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Já o t e x t o e s c r i t o , j u s t a m e n t e p e l a ausência d o i n t e r l o -
cutor, exige d e nós u m p l a n e j a m e n t o prévio e u m a execução
c o n t r o l a d a . A n t e s de decolar, p r e c i s a m o s de u m b o m p l a n o de
v o o e, à m e d i d a q u e v o a m o s , t e m o s de i r c o n t r o l a n d o os nossos
movimentos.
Q u a n d o e s c r e v e m o s u m t e x t o , a s s u m i m o s , d e fato, d u a s
funções simultâneas: t e m o s de ser a u t o r e, ao m e s m o t e m p o ,
leitor. O u seja, v a m o s c o n s t r u i n d o o t e x t o e, ao m e s m o t e m p o ,
v a m o s n o s p o n d o n a posição d o l e i t o r e a v a l i a n d o o q u e e s t a m o s
escrevendo. E i s a l g u m a s p e r g u n t a s q u e d e v e m o s n o s fazer:
ACHADO MILENAR
Pesquisadores descobrem ossos com Inscrições de 3.500 anos na Chino
Ricardo Vlllela
Foi anunciada na semana passada uma descoberta que pode lançar
novas luzes sobre as origens da língua escrita. Arqueólogos chineses
encontraram nas escavações de um antigo altar usado para sacri-
fícios, na província de Shandong, leste da China, dois pedaços de
ossos de cordeiro onde foram esculpidos oito caracteres, conside-
rados uma forma primitiva de escrita chinesa, junto com os ossos,
desenterraram-se 360 peças de cerâmica pertencentes à cultura
yueshi, que viveu em Shandong 3.500 anos atrás.
Os caracteres gravados nos ossos em Shandong não são a forma
de escrita mais antiga do mundo. Já foram encontrados mapas do
mundo em alfabeto cuneiforme com 4.500 anos e vasos com hieró-
glifos egípcios da mesma idade. Sua importância está em fornecer
pistas sobre o nascimento da única dessas três escritas milenares
que continua sendo usada no mundo de hoje. Enquanto a escrita
cuneiforme e os hieróglifos egípcios desapareceram do uso corrente
com o passar do tempo, dando lugar a linguagens que desemboca-
ram nos atuais alfabetos, o chinês continua sendo falado e escrito
por um quinto da população mundial.
Velhos pedaços de esqueleto conservados no subsolo têm sido a
fonte sobre a escrita chinesa mais pesquisada pelos arqueólogos.
Na China Antiga, os ossos de cordeiro eram usados por adivinhos e
profetas para prever o futuro. Os ossos eram postos no fogo junto
com cascos de tartaruga até se quebrarem. A partir das fissuras
criadas pelo calor, os adivinhos previam chuvas, guerras e o destino
do reino. Durante a dinastia Shang, que reinou na China por 650 anos
a partir de 1751 a.C, os reis, preocupados com o futuro, mandavam
seus adivinhos esculpir suas previsões nos ossos semicarboniza-
dos. Esse procedimento é o que forneceu aos arqueólogos os mais
antigos exemplos da escrita chinesa. É um trabalho fascinante, mas
nem sempre bem-sucedido. Dos 10.000 caracteres já encontrados
em osso de cordeiro na Cínina, apenas I.OOOforam decifrados. Entre
os oito caracteres esculpidos nos ossos desenterrados na semana
passada — cerca de 200 anos mais antigos do que os encontrados
na China anteriormente —, dois já foram decifrados. Um deles é um
"V" de cabeça para baixo, que foi identificado como o número 6. O
outro é o símbolo chinês para a palavra "profecia".
A escrita é uma tecnologia relativamente recente para a humanidade.
Os seres humanos já tinham há 50.000 anos sua formatação física atual,
mas só há 5.000 começaram a escrever. São dessa época os primeiros
documentos escritos, encontrados na região do Iraque, onde ficava a
antiga Mesopotâmia. As tentativas mais remotas que o homem fez de
comunicar-se através de símbolos datam de 20.000 a.C. Eram desenhos
de animais e figuras geométricas que possuíam significado literal. Por
ser a escrita mais antiga ainda em uso no planeta, a chinesa é a que
melhor guarda as características de transposição entre o desenho e
a escrita moderna. É em achados como os ossos de Shandong que os
estudiosos procuram entender como ocorreu a passagem dos antigos
ideogramas para os códigos de escrita contemporâneos.
( F o n t e : R e v i s t a Veja. O m a g o d a I n t e r n e t , e d . 1 6 4 0 , 2 0 0 0 )
N o t e q u e o t e x t o se m a n t é m f i e l a o s e u a s s u n t o , s e m
interrupções e mudanças s f i b i t a s de r u m o e s e m r e p e t i r i n -
f o r m a ç õ e s já d a d a s . Se v o c ê estivesse r e l a t a n d o o r a l m e n t e a
a l g u é m a d e s c o b e r t a a p r e s e n t a d a n o t e x t o , n ã o f a l a r i a só o
q u e dissesse r e s p e i t o ao a s s u n t o , c e r t o ? B a s t a r i a q u e , n o m e i o
da conversa, seu i n t e r l o c u t o r i n t e r r o m p e s s e o p a p o c o m u m
"Acho que vai chover..." P r o n t o ! L á se f o i a unidade temática.
A conversa é m e s m o assim: vamos nos i n t e r r o m p e n d o e m u -
d a n d o de a s s u n t o c o m m u i t a f a c i l i d a d e . A í está o g o s t o s o d e
u m a b o a conversa — ela v a i f l u i n d o e m m u i t a s direções, s e m
necessidade de m u i t a programação.
o t e x t o e s c r i t o , porém, é p r o g r a m a d o . E t e m de ser p r o g r a -
m a d o , p o r q u e o l e i t o r se c o n f u n d e e se c l i a t e i a c o m f a c i l i d a d e se
o t e x t o começa a se d i s p e r s a r , a p e r d e r o f o c o e o r u m o . A e s c r i t a
e a l e i t u r a e x i g e m u m a b o a dose de concentração temática. E s t a é
u m a diferença i m p o r t a n t e e n t r e a conversa face a face e a escrita.
1° parágrafo:
A descoberta por arqueólogos chineses de dois pedaços
de ossos de cordeiro nos quais estavam esculpidos oito
2*^ parágrafo:
A importância dessa descoberta: são fornecidas pistas
sobre o nascimento da escrita chinesa, a única das mais
antigas ainda em uso.
3° parágrafo:
4° parágrafo:
N o t e x t o q u e v o c ê a c a b o u de ler, t u d o g i r a e m t o r n o d o s
ossos c o m os c a r a c t e r e s e s c u l p i d o s , m a s o a u t o r v a i acrescen-
t a n d o informações à m e d i d a q u e o t e x t o avança p a r a s i t u a r
a d e s c o b e r t a ( a p r e s e n t a d a n o parágrafo 1) n u m q u a d r o ' m a i s
a m p l o , d e s t a c a n d o a s u a i m p o r t â n c i a ( p a r á g r a f o 2), a s u a
história (parágrafo 3) e, p o r f i m , a s u a relação c o m a o r i g e m e
d e s e n v o l v i m e n t o d a e s c r i t a (parágrafo 4).
E p o r q u e t e m o s de p l a n e j a r e c o n t r o l a r a e s c r i t a de u m
texto?
A r e s p o s t a é s i m p l e s e r e t o m a o q u e já v i m o s : p r i m e i r o ,
p o r q u e a e s c r i t a não f l u i e s p o n t a n e a m e n t e ; e s e g u n d o , p o r q u e
e s t a m o s e s c r e v e n d o p a r a u m l e i t o r q u e n ã o está n a n o s s a f r e n t e
e, m u i t a s vezes, sequer existe c o n c r e t a m e n t e .
V o c ê p o d e e s t a r se p e r g u n t a n d o : c o m o u m l e i t o r p o d e não
e x i s t i r c o n c r e t a m e n t e ? Isso s i g n i f i c a q u e o t e x t o não será l i d o
p o r ninguém? N ã o , não é isso. V e j a m o s .