -
zação fonética, entre os itens 25 e 3 1 ; 26 e 3 2 ; 28 e 3 4 ; 37 e 4 4 ;
39 e 4 6 ; 40 e 4 7 ; etc. Os itens [ s t i k ] , [ e ' t i k ' ] , [ t h i k ' ] , c o n f r o n -
tados a i n d a c o m [ t h i k ] , [ p h i k s ] , [ s t i k s ] , áetiks, nos r e v e l a m
que entre o segmento [ t h i k ' ] e o segmento [ s t i k ' ] como t a m -
bém entre o segmento [ s t i k ' ] e o segmento [ e ' t i k ] , e e m ou-
tros p a r e s apresentados a c i m a , a mínima diferença é a pre-
sença de aspiração e m [ t h i k ' ] , [ t h i n k ' ] , etc., e ausência d a mes-
m a e m [ s t i k ' ] , [ s t i n k ' ] , etc. O b s e r v a m o s também que e n t r e
os segmentos [ s t i k ' ] e Ee' t i k ' ] as duas únicas diferenças são:
a presença, no i t e m [ s t i k ' ] do elemento fônico [ s ] , e a p r e -
sença, no i t e m [ e ' t i k ' ] do elemento fônico [ e ] ; que também
entre os segmentos [ p h i k ' ] e [ p h i k s ] , [ s t i k ' ] e [ s t i k s ] ,
[thik'] e[ t h i k s ] , a mínima diferença é a presença, nos segun-
dos, do elemento fônico [ s ] , o que nos l e v a a c o n c l u i r que a
seqüência [ s t ] não é u m segmento mínimo, m a s f o r m a d o de
[ s + t ] , e m v i s t a do c o r p u s a c i m a . P o r outro lado, apesar
do inglês a p r e s e n t a r também os i t e n s :
at [aef] hat [haef]

it [if] hit [hif]

ell [el] hell [hei]

owl [aul] howl [hawl]

err [ãr] her [hãr]

A distiibuição, e também o ponto de articulação dos dois


traços fônicos ( o segmento h de [ h e t ' J e o segmento h de
[ p h a e t ' ] , são completamente diferentes, obrigando-nos a esta-
belecer que stap = s + tap, e onde temos e s t r u t u r a l m e n t e , n o
p r i m e i r o i t e m ( t a p ) , três segmentos, e no segundo i t e m ( s t a p ) ,
q u a t r o segmentos, e n q u a d r a n d o , portanto, o segmento [ t h l
como e m tap e o segmento [ t ] como e m attic o u stap, como
dois m e m b r o s de u m a m e s m a classe, o u como dois pontos de
u m m e s m o padrão fônico, o u f o n e m a . O fonema, sob este
ponto de v i s t a é u m a mentalização o u ideação, u m a teorização
necessária p a r a u m a simplificação d a descrição lingüística,
pois, de o u t r o modo permaneceríamos no nível p u r a m e n t e fo-
nético e teríamos que estabelecer u m número m u i t o m a i o r de
elementos mínimos, que p o d e r i a f a c i l i t a r a descrição de c a d a
v a r i a n t e p a r t i c u l a r , i m p o s s i b i l i t a n d o porém, a visão de con-
j u n t o . E s t a sintetização de elementos tônicos é, e m última
análise, a m a i s i m p o r t a n t e contribuição d a fonêmica à descri-
ção lingüística.

São os seguintes os fatos f u n d a m e n t a i s r e l a t i v o s aos fone-


m a s sob o ponto de v i s t a d e s c r i t i v o :

1. segmentos mínimos ( c o n t r a s t e s )
2. identidade de " t e m p o " condicionado pelo padrão fo-
nético.

3. distribuição c o m p l e m e n t a r ( v a r i a n t e s p o s i c i o n a i s ) .

g. M o r f e m a . U m dos fatos f u n d a m e n t a i s que a nossa


observação a s s i n a l a (depois de termos esgotado toda a seg-
mentação e distribuição fonética de u m a língua d a d a ) , é que
certas seqüências de fonemas r e c o r r e m e repetem-se e m cer-
tos contextos ao longo das enunciações. C o m o podemos obser-
v a r , p. e x . através do seguinte c o r p u s do alemão m o d e r n o :
;
machen fazer ringen tocar gehen ir
lachen rir singen cantar sehen ver

wachen velar bringen trazer stehen estar (de pé)

Hand mão Licht luz Wein vinho

Land terra Nicht noite Bein perna'


Sand areia Wicht anão Sein ser, e s t a i

S e t e n t a r m o s , dentro do m e s m o nível de análise, desco-


b r i r o c o n d i c i o n a m e n t o de certas alterações, v e r i f i c a m o s p. ex.,
que c o m a alteração do contexto obtemos, não u m a alteração
do fonema, m a s u m a alteração de todo o segmento de fone-
m a s . C o m o podemos v e r pelas seguintes enunciações:

1. E r w i r d d a s B u c h a u f m a c h e n Êle v a i a b r i r o l i v r o

2. E r w i r d d a s B u c h auflachen Êle v a i r i r o l i v r o

3. E r w i r d auflachen Êle v a i d a r gargalhadas

4. E r i s s t d a s Brot Êle c o m e o pão

5. E r m i s s t d a s Brot Êle sente falta do pão

6. E r m i s s t d a s P u l t Êle s e n t e f a l t a d a m e s a .

Onde observamos que enquanto a enunciação 1 é de acor-


rência c o m u m , não se v e r i f i c a a ocorrência d a enunciação 2, e
a 3, c o m o a p r i m e i r a , é também de ocorrência freqüente. F a t o
semelhante se dá c o m a s três enunciações seguintes. E n q u a n t o
a 4 ' e a 6' são de ocorrência c o m u m , a 5^ poderia o c o r r e r so-
mente e m circunstâncias m u i t o especiais. Podemos o b s e r v a r ,
pois, c o m o já foi dito, que c o m a alteração do contexto Brot
por Pult ( d u a s enunciações c o m u n s ) , obtemos, não s i m p l e s -
mente u m a alteração do fonema ( n a s f o r m a s isst e m i s s t ) , m a s
u m a alteração de toda a série de fonemas. D o m e s m o modo,
c o m a alteração do fonema, obtemos alteração de todo o con-
texto ( p . e x ? : " E r w i r d das B u c h a u f m a c h e n " e " E r w i r d das
B u c h a u f l a c h e n " ; o u " E r isst das B r o t " e " E r m i s s t das P u l t " ) .
E s t e s fatos nos l e v a m a c o n c l u i r que temos que c o n s i d e r a r
esses p a r c i a i s recorrentes c o m o unidades o u partes de u n i d a -
des constituídas de u m a c e r t a seqüência de fonemas e perten-
cendo a u m nível distinto de padronização, o nível morfêmico.
Os m o r f e m a s são, portanto, e m p r i m e i r o lugar, certos p a r c i a i s
recorrentes constituídos e m geral de u m a seqüência l i m i t a d a
de elementos fônicos. E s s e s p a r c i a i s r e cor re n te s ( o u p a r c i a i s
mínimos) estão i n v a r i a v e l m e n t e associados a u m sentido de-
t e r m i n a d o ( p o i s a alteração de u m desses elementos r e c o r r e n -
tes s e m p r e i m p l i c a e m alteração de m e n s a g e m ) , e deste modo,
são também definidos como os segmentos significativos míni-
mos ( o u a mínima unidade c o m s e n t i d o ) .

U m dos procedimentos m a i s c o m u n s p a r a a identificação


desses p a r c i a i s mínimos o u m o r f e m a s é v e r i f i c a r se u m a d a d a
enunciação pode ser c o n f r o n t a d a c o m o u t r a s e m seqüências
fonêmicas idênticas, c o m exceção de apenas u m desses elemen-
tos r e c o r r e n t e s . C o m o podemos v e r através das seguintes for-
m a s do m o d e r n o dialeto a s t e c a de V e r a c r u z ( M é x i c o ) :

1. n i c h o k a — eu choro 7. n i m a y a n a s — eu estarei com


fome
2. n i c h o k a ? — eu chorei

3. n i m a y a n a — eu estou c o m 8. t i c h o k a — você c h o r a
fome
9. n i c h o k a y a — eu tenho estado
4. n i m a y a n a ? — eu estava com c o m fome
fome
10. n i c h o k a s — eu chorarei
5. n i m a y a n a y a — e u t e n h o e s t a -
do c o m f o m e
11. n i t e h k a w i — e u subo
6. t i m a y a n a — você está com
fome 12. n i t e h k a w i ? — você s u b i u .

O que temos a fazer é o s e g u i n t e :


1. C o m p a r a r f o r m a s e sentidos
2. T e n d o isolado u m a possível f o r m a pertinente, con-
f r o n t a r c o m os demais itens do corpus
3. C l a s s i f i c a r as alterações e estabelecer as c a u s a s ( o
c o n d i c i o n a m e n t o ) das alterações.

Como podemos o b s e r v a r , os segmentos dos itens 1 e 2, 3


e 4, 11 e 12, d i f e r e m e m apenas u m ponto, o segmento - ? , e
v e r i f i c a m o s que a f o r m a v e r b a l m u d a de t e m p o ; do m e s m o
m o d o v e m o s que os itens 2 e 10, d i f e r e m e m apenas u m ponto,
o segmento - s , e v e r i f i c a m o s que a f o r m a v e r b a l também m u d a
de t e m p o ; do m e s m o modo vemos que os itens 1 e 8, 3 e 6,
d i f e r e m e m apenas u m ponto, o segmento t i - o u ni-, e que esses
segmentos i n d i c a m respectivamente mudança de p e s s o a ; etc.
Devido à exiguidade do corpus a c i m a , não podemos c o n c l u i r
definitivamente, m a s podemos estabelecer p r o v i s o r i a m e n t e
que a o c l u s i v a glotal ( ? ) está a s s o c i a d a c o m a formação do
passado dos v e r b o s ; a s i b i l a n t e ( s ) está a s s o c i a d a c o m a for-
mação do f u t u r o dos v e r b o s ; os segmentos n i - e t i - são p r o -

vàvelmente p r e f i x o s p e s s o a i s ; e os segmentos coka, m a y a , teh-


k a w i i n d i c a m respectivamente " c h o r a r " , " e s t a r c o m f o m e " , e
"subir".

O u t r o fato f u n d a m e n t a l r e l a t i v o a este nível de e s t r u t u r a -


ção é a o r d e m o u seqüência de posição dos respectivos seg-
mentos recorrentes, u n s e m relação aos outros. C a d a u m dos
segmentos r e c o r r e n t e s não t e m v a l o r absoluto, depende d a
ocorrência c o m todos os demais elementos e m u m a seqüência
mandatória. É c o m o o s i s t e m a de luzes do tráfego p o r m e i o
das cores verde, a m a r e l o , v e r m e l h o . I s o l a d o s , c a d a u m desses
elementos não t e m v a l o r padronizado, são como f a r r a p o s de
pano n u m fundo de q u i n t a l . Porém, n a seqüência verde-ama-
relo-vermelho, e e m d e t e r m i n a d o s pontos ( e s q u i n a s ) , t r a n s -
m i t e m sentido c o m u n i c a t i v o . E m o u t r o s lugares, p. ex?, n u m a
floresta, não t e r i a m sentido a l g u m . O m e s m o se dá c o m u
língua, c o m a e s t r u t u r a morfêmica; o contexto de luzes é po-
rém substituído pelos outros m o r f e m a s n u m a d e t e r m i n a d a
o r d e m e c o m sentidos específicos e m situações específicas.
C o m o podemos o b s e r v a r c o m o seguinte corpus d a língua s u a -
h i l i (África O r i e n t a l ) :

1. a t a n i p e n d a — êle gostará d e m i m
2. a t a k u p e n d a — êle gostará d e você
3. a t a m p e n d a — êle gostará dele
4. a t a t u p e n d a — êle gostará d e nós
5. a t a w a p e n d a — êle gostará d e l e s
6. n i t a k u p e n d a — e u g o s t a r e i d e você
7. n i t a m p e n d a — e u g o s t a r e i dele
8. n i t a w a p e n d a — e u gostarei deles
9. u t a n i p e n d a — você gostará d e m i m
10. u t a m p e n d a — você gostará dele
11. t u t a m p e n d a — nós g o s t a r e m o s dele
12. w a t a m p e n d a — e l e s gostarão dele
13. a t a n i p i g a — êle m e baterá
14. a n a n i p i g a — êle está m e b a t e n d o
15. a m e n i p i g a — êle t e m m e b a t i d o
16. a l i n i p i g a — êle m e b a t e u
17. n i n a p i g a — eu estou batendo
18. n i t a p i g a — eu baterei
19. n i l i p i g a —• e u b a t i
20. n i m e p i g a — eu tenho batido
R e s u m i n d o as conclusões baseadas n a s confrontações dos
v i n t e itens a c i m a , i d e n t i f i c a m o s os seguintes segmentos p e r t i -
nentes : n l p r i m e i r a pessoa do s i n g u l a r , sujeito e o b j e t o ; u
segunda pessoa do s i n g u l a r , s u j e i t o ; k u segunda pessoa do s i n -
gular, o b j e t o ; a t e r c e i r a pessoa do s i n g u l a r , s u j e i t o ; m tercei-
r a pessoa do s i n g u l a r , o b j e t o ; tu p r i m e i r a pessoa do p l u r a l ,
sujeito e o b j e t o ; w a t e r c e i r a pessoa do p l u r a l , s u j e i t o e o b j e t o ;
penda sentido de " g os t a r " ; piga sentido de " b a t e r " . E s t e s vá-
r i o s segmentos pertinentes ( o u s i g n i f i c a t i v o s ) o c u p a m posi-
ções f i x a s o u sucedem-se n u m a seqüência o r d e n a d a e m a n -
;

datória. N o c o r p u s apresentado a c i m a , temos que a s s i n a l a r


q u a t r o posições f u n d a m e n t a i s : d-c-b-a, onde "a" somente pode
ser preenchido p o r segmentos d a classe " a " , i.e., penda, piga;
a posição " b " somente pode ser p r e e n c h i d a p o r segmentos d a
classe " b " , i.e., ni, ku, m, tu, w a ; a posição "c" somente pode
ser p r e e n c h i d a p o r segmentos d a classe " c " , i.e., ta, na, me, l i ;
f i n a l m e n t e a posição " d " somente pode ser p r e e n c h i d a p o r
elementos d a classe " d " , i.e. ni, um, a, tu, wa. E s t a s q u a t r o
posições também i n d i c a m os seguintes sentidos básicos: " a "
significação f u n d a m e n t a l d a enunciação; " b " o b j e t o ; " c " tem-
po da ação; " d " sujeito. E s t a é a seqüência mandatória e m
f o r m a s v e r b a i s d a língua s u a h i l i , c o m base no c o r p u s a c i m a .

F a t o semelhante também é encontrado e m línguas euro-


péias. C o m o podemos v e r pelo seguinte corpus do l a t i m :
laudo laudabam laudabo

laudas laudabas laudabis

laudat laudabat laudabit

laudamus laudabamus laudabimus

laudatis laudabatis laudabitis

laudant laudabant laudabunt

Onde vemos que os segmentos -o o u - m , - s , -t, - m u s , -tis,


-nt, são segmentos i n d i c a t i v o s de p e s s o a ; que os segmentos
-ba-, -bi-, - b u - , -b r , são segmentos i n d i c a t i v o s de t e m p o ( b a *
i m p e r f e i t o ; b, b i , b u = f u t u r o ) ; que o segmento - a - c l a s s i f i c a
o i t e m e m questão n u m a d e t e r m i n a d a classe, ( i . e . , p r i m e i r a
conjugação); que o segmento l a u d - e x p r e s s a a significação
f u n d a m e n t a l (i.e., sentido de " l o u v a r " ) . T e m o s , portanto, q u a -
t r o posições: a-b-c-d; a-b-d são de ocorrência mandatória, " c "
somente quando necessário. Como no outro exemplo, estas
posições somente poderão s e r preenchidas p o r elementos das
respectivas classes a-b-c-d. Pelo que já f i c o u exposto pode-
mos também a f i r m a r que os segmentos significativos, as mí-
n i m a s unidades desse nível de estruturação são também clas-
ses de segmentos e que conferem ao c o n j u n t o certas caracte-
rísticas c o m u n s de significação. E s t a s classes identificadas
a c i m a também são c l a s s i f i c a d a s c o m o 'categorias s e l e t i v a s " .

O u t r o fato f u n d a m e n t a l c o m relação aos m o r f e m a s e m


geral é a alternância ( o u variação) morfêmica. É fato seme-
lhante à variação fonêmica. A s s i m , pois, os m o r f e m a s , c o m o
os fonemas, e x i s t e m e m relação u n s c o m os outros, e de acor-
do c o m o contexto, podem a p r e s e n t a r alternâncias d e s c r i t i v a -
mente identificáveis e classificáveis e m vários tipos de acordo
c o m o s e u condicionamento. C o m o podemos o b s e r v a r pelo
seguinte corpus do t u r c o m o d e r n o :

1. a d a m — h o m e m 31. gülünüz — v o s s a s r o s a s
2. a d a m l a r — h o m e n s 32. k a d i n l a r — m u l h e r e s
3. b a s h — cabeça 33. k i t a p — l i v r o
4. b a s h l a r — cabeças 34. k i t a p i m — m e u l i v r o
5. b a s h l m — m i n h a cabeça 35. k i t a a i m i z — n o s s o l v r o
6. b a s h l a r i m i z — n o s s a s cabeça 36. k i t a p i m — s e u l i v r o
7. b a l i k i m — m e u p e i x e 37. k i z l a r i m — m i n h a s m e n i n a s
8. b a l i k l a r — m e u s p e i x e s 38. k i z i m — m i n h a m e n i n a
9. b a l i k l a r l m — m e u s p e i x e s 39. k o l l a r l m i z — n o s s o s braços
10. chõller — d e s e r t o s 40. k o l u m — m e u b r a ç o
11. d i s h i m — m e u d e n t e 41. k u s h l a r — pássaros
12. d i s h l e r — d e n t e s 42. k u s h l a r i m — m e u s pássaros
13. d o s t l a r — a m i g o s 43 k u s h u m — m e u pássaro
14. d o s t u m u z — n o s s o a m i g o 44. p u l u m — m e u s e l o ( d e C o r -
15. e l — m ã o reio)
16. e l i m — m i n h a m ã o 45. p u l l a r l m — m e u s s e l o s
17. e l l e r — mãos 46. s e s i m — m i n h a v o z
18. e l l e r i m — m i n h a s mãos 47. s e s l e r i n i z — v o s s a s v o z e s
19. e l l e r i m i z — n o s s a s mãos 48. süt — leite
20. e l l e r i n i z — v o s s a s mãos 49. sütüm — m e u leite
21. e v i m — m i n h a c a s a 50. siitünüz — v o s s o leite
22. gõnüllerimiz — n o s s o s co- 51. y a s h —> i d a d e
rações 52. y a s h l n — s u a i d a d e
23. gõnülüm — m e u coração 53. y a s h i m — m i n h a i d a d e
24. gõzlerim — m e u s o l h o s 54. y ü z ü m — m e u r o s t o
25. gõzleriniz — v o s s o s o l h o s 55. yüzün — s e u r o s t o
26. gõzüm — m e u olho 56. y u z l e r i m i z — n o s s o s r o s t o s
27. g u r u r u n u z — v o s s o o r g u l h o 57. z i l i m — m e u s i n o
28. günler — d i a s 58. z i l i n — s e u s i n o
29. güller — r o s a s 59. z i l l e r — s i n o s
30. gülüm — m i n h a r o s a 60. z i l l e r i n — s e u s s i n o s
C o m base no c o r p u s a c i m a , v e m o s que n e s s a língua u m a
das características f u n d a m e n t a i s d a m o r f o l o g i a é a ocorrência
de seqüências regulares de específicas classes de segmentos
significativos ( o u m o r f e m a s ) . O b s e r v a m o s , através dos exem-
plos a c i m a a ocorrência de três posições que c h a m a r e m o s de
posições a-b-c, posições essas que somente poderão ser pre-
enchidas p o r segmentos das r e s p e c t i v a s classes " a " , " b " , " c " ;
sendo que a classe " c " pode i n d i c a r c + c , o u s i m p l e s m e n t e
1 2

c , m a s n u n c a somente c , c o m o podemos v e r pelos seguintes


1 2

gõnül-ler-im-iz ( 2 2 ) ses-ler-in-iz ( 4 7 ) bashfm


a-b-ci-cs a-b-ci-c2
a-c
1

el-ler-im (18) adam-lar (2) goz-üm ( 2 6 )


a-b-c1
a-b a-c1

Outro fato i m p o r t a n t e p a r a u m a c l a r a compreensão do


m e c a n i s m o de alternância morfêmica é a d i c o t o m i a das vo-
gais e m dois grupos d i s t i n t o s : 1. a n t e r i o r e s — i , e, õ, ü ; 2. pos-
teriores — i , a, o, u . E s t a divisão é m u i t o i m p o r t a n t e porque
há u m a série de r e l a c i o n a m e n t o s mútuos entre as vogais dos
segmentos d a classe " a " e as vogais dos segmentos das demais
classes. 0 contexto condicionante é s e m p r e a última vogal dos
segmentos d a classe "a" Q U E d e t e r m i n a que vogais ocorrerão
nos segmentos d a classe " c " , quando não há ocorrência de seg-
mentos d a classe " b " . Porém, quando há ocorrência de seg-
mentos d a classe " b " , é a vogal destes que d e t e r m i n a a ocor-
rência das vogais dos segmentos d a classe " c " .

A ) Quando não há ocorrência de segmentos d a clas-


se " b " .
1. Quando a última vogal dos segmentos d a classe "a"
fôr a n t e r i o r ( i , e, õ, ü ) , a s vogais dos segmentos d a c l a s s e " c "
também serão a n t e r i o r e s , sendo que se a vogal fôr a r r e d o n d a -
d a no segmento d a classe "a" também serão a r r e d o n d a d a s nos
segmentos d a c l a s s e " c " . P. e x . :

ev-im gonül-üm
dis-im gõz-üm
el-im gül-üm
ses-im gül-ün-üz
zil-im süt-ün-üz
zil-in yüz-üm
2 . Q u a n d o a última v o g a l dos segmentos d a classe "a"
fôr p o s t e r i o r ( i , a, o, u ) , a s vogais dos segmentos d a classe
" c " também serão posteriores, sendo que se a vogal fôr a r r e -
d o n d a d a no segmento d a classe "a" também serão a r r e d o n d a -
das nos segmentos d a classe "c". P. e x . .

balik-im kol-um

bash-:im pul-um

kis-ím kus-um

kitap-im gurur-un-uz

yash-in dost-um-uz

B) Q u a n d o há ocorrência de segmentos d a classe " b " :

1. F u n c i o n a o m e s m o princípio exposto nos i t e n s A - l


e A-2, e n t r e t a n t o há apenas u m a f o r m a e m vez de d u a s ; q u a n -
do a última vogal dos segmentos d a c l a s s e "a" fôr a n t e r i o r ( i ,
e, ö, ü ) a vogal dos segmentos d a classe " b " será também ante-
r i o r ( f o r m a l e r ) ; quando a última vogal dos segmentos d a
classe "a" fôr p o s t e r i o r ( i , a, o, u ) , a vogal dos segmentos d a
classe " b " será também p o s t e r i o r ( f o r m a l a r ) . P. e x . :

dis-ler adam-lar

el-ler balik-lar

gün-ler koLlar-ím-íz

göz-ler-im dost-lar

zil-ler pul-lar-im

2 . F u n c i o n a o m e s m o princípio exposto n o s itens A - l e


A-2, entretanto, quando h o u v e r ocorrência de segmentos d a
classe "c" precedidos p o r segmentos d a c l a s s e " b " , a vogal
condicionante será a dos segmentos d a classe " b " . P. e x . :

el-ler-im-iz bash-lar-im-iz

göz-ler-in-iz kol-Iar-im-iz

ses-Ier-in-iz kus-lar-im

zil-ler-in kíz-lar-im

yüz-ler-im-iz puljar-im
Pelo que f o i já exposto, vemos c l a r a m e n t e que a c a u s a
dessas alternâncias morfêmicas d a língua t u r c a está e m con-
textos fonêmicos. O u e m o u t r a s p a l a v r a s : a s variações morfê-
m i c a s são fonêmicamente condicionadas e também obedecem
ao princípio da distribuição c o m p l e m e n t a r ; onde u m a v a r i a n t e
ocorre, os o u t r o s não o c o r r e m , e vice-versa. U m a vez estabe-
lecidos os elementos e os contextos condicionantes, as v a r i a -
ções poderão s e r p r e v i s t a s p o r meio de r e g r a s que e x p r e s s a m
essas r e g u l a r i d a d e s . E s t e tipo de variação é geralmente des-
c r i t a c o m o variação morfo-fonêmica, e geralmente c o r r e s p o n -
de às c h a m a d a s r e g u l a r i d a d e s ( c o m o é o caso dos verbos r e -
gulares, p l u r a i s regulares, das línguas européias) das alter-
nâncias morfêmicas.
Há, porém, u m outro tipo de variação morfêmica. C o n s i -
deremos p a r a análise o seguinte corpus d a língua s u a h i l i :

1. m t o t o — criança watoto — crianças


2. m t u — pessoa w a t u — pessoas, gente
3. m p i s h i — cozinheiro wapishi — cozinheiros
4. m s w a h i l i — h o m e m suahili waswahili — homens suahilis
5. m s h a l e — flexa mishale — flexas
6. m t i — árvore miti-árvores
7. m z i g o — carga mizigo — cargas
8. m k u f u — c o r r e n t e mikufu — correntes
9. m t e g o — armadilha mitego — armadilas
10. n g o m a — tambor ngoma — tambores
11. n g a o — escudo ngao — escudos
12. n d i z i — banana ndizi — bananas
13. n d o t o — sonho ndto — sonhos

14. m b o g a — v e g e t a l mboga — vegetais


15. m b u — mosquito mbu — mosquitos

16. k ^ u k u — frango k uku —


h
frangos

17. k a m b a
h
— corda k amba
h
— cordas
18. t ^ e m b o — elefante t embo —
h
elefantes

19. p e m b e
h
— chifre p e m b e — chifres
h

20. n z i g e — gafanhoto nzige — gafanhoto


21. s a f a r i — viagem safari — viagens

22. s i m b a — leão s i m b a — leões


23. fiumba — casa numba — casas
24. f i u k i — abelha fiuki — abelas
25. k i k a p u — cesto vikapu — cestos
26. k i s u — faca visu — facas
27. k i t a b u — l i v r o vitabu — livros
28. k i p i n i — cabo vipini — cabos

29. k i t i — banco viti — bancos

30. k i t o t o — bebê vitoto — bebês

31. g a r i — carroça magari — carroças


32. s h o k a — machado mashoka — machados
33. k a s h a — armário makasha — armários
34. j e m b e — enxada majembe — enxadas
35. b o g a — abóboras maboga — abóboras

36. u b a o — pranca mbao — pranchas

37. u b a w a — asa mbawa — asas


38. u d e v u — cabelo ndevu — cabelos

39. u g w e — barbante ngwe — basbantes

40. u w a n d a — c l a r e i r a mbanda — clareeiras


41. u f a g i o — vassoura fagio — vassouras
42. u f u n g u o — chave funguo — chaves

43. u v u m b i — u m p o u c o de p o e i -
ra vumbi — muita poeira

44. u s i k u — noite siku — noites


45. u s h a n g a — c o n t a de c o l a r s h a n g a — c o n t a s de c o l a r
46. w a k a t i — estação ( d o a n o ) fiakati — estações ( d o ano)

47. w a v u — rede fiavu — redes

48. w a y o — pegada fiayo — pegadas


49. w e m b e — navalha fiembe — navalhas
50. w i m b o — canção nimbo — canções

E x a m i n a n d o o corpus a c i m a n o t a m o s que é constituído


de itens dispostos e m duas c o l u n a s , respectivamente s i n g u l a r
e p l u r a l . O b s e r v a m o s também que a grande m a i o r i a dos itens
é f o r m a d a de dois segmentos e m duas posições de ocorrência,
que podemos designar p o r posições b-a. P. e x . :
b — a b — a

m — toto wa — toto

m — tu wa — tu

ki — kapu vi — kapu

ki — pini vi — pini

w — a vu n — avu

w — imbo fi — imbo

T e n t a n d o d e s c o b r i r u m c o n d i c i o n a m e n t o p a r a as a l t e r a -
ções observadas, p o r m a i s que p r o c u r e m o s c a u s a s fonêmicas
p a r a as várias alterações, não há o m e n o r indício de r e g u l a r i -
dade nessas alterações. O único fato que podemos estabele-
c e r é, como já foi dito, ( d e acordo c o m os procedimentos pro-
postos à página 180) c l a s s i f i c a r os itens e m várias classes
condicionados pelo m e s m o procedimento de alternância.
T e m o s , portanto, os seguintes g r u p o s :

Classe I — itens c o m segmentos d a c l a s s e " b " c o m a for-


m a m - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a w a - no p l u r a l . P . e x . :
b — a b — a

m — toto wa — toto

m — pishi w a — pishi

m — tu wa — tu

Classe I I — itens c o m segmentos d a c l a s s e " b " c o m a for-


m a m - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a m i - no p l u r a l . P. ex. :
b — a b — a

m — shale mi — shale

m — ti mi — ti

m — zigo mi — zigo

Classe I I I — itens c o m segmentos d a c l a s s e " b " c o m a


f o r m a k i - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a v i - no p l u r a l . P . e x . :
b — a b — a

ki — kapu vi — kapu

ki — su vi — su

ki — ti v i — ti
Classe I V — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m as
f o r m a s u - * w - no s i n g u l a r e c o m as f o r m a s m - n - ã ^ no p l u -
r a l . P . ex. :
b — a b — a

u — bao m — bao

u — bawa m — bawa

u — devu n — devu

u — gwe n — gwe

w — akati fi — akati

w — imbo n — imbo

C l a s s e V — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m a for-


m a u - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a 0 n o p l u r a l . P. e x . :

b — a
b — a

u — vumbi 0 — vumbi

u — siku 0 — siku

u — shanga 0 — shanga

C l a s s e V I — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m a for-


m a 0 - no s i n g u l a r e c o m a f o r m a m a - no p l u r a l . P ex. :

b — a b — a

0 — gari ma — gari

0 — soka ma — soka

0 — jembe ma — jembe

Classe V I I — itens c o m segmentos d a classe " b " c o m a


f o r m a 0 - tanto no s i n g u l a r como n o p l u r a l . P . e x . :
b — a b — a

0 — ngoma o — ngoma

0 — t embo
h
o — t embo
h

0 — numba 0 — fiumba

E s t a s sete classes c o n s t i t u e m sete procedimentos diferen-


tes de alternância morfêmica (formação do p l u r a l dos n o m e s ) ,
e c l a s s i f i c a m os nomes d a língua s u a h i l i . E s t a s alternâncias,
ao contrário das alternâncias morfo-fonêmicas, não p o d e m ser
p r e v i s t a s e, portanto, reduzidas a regras. O condicionamento
está no próprio m o r f e m a c l a s s e "a" c o m o q u a l o m o r f e m a
classe " b " está relacionado. I s t o c o m base no c o r p u s a c i m a .

F a t o análogo o c o r r e no l a t i m . A o lado de f o r m a s v e r b a i s
regulares ( c h a m a d a s de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª conjugações, identifica-
das pelas f o r m a s t e r m i n a d a s e m -are, -ere, -ere, - i r e ) , e que
a p r e s e n t a m o m e s m o t e m a tanto p a r a o c h a m a d o radical do
presente c o m o p a r a o radical do perfeito, temos também algu-
m a s f o r m a s v e r b a i s que fogem à esta regularidade. P. e x . .

R A D I C A L DO PRESENTE R A D I C A L DO PERFEITO

V e r b o capio, i s , e r e , c e p i , c a p t u m

tndic. pres. imperfeito perfeito subj. imperf.

cap-i-o cap-ie-ba-m cep-i cep-i-sse-m


cap-i-s cap-ie-ba-s cep-i-sti cep-i-sse-s
cap-i-t cap-ie-ba-t cep-i-t cep-i-sse-t
cap-i-mus cap-ie-ba-mus cep-i-mus cep-i-sse-mus
capi-tis cap-ie-ba-tis cep-i-stis cep-i-sse-tis
cap-i-unt cap-ie-ba-nt cep-er-unt cep-i-sse-nt

V e r b o f a c i o , i s , ere, feci, f a c t u m

indie, pres. imperfeito perfeito sub], imperf.

fac-i-o fac-ie-ba-m fec-i fec-i-sse-m


fac-i-s fac-ie-ba-s fec-i-sti fec-i-sse-s
fac-i-t fac-ie-ba-t fec-i-t fec-i-sse-t
fac-i-mus fac-ie-ba-mus fec-i-mus fec-i-sse-mus
fac-i-tis fac-ie-ba-tis fec-i-stis fec-i-sse-tis
fac-i-unt fac-ie-bannt fec-er-unt fec-i-sse-nt

E s t e tipo de alternância morfêmica, ( c o m o v i m o s no sua-


h i l i e no l a t i m ) , é condicionado pelo próprio m o r f e m a e opon-
do sempre pelo menos duas f o r m a s ( o u dois a l o m o r f e s ) , c o m o
no s u a h i l i m-toto e m oposição a m-sale — mi-sale, e no l a t i m
cap-cep, fac-fec, etc. E s t a s alternações são mòrficamente con-
dicionadas, o u c o n s t i t u e m alomorfos mòrficamente condicio-
nados.

F a t o s f u n d a m e n t a i s sobre os m o r f e m a s :
1. segmentos significativos
2. c o n d i c i o n a m e n t o e alternância : morfo-fonêmica o o u
morfêmica

3. classes de segmentos e m seqüências.

h. J u n t u r a s . Analisando-se enunciações de u m a língua


dada, vemos que no f l u x o fônico há procedimentos diferentes
de transição entre os vários tipos de elementos. E m m u i t a s
línguas certos tipos de transição ( j u n t u r a s ) são significantes,
como podemos v e r p. ex., no inglês:

1. /náytrèyt/ 4. /náyt—rèyt/

2. /blêk+bírd/ 5. /blék—bird/

3. /lôn+áylind/ 6. /lòn—áylind/

Onde v e m o s oposição entre os itens 1, 2, 3 e 4, 5, 6. E n t r e


o i t e m 1 e o i t e m 2 há apenas diferença de j u n t u r a ; e n t r e os
itens 2, 3 e 5, 6 há diferença de j u n t u r a e acento. E s t e s fatos
nos o b r i g a m a c o n c l u i r que a s j u n t u r a s são elementos signifi-
cativos, pois, c o m s u a presença o u ausência obtêm-se m e n s a -
gens diferentes. Pelo exposto a c i m a também concluímos que
há certos r e l a c i o n a m e n t o s entre j u n t u r a , acento, e classe m o r -
fêmica. E o b s e r v a m o s que as e s t r u t u r a s fonêmica e morfêmi-
c a são interdependentes.

III) FUNDAMENTOS S O B R E OS QUAIS A L I N G U I S T I C A


DESCRITIVA S EASSENTA

a. L i n e a r i d a d e . E l a se b a s e i a n o caráter l i n e a r o u seg-
m e n t a i das línguas. T o d a s as línguas se i d e n t i f i c a m neste pon-
to que pode s e r d e s c r i t o como o fator de l i n e a r i d a d e o u seg-
m e n t a l i d a d e de seus elementos, desde os menores até os m a i o -
res, pois sabemos que n e m m e s m o dois elementos dados po-
d e m s e r p r o n u n c i a d o s ao m e s m o tempo, de u m a só vez. Os
elementos básicos das línguas se sucedem u n s aos o u t r o s e m
cadeia, ligados p o r vários tipos de transição ( j u n t u r a s ) e i n t e r -
r o m p i d o s p o r silêncios. É semelhante a u m rolo de f i l m e que
v a i pouco a pouco se desenrolando e t r a n s m i t i n d o mensagens
comunicativas.

b. R e g u l a r i d a d e . Como já f i c o u dito logo no início do pre-


sente relato, à página 167, a lingüística d e s c r i t i v a t o m a c o m o
fatos f u n d a m e n t a i s c e r t a s regularidades o u padronizações n a s
línguas. N ã o há, p o r outro lado, a b s o l u t a m e n t e , u m a padro-
nização g e r a l e u n i f o r m e e c o m u m a todas a s línguas, m a s elas
se a p r e s e n t a m sob f o r m a s p a r t i c u l a r e s de configuração, e que
p e r m i t e aos lingüistas r e a l i z a r e m análises de seus elementos
o u p a r t e s , sob critério científico. N ã o há u m a lógica n a t u r a l
n a s línguas m a s u m a padronização que é p a r t i c u l a r a c a d a
caso. E s t a é a característica que também t o r n a possível, a
p a r t i r de u m corpus l i m i t a d o , fazer generalizações válidas p a r a
a totalidade de seus e l e m e n t o s ; o que é válido p a r a u m a p a r t e
é válido p a r a a totalidade.
c. Relatividade. E s t a r e l a t i v i d a d e se e n c o n t r a p r i n c i -
palmente
" n a s relações d e distribuição e n t r e o s traços fônicos e m
questão, i.e., a ocorrência d e s t e s traços r e l a t i v a m e n t e u n s
a o s o u t r o s , n a s enunciações. .. .A única relação q u e será
a c e i t a c o m o r e l e v a n t e , é a distribuição d e n t r o f l u x o fô-
n i c o d e c e r t a s p a r t e s o u traços e m relação a o u t r o s " ( Z .
S . H a r r i s , Structural Linguistics, p. 5).

É neste princípio q u e está subjacente a noção de oposição


o u contraste, executados p r i n c i p a l m e n t e através do método de
comparação e substituição. É pela comparação e p e l a s u b s t i -
tuição que se pode chegar às conclusões sobre a distribuição
de certos elementos e m relação a o u t r o s .
d . E s t r u t u r a F e c h a d a das Línguas. C a d a língua o u d i a -
leto é u m a e s t r u t u r a fechada. C a d a língua e dialeto c o n s t i t u i
u m a e s t r u t u r a toda p a r t i c u l a r . N ã o há n e m dois dialetos o u
línguas p o r m a i s semelhantes que s e j a m ( p o r exemplo o checo
e o eslovaco, o h i n d i e o u r d u ) , que p o s s s u a m idênticas e s t r u -
t u r a s . I s t o pode s e r f a c i l m e n t e demonstrado no caso de u m
p r o b l e m a de decifração le u m a língua desconhecida o u de u m a
mensagem c i f r a d a e que u s a números que s u b s t i t u a m os sons
o u sinais r e p r e s e n t a t i v o s . O inglês p . ex., é a língua n a q u a l
os 7-15-4 = g-o-d; 4-15-7 = d-o-g; 5 1 5 = d-o; 7-15 -
g-o; 7-15-15-4 = g-o-o-d. N e m m e s m o línguas m u i t o próximas
geneticamente falando p o d e r i a m ser d e c i f r a d a s c o m a m e s m a
c h a v e . Há apenas u m a chave p a r a c a d a língua. A lingüística
d e s c r i t i v a , p o r t a n t o , não t o m a e m consideração c a u s a s etimo-
lógicas p a r a explicação de fatos d e s c r i t i v o s .

e. E l e m e n t o s D i s t i n t o s . A língua, o u f a l a , é constituída
o u f o r m a d a de p a r t e s d i s t i n t a s que m u t u a m e n t e se r e l a c i o n a m .
E s p e c i a l m e n t e p a r a a lingüística d e s c r i t i v a , tanto os elementos
m a i s s i m p l e s como os m a i s complexos são constituídos de
sons v o c a i s , i.e., são elementos fônicos c o m certas característi-
c a s acústicas p e c u l i a r e s . E s t e s elementos últimos das línguas
são de número r e l a t i v a m e n t e reduzido quando considerados
sob o ponto de v i s t a de u m a língua p a r t i c u l a r , m a s b a s t a n t e
n u m e r o s o s se fôssemos fazer u m inventário completo p a r a re-
p r e s e n t a r todas a s possíveis minúcias dos elementos fônicos
existentes e m todas a s línguas.

f. Caráter C o n c e p t u a l das U n i d a d e s Lingüísticas. U m a


das contribuições m a i s i m p o r t a n t e s d a lingüística m o d e r n a c
a caracterização c l a r a e p r e c i s a de u n i d a d e s . A s s i m c o m o n a
eletrônica temos o volt, o o h m , o ampere, o w a t t , e t c , que t a m -
bém são conceituações a b s t r a t a s , o u mentalizações, pois ne-
n h u m desses elementos têm existência concreta r e a l , a s s i m
também n a lingüística d e s c r i t i v a , as unidades e m s i são d e s c r i -
tas e consideradas c o m o mentalizações conceptuais, indepen-
dentes de s u a s expressões concretas. É por isso que se diz,
p. ex., que u m f o n e m a dado é impronunciável, o que r e a l m e n t e
p r o n u n c i a m o s são os seus alofones o u v a r i a n t e s posicionais.
E s t a noção está s u j e i t a no conceito de distribuição, que é
princípio f u n d a m e n t a l , e condição sine qua non d a análise
lingüística d e s c r i t i v a .

g. Níveis de Estruturação. C a d a língua o u dialeto exis-


tentes n o m u n d o a p r e s e n t a m certos níveis distintos de e s t r u -
turação. C o m u m propósito u m tanto diverso, o antropólogo
A . L . K r o e b e r propôs três níveis distintos : inorgânicos, orgâni-
co, superorgânico. Comentando-o, o P r o f . J . Mattoso Câmara
J r . diz o s e g u i n t e :

"Ao mundo físico se acrescenta, e m nível superior, um


mundo biológico, o u orgânico, e daí p a r t e p a r a a criação
humana, o u cultural, n u m terceiro nível super-orgânico".
(Princípios d e Linguística G e r a l , p. 19).

N a lingüística d e s c r i t i v a não se pode de modo a l g u m igno-


r a r os vários níveis de estruturação.

U m a das m a i s sugestivas explanações sobre esta questão


foi a p r e s e n t a d a pelo lingüista B . L . W h o r f , no s e u artigo " L a n
guage, M i n d , a n d R e a l i t y " i n Language, Thought, and Reality.
p. 248:
" N a ciência d a lingüística, o s fatos d o p l a n o lingüís-
t i c o n o s l e v a m ao r e c o n h e c i m e n t o d e p l a n o s s e r i a d o s , c a -
da u m explicitamente condicionado por u m a ordem ou
padronização. É c o m o se olhássemos p a r a u m a p a r e d e
coberta c o m delicados desenhos e m f o r m a de renda, e
descobríssemos q u e e s t e p a d r ã o s e r v i a d e b a s e p a r a u m
padrão m a i s vasto, porém a i n d a delicado, de pequenas
f l o r e s ; e t e n d o o b s e r v a d o e s s e p a d r ã o f l o r a l , veríamos
q u e inúmeros espaçamentos constituíam o u t r o padrão, c o -
rno n u m p e r g a m i n h o , e q u e g r u p o s f o r m a v a m l e t r a s , e a s
l e t r a s se a n a l i s a d a s n u m a c e r t a seqüência, s e c o n s t i t u i -
r i a m e m palavras, e as p a l a v r a s linhadas e m coluns, agru-
p a r i a m o b j e t o s , e a s s i m p o r d i a n t e , e m contínua p a d r o -
nização até d e s c o b r i r m o s q u e e s t a p a r e d e e r a — n a r e a -
l i d a d e — u m g r a n d e l i v r o de s a b e d o r i a " !

O fato básico a esse respeito é que os elementos s i m p l e s


do nível e s t r u t u r a l m e n t e " i n f e r i o r " e m c o n j u n t o s , vão f o r m a r
os elementos s i m p l e s do nível e s t r u t u r a l m e n t e " s u p e r i o r " , os
q u a i s , p o r s u a vez, vão se c o n s t i t u i r n o s elementos s i m p l e s de
u m outro nível e s t r u t u r a l m e n t e a i n d a m a i s elevado, f o r m a n d o
u m a c o m p l e x a estruturação de níveis d i s t i n t o s . Porém, estes
diferentes níveis são m u t u a m e n t e interdependentes e i n t e r -
relacionados, não são " c o m p a r t i m e n t o s e s t a n q u e s " , m a s s u b -
e s t r u t u r a s de u m a e s t r u t u r a m a i s v a s t a e u n i v e r s a l .

h. V a r i a b i l i d a d e dos E l e m e n t o s . C o m o já f i c o u demons-
trado no capítulo I I , os elementos lingüísticos não têm f o r m a s
a b s o l u t a s ; a p r e s e n t a m variações o u alternações de acordo
c o m certos condicionamentos. Os elementos lingüísticos não
e x i s t e m isoladamente a não s e r sob u m ponto de v i s t a de iden-
tificação e não n a expressão r e a l d a f a l a . R e t i r a r a v a r i a b i l i -
dade dos elementos é c o m o s e p a r a r a s cores vermeího-amare-
lo-verde das luzes do tráfego, que a s s i m p e r m a n e c e r i a m inú-
teis e s e m sentido. A v a r i a b i l i d a d e , l i g a d a ao r e l a c i o n a m e n t o
dos elementos entre s i , é fato f u n d a m e n t a l das línguas.

1. C o n t r a s t e . É u m dos fundamentos d a noção de fone-


m a , m o r f e m a , etc. O contraste é o f a t o r que d i f e r e n c i a u m a
mensagem que p o d e r i a ser d i t a de u m a o u t r a que também
p o d e r i a ter sido d i t a . A lingüística d e s c r i t i v a u s a o contraste,
o u ausência de contraste, c o m o u m dos critérios m a i s básicos
p a r a o estabelecimento de elementos e padrões lingüísticos.

j. Distribuição. C o m o já f i c o u dito antes, a noção d s


distribuição (especialmente a noção de distribuição comple-
m e n t a r ) , l i g a d o à noção de u n i d a d e s c o n c e p t u a i s , e m b o r a u m a
teorização, é u m e l e m e n t o necessário p a r a a g r u p a r vários seg-
m e n t o s p e r t i n e n t e s , c o m u m a b a s e de r e l a c i o n a m e n t o comum,
p a r a s i m p l i f i c a r e s i s t e m a t i z a r a descrição lingüística.

Observação I m p o r t a n t e : D e v i d o à inexistência d e símbolos fonéti-


cos apropriados foram adotados neste trabalho os seguintes substitu-
tivos :

[ ó ] — vogal posterior baixa tensa


[ a e ] — vogal anterior baixa branda
[ i ] — vogal central alta tensa
[ ã ] — vogal c e n t r a l média branda
[ ? ] — oclusiva glotal
[ch] — africada palatal surda
[ z h ] — f r i c a t i v a côncava s u r d a branda
[ s h ] — f r i c a t i v a côncava s u r d a t e n s a
[ng] — nasal velar
[ l w ] — lateral velarizada
[ly] — lateral palatizada
[lh] — lateral retroflexa

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

1. L . B L O O M F I E L D , Language.

2. A . C A R T e o u t r o s , Grammalre Latine.

3. H . A . G L E A S O N , A n Introduction to Descriptive Linguistics.

4. H . A . G L E A S O N , Workbook i n Descriptive Linguistics.

5. Z. S . H A R R I S , Structural Linguistics.
6. J . Mattoso C â m a r a J r . , Princípios de Lingüística Geral.
7. E . A . N I D A , Morphology.

8. E . S A P I R , Selected Writings of E d w a r d Sapir.

9. T R A G E R & S M I T H , Outline of E n g l i s h Structure.


10. E . S A P I R , A Linguagem.

11. B . L . W h o r f , "Language, Mind, a n d Reality".


INTERVENÇÕES:

Prof. M A T T O S O CAMARA J R .

1) Considera o morfema e x c l u s i v a m e n t e c o m o s e g m e n t o fô-


nico?
R . ) — O a u t o r r e s p o n d e q u e o m o r f e m a não está l i g a d o
n e c e s s a r i a m e n t e a o c o n c e i t o de s e g m e n t o fônico. O m o r f e m a
p o d e s e r d e f i n i d o c o m a alternância, c o m o o c o r r e , p. ex., n o
inglês e m foot feet.

Prof. A R Y O N DALUIGNA RODRIGUES

3) — Q u a l é a língua q u e o s e n h o r c h a m a de m a c h i p u ?
R . ) — 0 n o m e m a c h i p u foi a r e s p o s t a q u e u m a i n f o r m a n t e
d e u à p e r g u n t a — C o m o s e c h a m a a s u a língua? D e d u z - s e ,
e n t r e t a n t o , q u e está língua é u m a f o r m a d a língua C u i c u r u .

Prof. JOÃO PENHA

3) S e r i a possível i n c l u i r o português n a exemplificação?


R.) N a elaboração d o t r a b a l h o t e n t e i u s a r línguas q u e
e x p r e s s a s s e m d a m e l h o r m a n e i r a possível o s p o n t o s d i s c u t i d o s .
P o r i s s o n ã o p e n s e i n e m e m e x c l u i r o u i n c l u i r o português.
Simplesmente tomei os melhores exemplos.

Prof. N E L S O N ROSSI

4 ) — A neutralização d e este esse n o B r a s i l t e r i a u m a c a u -


s a e s t r u t u r a l . A distinção s e f a r i a c o m a d v é r b i o : e s t e a q u i ,
e s t e a í ; e s s e a q u i , e s s e aí.
R . ) — D e v i d o a u m a f a l h a n a gravação n ã o s e pôde a p u r a r
a r e s p o s t a d a d a ; registrou-se u m e s c l a r e c i m e n t o do Prof. Matto-
s o C â m a r a a o Prof. N e l s o n R o s s i : — O e m p r e g o d e aqui e aí
n ã o é a c a u s a d a neutralização, m a s a conseqüência, c o m o o
francês c i , là. E s t e , esse, aquele, e m português, c o r r e s p o n d e m
às três p e s s o a s . 0 inglês c o n s i d e r a só a posição d o f a l a n t e . N o
B r a s i l s e e l i m i n a a categorização d o o u v i n t e . U m a c a u s a s e r i a
o e m p r e g o anafórico. A simplificação d a m o r f o l o g i a v e r b a l , eli-
m i n a n d o o tu, t e r i a f a c i l i t a d o a neutralização.

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