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M e ih y
F a b ío la H o la n d a
e d ito r a c o n te x to
C o p y rig h t© 2 0 0 7 José C arlos Sebe Bom M cihy
M o n ta g em d e capa
G ustavo S. Vilas Boas
P rojeto gráfico e diagram ação
G ap p Design
R evisão
Cássio D ias Pclin
R uth Kluska
Bibliografia.
ISB N 9 7 8 -8 5 -7 2 4 4 -3 7 6 -0
0 7 -7 0 2 9 C D D -9 0 7 .2
E d it o r a C o n t e x t o
D ireto r editorial: J a im e P in sky
2015
Para Suzana Lopes Salgado Ribeiro,
por tudo que o N eho quer ser.
Proibida a reprodução total o u parcial.
O s infratores serão processados na form a da lei.
42 História oral
A tra n scriaç ã o é valorizada c o m o solução q u e c u m p re fu n ç ã o d u p la : em de aq u isição d e entrevistas d e m a n e ira a su g erir c o n sta n te s ajustes. A
si, c o m o te x to e d e p e rte n c im e n to ao corpus d o c u m e n ta l d o p ro je to . São d in â m ic a d a aq u isição e o rg an ização de textos d e h istó ria oral, p o r ser
a p re se n ta d o s ta m b é m os co n ce ito s d e c o m u n id a d e d e d e stin o , c o lô n ia e m a té ria viva, in d ic a m u d a n ç a s c o n sta n te s nos p lan o s iniciais. As n o v id a
rede q u e o rie n ta m m aneiras específicas de resolução de p roblem as teóricos des n ão previstas a p rio ristic a m e n te forçam m u d a n ç a s de ru m o . E xem plo
e técn ico s q u e os oralistas tê m n a fase d e ap reen são das entrevistas e na clássico disso é a aplicação d a “lei dos re n d im e n to s decrescentes”, o u seja,
c o n stitu iç ã o das narrações. Q u e stõ e s de “q u e m e n tre v ista r”, “q u a n d o ” e se n u m a rede prevista d e en tre v istad o s h á a rep etição de aspectos, desde
“o n d e ” são algum as das p reo cu p açõ es so m adas nessa p a rte . In fo rm açõ es q u e d e fin id a a m e m ó ria coletiva d a c o m u n id a d e , isso sugere a lg u m a
so b re o a c o m p a n h a m e n to e c o n tro le d o p ro je to de p esq u isa em h istó ria lim itaç ã o n a c o n tin u id a d e de entrevistas c o m o m e sm o seg m e n to . A
oral, c a rta de cessão e c a d e rn o de c a m p o finalizam essa sessão. força c u m u la tiv a das entrevistas deve ser prevista n o p ro je to , m as suas
O p ro je to é a essência d o s tra b a lh o s e m h istó ria oral. M ais d o q u e variações ta m b é m . A ssim , a eficácia das h ipóteses d e tra b a lh o e a veri
m a n d a m e n to s seguros para e n c a m in h a r u m estu d o , o p ro je to em h istó ria ficação d a p ro b le m á tic a a ser so lu c io n a d a dev em se re n d e r à d in â m ic a
oral ju n ta a m o tiv ação d o tra b a lh o co m os p ro c e d im e n to s a serem e feti dos d o c u m e n to s em fo rm ação. É claro q u e n ão se faz p rim e iro a série
vados p ara a b o a realização d a pesquisa. A c o n ju g a çã o d e d u as partes, a de en trev istas p ara d ep o is inscrevê-las n o a n d a m e n to d o p ro je to . O p ro
in te n ç ã o e a p rá tic a d e e sta b e le cim en to de textos e sua e v en tu al análise, é gresso d o s e stu d o s evolui c u m u la tiv a m e n te em c o n ju n to , v in c u la n d o a
o q u e caracteriza a h istó ria oral e a d iferen cia d e o u tra s p ro p o stas, m esm o série c o m a verificação das p ro p o sta s iniciais. P ode-se m e sm o dizer q u e
das q u e ta m b é m se valem das fo n tes orais. C o m o c o m p o n e n te a tiv a d o r h ipóteses d e tra b a lh o e m h istó ria oral ch eg am a ser sugestões. O a p r io r i
d o processo, o p ro je to é o e le m e n to d istin tiv o q u e a rtic u la e o rie n ta os em h istó ria oral é sem p re u m a te m e rid a d e .
p ro c e d im e n to s d e cada etap a, fazen d o -o d a r se n tid o aos fu n d a m e n to s T o d o s os aspectos abrangíveis devem
Como rumo, o projeto em história oral
d a investigação c o m fo n tes vivas. sintetiza as decisões sobre como operar estar contem plados no projeto COITIO
t O projeto é a justificação e o mapa do durante todo o processo de investigação, . ,
D ife re n te m e n te d e p ro je to s baseados andamento da pesquisa com entre- mas não é uma camisa de força. partes que se comunicam, harmonizam,
, „ - i i vistas. Sem ele não se pode falar em
e m d o c u m e n ta ç ã o c o n v en c io n a l, os p ia- história oral. crescem e m u d a m . T u d o , p o rém , d ep en d e
nos q u e in c lu e m entrevistas em h istó ria de co n d içõ es p re v ia m e n te d e te rm in a d a s e esclarecedoras dos p rin c íp io s
oral p a rte m d a co n sid e ra ç ão de q u e a série d o c u m e n ta l em q u e stã o é básicos d a h istó ria oral: de quem, como e p o r quê. O p ro je to c o n te m p la
e la b o rad a , e sp ecialm en te, p ara esse fim . C o m o d o c u m e n to s “fabricados esses três vértices d a p ro p o sta , p o ré m ded ica-se c o m m ais d etalh es ao
a d o is”, em m ú tu a co la b o raç ã o , as entrevistas feitas p ara fins específicos “como”. “D e quem ” é p a rte c o n stitu tiv a das in te n ç õ es sem p re expressas
n ã o fazem ju s ao m e sm o tra ta m e n to dos d a d o s m a n tid o s em cartó rio s, nas justificativas, e, d a m e sm a fo rm a, o “p o r q u e ’ a m p a ra a in te n ç ã o
arq u iv o s, m u seu s o u b ibliotecas. A in d a q u e p o ssam c o m p o r p ro d u to s m ilita n te , d e tra n sfo rm a ç ã o d o status quo d o g ru p o ab ra n g id o .
g u a rd a d o s em arquivos, d esd e q u e resp eitad o o tip o d e te x to , entrevistas C o n sid e ra d a s as três prem issas básicas, faz-se im p o rta n te d e fin ir o
d e m a n d a m tra ta m e n to d ife re n c ia d o . E as en trev istas g a n h a m força em espectro d o q u e se p ro p õ e estudar. O a ssu n to deve ser d e lin e ad o c o m c u i
c o n ju n to c o m o corpus d o c u m e n ta l. d a d o , pois envolve a in d icação d o pessoal d e fin id o c o m o co lab o rad o res.
A c o n stitu iç ã o d e u m novo tip o de série d o c u m e n ta l, e la b o rad o espe A p ro p o sta “de quem ” deve ser tra n ç a d a co m os fu n d a m e n to s u tilitário s
c ific a m en te p ara o fim p ro p o s to e m h istó ria oral, c o n fo rm a o processo d o e stu d o . Isso é o q u e delega ao p ro je to seu se n tid o e d e stin o . O esta b e
46 História oral U n id a d e III - A p rá tica em h is tó ria o ra l 47
objetivos elevem ser claros e d ire to s p ara fu n c io n a re m c o m o p a râ m e tro . o n d e se realizarão, q u a n to te m p o dev em durar? Esses d e ta lh es im p lica m
E m h istó ria oral, p o r c o n ta d o seu c aráte r p ú b lic o , os o b jetiv o s são d i a explicitação d o s co n ce ito s a lu d id o s ( C om unidade de destino, colônia e
v id id o s em : redes). P a rtin d o -se d o m a io r p ara o m en o r, tem -se q u e se p re te n d e com
1 - objetivo geral: que dá um a dim ensão mais am pla ao que se quer estudar, essa te rm in o lo g ia facilitar a o p eração e d a r co n sistên cia ao p ro je to q u e ,
a com unidade com o um todo, sem especificações; em su m a, te m as seg u in tes etapas.
se h ie ra rq u iz a m de m a n e ira c o m b in a d a e sem eles m u ito b em d efin id o s de destino". A p rim e ira é de base m a terial e a seg u n d a de fu n d a m e n to
n ã o se o p e ra a d e q u a d a m e n te e m h istó ria oral: psicológico, d e gên ero o u o rie n ta ç ã o (p o lítica, c u ltu ra l o u sexual). N o
1 - C om unidade de destino; p rim e iro caso, e le m en to s d e efeitos físicos d izem respeito a situações
q u e v in c u la m pessoas, clãs e g ru p o s expostos a c irc u n stân c ia s q u e dão
2 - Colônia;
u n id a d e tra u m á tic a ao d e stin o das pessoas: calam id ad e s, te rre m o to s,
3 - Redes.
pestes, flagelos, m a rc a m a vivência coletiva d e u m g ru p o em u m lugar
físico e c u ltu ra l. O u tr a a lte rn a tiv a , esta de base psicológica, diz respeito
A p artir das especificações de cada u m desses elem entos é q u e se estabe
às experiências de c u n h o m oral: pessoas afetadas p o r d ra m a s subjetivos
lece a con d u ção das entrevistas. Para se arm ar a d eq u ad am en te o q u a d ro dos
o u n ão n a tu ra is c o m o violência, ab usos, a rb itra rie d a d e s, d iscrim in ação .
colaboradores deve-se a d m itir co m clareza que não basta “fazer entrevista”
D e u m a o u d e o u tra fo rm a, a su ste n ta ç ão q u e m arca a u n iã o de pessoas
aleatoriam ente e nem decidir sobre a form a de pro ced im en to dialógico sem
são d ra m a s c o m u n s, c o etân eo s, vividos c o m in te n sid a d e e c o n seq u ên cias
obedecer às estratégias de cada situação. As grandes definições dos quadros
relevantes, ep isó d io s q u e a lte ra m n o p o rv ir o c o m p o rta m e n to p re té rito ,
Há um natural afunilamento da capa de colaboradores devem o rien tar o critério
cidade de apreensão das diversas expe ro tin e iro , e q u e im p õ e m m u d a n ç a s radicais d e v id a g ru p a i. L e m b ra n d o
decrescente, p a rtin d o do mais am plo para
riências e versões dos fatos derivados q u e , p a ra H a lb w ac h s, a m e m ó ria coletiva é m a rc ad a pela a fin id a d e re
das entrevistas. Assim, da ampla deter o mais específico. Assim, apenas depois que
minação da comunidade de destino p e tid a d e vivência c o m u n itá ria d e alg u n s d ra m a s, é n a in c id ê n cia dos
passa-se à definição da colônia e dela se estabeleceu u m e n te n d im e n to d o q u e é
se chega á formulação das redes. p ro b le m a s e na busca de soluções q u e se evidencia o efeito d a experiência
co m u n id ad e de destino é q u e se pensa em
c o m u n itá ria . N essa lin h a, le m b ra r é u m desafio fu n d a m e n ta l. A m e m ó ria
colônia, para, p o r fim , chegar-se às redes.
se c o n stitu i assim em artifício p o lítico -so cial p ara m a rc ar os e le m en to s
D e p o is, é preciso d e ta lh a r as q u estõ es de o rd e m p rá tic a p ara a realiza
id e n titá rio s d e u m a c o m u n id a d e .
ção das entrevistas, q u e serão: únicas o u m últiplas1,abertas o u direcionadas;
52 História o ra l Unidade III - A p rá tic a em h is tó ria o ra l 53
O coletivo é sinal d a in sistên cia de aspectos tra u m á tic o s q u e d e te r lônia" é sua p rim e ira divisão, a in d a q u e em b lo c o g ra n d e . D eve existir
m in a m c o m p o rta m e n to s registrados na m e m ó ria . Sem a rep etição e a u m c rité rio ex p lícito p ara se p ro c e d e r à divisão d o to d o , pois a fin alid ad e
to m a d a de con sciên cia d o d ra m a c o m u m A partir de uma postura comum de um d a “colônia” é facilitar o e n te n d im e n to d o
passado filtrado pelo trauma coletivo Menor que comunidade de destino,
n ã o há m e m ó ria coletiva. A p e rs p e c ti se formaria uma comunidade de coletivo q u e se p e rd e ría n a ab ra n g ên c ia . a colônia é fragmento substantivo,
va d e H a lb w a c h s preza a fo rm a ç ã o da destino que seria matéria de registro fração representativa, ainda que nu
e verificação da história oral. A “colônia" é p a rte d iv id id a para possi
mericamente inferior à grande comu
m e m ó ria c o m u n itá ria c o n s tr u íd a m ais b ilita r o e n te n d im e n to d o to d o p re te n d i nidade de destino.
p o r afin id ad es afetivas, p o r trajetó rias re p a rtid a s em c u m p lic id a d e q u e do. M as há sutilezas nesse frac io n a m e n to ,
envolve a to d o s d o q u e p ro p ria m e n te nas altercações o u parcelas não pois é necessário guardar, ao m e sm o te m p o , características peculiares q u e
rep resen tativ as d o coletivo. ju stifiq u e m a fração e m a n te r os elos c o m u n s ao g ra n d e g ru p o . A ssim
E m te rm o s de h istó ria oral, as afin id ad es q u e en la ça m c id ad ão s q u e c o m o p o d e ria m o s s u p o r q u e , e n tre os n o rd e stin o s q u e v ieram p ara São
passam a te r d e stin o s c o m u n s são sem p re d istin g u id a s pela repercussão
P aulo n a seca d e 1958, os evadidos d e cada e stad o a p re se n ta m suas ca
dos fatos na vida c o m u n itá ria . Seja p o r
racterísticas d ife re n te s, tem -se q u e , n a g ra n d e “com u n idade de destino",
A abrangência e a repetição são marcas
da memória coletiva e só interessa à te r so frid o prisões, te rre m o to s, abalos cli
as co lô n ias são variadas c u ltu ra lm e n te .
história oral o sentido comunitário da m ático s, p a d ec id o to rtu ra s, epidem ias, os
memória. Mas a memória coletiva não A “colônia" visa a organizar a c o n d u ç ã o d o e stu d o fazendo-o viável.
é monolítica. g ru p o s são id en tificad o s na h istó ria oral
C o m o seria im possível p e n sa r a "comunidade de destino" c o m o u m bloco
c o m o p o rta d o re s d e u m a “com unidade de
indivisível, o p a rc e la m e n to em “colônia" seria u m a so lu ção o p e ra cio n a l
destino". A ssim , m ais o u m e n o s n a tu ra lm e n te , a h istó ria oral privilegia
q u e to rn a ria viável o estu d o . A decisão sobre "colônia", c o n tu d o , é sem
g ru p o s sociais deslocados —m igrantes e im igrantes —, parcelas m in o ritárias
pre a rb itrá ria , pois há várias fo rm as d e p ro c e d e r a esse p a rc e la m e n to . D e
excluídas, m arg in alizad as, e se vale de suas n arrativ as p ara p ro p o r u m
o u tra m a n e ira , p o r ex em p lo , p o d er-se-ia p e n sa r em estabelecer “colônia"
“outra história", o u h istó ria “ vista de baixo", d e â n g u lo in c o m u m , sobre
se g u n d o o c rité rio d e gênero: a m ig ração das m u lh e re s e m paralelo à dos
d e te rm in a d a realidade e m c o n tra p o siç ã o ao sile n c ia m e n to o u à visão
“m a jo ritá ria ” e in stitu c io n a liz a d a , a ssu m id a c o m o aq u ela q u e devem os h o m e n s; das crianças em c o m p a ra ç ã o c o m os velhos; a d o s q u e vieram
re c o n h ec e r c o m o “versão oficial”. Por lógico, a visão d o s g ru p o s de p o d e r so zin h o s e m e q u ip a raç ã o aos q u e tro u x e ra m fam ília. N esse caso, a "co
interessa, m as c o m o c o n tra p o n to p ara o d iálo g o c o m os desvalidos. m un idade de destino" se m a n te ria a m e sm a - os n o rd e stin o s m ig rad o s
p ara São P aulo n a seca d e 1958 e a "colônia" - em vez d e se a te r ao to d o
in d is c rim in a d a m e n te , d iria resp eito o u à p ro c e d ê n c ia p o r e sta d o o u ao
5.2 - C O LÔ N IA g ên ero fe m in in o em c o m p le m e n to ao m ascu lin o . N o caso d o s estados,
prevalece a resistência cu ltu ra l —h ábitos alim entares, tradições dom ésticas,
“Com o alcançar a unidade na (apesar da?) diferença
m úsica - , e n o caso d o g ên ero as diferenças e n tre a experiência m ig rató ria
e como preservar a diferença na (apesar da?) unidade?”
Zigmunt Bauman p ara a m u lh e r e p ara os h o m e n s.
te rã o o u n ã o e stím u lo s e se as n a rra tiv a s d e c o rre n te s serão livres o u re stau ran te s, cin em as, c o m b o n s resu ltad o s, m as, d e q u a lq u e r fo rm a,
e s tru tu ra d a s . V a n ta g e n s e d e sv a n ta g e n s d e c ad a s itu a ç ã o d e v e m fazer o ideal é sem p re haver co n d içõ es ad eq u ad as para a p u reza d o so m , e v ita n
p a rte d o s p ro je to s. d o -se in te rru p ç õ e s e o u tro s im p e d im e n to s q u e d istra ia m a co n ce n tra ç ã o .
A m e m ó ria in d iv id u a l, a p esa r d e se e x p lic ar n o c o n te x to social, é Q u a n to ao te m p o d a d o p ara cad a en tre v ista ta m b é m vale s u p o r a
a fe rid a p o r m e io d e e n tre v ista s nas q u a is o c o la b o ra d o r te n h a a m p la d in â m ic a d o e n c o n tro . A in d a q u e haja
A flexibilidade, evidentemente, deve
lib e rd a d e p a ra n a rra r. C u id a d o s d ev em ser to m a d o s e m relação às in te r existir; mas, em geral, a entrevista não n a rra d o re s m ais o u m e n o s e lo q u e n te s ,
ferên cias o u e stím u lo s p re se n te s nas e n tre v istas. E s tím u lo é in c ita ç ã o , deve ser "quebrada" ou "recortada" deve-se p la n e ja r o n ú m e ro d e h o ras para
sem fortes razões.
n ã o fo rm a d e c o lo c a r n a b o c a d o e n tre v is ta d o as resp o stas q u e se q u e r cada e n c o n tro . A lém d o a sp ecto p rá tic o
o b te r. E s tím u lo s p o d e m e x istir o u não; de cad a situ ação d e en tre v ista, deve ta m b é m prevalecer o c u id a d o co m
tu d o , p o ré m , d e p e n d e d o s p re ssu p o sto s 0 ocas'°nal uso de e s t í m u lo s deve ser o m aterial, pois é lam en táv el faltar fita, p o r exem plo.
r r r r apresentado ao colaborador antes de
e sta b e le c id o s n o p ro je to . suas eventuais aplicações, pois eles Q u e m en tre v ista q u e m é o u tro fa to r decisivo n a q u a lid a d e d o p ro je
alteram a naturalidade que, muitas
H á a u to re s q u e a p e n a s c o n s id e ra m vezes, é buscada. to. E m m u ito s casos, c o n v ém p e n sa r q u e deve h av er especificações no
a m e m ó ria , e n q u a n to fa to r d e análise, re la c io n a m e n to e n tre e n tre v istad o res e en tre v istad o s. O q u e é m e lh o r o u
d e p o is q u e elas são d e p u ra d a s p o r en trev istas m ú ltip la s. Para esses, m e n ão, d e p e n d e sem p re d o tip o d e p ro je to . A lgum as p e rg u n ta s dev em ser
ras p o n ta s d e le m b ra n ç as, reações im ed iatas, eq u iv alem à fantasia o u à re sp o n d id as a n te s d e se p a rtir p a ra a a v e n tu ra das gravações: é m e lh o r
su p erficialid ad e. O u tro s , c o n tra ria m e n te , p referem o p e ra r c o m a e sp o n saber o m á x im o possível sobre as pessoas o u não? É m e lh o r h o m e m e n
ta n e id a d e , a c re d ita n d o q u e a n a tu ra lid a d e seja u m a te sta d o d e p u reza da trev istar m u lh e r o u não? E as idades dev em se equivaler? E m se tra ta n d o
m e m ó ria e q u e , se tra b a lh a d as p o r estím u lo s o u exercícios, elas espelham de situações étn icas, seria a m e sm a coisa, b ra n c o e n tre v ista r n eg ro sobre
o rg anizações p ro g ressiv am e n te m ais sofisticadas. O s q u e a d v o g am u m a suas c irc u n stân c ia s raciais?
n a rra tiv a a rm a d a , o u seja, em q u e o c o la b o ra d o r te n h a tid o te m p o para U m a característica in teressan te das narrativas de m e m ó ria in d iv id u a l é
se p re p a ra r e assim p ro m o v e r u m a visão m ais o rg a n iz ad a d a h istó ria , q u e ela acaba p o r ser id e n tifica d a c o m o relevo das pessoas na sociedade.
p referem b u sca r a d efin ição d a c o n sciên cia n o q u e foi d ito . O s o u tro s Q u a se sem pre, é c o m u m e n c o n tra r pesso
o p ta m pela n a tu ra lid a d e . Ao mesmo tempo, a percepção de que
as q u e n ão se a ch a m im p o rta n te s o u q u e uma narrativa centraliza o narrador,
A fim d e p ro d u z ir m elhores co n d iç õ es p ara as entrevistas, o local esco d elegam a o u tro s a c ap acid ad e de narrar. que passa a ser a origem dos aconteci
mentos, gera sempre uma sensação de
lh id o é fu n d a m e n ta l. D eve-se, sem p re q u e possível, deix ar o c o la b o ra d o r Isso se deve a u m a característica d a nossa importância social com a qual muitas
pessoas não estão habituadas.
d e c id ir so b re o n d e g o staria d e gravar a e n tre v ista. E xistem situações sociedade sem pre aberta a celebrizar pesso
em q u e e stú d io s, cen trais de sons, são re q u erid o s. N esses casos, logica as e d im in u ir o papel das pessoas c o m u n s.
m e n te , os p ro je to s desenvolvidos p o r m u seu s o u a rq u iv o s d e m a n d a m D a d a essa característica defeituosa sobre q u e m é m otivo de gravação, os
espaços privilegiados, m as g e ra lm e n te a casa d a pessoa, q u a n d o n ão há trabalhos de m em ó ria individual apenas têm g an hado publicidade q u a n d o
im p e d im e n to , passa a ser o espaço esco lh id o . E xistem situações em q u e são transparências de personagens consideradas im portantes. Q u e r seja pelo
escritó rio s, locais d e tra b a lh o o u de e n c o n tro s sociais, c o m o clubes, são papel o u pela circunstância que envolve algum a pessoa, a m em ória ganha u m
eleitos. Sabe-se d e a ltern ativ as de entrevistas gravadas em igrejas, h o téis, caráter em blem ático que, c o n tu d o , deve ser visto sem pre pela ótica social.
58 História oral Unidade III - A prática em história oral 59
S en d o a m e m ó ria sem p re d in â m ic a , e q u e m u d a e evolui de época para em im e d ia tism o s n o tra to das entrevistas. A in d a q u e sem p re p resida a
ép o ca, é p ru d e n te q u e seu uso seja relativizado, p o sto q u e o o b je to de in te n ç ã o de se p u b lic a r o u d isp o n ib iliz a r os resu ltad o s das entrevistas,
análise, no caso, n ão é a n a rra tiv a o b je tiv a m e n te falan d o n e m sua relação recom enda-se q u e elas sejam tratadas em sua íntegra. A o c o n trá rio de in d i
c o n te x tu a l, e, sim , a in te rp re ta ç ã o d o q u e ficou (o u não) reg istrad o nas cações superadas p o r práticas c o m u n s na Sociologia, m esm o q u a n d o frag
cabeças das pessoas e foi passado p ara a escrita. m e n ta d o s os discursos n arrativ o s, anexa, sem p re q u e possível, deve vir a
entrevista, tra b a lh a d a na íntegra. Q u a n d o isso não for viável - seja pelo ta
7 - P E R S O N A G E N S E É T IC A E M H IS T Ó R IA O R A L m a n h o o u pela característica d o p ro jeto - ,
Na realidade, a história oral demanda ó e v e ser o b r ig a to r ia m e n te in d ic a d o o
um complexo tratam ento entre as °
“O respeito pelo valor e pela importância de cada partes. Uma etiqueta rigorosa prescreve lu g ar de acesso a ela. C a b e ao d ire to r d o
indivíduo é, portanto, uma das primeiras lições de ética os procedimentos que devem ficar . _
sobre a experiência com o trabalho de campo na história oral.” claros segundo o projeto e explicitados p ro je to fazer tal indicação,
Alessandro Portelli
invariavelmente antes da realização A _ i • , r j
das entrevistas. A q u e stã o d o c o m p ro m isso é ru n d a -
m e n ta l n a te ia d e re la c io n a m e n to s d a
N o p assad o , o u e m e n te n d im e n to s tra d ic io n a is q u e a in d a v ig o ra m , a h istó ria oral. É relevante le m b ra r q u e c o m p ro m isso n ão q u e r dizer c u m
d e fin iç ã o d e q u e m era o e n tre v is ta d o r e o e n tre v is ta d o ficava c la ra m e n te p licid ad e o u afin id a d e ab so lu ta. É im p o rta n te te r em m e n te q u e m u ito s
e sta b e le c id a nas “tra n sc riç õ e s e x a ta s”, q u e , p o r sua vez, d e te rm in a v a m p ro jeto s, p ara serem m ais c o m p le to s, exigem q u e sejam in teg rad as no
q u e m era q u e m . Q u a s e se m p re se assinalava u m “E ” p a ra o e n tre v is c o n ju n to das entrevistas pessoas q u e se c o lo cam em lin h as ideológicas,
ta d o r, o u tra s vezes usava-se a le tra “ P ” (de p e rg u n ta ) o u a in icial de pessoais, posições d iferen tes d o s d ire to res d o s e n trev istad o res. Isso, em
q u e m reg istrav a a e n tre v ista . V alia-se ta m b é m d o “ R ” p a ra sig n ificar vez d e significar m o tiv o de c o n tra ste , deve ser visto c o m o fa to r de e n
a re sp o sta o u as in iciais d o e n tre v is ta d o . E m m u ito s casos, ta m b é m riq u e c im e n to d o p ro je to , p o sto ser u m a fo rm a de c o m p le ta r visões de
a p e n a s se usav am travessões n o s inícios das p e rg u n ta s e das respostas. fe n ô m e n o s q u e ficariam c o m p ro m e tid o s sem o “o u tro lad o ”. P o rq u e tem
D a d o s os avanços da h istó ria o ral, essa relação se m o d ific o u p o rq u e ta m sid o m u ito c o m u m se fazer h istó ria oral c o m setores c o m os q uais os pes
b é m m u d a ra m os papéis referentes à a u to ria d o p ro je to e o significado q u isad o res se c o m p ra z e m o u a fin am , é im p o rta n te le m b ra r a necessidade
d o uso das entrevistas. A lém disso, in c o rp o ra n d o aspectos d a m o ral e da de ta m b é m se o u v ir o u tra s p artes e integrá-las n o p ro je to .
c id a d a n ia c o n te m p o râ n e a s , inclusive os d eb ates sobre as relações éticas, E m m u ito s projetos de história oral, confrontam -se as opiniões e, mais do
de d ire ito à a u to ria e a fu n ção social d o p ro d u to in te le c tu al, tê m im p o sto q u e elas, as orientações q u e m otivam as partes. N a suposição, p o r exem plo,
c u id a d o s e m relação ao uso d a en tre v ista e d e preservação d a im agem de u m estudo que enfoque to rtu ra d o s e to rtu ra d o re s , v ítim as e p e rp e tra
d o e n tre v istad o . d o re s, os e n tre v ista d o re s n ã o p re c isa m Evidentementenãoseadvogaapossibiii.
Nada deve ser espontâneo num encontro
In d e p e n d e n te m e n te dos prazos —q u e de história oral. Apenas a liberdade o b rig ato riam en te ser solidários o u afinados dade de uma aíáo neutra- distante e im-
° parcial. Isso simplesmente não existe. O
são c u rto s p a ra os jo rn alistas - n a h is de fala deve gozar de prerrogativas
descontraídas. com a parte contrária. R equer-se, isso sim , que se pede é uma postura profissional,
. r . , | . de alguém que sabe ouvir e dialogar.
tó ria oral, as en trev istas dev em p ro d u z ir u m a a titu d e profissional e dem ocrática que
resu ltad o s feitos c o m m o ro sid a d e e a te n ç ã o exageradas. Sem isso não ad m ita c o n tem p lar argum entos de am bos os lados. N o m o m e n to da apreen
se realiza a c o o p eraç ã o e n ã o se explica a m ed iação . N ã o se deve p en sar são das narrativas, ta n to a lógica de u m a parte co m o da o u tra se faz válida.
60 H istória o ra l U n id a d e III - A p rá tic a em h is tó ria o ra l 61
P o r o u tro ângulo, o pró p rio entrevistador deve deixar ser u m observador à q u e stã o d o a u to r. B a sic a m en te a p e rg u n ta q u e se faz é se o a u to r é
da experiência alheia e se c o m p ro m e te r com o trabalho de m aneira m ais q u e m c o n to u a h is tó ria o u q u e m a re d ig iu , d a n d o -lh e u m a so lu çã o
sensível e com partilhada. T u d o isso sem perder de vista a visão d o projeto fo rm al d e fin itiv a? N a p rá tic a , esse p o n to te m c o m p lic a d o m u ito s p es
c o m o u m todo. A m u d an ça d o significado dos papéis, de q u e m é q u em , não q u isa d o re s q u e se p e rd e m ao c o n f u n d ir o tra b a lh o d e c o la b o ra ç ã o na
está apenas ligada à superação das form as tradicionais de se fazer entrevistas. e n tre v ista c o m a d ire ç ã o c o m p a rtilh a d a d o p ro je to .
A d ep endência d o colaborador passa a ser m u ito m aio r d o que era antes. São conhecidos casos em que os autores
Não apenas os direitos autorais devem
N ã o apenas este tem que dar a autorização para a publicação de parte ou ser encaminhados para o autor, mas dividem os proventos das obras publicadas
também os riscos da condução da pes- e até sabe-se de situações em que os autores
d o to d o da entrevista, m as ele pode e deve tam b ém participar das etapas de guisa, dos usos das entrevistas e os even
transcrição e revisão d o texto q u e lhe com pete. Indicações de c o n tin u id ad e tuais erros não explicitados nas apre abrem m ão dos direitos autorais em favor
sentações ou comentários publicados.
das entrevistas tam b ém p o d em favorecer o dos entrevistados. Essa decisão, porém , deve
. . Um dos pontos mais prezados na
papel ativo dos colaboradores. consideração da história oral está pertencer exclusivam ente ao autor. Apesar de o tratam en to d ad o ao entrevis
r-, . , exatamente no fato de ela abrigar
D eve-se ter em m e n te q u e a capacida- possibilidades de enganos, menti- tado ser o de colaborador, m ediante as responsabilidades do escrito, o a u to r
d e d e n a rra r está na an u ên cia, no estado ras'. distorções e variações dos fatos deve ser sem pre q u em colheu a entrevista, dirigiu o projeto e assum iu publica
registrados e conferidos por outros
psicológico e físico d o en trev istad o , q u e documentos, m en te a responsabilidade sobre o q u e está d ito , gravado e usado. A m u d an ça
p o d e, sim , d e cid ir sobre os ru m o s finais da consideração d o papel d o entrevistado tem ocasionado alguns problem as.
da entrevista. Isso q u e parece óbvio não é tão claro, pois se julga q u e o A novidade da questão e a in tim id ad e qu e m uitas vezes se estabelece entre as
c o n tro le da relação se c o n ce n tra nas m ãos d o en trev istad o r, q u e d e té m o partes têm provocado situações inusitadas e de risco. E m alguns casos, certos
g ravador e q u e po d eria a p ertar b otões d e c o m a n d o , a ssu m in d o os rum os colaboradores se sentem tão d o nos d o projeto que querem d ete rm in a r o seu
da relação. Essa tensão p e rm a n e n te c o n tin u a , pois ao te rm in a r a entrevista curso. É possível inclusive haver c irc u n stân c ia s em q u e os c o lab o rad o res
o u as sessões de gravação as decisões sobre detalhes d a transcrição passam forcem situações in c o n v e n ie n te s e até usem de c h a n ta g e m para a tu a r no
a ser c o m a n d a d o s pelo a u to r das transcrições. A o voltar para a conferência d e se n v o lv im e n to d a p esq u isa. O a u to r
Há projetos de história oral em que
das entrevistas, c o n tu d o , tu d o m u d a até q u e se estabeleça o texto final. tem q u e te r clareza d e seu papel e saber se faz necessário o esforço de equipe.
Nessas situações, deve-se proceder a
U m te rm o significativo n a relação de p o d e r das partes é a palavra “ne d ip lo m a tic a m e n te co lo car lim ites na in repartição das tarefas, mas o trabalho
gociação”. M ais d o q u e p ô r o u tirar partes de u m a entrevista, tu d o deve ser terferên cia de c o lab o rad o res m ais afoitos. deve ter um diretor que será, sempre,
o responsável geral pelo andamento e
negociado. M u ita s vezes coisas ditas e m m o m e n to s inesperados o u co m o A ssim , se alg u ém o u u m c o n ju n to de controle das etapas do projeto.
p a rte d e u m a narrativa g a n h am relevo diferen te q u a n d o v e rtid o d o oral pessoas se responsabiliza pelas entrevistas
para o escrito. C aso haja necessidade e seja defin id a a relevância d o q u e foi de u m a rede, as tarefas dev em p e rm a n e c e r sem p re as m esm as. A m u d a n
falado, recom enda-se u m a m b ie n te de cam aradagem para a negociação. ça de ativ id ad es p o d e p re ju d ic a r a “especialização” e em tro c a pro v o car
O u tr o te rm o re le v an te n a m o d e rn a h is tó ria o ral é o d a “a u to ria ” . im provisações n o m a n e jo das tarefas. Q u a n d o o c o rre m tra b a lh o s com
S e g u n d o os c rité rio s das a n tig a s p rá tic a s d e tra b a lh o c o m e n tre v ista s, a eq u ip es, sugere-se q u e haja u m c alen d á rio d e reu n iõ es e q u e to d o s os
q u e s tã o d a a u to ria n ã o re p re se n ta v a n e n h u m p ro b le m a . P ara a h is tó ria m e m b ro s d a e q u ip e to m e m c o n h e c im e n to das funções e dos estágios dos
o ra l, c o n tu d o , u m d o s a sp e c to s m ais in te re ssa n te s e p o lê m ic o s re m e te c o m p a n h e iro s e d o p ro je to .
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