Você está na página 1de 13

artigo

O designer valorizado
Nigel Whiteley

valor , S.m . au d ácia, coragem , valen tia, vigor. – valorização , S.f.


at o o u efeit o d e valo rizar(-se). – valorizar , V.t.d. d ar valo r o u
valo res a. – valoroso , Adj. q u e t em valo r o u co ragem ; d est em id o ,
co rajo so , esfo rçad o . [Do lat . valore].

Dest aca-se d en t re as caract eríst icas co m u m en t e at ribu íd as à co n d ição p ó s-


m o d ern a u m a ero são sign ificat iva d a d ist in ção en tre ‘teoria’ e ‘p rática’. O s
escrit o res p ó s-m o d ern o s fazem q u est ão d e d em on strar q u e n en h u m a p rática é
‘in o cen t e’, q u e a p ró p ria t eo ria é u m a p rát ica e q u e t o d a p rát ica p o d e ser
teo rizad a e p o ssu i im p licaçõ es t eó ricas. Algu n s au tores ch egam ao extrem o d e
argu m en t ar q u e est a d istin ção já n ão exist e m ais: a teoria e a p rática n em
seriam d o is lad o s d a m esm a m o ed a, p o is a p róp ria m oed a seria falsa ou , n o
m ín im o , p ert en ceria a u m m eio circu lan t e o bscu ro e obsoleto. Tais afirm ações
se p au tam , em gran d e p arte, n os im p ortan tes avan ços tecn ológicos d o p assad o
recen t e: a crescen t e ap licação d a in fo rm át ica ten d e a d im in u ir as d istin ções
essen ciais en t re os in stru m en t o s e os am bien t es d e trabalh o u tilizad os p ara o
est u d o ‘p rát ico ’ e ‘t eó rico ’ d o d esign , p o rq u an to tem tran sform ad o tan to os
p ro cesso s d e criação e d esen vo lvim en t o d e p rojetos q u an to os d e p esq u isa e
co m p ilação d e in fo rm açõ es. A ero são d a d ist in ção en t re t eo ria e p rát ica é
sin t o m át ica d e u m d esm o ro n am en t o m aio r d as fro n t eiras q u e sep aravam
d iscip lin as, áreas d e co n h ecim en t o e m et o d o logias cien tíficas. An tes con cei-
tu ad as co m o in d ep en d en t es, au t ô n o m as e co m p artim en tad as, as d iscip lin as
trad icion ais h oje d ão lu gar à in terd iscip lin arid ad e, ou tro sin tom a característico
d a co n d ição p ó s-m o d ern a.
O en sin o d o d esign tem sid o tran sform ad o d e u m a m an eira freq ü en tem en te
aleat ó ria, reagin d o a m u d an ças circu n stan ciais ou id eológicas, em vez d e se
tran sfo rm ar at ravés d e u m a reavaliação rad ical d e p riorid ad es e n ecessid ad es.
O p resen te artigo – q u e p arte d a m in h a p róp ria exp eriên cia n o en sin o d e teoria
e h ist ó ria d o d esign p ara alu n o s ligad o s, n a su a m aioria, a cu rsos p ráticos d e

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
d esign – co n stit u i-se em u m a t en t at iva d e d et alh ar algu m as d as im p licações
d as t ran sfo rm açõ es cu lt u rais assin alad as acim a e p ro p õ e a n ecessid ad e d e
d esen vo lver u m m o d elo p ara u m n o vo t ip o d e d esign er, m u n id o d e u m a
com p reen são bem m ais ap rofu n dada e bem m ais com p lexa da q u estão de valores
d o q u e co st u m a h o je ser o caso .
Parece-m e sim p list a afirm ar q u e a d ist in ção en tre teoria e p rática já n ão
existe m ais; aliás, t al n o ção su p o rt a m u it o m al q u alq u er an álise sistem ática.
Creio, p orém , q u e as d iferen ças se con fu n d iram tan to q u e a relação en tre esses
d o is p ó lo s h o je se ap ro xim a m ais d e u m esp ect ro d o q u e d e u m a d icotom ia
sim p les. Exp lican d o m elh o r essas d u as fo rm as d e con ceber a relação en tre
teo ria e p rát ica, p o d e-se falar, p o r u m lad o , em u m m od elo d e ‘fu são’ q u e
p ressu p õ e u m a am algam ação em q u e as d u as co isas p erd em totalm en te a su a
esp ecificid ad e e viram a m esm a co isa e, p o r o u t ro lad o, em u m m od elo d e
‘co n tín u o ’ q u e ad m it e a in t er-relação e a in t erd iscip lin arid ad e – in clu in d o-se
aí a in terp en etração en tre teoria e p rática – m as q u e ad m ite tam bém a existên cia
d e d iferen ças im p o rt an t es e at é m esm o d e sep aração p rop riam en te d ita n os
d o is ext rem o s d o co n t ín u o .
Essas d ist in çõ es são im p o rt an t es. A in t erp en et ração n ão eq u ivale à am al-
gam ação e, n o caso d o s d esign ers, ain d a exist em h abilid ad es q u e só p od em ser
ad q u irid as n a p rát ica d a o ficin a (o u d o escrit ó rio , d a p ran ch eta, etc.) e ou tras
q u e têm a su a o rigem n o s en sin am en t o s teó rico s e n a sala d e au la. Um a so-
cied ad e so fist icad a p recisa d e d esign ers so fist icad os, os q u ais d evem ser bem
in fo rm ad o s e cap azes d e u m a reflexão crít ica, além d e serem criat ivo s em
m at éria d e p ro jet o . Diferen t es ap t id õ es im bu íd as d e q u alid ad es e co n h eci-
m en t o s d iferen ciad o s su rgem a p art ir d e m an eiras d iferen tes d e p en sar e d e
agir. É p reciso at in gir u m a m aio r co erên cia en t re as d iversas p artes d a form a-
ção , a fim d e p erm it ir q u e as d iversas q u alid ad es e ap tid ões se com p lem en tem
– e, até m esm o, se con fron tem – d e form a con stru tiva. A existên cia d e h abilid a-
d es d e d iferen t es t ip o s d everia en gen d rar u m sen so d e com p letitu d e e d e com -
p reen são n a bu sca d a in t erd iscip lin arid ad e e n ão u m sen so d e con fu são, in -
co erên cia o u d esco n fian ça.
In felizm en t e, são co m u n s o s exem p lo s d esse t ip o d e con fu são, in coerên cia
e d esco n fian ça, co n fo rm e t en h o d esco bert o n as m in h as viagen s d e o rd em
p ro fissio n al. Po rt an t o , an t es d e ap resen t ar u m n o vo m od elo p ara o en sin o d o
d esign , vale a p en a recap it u lar algu n s d o s m o d elo s corren tes, e in su ficien tes,
q u e ten h o o bservad o em várias in st it u içõ es em t o d o o m u n d o. Cabe ressaltar

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


q u e o s m o d elo s id en t ificad o s são raram en t e en con trad os n o estad o p u ro em
q u e são ap resen tados abaixo. O cu rrícu lo das in stitu ições freq ü en tem en te revela
u m a m ist u ra d e vário s m o d elo s, fat o q u e ap en as refo rça a con fu são, a in coe-
rên cia e a d esco n fian ça q u e caract erizam a su a p rática d e en sin o.

O designer f orm alizado


A in t erp en et ração crescen t e en t re t eo ria e p rát ica tem gerad o p elo m en os u m
ben efício im en so, p ois já n ão d á m ais p ara tolerar o an ti-in telectu alism o vigen te
em algu m as escolas d e d esign . A m aioria d os leitores terá con h ecid o facu ld ad es
e/ o u d ep art am en t o s em q u e q u alq u er id éia o u con ceito é n ão ap en as visto
co m o suspeito m as em q u e o p ró p rio est u d o acad êm ico é con sid erad o u m a
ativid ad e an t agô n ica ao d esign . O s p art id ário s d essa p osição p artem d e u m a
d efin ição ext rem am en t e red u t iva d o d esign co m o u m a m era q u est ão d e
fu n cio n alid ad e u t ilit ária, d e m at eriais, d e m ét od os d e con stru ção, d e form a e
p ro p o rção , d efin ição q u e rem o n t a n a su a o rigem ao Mo d ern ism o e, m ais
p recisam en te, à Bau h au s. Já existiram m u it as in stit u ições assim em tod o o
m u n d o ; h oje exist em cad a vez m en o s, se bem q u e algu m as d as su as atitu d es
p red om in an tes, e p rep oten tes, p ersistam em in d ivíd u os d e cabeça m u ito d u ra.
Um a gran d e d ificu ld ad e, d o p o n t o d e vist a h istórico, p assa p elo fato d e q u e
o s co n t eú d o s acad êm ico s o u t eó rico s m in ist rad os a estu d an tes d e d esign têm
sido p en osam en te in adeq u ados e às vezes irrelevan tes m esm o. Na Grã-Bretan h a,
d esd e a d écad a d e 1960 até m u it o recen t em en te, os alu n os eram obrigad os a
est u d ar h ist ó ria d a art e – n em seq u er h ist ó ria d o d esign – a q u al era vista com o
u m assu n t o d e ‘cu ltu ra geral’ d e valor in t rín seco. O tip o d e h istória d a arte em
p au t a co st u m ava ser basicam en t e fo rm alist a, segu in d o os argu m en tos avan -
çad o s p o r Niko lau s Pevsn er n o seu livro d e 1936 Pioneers of the m odern m o-
vem ent 1 , e era m in istrad a p o r d o cen t es q u e em geral n ão p ossu íam n en h u m a
exp eriên cia d e d esign e n em co m p reen d iam m u ito bem as n ecessid ad es d e
seu s alu n o s. Co n seq ü en tem en t e, o s est u d o s acad êm icos eram p ercebid os co-
m o u m a p erda de tem p o, algo q u e desviava a aten ção do trabalh o sério de ap ren -
d er a p rát ica d o d esign . In felizm en te, u m a situ ação bastan te p arecid a ain d a se
rep ro d u z co m algu m a freq ü ên cia: m u it as in st it u ições con tin u am a p recon izar
u m a abo rd agem q u e co n d en a as m at érias ‘t eó ricas’ à irrelevân cia, em fu n ção
d a ch am ad a ‘racio n alização ’ d o cu rrícu lo o u d e u m a ap licação su p erficial d o
sist em a d e créd it os.
1
N. do T.: Traduzido para o português em 1962 como Pioneiros do desenho moderno.

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
O designer t eorizado
O o p o st o d o m o d elo d escrit o acim a gera u m t ip o d e p rofission al q u e p od e ser
ap elid ad o d e o d esign er ‘t eo rizad o ’, o q u al é p ro d u to d e u m alin h am en to com
a p o sição p ó s-m o d ern a m ais ext rem a q u e d ecreta a ‘fu são’ total en tre teoria e
p rática. O s est u d an tes d e d esign (aten ção : n ão m e refiro a alu n os d e h istória
d o d esign o u d e t eo ria d a cu lt u ra) n esses cu rso s são obrigad os a in gerir u m a
d ieta in d igest a d e Derrid a, Bau d rillard , Fo u cau lt , Lyotard , Heid egger e ou tros
h eró is d a at u alid ad e. Não h á n en h u m a t en t at iva d e d iferen ciar o cu rrícu lo
oferecid o aos alu n os d e d esign d aq u ele oferecid o aos alu n os d e h istória e teoria:
ap resen ta-se o m esm o m aterial com o m esm o grau d e abstração e com p lexid ad e
in telect u al p ara alu n o s d e d iversas áreas d e co n cen tração, in d ep en d en tem en -
te d as su as n ecessid ad es esp ecíficas. Ju st ifica-se esse p roced im en to com o ar-
gu m en t o d e q u e o s alu n o s p recisam est u d ar ‘t eo ria’ p orq u e a ‘teoria’ in form a
e exp lica t o d o s o s o u t ro s t ip o s d e d iscu rso . Mesm o d eixan d o d e lad o a iron ia
d e q u e esse tip o d e en sin am en to abstrato e in telectu alista acaba p or recon stitu ir
a gran d e n arrat iva t ão co m bat id a p elas t eo rias p ós-m od ern as, p erm an ece o
fato d e q u e o s est u d an t es d e d esign são geralm en t e in cap azes d e relacion ar e
co n ju gar as t eo rias q u e est ão ap ren d en d o co m o seu t rabalh o p rát ico n as
o ficin as e n o s labo rat ó rio s.
Q u ero d eixar claro q u e co n sid ero fu n d am en t al q u e os d esign ers en fren tem
e abarq u em as gran d es q u estõ es levan tad as n as d iscu ssões teóricas recen tes.
Nesse sen t id o , a in flu ên cia d o s est u d o s t eó rico s n a con ceitu ação d o d esign
tem sid o tan to n ecessária q u an to d esejável. Os ben efícios acarretad os p or essas
d iscu ssõ es são evid en t es – esp ecialm en t e em t erm o s d a d esco n st ru ção d e
q u est õ es d e p o d er, au t o rid ad e e in teresse – e, h o je, q u alq u er avaliação crítica
d e trabalh o s d e d esign q u e se vo lt e exclu sivam en t e p ara q u estões form ais ou
q u e d eixe d e abo rd ar as p o lít icas d e valo res co n su m istas, ou se faz d e in gên u a
o u é fran cam en t e feit a d e m á-fé. Mas d eve-se ad m itir q u e h á tam bém u m
im p act o n egat ivo d o s est u d o s teó rico s so bre o d esign e q u e h á lim itações,
cad a vez m ais evid en tes, p ara a abran gên cia d as abord agen s teorizad as. Den tre
essas lim itações, cabe citar as dificu ldades de acesso e com p reen são q u e resu ltam
d a lin gu agem cad a vez m ais eso t érica u sad a em m u itas d iscu ssões teóricas:
d ian t e d a p o lít ica geralm en t e igu alit ária d efen d id a p elos teóricos em q u estão,
é irô n ico q u e a lin gu agem em p regad a acabe p o r em p restar u m p erfil elitista a
seu s escrit o s. Mais d e u m a vez, o u vi críticas às d iscu ssões teóricas em geral p or
co n st it u írem u m jargão p art icu lar u sad o p o r p ro fesso res e est u d io so s p ara

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


o st en t ar o seu saber e ao m esm o t em p o restrin gir o acesso a seu p eq u en o
círcu lo d e in iciad o s. Est a crítica p o d e ser irô n ica m as n ão p arte d e n en h u m a
in t en ção d e iro n izar. O d esign er ‘teo rizad o ’ p o d e acabar sen d o tão rem oto e
irrelevan t e q u an t o o d esign er ‘fo rm alizad o ’.

O designer polit izado


En co n t ra-se ligad o ao m o d elo d o d esign er ‘t eo rizad o ’ a figu ra d o d esign er
‘politizado’. Este m odelo n ão é m uito difu n dido m as ocu p a u m a p osição estratégi-
ca n o que diz respeito às m atérias de in tegração e con texto em algum as faculda-
des de design . Suas origen s estão n as idéias defen didas pelo Con strutivism o e
pelo Produtivism o russos após 1917. Mais recen tem en te, o m odelo foi revigorado
em 1968 pela ação política direta do Atelier Populaire em Paris, sen do ap resen t a-
d o m ais d iret am en t e ao m u n d o d o d esign p elo Gru p o Fran cês n a con ferên cia
d e Asp en em 1970. Su as cred en ciais esq u erd ist as são, p ortan to, im p ecáveis.
O m o d elo d o d esign er ‘p o lit izad o ’ p o ssu i algu m as varian tes. O d esign er
rad ical d o fin al d a d écad a d e 1960 d eu lu gar ao d esign er resp on sável d a d écad a
d e 1970, p rin cip alm en te a p artir d a p u blicação d o livro Design for the real world
d e Victor Pap an ek, o q u al lan çou a p rop osta d os d esign ers assu m irem u m
p ap el social con stru tivo e in terven cion ista em op osição às forças con su m istas.
A reed ição d est e livro em m ead o s d a d écad a d e 1980 en con trou resp ald o em
u m a n ova geração d e d esign ers cad a vez m ais voltad os p ara q u estões am bien tais
o u ‘verd es’. O d esign er verd e o u eco ló gico d a d écad a d e 1980 d eu lu gar, p or
su a vez, ao d esign er ét ico d a d écad a d e 1990, o q u al en cara tod o o d esign
co m o u m fen ô m en o ligad o visceral e in t im am en te ao con su m o e, p ortan to,
ao sist em a so cial e p o lítico d o O cid en t e m o d ern o.
Mesm o t en d o gran d e sim p at ia p o r est e m o d elo , reco n h eço q u e a su a
ap licação p od e se torn ar d ogm ática bem com o u m tan to d u alista e exclu sivista,
p rin cip alm en te n aq u ele segm en to m ais extrem o q u e já foi ap elid ad o d e ‘verd e
escu ro ’. O t ip o d e p en sam en t o bin ário e o p o sicion ista p or trás d este m od elo
gera tan to as su as forças q u an to as su as fraq u ezas. Exist e t am b ém u m a t en d ên -
cia en tre os seu s p artid ários a p ressu p or q u e tan to o p rocesso d e d esign q u an to
o d e co n su m o são racio n ais: q u e as p esso as agirão ‘corretam en te’ e tom arão
d ecisõ es ‘sen sat as’. Essa t en d ên cia reflet e as lim itações d e u m racion alism o
q u e t en d e a ser sim p list a e red u t ivo . Em relação à ign orân cia com p lacen te d o
m o d elo ‘co n su m ist a’, p o rém , o m o d elo ‘p o lit izad o’ p ossu i u m teor lou vável
d e co n sciên cia so cial e p o lít ica.

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
O designer consum ist a
O m od elo m ais com u m n o en sin o d o d esign h oje em d ia costu m a ser ju stificad o
em term o s d e exigên cias ‘p ro fissio n ais’ e realid ad es d e ‘m ercad o’. Este m od elo
d á ên fase à ‘relevân cia’ e se p ret en d e ap o lít ico , bu scan d o eq u ip ar o estu d an te
d e d esign co m ap t id õ es e t écn icas q u e serão ú t eis n o d esen volvim en to d e
trabalh os p ara em p resas e p ara a in d ú stria. É raro algu m q u estion am en to sobre
a n ecessid ad e d e d et erm in ad o s t ip o s d e p ro d u t o s ou m esm o sobre os seu s
efeitos am bien t ais, so ciais, m o rais o u p esso ais. As p riorid ad es con su m istas d e
atu alizar m o d elo s o u red esen h ar a ap arên cia d e u m p rod u to d o p on to d e vista
m eram en t e estilístico são vist as co m o ‘n at u rais’ e d esejáveis, p ois estim u lam a
econ om ia e garan tem em p regos e p rosp erid ad e. Con ceitos com o ‘cu sto global’
d o p ro d u t o o u a an álise d o seu ‘ciclo d e vid a’ n ão são ap resen tad os ao alu n o e
p o rt an t o cad a d esign o u p ro jet o é vist o co m o u m a so lu ção au t ô n o m a e
‘in o cen t e’, ap en as m ais o u m en o s d esejável d o p on to d e vista d o con su m o.
Este m o d elo p rega a co n fo rm id ad e às n o rm as vigen tes e d efen d e, sem críticas,
a m an u t en ção d o st at u s q u o , o q u e relega o d esign er à ú n ica op ção d e d esp ejar
n a so cied ad e m ais en t u lh o e m ais o bjet o s efêm ero s. O d esign er se torn a u m a
figu ra q u e gera p ro blem as em vez d e so lu cio n á-lo s.
O lad o ‘t eó rico ’ d este m o d elo t en d e a rejeit ar an álises h istóricas ou id eo-
ló gicas, su bst itu in d o -as p o r est u d o s d e geren ciam en to em p resarial: p or exem -
p lo , co m o ‘ven d er’ u m d esign , co m o fazer co n t rat os, m etod ologias básicas d e
d esign , m arket in g e co lo cação d o p ro d u t o e o u t ras q u estões an álogas m in is-
trad as em n om e d e u m m aior p rofission alism o. Tais estu d os são ap resen tad os,
d e m o d o geral, co m o t écn icas o u ap t id õ es q u e o estu d an te d e d esign p recisa
ad q u irir p ara co m p let ar o seu t rein am en t o . De fat o , ‘trein am en to’ é a p alavra-
ch ave p ara est e m o d elo d e en sin o , p o is n ão h á n en h u m a ten tativa d e tran sm i-
tir u m co n t exto m ais am p lo q u e p erm it a ao alu n o d esen volver u m a reflexão
crítica so bre o p ap el d o d esign n a so cied ad e. O m o d elo se ap resen ta, p ortan to,
co m o u m a d eco rrên cia ‘n at u ral’ d as co n d içõ es d e trabalh o, p restan d o-se a
u m a assim ilação fácil e d iret a.

O designer t ecnológico
Este m od elo se associa m u itas vezes à abord agem ‘con su m ista’ d a seção an terior.
A p art ir d o CAD-CAM, a exp lo são d a in fo rm át ica vem t ran sfo rm an d o o s
p ro cesso s d e d esign ; e já se t o rn o u co m u m a cren ça d e q u e o trabalh o d o
alu n o t em d e ser high-tech, o u t ecn o lo gicam en t e ‘d e p on ta’ p ara ser d ign o d e

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


u m d esign er p ro fissio n al. Co n seq ü en t em en t e, m u itos d esign ers e p rofessores
d e d esign estão se tran sform an d o em tecn ófilos ou , até m esm o, tecn om an íacos
q u e p art em d o p ressu p o st o d e q u e a t ecn o lo gia m ais atu alizad a oferece, p or
d efin ição , u m a so lu ção m elh o r e m ais ad eq u ad a p ara q u alq u er p roblem a d e
d esign . Um bo m exem p lo d esse t ip o d e m en t alid ad e ap arece em u m a série
au d io visu al criad a p o r Ced ric Price, u m co n h ecid o otim ista e d eterm in ista
tecn o ló gico , cu jo t ít u lo se t rad u z co m o : ‘A t ecn olo gia é a resp osta... q u al era
m esm o a p ergu n t a?’.
Co m o n o m o d elo an t erio r, h á u m a t en d ên cia a esq u ivar-se d e d ebates ou
reflexõ es crít icas n a p art e ‘t eó rica’ d est e m o d elo d e en sin o. A q u estão m ais
im p o rt an t e d as d iscu ssõ es t en d e a ser ‘co m o ?’ e n ão ‘p or q u ê?’ ou ‘p ara q u ê?’.
Às vezes m in ist ra-se algu m co n t eú d o em t erm os d e ‘teoria d a com u n icação’
o u an álise d e p rogram as m as est e t en d e a en fo car a descrição d e sistem as em
vez d e q u est io n á-lo s o u d e d iscu t ir os seu s valo res e os seu s p rin cíp ios. Tem -se
con statad o, ao lon go d os ú ltim os trin ta an os, q u e a con fian ça cega n o p rogresso
tecn o ló gico p ressu p õ e cert o s valo res so bre o d esign , as p essoas e a socied ad e
q u e n ão são n ecessariam en t e válid o s e, p o rt an t o , d everíam o s n o m ín im o
q u est io n ar q u alq u er m o d elo q u e p art a d o p rin cíp io d e q u e m aior, m ais ráp id o
e m ais p o ssan t e são sem p re q u alid ad es d esejáveis.

O designer valorizado
Co n clu o , en t ão , q u e t o d o s o s m o d elo s cit ad o s acim a p o ssu em lim it açõ es
fu n d am en tais e q u e é p reciso d esen volver u m n ovo m od elo d e en sin o d o d esign
q u e se ad eq ü e às n ecessid ad es d est e fin al d e m ilên io. O m od elo q u e p rop on h o
é o d o ‘d esign er valo rizad o ’.
Precisam o s, p ara o p ró xim o sécu lo , d e d esign ers criativos, con stru tivos e d e
visão in d ep en d en t e, q u e n ão sejam n em ‘lacaios d o sistem a cap italista’, n em
id eó lo go s d e algu m p art id o o u d o u t rin a e n em ‘gen in h os tecn ológicos’, m as
an tes p rofission ais cap azes d e d esem p en h ar o seu trabalh o com con h ecim en to,
in o vação , sen sibilid ad e e co n sciên cia. Às esco las d e d esign cabe a resp on sabi-
lid ad e d e fo m en tar essas q u alid ad es n o alu n o e n ão u m a atitu d e d e aten d er
resign ad am en te às vicissitu d es d e u m sistem a con su m ista obcecad o com lu cros
ráp id o s e co m o cu rt íssim o p razo . As esco las e facu ld ad es d evem satisfações a
t o d a a so cied ad e e n ão ap en as àq u elas em p resas q u e em p regam d esign ers
d iret am en te. O d esign er p recisa ser fo rm ad o p ara ser verd ad eiram en te p ro-
fissio n al, n o sen t id o em q u e se fala d a p ro fissão m éd ica, e p ara ter con sciên cia

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
d as su as o brigaçõ es p ara co m a so cied ad e co m o u m to d o e n ão ap en as p ara
com os lu cros d o seu clien te. O d esign er p recisa ser h ip ocrático e n ão h ip ócrita.
Para o d esign er valo rizad o , a teo ria e a p rát ica t en d eriam a se in terp en etrar
e a se u n ir co m freq ü ên cia m as a d ist in ção essen cial en tre u m a e ou tra coisa
n ão d esap areceria. O fu n d am en t o essen cial q u e d aria u n id ad e a t rabalh o s
realizad o s ao lo n go d o esp ect ro en t re t eo ria e p rát ica t eria q u e ser u m a
co n sciên cia crít ica e rigo ro sa d a q u est ão d e valores, con sciên cia esta q u e se
ad eq u aria às várias ju n çõ es en t re u m a p rát ica in fo rm ad a p ela t eo ria e a
t eo riza çã o co m o p rá t ica . O s p ro jet o s e t a refa s d e est u d o , d e co let a d e
in fo rm açõ es, d e p esq u isa e d e red ação d e t rabalh o s escrit o s d everiam n ão
som en te abord ar u m p roblem a d e d esign p rop riam en te d ito (seja este ‘p rático’
ou ‘teórico’), n o sen tid o u su al d e ap rofu n d ar a criativid ad e, o p rofission alism o,
a com p etên cia, as h abilid ad es técn icas ou o con h ecim en to acad êm ico d o alu n o.
Deveriam at in gir est es o bjet ivo s, é claro , m as d everiam tam bém estim u lá-lo,
p elo p ró p rio p ro cesso , a fazer u m a reflexão so bre a n atu reza d o p roblem a em
term o s d o s seu s p rin cíp io s e valo res im p lícit o s e d o sign ificad o d estes p ara a
área d o d esign , p ara o p ap el d o d esign er n a so cied ad e e p ara u m a socied ad e
q u e se rege p elo co n su m ism o .
O s co n t eú d o s acad êm ico s m in ist rad o s n est e m o d elo se vo lt ariam p reci-
sam en t e p ara a fu n ção d e o ferecer perspectivas claras sobre a p rática con tem -
p o rân ea, n o sen t id o d e aju d ar o alu n o a sit u ar a su a p rát ica n o s d evid o s
co n text o s in t elect u ais, co n ceit u ais e h ist ó rico s. Dian te d o p erfil p olivalen te e
in terd iscip lin ar d o d esign n a n o ssa so cied ad e, essas p ersp ectivas d evem ser d e
n atu reza n ão ap en as cu ltu ral m as tam bém am bien tal, social e p olítica. O alu n o
p recisa d essas p ersp ectivas com o u m p rim eiro p asso em d ireção à com p reen são
d a q u est ão d e valo res: p recisa d elas p ara se t o rn ar in form ad o, con scien te e
crítico (n o sen tid o am p lo e elevad o d a p alavra) d a situ ação atu al. A con sciên cia
d e valo res q u e são ao m esm o t em p o exp lícit o s e (m ais freq ü en tem en te) im -
p lícit o s é o elem en t o essen cial co m q u e as d iscip lin as acad êm icas p o d em
co n tribu ir p ara o en sin o d a p rát ica d o d esign .
Po r exem p lo , o alu n o d eve p en sar so bre as resp on sabilid ad es d o d esign er
em relação a q u est ões eco ló gicas, t an t o em t erm os d o p oten cial d o d esign
p ara garan tir a su sten tabilidade am bien tal, q u an to em term os do p ap el n egativo
d o d esign co m o est ím u lo ao sist em a d e valo res co n su m istas. O alu n o d eve ser
levad o a refletir so bre as q u estõ es ét icas q u e t an gem à m oralid ad e p essoal e
p rofission al d o d esign er: q u ais são os lim ites d e cad a u m em relação a d iferen tes

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


tip o s d e t rabalh o? As q u est õ es ét icas d evem ser exp lorad as igu alm en te em
relação ao co n su m o . Q u est õ es d e gên ero t am bém d evem ser avaliad as e o
p a p el d o d esign n a p erp et u a çã o d e est ereó t ip o s so b re m a scu lin id a d e e
fem in ilid ad e p recisa ser co m p reen d id o e q u est ion ad o . Cabe an alisar atitu d es
tão en raizad as q u an t o o co n ceit o toys for boys n a área d e d esign d e p rod u to. 2
Valo res p at riarcais e n o çõ es d e cid ad an ia d everiam am bos ser su jeitad os ao
est u d o acad êm ico e ao d ebate.
É fu n d am en t al q u e o alu n o se d ep are co m q u estões d essa ord em m as é d e
igu al im p o rt ân cia q u e est as sejam vist as co m o m ais d o q u e ap en as teóricas ou
acad êm icas, sen ão p ro ssegu irão d o m esm o jeito as p ráticas ‘in ocen tes’ q u e
geram , p o r ex em p lo , p ro jet o s im b u íd o s d e u m t eo r sex u al in d evid o o u
q u est io n ável. Um a d as gran d es van t agen s d e erod ir a d istin ção en tre teoria e
p rática coin cid e com a m aior van tagem d e en focar valores n o en sin o d o d esign :
am bas est as p o st u ras acabam p o r co lo car em d estaq u e o p ap el d e ju n ção e
in t egração en t re d iscip lin as d esem p en h ad o p ela q u estão d e valores, tan to n a
teo ria q u an to n a p rát ica. Não h á d ificu ld ad e algu m a em tran sp ortar valores
d a o ficin a p ara a sala d e au la, e vice-versa, em q u alq u er d as áreas d e estu d o
d et alh ad as acim a. Sem esse asp ect o t ran sd iscip lin ar, n o en tan to, voltaríam os
rap id am en t e à m aio r fraq u eza d a ab o rd agem t rad icio n al d e ‘est u d o s d e
in t egração ’: a gran d e sep aração en t re t eo ria e p rática q u e tem sem p re m arcad o
o en sin o d o d esign , ao m en o s n a Grã-Bret an h a. Devem os evitar d ocen tes d e
d esign q u e n u n ca freq ü en taram u m a oficin a, q u e n ão p ossu em a m en or n oção
d e co m o o s d esign ers p en sam e criam , e q u e en caram a p rática com o n ad a
m ais d o q u e u m a dem onstração d as teorias. São d ocen tes d este tip o q u e ten d em
a p ro m o ver u m in t elect u alism o falso o u elit ist a. Mas d evem os tam bém evitar
aq u eles docen tes de form ação p rática q u e n ão têm n en h u m resp eito p elo estu do
acad êm ico, p or acred itarem q u e o d esign n ão p assa d e u m a ativid ad e em p írica,
in st ru m en tal, q u e se ap ren d e fazen d o . São est es d ocen tes q u e ten d em a p ro-
m o ver o an t i-in t electu alism o .
Um d ad o im p o rt an t e q u e só p o d e vir d o lad o acad êm ico d a eq u ação d iz
resp eito ao fato de q u e valores con su m istas, ecológicos, fem in istas, etc. p recisam
ser co m p reen d id o s a p art ir d e u m a p ersp ect iva h istórica eq u ilibrad a. O alu n o
d eve t er u m a n o ção só lid a d o p ap el d o d esign n a socied ad e em q u e vive e
2
N. do T.: A expressão se refere ao tipo de mentalidade que estimula o designer a projetar um
automóvel, por exemplo, como se fosse um brinquedo masculino, em vez de um meio de transporte
com o potencial de promover e/ ou ameaçar o bem-estar individual e coletivo.

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
p reten d e t rabalh ar e t am bém d as fo rm as em q u e esse p ap el se d esen volveu e
m u d o u ao lo n go d o s ú lt im o s cem an o s. É a p art ir d essa p ersp ectiva h istórica
q u e o alu n o p o d erá co m p reen d er co m o o d esign se t ran sfo rm o u em u m a
ativid ad e d e o rd em cu lt u ral e n ão ap en as d e o rd em u tilitária ou com ercial.
Mais u m a van tagem de estu dar valores advém do fato de q u e estes são relevan tes
n ão ap en as em t erm o s in t electu ais m as t am bém d o p on to d e vista d a p rática
p rofission al. Historicam en te, os valores são fru to d e p ráticas sociais e cu ltu rais.
O alu n o p recisa tom ar con h ecim en to d a n atu reza d a relação en tre o cap italism o
tard io , o co n su m ism o e a p ó s-m o d ern id ad e. Deve estar con scien te, p or exem -
p lo , d o im p act o d a p ro sp erid ad e, d o co n su m ism o e d a q u estão d o ‘estilo d e
vid a’ co m o fo rças so ciais e cu ltu rais n o sen t id o m ais am p lo, n ão ap en as em
term o s d e segm en t ação d e m ercad o e co lo cação d e p ro d u to. É im p o rt an t e q u e
o alu n o p erceb a a m an eira em q u e as id éias estão sem p re m u d an d o: q u e en -
t en d a d e o n d e vieram , co m o m u d aram e q u e ru m o p o d erão t o m ar n o fu t u ro .
Essa co m p reen são d everá t ran sfo rm á-lo in d iret am en te em u m d esign er m e-
lh or, à m ed id a q u e torn a o alu n o m en os p rop en so a gerar solu ções aleatórias
co m base em su p o siçõ es errô n eas o u in co m p let as e m elh or p osicion ad o p ara
gerar so lu çõ es in fo rm ad as, ab ran gen t es e co m p let as co m b ase em u m a
co m p reen são p ro fu n d a d o s valo res q u e d ão o rigem ao p rojeto d e d esign . Sem
a p ersp ectiva h istórica, ap reen d e-se as q u estões e os valores ap en as p ela m etad e:
q u an d o n ão se en t en d e o contexto h ist órico e in t electu al q u e os gerou , ten d e-
se a en t en d er errad o t o d o o rest o .
Para o alu n o d e d esign , a p ersp ect iva h ist ó rica n ão eq u ivale àq u ilo q u e se
en ten d e co n ven cio n alm en t e co m o ‘h ist ó ria d o d esign ’. A h istória, p ara o d e-
sign er, é u m cam in h o e n ão u m d est in o, co m o o é p ara o alu n o d e h istória. As
p ersp ect ivas h ist ó ricas em q u est ão d evem ser ret irad as d o est u d o d a h ist ó ria
d o d esign m as n ão são eq u ivalen t es ao p ró p rio est u d o h ist ó rico , n o sen t id o
est rit o . Est a d ist in ção é im p o rt an t e p o rq u an t o cab e reco n h ecer q u e q u em
est u d a h ist ó ria d o d esign p ro p riam en t e d it a t em n ecessid ad es d iferen t es d o
estu d an te d e d esign . O q u e acon tece com freq ü ên cia é q u e as m esm as m atérias
são m in ist rad as a alu n o s d e d esign e d e h ist ó ria d o d esign , co m o fo rm a d e
eco n o m izar recu rso s. Ist o n em sem p re é ru im , p o is às vezes u m a ú n ica d isci-
p lin a se ap lica ao s d o is gru p o s. Exist e u m b o m argu m en t o a favo r d e d ar ao
alu n o d e d esign u m sen so d e ‘rigo r acad êm ico ’ e d e en sin á-lo a u t ilizar fo n t es
p rim árias p ara q u est io n ar p ressu p o st o s vigen t es, m as u m a p rep o n d erân cia
d e d iscip lin as em co m u m co m alu n o s d e h ist ó ria p o d e levar o alu n o d e d esign

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


a se revo lt ar e a d u vid ar d a relevân cia d esse t ip o d e en sin o.
O m o d elo d o ‘d esign er valo rizad o ’ aju d aria a d esen volver u m a con sciên cia
m a is crít ica b em co m o u m m a io r sen so d e resp o n sa b ilid a d e. As n o va s
facu ld ad es d o sécu lo XXI d evem assegu rar q u e seja d isp en sad a ao alu n o u m a
verd ad eira ed u cação e n ão ap en as u m trein am en to estreito, p or m ais sofisticad o
q u e ele o seja em t erm o s t ecn o ló gico s. O alu n o p recisa se torn ar u m d esign er-
cid ad ão, p osicion ad o e atu an te, e n ão ap en as u m cid ad ão-d esign er, con form ista
e obed ien te. O m od elo d o ‘d esign er valo rizad o ’ n ão p ressu p õ e u m a d et erm in a-
d a p o sição p o lít ica o u p art id ária, m as p ro m o ve sim u m a com p reen são am p la
d e sist em as d e valores e exige q u e o alu n o saiba ju stificar os seu s p róp rios va-
lo res, co m p ro m isso s e cren ças. O d esign er valo rizad o d eve ser cap az d e avaliar
o d esign n ão co m o u m a fin alid ad e cu jo s valo res são evid en tes ou n atu rais,
m as co m o u m a p art e in t egran t e e in tegrad a d e u m a d eterm in ad a socied ad e.
O m o d elo d o d esign er valo rizad o é m u lt iface, p lu ral e toleran te, até p orq u e
resu lt a d e u m a u n ificação d e sist em as d e valo res; n ão exclu i n ecessariam en te
n em o co n t eú d o , n em o s valo res d e n en h u m d os ou tros m od elos d etalh ad os.
To d avia, ao an alisar o u t ro s m o d elo s a fim d e d eterm in ar os seu s valores e ao
p o sicio n á-lo s co m o sistem as d e valo res, o m o d elo d o d esign er valo rizad o
p o ssib ilit a u m a p ersp ect iva d e conhecim ento profundo q u e falt a ao s o u t ro s
m o d elo s e cu ja falt a o s t o rn a exclu sivist as. Ao en corajar a reflexão, este n ovo
m o d elo t am bém o ferece u m alt o grau d e transparência, q u e m ilita con tra a
ten d ên cia d e algu n s o u t ro s m o d elo s a co lo carem -se com o ‘n orm ativos’ ou
‘n atu rais’. Através d e u m en sin o d esse tip o, cad a alu n o ch egará a u m resu ltad o
d iferen t e, o q u al reflet irá a d iversid ad e d o s seu s p róp rios valores cu ltu rais e
p olít ico s. Ist o n ão d eve ser vist o co m o u m a falh a d o m od elo, m as an tes com o
u m ín d ice d o seu su cesso n a p rom oção d a d iversid ad e e d o p lu ralism o. Tod avia,
o q u e im p ort a m esm o é q u e esses resu lt ad o s sejam co n q u istad os através d os
esfo rço s d o p ró p rio alu n o p ara co n h ecer e co n scien tizar-se d os valores e d os
p ressu p o st o s q u e o s d et erm in am , p erm it in d o assim q u e tod as as su as d ecisões
e esco lh as sejam in fo rm ad as e p o n d erad as. Um a d iversid ad e d e resu ltad os é
p referível ao s valo res in visíveis, d o u t rin ário s e exclu sivistas p rom ovid os p or
m o d elo s t ão o p o st o s q u an t o o co n su m ist a e o p olitizad o.
O s valo res p o d em ser est u d ad o s d o s p o n t o s d e vist a an t ro p o ló gico e
so cio ló gico , o q u e sign ifica, p o r co n segu in te, q u e tam bém p od em ser valori-
zad o s co m o reflexo s d e t rad içõ es e sist em as. O d esign er valorizad o teria d e
d esen vo lver am bo s est es m o d o s d e co m p reen d ê-los. O p rim eiro sem o ú ltim o

DESIGN , CULTURAO MDESIGN EREVALORIZADO


ATERIAL O FETICHISM O DOS OBJETOS 
co rre o risco d e se resu m ir à ‘teo ria’, n o p io r sen t id o, geran d o n ad a m ais d o
q u e co n ceit o s abst rat o s e rem o t o s. O ú ltim o sem o p rim eiro corre o risco d e se
torn ar in gên u o, alegan d o o ‘n atu ral’ e o evid en te com o ju stificativas p ara q u al-
q u er at it u d e.
O d esign er valo rizad o é, em su m a, aq u ele q u e p ossu i u m a com p reen são
crítica d o s valo res q u e fu n d am en t am o d esign , m as d eve ser tam bém , retor-
n an d o à d efin ição cit ad a n o in ício d est e t ext o , au d az e corajoso: d isp osto a
d efen d er id eais so ciais e cu lt u rais m ais elevad o s d o q u e o con su m ism o a cu rto
p razo, co m a su a bagagem o brigat ó ria d e d egrad ação am bien tal. O d esign er
valo rizad o d eve en xergar n o d esign o p o t en cial d e con tribu ir p ara u m a q u ali-
d ad e d e vid a m elh o r e m ais su st en t ável. Nesse sen tid o, o d esign er valorizad o
d eve ter con sciên cia d o seu p róp rio valor. Aliás, o m od elo p recon iza q u e o d e-
sign er – lon ge d e ser u m m ero son h ad or, u m teórico d istan te ou u m técn ico
sem im agin ação – saiba est ip u lar o p reço d o seu con h ecim en to. O s d esign ers
d evem t er co n sciên cia d e q u an t o cu st am , assim com o d e q u an to valem !

Nigel W hit eley é p ro fesso r t it u lar d o Dep art am en t o d e Art e d a


Un iversid ad e d e Lan cast er, In glat erra, e já lecio n o u co m o p ro fesso r
visit an t e n o In st it u t o Nacio n al d e Design em Ah m ed abad ; n o
In st it u t o In d ian o d e Tecn o lo gia, em Bo m baim ; e n a Acad em ia
Cen t ral d e Art e e Design , em Peq u im . É au t o r d e u m gran d e
n ú m ero d e art igo s so bre art e, d esign e arq u it et u ra e d o s livro s
Design for society e Pop design: Modernism to Mod, bem co m o co -
o rgan izad o r d o s vo lu m es T he lam p of m em ory: Ruskin, tradition
and architecture e T he authority of the consum er. No m o m en t o ,
est á t erm in an d o u m livro so bre a o bra t eó rica e crít ica d e
Reyn er Ban h am .

 ARCOS VOLUM E 1 1998 N ÚM ERO ÚN ICO


Resum o Abst ract

O presente artigo faz um mapeamento de vários TITLE: “ The valorized designer”


modelos diferentes do designer que existem ou AUTHOR: Nigel Whiteley
já existiram e conclui que precisamos desenvol-
ver um novo modelo para o próximo milênio: This paper maps out a number of the different
o ‘designer valorizado’. Critica-se os seguintes models of the designer that have existed or
modelos atuais: 1) o designer formalizado, 2) o currently exist, concluding that we need to de-
designer teorizado, 3) o designer politizado, 4) velop a new model for the millennium: the ‘valo-
o designer consumista, 5) o designer tecnoló- rized designer’. The current models it attacks
gico. O modelo do designer valorizado reconhe- include: 1) the formalized designer; 2) the theo-
ce a diversidade do design e dos seus valores, rized designer; 3) the politicized designer; 4)
bem como as mudanças no papel do designer, the consumerized designer; 5) the technologi-
argumentando contudo que essa mudança não zed designer. The valorized designer model ac-
é simples nem linear. Reconhece também as mu- knowledges the diversity of design and its val-
danças na relação entre teoria e prática e o cres- ues, as well as the changing role of the designer
cimento da interdisciplinaridade. Para o novo mi- whilst arguing that the change is neither simple
lênio, precisamos formar designers que sejam nor linear. It acknowledges the changing rela-
tão inteligentes e capazes de se expressar ver- tionship between theory and practice and the
balmente quanto criativos em termos visuais – growth of interdisciplinarity. For the new mil-
já não se trata mais de uma questão e/ ou. Qual- lennium, we must educate designers who are
quer que seja a sua especialidade em design ou as articulate and intelligent as they are visually
o seu posicionamento pessoal/ político/ social, os creative – it is no longer an either/ or option or
designers precisam estar cientes dos valores e mentality. Whatever their type of design or per-
da implicação destes. Esse tipo de consciência sonal/ political/ social position, designers need to
e de conhecimento contribuirá não somente be aware of values and their implications. Such
para as soluções e metodologias projetivas do knowledge and understanding will not only in-
designer mas também para as suas atitudes e form their design solutions and methods, but
sensibilidades como cidadão. their sensibilities and attitudes as members of
society.

DESIGN , CULTURAO MDESIGN


ATERIAL
EREVALORIZADO
O FETICHISM O DOS OBJETOS 

Você também pode gostar