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F U L L E R
O CASO
DOSEXPLORAD
ORES
DE CAVERNAS
C D U 3 4 0 .1 2
3 4 0 .1 1
IINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO
Q uer-se si gni f i car com i st o que não se pode pret ender exauri -l o na dog
mát i caj urí di ca e mui t o menos que se possa est a rest ri ngi r ao concept ual
i smo puro,sem dúvi da mui t as vezes at raent e ao espí ri t o, mas despi do de
i mport ân ci a emesmo noci vo - porque al i enant e - ao regrament o da real i
dade soci al . É de
t odo i mperi oso que a dogmát i ca j urí di ca e a pesqui sa em geral ,
represent a dapel a F i l osof i a, pel a Hi st óri a, pel a S oci ol ogi a Jurí di ca,
pel a Ci ênci a P ol í t i ca (eaqui a enumeração é merament e exempl i f i cat i
va), guardem aquel a í nt i ma vi ncul ação sem a qual não se poderá verdadei
rament e apreender o j urí di co.
Jusnat ural i smo, hi st ori ci smo, posi t i vi smo, " di rei t o l i vre" , real i
smo - (e a quit ambém a enumeração não é evi dent ement e exaust i va) - e a
correspect i va
at i t ude ou papel do j ui z em conf ormi dade com cada uma dest as
concepções,ensej ando o probl ema, não menos rel evant e, da cri at i vi dade
mai or ou menordo Di rei t o pel a vi a j uri sprudenci al - t udo i st o são noções
que necessi t am deconcret ude, i ndi spensável ao i ni ci ant e no est udo do Di
rei t o. F ecundada dest emodo sua i nt el i gênci a, f áci l l he será, ao depoi s,
al çar-se das noções apreendidas aos grandes t emas da F i l osof i a do Di rei t
o, di sci pl i na t radi ci onal ment e col ocada em et apa mai s avançada nos
currí cul os j urí di cos.
A demai s, não haveri a pal avras para enal t ecer a i nt ui ção do aut or
quesoube, em est i l o ameno, t razer para dent ro dest e caso i magi nári o
que l he f oisugeri do por casos reai s - Q ueen v. Dudl ey e S t ephens (L. R. 14
Q . B . Di v. 273;1884) e Uni t ed S t at es v. Hol mes (1 Wal l . 1; 1842) -
os mai s at raent es ei mport ant es t emas da t eori a j urí di ca, most rando,
paral el ament e, que os mes
mos probl emas que preocupavam os homens da época de P éri cl es cont i
nuama af l i gi r-nos nos di as que correm, ent remost rando-se nos l i t í gi os da
quot i di anarot i na dos t ri bunai s. Como j á em cert o sent i do escrevemos al
hures, é no pl anodi nâmi co da i nt erpret ação e apl i cação do Di rei t o que
se desvel am as suasgrandes quest ões. S ão os prát i cos - o advogado, o j
ui z, o consul t or j urí di co, orepresent ant e do Mi ni st éri o P úbl i co que,
buscando sol ução aos casos concre
t os, deparam com a possí vel i nadequação das normas j urí di cas aos f at os a
quesão prepost as2 . E apenas medi ant e adequada f ormação, que se deve i
ni ci ar
1
"Pe re l m a n c om ba t e a opi ni ã o de t a nt os fi l ósofos que c onsi de ra ra m - e c ont i nua m c
onsi de ra ndo - quet oda form a de ra c i oc í ni o que nã o se a sse m e l he a o m a t e m á t i c o nã o pe
rt e nc e à l ógi c a . C ont ra e st a opi ni ã oi nj ust i fi c a da e c a duc a sust e nt a Pe re l m a n que há
mesmo formas de raciocínio mais elevadas, que nã oc onst i t ue m propri a m e nt e c á l c ul os ne m t a
m pouc o pode m se r form ul a da s c om o “demonstrações”, pe rt e n
c e ndo, e m c ont ra pa rt i da , à argumentação". E é e st a "precisamente o tipo de raciocínio
empregado pelojurista... A t ra di ç ã o c a rt e si a na , que busc a a c i m a de t udo a evidência, de sde
nha qua l que r proposi ç ã o quenã o possua o c a rá t e r do óbvi o, do i ndi sc ut í ve l , do e xa t o, do
pre c i so. Toda vi a , e st a c onc e pç ã o l ogi c i st a oum a t e m a t i z a nt e do pe nsa m e nt o é de m a si a
da m e nt e e st re i t a , poi s nã o a bra nge gra nde qua nt i da de de ra c i oc í
ni os, que nã o t ê m e ne m pode m t e r form a de m onst ra t i va ... Ma s suc e de que a própri a í ndol
e da de l i be raç ã o e da a rgum e nt a ç ã o se opõe m à e vi dê nc i a e à ne c e ssi da de a bsol ut a ;
porque nã o se de l i be ra nos c a sose m que a sol uç ã o t e m c a rá t e r de ne c e ssi da de , c om o nã o
se a rgum e nt a c ont ra a e vi dê nc i a . A a rgum e nt a ç ã ot e m se u se nt i do no ve rossí m i l , no pl a
usí ve l e no prová ve l , e sc a pa ndo e st e s à c e rt e z a de um c á l c ul o e xa t ode que re sul t e um a
úni c a sol uç ã o j ust i fi c á ve l e m t e rm os a bsol ut os... Já os c ul t ore s da s c i ê nc i a s na t ura i sa
pe na s re c onhe c e m a e vi dê nc i a da i nt ui ç ã o se nsí ve l , da e xpe ri ê nc i a e da i nduç ã o... Ta
nt o a c onc e pç ã oc a rt e si a na qua nt o a dos c i e nt i st a s e m pí ri c os m ut i l a m o c a m po da ra z
ã o, post o que l he ne ga m c a pa c i da depa ra t ra t a r dos dom í ni os e m que ne m a de duç ã o l ógi c
a ne m a obse rva ç ã o dos fa t os pode m forne c e r-nos asol uç ã o dos probl e m a s. A a c e i t a r-se e st
a c i rc unsc ri ç ã o da ra z ã o e m t a i s dom í ni os, nã o nos re st a ri a out rore c urso e xc e t o o de ne
l e s e nt re ga r-nos à s forç a s i rra c i ona i s, a nossos i nst i nt os ou à vi ol ê nc i a ". Pe re l m a n,C ha i
m - De la justicia (De la justice) Tra d. de R i c a rdo Gue rra . Pre f. de L ui s R e c a se ns Si c he s.
Mé xi c o,
Universidad Nacional Autónoma de México, 1964, p. II-III.
2
Az e ve do, Pl a ut o Fa ra c o de - E m que c onsi st e a probl e m á t i c a do Di re i t o Na t ura l . Ant i
güi da de e va st i dã odo t e m a . Estudos Jurídicos, Sã o L e opol do, 5(12): 100, 1975.
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nos pri mórdi os do curso j urí di co, é que poderão sol ver t ai s di f i cul dades,
não
conf undi ndo o Di rei t o com a Lei , e nem est a com a Just i ça.
Rest a ext ernar à Harvard Law Revi ew o devi do reconheci ment o por
haver permi t i do est a t radução, cuj os f rut os, conf i amos, hão de ser os
mai s prof ícuos.
P l a u t o F a ra co d e A ze ve d o
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O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA
O C a so dos E xpl ora dore s de C a ve rna s Supre m a C ort e de Ne wga rt h - Ano de 4300
Proc e ssa dos e c onde na dos à m ort e pe l a forc a , os a c usa dos re c orre ra m da de
c i sã o doTri buna l do C onda do de St owfi e l d à Supre m a C ort e de Ne wga rt h.
Os fa t os e m que sel ouvou a se nt e nç a c onde na t óri a sã o os que a se gui r e nunc
i a o Pre si de nt e de sse a l t o Tribuna l e m se u vot o.
Presidente Truepenny, C. J.
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re sponsá ve i s pe l a ope ra ç ã o de sa l va m e nt o re sponde ra m que pre c i sa va m
de pe l o m e nosde z di a s, à c ondi ç ã o que nã o oc orre sse m novos de sl i z a m e nt
os. Os e xpl ora dore s pe rgunt a ra m e nt ã o se ha vi a a l gum m é di c o no a c a m pa
m e nt o, t e ndo si do post os e m c om uni c a
ç ã o c om a c om i ssã o de st e s, à qua l de sc re ve ra m sua c ondi ç ã o e a s ra ç õe s
de que di spunha m , sol i c i t a ndo um a opi ni ã o a c e rc a da proba bi l i da de de
subsi st i re m se m a l i m e nt o porm a i s de z di a s. O pre si de nt e da c om i ssã o re
sponde u-l he s que ha vi a e sc a ssa possi bi l i da dede sobre vi vê nc i a por t a l l a pso
de t e m po. O rá di o de nt ro da c a ve rna si l e nc i ou a pa rt i r da ídura nt e oi t o hora
s. Qua ndo a c om uni c a ç ã o foi re st a be l e c i da os hom e ns pe di ra m pa ra
fa l a r nova m e nt e c om os m é di c os, o que c onse gui do, W he t m ore , fa l a ndo e
m se u própri onom e e e m re pre se nt a ç ã o dos de m a i s, i nda gou se e l e s se ri a m
c a pa z e s de sobre vi ve r porm a i s de z di a s se se a l i m e nt a sse m da c a rne de um
de nt re e l e s. O pre si de nt e da c om i ssã ore sponde u, a c ont ra gost o, e m se nt i do
a fi rm a t i vo. W he t m ore i nqui ri u se se ri a a c onse l háve l que t i ra sse m a sort e
pa ra de t e rm i na r qua l de nt re e l e s de ve ri a se r sa c ri fi c a do. Nenhum dos m é
di c os se a t re ve u a e nfre nt a r a que st ã o. W he t m ore qui s sa be r e nt ã o se ha vi
aum j ui z ou out ra a ut ori da de gove rna m e nt a l que se di spuse sse a re sponde r à
pe rgunt a .
Ne nhum a da s pe ssoa s i nt e gra nt e s da m i ssã o de sa l va m e nt o m ost rou-se di
spost a a a ssum i r o pa pe l de c onse l he i ro ne st e a ssunt o. W he t m ore i nsi st i u
se a l gum sa c e rdot e pode ri are sponde r à que l a i nt e rroga ç ã o, m a s nã o se e nc
ont rou ne nhum que qui se sse fa z e -l o. Depoi s di st o nã o se re c e be ra m m a i s m
e nsa ge ns de de nt ro da c a ve rna , supondo-se (e rrone
a m e nt e c om o de poi s se e vi de nc i ou) que a s pi l ha s do rá di o dos e xpl ora dore
s t i nha m -sede sc a rre ga do. Qua ndo os hom e ns fora m fi na l m e nt e l i be rt a dos
soube -se que , no t ri gé sim o t e rc e i ro di a a pós sua e nt ra da na c a ve rna , W he t
m ore t i nha si do m ort o e se rvi do de
a l i m e nt o a se us c om pa nhe i ros.
E m um c a so de st a na t ure z a o pri nc í pi o da c l e m ê nc i a e xe c ut i va
pa re c e a dm i rave l m e nt e a propri a do pa ra m i t i ga r os ri gore s da l e i , ra z ã
o por que proponho a os m e us
c ol e ga s que si ga m os o e xe m pl o do j úri e do j ui z de pri m e i ra i nst â nc i a , sol i
da ri z a ndo nosc om a s pe t i ç õe s que e nvi a ra m a o c he fe do Pode r E xe c ut i vo.
Há ra z ã o de sobe j o pa ra
a c re di t a r que e st e s re que ri m e nt os de c l e m ê nc i a se rã o de fe ri dos, vi ndo c om o vê m
da que l e s que e st uda ra m o c a so e t i ve ra m a oport uni da de de fa m i l i a ri z a r-
se c a ba l m e nt ec om t odos os se us a spe c t os. É a t ua l m e nt e i m prová ve l que
o c he fe do Pode r E xe c ut i vode ne gue e st a s sol i c i t a ç õe s, a m e nos que e l e
própri o fosse re a l i z a r i nve st i ga ç õe s pe l o
m e nos t ã o e xt e nsa s c om o a que l a s e fe t ua da s e m pri m e i ra i nst â nc i a ,
que dura ra m t rê sm e se s. A re a l i z a ç ã o de t a i s i nve st i ga ç õe s (que , de fa t
o, e qui va l e ri a m a um novo j ul gam e nt o do c a so) se ri a di fi c i l m e nt e c om
pa t í ve l c om a funç ã o do E xe c ut i vo, c om o é norm a l m e nt e c onc e bi da . Pe
nso que pode m os, port a nt o, pre sum i r que a l gum a form a de
c l e m ê nc i a se rá c onc e di da a os a c usa dos. Se i st o for fe i t o, se rá re a l i z a
da a j ust i ç a se mde bi l i t a r a l e t ra ou o e spí ri t o da nossa l e i e se m se propi c i
a r qua l que r e nc ora j a m e nt o àsua t ra nsgre ssã o.
Foster, J.
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l e r a a dm i t i r-se que e l a nã o pre t e nde re a l i z a r a j ust i ç a .
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re m ovi da de poi s dos m a i ore s di spê ndi os de t e m po e de e sforç o.
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t a s c onc l usõe s t ã o pouc o c om uns. A font e de st a i nt ra nqüi l i da de é , no e nt
a nt o, fá c i l dei de nt i fi c a r. As c ondi ç õe s usua i s da e xi st ê nc i a nos i nc l i na
m a c onsi de ra r a vi da hum a naum va l or a bsol ut o, que nã o pode se r sa c ri fi c a do
e m ne nhum a c i rc unst â nc i a . Há m ui t o dei l usóri o ne st a c onc e pç ã o, m e sm
o qua ndo a pl i c a da à s re l a ç õe s norm a i s oc orre nt e s navi da soc i a l . Ti ve m
os um e xe m pl o de st a ve rda de no própri o c a so que ora e xa m i na m os.De z t ra
ba l ha dore s m orre ra m ' no t ra ba l ho de re m oç ã o da s roc ha s à e nt ra da da c a
ve rna .Nã o sa bi a m os e nge nhe i ros e os func i oná ri os públ i c os que di ri gi a m a
ope ra ç ã o de sa l
va m e nt o que os e sforç os que e st a va m e m pre e nde ndo e ra m pe ri gosos e e
nvol vi a m umsé ri o ri sc o pa ra a s vi da s dos t ra ba l ha dore s que os e st a va m e
xe c ut a ndo? Se é j ust o quee st a s de z vi da s t e nha m si do sa c ri fi c a da s pa ra
sa l va r a s dos c i nc o e xpl ora dore s, a quet í t ul o di re m os t e r si do i nj ust o que e
st e s e xpl ora dore s e xe c ut a sse m um a c ordo pa ra sa l
va r qua t ro vi da s e m de t ri m e nt o de um a ?
1
1ve z que a l e i t ura l i t e ra l de sua pa rt e fi na l t orna va -a i nc om pa t í ve l c om t
udo o que a pre
c e di a e c om o, obj e t i vo de st e t e xt o t a l c om o e nunc i a do e m se u pre â m bul
o. E st e Tri buna lre c usou-se a a c e i t a r a i nt e rpre t a ç ã o l i t e ra l da l e i , e , de fa
t o, re t i fi c ou sua l i ngua ge m ,
t ra nspondo a pa l a vra "nã o" pa ra o se u l uga r e xa t o.
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W he t m ore e que a se nt e nç a de c onde na ç ã o de ve se r re form a da .
Ta t t i ng, J .
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ê nc i a , o e fe i t o da re sc i sã o uni l a t e ra l do c ont ra t o fe i t a por W he t m ore , e st
a é um a i nfe rê n
c i a ne c e ssá ri a de sua a rgum e nt a ç ã o.
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de sc a rga orde na da à i nst i nt i va ne c e ssi da de de re t ri bui ç ã o:
Commonwealth v. Scape.Ta m bé m se a fi rm a ,que o se u e sc opo é a re a bi l i t a ç
ã o do de l i nqüe nt e : Commonwealth v.Makeover. E out ra s t e ori a s t ê m si do
propost a s. Supondo-se que nós de va m os i nt e rpre t a rum a l e i à l uz de se u
propósi t o, o que de ve re m os fa z e r qua ndo t i ve r vá ri os propósi t os ouqua ndo e
st e s fore m que st i ona dos?
Ma s a e xpl i c a ç ã o fa m i l i a r pa ra a e xc l ude nt e da l e gí t i m a de fe sa
que t e rm i ne i dee xpor obvi a m e nt e nã o pode se r a pl i c a da por a na l ogi a a os
fa t os de st e c a so. E st e s a l guma uxí l i o i ne spe ra do t a l ve z pude sse t e r c he
ga do. Dou-m e c ont a de que e st a obse rva ç ã oa pe na s re duz a di st i nç ã o a um
a que st ã o de gra u, se m que a de st rua c om pl e t a m e nt e . Éc e rt a m e nt e ve rda
de que o e l e m e nt o de pre ve nç ã o se ri a m e nor ne st e c a so do que a que l eque
norm a l m e nt e de c orre da a pl i c a ç ã o da l e i pe na l .
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um a l i nha de ra c i oc í ni o, ori gi na ri a m e nt e i na de qua da , c he gou a sa nc i ona r-
se por vi a deum pre c e de nt e , de m odo que da í por di a nt e e st e j a m os obri ga dos a
a pl i c á -l a ?
Um a ve z que m e re ve l e i c om pl e t a m e nt e i nc a pa z de a fa st a r a s
dúvi da s que m ea sse di a m , l a m e nt o a nunc i a r a l go que c re i o nã o t e nha
pre c e de nt e s na hi st óri a de st e Tribuna l . R e c uso-m e a pa rt i c i pa r da de c i
sã o de st e c a so.
Keen, J.
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m e nt o dos m e us de ve re s c om o j ui z nã o m e i nc um be di ri gi r i nst ruç õe s a o c
he fe do Pode rE xe c ut i vo, ne m t om a r e m c onsi de ra ç ã o o que e l e possa ou nã o
fa z e r, a fi m de c he ga r àm i nha própri a de c i sã o que de ve rá se r i nt e i ra m e nt e
gui a da pe l a l e i de st a C om m onwe a l t h.'
Te m po houve _ ne st e pa í s, e m que os j uí z e s e fe t i va m e nt e l e gi sl a ra
m l i vre m e nt e et odos nós sa be m os que dura nt e e sse pe rí odo a l gum a s de nossa
s l e i s fora m pra t i c a m e nt ere e l a bora da s pe l o Pode r Judi c i á ri o. Ist o oc orre
u e m um m om e nt o e m que os pri nc í pi osa c e i t os pe l a c i ê nc i a pol í t i c a nã
o de si gna va m de m a ne i ra se gura a hi e ra rqui a e a funç ã odos vá ri os pode re s do
E st a do. Todos c onhe c e m os a t rá gi c a c onse qüê nc i a de st a i ndi st i n
ç ã o a t ra vé s da bre ve gue rra c i vi l que re sul t ou do c onfl i t o e nt re o Pode r Judi
c i á ri o, deum l a do, e os Pode re s E xe c ut i vo e L e gi sl a t i vo, de out ro. Nã o há
ne c e ssi da de de e num era r nova m e nt e a qui os fa t ore s que c ont ri buí ra m pa ra
e st a m a l si na da l ut a pe l o pode r,
e m bora se j a sa bi do que e nt re e l e s se i nc l uí a m o c a rá t e r pouc o re pre se nt a t
i vo da C â m a ra ,re sul t a nt e de um a di vi sã o do pa í s e m di st ri t os e l e i t ora i s
que nã o m a i s c orre spondi a m à
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re a l di st ri bui ç ã o da popul a ç ã o, be m c om o à fort e pe rsona l i da de e à va st a
popul a ri da deda que l e que e ra e nt ã o o pre si de nt e do Tri buna l . É sufi c i e nt e
obse rva r que a que l e s di a spa ssa ra m e que , e m l uga r da i nc e rt e z a que e nt ã o
re i na va , nos a gora t e m os um pri nc i pi obe m de t e rm i na do c onsi st e nt e na
supre m a c i a do ra m o l e gi sl a t i vo do nosso gove rno. De sse princípio decorre a
obrigação do Poder Judiciário de aplicar fielmente a lei escrita e
de i nt e rpre t á -l a de a c ordo c om se u si gni fi c a do e vi de nt e , se m re fe rê nc i a a
nossos de se j ospe ssoa i s ou a nossa s c onc e pç õe s i ndi vi dua i s da j ust i ç a . Nã o
m e c a be i nda ga r se o pri n
c í pi o que proí be a re vi sã o j udi c i a l da s l e i s é c e rt o ou e rra do, de se j a do
ou i nde se j a do;obse rvo si m pl e sm e nt e que e st e pri nc i pi o t ornou-se um a
pre m i ssa t á c i t a subj a c e nt e at oda orde m j urí di c a que j ure i a pl i c a r.
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forç a dos a se r m a i s e xpl í c i t os a c e rc a do probl e m a , prova ve l m e nt e nos re
fugi a rí a m os na sm a i s sofi st i c a da s t e ori a s dos c ri m i nol ogi st a s, a s qua i s,
por c e rt o, nã o se e nc ont ra va m nam e nt e dos nossos l e gi sl a dore s. Nós pode rí a
m os t a m bé m obse rva r que os hom e ns e xe c u
t a ri a m se u t ra ba l ho de m a ne i ra m a i s e fi c a z e vi ve ri a m m a i s fe l i z e s se
fosse m prot e gi dosc ont ra a a m e a ç a de a gre ssã o vi ol e nt a . Te ndo e m m e nt e
que a s ví t i m a s de hom i c í di os sã ofre qüe nt e m e nt e pe ssoa s de sa gra dá ve i s,
nós pode rí a m os a j unt a r a suge st ã o de que a
e l i m i na ç ã o de pe ssoa s i nde se j á ve i s nã o de va se r um a funç ã o a propri a da à i ni c i a t i va
pri
va da , m a s, a o re vé s, c onst i t ui r um m onopól i o e st a t a l . Tudo i st o l e m bra -m
e um a dvoga doque , c e rt a oc a si ã o, a rgum e nt ou pe ra nt e e st e Tri buna l que um a
l e i sobre o e xe rc í c i o da
m e di c i na e ra um a boa c oi sa porque l e va ri a à di m i nui ç ã o dos prê m i os de se
guro de vi da ,e i s que e l e va ri a o ní ve l ge ra l de sa úde . Há que m pre t e nda que o
óbvi o de ve se r
e xpl i c a do.
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c om pl e t o fra c a sso no de se m pe nho da funç ã o j udi c i a l . É de t odo i m possí ve l
a o j ui z a pl i
c a r um a l e i t a l c om o e st á re di gi da e , si m ul t a ne a m e nt e , re fa z ê -l a e m
c onsonâ nc i a c omse us de se j os pe ssoa i s.
Handy, J.
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de c i di r é o que nós, c om o func i oná ri os públ i c os, de ve m os fa z e r c om e sse
s a c usa dos.E st a é um a que st ã o de sa be dori a prá t i c a a se r e xe rc i da e m
um c ont e xt o, nã o de t e ori aa bst ra t a , m a s de re a l i da de s hum a na s. Qua ndo
o c a so é e xa m i na do sob e ssa l uz , t orna -se ,se gundo m e pa re c e , um dos m a i s
fá c e i s de de c i di r de nt re os que j á fora m a rgüi dos pe
ra nt e e st e Tri buna l .
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um a c onform i da de ra z oá ve l c om os se nt i m e nt os da que l e s que se a c ha m
subm e t i dos ànossa a ut ori da de . Ma i s gove rnos soç obra ra m e m a i s m i sé ri a
hum a na foi c a usa da pe l aa usê nc i a de st e a c ordo e nt re gove rna nt e s e gove
rna dos do que por qua l que r out ro fa t orque se possa di sc e rni r na hi st óri a . De sde
o m om e nt o e m que se i nt roduz um a c unha e n
t re a m a ssa do povo e a que l e s que di ri ge m sua vi da j urí di c a , pol í t i c a e e c
onôm i c a , asoc i e da de é de st ruí da . E nt ã o ne m a l e i da na t ure z a de Fost e r,
ne m a fi de l i da de à l e i e sc ri t a de Ke e n, nã o se rvi rã o de m a i s na da .
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ge ra l , qua t ro m odos se gundo os qua i s e l e pode e sc a pa r da puni ç ã o. Um de l e s
c onsi st e
na de c i sã o do j ui z , de a c ordo c om a l e i a pl i c á ve l , de que e l e nã o c om e t e u
ne nhum c ri m e .E st a é , por c e rt o, um a de c i sã o que t e m l uga r e m um a a t m
osfe ra ba st a nt e form a l e
a bst ra t a . Ma s c onsi de re m os os out ros t rê s m odos se gundo os qua i s e l e pode
e sc a pa r dapuni ç ã o. E st e s sã o: (I) um a de c i sã o do R e pre se nt a nt e do Mi ni
st é ri o Públ i c o nã o sol i c i
t a ndo a i nst a ura ç ã o do proc e sso; (II) um a a bsol vi ç ã o pe l o j úri ; (III) um i ndul t o ou c o
m ut a ç ã o da pe na pe l o Pode r E xe c ut i vo. Pode a l gué m pre t e nde r que e st a s
de c i sõe s se j a mt om a da s de nt ro de um a e st rut ura form a l , rí gi da , de re gra s
que i m pe ç a m o e rro de fa t o,
e xc l ua m fa t ore s e m oc i ona i s e pe ssoa i s e ga ra nt a m que t oda s a s form a l i
da de s l e ga i s serã o obse rva da s? É ve rda de que no c a so do j úri proc ura m os re
st ri ngi r sua s de l i be ra ç õe sa o â m bi t o da qui l o que é j uri di c a m e nt e re l e va
nt e , m a s nã o nos pode m os i l udi r a c re di t a ndo que e st a t e nt a t i va se j a re a l
m e nt e be m suc e di da . Norm a l m e nt e , o c a so de que ora nosoc upa m os de ve ri
a t e r si do j ul ga do pe l o j úri sob t odos os se us a spe c t os. Se i st o t i ve sse
oc orri do, pode m os e st a r c e rt os, de que t e ri a ha vi do um a a bsol vi ç ã o ou pe l
o m e nos um adi vi sã o que t e ri a i m pe di do um a c onde na ç ã o. Se se t i ve sse da
do i nst ruç õe s a o j úri no
se nt i do de que a fom e dos ré us e o c onvê ni o que fi rm a ra m nã o c onst i t ue m de
fe sa à a c usa ç ã o de hom i c í di o, se u ve re di c t o a s t e ri a qua se que c e rt a m e
nt e i gnora do, t orc e ndo a
l e t ra da l e i m a i s do que qua l que r um de nós se ri a t e nt a do a fa z e r. É e vi de nt
e que a úni c ara z ã o que i m pe di u que i st o suc e de sse foi a c i rc unst â nc i a fort ui
t a de se r o port a -voz do
j úri um a dvoga do. Se us c onhe c i m e nt os c a pa c i t a ra m -no a i m a gi na r um a
fórm ul a ve rba lque pe rm i t i sse a o j úri furt a r-se de sua s usua i s re sponsa bi l i da
de s.
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fa rc e ; o sa c e rdot e de c l a rou e m se u t e st e m unho que t i nha e nt ra do norm a l m
e nt e c om o umm e m bro do c ul t o. De qua l que r form a , qua ndo os di sc ursos c
om e ç a ra m , e l e os i nt e rrompe u a l udi ndo a c e rt a s que st õe s re spe i t a nt e s a
os ne góc i os do c ul t o e fe z a l gum a s de c l a ra
ç õe s e m de fe sa de se us própri os pont os de vi st a . Foi a t a c a do por pa rt i c i pa
nt e s da re uniã o que l he de ra m um a e norm e surra , do que l he re sul t ou, de nt re
out ros fe ri m e nt os, um a
fra t ura na m a ndí bul a . O sa c e rdot e i nt e nt ou um a a ç ã o de i nde ni z a ç ã o c ont
ra a a ssoc i a ç ã opa t roc i na dora da re uni ã o e de z i ndi ví duos que a l e ga va t e re
m si do se us a gre ssore s.
25
Oc orre ndo, de st a rt e , e m pa t e na de c i sã o, foi a se nt e nç a c onde na t óri
a do Tri buna l
de pri m e i ra i nst â nc i a c onfi rm a da . E de t e rm i nou-se que a e xe c uç ã o da se
nt e nç a t i ve ssel uga r à s 6 hora s da m a nhã da se xt a -fe i ra , di a 2 de a bri l do a
no 4300, oc a si ã o e m que ove rdugo públ i c o proc e de ri a c om t oda a di l i gê nc i
a a t é que os a c usa dos m orre sse m naforc a .
Tatting, J.
O pre si de nt e do Tri buna l pe rgunt ou-m e se , de poi s dos doi s vot os que a c
a ba m dese r e nunc i a dos, e u de se j a ri a re e xa m i na r a posi ç ã o que a ssum i
a nt e ri orm e nt e . Que roe xpre ssa r que de poi s de ouvi -l os si nt o-m e ba st a nt e
fort a l e c i do e m m i nha c onvi c ç ã o deque nã o de vo pa rt i c i pa r do j ul ga m e nt
o.
POST SCRIPTUM