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LON L.

F U L L E R

Profe ssor de “Jurisprudence” da Ha rva rd L a w Sc hool

O CASO
DOSEXPLORAD
ORES
DE CAVERNAS

Tra duç ã o do ori gi na l i ngl ê s e i nt roduç


ã o p orP LA UT O F A R A C O D E
AZEVEDO
Profe ssor a dj unt o e pe squi sa dor da Fa c ul da de de Di re i t o da UFR GS; dout or e
m di re i t ope l a Uni ve rsi da de C a t ól i c a de L ouva i n, B é l gi
ca
Se rgi o Ant oni o Fa bri s E di t or
Port o Al e gre , 1976. R e i m pre sso:
1993.Título do original
Copyright, O . b y H A R V A R D L AW R E V I E W
"THE C A S E OF T H E SPELUNCEAN E XP LO R E R S "
F I C H A C A T A L O G R Á F IC A

(Elaborada pela equipe da Biblioteca do T rib unal de J u s t i ç a do R S . )


Fuller, L o n L

O caso dos exploradores de caver nas.


T r adu ção do original inglês e introdução
por Plauto F ar ac o de Azevedo. Porto
Alegre, Fabr is, 1 9 7 6 .
7 7 p. 16cm.
1. Filosofia do direito. 2. Introdução à
ci ência do direito. I. Azevedo, Plauto
F ar ac o de, trad. II. Título.

C D U 3 4 0 .1 2
3 4 0 .1 1

Índice para catálogo sistemático:


1. Introdução à ciência do direito 3 4 0 .1 1 Filo
sofia do direito 3 4 0 .1 2

Reservados todos os direitos de publicação em


lín gua portuguesa.

S e rgi o A nt oni o F a bri s E di t or


R . M i gue l C out o, 745 - Te l e fone (051) 233-
268190850-050 P ort o A l e gre , R S - B ra s i l
ou C a i x a Postal 4 0 0 1
9 0 6 3 1 - 9 7 0 Porto Alegre, R S - B r a s i l

IINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO

Nenhuma di sci pl i na j urí di ca é t ão probl emát i ca, t ão suscet í vel de


abordagens di versas - o que, al i as, a própri a di scussão que at é hoj e persi st
e quant oa seu obj et o t est emunha - do que a I nt rodução à Ci ênci a do Di rei t
o, e, no en
t ant o, nenhum ensi no é t ão f ecundo e mesmo event ual ment e t ão f ecundant e
quant o aquel e que se mi ni st ra aos que se i ni ci am no est udo do Di rei t o.
P or paradoxal que à pri mei ra vi st a possa parecer, é est e o moment o em
que o aprendi zado, desde que conveni ent ement e conduzi do, pode penet rar
de manei ra
i ndel ével nos espí ri t os, aguçando a curi osi dade, l evando o al uno a pri mei
roordenar as noções i nf ormes e esparsas que possui e, post eri orment e, a
compl ement á-l as, mercê do est udo e da medi t ação. Nest e sent i do, nada
mai s f asci nant e ao prof essor do que part i ci par dest e processo f ormat i vo
que não deveconduzi r a uma concepção reduzi da, mas compl et a, em que o
Di rei t o sej a percebi do e reconheci do dent ro de uma t ot al i dade cul t ural
de que é a um t empoquadro e produt o.

Q uer-se si gni f i car com i st o que não se pode pret ender exauri -l o na dog
mát i caj urí di ca e mui t o menos que se possa est a rest ri ngi r ao concept ual
i smo puro,sem dúvi da mui t as vezes at raent e ao espí ri t o, mas despi do de
i mport ân ci a emesmo noci vo - porque al i enant e - ao regrament o da real i
dade soci al . É de
t odo i mperi oso que a dogmát i ca j urí di ca e a pesqui sa em geral ,
represent a dapel a F i l osof i a, pel a Hi st óri a, pel a S oci ol ogi a Jurí di ca,
pel a Ci ênci a P ol í t i ca (eaqui a enumeração é merament e exempl i f i cat i
va), guardem aquel a í nt i ma vi ncul ação sem a qual não se poderá verdadei
rament e apreender o j urí di co.

Dando por assent e a premênci a dest e rel aci onament o, pena de


desvi rt uar o obj et o do conheci ment o buscado, t ropeça-se, cont udo, no
ensi no da I nt rodução à Ci ênci a do Di rei t o, na di f i cul dade de comuni cá-l
o ao est udant e, sobret udo quando se cogi t a da vari abi l i dade da noção de
di rei t o no curso da hi st óri a.

Jusnat ural i smo, hi st ori ci smo, posi t i vi smo, " di rei t o l i vre" , real i
smo - (e a quit ambém a enumeração não é evi dent ement e exaust i va) - e a
correspect i va
at i t ude ou papel do j ui z em conf ormi dade com cada uma dest as
concepções,ensej ando o probl ema, não menos rel evant e, da cri at i vi dade
mai or ou menordo Di rei t o pel a vi a j uri sprudenci al - t udo i st o são noções
que necessi t am deconcret ude, i ndi spensável ao i ni ci ant e no est udo do Di
rei t o. F ecundada dest emodo sua i nt el i gênci a, f áci l l he será, ao depoi s,
al çar-se das noções apreendidas aos grandes t emas da F i l osof i a do Di rei t
o, di sci pl i na t radi ci onal ment e col ocada em et apa mai s avançada nos
currí cul os j urí di cos.

Just ament e na real i zação dest e obj et i vo t emos comprovado a i


mport ânci a i nest i mável do t rabal ho do P rof essor Lon L. F ul l er, da Uni
versi dade de Harvard - 0 Caso dos E xpl oradores de Cavernas (" T he Case
of t he S pel uncean
E xpl orers" ), que bem poderi a l evar o subt í t ul o de " Uma I nt rodução à A
rgument ação Jurí di ca”.

Desde a pri mei ra vez em que o ut i l i zamos em aul a, apresent ando-o a


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est udant es que recém t ranspunham os umbrai s da Uni versi dade,
surpreendeunos a prof undi dade de seu cont eúdo, que se não revel a em
uma pri mei ra l ei t ura, ai nda que cui dadosa. F azendo a sua exposi ção i
sent a de posi ções preconcebi das e submet endoo à di scussão, vi mos os al
unos ai nda vaci l ant es esboçarem al guns dos t raços mai s caract erí st i cos
dos vot os, correspondent es a di f e
rent es post uras f i l osóf i cas, emi t i dos pel os j uí zes do Tri bunal do P resi
dent eTruepenny. Daí a nossa deci são de t raduzi -l o para o port uguês, para
que nossos est udant es penet rassem desde l ogo nas abst rações j urí di cas
pel a vi a daconcret ude.

Conduzi ndo a di scussão habi l ment e, sem nel a i nf l ui r, vi sando t


ãosoment e a descont rai r os est udant es, dá-se-l hes a oport uni dade de vi
sual i zarem de modo crí t i co a posi ção para a qual propendem, penet rando,
do mesmopasso, na argument ação, nest a se adest rando, em consonânci a
com os ensinament os de Chai m P erel man, da Uni versi dade Li vre de B
ruxel as e de T heodor Vi ehweg, da Uni versi dade de Mogúnci a, que só bem
mai s t arde vi rão a conhecer1 .

A demai s, não haveri a pal avras para enal t ecer a i nt ui ção do aut or
quesoube, em est i l o ameno, t razer para dent ro dest e caso i magi nári o
que l he f oisugeri do por casos reai s - Q ueen v. Dudl ey e S t ephens (L. R. 14
Q . B . Di v. 273;1884) e Uni t ed S t at es v. Hol mes (1 Wal l . 1; 1842) -
os mai s at raent es ei mport ant es t emas da t eori a j urí di ca, most rando,
paral el ament e, que os mes
mos probl emas que preocupavam os homens da época de P éri cl es cont i
nuama af l i gi r-nos nos di as que correm, ent remost rando-se nos l i t í gi os da
quot i di anarot i na dos t ri bunai s. Como j á em cert o sent i do escrevemos al
hures, é no pl anodi nâmi co da i nt erpret ação e apl i cação do Di rei t o que
se desvel am as suasgrandes quest ões. S ão os prát i cos - o advogado, o j
ui z, o consul t or j urí di co, orepresent ant e do Mi ni st éri o P úbl i co que,
buscando sol ução aos casos concre
t os, deparam com a possí vel i nadequação das normas j urí di cas aos f at os a
quesão prepost as2 . E apenas medi ant e adequada f ormação, que se deve i
ni ci ar

1
"Pe re l m a n c om ba t e a opi ni ã o de t a nt os fi l ósofos que c onsi de ra ra m - e c ont i nua m c
onsi de ra ndo - quet oda form a de ra c i oc í ni o que nã o se a sse m e l he a o m a t e m á t i c o nã o pe
rt e nc e à l ógi c a . C ont ra e st a opi ni ã oi nj ust i fi c a da e c a duc a sust e nt a Pe re l m a n que há
mesmo formas de raciocínio mais elevadas, que nã oc onst i t ue m propri a m e nt e c á l c ul os ne m t a
m pouc o pode m se r form ul a da s c om o “demonstrações”, pe rt e n
c e ndo, e m c ont ra pa rt i da , à argumentação". E é e st a "precisamente o tipo de raciocínio
empregado pelojurista... A t ra di ç ã o c a rt e si a na , que busc a a c i m a de t udo a evidência, de sde
nha qua l que r proposi ç ã o quenã o possua o c a rá t e r do óbvi o, do i ndi sc ut í ve l , do e xa t o, do
pre c i so. Toda vi a , e st a c onc e pç ã o l ogi c i st a oum a t e m a t i z a nt e do pe nsa m e nt o é de m a si a
da m e nt e e st re i t a , poi s nã o a bra nge gra nde qua nt i da de de ra c i oc í
ni os, que nã o t ê m e ne m pode m t e r form a de m onst ra t i va ... Ma s suc e de que a própri a í ndol
e da de l i be raç ã o e da a rgum e nt a ç ã o se opõe m à e vi dê nc i a e à ne c e ssi da de a bsol ut a ;
porque nã o se de l i be ra nos c a sose m que a sol uç ã o t e m c a rá t e r de ne c e ssi da de , c om o nã o
se a rgum e nt a c ont ra a e vi dê nc i a . A a rgum e nt a ç ã ot e m se u se nt i do no ve rossí m i l , no pl a
usí ve l e no prová ve l , e sc a pa ndo e st e s à c e rt e z a de um c á l c ul o e xa t ode que re sul t e um a
úni c a sol uç ã o j ust i fi c á ve l e m t e rm os a bsol ut os... Já os c ul t ore s da s c i ê nc i a s na t ura i sa
pe na s re c onhe c e m a e vi dê nc i a da i nt ui ç ã o se nsí ve l , da e xpe ri ê nc i a e da i nduç ã o... Ta
nt o a c onc e pç ã oc a rt e si a na qua nt o a dos c i e nt i st a s e m pí ri c os m ut i l a m o c a m po da ra z
ã o, post o que l he ne ga m c a pa c i da depa ra t ra t a r dos dom í ni os e m que ne m a de duç ã o l ógi c
a ne m a obse rva ç ã o dos fa t os pode m forne c e r-nos asol uç ã o dos probl e m a s. A a c e i t a r-se e st
a c i rc unsc ri ç ã o da ra z ã o e m t a i s dom í ni os, nã o nos re st a ri a out rore c urso e xc e t o o de ne
l e s e nt re ga r-nos à s forç a s i rra c i ona i s, a nossos i nst i nt os ou à vi ol ê nc i a ". Pe re l m a n,C ha i
m - De la justicia (De la justice) Tra d. de R i c a rdo Gue rra . Pre f. de L ui s R e c a se ns Si c he s.
Mé xi c o,
Universidad Nacional Autónoma de México, 1964, p. II-III.
2
Az e ve do, Pl a ut o Fa ra c o de - E m que c onsi st e a probl e m á t i c a do Di re i t o Na t ura l . Ant i
güi da de e va st i dã odo t e m a . Estudos Jurídicos, Sã o L e opol do, 5(12): 100, 1975.

4
nos pri mórdi os do curso j urí di co, é que poderão sol ver t ai s di f i cul dades,
não
conf undi ndo o Di rei t o com a Lei , e nem est a com a Just i ça.
Rest a ext ernar à Harvard Law Revi ew o devi do reconheci ment o por
haver permi t i do est a t radução, cuj os f rut os, conf i amos, hão de ser os
mai s prof ícuos.

P l a u t o F a ra co d e A ze ve d o

5
O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA
O C a so dos E xpl ora dore s de C a ve rna s Supre m a C ort e de Ne wga rt h - Ano de 4300

Proc e ssa dos e c onde na dos à m ort e pe l a forc a , os a c usa dos re c orre ra m da de
c i sã o doTri buna l do C onda do de St owfi e l d à Supre m a C ort e de Ne wga rt h.
Os fa t os e m que sel ouvou a se nt e nç a c onde na t óri a sã o os que a se gui r e nunc
i a o Pre si de nt e de sse a l t o Tribuna l e m se u vot o.

Presidente Truepenny, C. J.

Os qua t ro a c usa dos sã o m e m bros da Soc i e da de E spe l e ol ógi c a - um a


orga ni z a ç ã oa m a dorí st i c a de e xpl ora ç ã o de c a ve rna s. E m pri nc í pi os de m
a i o do a no de 4299, pe ne
t ra ra m e l e s, e m c om pa nhi a de R oge r W he t m ore , à é poc a t a m bé m m e m bro
da Soc i e da de ,no i nt e ri or de um a c a ve rna de roc ha c a l c á ri a do t i po que se e nc
ont ra no Pl a na l t o C e nt ra lde st a C om m onwe a l t h. Já be m di st a nt e s da e nt ra
da da c a ve rna , oc orre u um de s
m orona m e nt o de t e rra : pe sa dos bl oc os de pe dra fora m proj e t a dos de m a ne i
ra a bl oque a rc om pl e t a m e nt e a sua úni c a a be rt ura . Qua ndo os hom e ns a pe rc
e be ra m -se da si t ua ç ã o
di fí c i l e m que se a c ha va m , c onc e nt ra ra m -se próxi m o à e nt ra da obst ruí da ,
na e spe ra nç ade que um a e qui pe de soc orro re m ove sse o e nt ul ho que os i m pe
di a de de i xa r a pri sã osubt e rrâ ne a . Nã o vol t a ndo W he t m ore e os a c usa dos à
s sua s c a sa s, o se c re t á ri o da Soc i eda de foi not i fi c a do pe l a s fa m í l i a s dos
a c usa dos. Os e xpl ora dore s ha vi a m de i xa do i ndi
c a ç õe s, na ' se de da Soc i e da de , c onc e rne nt e s à l oc a l i z a ç ã o da c a ve rna
que se propunha mvi si t a r. A e qui pe de soc orro foi pront a m e nt e e nvi a da a o foc
al.

A t a re fa re ve l ou-se e xt re m a m e nt e di fí c i l . Foi ne c e ssá ri o supl e m


e nt a r a s forç a sde re sga t e ori gi na i s m e di a nt e re pe t i dos a c ré sc i m os de
hom e ns e m á qui na s, que t i nha mde se r t ra nsport a dos à re m ot a e i sol a da re
gi ã o, o que de m a nda va e l e va dos ga st os. Ume norm e c a m po t e m porá ri o de t
ra ba l ha dore s, e nge nhe i ros, ge ól ogos e out ros t é c ni c os, foii nst a l a do. O t ra ba
l ho de de sobst ruç ã o foi m ui t a s ve z e s frust ra do por novos de sl i z a m e n
t os de t e rra . E m um de st e s, de z ope rá ri os c ont ra t a dos m orre ra m . Os fundos
da Soc i e dade E spe l e ol ógi c a e xa uri ra m -se ra pi da m e nt e e a som a de oi t oc
e nt os m i l frelares, obt i dae m pa rt e por subsc ri ç ã o popul a r e e m pa rt e por
subve nç ã o l e gi sl a t i va , foi ga st a a nt e s
que os hom e ns pude sse m se r l i be rt a dos, o que só se c onse gui u no t ri gé si m o se
gundo di aa pós a sua e nt ra da na c a ve rna .

De sde que se soube que os e xpl ora dore s t i nha m l e va do c onsi go a pe na s


e sc a ssa sprovi sõe s e se fi c ou t a m bé m sa be ndo que nã o ha vi a subst â nc i a a
ni m a l ou ve ge t a l nac a ve rna que l he s pe rm i t i sse subsi st i r, t e m e u-se que e
l e s m orre sse m de i na ni ç ã o a nt e sque o a c e sso a t é o pont o e m que se a c ha
va m se t orna sse possí ve l . No vi gé si m o di a apa rt i r da oc orrê nc i a da a va l a
nc ha soube -se que os e xpl ora dore s t i nha m l e va do c onsi gopa ra a c a ve rna um
rá di o t ra nsi st ori z a do c a pa z de re c e be r e e nvi a r m e nsa ge ns. Inst a l ou
se pront a m e nt e um a pa re l ho se m e l ha nt e no a c a m pa m e nt o, e st a be l e c e
ndo-se de st e m odoa c om uni c a ç ã o c om os de sa fort una dos hom e ns no i nt e ri
or da m ont a nha . Pe di ra m e st e sque l he s i nform a sse m qua nt o t e m po se ri a ne
c e ssá ri o pa ra l i be rá -l os. Os e nge nhe i ros

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re sponsá ve i s pe l a ope ra ç ã o de sa l va m e nt o re sponde ra m que pre c i sa va m
de pe l o m e nosde z di a s, à c ondi ç ã o que nã o oc orre sse m novos de sl i z a m e nt
os. Os e xpl ora dore s pe rgunt a ra m e nt ã o se ha vi a a l gum m é di c o no a c a m pa
m e nt o, t e ndo si do post os e m c om uni c a
ç ã o c om a c om i ssã o de st e s, à qua l de sc re ve ra m sua c ondi ç ã o e a s ra ç õe s
de que di spunha m , sol i c i t a ndo um a opi ni ã o a c e rc a da proba bi l i da de de
subsi st i re m se m a l i m e nt o porm a i s de z di a s. O pre si de nt e da c om i ssã o re
sponde u-l he s que ha vi a e sc a ssa possi bi l i da dede sobre vi vê nc i a por t a l l a pso
de t e m po. O rá di o de nt ro da c a ve rna si l e nc i ou a pa rt i r da ídura nt e oi t o hora
s. Qua ndo a c om uni c a ç ã o foi re st a be l e c i da os hom e ns pe di ra m pa ra
fa l a r nova m e nt e c om os m é di c os, o que c onse gui do, W he t m ore , fa l a ndo e
m se u própri onom e e e m re pre se nt a ç ã o dos de m a i s, i nda gou se e l e s se ri a m
c a pa z e s de sobre vi ve r porm a i s de z di a s se se a l i m e nt a sse m da c a rne de um
de nt re e l e s. O pre si de nt e da c om i ssã ore sponde u, a c ont ra gost o, e m se nt i do
a fi rm a t i vo. W he t m ore i nqui ri u se se ri a a c onse l háve l que t i ra sse m a sort e
pa ra de t e rm i na r qua l de nt re e l e s de ve ri a se r sa c ri fi c a do. Nenhum dos m é
di c os se a t re ve u a e nfre nt a r a que st ã o. W he t m ore qui s sa be r e nt ã o se ha vi
aum j ui z ou out ra a ut ori da de gove rna m e nt a l que se di spuse sse a re sponde r à
pe rgunt a .
Ne nhum a da s pe ssoa s i nt e gra nt e s da m i ssã o de sa l va m e nt o m ost rou-se di
spost a a a ssum i r o pa pe l de c onse l he i ro ne st e a ssunt o. W he t m ore i nsi st i u
se a l gum sa c e rdot e pode ri are sponde r à que l a i nt e rroga ç ã o, m a s nã o se e nc
ont rou ne nhum que qui se sse fa z e -l o. Depoi s di st o nã o se re c e be ra m m a i s m
e nsa ge ns de de nt ro da c a ve rna , supondo-se (e rrone
a m e nt e c om o de poi s se e vi de nc i ou) que a s pi l ha s do rá di o dos e xpl ora dore
s t i nha m -sede sc a rre ga do. Qua ndo os hom e ns fora m fi na l m e nt e l i be rt a dos
soube -se que , no t ri gé sim o t e rc e i ro di a a pós sua e nt ra da na c a ve rna , W he t
m ore t i nha si do m ort o e se rvi do de
a l i m e nt o a se us c om pa nhe i ros.

Da s de c l a ra ç õe s dos a c usa dos, a c e i t a s pe l o j úri , e vi de nc i a -se que


W he t m ore foio pri m e i ro a propor que busc a sse m a l i m e nt o na c a rne de um
de nt re e l e s, se m o que asobre vi vê nc i a se ri a i m possí ve l . Foi t a m bé m W he t
m ore que m pri m e i ro propôs a form ade t i ra r. a sort e , c ha m a ndo a a t e nç ã o
dos a c usa dos pa ra um pa r de da dos que c a sua l m e n
t e t ra z i a c onsi go. Os a c usa dos i ni c i a l m e nt e he si t a ra m a dot a r um c om port a m e nt o t ã
o
de sa t i na do, m a s, a pós o di á l ogo a c i m a re l a t a do, c onc orda ra m c om o pl a
no propost o. Ede poi s de m ui t a di sc ussã o c om re spe i t o a os probl e m a s m a t e
m á t i c os que o c a so susc i t ava , c he ga ra m por fi m a um a c ordo sobre o m é t
odo a se r e m pre ga do pa ra a sol uç ã o doprobl e m a : os da dos.

E nt re t a nt o, a nt e s que e st e s fosse m l a nç a dos, W he t m ore de c l a rou


que de si st i a doa c ordo, poi s ha vi a re fl e t i do e de c i di do e spe ra r out ra se m a
na a nt e s de a dot a r um e xpe die nt e t ã o t e rrí ve l e odi oso. Os out ros o a c usa ra
m de vi ol a ç ã o do a c ordo e proc e de ra m a ol a nç a m e nt o dos da dos. Qua ndo c
he gou a ve z de W he t m ore um dos a c usa dos a t i rou-os
e m se u l uga r, a o m e sm o t e m po e m que se l he pe di u pa ra l e va nt a r qua i sque
r obj e ç õe squa nt o à c orre ç ã o do l a nç o. E l e de c l a rou que nã o t i nha obj e ç õe
s a fa z e r. Te ndo-l he si doa dve rsa a sort e , foi e nt ã o m ort o.

Após o re sga t e dos a c usa dos e de poi s de t e re m pe rm a ne c i do a l gum t e


m po e m umhospi t a l onde fora m subm e t i dos a um t ra t a m e nt o pa ra de snut ri ç
ã o e c hoque e m oc i o na l ,
fora m de nunc i a dos pe l o hom i c í di o de R oge r W he t m ore . No j ul ga m e nt o,
de poi s de t e rsi do c onc l uí da a prova , o port a -voz dos j ura dos (de profi ssã o a
dvoga do) pe rgunt ou a oj ui z se os j ura dos podi a m e m i t i r um ve re di c t o e spe
c i a l , de i xa ndo a o j ui z di z e r se , e m
c onform i da de c om os fa t os prova dos, ha vi a c ul pa bi l i da de ou nã o dos ré us.
De poi s dea l gum a di sc ussã o, t a nt o o re pre se nt a nt e do Mi ni st é ri o Públ i c
o qua nt o o a dvoga do de
fe nsor dos ré us, m a ni fe st a ra m sua c onc ordâ nc i a c om t a l proc e di m e nt o, o qua l foi a c e i
to
7
pe l o j ui z . E m um l ongo ve re di c t o e spe c i a l o j úri a c ol he u a prova dos fa t os c
om o a c i m a are l a t e i e a i nda que se , c om funda m e nt o nos m e sm os, os a c usa
dos fosse m c onsi de ra dos
c ul pa dos, de ve ri a m se r c onde na dos. C om ba se ne st e ve re di c t o o j ui z de pri
m e i ra i nst â nc i a de c i di u que os ré us e ra m c ul pa dos do a ssa ssi na t o de R oge
r W he t m ore . E m c onse
qüê nc i a se nt e nc i ouos à forc a , nã o l he pe rm i t i ndo a l e i ne nhum a di sc ri ç ã o
c om re spe i t o àpe na a se r i m post a . Di ssol vi do o j úri , se us m e m bros e nvi a ra
m um a pe t i ç ã o c onj unt a a o
c he fe do Pode r E xe c ut i vo pe di ndo que a se nt e nç a fosse c om ut a da e m pri sã o de se i s m e
se s. O j ui z de pri m e i ra i nst â nc i a e nde re ç ou um a pe t i ç ã o si m i l a r à m e sm a
a ut ori da de . At éo m om e nt o, poré m , na da re sol ve u o E xe c ut i vo, a pa re nt e m
e nt e e spe ra ndo pe l a nossa
de c i sã o no pre se nt e re c urso.

Pa re c e -m e que , de c i di ndo e st e e xt ra ordi ná ri o c a so, o j úri e o j ui z


de pri m e i rai nst â nc i a se gui ra m um c a m i nho que e ra nã o som e nt e c orre t o e
sá bi o m a s, a l é m di st o, oúni c o que l he s re st a va a be rt o e m fa c e dos di sposi t
i vos l e ga i s. O t e xt o da nossa l e i é be mc onhe c i do: "Que m que r que i nt e nc i
ona l m e nt e pri ve a out re m da vi da se rá puni do c om am ort e ". N.C .S.A. (n.s.) §
12-A. E st e di sposi t i vo l e ga l nã o pe rm i t e ne nhum a e xc e ç ã oa pl i c á ve l à e
spé c i e , e m bora a nossa si m pa t i a nos i nc l i ne a t e r e m c onsi de ra ç ã o a t rá gi
c asi t ua ç ã o e m que e sse s hom e ns fora m e nvol vi dos.

E m um c a so de st a na t ure z a o pri nc í pi o da c l e m ê nc i a e xe c ut i va
pa re c e a dm i rave l m e nt e a propri a do pa ra m i t i ga r os ri gore s da l e i , ra z ã
o por que proponho a os m e us
c ol e ga s que si ga m os o e xe m pl o do j úri e do j ui z de pri m e i ra i nst â nc i a , sol i
da ri z a ndo nosc om a s pe t i ç õe s que e nvi a ra m a o c he fe do Pode r E xe c ut i vo.
Há ra z ã o de sobe j o pa ra
a c re di t a r que e st e s re que ri m e nt os de c l e m ê nc i a se rã o de fe ri dos, vi ndo c om o vê m
da que l e s que e st uda ra m o c a so e t i ve ra m a oport uni da de de fa m i l i a ri z a r-
se c a ba l m e nt ec om t odos os se us a spe c t os. É a t ua l m e nt e i m prová ve l que
o c he fe do Pode r E xe c ut i vode ne gue e st a s sol i c i t a ç õe s, a m e nos que e l e
própri o fosse re a l i z a r i nve st i ga ç õe s pe l o
m e nos t ã o e xt e nsa s c om o a que l a s e fe t ua da s e m pri m e i ra i nst â nc i a ,
que dura ra m t rê sm e se s. A re a l i z a ç ã o de t a i s i nve st i ga ç õe s (que , de fa t
o, e qui va l e ri a m a um novo j ul gam e nt o do c a so) se ri a di fi c i l m e nt e c om
pa t í ve l c om a funç ã o do E xe c ut i vo, c om o é norm a l m e nt e c onc e bi da . Pe
nso que pode m os, port a nt o, pre sum i r que a l gum a form a de
c l e m ê nc i a se rá c onc e di da a os a c usa dos. Se i st o for fe i t o, se rá re a l i z a
da a j ust i ç a se mde bi l i t a r a l e t ra ou o e spí ri t o da nossa l e i e se m se propi c i
a r qua l que r e nc ora j a m e nt o àsua t ra nsgre ssã o.
Foster, J.

E spa nt a -m e que o pre si de nt e do Tri buna l , e m um e sforç o pa ra e sc a pa r à s


di fi c ul da de sde st e t rá gi c o c a so, t e nha a dot a do e propost o a se us c ol e ga s
um a sol uç ã o si m ul
t a ne a m e nt e t ã o sórdi da e t ã o si m pl i st a . E u a c re di t o que há a l go m a i s
do que o de st i node st e s de sa fort una dos e xpl ora dore s e m j uí z o ne st e c a so;
e nc ont ra -se e m j ul ga m e nt o a
própri a l e i de st a C om m onwe a l t h. Se e st e Tri buna l de c l a ra que e st e s hom e
ns c om e t e ra mum c ri m e , nossa l e i se rá c onde na da no t ri buna l do se nso c om
um , i nobst a nt e o que a c ont e ç a a os i ndi ví duos i nt e re ssa dos ne st e re c urso de
a pe l a ç ã o. Poi s, pa ra que nós sust e nt e
m os que a l e i que fa z e m os obse rva r e e nunc i a m os nos c om pe l e a um a c onc l usã o da qua l
nos e nve rgonha m os e da qua l a pe na s pode m os e sc a pa r a pe l a ndo a um a e xc
e ç ã o que see nc ont ra na de pe ndê nc i a do c a pri c ho pe ssoa l do c he fe do E xe c
ut i vo, pa re c e -m e e qui va -

8
l e r a a dm i t i r-se que e l a nã o pre t e nde re a l i z a r a j ust i ç a .

No que m e c onc e rne , nã o c re i o que nossa l e i c onduz a obri ga t ori a m e


nt e à m onst ruosa c onc l usã o de que e st e s hom e ns sã o a ssa ssi nos. C re i o, a o c
ont rá ri o, que e l a os
de c l a ra i noc e nt e s da prá t i c a de qua l que r c ri m e . Funda m e nt a -se a c onc l
usã o sobre dua spre m i ssa s i nde pe nde nt e s, c a da um a da s qua i s é por si própri a
sufi c i e nt e pa ra j ust i fi c a r aa bsol vi ç ã o dos a c usa dos.

A pri m e i ra , é c e rt o, é susc e t í ve l de oposi ç ã o e nqua nt o nã o for c


onsi de ra da dem odo i m pa rc i a l . Afi rm o que o nosso di re i t o posi t i vo, i nc l
ui ndo t oda s a s sua s di sposi
ç õe s l e gi sl a da s e t odos se us pre c e de nt e s, é i na pl i c á ve l a e st e c a so e que e
st e se e nc ont rare gi do pe l o que os a nt i gos e sc ri t ore s da E uropa e da Am é ri c a
c ha m a va m "a l e i da na t ure z a " (di re i t o na t ura l ). Funda -se e st e e nt e ndi m e
nt o na proposi ç ã o de que o nosso di re i t oposi t i vo pre ssupõe a possi bi l i da de da
c oe xi st ê nc i a dos hom e ns e m soc i e da de . Surgi ndoum a si t ua ç ã o que t orne a
c oe xi st ê nc i a i m possí ve l , a pa rt i r de e nt ã o a c ondi ç ã o que se
e nc ont ra subj a c e nt e a t odos os nossos pre c e de nt e s e di sposi ç õe s l e gi sl a da s c e ssou de
e xi st i r. De sa pa re c e ndo e st a c ondi ç ã o, m i nha opi ni ã o é de que a c oe rc i bi l
i da de do nossodi re i t o posi t i vo de sa pa re c e c om e l a . Nós nã o e st a m os ha bi
t ua dos a a pl i c a r a m á xi m a
cessante ratione legis, cessat et ipsa lex a o c onj unt o do nosso orde na m e nt o j urí di c
o, m a sc re i o que e st e é um c a so e m que e st a m á xi m a de ve se r a pl i c a da .

A proposi ç ã o se gundo a qua l t odo o di re i t o posi t i vo funda m e nt a -se


na possi bi l ida de de c oe xi st ê nc i a dos hom e ns pa re c e i nsól i t a nã o porque a
ve rda de que e l a c ont é mse j a e st ra nha , m a s si m pl e sm e nt e e m ra z ã o de
que se t ra t a de um a ve rda de t ã o óbvi a e
t ã o a bra nge nt e que ra ra m e nt e t e m os a oc a si ã o de e xpre ssá -l a e m pa l a vra s.
A se m e l ha n ç ado a r que re spi ra m os e l a pe ne t ra de t a l m odo a nossa vi da que
nos e sque c e m os de sua
e xi st ê nc i a a t é que de l a som os subi t a m e nt e pri va dos. Qua i sque r que se j a m
os obj e t i vosbusc a dos pe l os vá ri os ra m os do nosso di re i t o, m ost ra -nos a re fl e
xã o que t odos e l e s e st ã ovol t a dos no se nt i do de fa c i l i t a r e de m e l hora r a c
oe xi st ê nc i a dos hom e ns e de re gul a r
c om j ust i ç a e e qüi da de a s re l a ç õe s re sul t a nt e s de sua vi da e m c om um .
Qua ndo a suposiç ã o de que os hom e ns pode m vi ve r e m c om um de i xa de se r ve
rda de i ra , c om o obvi a
m e nt e suc e de u ne st a e xt ra ordi ná ri a si t ua ç ã o e m que a c onse rva ç ã o da
vi da a pe na s t ornouse possí ve l pe l a pri va ç ã o da vi da , a s pre m i ssa s bá si c a
s subj a c e nt e s a t oda a nossaorde m j urí di c a pe rde ra m se u si gni fi c a do e sua
c oe rc i bi l i da de .

Se os t rá gi c os a c ont e c i m e nt os de st e c a so t i ve sse m t i do l uga r a um a m i


l ha dos nossosl i m i t e s t e rri t ori a i s, ni ngué m pre t e nde ri a que nossa l e i l he
s fosse a pl i c a da . R e c o
nhe c e m os que a j uri sdi ç ã o t e m ba se t e rri t ori a l . As ra z õe s de sse pri nc í pi
o nã o sã o dene nhum m odo óbvi a s e ra ra m e nt e sã o e xa m i na da s. Pe nso que e
sse pri nc í pi o ba se i a -sena suposi ç ã o de que só é possí ve l i m por-se um a úni c
a orde m j urí di c a a um grupo de
hom e ns se e l e s vi ve m j unt os de nt ro dos l i m i t e s de um a da da á re a da supe rfí
c i e da t e rra .A pre m i ssa se gundo a qua l os hom e ns de ve m c oe xi st i r e m um
grupo e nc ont ra se , port a nt o, à ba se do pri nc í pi o t e rri t ori a l , be m c om o de t
odo o di re i t o. Poi s be m , e u sust e nt o queum c a so pode se r subt ra í do da e sfe ra
de a bra ngê nc i a c oe rc i t i va de um a orde m j urí di c a
t a nt o por ra z õe s de orde m m ora l qua nt o por ra z õe s de orde m ge ográ fi c a . At
e nt a ndo a ospropósi t os do di re i t o e do gove rno e à s pre m i ssa s subj a c e nt e s a
nosso di re i t o posi t i vo,
c onc l uí m os que e st e s hom e ns, qua ndo t om a ra m sua t rá gi c a de c i sã o, e st a
va m t ã o di st a nt e s de nossa orde m j urí di c a c om o se e st i ve sse m a m i l m i l
ha s a l é m de nossa s front e i ra s.Me sm o e m um , se nt i do fí si c o, sua pri sã o subt
e rrâ ne a e st a va se pa ra da dos nossos t ri buna i s è dos nossos ofi c i a i s de j ust i ç
a por um a sól i da c ort i na de roc ha que só pôde se r

9
re m ovi da de poi s dos m a i ore s di spê ndi os de t e m po e de e sforç o.

C onc l uo, port a nt o, que no m om e nt o e m que R oge r W he t m ore foi m


ort o pe l osré us, e l e s se e nc ont ra va m nã o e m um "e st a do de soc i e da de c i vi l
" m a s e m um "e st a dona t ura l ", c om o se di ri a na si ngul a r l i ngua ge m dos a ut
ore s do sé c ul o XIX. A c onse qüê nc i a di st o é que a l e i que l he s é a pl i c á ve l
nã o é a nossa , t a l c om o foi sa nc i ona da e e st a bel e c i da , m a s a que l a a propri
a da a sua c ondi ç ã o. Nã o he si t o e m di z e r que se gundo e st e
pri nc í pi o e l e s nã o sã o c ul pa dos de qua l que r c ri m e .

O que e st e s hom e ns fi z e ra m re a l i z ou-se e m c um pri m e nt o de um c


ont ra t o a c e i t opor t odos e propost o e m pri m e i ro l uga r pe l a própri a ví t i m a .
De sde o m om e nt o e m quese e vi de nc i ou que a si t ua ç ã o e xt ra ordi na ri a m e
nt e di fí c i l e m que se a c ha va m t orna vai na pl i c á ve l os pri nc í pi os_ usua i s
à re gul a ç ã o da s re l a ç õe s e nt re os hom e ns, t ornou-sene c e ssá ri o pa ra e l e
se l a bora r, por a ssi m di z e r, um a nova c onst i t ui ç ã o a propri a da a suape c ul i
a r si t ua ç ã o.

Te m si do re c onhe c i do de sde a a nt i güi da de que o pri nc í pi o funda m e


nt a l do di re it o ou gove rno de ve se r e nc ont ra do na noç ã o de c ont ra t o ou c
onvê ni o. Pe nsa dore s a nt igos, e spe c i a l m e nt e dura nt e o pe rí odo que m e de i a
e nt re 1600 e 1900, t i nha m por há bi t oe st a be l e c e r a s ba se s do própri o gove
rno e m um supost o c ont ra t o soc i a l . Os c é t i c os re ssa l t a ra m que e st a t e ori a
c ont ra di z i a os - fa t os hi st óri c os c onhe c i dos e que nã o ha vi a nenhum a e vi dê
nc i a c i e nt í fi c a c a pa z de a poi a r a noç ã o de que qua l que r gove rno e m qua
lque r t e m po t i ve sse si do e st a be l e c i do e m c onform i da de c om e st a t e ori a .
Os m ora l i st a sre pl i c a ra m que , se o c ont ra t o e ra -um a fi c ç ã o do pont o de vi
st a hi st óri c o, e st a noç ã oforne c i a a úni c a j ust i fi c a ç ã o é t i c a sobre que os
pode re s do gove rno, i nc l usi ve a que l e depri va r da vi da , podi a se r funda do. Os
pode re s do gove rno só pode m se r j ust i fi c a dos m ora l m e nt e t e ndo c om o ra z
ã o de se r a c i rc unst â nc i a de que hom e ns ra z oá ve i s por-se -i a mde a c ordo e os
a c e i t a ri a m se se vi sse m fre nt e à ne c e ssi da de de c onst rui r nova m e nt e a
lgum a orde m c a pa z de t orna r possí ve l a vi da e m c om um .

Fe l i z m e nt e , poré m , a s pe rpl e xi da de s que a sse di a va m os a nt i gos


nã o a t i nge mnosso pa í s. É fa t o hi st ori c a m e nt e c om prova do que nosso gove
rno foi funda do m e di a nt eum c ont ra t o l i vre m e nt e a sse nt i do. A prova a rque ol
ógi c a é c onc l usi va no se nt i do de queno pe rí odo subse qüe nt e à Gra nde E spi ra l
os sobre vi ve nt e s da he c a t om be vol unt a ri a m e n
t e re uni ra m -se e re di gi ra m um a c a rt a pol í t i c a . E sc ri t ore s sofi st a s t e m
que st i ona do o pode r de sse s re m ot os c ont ra t a nt e s de obri ga r fut ura s ge ra ç
õe s, m a s pe rm a ne c e o fa t o deque nosso gove rno re m ont a e m um a l i nha i ni
nt e rrupt a à que l a c onst i t ui ç ã o ori gi na l .

Se port a nt o nossos ve rdugos t ê m o pode r de pôr fi m à vi da dos hom e ns, se


nossos ofi c i a i s de j ust i ç a t e m o pode r de de t e rm i na r o de spe j o dos l oc a t á ri
os e m m ora , senossa pol í c i a t e m o pode r de e nc a rc e ra r o pâ nde go e m bri a ga
do, e st e s pode re s e nc on t ra msua j ust i fi c a ç ã o m ora l na que l e c ont ra t o ori gi
ná ri o c e l e bra do pe l os nossos a nt e pa s sa dos.Se nós nã o pode m os e nc ont ra r
font e m a i s e l e va da pa ra nossa orde m j urí di c a , que out ram a i s a l t a de ve rí a m
os e spe ra r que e st e s i nfort una dos fa m i nt os e st a be l e c e sse m pa ra o
orde na m e nt o que a dot a ra m pa ra si própri os?

Ac re di t o que a l i nha de a rgum e nt a ç ã o que t e rm i no de e xpor nã o a dm i


t e ne nhu m ac ont e st a ç ã o ra c i ona l . Dou-m e c ont a que e l a se rá prova ve l m e nt
e re c e bi da c om um a c e rt a
i nqui e t a ç ã o por m ui t os que ve nha m a l ê -l a , os qua i s i nc l i na r-se -ã o a suspe i
t a r que a l gumsofi sm a oc ul t o de ve e nc ont ra r-se à ba se de um a de m onst ra ç ã o
que c onduz a t a n-

10
t a s c onc l usõe s t ã o pouc o c om uns. A font e de st a i nt ra nqüi l i da de é , no e nt
a nt o, fá c i l dei de nt i fi c a r. As c ondi ç õe s usua i s da e xi st ê nc i a nos i nc l i na
m a c onsi de ra r a vi da hum a naum va l or a bsol ut o, que nã o pode se r sa c ri fi c a do
e m ne nhum a c i rc unst â nc i a . Há m ui t o dei l usóri o ne st a c onc e pç ã o, m e sm
o qua ndo a pl i c a da à s re l a ç õe s norm a i s oc orre nt e s navi da soc i a l . Ti ve m
os um e xe m pl o de st a ve rda de no própri o c a so que ora e xa m i na m os.De z t ra
ba l ha dore s m orre ra m ' no t ra ba l ho de re m oç ã o da s roc ha s à e nt ra da da c a
ve rna .Nã o sa bi a m os e nge nhe i ros e os func i oná ri os públ i c os que di ri gi a m a
ope ra ç ã o de sa l
va m e nt o que os e sforç os que e st a va m e m pre e nde ndo e ra m pe ri gosos e e
nvol vi a m umsé ri o ri sc o pa ra a s vi da s dos t ra ba l ha dore s que os e st a va m e
xe c ut a ndo? Se é j ust o quee st a s de z vi da s t e nha m si do sa c ri fi c a da s pa ra
sa l va r a s dos c i nc o e xpl ora dore s, a quet í t ul o di re m os t e r si do i nj ust o que e
st e s e xpl ora dore s e xe c ut a sse m um a c ordo pa ra sa l
va r qua t ro vi da s e m de t ri m e nt o de um a ?

Qua l que r rodovi a , t úne l ou e di fí c i o que nos proj e t a m os e nvol ve um


ri sc o à vi dahum a na . Tom a ndo e st e s proj e t os e m c onj unt o pode m os c a l c ul
a r c om c e rt a pre c i sã o
qua nt a s m ort e s a sua c onst ruç ã o i rá de m a nda r; os e st a t í st i c os pode m di z e r
o c ust o m é di oe m vi da s hum a na s de m i l m i l ha s de um a rodovi a de c onc re t o
de qua t ro pi st a s. E n
t re t a nt o, de l i be ra da e c onsc i e nt e m e nt e i nc orre m os ne st e ri sc o e pa ga m
os e st e c ust o nasuposi ç ã o de que os va l ore s re sul t a nt e s pa ra a que l e s que
sobre vi ve m sobre puj a m a pe rda . Se e st a s c oi sa s pode m se r di t a s e m um a
soc i e da de de se nvol ve ndo-se norm a l m e nt esobre a supe rfí c i e da t e rra , o que
se de ve rá di z e r do supost o va l or a bsol ut o da vi da hum a na na si t ua ç ã o de de
se spe ro e m que os ré us e se u c om pa nhe i ro W he t m ore fora m c ol hi dos?

C om i st o dou por c onc l uí do o pri m e i ro funda m e nt o do m e u vot o. O se


gundo va im a i s a l é m , re j e i t a ndo hi pot e t i c a m e nt e t oda s a s pre m i ssa s
que form ul e i a t é o m om e nt o.C onc e do, pa ra fi ns de a rgum e nt a ç ã o, que e u e
st e j a e rra do di z e ndo que a si t ua ç ã o de st e shom e ns os subt ra i à i nc i dê nc i a
do nosso di re i t o posi t i vo, e suponho que nossa s L e i sC onsol i da da s t e nha m o
pode r de pe ne t ra r qui nhe nt os pé s de roc ha e i m por-se sobre e s
t e s hom e ns fa m i nt os e a m ont oa dos e m sua pri sã o subt e rrâ ne a . Ne st a s c ondi ç õe s é pe r
fe i t a m e nt e c l a ro que e st e s hom e ns pra t i c a ra m um a t o que vi ol a a e xpre ssã
o l i t e ra l da l e ique de c l a ra que a que l e que i nt e nc i ona l m e nt e m a t a a out re m
é um a ssa ssi no. Ma s um dosm a i s a nt i gos a fori sm a s da sa be dori a j urí di c a e
nsi na que um hom e m pode i nfri ngi r a l e t rada l e i se m vi ol a r a própri a l e i . Toda
proposi ç ã o de di re i t o posi t i vo, que r c ont i da e m um a
l e i ou e m um pre c e de nt e , de ve se r i nt e rpre t a da de m odo ra c i ona l , se gundo
se u pro pósi t oe vi de nt e . Ist o é um a ve rda de t ã o e l e m e nt a r que é , a ri gor, de
sne c e ssá ri o a l onga r m e a
e st e re spe i t o. Os e xe m pl os de sua a pl i c a ç ã o sã o i num e rá ve i s e se e nc ont ra
m e m t odos osse t ore s do orde na m e nt o j urí di c o. No c a so Commonwealth v.
Staymore o a c usa do foi
c onde na do t e ndo e m vi st a um a l e i que c onsi de ra de l i t uoso e st a c i ona r os a
ut o m óve i s, e mc e rt a s á re a s, por um pe rí odo supe ri or a dua s hora s. O ré u t i
nha t e nt a do re t i ra r o se u
c a rro, m a s foi i m pe di do de fa z e -l o porque a s rua s e nc ont ra va m -se obst ruí
da s por um ade m onst ra ç ã o pol í t i c a na qua l e l e nã o t om a ra pa rt e , ne m
pude ra pre ve r. E st e Tri buna l
re form ou a se nt e nç a , re j e i t a ndo a c onde na ç ã o, e m bora o c a so se e nqua dra sse
pe rfe i t a m e nt e de nt ro do e nunc i a do l i t e ra l da l e i . Ta m bé m no c a so de Fehler v. Neegas
e st e ve pe ra nt e e st e Tri buna l , pa ra se r i nt e rpre t a do, um di sposi t i vo l e ga l e
m que a pa l a vra"nã o" fora e vi de nt e m e nt e t ra nspost a da posi ç ã o e m que de vi a
e st a r. E st a t ra nsposi ç ã o
e nc ont ra va -se e m t oda s a s re da ç õe s suc e ssi va s do di sposi t i vo l e ga l , nã o t e ndo, a pa
re nt e m e nt e , si do not a da pe l os e l a bora dore s ou pe l os de m a i s re sponsá ve i s pe l a l e gi sl a
ç ã o. E m bora ni ngué m fosse c a pa z de e xpl i c a r c om o o e rro oc orre ra , e ra m a ni fe st o que ,
t e ndo e m c ont a a s di sposi ç õe s da l e i e m se u c onj unt o, um e rro t i nha si do c om e t i do, um a

1
1ve z que a l e i t ura l i t e ra l de sua pa rt e fi na l t orna va -a i nc om pa t í ve l c om t
udo o que a pre
c e di a e c om o, obj e t i vo de st e t e xt o t a l c om o e nunc i a do e m se u pre â m bul
o. E st e Tri buna lre c usou-se a a c e i t a r a i nt e rpre t a ç ã o l i t e ra l da l e i , e , de fa
t o, re t i fi c ou sua l i ngua ge m ,
t ra nspondo a pa l a vra "nã o" pa ra o se u l uga r e xa t o.

O di sposi t i vo l e ga l c uj a i nt e rpre t a ç ã o de ve m os re a l i z a r nunc a foi


a pl i c a do l i t era l m e nt e . Há sé c ul os e st a be l e c e u-se que m a t a r e m l e gi t i
m a de fe sa é e sc usá ve l . Nã o hána da no t e xt o l e ga l que sugi ra e st a e xc e ç ã o.
Vá ri a s t e nt a t i va s t e m si do fe i t a s pa ra c onc il i a r a a c e i t a ç ã o j uri sprude
nc i a l da l e gí t i m a de fe sa c om o t e xt o da l e i , e m bora e m m i nhaopi ni ã o nã
o c onst i t ua m se nã o e nge nhosos sofi sm a s. A ve rda de é que a e xc e ç ã o e m
favor da l e gi t i m a de fe sa nã o é c onc i l i á ve l c om a s palavras da l e i , m a s som
e nt e c om se upropósi t o.

A ve rda de i ra c onc i l i a ç ã o da e xc l ude nt e da c ul pa bi l i da de e m ra z


ã o da l e gi t i m ade fe sa c om o di sposi t i vo l e ga l se gundo o qua l c onst i t ui c ri
m e m a t a r a out re m de ve se re nc ont ra da na se gui nt e l i nha de ra c i oc í ni o.
Um dos pri nc i pa i s obj e t i vos subj a c e nt e s aqua l que r l e gi sl a ç ã o pe na l é o
de di ssua di r os hom e ns da prá t i c a do c ri m e . Ora , é e vi de n
t e que se a l e i t i ve sse de c l a ra do que o a ssa ssi na t o e m l e gi t i m a de fe sa c
onst i t ui c ri m e , t a lre gra nã o pode ri a a t ua r de m a ne i ra pre ve nt i va . Um hom
e m c uj a vi da é a m e a ç a da re pe l irá se u a gre ssor nã o i m port a o que di ga a l e i
. At e nt a ndo, poi s, pa ra os obj e t i vos pri nc i
pa i s da l e gi sl a ç ã o pe na l , pode m os se gura m e nt e de c l a ra r que e st a l e i nã
o se de st i na va ase r a pl i c a da nos c a sos de l e gí t i m a de fe sa .

Qua ndo o funda m e nt o l ógi c o da e xc l ude nt e da l e gí t i m a de fe sa é a


ssi m e xpl i c ado, t orna -se e vi de nt e que , pre c i sa m e nt e , a m e sm a ra z ã o é a
pl i c á ve l a o c a so sub judice.Se no fut uro qua l que r grupo de hom e ns ve nha a e
nc ont ra r-se na t rá gi c a si t ua ç ã o dos
a c usa dos, nós pode m os e st a r c e rt os de que sua de c i sã o de vi ve r ou m orre r
nã o se rá refre a da pe l a s norm a s do C ódi go Pe na l . Port a nt o, se nós l e rm os e
st e t e xt o l e ga l i nt e l i ge nt e m e nt e , é m a ni fe st a a sua i na de qua ç ã o a e st e
c a so. A subt ra ç ã o de st a si t ua ç ã o da i nc idê nc i a da l e i j ust i fi c a -se pre c i
sa m e nt e pe l a s m e sm a s c onsi de ra ç õe s que fora m a pre se nt a da s pe l os
nossos c ol e ga s, sé c ul os a t rá s, a o c a so da l e gí t i m a de fe sa .

Há os que prot e st a m e m a l t a s voz e s, di z e ndo t ra t a r-se de usurpa ç ã o j udi c i a


l , se m pre queum t ri buna l , de poi s de a na l i sa r o propósi t o de um a l e i , dá à s sua
s pa l a vra s um
si gni fi c a do nã o i m e di a t a m e nt e pe rc e pt í ve l pe l o l e i t or a pre ssa do, de sa t
e nt o a os obj e t i vosque e l e busc a a t i ngi r. Se j a -m e pe rm i t i do di z e r e nfa t i c
a m e nt e que e u a c e i t o se m re se rva aproposi ç ã o se gundo a qua l e st a C ort e de
ve obe di ê nc i a à s l e i s do pa í s e que e l a e xe rc e
se us pode re s e m subordi na ç ã o à vont a de de vi da m e nt e e xpre ssa pe l a C â m
a ra de R e prese nt a nt e s. A l i nha de ra c i oc í ni o de que m e ut i l i z e i a c i m a nã o
põe a que st ã o de fi de l i da de
à s di sposi ç õe s l e ga i s, e m bora possa t a l ve z c ol oc a r a que st ã o da di st i nç ã o e nt re fi de
l i da
de i nt e l i ge nt e e fi de l i da de nã o i nt e l i ge nt e . Ni ngué m de se j a um e m pre ga
do i nc a pa z de l e rna s e nt re l i nha s. A m a i s e st úpi da dom é st i c a sa be que qua
ndo l he é orde na do "de sc a s c a r asopa e t i ra r a e sc um a dos t om a t e s", sua pa t
roa nã o que r si gni fi c a r o que e st á di z e ndo.
E l a t a m bé m sa be que qua ndo se u pa t rã o l he di z pa ra "sol t a r t udo e vi r c orre
ndo", e l e nã ot e m e m m e nt e a possi bi l i da de de que , ne st e m om e nt o, e l a e st e
j a sa l va ndo um a c ri a nç apre st e s a a foga r-se . C e rt a m e nt e nós t e m os o di re i
t o de e spe ra r a m e sm a pe que na porç ã ode i nt e l i gê nc i a de pa rt e do Pode r Judi
c i á ri o. A c orre ç ã o de óbvi os e rros ou e quí voc os
l e gi sl a t i vos nã o i m port a e m supl a nt a r a vont a de do pode r l e gi sl a t i vo, m
a s e m fa z e -l am a i s e fe t i va . Ne st a s c ondi ç õe s c onc l uo que , sob qua l que
r a spe c t o que e st e c a so possase r c onsi de ra do, os ré us sã o i noc e nt e s do c ri
m e de hom i c í di o c ont ra R oge r

12
W he t m ore e que a se nt e nç a de c onde na ç ã o de ve se r re form a da .

Ta t t i ng, J .

No c um pri m e nt o de m e us de ve re s c om o j ui z de st e Tri buna l , t e nho si do


norm a l m e nt ec a pa z de di ssoc i a r os a spe c t os e m oc i ona i s e i nt e l e c t ua i s
de m i nha s re a ç õe s e de c i di r oc a so sub judice i nt e i ra m e nt e ba se a do no úl t
i m o. E xa m i na ndo e st e t rá gi c o c a so, si nt o
t oda vi a que m e fa l t a m os re c ursos ha bi t ua i s. Sob o a spe c t o e m oc i ona l si nt
o-m e di vi di doe nt re a si m pa t i a por e st e s hom e ns e um se nt i m e nt o de a ve rsã
o e re vol t a c om re l a ç ã o a om onst ruoso a t o que c om e t e ra m . Al i m e nt e i a e
spe ra nç a de que se ri a c a pa z de pôr e st a se m oç õe s c ont ra di t óri a s de l a do c
om o i rre l e va nt e s e , a ssi m , de c i di r o c a so c om ba se e mum a de m onst ra ç ã o
c onvi nc e nt e e l ógi c a do re sul t a do re c l a m a do por nossa l e i .
Infe l i z m e nt e nã o a l c a nc e i e st a l i be ra ç ã o. Ao a na l i sa r o vot o que t e rm i
nou de e nunc i a rm e u c ol e ga Fost e r, si nt o que e st á m i na do por c ont ra di ç õe
s e fa l á c i a s. C om e c e m os pe l asua pri m e i ra proposi ç ã o: e st e s hom e ns nã o
e st a va m suj e i t os à nossa l e i porque nã o se
e nc ont ra va m e m um "e st a do de soc i e da de c i vi l " m a s e m um "e st a do de na t
ure z a ". Nã om e pa re c e c l a ro porque i st o se j a a ssi m , se e m vi rt ude da e spe
ssura da roc ha que os a prisi onou ou porque e st a va m fa m i nt os ou porque t i nha m
e st a be l e c i do um a "nova c onst i t uiç ã o", se gundo a qua l a s re gra s usua i s de di
re i t o de vi a m se r supl a nt a da s por um l a nç o deda dos. E out ra s di fi c ul da de s
fa z e m -se se nt i r. Se e st e s hom e ns pa ssa ra m da j uri sdi ç ã o danossa l e i pa ra a
que l a da "l e i da na t ure z a ", e m que m om e nt o i st o oc orre u? Foi qua ndo ae nt ra
da da c a ve rna se fe c hou? Qua ndo a a m e a ç a de m ort e por i na ni ç ã o a t i ngi u
um gra ui nde fi ni do de i nt e nsi da de ? Ou qua ndo o c ont ra t o pa ra o l a nç o de da
dos foi c e l e bra do?E st a s i nc e rt e z a s que e m e rge m da dout ri na propost a pe l o
m e u c ol e ga sã o c a pa z e s de
c a usa r re a i s di fi c ul da de s. Suponha -se , por e xe m pl o, que um de st e s hom e ns
t e nha fe i t ose u vi gé si m o pri m e i ro a ni ve rsá ri o e nqua nt o e st a va a pri si ona
do no i nt e ri or da m ont a nha .E m que da t a t e rí a m os que c onsi de ra r que e l e c
om pl e t ou a m a i ori da de - qua ndo a t i ngi uos vi nt e e um a nos, no m om e nt o e m
que se a c ha va , por hi pót e se , subt ra í do dos e fe i t osde nossa s l e i s, ou qua ndo
foi l i be rt a do da c a ve rna e vol t ou a subm e t e r-se a o i m pé ri o doque o m e u c ol
e ga de nom i na nosso "di re i t o posi t i vo” . E st a s di fi c ul da de s, no e nt a nt o,se
rve m pa ra re ve l a r a na t ure z a fa nt a si osa da dout ri na que é c a pa z de ori gi ná -l
a s.

Ma s nã o é ne c e ssá ri o e xpl ora r m a i s e st a s sut i l e z a s pa ra de m onst ra


r o a bsurdo daposi ç ã o do m e u c ol e ga . O se nhor Mi ni st ro Fost e r e e u som os os
j uí z e s de si gna dos do
Tri buna l de Ne wga rt h, c om o pode r-de ve r de a pl i c a r a s l e i s de st e pa í s. C om que a ut ori
da de nos t ra nsform a m os e m um t ri buna l da na t ure z a ? Se e sse s hom e ns na ve rda de se
e nc ont ra va m sob a l e i na t ura l , de onde ve m nossa a ut ori da de pa ra e st a be l e
c e r e a pl i c a ra que l a l e i ? C e rt a m e nt e nós nã o e st a m os e m um e st a do de
na t ure z a .

Ma s, e xa m i ne m os o c ont e údo de st e c ódi go de l e i s na t ura i s que m e u c ol e


ga pro põe quea dot e m os e o a pl i que m os a e st e c a so. Que c ódi go de sorde na do
e odi oso é e st e ! É um
c ódi go e m que a s norm a s re gul a dora s dos c ont ra t os a ssum e m m a i or i m port â
nc i a do quea que l a re fe re nt e a o hom i c í di o. É um c ódi go se gundo o qua l um
hom e m pode e st a be l e c e rum c ont ra t o vá l i do, c onfe ri ndo pode re s a se us se m
e l ha nt e s de c om e r se u própri o c orpo.Al é m di sso, se gundo os se us di sposi t i
vos, um a ve z fe i t o, t a l c ont ra t o é i rre vogá ve l , e , seum a da s pa rt e s t e nt a re
sc i ndi -l o, a s out ra s pode m t om a r a l e i e m sua s própri a s m ã os è
e xe c ut á -l o pe l a forç a - poi s e m bora m e u c ol e ga nã o re fi ra , por c onve ni -

13
ê nc i a , o e fe i t o da re sc i sã o uni l a t e ra l do c ont ra t o fe i t a por W he t m ore , e st
a é um a i nfe rê n
c i a ne c e ssá ri a de sua a rgum e nt a ç ã o.

Os pri nc í pi os e xpost os por m e u c ol e ga c ont ê m out ra s i m pl i c a ç õe


s que nã o pode m se r t ol e ra da s. Me u c ol e ga a rgum e nt a que qua ndo os a c usa
dos l a nç a ra m se sobreW he t m ore e o m a t a ra m (nós nã o sa be m os c om o, t a l
ve z gol pe a ndo-o c om pe dra s), e l e s
e st a va m som e nt e e xe rc i t a ndo o di re i t o que l he s fora c onfe ri do pe l o c ont ra t
o. Suponha se ,e nt re t a nt o, que W he t m ore t i ve sse e sc ondi do sob sua s roupa s um
re vól ve r e que , qua ndovi sse os ré us l a nç a re m -se sobre si pa ra t ruc i dá -l o, os t i
ve sse m a t a do a t i ros a fi m de
sa l va r sua própri a vi da . O ra c i oc í ni o de m e u c ol e ga a pl i c a do a e st e s fa t os t
ra nsform a ri aW he t m ore e m um hom i c i da , de ve z que a e xc l ude nt e da l e gi t i
m a de fe sa t e ri a que se r-l hede ne ga da . Se se us a t a c a nt e s e st a va m a t ua ndo l
e ga l m e nt e proc ura ndo oc a si ona r sua
m ort e , e nt ã o, e vi de nt e m e nt e , e l e nã o m a i s pode ri a e xc usa r-se a rgum e nt
a ndo que e st a vade fe nde ndo sua própri a vi da , da m e sm a form a que nã o pode ri
a fa z e -l o um pri si one i ro
c onde na do que a ba t e o ve rdugo e nqua nt o t e nt a l e ga l m e nt e c ol oc a r o nó e m se u pe sc oç
o.

Toda s e st a s c onsi de ra ç õe s t orna m i m possí ve l pa ra m i m a c e i t a r a


pri m e i ra pa rt edos a rgum e nt os de m e u c ol e ga . Nã o posso ne m a c e i t a r sua
noç ã o de que e st e s hom e nse nc ont ra va m -se re gi dos por um c ódi go de l e i s
na t ura i s, que e st e Tri buna l e st a ri a obri
ga do a a pl i c a r-l he s, ne m posso a dm i t i r a s re gra s odi osa s e de sna t ura da s
que e l e pre t e ndeque e st e c ódi go c ont e nha . C he go a gora à se gunda pa rt e do
vot o do m e u c ol e ga e m que
e l e busc a de m onst ra r que os ré us nã o vi ol a ra m os di sposi t i vos l e ga i s do N.
C . S. A. (n.s.) § 12-A. Ne st e pont o o ra c i oc í ni o, a o i nvé s de se r c l a ro, pa re c
e -m e ne bul oso e a m bíguo, e m bora m e u c ol e ga nã o pa re ç a c onsc i e nt e da s
di fi c ul da de s i ne re nt e s à s sua s de
m onst ra ç õe s.

A e ssê nc i a da a rgum e nt a ç ã o de m e u c ol e ga pode se r e nunc i a da


nos se gui nt e st e rm os: ne nhum a l e i , qua l que r que se j a se u t e xt o, de ve ri a
se r a pl i c a da de m odo a c ont ra di z e r se u propósi t o. Um dos obj e t i vos de
qua l que r norm a pe na l é a pre ve nç ã o. A a
pl i c a ç ã o da l e i , qua l i fi c a ndo c om o c ri m e m a t a r a out re m , ne st e c a so pe
c ul i a r c ont ra di ri ase u propósi t o, poi s é i m possí ve l c re r que os di sposi t i vos
do c ódi go pe na l pude sse m a t ua r de m a ne i ra pre ve nt i va re l a t i va m e nt e a
hom e ns c ol oc a dos e m fa c e da a l t e rna t i va de
vi ve r ou m orre r. O ra c i oc í ni o se gundo o qua l e st a e xc e ç ã o é e nc ont ra da na
l e i é , se gundo obse rva o m e u c ol e ga , o m e sm o que c onduz à a dm i ssi bi l i da
de da e xc l ude nt e da l e gít i m a de fe sa .
A pri m e i ra vi st a e st a de m onst ra ç ã o pa re c e ba st a nt e c onvi nc e nt e .
A i nt e rpre t a ç ã ofe i t a por m e u c ol e ga do funda m e nt o l ógi c o da e xc l ude nt e
da l e gí t i m a de fe sa e nc ont ra se ,de fa t o, e m c onform i da de c om a de c i sã o de
st e Tri buna l - Commonwealth v. Parry - umpre c e de nt e que e nc ont re i e st uda ndo
e st e c a so. E m bora o c a so de Commonwealth v.
Parry pa re ç a t e r si do ge ra l m e nt e om i t i do nos t e xt os e de c i sõe s subse qüe nt
e s, e nc ont rase , se m dúvi da a l gum a , de a c ordo c om a i nt e rpre t a ç ã o que m e
u c ol e ga de u à e xc l ude nt eda l e gí t i m a de fe sa .

E nt re t a nt o, se j a -m e a gora pe rm i t i do re sum i r ra pi da m e nt e a s pe rpl e


xi da de s que m eoc orre m qua ndo e xa m i no de m odo m a i s a t e nt o o ra c i oc í
ni o de m e u c ol e ga . É ve rda de
que um a l e i de ve se r a pl i c a da se gundo se u propósi t o e que um dos propósi t
os re c onhe c i dos da l e gi sl a ç ã o pe na l é a pre ve nç ã o. A di fi c ul da de é que
out ros obj e t i vos sã o
t a m bé m i m put a dos à l e i pe na l . Afi rm a -se que um de se us propósi t os é a sse gura r um a

14
de sc a rga orde na da à i nst i nt i va ne c e ssi da de de re t ri bui ç ã o:
Commonwealth v. Scape.Ta m bé m se a fi rm a ,que o se u e sc opo é a re a bi l i t a ç
ã o do de l i nqüe nt e : Commonwealth v.Makeover. E out ra s t e ori a s t ê m si do
propost a s. Supondo-se que nós de va m os i nt e rpre t a rum a l e i à l uz de se u
propósi t o, o que de ve re m os fa z e r qua ndo t i ve r vá ri os propósi t os ouqua ndo e
st e s fore m que st i ona dos?

Um a di fi c ul da de si m i l a r é a pre se nt a da pe l a c i rc unst â nc i a de que


, e m bora ha j afunda m e nt o j uri sprude nc i a l pa ra a i nt e rpre t a ç ã o da da por
m e u c ol e ga à e xc l ude nt e dal e gi t i m a de fe sa , t a m bé m há out ro c ri t é ri o j
uri sprude nc i a l c onfe ri ndo a e st a e xc l ude nt eum funda m e nt o l ógi c o di ve rso.
Na ve rda de , a t e t e r t om a do c onhe c i m e nt o da de c i sã o noc a so de
Commonwealth v. Parry e u nunc a t i nha ouvi do a e xpl i c a ç ã o da da por m e u c o
l e ga . A dout ri na e nsi na da e m nossa s e sc ol a s, m e m ori z a da por ge ra ç õe s de
e st uda nt e s dedi re i t o, di z o se gui nt e : a l e i re fe re nt e a o hom i c í di o re que r
um a t o "i nt e nc i ona l ". O ho
m e m que a t ua pa ra re pe l i r um a a m e a ç a a gre ssi va a sua própri a vi da nã o a
ge "i nt e nc i ona l m e nt e ", m a s e m re spost a a um i m pul so profunda m e nt e e
nra i z a do na na t ure z a hum ana . Suponho que di fi c i l m e nt e e xi st a um j uri st a
ne st e pa í s que nã o e st e j a fa m i l i a ri z a do
c om e st a l i nha de ra c i oc í ni o, e spe c i a l m e nt e porque e st e é um dos pont os
pre fe ri dos nose xa m e s vi sa ndo o e xe rc í c i o da a dvoc a c i a .

Ma s a e xpl i c a ç ã o fa m i l i a r pa ra a e xc l ude nt e da l e gí t i m a de fe sa
que t e rm i ne i dee xpor obvi a m e nt e nã o pode se r a pl i c a da por a na l ogi a a os
fa t os de st e c a so. E st e s a l guma uxí l i o i ne spe ra do t a l ve z pude sse t e r c he
ga do. Dou-m e c ont a de que e st a obse rva ç ã oa pe na s re duz a di st i nç ã o a um
a que st ã o de gra u, se m que a de st rua c om pl e t a m e nt e . Éc e rt a m e nt e ve rda
de que o e l e m e nt o de pre ve nç ã o se ri a m e nor ne st e c a so do que a que l eque
norm a l m e nt e de c orre da a pl i c a ç ã o da l e i pe na l .

Ai nda há um a out ra di fi c ul da de na propost a de m e u c ol e ga Fost e r de e


st a be l e c e rum a e xc e ç ã o na l e i e m fa vor de st e c a so, e m bora nova m e nt e
ne nhum a dúvi da t ra nspa reç a e m se u vot o. Qua l se rá o a l c a nc e da e xc e ç ã o?
No c a so, os hom e ns t i ra ra m a sort e e aprópri a ví t i m a no i ní c i o c onc ordou c
om o que foi c ont ra t a do. O que de c i di rí a m os seW he t m ore t i ve sse re c usa
do de sde o c om e ç o a pa rt i c i pa r do pl a no? Pe rm i t i r-se -i a queum a m a i ori
a de c i di sse c ont ra a sua vont a de ? Ou suponha -se que ne nhum pl a no fossea dot
a do e que ' os out ros si m pl e sm e nt e c onspi ra sse m pa ra c a usa r a m ort e de W
he t m ore ,e à gui sa de j ust i fi c a t i va di sse sse m que e l e e st a va e m c ondi ç ã o
fí si c a m a i s dé bi l . Ou,
a i nda , que um pl a no de se l e ç ã o, ba se a do num a j ust i fi c a ç ã o di fe re nt e da que l a a qui a do
t a da , fosse se gui do, c om o por e xe m pl o se os out ros fosse m a t e us e i nsi st
i sse m queW he t m ore de ve ri a m orre r porque e ra o úni c o que a c re di t a va na
vi da a l é m da m ort e .E st e s e xe m pl os pode ri a m se r m ul t i pl i c a dos, m a s j á
se suge ri u o sufi c i e nt e pa ra re ve l a ra s i núm e ra s di fi c ul da de s oc ul t a s c ont i
da s no ra c i oc í ni o de m e u c ol e ga .

É c l a ro que , re fl e t i ndo, m e dou c ont a de que e st ou l i da ndo c om um


probl e m aque nunc a m a i s oc orre rá , poi s é i m prová ve l que out ro grupo de
hom e ns se j a l e va do ac om e t e r nova m e nt e a t e rrí ve l a ç ã o que ora j ul ga m
os. De qua l que r form a , c ont i nua ndo are fl e xã o, m e sm o se nós e st a m os c e rt
os de que um c a so si m i l a r nã o oc orre rá nova m e nt e ,nã o é c l a ro que os e xe m
pl os que de i de m onst ra m a fa l t a de qua l que r pri nc í pi o c oe re nt e era c i ona l na
de c i sã o que m e u c ol e ga propõe ? Nã o se de ve a fe ri r a c orre ç ã o de um pri n
c í pi o pe l a s c onc l usõe s que e l e a c a rre t a , se m que se fa ç a re fe re nc i a a e
ve nt ua i s probl em a s de c orre nt e s de um l i t í gi o fut uro? E nt re t a nt o, se a ssi
m é , porque nós j uí z e s de st eTri buna l , di sc ut i m os t ã o a m i úde se é prová ve
l que t e nha m os que a pl i c a r no fut uro um
pri nc í pi o que a sol uç ã o do c a so que ora j ul ga m os re c l a m a ? É e st a um a si t ua ç ã o e m que

15
um a l i nha de ra c i oc í ni o, ori gi na ri a m e nt e i na de qua da , c he gou a sa nc i ona r-
se por vi a deum pre c e de nt e , de m odo que da í por di a nt e e st e j a m os obri ga dos a
a pl i c á -l a ?

Qua nt o m a i s e xa m i no e st e c a so e pe nso sobre e l e , m a i s profunda m


e nt e e nvol vido e m oc i ona l m e nt e m e si nt o. Mi nha m e nt e fi c a e nre da da na
s m a l ha s da s re de s que e uprópri o a rre m e sso pa ra sa l va r-m e . C re i o que qua
se t oda c onsi de ra ç ã o que i nt e re sse àsol uç ã o do pre se nt e c a so é c ont ra ba l a
nç a da por out ra opost a , c onduz i ndo e m um a di reç ã o t a m bé m opost a . Me u c
ol e ga Fost e r não me propi c i ou, ne m e u pude de sc obri r porm i m própri o, ne
nhum a fórm ul a c a pa z de re sol ve r a s dúvi da s que por t odos os l a dos m ea c ossa
m.

De i a e st e c a so a m a i or a t e nç ã o de que sou c a pa z . Te nho dorm i do m ui t o


pouc o de sdeque nos foi a pre se nt a do à de c i sã o. Qua ndo m e si nt o i nc l i na do a
a c e i t a r o pont o de vi st ade m e u c ol e ga Fost e r, de t é m -m e a i m pre ssã o de
que se us a rgum e nt os sã o i nt e l e c
t ua l m e nt e i nfunda dos e c om pl e t a m e nt e a bst ra t os. De out ro l a do, qua ndo
m e i nc l i no nose nt i do de m a nt e r a c onde na ç ã o, c hoc a -m e o a bsurdo de c
onde na r e st e s hom e ns à m ort equa ndo a sa l va ç ã o de sua s vi da s c ust ou a s de
de z he rói c os ope rá ri os. L a m e nt o que a o
R e pre se nt a nt e do Mi ni st é ri o Públ i c o t e nha pa re c i do a de qua do a c usá -l
os de hom i c í di o.Se t i vé sse m os um di sposi t i vo l e ga l c a pi t ul a ndo c om o c
ri m e o fa t o de c om e r c a rne hum a na , e st a t e ri a si do um a a c usa ç ã o m a i s
a propri a da . Se ne nhum a out ra a c usa ç ã o a de
qua da a os fa t os de st e c a so podi a se r form ul a da c ont ra os a c usa dos, t e ri a si
do pre fe rí ve l ,pe nso, nã o t ê -l os pronunc i a do. Infe l i z m e nt e , e nt re t a nt o, e st
e s hom e ns fora m proc e ssados e j ul ga dos e , e m de c orrê nc i a di st o, nós nos ve m
os e nvol vi dos por e st e i nfe l i z l i t í gi o.

Um a ve z que m e re ve l e i c om pl e t a m e nt e i nc a pa z de a fa st a r a s
dúvi da s que m ea sse di a m , l a m e nt o a nunc i a r a l go que c re i o nã o t e nha
pre c e de nt e s na hi st óri a de st e Tribuna l . R e c uso-m e a pa rt i c i pa r da de c i
sã o de st e c a so.
Keen, J.

E u gost a ri a de c om e ç a r de i xa ndo de l a do dua s que st õe s que nã o sã


o da c om pet ê nc i a de st e Tri buna l .

A pri m e i ra de l a s c onsi st e e m sa be r-se se a c l e m ê nc i a e xe c ut i va de ve ri


a se r c on c e di daa os ré us c a so a c onde na ç ã o se j a c onfi rm a da . E st a é , poré
m , se gundo o nosso si st e m a
c onst i t uc i ona l , um a que st ã o da c om pe t ê nc i a do c he fe do Pode r E xe c ut i
vo e nã o nossa .De sa provo, port a nt o, a que l a pa ssa ge m do vot o do pre si de nt e
de st e Tri buna l e m que e l ee fe t i va m e nt e dá i nst ruç õe s a o c he fe do Pode r E
xe c ut i vo a c e rc a do que de ve ri a fa z e r
ne st e c a so e suge re a l guns i nc onve ni e nt e s que a dvi ri a m se t a i s i nst ruç õe
s nã o fos se ma t e ndi da s. Ist o é um a c onfusã o de funç õe s gove rna m e nt a i s -
um a c onfusã o e m que o
j udi c i á ri o de ve ri a se r o úl t i m o a i nc orre r. De se j o e sc l a re c e r que se e u
fosse o c he fe doPode r E xe c ut i vo, i ri a m a i s l onge no se nt i do da c l e m ê nc i a
do que a qui l o que l he foi sol ic i t a do. E u c onc e de ri a a e st e s hom e ns pe rdã o t
ot a l , poi s c re i o que e l e s j á sofre ra m o sufi c i e nt e pa ra pa ga r por qua l que r
de l i t o que possa m t e r c om e t i do. Que ro que se j a e nt e ndi do que e st a obse rva
ç ã o é fe i t a na m i nha c ondi ç ã o pri va da , c om o c i da dã o que , e m ra
z ã o de se u ofi c i o, a dqui ri u um í nt i m o c onhe c i m e nt o dos fa t os de st e c a so. No c um
pri -

16
m e nt o dos m e us de ve re s c om o j ui z nã o m e i nc um be di ri gi r i nst ruç õe s a o c
he fe do Pode rE xe c ut i vo, ne m t om a r e m c onsi de ra ç ã o o que e l e possa ou nã o
fa z e r, a fi m de c he ga r àm i nha própri a de c i sã o que de ve rá se r i nt e i ra m e nt e
gui a da pe l a l e i de st a C om m onwe a l t h.'

A se gunda que st ã o que de se j o de i xa r de l a do di z re spe i t o a de c i di r se


o que e st e shom e ns fi z e ra m foi "j ust o" ou "i nj ust o", "m a u" ou "bom ". E st a é
out ra que st ã o i rre l e
va nt e a o c um pri m e nt o de m i nha funç ã o, poi s, c om o j ui z , j ure i a pl i c a r nã
o m i nha s c onc e pç õe s de m ora l i da de , m a s o di re i t o de st e pa í s. Pondo e st
a que st ã o de l a do pe nso que
posso t a m bé m e xc l ui r se m c om e nt á ri o a pri m e i ra e m a i s poé t i c a porç ã o
do vot o do m e uc ol e ga Fost e r. O e l e m e nt o de fa nt a si a c ont i do nos a rgum e
nt os por e l e de se nvol vi dos
re ve l ou-se de m a ne i ra fl a gra nt e na t e nt a t i va um t a nt o sol e ne do m e u c ol
e ga Ta t t i ng dee nc a rá -l os se ri a m e nt e .

A úni c a que st ã o que se nos a pre se nt a pa ra se r de c i di da c onsi st e e m


sa be r se osré us, de nt ro do si gni fi c a do do N.C .S.A. (n.s.) § 12-A, pri va ra m i nt
e nc i ona l m e nt e da
vi da a R oge r W he t m ore . O t e xt o e xa t o da l e i é o se gui nt e : "Que m que r
que i nt e nc i ona l m e nt e pri ve a out re m da vi da se rá puni do c om a m ort e ". De
vo supor que qua l que robse rva dor i m pa rc i a l , que que i ra e xt ra i r de st a s pa l
a vra s o se u si gni fi c a do na t ura l , c onc e de rá i m e di a t a m e nt e que os ré us
pri va ra m "i nt e nc i ona l m e nt e da vi da a R oge r W he tm ore ".

De onde , poi s, surge m a s di fi c ul da de s do c a so e a ne c e ssi da de de t a nt


a s pá gi na sde di sc ussã o a re spe i t o do que de ve ri a se r t ã o óbvi o? As di fi c ul da
de s, qua l que r que se j aa form a a ngust i a da por que se a pre se nt e m , t oda s c
onve rge m a um a úni c a font e , c onsi s
t e nt e na i ndi st i nç ã o dos a spe c t os l e ga i s e dos m ora i s do pre se nt e l i t í gi
o. Pa ra di z e -l oc l a ra m e nt e , m e us c ol e ga s nã o a pre c i a m o fa t o de e xi gi r
a l e i e sc ri t a a c onde na ç ã o dosa c usa dos. Ta m bé m a m i m i st o nã o c a usa
pra z e r, m a s, à di fe re nç a de m e us c ol e ga s, e ure spe i t o a s obri ga ç õe s de um
c a rgo que re que r que se de i xe m a s pre di l e ç õe s pe ssoa i s del a do, a o i nt e rpre t
a r e a pl i c a r a l e i de st e pa í s. Toda vi a , na t ura l m e nt e , m e u c ol e ga Fost e
rnã o a dm i t e que e l e se j a m ot i va do por um a a ve rsã o pe ssoa l à l e i e sc ri t a .
Ao c ont rá ri o, e l ede se nvol ve um a l i nha de a rgum e nt o fa m i l i a r, de a c ordo
c om a qua l o Tri buna l podede sre spe i t a r o e nunc i a do de um a l e i , qua ndo a
l go ne l a nã o c ont i do, de nom i na do se u"propósi t o" , pode se r e m pre ga do pa
ra j ust i fi c a r o re sul t a do que o Tri buna l c onsi de raa de qua do. Te ndo e m vi st a
que se t ra t a de um a l onga c ont rové rsi a que há m ui t o e nt re t e
m os, m e u c ol e ga e e u, gost a ri a , a nt e s de di sc ut i r a a pl i c a ç ã o pa rt i c ul a
r de st e pont o devi st a a os fa t os do pre se nt e l i t í gi o, de di z e r a l go a c e rc a
do fundo hi st óri c o de st e c ont rove rt i do t e m a , be m c om o de sua s a pl i c a ç
õe s re l a t i va m e nt e a o di re i t o e a o gove rno e mge ra l .

Te m po houve _ ne st e pa í s, e m que os j uí z e s e fe t i va m e nt e l e gi sl a ra
m l i vre m e nt e et odos nós sa be m os que dura nt e e sse pe rí odo a l gum a s de nossa
s l e i s fora m pra t i c a m e nt ere e l a bora da s pe l o Pode r Judi c i á ri o. Ist o oc orre
u e m um m om e nt o e m que os pri nc í pi osa c e i t os pe l a c i ê nc i a pol í t i c a nã
o de si gna va m de m a ne i ra se gura a hi e ra rqui a e a funç ã odos vá ri os pode re s do
E st a do. Todos c onhe c e m os a t rá gi c a c onse qüê nc i a de st a i ndi st i n
ç ã o a t ra vé s da bre ve gue rra c i vi l que re sul t ou do c onfl i t o e nt re o Pode r Judi
c i á ri o, deum l a do, e os Pode re s E xe c ut i vo e L e gi sl a t i vo, de out ro. Nã o há
ne c e ssi da de de e num era r nova m e nt e a qui os fa t ore s que c ont ri buí ra m pa ra
e st a m a l si na da l ut a pe l o pode r,
e m bora se j a sa bi do que e nt re e l e s se i nc l uí a m o c a rá t e r pouc o re pre se nt a t
i vo da C â m a ra ,re sul t a nt e de um a di vi sã o do pa í s e m di st ri t os e l e i t ora i s
que nã o m a i s c orre spondi a m à

17
re a l di st ri bui ç ã o da popul a ç ã o, be m c om o à fort e pe rsona l i da de e à va st a
popul a ri da deda que l e que e ra e nt ã o o pre si de nt e do Tri buna l . É sufi c i e nt e
obse rva r que a que l e s di a spa ssa ra m e que , e m l uga r da i nc e rt e z a que e nt ã o
re i na va , nos a gora t e m os um pri nc i pi obe m de t e rm i na do c onsi st e nt e na
supre m a c i a do ra m o l e gi sl a t i vo do nosso gove rno. De sse princípio decorre a
obrigação do Poder Judiciário de aplicar fielmente a lei escrita e
de i nt e rpre t á -l a de a c ordo c om se u si gni fi c a do e vi de nt e , se m re fe rê nc i a a
nossos de se j ospe ssoa i s ou a nossa s c onc e pç õe s i ndi vi dua i s da j ust i ç a . Nã o
m e c a be i nda ga r se o pri n
c í pi o que proí be a re vi sã o j udi c i a l da s l e i s é c e rt o ou e rra do, de se j a do
ou i nde se j a do;obse rvo si m pl e sm e nt e que e st e pri nc i pi o t ornou-se um a
pre m i ssa t á c i t a subj a c e nt e at oda orde m j urí di c a que j ure i a pl i c a r.

No e nt a nt o, e m bora o pri nc í pi o da supre m a c i a do Pode r L e gi sl a t i vo t e nha si do


a c e i t o e m t e ori a dura nt e sé c ul os, t ã o gra nde é a t e na c i da de da t ra di ç ã o
profi ssi ona l e daforç a dos há bi t os de pe nsa m e nt o e st a be l e c i dos, que m ui t
os j uí z e s a i nda nã o se a da pt ara m a o pa pe l re st ri t o que a nova orde m l he s i
m põe . Me u c ol e ga Fost e r pe rt e nc e a e st egrupo; sua m a ne i ra de l i da r c om a
s l e i s é e xa t a m e nt e a que l a de um j ui z vi ve ndo no sé
c ul o qua re nt a .

Nós e st a m os fa m i l i a ri z a dos c om o proc e sso se gundo o qua l se re a l i z


a a re form ados di sposi t i vos l e ga i s que de sa gra da m a os j uí z e s. Qua l que r
um que t e nha se gui do osvot os e sc ri t os do m i ni st ro Fost e r t e rá oport uni da
de de ve r sua ut i l i z a ç ã o e m qua l que rse t or do di re i t o. Pe ssoa l m e nt e , e st
ou t ã o ha bi t ua do c om o proc e sso que , se m e u c ol e gase e nc ont ra sse e ve nt
ua l m e nt e i m pe di do, e st ou c e rt o de que pode ri a e sc re ve r um vot o
sa t i sfa t óri o e m se u l uga r se m qua l que r suge st ã o sua , ba st a ndo c onhe c e r se
l he a gra da ri aou nã o o e fe i t o da l e i a se r a pl i c a da a o c a so e m que st ã o.

O proc e sso de re vi sã o re que r t rê s e t a pa s. A pri m e i ra de l a s c onsi st e


e m a di vi nha ra l gum "propósi t o" úni c o a o qua l se rve a l e i , e m bora ne nhum a l
e i e m um a c e nt e na t e nhaum propósi t o úni c o e e m bora os obj e t i vos de qua se
t oda s a s l e i s se j a m di fe re nt e m e nt ei nt e rpre t a dos pe l os di fe re nt e s grupos
ne l a s i nt e re ssa dos. A se gunda e t a pa c onsi st e e mde sc obri r que um se r m í t i
c o c ha m a do "o l e gi sl a dor- , na busc a de st e "propósi t o" i m a gi
na do, om i t i u a l go ou de i xou a l gum a l a c una ou i m pe rfe i ç ã o e m se u t ra ba l
ho. Se gue -se apa rt e fi na l e m a i s re c onfort a nt e da t a re fa - a de pre e nc he r a l
a c una a ssi m c ri a da . Quod
erat faciendum.

A i nc l i na ç ã o de m e u c ol e ga Fost e r pa ra e nc ont ra r l a c una s na s l e i


s fa z l e m bra r ahi st óri a , na rra da por um a nt i go a ut or, de um hom e m que c
om e u um pa r de sa pa t os.Qua ndo l he pe rgunt a ra m se os ha vi a a pre c i a do, e
l e re pl i c ou que pre fe ri ra os bura c os.Nã o é out ro o se nt i m e nt o de m e u c ol e
ga c om re spe i t o à s l e i s; qua nt o m a i s bura c os (l a
c una s) e l a s t e nha m , m a i s e l e a s a pre c i a . E m re sum o, nã o l he a gra da m a s l e i s.

Nã o se pode ri a de se j a r um c a so m e l hor pa ra i l ust ra r a na t ure z a i l usóri a


de st e proc e ssode pre e nc hi m e nt o de l a c una s do que a que l e ora pe nde nt e de
j ul ga m e nt o. Me u c ol e gape nsa que sa be e xa t a m e nt e o que se busc ou a o de
c l a ra r-se o a ssa ssi na t o um c ri m e .
Se gundo e l e se ri a a l go que se de nom i na "pre ve nç ã o". Me u c ol e ga Ta t t i
ng j á m os t rouqua nt o é om i ssa e st a i nt e rpre t a ç ã o. Ma s pe nso que a di fi c
ul da de j a z m a i s profun
da m e nt e . Duvi do m ui t o que nossa l e i , qua l i fi c a ndo o a ssa ssi na t o c om o
c ri m e , t e nhare a l m e nt e um "propósi t o" e m qua l que r se nt i do ordi ná ri o de
st a pa l a vra . Ant e s de m a i s
na da , t a l l e i re fl e t e um a c onvi c ç ã o hum a na profunda m e nt e a rra i ga da , se
gundo a qua l oa ssa ssi na t o é i nj ust o e que a l go de ve se r fe i t o a o hom e m que o
c om e t e . Se nós fôsse m os

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forç a dos a se r m a i s e xpl í c i t os a c e rc a do probl e m a , prova ve l m e nt e nos re
fugi a rí a m os na sm a i s sofi st i c a da s t e ori a s dos c ri m i nol ogi st a s, a s qua i s,
por c e rt o, nã o se e nc ont ra va m nam e nt e dos nossos l e gi sl a dore s. Nós pode rí a
m os t a m bé m obse rva r que os hom e ns e xe c u
t a ri a m se u t ra ba l ho de m a ne i ra m a i s e fi c a z e vi ve ri a m m a i s fe l i z e s se
fosse m prot e gi dosc ont ra a a m e a ç a de a gre ssã o vi ol e nt a . Te ndo e m m e nt e
que a s ví t i m a s de hom i c í di os sã ofre qüe nt e m e nt e pe ssoa s de sa gra dá ve i s,
nós pode rí a m os a j unt a r a suge st ã o de que a
e l i m i na ç ã o de pe ssoa s i nde se j á ve i s nã o de va se r um a funç ã o a propri a da à i ni c i a t i va
pri
va da , m a s, a o re vé s, c onst i t ui r um m onopól i o e st a t a l . Tudo i st o l e m bra -m
e um a dvoga doque , c e rt a oc a si ã o, a rgum e nt ou pe ra nt e e st e Tri buna l que um a
l e i sobre o e xe rc í c i o da
m e di c i na e ra um a boa c oi sa porque l e va ri a à di m i nui ç ã o dos prê m i os de se
guro de vi da ,e i s que e l e va ri a o ní ve l ge ra l de sa úde . Há que m pre t e nda que o
óbvi o de ve se r
e xpl i c a do.

Se nós nã o sa be m os o propósi t o do § 12A, c om o pode m os di z e r que ha


j a um al a c una ne l e ? C om o pode m os nós sa be r o que pe nsa ra m se us e l a
bora dore s a c e rc a daque st ã o de m a t a r hom e ns pa ra c om e -l os? Me u c ol e
ga Ta t t i ng re ve l ou um a re pul sã oc om pre e nsí ve l , e m bora t a l ve z um t a nt o
e xa ge ra da , re l a t i va m e nt e a o c a ni ba l i sm o. C om opode m os nós sa be r que
se us re m ot os a nt e pa ssa dos nã o se nt i ra m a m e sm a re pul sa e m umgra u m a i s
e l e va do? Os a nt ropól ogos a fi rm a m que o t e m or se nt i do e m re l a ç ã o a um a
t oproi bi do pode c re sc e r qua ndo a s c ondi ç õe s de vi da t ri ba l c ri a m t e nt a ç õe s
e spe c i a i s à suaprá t i c a : é o que oc orre c om o i nc e st o, que é m a i s se ve ra m e
nt e c onde na do e nt re a que l e s
c uj a s re l a ç õe s c om uni t á ri a s o t orna m m a i s prová ve l . C e rt a m e nt e , o pe rí odo sub
se qüe nt e à Gra nde E spi ra l t ra z i a c onsi go i m pl í c i t a s t e nt a ç õe s à a nt
ropofa gi a . Ta l ve zfosse e m vi rt ude di sso que nossos a nt e pa ssa dos e xpre ssa ra m
e ssa proi bi ç ã o de form a t ã ol a rga e i rre st ri t a . Tudo i st o é , por c e rt o, c onj e
t ura , m a s fi c a sufi c i e nt e m e nt e c l a ro quene m e u ne m m e u c ol e ga Fost e r
sa be m os qua l se j a o propósi t o do § 12-A. C onsi de
ra ç õe s si m i l a re s à s que a c a be i de de l i ne a r sã o t a m bé m a pl i c á ve i s à e xc l ude nt e da l
e gí
t i m a de fe sa que de se m pe nha um pa pe l t ã o i m port a nt e no ra c i oc í ni o dos c
ol e ga s Fost e r eTa t t i ng. É , se m dúvi da , ve rda de que e m Commonwealth v. Parry
um pont o de vi st a e xpre sso i nc i de nt a l m e nt e , se m forç a de pre c e de nt e , j ust
i fi c ou e st a e xc e ç ã o, pre sum i ndo-seque o propósi t o da l e gi sl a ç ã o pe na l é a
pre ve nç ã o. Ta m bé m pode se r ve rda de que se
t e nha e nsi na do a vá ri a s ge ra ç õe s de e st uda nt e s que a ve rda de i ra e xpl i c a ç
ã o da e xc l ude nt e re si de na c i rc unst â nc i a se gundo a qua l um hom e m que a t
ua e m l e gí t i m a de fe sa nã o
a ge "i nt e nc i ona l m e nt e ", e que os m e sm os e st uda nt e s t e nha m si do c onsi
de ra dos ha bi l i t ados a o e xe rc í c i o da a dvoc a c i a re pe t i ndo o que os se us
profe ssore s l he s e nsi na ra m . Na t ura l m e nt e , pude re j e i t a r e st a s úl t i m a s
obse rva ç õe s c om o i rre l e va nt e s pe l a si m pl e s ra z ã oque os profe ssore s e e xa
m i na dore s a i nda nã o t e m de l e ga ç ã o de pode re s pa ra e l a bora rnossa s l e i s.
Ma s, i nsi st o, o probl e m a re a l é m a i s profundo. Ta nt o no que se re fe re à l e i ,c
om o no que re spe i t a à e xc e ç ã o, a que st ã o nã o e st á no suposto propósito da l e i
, m a s nose u a l c a nc e . No que c onc e rne à e xt e nsã o da l e gí t i m a de fe sa , t a l
c om o t e m si do a pl i c a da
por e st e Tri buna l , a si t ua ç ã o é c l a ra : e l a se a pl i c a a os c a sos de re si st ê nc i
a a um a a m e a ç aa gre ssi va à própri a vi da de um a pe ssoa . É , port a nt o, ba st a nt
e c l a ro que e st e c a so nã o sesi t ua no â m bi t o da e xc e ç ã o, post o que é e vi de nt
e que W he t m ore nã o fe z ne nhum a a m e
a ç a c ont ra a vi da dos ré us.

O c a rá t e r e sse nc i a l m e nt e a rdi l oso da t e nt a t i va do m e u c ol e ga Fost e r


de e nc obri r suare form ul a ç ã o da l e i e sc ri t a c om um a a pa rê nc i a de l e gi t i
m i da de m ost ra -se t ra gi c a m e nt e
no vot o de m e u c ol e ga Ta t t i ng. Ne st e , o j ui z Ta t t i ng de ba t e -se a
rdorosa m e nt e pa rac om bi na r o va go m ora l i sm o de se u c ol e ga c om se u
própri o se nt i m e nt o de fi de l i da de à
l e i e sc ri t a . O re sul t a do de st a l ut a nã o podi a se r out ro se nã o o que oc orre u - um

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c om pl e t o fra c a sso no de se m pe nho da funç ã o j udi c i a l . É de t odo i m possí ve l
a o j ui z a pl i
c a r um a l e i t a l c om o e st á re di gi da e , si m ul t a ne a m e nt e , re fa z ê -l a e m
c onsonâ nc i a c omse us de se j os pe ssoa i s.

B e m se i que a l i nha de ra c i oc í ni o que t e rm i ne i de e xpor ne st e vot o


nã o se rá a c e it á ve l por a que l e s que c ogi t a m t ã osom e nt e dos e fe i t os i m e
di a t os de um a de c i sã o e i gnora m a s i m pl i c a ç õe s que pode rã o a dvi r no fut
uro e m c onse qüê nc i a de a ssum i r o j udi c i ári o o pode r de c ri a r e xc e ç õe s à a
pl i c a ç ã o da l e i . Um a de c i sã o ri gorosa nunc a é popul a r.Juí z e s t e m si do e xa l
t a dos na l i t e ra t ura por se us a rdi l osos subt e rfúgi os de st i na dos a pri
va r um l i t i ga nt e de se us di re i t os nos c a sos e m que a opi ni ã o públ i c a j ul ga
va e rra do fa z el os pre va l e c e r. Ma s e u a c re di t o que a e xc e ç ã o a o c um pri m
e nt o da s l e i s, l e va da a e fe i t ope l o Pode r Judi c i á ri o, fa z m a i s m a l a l ongo
pra z o do que a s de c i sõe s ri gorosa s. As se n
t e nç a s se ve ra s pode m a t e m e sm o t e r um c e rt o va l or m ora l , fa z e ndo c
om que o povosi nt a a re sponsa bi l i da de e m fa c e da l e i , que , e m úl t i m a a ná
l i se , é sua própri a c ri a ç ã o,be m c om o re l e m bra ndol he que nã o há ne nhum
pri nc í pi o de pe rdã o pe ssoa l que possam i t i ga r os e rros de se us re pre se nt a nt
e s.

Na ve rda de , i re i m a i s l onge e di re i que os pri nc í pi os por m i m e


xpost os sã o osm e l hore s pa ra a s nossa s c ondi ç õe s a t ua i s; e , m a i s, que nós t e
rí a m os he rda do um m e l hor
si st e m a j urí di c o dos nossos a nt e pa ssa dos se e st e s pri nc í pi os t i ve sse m si
do obse rva dosde sde o i ní c i o. Por e xe m pl o, c om re spe i t o à e xc l ude nt e da l
e gí t i m a de fe sa , se nossost ri buna i s t i ve sse m pe rm a ne c i do fi rm e s na l e t ra
da l e i , o re sul t a do t e ri a si do, se m dúvi daa l gum a , a sua re vi sã o l e gi sl a t i va .
Ta l re vi sã o t e ri a susc i t a do a c ol a bora ç ã o de c i e nt i st a s epsi c ól ogos, e a re
gul a m e nt a ç ã o da m a t é ri a , da í re sul t a nt e , t e ri a t i do um funda m e nt oc
om pre e nsí ve l e ra c i ona l , a o i nvé s da m i sc e l â ne a de ve rba l i sm os e di st i
nç õe s m e t a fí sic a s que e m e rgi ra m de se u t ra t a m e nt o j udi c i a l e a c a dê m i c
o.

E ssa s c onc l usõe s fi na i s e st ã o, por c e rt o, a l é m dos de ve re s que de


vo c um pri rre l a t i va m e nt e a e st e c a so, m a s a s e nunc i o porque si nt o de m
odo profundo que m e usc ol e ga s e st ã o m ui t o pouc o c onsc i e nt e s dos pe ri gos
i m pl í c i t os na s c onc e pç õe s sobre am a gi st ra t ura de fe ndi da s pe l o m e u c ol
e ga Fost e r.

Mi nha c onc l usã o é de que se de ve c onfi rm a r a se nt e nç a c onde na t óri a .

Handy, J.

Ouvi c om e st upe fa ç ã o os a ngust i a dos ra c i oc í ni os que e st e c a so t


rouxe à t ona .Nunc a de i xo de a dm i ra r a ha bi l i da de c om que m e us c ol e ga s l a
nç a m um a obsc ura c ort i nade l e ga l i sm os sobre qua l que r probl e m a que l he s se
j a a pre se nt a do pa ra de c i di r. Ne st a
t a rde ouvi m os a rra z oa dos sobre a s di st i nç õe s e nt re di re i t o posi t i vo e di re i t o na t ura l , a
l e t ra e o propósi t o da l e i , funç õe s j udi c i a i s e e xe c ut i va s, l e gi sl a ç ã o ori
unda do j udi c i á ri oe do l e gi sl a t i vo. Mi nha úni c a de c e pç ã o foi que ni ngué m l
e va nt ou a que st ã o da na t ure z a
j urí di c a do c ont ra t o c e l e bra do na c a ve rna - se e ra uni l a t e ra l ou bi l a t e ra l
, e se nã o se pode ri a c onsi de ra r que W he t m ore re vogou a sua a nuê nc i a a nt e s
que se t i ve sse a t ua do c omfunda m e nt o ne l a .

O que é que t oda s e ssa s c oi sa s t e m a ve r c om o c a so? O probl e m a que t e m os que

20
de c i di r é o que nós, c om o func i oná ri os públ i c os, de ve m os fa z e r c om e sse
s a c usa dos.E st a é um a que st ã o de sa be dori a prá t i c a a se r e xe rc i da e m
um c ont e xt o, nã o de t e ori aa bst ra t a , m a s de re a l i da de s hum a na s. Qua ndo
o c a so é e xa m i na do sob e ssa l uz , t orna -se ,se gundo m e pa re c e , um dos m a i s
fá c e i s de de c i di r de nt re os que j á fora m a rgüi dos pe
ra nt e e st e Tri buna l .

Ant e s de e nunc i a r m i nha s própri a s c onc l usõe s a c e rc a do m é ri t o, e


u gost a ri a dedi sc ut i r bre ve m e nt e a l guns dos probl e m a s e sse nc i a i s que o l i
t í gi o t ra z à t ona - que st õe ssobre a s qua i s m e us c ol e ga s e e u t e m os e st a do
di vi di dos de sde que m e t orne i j ui z .

Nunc a fui c a pa z de c onve nc ê -l os de que o gove rno é um a ssunt o hum a


no, e queos hom e ns sã o gove rna dos nã o por pa l a vra s sobre o pa pe l ou por t e ori
a s a bst ra t a s, m a spor out ros hom e ns. E l e s sã o be m gove rna dos qua ndo se us
gove rna nt e s c om pre e nde m osse nt i m e nt os e c onc e pç õe s do povo. E sã o m a l
gove rna dos qua ndo nã o e xi st e e st a c om
pre e nsã o.

De t odos os ra m os do gove rno, é o Judi c i á ri o o que t e m m a i ore s possi bi l i da de s


de pe rde r o c ont a t o c om o hom e m c om um . As ra z õe s pa ra i st o sã o, na t ura
l m e nt e , ba st a nt e óbvi a s. Ao pa sso que a s m a ssa s re a ge m di a nt e de um a si
t ua ç ã o c onform e e l a sea pre se nt a e m se us t ra ç os m a i s sa l i e nt e s, nós j uí z
e s di vi di m os e m pe que nos fra gm e nt osc a da si t ua ç ã o que nos é a pre se nt a da
. Juri st a s sã o c ont ra t a dos pe l os a nt a goni st a s a fi m dea na l i sa r e di sse c a r.
Juí z e s e a dvoga dos ri va l i z a m e m ve r que m é c a pa z de de sc obri r om a i or
núm e ro de di fi c ul da de s e di st i nç õe s e m um só c onj unt o de fa t os. C a da l i t
i ga nt et e nt a e nc ont ra r c a sos re a i s ou i m a gi ná ri os, _que i rã o c a usa r e m ba
ra ç o à s de m onst ra ç õe sdo l a do opost o. Pa ra e sc a pa r a e st a di fi c ul da de , a i
nda out ra s di st i nç õe s sã o i nve nt a da s ei nt roduz i da s na si t ua ç ã o. Qua ndo um
c onj unt o de fa t os é e xpost o a t a l e spé c i e de t ra t a
m e nt o por um t e m po sufi c i e nt e , t oda sua vi da e e ssê nc i a t ê -l o-á a ba ndona
do, de l e nã ore st a ndo se nã o um punha do de poe i ra . Pe rc e bo que , se m dúvi
da a l gum a , se m pre queha j a re gra s e pri nc í pi os a bst ra t os, os j uri st a s pode
rã o fa z e r di st i nç õe s. At é c e rt o pont oe st a e spé c i e de c oi sa s que e st ou de
sc re ve ndo é um m a l ne c e ssá ri o, l i ga do a qua l que rre gul a ç ã o form a l dos ne
góc i os hum a nos. Toda vi a , pe nso que a á re a que re a l m e nt e ne
c e ssi t a de t a l re gul a ç ã o é gra nde m e nt e supe re st i m a da . Há , na t ura l m e nt
e , a l gum a s re gra sde j ogo funda m e nt a i s que de ve m se r a c e i t a s c om o c
ondi ç ã o de e xi st ê nc i a do própri oj ogo. E u i nc l ui ri a e nt re e l a s a que l a s re l
a t i va s à re gul a ç ã o da s e l e i ç õe s, à nom e a ç ã o defunc i oná ri os públ i c os e a
o t e m po de e xe rc í c i o nos re spe c t i vos c a rgos. Ne st a s m a t é ri a s,e u c onc e
do que se j a e sse nc i a l c e rt a re st ri ç ã o na di sc ri ç ã o e na possi bi l i da de de e xc e
p
c i ona r, c e rt a a de sã o à form a , um c e rt o e sc rúpul o qua nt o a o que c a i e o
que nã o c a i nae sfe ra de i nc i dê nc i a da norm a .

Ma s, fora de st e s dom í ni os, a c re di t o que t odos os func i oná ri os públ i c


os, i nc l usive os j uí z e s, c um pri ri a m m e l hor se us de ve re s se c onsi de ra sse m
a s form a l i da de s e os
c onc e i t os a bst ra t os c om o i nst rum e nt os. Pe nso que de ve rí a m os t om a r c
om o nosso m odel o o bom a dm i ni st ra dor, que a da pt a os m é t odos e pri nc í pi os
a o c a so c onc re t o, se l e c i ona ndo de nt re os m e i os de que di spõe os m a i s a de
qua dos à obt e nç ã o do re sul t a do c ol i
m a do.

A m a i s óbvi a va nt a ge m de st e m é t odo de gove rno é que e l e nos pe rm i t e c um


pri r nossa st a re fa s di á ri a s c om e fi c i ê nc i a e se nso c om um . Mi nha a de sã o a
e st a fi l osofi a t e m ,
e nt re t a nt o, ra í z e s m a i s profunda s. C re i o que a pe na s c om o di sc e rni m e nt
o que e l a propic i a pode m os pre se rva r a fl e xi bi l i da de e sse nc i a l se qui se rm
os m a nt e r nossa s a ç õe s e m

21
um a c onform i da de ra z oá ve l c om os se nt i m e nt os da que l e s que se a c ha m
subm e t i dos ànossa a ut ori da de . Ma i s gove rnos soç obra ra m e m a i s m i sé ri a
hum a na foi c a usa da pe l aa usê nc i a de st e a c ordo e nt re gove rna nt e s e gove
rna dos do que por qua l que r out ro fa t orque se possa di sc e rni r na hi st óri a . De sde
o m om e nt o e m que se i nt roduz um a c unha e n
t re a m a ssa do povo e a que l e s que di ri ge m sua vi da j urí di c a , pol í t i c a e e c
onôm i c a , asoc i e da de é de st ruí da . E nt ã o ne m a l e i da na t ure z a de Fost e r,
ne m a fi de l i da de à l e i e sc ri t a de Ke e n, nã o se rvi rã o de m a i s na da .

Apl i c a ndo e st a s c onc e pç õe s a o c a so sub judice, sua de c i sã o se t orna


, c onform ere fe ri , ba st a nt e fá c i l . A fi m de de m onst ra r i sso t e re i que di vul
ga r c e rt a s re a l i da de s quem e us c ol e ga s, c om o pudi c o de c oro, j ul ga ra m a
de qua do om i t i r, a i nda que de l a s t e nha mt a nt a c onsc i ê nc i a qua nt o e u própri
o.

A pri m e i ra de l a s é que e st e c a so de spe rt ou um e norm e i nt e re sse públ


i c o t a nt o nopa í s qua nt o no e xt e ri or. Qua se t odos os j orna i s e re vi st a s publ i
c a ra m a rt i gos a se u re s
pe i t o; c ol uni st a s pa rt i l ha ra m c om se us l e i t ore s i nform a ç õe s c onfi de nc i
a i s re fe re nt e s a opróxi m o pa sso do Pode r E xe c ut i vo; c e nt e na s de c a rt a s a
os e di t ore s fora m publ i c a da s.Um a da s gra nde s c a de i a s de j orna i s fe z um a
sonda ge m de opi ni ã o públ i c a a c e rc a daque st ã o - "que pe nsa voc ê que a Supre
m a C ort e de ve ri a fa z e r c om os e xpl ora dore s de
c a ve rna s? " C e rc a de nove nt a por c e nt o e xpre ssa ra m a opi ni ã o de que os a c
usa dos de veri a m se r pe rdoa dos ou de i xa dos e m l i be rda de , c om um a e spé c i e
de pe na si m ból i c a . Port a nt o, é pe rfe i t a m e nt e c l a ro o se nt i m e nt o da opi ni
ã o públ i c a fre nt e a o c a so. Al i a s, poderí a m os t ê -l o sa bi do se m a sonda ge m ,
c om ba se no se nso c om um ou m e sm o obse rva ndo
que ne st e Tri buna l há m a ni fe st a m e nt e qua t ro hom e ns e m e i o, ou se j a nove
nt a por c e nt o,que pa rt i l ha m da opi ni ã o c om um .

Ist o t orna óbvi o nã o som e nt e o que de ve rí a m os, m a s o que de ve m os fa


z e r, se dese j a m os pre se rva r e nt re nós e a opi ni ã o públ i c a um a ha rm oni a ra z
oá ve l e de c e nt e . O
fa t o de de c l a ra rm os e st e s hom e ns i noc e nt e s nã o nos e nvol ve e m ne nhum
subt e rfúgi o oua rdi l pouc o di gno. Ta m pouc o é ne c e ssá ri o qua l que r pri nc i pi o
de i nt e rpre t a ç ã o l e ga l quenã o e st e j a de a c ordo c om o m odo de proc e de r de
st e Tri buna l . C e rt a m e nt e ne nhum a pe ssoa l e i ga pe nsa ri a que , a bsol ve ndo e
st e s hom e ns, nós t i vé sse m os de svi rt ua do a l e i m a i sdo que nossos pre de c e
ssore s o fi z e ra m qua ndo c ri a ra m a e xc l ude nt e da l e gí t i m a de fe sa .Se um a
de m onst ra ç ã o m a i s de t a l ha da do m é t odo se gui do pa ra ha rm oni z a r nossa
de c i sã oc om o di sposi t i vo l e ga l fosse j ul ga da ne c e ssá ri a , c ont e rt a r-m e -i a
e m fi xa r-m e nos a rgum e nt os de se nvol vi dos na se gunda e m e nos fa nt a si osa pa
rt e do vot o do m e u c ol e ga Fos
t e r.

E st ou c onvi c t o de que m e us c ol e ga s se horrori z a rã o por e u t e r suge ri


do que e st eTri buna l l e ve e m c ont a a opi ni ã o públ i c a . E l e s di rã o que a opi ni
ã o públ i c a é e m oc i ona le c a pri c hosa , que se ba se i a e m m e i a s ve rda de s e
que ouve t e st e m unha s que nã o e st ã osuj e i t a s a novo i nt e rroga t óri o. E l e s di
rã o a i nda que a l e i c e rc a o j ul ga m e nt o de um c a soc om o e st e de c ui da dosa s
ga ra nt i a s, de st i na da s a a sse gura r que a ve rda de se rá c onhe c i dae que qua l que
r c onsi de ra ç ã o ra c i ona l re fe re nt e à s possí ve i s sol uç õe s do c a so se rá t om a
da e m c onsi de ra ç ã o. Adve rt i rã o que t oda s e st a s ga ra nt i a s de na da se rve m
se for pe rm i t ido que a opi ni ã o públ i c a , form a da fora de st e qua dro, t e nha qua
l que r i nfl uê nc i a na de c isã o.

Ma s de t e nha m o-nos i m pa rc i a l m e nt e e m a l gum a s da s re a l i da de s


da a pl i c a ç ã o danossa l e i pe na l . Qua ndo um hom e m é a c usa do de t e r c om e t
i do um c ri m e há , de m a ne i ra

22
ge ra l , qua t ro m odos se gundo os qua i s e l e pode e sc a pa r da puni ç ã o. Um de l e s
c onsi st e
na de c i sã o do j ui z , de a c ordo c om a l e i a pl i c á ve l , de que e l e nã o c om e t e u
ne nhum c ri m e .E st a é , por c e rt o, um a de c i sã o que t e m l uga r e m um a a t m
osfe ra ba st a nt e form a l e
a bst ra t a . Ma s c onsi de re m os os out ros t rê s m odos se gundo os qua i s e l e pode
e sc a pa r dapuni ç ã o. E st e s sã o: (I) um a de c i sã o do R e pre se nt a nt e do Mi ni
st é ri o Públ i c o nã o sol i c i
t a ndo a i nst a ura ç ã o do proc e sso; (II) um a a bsol vi ç ã o pe l o j úri ; (III) um i ndul t o ou c o
m ut a ç ã o da pe na pe l o Pode r E xe c ut i vo. Pode a l gué m pre t e nde r que e st a s
de c i sõe s se j a mt om a da s de nt ro de um a e st rut ura form a l , rí gi da , de re gra s
que i m pe ç a m o e rro de fa t o,
e xc l ua m fa t ore s e m oc i ona i s e pe ssoa i s e ga ra nt a m que t oda s a s form a l i
da de s l e ga i s serã o obse rva da s? É ve rda de que no c a so do j úri proc ura m os re
st ri ngi r sua s de l i be ra ç õe sa o â m bi t o da qui l o que é j uri di c a m e nt e re l e va
nt e , m a s nã o nos pode m os i l udi r a c re di t a ndo que e st a t e nt a t i va se j a re a l
m e nt e be m suc e di da . Norm a l m e nt e , o c a so de que ora nosoc upa m os de ve ri
a t e r si do j ul ga do pe l o j úri sob t odos os se us a spe c t os. Se i st o t i ve sse
oc orri do, pode m os e st a r c e rt os, de que t e ri a ha vi do um a a bsol vi ç ã o ou pe l
o m e nos um adi vi sã o que t e ri a i m pe di do um a c onde na ç ã o. Se se t i ve sse da
do i nst ruç õe s a o j úri no
se nt i do de que a fom e dos ré us e o c onvê ni o que fi rm a ra m nã o c onst i t ue m de
fe sa à a c usa ç ã o de hom i c í di o, se u ve re di c t o a s t e ri a qua se que c e rt a m e
nt e i gnora do, t orc e ndo a
l e t ra da l e i m a i s do que qua l que r um de nós se ri a t e nt a do a fa z e r. É e vi de nt
e que a úni c ara z ã o que i m pe di u que i st o suc e de sse foi a c i rc unst â nc i a fort ui
t a de se r o port a -voz do
j úri um a dvoga do. Se us c onhe c i m e nt os c a pa c i t a ra m -no a i m a gi na r um a
fórm ul a ve rba lque pe rm i t i sse a o j úri furt a r-se de sua s usua i s re sponsa bi l i da
de s.

Me u c ol e ga Ta t t i ng e xpre ssa c ont ra ri e da de por nã o t e r o R e pre se nt


a nt e do Mini st é ri o Públ i c o de c i di do o c a so por si , a bst e ndo-se de re que re r
a i nst a ura ç ã o do proc e s
so. E st ri t o c om o é no c um pri m e nt o da s e xi gê nc i a s da t e ori a j urí di c a , fi c a
ri a sa t i sfe i t o e mve r o de st i no de st e s hom e ns de c i di do fora do Tri buna l pe l o
R e pre se nt a nt e do Mi ni s t é ri oPúbl i c o, funda do no se nso c om um . O pre si de nt
e do Tri buna l , de out ro l a do, de se j a ri aque a a pl i c a ç ã o do se nso c om um fi c a
sse pa ra o fi na l , e m bora , c om o Ta t t i ng, nã o que i rade l e pa rt i c i pa r pe ssoa l
m e nt e .

Ist o m e l e va à pa rt e c onc l usi va de m i nha s obse rva ç õe s, re fe re nt e


à c l e m ê nc i ae xe c ut i va . Ant e s de di sc ut i r e st e t ópi c o di re t a m e nt e que ro
fa z e r um a obse rva ç ã o c one xaa c e rc a da sonda ge m de opi ni ã o públ i c a . C
om o di sse , nove nt a por c e nt o da s pe ssoa spre t e nde que a Supre m a C ort e de
i xe os a c usa dos e m i nt e i ra l i be rda de ou que se l he sa pl i que um a pe na m e ra
m e nt e nom i na l . Os de z por c e nt o re st a nt e s c onst i t ue m um grupode c om
posi ç ã o si ngul a r c om a s m a i s c uri osa s e di ve rge nt e s opi ni õe s. Um dos
nossose spe c i a l i st a s uni ve rsi t á ri os fe z um e st udo de st e grupo e de sc obri u
que se us m e m brosdi vi de m -se e m pa drõe s de t e rm i na dos. Um a porç ã o subst
a nc i a l de l e s é a ssi na nt e de e xc ê nt ri c os j orna i s de c i rc ul a ç ã o l i m i t a
da , os qua i s de ra m a os se us l e i t ore s um a ve rsã ode st orc i da dos fa t os e m c
a usa . Al guns pe nsa m que "e spe l e ól ogo" si gni fi c a "c a ni ba l " eque a a nt
ropofa gi a c onst i t ui um pri nc i pi o a dot a do pe l a Soc i e da de . Ma s, o pont o
sobreque de se j o c ha m a r a a t e nç ã o é e st e : e m bora qua se t oda s a s va ri e da de s
e m a t i z e s de opi
ni õe s c onc e bí ve i s e st i ve sse m re pre se nt a da s ne st e grupo, nã o ha vi a , t a
nt o qua nt o se i ,ni ngué m ne l e , ne m no grupo m a j ori t á ri o dos nove nt a por c
e nt o, que di sse sse : "pe nsoque se ri a de bom a l vi t re que os t ri buna i s c onde na
sse m e st e s hom e ns à forc a e que , e mse gui da , out ro pode r do E st a do os a bsol
ve sse ". No e nt a nt o, e st a é um a sol uç ã o que dec e rt o m odo dom i nou nossa s di
sc ussõe s e que o pre si de nt e de st e Tri buna l propõe c om oum c a m i nho a t ra vé s
do qua l nós pode m os e vi t a r de c om e t e r um a i nj ust i ç a e a o m e sm ot e m po
pre se rva r o re spe i t o à l e i . Pode o se nhor Pre si de nt e e st a r c e rt o de que , se e l
e e st ápre se rva ndo a m ora l de a l gué m , e st a nã o é se nã o a sua própri a , e nã o a do
públ i c o, que
23
na da sa be a re spe i t o da s di st i nç õe s por e l e e m pre ga da s. Me nc i ono e st e
probl e m a porquede se j o e nfa t i z a r m a i s um a ve z o pe ri go de nos pe rde rm os
nos e sque m a s de nosso pró
pri o pe nsa m e nt o e e sque c e r que e st e s e sque m a s fre qüe nt e m e nt e nã o
proj e t a m a m a i st ê nue som bra sobre o m undo e xt e ri or.

Agora c he go a o pont o m a i s de c i si vo de st e c a so. Um pont o c onhe c i


do de t odosnós ne st e Tri buna l , e m bora m e us c ol e ga s t e nha m j ul ga do c onve
ni e nt e oc ul t á -l o sob sua st oga s. Tra t a -se da proba bi l i da de a l a rm a nt e de
que , se a sol uç ã o do c a so for de i xa da a oC he fe do Pode r E xe c ut i vo, e l e se re c
usa rá a pe rdoa r e st e s hom e ns ou c om ut a r sua se n
t e nç a . C om o t odos nós sa be m os o C he fe do Pode r E xe c ut i vo é um hom e m
hoj e de i da dea va nç a da e de pri nc í pi os m ui t o rí gi dos. O c l a m or públ i c o
norm a l m e nt e produz ne l e um
e fe i t o c ont rá ri o a o e spe ra do. C om o di sse a m e us c ol e ga s, a c ont e c e que
a sobri nha dem i nha e sposa é í nt i m a a m i ga de sua se c re t á ri a . Fui i nform a do
por e st a vi a i ndi re t a , m a s,se gundo m e pa re c e , c om pl e t a m e nt e fi de di gna ,
que e l e e st á fi rm e m e nt e de t e rm i na do anã o c om ut a r a se nt e nç a se nós j ul
ga rm os que e st e s hom e ns t ra nsgre di ra m a l e i .

Ni ngué m l a m e nt a m a i s do que e u, a ne c e ssi da de de a m pa ra r-m e , e m um


a ssunt o t ã oi m port a nt e , e m i nform a ç ã o que pode ri a se r c a ra c t e ri z a da c
om o fa l a t óri o. Se de pe n de sse
de m i m , i st o nã o oc orre ri a , post o que e u a dot a ri a a c ondut a se nsa t a de re uni
r-m e c om oE xe c ut i vo e e xa m i na r c onj unt a m e nt e o c a so, de sc obri ndo qua i
s sã o se us pont os de vi st ae t a l ve z e l a bora ndo um progra m a c om um pa ra re sol
ve r o a ssunt o. E nt re t a nt o,
na t ura l m e nt e m e us c ol e ga s j a m a i s a c e de ri a m e m re sol ve r-se o probl e m a de st a m a
ne i ra .

Se us e sc rúpul os e m obt e r di re t a m e nt e i nform a ç õe s e xa t a s nã o os i


m pe de de e st are m m ui t o pe rt urba dos c om o que soube ra m de m a ne i ra i ndi re
t a . Se u c onhe c i m e nt o dosfa t os que a c a be i de re l a t a r e xpl i c a porque o pre
si de nt e de st e Tri buna l , norm a l m e nt e umm ode l o de de c oro, j ul gou c onve ni
e nt e a gi t a r sua t oga na fa c e do E xe c ut i vo e a m e a ç á -l ode e xc om unhã o se
nã o c om ut a sse a se nt e nç a . Suspe i t o que por i sso se e xpl i c a a proe z ade l e vi t
a ç ã o, e m pre e ndi da pe l o m e u c ol e ga Fost e r, pe l a qua l t oda um a bi bl i ot e c
a de
l i vros j urí di c os foi re m ovi da de sobre os om bros dos a c usa dos. É o que e xpl i
c a i gua lm e nt e porque t a m bé m m e u c ol e ga l e ga l i st a Ke e n i m i t ou Pooh-
ba h na c om é di a a nt i ga ,
c a m i nha ndo a t é o out ro l a do do pa l c o pa ra di ri gi r a l gum a s obse rva ç õe s a o
Pode r E xe c ut i vo e m sua "c ondi ç ã o de c i da dã o pri va do" (pe rm i t om e obse
rva r, i nc i de nt a l m e nt e , que oc onse l ho do c i da dã o pri va do Ke e n se rá publ i c
a do na c ol e t â ne a de j uri sprudê nc i a de st eTri buna l à s e xpe nsa s dos c ont ri bui
nt e s).

De vo c onfe ssa r que , qua nt o m a i s ve l ho m e t orno, m a i s pe rpl e xo fi c o


a nt e a re c usa dos hom e ns e m a pl i c a r o se nso c om um a os probl e m a s do di re i
t o e do gove rno; e e st ec a so ve rda de i ra m e nt e t rá gi c o a profundou m e u se nt i
m e nt o de de sâ ni m o e c onst e rna ç ã o ae st e re spe i t o. De se j a ri a a pe na s pode
r c onve nc e r m e us c ol e ga s da sa be dori a dos pri nc í
pi os que t e nho a pl i c a do à funç ã o j udi c i a l de sde que a a ssum i . A propósi t o,
por um a e spé c i e de um t ri st e fe c ha r de um c í rc ul o, de pa re i -m e c om probl e
m a s se m e l ha nt e s a os queora a qui se e sboç a m , j ust a m e nt e no pri m e i ro c a
so que j ul gue i c om o j ui z de pri m e i ra
i nst â nc i a do Tri buna l do c onda do de Fa nl e i gh.

Um a se i t a re l i gi osa e xpul sa ra um sa c e rdot e que , se gundo se di z i a , t i nha


se c on ve rt i doa os pri nc í pi os e prá t i c a s de um a se i t a ri va l . O sa c e rdot e di
fundi u um a not a a c u sa ndo os
c he fe s da se i t a . C e rt os m e m bros l e i gos de ssa i gre j a a nunc i a ra m um a re uni
ã o públ i c a e mque se propunha m e xpl i c a r a posi ç ã o da m e sm a . O sa c e rdot e
a ssi st i u a e ssa re uni ã o.
Al guns a fi rm a ra m t e r-se e l e i nt roduz i do furt i va m e nt e , ut i l i z a ndo-se de um di
s-

24
fa rc e ; o sa c e rdot e de c l a rou e m se u t e st e m unho que t i nha e nt ra do norm a l m
e nt e c om o umm e m bro do c ul t o. De qua l que r form a , qua ndo os di sc ursos c
om e ç a ra m , e l e os i nt e rrompe u a l udi ndo a c e rt a s que st õe s re spe i t a nt e s a
os ne góc i os do c ul t o e fe z a l gum a s de c l a ra
ç õe s e m de fe sa de se us própri os pont os de vi st a . Foi a t a c a do por pa rt i c i pa
nt e s da re uniã o que l he de ra m um a e norm e surra , do que l he re sul t ou, de nt re
out ros fe ri m e nt os, um a
fra t ura na m a ndí bul a . O sa c e rdot e i nt e nt ou um a a ç ã o de i nde ni z a ç ã o c ont
ra a a ssoc i a ç ã opa t roc i na dora da re uni ã o e de z i ndi ví duos que a l e ga va t e re
m si do se us a gre ssore s.

Qua ndo c he ga m os à fa se de j ul ga m e nt o, o c a so pa re c e u-m e , a pri nc í pi o, m ui t o


c om pl i c a do. Os a dvoga dos l e va nt a ra m m úl t i pl os probl e m a s l e ga i s. Ha
vi a di fí c e i s que st õe s c onc e rne nt e s à a dm i ssã o da prova e re l a t i va m e nt e
à de m a nda c ont ra a Assoc i a ç ã o,a l guns probl e m a s gi ra ndo e m t orno da que
st ã o de sa be r-se se o sa c e rdot e ha vi a se i nsinua do i l i c i t a m e nt e na re uni ã o
ou se ha vi a re c e bi do a ut ori z a ç ã o pa ra de l a pa rt i c i pa r.
C om o novi ç o na m a gi st ra t ura , se nt i a -m e i m pa c i e nt e por a pl i c a r m e
us c onhe c i m e nt osa dqui ri dos na Fa c ul da de , e l ogo c om e c e i a e st uda r e st
a s que st õe s a t e nt a m e nt e , l e ndot oda s a s font e s m a i s a ut ori z a da s e pre
pa ra ndo c onsi de ra ndos be m funda m e nt a dos. À
m e di da que e st uda va o c a so e nvol vi a -m e progre ssi va m e nt e m a i s e m sua s pe rpl e xi da de
s
j urí di c a s, t e ndo c he ga do a a proxi m a r-m e de um e st a do se m e l ha nt e à que l e
de m e u c ol e gaTa t t i ng ne st e c a so. Subi t a m e nt e , poré m , a pe rc e bi -m e c l a
ra m e nt e de que t oda s e st a s
i nt ri nc a da s que st õe s re a l m e nt e na da t i nha m a ve r c om a que st ã o, e c om e c
e i a e xa m i ná l aà l uz do se nso c om um . Im e di a t a m e nt e o l i t í gi o ga nhou um
a nova pe rspe c t i va e de i m e
c ont a de que a úni c a c oi sa que m e i nc um bi a fa z e r e ra a bsol ve r os a c usa dos
por fa l t a deprova s.

C he gue i a e st a c onc l usã o pe l a s se gui nt e s c onsi de ra ç õe s. O c onfl i t o e m que o a u


t or fora fe ri do t i nha si do m ui t o c onfuso, c om a l gum a s pe ssoa s t e nt a ndo c he
ga r a o c e nt rodo t um ul t o, e nqua nt o out ra s proc ura va m a fa st a r-se de l e ; a l
gum a s gol pe a ndo o sa c e rdo t e ,a o pa sso que out ra s a pa re nt e m e nt e t e nt a ndo
prot e ge -l o. Te ri a m si do ne c e ssá ri a s a l gum a sse m a na s pa ra a pura r a ve rda
de . De c i di e nt ã o que ne nhum a m a ndí bul a fra t ura da e ra t ã o
i m port a nt e pa ra a C om m onwe a l t h (os fe ri m e nt os do sa c e rdot e , se j a di t o
de pa s sa ge m ,t i nha m se c ura do ne st e m e i o t e m po, se m que o de sfi gura sse
m e se m qua l que r
di m i nui ç ã o de sua s fa c ul da de s norm a i s). Ade m a i s, c onve nc i -m e profunda
m e nt e de queo a ut or t i nha , e m l a rga m e di da , da do c a usa a o c onfl i t o. E l e
sa bi a quã o i nfl a m a da s e st ava m a s pa i xõe s e podi a fa c i l m e nt e t e r e nc ont
ra do out ro l uga r pa ra e xpri m i r se us pont osde vi st a . Mi nha de c i sã o foi a m pl
a m e nt e a prova da pe l a i m pre nsa e pe l a opi ni ã o públ i c a ,a s qua i s nã o podi a
m t ol e ra r a s c onc e pç õe s e prá t i c a s que o sa c e rdot e e xpul so t e nt a va
de fe nde r.

Agora , de poi s de t ri nt a a nos, gra ç a s a um a m bi c i oso R e pre se nt a nt e


do Mi ni st é ri opúbl i c o e a um port a -voz do j úri l e ga l i st a , e nc ont ro-m e di a nt
e de um c a so que susc i t aprobl e m a s que , no fundo, sã o m ui t o se m e l ha nt e s à
que l e s c ont i dos no l i t í gi o que t e rm i
ne i de e xpor. O m undo nã o pa re c e m uda r m ui t o, m a s de st a ve z nã o se t ra t a de um j ul
ga m e nt o por qui nhe nt os ou se i sc e nt os frelares e si m da vi da ou m ort e de qua t
ro hom e nsque j á sofre ra m m a i s t orm e nt o e hum i l ha ç ã o do que a m a i ori a de
nós suport a ri a e m m i la nos. C onc l uo que os ré us sã o i noc e nt e s da prá t i c a do
c ri m e que c onst i t ui obj e t o da a c usa ç ã o e que a se nt e nç a de ve se r re form a
da que a c a ba m de se r e nunc i a dos, e u de se j a ri a
re e xa m i na r a posi ç ã o que a ssum i a nt e ri orm e nt e . Que ro e xpre ssa r que de
poi s de ouvi -l ossi nt o-m e ba st a nt e fort a l e c i do e m m i nha c onvi c ç ã o de que
nã o de vo pa rt i c i pa r do j ul ga
m e nt o.

25
Oc orre ndo, de st a rt e , e m pa t e na de c i sã o, foi a se nt e nç a c onde na t óri
a do Tri buna l
de pri m e i ra i nst â nc i a c onfi rm a da . E de t e rm i nou-se que a e xe c uç ã o da se
nt e nç a t i ve ssel uga r à s 6 hora s da m a nhã da se xt a -fe i ra , di a 2 de a bri l do a
no 4300, oc a si ã o e m que ove rdugo públ i c o proc e de ri a c om t oda a di l i gê nc i
a a t é que os a c usa dos m orre sse m naforc a .
Tatting, J.

O pre si de nt e do Tri buna l pe rgunt ou-m e se , de poi s dos doi s vot os que a c
a ba m dese r e nunc i a dos, e u de se j a ri a re e xa m i na r a posi ç ã o que a ssum i
a nt e ri orm e nt e . Que roe xpre ssa r que de poi s de ouvi -l os si nt o-m e ba st a nt e
fort a l e c i do e m m i nha c onvi c ç ã o deque nã o de vo pa rt i c i pa r do j ul ga m e nt
o.

Oc orre ndo, de st a rt e , e m pa t e na de c i sã o, foi a se nt e nç a c onde na t óri a do


Tri buna l de prim e i ra i nst â nc i a c onfi rm a da . E de t e rm i nou-se que a e xe c uç
ã o da se nt e nç a t i ve sse l uga rà s 6 hora s da m a nhã da se xt a -fe i ra , di a 2 de a
bri l do a no 4300, oc a si ã o e m que o ve rdugo públ i c o proc e de ri a c om t oda a di
l i gê nc i a a t é que os a c usa dos m orre sse m na forc a .

POST SCRIPTUM

Te ndo o Tri buna l pronunc i a do se u j ul ga m e nt o, o l e i t or i nt ri ga do pe l a e


sc ol ha da da t apode de se j a r se r re l e m bra do que os sé c ul os que nos se pa ra
m do a no 4300 sã o a pro
xi m a da m e nt e os m e sm os que se pa ssa ra m de sde a É poc a de Pé ri c l e s. Nã o
há prova ve lm e nt e ne nhum a ne c e ssi da de de obse rva r que o C a so dos E xpl ora
dore s de C a ve rna s nã opre t e nde se r ne m um t ra ba l ho de sá t i ra , ne m um a
profe c i a e m qua l que r se nt i do c om umdo t e rm o. No que c onc e rne a os j uí z e s
que c om põe m o Tri buna l do Pre si de nt e True
pe nny, e l e s sã o na t ura l m e nt e t ã o fi c t í c i os qua nt o os fa t os e pre c e de nt
e s c om os qua i sl i da m . O l e i t or, que se re c usa r a a c e i t a r e st e pont o de vi
st a e que proc ura r de sc obri r se
m e l ha nç a s c ont e m porâ ne a s onde na da di sso foi busc a do ou c onsi de ra do,
de ve ri a se ra dve rt i do de que se m e t e num a a ve nt ura sob sua própri a re sponsa
bi l i da de , a qua l pode
l e vá -l o a de svi a r-se da s ve rda de s e nunc i a da s nos vot os e m i t i dos pe l a C ort
e Supre m a deNe wga rt h. O c a so foi i m a gi na do c om o úni c o propósi t o de foc a
l i z a r c e rt a s post ura s fi l osófi c a s di ve rge nt e s a re spe i t o do di re i t o e do
gove rno. Post ura s e st a s que sã o hoj e a i ndaa s m e sm a s que se a gi t a va m nos di
a s de Pl a t ã o e Ari st ót e l e s. E t a l ve z e l a s c ont i nue m a
a pre se nt a r-se m e sm o de poi s que a nossa e ra t e nha pronunc i a do a propósi t o a
sua úl t i m apa l a vra . Se há a l gum a e spé c i e de pre di ç ã o no c a so, nã o va i a l é
m da suge st ã o de que a squestões nele versadas encontram-se entre os problemas
permanentes da raça humana.
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