Você está na página 1de 27

Período Helenístico II

Ar aT
por Olavo de Carvalho

coleção

História
Essencial da
Filosofia
Periodo HelenÍstico I1

por Olavo de Caúalho

Coleçâo Históriâ E$encial dâ Filosofia

Aconpânha esta publicaçáó !n DVD,


que não pode so vendido sepdadanEnre

lmpreso no Erasil, dezembtu de2006


copyright o 2005 by Olalo de Calvalho

Ioto Olalo de camlhn

Ediror
Edson Mánocl d€ Oliveira lilho

Monique §chenkeh e Dagmàr Rizzolo


Período Helenístico II
Daeui Dsign AuJaT

por Olavo de Carvalho


Tereza Mada Lourenço Pereirá

Os direitor dessaedicáo peÍencem à coleçáo

História
CEP: 04009-970 SàoPàulo-SP
aelefax: (11) 55?2 5363
Essencial da
E-maiL e@crealizacoes.con.br
vlw.erlalizacoes.@m br
Filosofia
Rscnadôs tôdo os direilosdstaobÉ. p{ribida roú ctulqle. rcpoduçáodcír c i!ão por
qualquertuei. ou Íoua, sejâ elaelêtrôni.!oú nocànio{ tirkrcinia, Hravoqíooú quí r trNL nonj 5._r
_§=
ffi
2006
(lrlcçao ltisiória Eisencial da Filosofia
Período Helenístico II - Aula 7
por Olavo de Carvalho

I
Conú esse período posierior à Academia e ao Liceu, à grande épo_
or pl.rtarn;co-âristotélica dâ Filosofia. é extreüâmente confuso, muilo
cornplcxo, existe também, nessâ ocasião, uma espécie de lIoÍescimento
quantiiativo. Fica âté dilicil, num curso destas dinensóes, selecionar
o (luc se vai abordar ou não. Naturalmente. nosso estudo âcerca desse
pcri(,do vaitcr que ser deiipo sintético, teniêndo pegar mais ou menos
algumâs tendências oü âté cacoetes comuns aos seus pensadotes, sem
quc haja a mínima condiqáo de lazer aqui um estudo de um por um.
M esnro aqusles que a gen le d eslacar, isso não quer dizer que tenham sido

t realmenteos êis "lmpodantes'', mas sáo ciiados como sintomas deuma


ücfia maneira de vêr as coisâs que foi comum a todo esse período.
I
lá comentci que o surgimento dessa nova coleção de problernâs fi_

los{ificos, e desse l'lorescimento de escolas um pouco extravagantes por


r{)do lado, teve algo a ver com as mudênças políticâs da época, com o
t liln dadenlocraciae aelininaçáo, portanto, dâs discussóes públicás, I sso
ucêÍretoü, entáo, um rc1lúxo da conversaqáo filosófica parâ temas que
estariam mais próximos da individuâlidade hümana. Mas essaindividua-
lidade iambém iá cra compreendida apenas nosentido de individualidade
corpolêl, e não de individualidade biográiica, como iá comcçara a se
csboçar no tempo de Platáo e Aristóteles.
O estudo dessâ épocaé importanlepara severcomo é terrivelmcnte
lácil qlre tudo aquilo que a "humanidade" quer dizet, âlgüns indivi
duos hâvia percebido, apre€ndido num certo momento, conquistado
-
de verdadeiro, de precioso, de profündo. como tudo aquilo pode clesa_
parecer, se dissipart se dispersar num instante, e como a reconquista
desses conhecirnenlos pode exigir n1uitos e muitos séculos É evidcnie Mcsnro rcconhoccndo quehácoisâs que possam sel eternas e imutáveis,

quc a imporláncia dessc estudo se iorna ainda lnais eníática quando o lirk) ú quc clas não chegam âo nosso conhecimento pelos sentidos, só se
nós mesnos esiârnos vivendo nüma ópoca desse iipo. l(r r âccssoa isso mediânte algun esibrço de râciocinio Seseadotarcomo

Note hem que seria uma iolicc imaginâr que â atividade iúeleciual t)rcnrissa que apenâs âquilo queexisle eú seniido absoluio é exlsienre e que
süperior pode decâir scrn que islo ateie crr nâda a percepçáo que os iLrdo âqLilo que le
uma existôncia relativa náo existc, isso quer dizer que

dcmais ü1divídlros têrn dâs coisas. Ulna dccadêDcia intelccluâlé tambén todo o mundo dênossa experiência simplesmenie desaparece do horizonic.

nn1a decadência da sinples perccpEão humana. Isso quer dizeÍ qüc. c única coisa exisr€nte será âquela faixa superior da realidade na qual
Lr

quândo os enbuÍecem. os rnâis butÍos elllbuffeceDr


ais inteligcntes rstin) as coisas de orde divloa c os p ncipios por cxcmplo. o princípio
nrais aindâ, cÍjando uma situação verdadeirâmente compressivâ e llc idcniidâde, as leis da âritmélicâ e da lógica elemcntart e assinpor diantc.
desesperâdora. Quando vemos Lrm filósotb desse perÍodo lutando conr l;r,rd., ;.'o o re'rorcriain(ri)lenle. ncu.r\e nu\ n'e.rro'
l:lificüldades el€nlen!ârcs quc iá €stavâm resolvidas iazi.r sécülos, c os Íi evi.lentc que. quando Parmônides enuncja isto, ele o faz sobuma
vemos âs5im tropeçando. esbonachândo â cara no cháo ante enigmas li»nra aloristica e poéiica, e numa espécie dc estilo hiperbólico qüc ó
lógicos âbsolútâmcnte puerls, chegamos a nos slrrprccnder de conlo ó hâstante câracierísiico dâ linguage poótica Náo podemos nos es_
que loi possí,cl aconiecer uma coisâ clessas. quccer de que o li\.ro de Parmênides. o seu relaio, é um mito, un mito
',
d€ nrna -viâgenr celeste n1âis ou menos como aquela que úais târd€
Ncssc perí«lo. üma das escolas qu€ aparecen é a chanâda cscolâ
mcgárica, por câusa do norre da cidâde (l!4égarâ), na qual aconlec€ scria relarada a rcspcito do proleiâ EIias ou de Nlaomé: um indivíduo
urr retorno à idóia de Par Ôuidcs âcerca.la unidacle absoilrtâ do scr a êrrcbntado da Terra e sobe aié o Céu. e ali loma conhccimento de
Ora, uma vez aliürâ,:lo que "o ser é' e quc 'o nio sc. não ó". náo se àl8umas leis eternas. o poema de Pârmênides é exatanente âssinr.

tcm nenhuna lnâncira de abordar as coisas que csião numê cspócic ulll mi1o. uma lenda de âscensão celeslc, c nessa âscensão é qüc lhe é
de iransiÇào do scr paril o não-seri nàLr se tcrn rrcnhunra maneira de revelàdo quc 'o ser é" e'o não-ser náo é".

enlocâr âquilo que não acorteceu aindâ. que está no processo de orâ, cssa é unta sentença tâo câtegórica que só pode ter validade
acontcccl Lru de "dcsacontecer' . Sc 'o ser é" e se 'o não-ser não é . numa eslera reâl entc caiegódca. nunca na empírical Mas acontccc
ou as coisas eriÍcm de uma Nez pârâ serrpre. sáo ctcrnas e imuiávcis. que essa distinÇáo nào pode, ela lnesma. ser leiia dentro de um quadro

têlll uma tonna de exisiência âbsolula. ou clas sinple§menre rão Lle reierôncias parmenídico: se'o ser-é" e "o não-ser nâo é". e isso é

eristcn. lsso nos lcvaria, evidenicmcnie, â ncgar'â cxistênciâ dc'lLrtlo tudLr quanto vocô sâbc, eniào a própriâ distinEáo entre o qlre scria unr

âquilo quc chega ao nosso conhccin1cnto airavós.:los scntido§ porquc plano nretâfísico. eterno. e u
plano enpirico, e]a iá desâparcceu. Essa

prâiicâ eule tudo o que conhccemos eslá ellt Proccsso dc fr d nç4, de unilâieralldade, essa ênlase hipcüarlica nâ eteÍnidade do ser, elrt deve
.tlgüllr nnrclo. c âlrâvés dos senti.los não sc tcm ace§í, a nadtr (ltLe seiâ scr compreendida como uma p meira especu lâçào ainda e linguagem
pcrnanenie, eicrno. irnutáYel, €tc. niiopoélica - c, portanLo, nâo tem o menor senlido inierprctá_la como
umâ tesc cientifica no senlido aiuâI.
de Herácliio' que lêm |Á\t\o:Énaisaumenosoq e Aistóteles disse d e sen tida Íi8 tado.
o mesmílsino se pode (lizer das scntenças
tliscltlso indnetu. depois (...)!|
de quc na !e rilade nâda é' iucb
está
nlais ou nenos o senticlo contrário uma conlusao enirc o sentido ligu rado o senlido
qlre tüdo cslá cn perpétuo fluxo
as se t-ertamente. llssa ó e
em perpétuo fluxo. ctc' É fâio
dircto. Tenho a inrprcssão de que âquclcs prineiros filósolos ditos pré-
iJiã .. iluxo o scntido desra liasc tânbénr cstaria'
r"'outüo
".tr** qüe socráiicos alguna consciência dâ inadequaçáo da suâ linguagcn eles
absolutâmeirie Ponanio tudo o
é
u""e ,a" u *..,"pt""ndcriâ deveriâmtcr Pelosinples làto de saberem que estavam penetrandonunl
" Ilerácliio {tcve ser sernpre compreendido
U,,. 0.,
"**"r"* " ,or Nao se tinha na épocâ un1â Iiniluagem
ierritório de experiência humana quc nâo cra daexpcriênciâ conrum,
Lr

como uma figura ile linguagen que €ra, por assin] dizer, o das vGÔes quase misiicas, ceftamenie por
as dis
ii",ui., " i"*to*'"bora<la na qual se prrrJesse lazer todas
i.to ele. rin"àrr ..r r. rcnria o< qre aqrri o cnr qJL ('lâ!0rr crà cn'E
tinçõcs de Pianos, ctc' nráiico. Pelo Inenos Hcráclito tinhâ pcrleita consciência dislo. Como
con Sócratcs c
O surglmento dessa lingll agem apâreceÍa iüstarnent€
AristiÍc' c qL,. .rb.rnôr loÍqr( (.e L5ro\a s.turu Le quc r. pÓsua' i'nai'
patanarcle grandeperlciçao com
"o"rotrã., " "n"rut " ' e aparece essa escola megárica
entenderiâm o que ele estava dizendo. achavâ que âqüllo era para um
Lr. r*, u"*r*i", tuo isso épcrdido' peqlreno circulo de pessoas muiio capaciiadâs: e tinha unr lremefdo
do ser Àí isto já
.""0t,*"0". com Pannenides, a unidâde absolLrta desprezo pelanruhidáo, pelo vulgo. cra um êrisiocratâ do conhecimenÍo
como urrlâ scntcnça lilosóficâ em
nao é afitmaclo poeticâmente, mas muiro cÍrnscientc de que aquelas visões da realklade náLr erÀrn realmcnte
sc iinha alguma irailiqáo de
filosolia iócnica'
.".tlao *r.ito. ôo-o ia
do pnra qualqucrum. OÍa, seclctinhaesta consciência. tarnbém sâbiâque
lnegáricâ afirmavâ unidade absoluta
or""i" " .*,0t" u"
""cola '1
as tcses das essas rcalidades náo podcrianr ser e)ipressas 11ã língua de qualquer Lmr.
.",lI" lese qLre devcria seÍ v:ilida contra
".. "n.,""t"_" "ta platôrrica elc') Aqüiluque cr Paünêni )á com os megáricos. a unidâde do ser ó afirmâdâ exâtamcnte na línguâ
f"tOtotélicâ,
de quâlquer urn, como urna tcse liteÉ].
"r".,,""r**a." rnilalcrtrL
i". u,ou o"r."rqto poéiica- e' pofianio' ma alirnlaçáo sentido
"ro nu Um dos resullados da unidade.tbsoluta do ser é que iudo aquilo
i"'r." '"""à" ,." *rclâde que só podcria ser validâda hunrana no qral se obseNe âlguna conlradiçâo não existe e sc aurt-r_anula.
com a êxperiência real -'
relalivo, pclo nrcnos se confrontadâ Acontece que. nessas circunstânciâs, o conceito tlc contradiçao quc
reafirnadâ agorâ coflo tese filosófica en
*.**, p.ai* t"nilo
eles têm ó enornemenie arnpliado: eÀislem nuitas senleúçâs quc pa_
"r"" ,n-*t" tlma coméilià' não pode ser lcvada a sório'.
".r,tu" "rt.ia, mâs sim ur1lâ canca reccm con(âdilórias. c só o parecem porque nelâs e:isie uma síntese
Náo háprcpriancntc Lrln retorno â Pârnênides
de dois plânos de relerência. Ora, sevocê tona esses dois planos coüo
cnr tiases mllito sinióticas a
turuaet" un1a.oi'o O u indivíduo enlrnciar se lossem uln só e achata o scrti.lo das proposiçóes, elàs seúo purâs
quc lhe stnr revela-
."0..,-.* .,rr r".," uue elc teve 'le certâs vedadcs coniradiçõcs lógic.ts Dai qlre un1â das conclLrsÔes dessa escola é, na
pot iniuiÇào direr'ri outrâ coisa i o indivicluo
seln
au", p- u."l* ai,". verdade. â inrpossibilidade de see)iprcss q uâkluer prcposiçào â respeito
po'lica suticiente
,..tiao".r" l"triqao" ""1r iêr, porLanlo nlinguagcm do que qucr que seja, porquc nâo iDporta o quc se diga, vai r€sultar
de ur'ra
puro etpr"r"a_ta, tuntut nresnlatiâsc iá nao conrcelpresstro
"ssa €m algum parâdoxo.
irrtLriqao, mas como Lrma tcse
no scnli'lo ltjgicír geral
Um dos diveúimenios dos megáricos era colecionar paradoxos para lr'r'cc(nrívcl cnrre o s€r c o náo-ser. Aristóteles diz quc o ser é grâdüado

.lenronÍrâr como erâ irÚiil sc tenlar d izcr o que q crquelbsse Umdeles r rilrr a prin cipâl grâduaçio é essa dislhção, â potência e o aro.
ja lI1enuiorei, que éo tâmoso parad or(o do rnentiroso: se o sljcito diz quc Sclõsse rosmciocinar orcgâricamerte, pode anos l)egâr a nulheÍ grá'

ó n1enilÍoso. ou ele é €fetivamentc mentiroso - porlânio. cstá dizendo â


vida e fergrnrar sc ela é ou não émãe:se cla disserq!e náo, entáo nãotem

mcntiroso ou esiá mentindo, portanto. nao lilho ncnhu na süâ barriga: se disser que á 1nác, cntáo o lilho iá nascer
verdade. poúanto, não é
ó mentiroso cle mâneira algunê
Olrtroé ola oso paradoxo de Electra: Elcctra tem ünr irnláo Oresles. l^1Ltna: Ou, eúao. "caàê seu ÍiLllo?")
que Íoi criâdo longe dela. Ela sabe qllê clc é o i náo dela oLI não quândo 'Entâo. caclê scu fiiho'?" Exâtamentel O €remplo da mulhcr grávidê
ú particulaünente iluslralivo da teoria da potência e do aio. porque. além
o vê? Se você disser qu e cla sêbe, €niáo ela sem Prc o soube Scdisserquc
elanao sâbc. enito ela nuncâo soube Qüerdizer, iL sjm p lcs pêssagelr do de lazeradisrinçáo de fâscs entrepotôncia e ato, Arisióielcs âindafaziâ
a distinçâo entre o que se chamava 'âto Prinreiro e
-âlo segundo".
cslàdo dc hipinesc para o estado de celicza é, Poriânlo Lrmâ udanqâ
Digamos assiff: todâ mulher, conlo lem a capacjdâde de ficar grarvida, é
dc plânos Havia âlgo que eu desconfiava, nrâs náo sabia. c âgora sei
com cerlezâ -cssa simples Passâgcm dà hipóicse parâ o conhecin€nto lráe eü potôncia;quando cngrâviclâ, jáé màe em aloprimciro: e quÂnrlo

cerlo rlcixã.le ser unla passâgcm e se translonrrâ numâ contrâdiç.ll) ten1 o lilho, é m,Le em âto segundo.

lógica. lorquc o conhecinento da rrcsma coisâ vistâ enr duas elapâs. Essa distinção pode ser aplicâda pratica ente ê qüâisqLtcr prLrces_

sc chapado numá simrltaneidadc, vira unra conlrêdição sos: ienr umâ clciEão, portanto. qlralq uer cidadáo no exclcicio dos s€us

Outrcfa oso paradoro ó o do chiltlrdo. não no s€ nrido nrâtrimonial cllreilos políiicos é potcncialmente um presideni€ da ltepúblicâ, unr

do tcrno, nas no senLido tlsico: se você pergurtar â um snjcito sc clc vercâdor ou l]lr go\,crnêdori quando ele se candidata, já o ó cm ato
pcrcleu os chilies, se elcdisser qtlc sin. querdizerq!e ostirthê: sc rlisser JÍ..lh iru .c.lri.ú. ( e ô. Ln Jiu'(g,rn.l". \iui'n'^'tiaur rtm.n..
que não, quer direr que os iem. QuÍLlqu.r das duas rcspostês quc você so, só s. conDlela no âio segufdô, rnas nada pode aconteccr se cssa

dcr sorá unl prôblema fâssagcn não houver a poiência, lâlnbém náo haverá o ato. Àquilo
Se

Hoje. quando ouvimos essas coisâs nós rinos. nras na épocn cles .tuc você não pocle §cr polencLâln1cnle, muito meno§ vocô poderá ser

cslav.rnr discnrinclo isso perleitâmcnie a sório. Esses parado\os lbranl


cnunciâdos por urn dos nrembros da escola chalrrâdo Elrbúlidcs. que
'[mâto" quer dizcr apenas "efciivamente". Nas linguas inglcsa c
tcn1 uma colcçào de sctc paradoros. Denho dessa rnesrra orientação'
liarloesa, a expresstio atuâL conserva o scntido lógico da coisu ele
qlrando há âlirmaçáo dâ unidadc âbsolLIta do ser c, portanlo, da suir iiva: em portlrguês. â ônfase exisle âpcnas no scntido de alualicladc
oposição insanávcl coln o não'ser , dai surge tanlbanr a ncgaEao, a ie foral. Entao. ou nós podemos usar essalneslna pâiavra co ênfase
polômicâ oontra a ieoriâ aristoiélica dâ potência c do rio. lustanrentc dc que não é "âtual' no senlido tcmporal. nrâs no sentido lóglco, ou
r,
corltrastando com Parmênides, qne colocâ umê disiinçáo ta)iaiivâ e pode os - o que às vezcs preliro
irocá_la Pela exprcssáo "efetivo
olr por âlijunra oulra coisa do rnesmo teor

l0
ll
Diodoro t,l,prillncnic que é verdadcira, não ó a proposiçâo que é verdadeira,
Dentro dâ €scola megárica. surge um cidadáo chamado
Diz que a po- lll.ls o itlízo. O iuízo ó aquilo quc foi elêtivamente pensâdo no rnomento
que argunleÍta contra a teoria da potência c do ato'
existe €xisle em crr (lrc â coisa loi dita, é o conieúdo eletivo. o conteúdo lógico daquilo
têncià, por sua vez, ou ela exisle ou náo existe; se
(t c a proposiçáo expressa veÜalm entc.
ato. entáo náo é po1êncià, iá é aio poriânto' só existe
o ato e náo
um iunlento' evi_ No século L\. volia-se a uma bur ce similar à da escolâ megárica
existe a potência. Náo é unr raciocillio digno de
en1 âtol É a coisa qu ndo sc âcredita que é possível fazer uma coleção de proposiçôes
dentenrente, porque é claro que â potênci'r exisic
€rislil mas ela exisle vcdrdciras. e daí todo esse trabalho da escolâ analíiica de lazer aquelas
mais óbvia: se ela não exi§le cnr aio, ela não pode
ttibuâs discrininando âsverdadeiras e as íalsâs. Quando estáo lalando cm
cm ato como Potênciâ e üão como atol
nos parece tâo ''proposiçôes veÍdadeiras" e "proposiçÔes lalsas", estáo lalando apenas en1
Isso é parâ vocês verem como essas distinçóes, cLue
propôsiçóes hipoieticamentc verdâdeiras, quer dizer. se loise,n verda-
'drci. a"u rao n"ruÍri. "u Tcn'd rh nlL' rrrnra'u lcn' (''c 5<r cun'lui\
e isto ó rlciras, seriam verdadeiras Essetipo deesludo, em que você vâi sempre
iadâs varros dizer quc elas sáo naturais nâ percepção huüana'
raciocinâr na bâse de uma veralade hipotéiica. n1as füncionalmente vâi
se pode reduzir
rim ilos elcnentos lundamcniais do meu método: nunca
unafilosoiiâou una doutrin a qualqrer àq uilo que está diio nelâ porque
irât a verdâde hipotética como se lossc elietiva e, portanto, a falsidade

intinitamenle nossa ca' hipotéticatâmbémcomoefetiva . issosóser\'e pâraenbolarsuamente


nossa capaciclâde de conhecimenio transcende
que você c lorná-lo um buÍro megár;co. o
mundo de hoje esiá âbsolutamente
prcidade rlc traduçáo em sínbolos Uxistem milhâres de coisas
dizer' lsto significa que' clreio de megáricos, quer dizer. indivíduos que râciocinam com base
sabc peÍfcitamente bem c que nào é capâz de
quâLquerr cm proposiçóes. Para raciocin na base de proposições, você precisa
peranle tln1a filosofia. urDa doutrina, Llma idéia' uma crcnçâ
à cxpetiôncià r€al à dcsligar seu aparalo falânte e, portanto, râciocinanle do seu âparato
você semprcte l de fazerun1 estbrço para rctornar
pode sinulcsmentc estar vivente e percipicnte.
vivência reâl que está subcnlendiclâ ali, e qlle
As tcorias ná'r
mal er{pressa nâq11ilo que o seu porta-voz cnunciou
liteÍal têm ÍAluno: (...) tenho (l itttpressiío, por eÍemplo, que esw Íixação
.leven ser dGcuiialâs apenas naquele scu sentido exprcsso
rcais' senão fica de (le hoje em se poticiat o que a pessoa Íala, coltto se o sentido ào ( .. ) .

que scr compreendidas como e{ prcssôes dcvivências


doutrinâs a idéia de eu Íalat "não", Íalat üertical e le, Íosse prciüdicat (..).)
lêto uma llú.rdc palavras e â conironiâcáo blclimensionât de
da escolâ megárica AhlMas isio é umaestupidez megárical tbdas âs regâs dc linguâgem
nlrnca poile dar ern nâ.la Nlas o qrc e§scs cidadãos
lrases' politicâmente corretas sào de uma burrice muiio sinilâr à dos negáricos.
fâziam era cratanente â conliontaÇáo chapada de
ntlo há ncnhurna sen Por exemplo, dizer que cerias pâlavras sâo pejorativas. Nenhuma pala\1a
Ora. estoü absolutanrente pcrsuadi'1o de quc
possa scr c'nlsi'lcrada pode ser pejorativa en si mesma. Por quê? Porquc vocé pode usá-lâ num
tenca, ncnhuma proposiqão qr're em si nlesÍna
veÍdâdcirâ ou lâlsa sentido irônico, e quando â usa em seniido irônico inverte seu sentido.
vcrdadeira ou ialsa. Ncnhumal Porqüc a sentcnça é
Entáo, a paiavrâ ser peiomtiva ou de louvot isso dcpende do contexto
naro mas no seu significado e cste só sc atlraliza
no seu enunciaalo,
obietos reais' Eniáo nào é a seniença efciivo, reâI, emque afraseloi pÍonunciadâ nâquele monento, naquele
quando há uma reicrência real .r

1l
1Z
, ,,,1llr(\t)ressN' Sc nrio fossc isso. náo existiria neurose. O que é
rL!
lugar náo gencralizâr' Todâ palâvra tcm en1 lomo de si unlu
s€ poclc
I, Ir.-,J i .. r, r',,.'i, .l,r( \c.e.le e aô sr.. ^, scgu( enL . irr o q-e
que só se efeti\'am rro uso real'
constelaçao cie significatlos potcnciais
palavróes' pode scr con_
si csLl sc ti.to, porque, se o enürciassc... É isso a hiper reilexão de
entao. nenhunra palâwâ ell1 sl mesn1a! mesmo
Vi (ror Irrrukl. O suieiio icm uma lobiâ. por exemplo, üas não conscgue
vê uma coisâ admirável' cstá
sjdcraclâ peiomtiva. À§ vczes. quândovo'ê
chegâ lá um Pelé' um
ilt\lnür la, c (: por isso meslno que ele a le 1. Nâ hora enl que disser:
assistinalo a uma pârtida.lc iuicbol c de repenie
nao xinga o sujeito
"( )llr, cslou persuâdido de que tem um assassino embaixo d.r cama
Mâné Garrincha. e taz ulnaiogada impossivet' você
, sl]('lrLn(lo pÂra me matar". sc cle disser isso ver,L que é urrra estupidez
cle "seu lilho'disso""l O que você cstá
querendo, estáfalando mal dcle?
lllr si) tcll) âqLlcla fobia porque não a declârâ. Então. sc formos proibi
Não. é o contráriol É umâ caprcssão inverticlâ
irônica Sua adniraÇáo
isso âcontece'
(ll)s dc cham os anóes cle anóes, elcs muiio prova\.elnenle se senliráo
é tania qlr. ela só pode se expressar inveriidamênie'
âtre1âdo à palavra
llrüilo mais ânóes do quc antcs.
Isso quer dizer que o significado não pode estar
Iixisre, evidentemcnte, nesse tipu de conlusáo (eu estou persuadido
parte orgânica da pâlâvrâ' mâs
como o rabo ao cachorrol cle não é uma
dc que snn), um cerro elenienio diâbólico mcsmo. Náo podemos nos
num ceÍio lugar'
.lo ato ala faia tâl como realizailo num certo monento'
csquccer de que, leologicamentc. o dcmônio náo é inimigo dc Deus, é
que só se podccaptar
por un1acerta pelsoa. corn determinada iriençáo'
inimigo do ser humano. Deus nào teln inlmigos. O denônio ó apenâs
fato é que por uln trcino
mediânic areconstituiçào do conte)(io real' O
Lrnr scrvidor a mais, só que ele o selve de mancira pârâdoxâ], iertândo
de praticâmente adi
longamenic adquirido. nós nos tornamos capazes
lrâse' \{âs €sta
rs(ulh mbar com aquela criâção na qual Deus colocou o melhor que
vinhar ou antecipar esse contexto à simples leiiura dâ
I)diâ, que loi o ser humano. Deus capdcholr no negócio e o dcmônio
hab.lid"de p,,dc.. r |eÍJ'Ja r t uanJo ' nc\-'a"orr-'ar rcratiocin'rr dir: 'Ah, isso quc você lez náo presta". Mas ele não fala mal de Deus,
policiâr as tiases errL si mcsmas'
emtermos de "politicâmente correto" € a
vai lalâr mal é da ctiação.
isto sisnifica que estâ câpacidade foi pcrdida'
Creio que um dos clcmentos imporlantes do esforço dcmoniaco
ao Iongo dos milênios é desmoralizar a inteligência hurmnâ. dizer:
iit está escolhenila signi[icado parc a palaata ?7
un
l/llLtro: Ele -Essâ c atura que você fez é apenas um bichinho, uln idiola perfei-
que a
Nào. náo é que cle está escolhcndo, está acredilando mesmo
to. você quer ver?'. Ele tenta prova! e nuitas vezes conseguc. Náo
e qlre onde quer
pâlavra tcm aquele signilicado dc no'lo p€rmanente'
c isso? O demônio assopra uma idéia imbecil dessa nâ cabcça de üm
qllc ela seja cnunciâda o significado será aq ete'
Eubulides, de unl Diodoro de Cronos, e o sujeiio enunciâ âquilo crente
que está abafândo. E scmprevai âparecer um nronte de idiotas c dlzer:
aquela palaliru' o sig illcaLt' aa
lAluno: E. se ele nãa usasse "Puxa, é mesmol Eu nunca tinhapensado nisso. que coisa rnaravilhosâ
ílei ttia de eÍistir: 'Ah, Lá, ao aet tndis a ào"?) vocô inventoul Às proposjçóes são reâlmentc impossiveis...". e àssim
As pessoas deixârào seí anas, ou deix'râo dc se consklerar anás'
'le q er dizer' âquelas sensa_
quândo pode âcontecer iuíamentc o contrário
qões, âq uelas vivências que nio sáoexpressas serem
muiiomais iniensas

t+
nunca conl a llsislcrr t)esvrft quc âinda conservam algo dâs perccpEões anieriores,
Llistória mâs
lsto acontece mÚitâs vezes ao longo r ( ,r rx ). po c)ic plo, den irc da cscola plalônica, XenócrÂtes, que baldlh a
'la dizer qrre começâ conl a
que podemos
r

amplitllile ale toda essa época vll' no ttl , , ', '.,'rvu. r ' üu D arori.mu n- .u" r"nnr.rigi ,4"i" e t( ufoê;
prolonga' peLo menos até o século
vl
..'i" o. o.o,o"*t " * ft (luçro dâs idéias âos números.
umareton1ada'
n in;lno. É ait.lt ai,"' uaâia êm que aParece reâlmenic
o quc é caracterislico do período não ó só a decâdênciâ, pois Loda
vI vê'se uma filosofia muito
a..'"."-rir., -rn *écio' no sóclrlo
(l(( dancia ó acompanhada de alguma rcação, assjm como todo progrcsso
e ,,es.,,o dutântc esse período haverá
;;;;#;;;**scjente' Ô estóicos que vanos
r.rr ào ücsmo lempo algun reircccsso. Como dizia R)senstoch-HucssÍ
.inun" fito,Oti"os âutôniicos como 'lÔs rlri,) cricndo como é que essas pcssoas pensâm que sáo conservadoras ou
"rturço. náo somente
n.r." Mas esse decLinio gerâl se observa
pn)gressistâs, poque todo sujeilo normal tem qlre scr cor§erlador c
""fu"*, "
...","" O* *U**m o plaionismo o ârisiotelismo' mollem
mas dentro
"", progrcssista. Agora eles dizem que não um diz que é isso. o outro
U* oróo.."**,"* Uo próprio Liceu adstotélico Qüando
" já nao succdeÚ coisa diz que é aquilo -. mas nao acrcdito âbsolLltarnenie. Ibdo progressistâ
;lâ;âo e Ari§tóteLes, os seus ditos sucessores r conseNador e algnma coisa, e iodo conservador ó progressista enr
resócio de um nivet inconparavelmente
't.t*". t"r",, um ouiro
;i;;,;.' Academia é lBüma coisa, embora r1áo sâibam. Então, lanrbém náo ren sentido se
,- *"rnrt" o sucessor cle Platáo nâ chefia da a no lalar eln progresso absoluto e em atraso absoluto, retrocesso absoluto,
*"-,t utpeusipo' que iá nâo conscgüe apreender isso realmente nào existe.
"* "ti"u-
,r" u"" ã""' "".". ".'""leosr11T:::l :'::i"rH::r]e",,:r:::i: Dentrc desse processo de declinio, eriste, ao mcsnlo ten1po, por for-
ongen
.üe essas idéias tinham üma remota ça do próprio decli o, do própdo embuÍr€cimenlo
geÍal, a entrada de
peloconceiio ilos númcros Írasentendidos
Li"irt.""t," clenlenlos c de problenâs novos que Íealmente existialn, rnas qüe não
"" "njasnáo no sentido meiafísico
'-'r" sentido matemático, reierênciâ a isso' lem no livro râraviLhoso dc'
num I ziârn parle dâ filosofia anterior A próprià conlusáo que se estabclcce
r""it 0""."* '^" q:l.e rao ê rcaba por ampliar o repefiório dos temas fiLosóficos possívcis. c nesse
e o tema do únerc ''
l,ra.i" r-.*"1à a* s'* os PiláEoÍas scnrido náo se pode dizerquenáohouveganho.llolrve. mâs esseganho
o pitagorismo
,*. i" ,o,"" * tiiosofia' mas de cspeculaçáo'ma\ rar conru ere s(i aparece justamcnie nâqueles molnenlos eff quc. corltüstando con1
"*
:;; ". * nao c n<'c\'arra'|rrnre o rrr\roricu'
"', ve se quc ari a o declinio gerâl, alguns lilósofos teniâm filosofar a sério.
: .",:;;;, ;' o riras'ri'rno c'nro Jevcria rcr 'icro é üm Íris rcqrisilos. scm os quais
Por "a sérid' quero dizcr atendendo a
ot"tarr"i", "o*"t* tatcmáticos e 'los núneros arquetípicos
não sc pode dizer quc existe unla filosofiâ requisitos que êr chamo
do pitagorismo'
'" dados lunilamentais ue repente' dentro da própíia cscola platônica'
ilos de o "ponio arqlrimédico" (unl termo que não é nleu. mâs do Mário
uq" *" an,",tln*' |crreiÍa dos Santos), o "discurso coerentc" e a "ética cocrente com o
rnr lhor r(bcnro rla
rÍurli(Jn firJgor;c'' Jlr d'nlrÚ
","'*r', ,r. ,' *."o
,,,'rÍr" Lliscurso' Se Íão há csses lrês elemertos. náo há filosofiâ de nranci_
"
q!ic (rrende qLc o' nun'".*
l"-," "*..' -*'au re"- t
l'':"''.'l':::"" ra âlgunra. Pode haver uma cspeculaçáo, pode hâver uma idéia. uma
, t""
'ro".rlt'0"""
r'r" 'f" "' "-11:::]:,-::l f
r ''Jl r rcl,, .ut,l. \ld' o ponta 0,qutn, dtto u qJe e.' u n p'irL l,a
emburíecimenro
,..1. r.,..,". idenrimen'e eÍà decddcncra e
""- ''" "!
t7
auto evidente que, para aquele fiLósolb, possa servir para â sustentâção P(» excnlplo, a pLimcira vcz que llle puseran enr
de todo o edilicio do conhecimento. Segundo, náo bâsta ter um ponio ,'irn (lu r rll !r\râl(r cu tiquci arerrorizado: pâssados llês dias eu já não
ârquinédico, necessário que haja Lrm íJis.urso úoelÉ,71e desenvolvido
ó ,tI.rltL rrris sair. aquilo iinha licâdo gostoso! Pois ór ondc csiá o prazcr
a pariir dcsle ponio ou desta premissa iniciâ1 âbsoluta. E, cnl terceim | ,, r(lr rslar a dor rí? Pelê Iilosoii:L do P€ier Singcr ou desses rnegtiricos.
lugar, é necessário que islo náo âcon!eçâ somente no plano douirinal' ri,lori i.ro gr)siou .te lhc botarem em cinra de un cavalo na primcirâ
mas que lcnhâ um reflcxo existenciâl no modo dc viler do filósoio, vr /, r rtrlo. prulto. câvaio é rui l
que os atos, as aiiiudcs e as reaçócs do iilósol'o de cedo moilo seiâm Ilrvidcnte que o pdnreiro rcquisito quc tcmos que cobr do tlósolo é

inrcrprelâqoes que el€ dá à sua própriâ filosofia, â não ser que eLc nâo ,,\rLlrrirontcacapacidadcdediscernirum ponlo i'rqu jÍiédico. iÍo é. dc pcF
,.]t1 o quc É uIn princípio Vocês podenr illlerpreiâra pâlavra 'principtu"
Quando se vê. na cscolâmegárica, u]nllspeusipo. unr Eubúlides. etc.. r r scrtido alé literal: prircípio é a!üilo quc cstá ânics de ludo o mais e
iá sc nota que existe â l.llta do p nleiro êlcmento, lá nâo se lem ponto ''iLntrs" nao ern scniklo cronoklgico, nras em sentido lógico. evidenlenrente
arqunnédico algun, já náo se tenr ncnhuna evidôncia inicial: cn1 lugar . rquiloqLrcienlulnapdoridacle. urn an terioi dade cnr rclâçâo aos dcmais

disso, âparece dgurna proposição que. sern râzáo suficienic. ó adoiâda irizos e prcposiçaes NÍas essâ nlltcrioridadc tcm que scr âbsoluia
como ponlo de paúida olr premissa iu da cnral, como, pol ererrrpLo, a O princípio iem qlr€ scrválido por si; o resto só adquire validade ein
Lridâde absolutado ser A unidÂde absoluta do scrllào éumâ premissâ lirnÇáo dclc Quando você pega un1âser1lençâ conro essa- 'a dor érunn"
v.ilida, porque nio rcsistc à cÍítica. No enranto, quâlquer proposiçâo vôque não iemvJidade nclâ mesmâ, que {lcpcndedc oulras coisâs. âté
dessc tipo pode scr adolâda colnoprircipio Evidcn lernentc, ela não scrá dc consider'açires quâniitâiivas rcl.rcntes a rlnla experiêrlciaem padicular
rn principio, apcnas uma proposição como quâlqücr outrr liDtáo é clarc quc isto náo é unr prirrcípio, nresmr) q e seja lerdadciro
Dentro do inesgotável reperlório dê idioiicc htrrnanâ, podc-se pegâr P(xle ser aié verdadeiro, rnâs evid€ricrncnic não é rLrnncipio. Quando p
Lrnrâ proposição qualquer e dizcr: 'Híe âqui é o principio da minhâ uni sujeiio cilz: "Olhâ, martclâda no dcdaro do pé dói", bor1, depende
lilosofia". É como agora acontece conr o Peter Singcr, qu€ adota como d iniensidadc da martclada. cLepende de elâ ncel1ar, depende sc ó uma
p ncfuio univenal e gcral da süa filosofia qlrc a dor é ruim '. Muiio nrartelâda Ioúe. porque, se lor âssinr dc mcntirirha, dc bincadeirâ, n,Lo
bemlNlas o que ódor exâla renic? Náo lcm um jeit() dc.lclinj la scnâo d(1i. tjnlâo. mesmo uma coisâ âparcntenenie arbvia 'lnârlelada no
quantitêiivanenre, porq0e as senlaçoes são Prazerosas ou doloros.Ls dcdào do pa dói - náo porlc ser aclotada como um lrincípio. Em gerâl
dependcndo da escala. dependendo da qtraniidadc. .l(ii nras ,ls vezes nár,.
s. ,, pnit, io vLL; , ,rr' i . u t.rr I' irr' rl,', i:r . D.

râlncnle enpírico e dependcnie de erânlcs quar)titalivos, é claro que l{lrna: Pade set (tue sejír tlfid expeiêt1cid purunqnle suhjeliLa,
nâo €stá enunciíndo om princípio, cstá àpenas cxprrssaodo algo dâ
suâ erpcriência. Você tele Llrra dor e não gostou, é isso que locô quer Ela niro é s bjctiva, ó urna cxperiência rcâ]. Nlas se é experlência
dizcr? \t.Ls iâmbérn tenl coisâs que parecem dor c. qlranclo você \'ai rcal. borr. crpcriôncia só acont€ce â indivícfuos concreios, rcâis - csic,

l3 ll)
val,,r da mercadoria é a quantidade de lrabalho socialmente necessária
aquele. aquele , eniáo náo é generalizáve1. Agora, se você disser, por
pllru sur produçáo, esta é uma fuase p ramenle megárica. o que ele
exemplo, que tudo aquilo que é obj€1o de experiência se dá no tempo,
rsLJ qucrcndo dizer é que o vâlor dâ mercadoria esiá incorporado nelâ
esta já é unla liâse de ordem principial. Se a experiência náo durou
nada, não aconieceu nada, entáo náo é experiência de maneiÍaalguma t)clo simplesfato de ter sido produzidâ, quando "vâlor" é algo que só se
porlc cogitar cm Junçáo náo dâ produção, nlas do comérciol Nâo vem
Ihmbóm â própria do! eta depende nâo só da sua intensidâde, mas
(lizcr: 'Olha, enquanio produto rnatedal. nenl'rumâ mercadoria vale
tâmbém da sua dlrraçâo.
lhsolutânenle nada. Economicâmente fâlando, nenhuma nercadoria
Por exemplo, acxcitâção sexllaltcln algo dedoloroso, porqueéuma
v.rle nadâ pelo simples lato de let sido produzidai ela só vâle pelo falo
carênciâ, é r,rma espécie de lome. Se perlsarmos que €ntão o sujeito tem
!lu âlguóm querer comprá-lâ ou náo querer comprá_Ia". Essa tentativa
cle se livrar diss0 o mais rápido possívcl, vao inventar um compimido
ahistória Pelopdn_ dc vinculâI â idéia de vaior ao produto enquanto tal, essâ é uma bobâ_
que, tao logo o süjcito pensou, elejá curaeacabou
ccn1 megárica.
cipio do Peier Singer, náo teÍiâ outrâ conclusâo possível, e se vê que,
Éamesmacoisa que qu erer nedir a conunicabilidâde dc umafi-ase dila
ao conirário, as pessoas toman Viagra. Para quê? Para ficârem mais
por um sujelto sozinho num quaúo fechado. Aié esse momento, náo tem
excitadas âinda. Ele vâi ter mais carência aindâ E sc ficasse assim o
conunicabilidadc alguma, nem a mais, nem a mcnos. Elevâidizetlsso para
tempotoalo? Scriadoloroso, não seria? Aí scriâ dolorosomesmo' Eniáo
quem? Se disserparâ a tartaruga, parâ o tatu-bola. náot€m conunicabili
você vê o quânto esse negócio de dor e prazer é relaiivo' lnâs relativo
dade alguma. Se disser parâ um mongolóide. também náo tem. Depende
à intensidaale e à duraçao reais. É, poúanto, um elemento purâmentc
de para quen ele vai dizer A idéia da comunicâbilidade da linguagem
empírico.
Peier Singer enuncia unr "princí é idêntica à idéia do vâlor do pÍoduto em econonia: nao é enquânto
Hoje em dia, quândoâparcce ul11 e

iipo Dregárico, quer produto que uma coisâ pode ter vâ]or Mas jsso é tão elernentar! Entáo
pio" de que "a .lor é mim", es§e é um iênôrneno de
â resposta do von Mises é que o valot de uma mercadoriâ é o quanio as
dizer, é uma eÍupidez forâ clo comum, quc por motivos insondávcis as
pessoas estâo dispostas a pagar por cla. Se ninguém qujser pagar nada,
pessoas comeEâm a discuiir como se fixse lilncÔfin em seniido csirito
não adiântê ier sido produzida - e náo :rdiantâ ier dado um trabalho
Náo é fiLosoiia, é o si pl€s enunciâdo de uma imprcssâo quc o sujeiio
medonho.
tL\e cquJlq \|,rn rrr Iooireirnd((n'rIr;rr'rr"\imprêssir''

diz a nestna coisa (las Leis de Gn lsci pot l{l'rÍ1a: BasÍa w que uma pepíta de ourc vaLe mais do que u 1
l\úna Paàe-se
saütta, e a pepita nào tefi enhufi aalor de ptuduçAo agteqado.l
ercmpto? O suieita paÍe do pl incípia de que d rcÚolÚçAo naÍxi sta terict
E, tâmbém, se elâ foi encontrada na rua, nem por isso valerá
que acafitecer; ele toma isso cotfio se lasse üm prtttcíl)b e a ParÍir daí
rnenos. o que quer dizer o "trabalho socialmente necessário"? Pa-
é que eLe üai eLaboíü (...).1
uma esiüpidez de tipo Úegárico, a coDre rece bonito, porque parcce uma noçáo científica, ma5 quando você
Toala a tradiEão marxist:r é
por exelnplo, que o disser: "Espera âí, o que você quer dizer com isso?", Íáo tem nada
çar pelo próprio Marx. A hora en1 que o sujeito diz,

?.1
ali dentro. Entào essc tipo de ftciocinio imbecil ieâpar€cc. . Pclo antor S. rrilonanDos rnais p.ecisân€n1e o campo da lilosofia. dcfinindo a
.1. D(...\u..r.i,' ..ôr."n'-n,L.Ll r. \(*,r.pu''n,.uô(L[r ri I ) .( ) Lr m qLLalqu er especrlâçào a resPeiio dos mcsrnos iema s. rnas como

irNuliLr. Não é Essc ó unr conc€ito rigoroso Existe todâ umiL iÍadiçâo li rcl1o n1odo, um esiilo dc trâtar esses problernâs. o qüal rcâparcce

lilosLiiica de c\arne desse tenônrcno. iÚ longo Lla Histórja, veremos que, dc lãio, a Hislóin da lilosofi tem
À imbecilidade acompanhâ Lr ser hurnarro, sim. ao longo da sua rLaurrn linha, âlguma coerôrcia náo no sentido hegeliano. lr1âs no
tislória. Plalão rcm páginas lanlásticâs sobrc isto. Plâlao. Arislóiclcs, scrtirlo de xnra succssáo de eslirrços quc. aindâ qlre intero rpidos, é

Dante Alighicri c, por firn, unr ensaio Inaraviihoso, obra+ritnâ sobre rrl(nnâda nrais iârde.
a imbcciLi.tade. a conlcrôncia cle ltoberl M\1sit, Úbü dic Dutnrnleit.)
DLLtnnheil sl?Ílifica cstrpldez, idiotice. Ató a pâlavra já indica âlgo ,{lunâ: Nessds lpo(.rs de iúefiupção. t n que lfi1 diáLoqo Lon o
grosso, é urnâ coisa grosseirâ Acho quc essa conferênciâ tcm urn i'alor Nssada se tla inpossíüel, cofio l1essa ép()ctt pos
intertotnpe, to/|1a-se
ci€ntífico mesmo. náo é só unlâ sórie defiguras cle linguagcm. E, depois, l?tiotàAcademiae ao LiLeu. issa ao dcixtt essesÍilósolos à t aryen
uln livro conro, por cxcrn plo. Hi llet and the GerLnars, do Ldc VocgeLin.l l.ssa litlhtt rie cantinuidade?l
é um esludo da cstupidez. Conro é quc un1 dos poyos nrais cultos da Cerlanrente. Elcs Íazem parle dâ Hisióriâ da l'ilo§ofi4, âssim con1o
tiuropa foi se imbecilizando, âssim râpidanen(e, a ponto dc acrediiar uma agressão estrangeiÍa laz parte da Hislória dc um pâís. rna§ lâz
cn1história da carochinlÉ cLrrtada por utn nuluco? À barriga cheiâ rlc parLc de manejÍa oposltiva, ou como contrast€. e nào clrnrc elcmenLo

ceneja e lalando besteirâ. e todo munclo achando aqullo mamvilhostr in Legran te dâ própria nêtureza da coisâ. Porexenplo, um vírus qLre atêcâ

íaliás, é uma calúniâ, o homcnr náo bcbia, já li ha caído nunl Pole o seu organisnnr, de cerio modo cle laz parle dâ sua história, mâs não
quando era peqlrenoi náo prccisava beber pâm licaÍ bêbado, já erâ xm pode lãzer pâfie olganicamcnte, senâo você teria estado com o vírlrs
bêbêdo intrínscco). iá no molnenio cm que nitsceü e morria en seguidâ. São elenlerlios
Esse pcriodo da lLisióÍia dâ Filosofia deve set cíudado náo dou' nnlagônicos. oposiiivos, fazem parte do cenádo da filosofia e náo da
irinâriamente, é evirlente, pois essâs doutdnâs náo vào ensinar nâda. lli.,^-i"oa I ilo'uÍi:r S"..,'rtd'(ue' erte,t.'
Elâs deven ser estudadas corüo unr fenômcno de esilrpidez. ou como
Lr a amoÍra dc tudo aquilo qüe não sc deve tâzer, de como é que não lAluna: Fazen parle poryue sâa íatos hislóticos?l
se iaz filosofia. Pot isso nr€snro, achLr aluvi.loso qüc isto dcvê levar o lái{x hiskiricos. acontecerânl eleiivamentc. c eles modilicam o
São

nolne de fibsoiia. Com esse sufixo so//ria pode-se lãzcr muitâs coisas. curso dâ ttistória da Filosofia no seniido de que criam, por exemplo.
pode se compô-lo coln vários prcfixos. dancto coisas difcrcntes. EnL,o. novas imbccilidacles, criam pâra os filósoios seguintcs a necessidade
devc-sc adniiir tâmbém üma pscudo-sollâ. urra rDiso-sofi . trln "ódlo de enplic sobre coisas quc os seus anlecessorcs náo âcharam neces_
à sabedoda". Se a filosofia é delinida como
.amor à sabedoÍiâ'. 1ráo sário explicar, porquc lhes pareciam demasiado óbviâs. Pârâ explicar
se po.le dizcr que o "ódio à sabedoria" é Lrm tipo de filosofiai é unir coisas queantes nãoprecisâva cxplicãr. iem se qu€ âprimorar as chaves
aniifi losofiâ. evidenlemeni€. diâlóticas. e isto aiudâ no prosresso do nréiodo filosarfico. O método
I B.rlirn, 1935
2?
I Colff bia [ío
^lc\ande.\'êrlr!.
lir]vcAlrvol ivln\ôlri frr$,.1999 Z]
da prova, por exemplo: quândo os escolásticos comeqam a aprjmoraÍ rotagônicas vêm de tudo qüanto ó lado c náo têm unidade. Você náo
obsessivamente a arle da demonstraqáo, em grande parie é em funçáo Dode realmen te contar ahistódâ delâs, potque sáo simplesmente dados

da conlrontaçâo com bulrices desse iipo. cmpíÍicos qüe aconiecerâm num certo momcnto, como poderian ter
âcontecido de ouirâ maneira.

lAluna: Essas b /rices dté que sdo boos para a aptitfiorcmenlo Equândo, após um períodocomo esie, se retoma o esforqo filosóIico,

Nào, boâs náo, sáo boas de certo modo. náo se vai retomar e dizer: 'Ah, agora a gente volta â P1âtáo e a ÀÍis'
tóteles, como se nadâ ti\,esse âcontccido. e coniinuâmos do ponto em
que Aristóteles pârou". Nâo dá para tàzcl ;sso. Por qrô? Entre outrês
l{]unaj Posítiütts potque estítn lan?1
Nâo, elas náo sáo positivês, tornam-se positivas pela reaçáo que coisas, por câusa da linguâgem. À medida que há essa decádêncja fi]o'
alguén teve a elas. Quando the acontece slgo de ruim. rnas você reage sófica. há também a decadência da linguagem, e as palavras começam
àquilo, adquire novâs loÍças. Náo é que aquiio foi posilivo. você o a se inpregnar socialmente de novâs t?llarces, de novos significados
positivou. É como se diz, "Fez dâ fraqueza un1a lorÇa', mâs náo que a e você vaiicl que desbâstêr tüdo isso primeiro para tentarrestaurar o

fraqueza Iosse força. sentido da filosoiiâ ànterior Essa restauraçáo já náo é umarestauração,
Âcho que a História da Filosofia deveria set contada de Llma outra ô umê êdâpraçáoi já náo é um relorno à mesna coisa, é a criaEão de
mâneira enáo como é. Veiamquetodas as Histódasda Filosofiaincluem un1a nova coisa que, dentro do novo contexto. lará mais ou nenos um

cssas douhjnas como filosofias, eniáo o resüliado é qui}, havendo uma pâpel similâr âo dâ antiga.

linhâ nítida dc evoluqão do pensamento filosófico propriâmente dito. o E, veja, nesse pÍocesso de decadênciâ apârecenr náo somente essas
número de elementos opositivos, antâgônicos, desüantes, etc é ilimiiado. escolas em iorno do aristotelismo e do plalonismo; há também umâ
Do mesmo jeito que uma conta de "2+2" só tem um rcsultâdo certoi decadência intema como a gente viu, por exemplo, já no Liceü âristo-
que é "4". e unl número ilinitado de resultados errados, que podem ir télico. No Liceu, ialvez a decadência tenha sido mais rápidâ do que na
de "1,2", "5%". "4,7". e assim por diante escola platônica, porque os dois prineiros "sucessores" de Adstóteles

o que âcontec€ é que, se você inclui iodas essas doutrinas e essas já ca€m parâ un1 nível absolütamente incompârável con1 o do mesirc.
crenças como filosofias, a definiçào de lilosofia se torna impossÍvel. Sâo exatamente Teolrâsto e Estratâo. Con1 esses dois o que acontece?

Se você for defi1ir como pârte do orgânisno humano tudo aquilo que Âcontece qse. em primeiro lugar, a idéia do "primeiro moior imóvel", que

entrou nele alesde fora comidâ. vírüs, a! água, etc. -, fica impossivel é um dos princípios dafilosofia âristotélica, desaparece completamente,
sâber o que é um orgânismo humano. Com â ilosofia é a mesnússima coisa: e em seu lugar surge a idéia da naturezâ lisica como um princípio auto-

quando você 1ãz essâ disiinção. quais sáo os elcmentos que prolongam suficieúte. Mâs a natureza náo pode ser um princípio auto-suficiente,
o projeto filosófico, qüe teniâm realizá-lo elêtivamente, que conÍiâm porque é justamente ela o problema que se estâva investigando. Quer

nele, claro que há possibilidades de erros, desvios, cic., n1as o objetivo dize! ê natureza é üm dado apcnas, está aí. É iusiâmente a propósito
é nítido, constante e repetido, retomado ao longo dos séculos, e a§ vias dela que os pÍimeiros filósofos iazem suâ pergunta: "De onde surgiu

Z+
islo? , "Qüal é a câusa disio?". lor possivel dizer qrrc a naturezâ é
Se ,llls.obri a châve aqui da Diüi\la Com,(Lia, da IIíadí cle Hontcror são

causa de si nresma, cntão o pÍoblcmâ inicial nao foi resL,lvido, loi sim l,l Lctras, eslá moÍo o Ptoblcma".
plesmenie anulado Náo há o problema da nâtureza, não há pcrgunias Nao pcnsc que idéiâs como essâ náo cxisten. O dcsconstruciorlis_

a lyer â rcspcito dela, porque ela já se aLrro'explica. rr(,. no fim das contas. ó isto: é uma técnica de não compreender nadâ,
Surge tambfur. clentro cio próprlo Liceu arisrotélico, Lrma certa ten urna técnica ap noraLlíssimà de faTer abstraç,ro de coisas que \]ocó

dênciâao atomismo. O que óoalomisnlo? E uma len tali\râ dc criplicâr o stlbe peÍfeitanenle. Se você decide considerar quc um iexto é unla

mundomâtcriâl nãoem funçào de süacausa. mísde seus componerles, uficladc ern si nresma. un1 fenômcno em sl mcslno, e que c1c nào se
sernpre pariindodo principio de que. êo se achâros úiiilnos componen_ elcre a nada tora dele nlesmo. como é que você faz Para rcaliTar esse

tes, lem seâcxplicâção. Essa óumâprenissaabsolutamentc impossivel cslorço nrcnial'l Potexcmplo, estou lcndo um livro de Dosloievski cnr

Se você âchar os úllimos componenles. cm vez de ler â erplicâçalr vai ler que elc diz â respeiio dc um rapaz, liaskolrril.of,r que Iez isso e n1ais

um bilhâo de problcnlas a mâis É só dar un1a olhada nos livros d€ lísica aqrilo. Eu ent€ndo porque aquilo se relerc a situaçiles c a enoçóes
atômica qüe você vê que eles contêrn nlll ilâs vcrdades. nrâs. q uarlto mais hulllanas das quais dc algum nodo pâticipei, pcssoâl ou nrrâginati
coisas elcs dcscobrenr, nrais o negócio se conplica. porque, de repenie. \i'r eLc. 'ern àlgo 1\c, rurrr â e\n\ riê"1'J lrurr "n I rrr. ( o nÔ ' qrr(
co eça-se a descobril.. Por exenrplo, quando apârcce a própÍiâ dcsco_ clr laço para ler isto sern essâ rcltrênciit? Evi.lentelnenle, náo dá para

berta daeÍrutura do átomo, bom. você sempre pode perguntar: "Nlas lâzer mâs sc pode lazer de conta que faz. Se lôssernos ler o livro inde-
por que isio é assi ?". Aqui você tem um átono, de rcpenie tem um pendentcmenie dele cstar se refcrindo a qualqucr outrâ coisa. criceio

elétron que pulou pârâ lá. Plrlou por quê'l Sâiu de um áiomo e entrou á oulros livros. chcgaríâmos â tais e quais conseqüências - isto seria

no ouiro. por que cle 1êz is$? Essa pergunta ninguém Linha fci1o. §ó eniáo o desconstrucionismo.
sc pôde iàzcr depois que se dcscobriLr quc cxistia o átomo. De repentc, Agora, resta perguntar: mas por que eu hei dc 1àzer isto. se o pró_
você fala: 'Ah, o átomo nào bâsta, há urn negócio chamado pariíclLla, prio auto! qlrândo escrevell, cstâva crente qulr estâva se rcltrindo â
a subparticulâ, a micropurlícula, e urna padiculâ que iem o donl de alguma coisa? Adenais, corno é que vou lcr o livro desconstrucionista

estar aqlri e não esiar âqui âo mesDo tempo". O negócio complicou se ele náo se releÍe a nada além delc mesno? Se cstá lalando dc ou'

formidavclmente. lrcs tcxtos, os outros texlos são extemos a ele. Onde eÍisicm esses
Por que chegamos nisso? Chegamos poque toda essa investigação icxtos? Ê1es só poden exisrir ern Produtos materiais chârnados livros
QLrer dizea a reterência ao nundo material está dâda mesmo
dentro
nâo é simplcsmente untâ observâção mais acuradâ da natureza, Inas
uma tentativa de buscâr uma explicaçáo nunl lugâr onde elâ não pode do próprio Llesconstrncionismo. E Inais: â atitude mental nccessária
estar, isto é, nos componentes nrâtcriais. Se qlraLquer unidadc comple
pâra você esiudar isso é iáo dificultosa e táo aniliciosa quc o eslorço
que se tem de tazer parâ la iá ó toda uma lormação hu ana
adqui
xa pudesse ser explictdê apenâs pciâ natüreza dos seus componenles.
nâluralmcntevocê deveria poder expllcar unl livto em funçao dês lctras: Entâo você levoü vinte ou lrirúâ anos pârê âprcnder 4 não entender o
que lê. Depois que o sujeiio inve§tiu ludo isio, é um sofrimento, umâ
"Olha, descobti quc existem. conforme a língua.24,25.28 lctras, e
'Ctitne?crstua.laÀ Sáôlatrlo ldnora l'l ,001
.2.i
angrrstia dc cstudanie, clc naro vai qucrcr largar aqui!o c dizer: "Olha, 11. ronla qrLe nao foi você que dissc, nâo esiá assumindo a silüâÇào
iudo isso ntLo lalc nadâ' . , ,r .11 r(, Llc q , ( 'o . rrJn(iJndJ .rq'ri ' purqu n''r r''r'rr"t'
Esse lipo dc coisa tambér)r ó o lcnôneDo qüc sc obscrvÀ ne§sa ópoca ,\{,.rh.lo neuirâlizârlâ na mesna hora o contcúdo tla liase qlrc cstti sen-
Parâ sc conscguir pensar quc todas as proposiEÔes lêIrl coniradiçào. quc (lo cnunciaclê. I1 lao, clàro que é uür estado dc conscióociâ alLeradol
ar

todâ c qualquer pmposiqào leva n€ccssariarrente â contradlEôes. sem lcm' ll âlrc.âdo pârâ bairo, dirrrinuiclo Em vez dc você icr o fenô cno de
brâI de que lsso pode acorúecer coln esta nresma proposlção que você cstá I.lll consciência que está presentc na situaçãLr rcal de agom c que está
enrnciando ncste nrnnento. vocêvârprecisarlazcr ü eslorçô dc abslração, rrrticulên.lo csiâ situação em visiô do seu passado e do seu lüturo,
vai ter que tl'r âr a proposilao em si rncsmâ sem âssLrmir o làto de quc liri !ocê cstá hzendo absimqáo de iudo islo e tomaldo ulna delcrminadâ
você que a penson. É conro um tcatrc: o alor, na hora, vai repetir as trêses D()r)osiç:io como se ela losse o Utiver§o irteiro Isso é literalmenle unr
sem lembrar quc ele é ele nrcsrnoina horâcm que cle eslá tentando parecer cstado hipnórico em qlre §i) cxisl€ à Íiase do hipnolilâdorr o rnündo
Hamlet, ntro vai ficâr lenbrândo qüc ó o seu lulaíro dc ?1, que lerrr uma rcal. as oulras cstilnlrlâçôcs que voca recebc, você continua rcccbend{r'
divida pam laga! que sua nr!llhcr iugiu de casa e assim por diântc. sr; quc náo sobem ao rível dr consciênciâ.

lIá u cstbrço de axiopcrsuas,to ntrriro diiicultoso. como se lbsse


uuiâ âuto hipnosc, na qual se vai dcsscnsibiljzar uma paric do orgânis' ÍAlLl.o Pois é. dtL lenàe (1 nytrccer a disLutso dessu pessoã que

mo. Ldo Lrn coniunto de dados quc esl to continuâmente entrando nL) rcLé di. qLte é íarle
sen organismo plicolisico scrá tralâclo como se não exisiissc. Mas es§e

"conlo sc nao é aboftlado, por sua !'cz, con1o se losse un1 conú se".
hisiúi.L só que @mo disLufia nilopoétíLo. Essa part{' de dados
mâs sim corno sc lbssc Lrnâ teaLidadc. E unr pouco colno tt(|ucla 1A\tro: l. .)
de He ique lv, dc Pit.indello,r q uc é sobrc urn suieilo quc l'ica louco:unr t.. )l
iove rico ficâ lnalu.o. cismâ que é o rci Henrique IV c obriga a iodos lrsa pa(e qnc lui ncgada, â cadâ llnha do discuffo, ela lai eíar
os ernpregaclos dâ casa a iralá-lô assimi no linr, clcs acâbanr acrcditandL, clrunando: 'Ollü. eston trqui. cu exislol Portânlo, turlo i§5o ó rnentiirL"
qu€ slú nr€mbros da corte do rci. No conreÇo dcu algunr lrabâlho, cviden Aconlecc que o estado hiirnótico é um eslado dc repolrso, de âlgun1
IrmeIte, mâs cles não acrcditavam nisso: "Bonl, agom vou tcr que iicâr nnxlo. por isso nrcsnro c alta enic contxnrinável, passa às pcssoas,
âcrcditândo" trntáo, csseelemelto dcautopersuasão hipnÚticaé üm dos e ó larcil vocô enlrâr ncsse lncsmo es1âdo. ele sc propâga nnriio
que estão prcsentes enr lodo o ienónreno dc imbeciliclade colctiva

\bci co rcttíou Parcce ümn tl(:iesa Oqucwio pot erentplo qua docslou
l\lnna: Naa setia u M Íalha da éÍictt tLo discu|sa'l l\\rrtt:
ttis po las, o tercciro se]itt..-
Certamcrte. é clâro que é uma falhâ da ética do discursol Claro. Coflo unr virus. e\aianrcnle colno n r virus.
porque você, Ào rncsrno tempo, está dizendlr urrâ ooisa e eslá lazendo
' r1!otr,., Luisi. Áiul.. r1' ra!.ntu ih m.ni F rr1rc
li tsen,porâd & ri3Lil). l92l 29
l{|lno: Pot ercfipLa, no caso ílos naíeriaListas. que rocê Íece etn ir.r,rirc.cu ao cosmos, t pa(e da histínica cósmica. porianlo lsso quer
O iardin das âltições. o cotrceiLo de maLéria começa a se estender, a (li7er quc náo eriste ncnhurn clcmenio. nenbum lato que possa ser
cotlccila de pr()Eress() catneça a se estetldel. truzefi ult1 1...).1 .. ri. r, .rl.lô rc.cp..rddudu(u.rnu..or",'u ir ôdn L l4^qu.
rô 1lr rc.
Olha, poiexemplo, o slrjeito scr i atcrialistâ oü esp irl tual isu é como rjr podc tcr uma relev?incja múima. nrae está dentro do cosmos e em
ele ser progrcssista oll consen/ador Qualquer pessoanormalé, âo mcsnro irlgo o cosnlos ienr a ver conl clc. Entáo, l,ocê senpre encorlrará, enire

lenlpo. mêleriaiista e cspilituâlistâ. poque se pelcebe que, no próp o (tualsqLrer elcmcntos. coisas ou 1ãlos, por lninimos c nlsignificântcs quc

concciúdeInaléria, exis te uma tensâo cntrc as pcctos que sáo lacilmenie s.irnr. correspondências, rcpercussóes ou ânalogias cln outros pontos
icleniificáveis coflo natcriâis e oullos que. estânclo ali prescnies na
própr;a matéia, náo sc conscgue reduzir à maléria. No nínirno, caso Vciâ, pensando bem. isso é uma descoberta absolutamente mara-
se iregoe unr álomo. boD1. cle tem unla cstrutura. € essâ eslrullrra se vilhosal É o que depois \ni se chamaÍ a "ressonância mórfica"... Você

erprcssa matcmaiicâmerLe Ele tem unla relaçào mâtemáiica. q e ern pcga Lrm grupinho dê r:Lios e os cnsina a apertar rnn botáo pâra pegar

si náo é materiâl. Por outro lado, câso se queirê re.luzii iudo à equaçàL) rrn qneijoi num outro laboratórlo..r dez mil !uilônieiros de distâncja, os
lnâiernática. sem o substrato matcrial, cntão ela é üna lónnulâ mate .ri,rl,n.d la \rnrl'/r e..e<\er.rr r i'lr.IJc àrr orrc.ma'J:1u.r.\i
mática. NIas é ümâ lónnuln do quê? E unla fórn1ulâ scm objciol Errão. vocô pegar um deles e o trorrxer pâra cssc laborarório. el€ completará o

essa lcnsão, nào podcmos dc nrâneira álgunia escapâr dela A rigoti rircriio rnnito mais mpidamente do que se nunca tivesse treinado. Isso
poderenlos dizer que o slrjeilo scr rratcriâlistâ oU êspiritullista tanlo loi obscrvado nilhóes e nrilhões de vezes É a t1rcsna coisa que dizer:
1ã2. porqLrc r)enhLrma das duas coísas quer dizer abs.rluiâmcntê ràda o aquilo que esiá acontecendo a.1ui, nestc nlcsmo rnon1ento. tern algum
que quer dizer é só a pcrccpÇão conscicn(e da leDs,ro que existe. cqrivalenie, algunrâ resposla. aLgum elo. alglunaânabgizi en {riro ponio.
I
nllrito oporlLrno você tocar ncstc âssunLo. forqLre cstc é uDr dos Scmpre tc]n. Entrlo você vê que. nres lo nessa épocâ dc cstupidez. lem
dados fu ndanr enlais dâ escolà esta)icâ. Os eíóicos saro toda u|ra trâdiÇáo gcDte que eslá pensândo rnesmo e dcscobrindo coisas que exislem.

que atrâvessa muitos sóculos, e eles páúeln de unra premissa materia- A ÍilosoÍja estóica por um lado. é notavelmente conlusar é a]é dilícil

lisla, quer dizerl ludo aquilo quc náo c corpo não pode aglÍ sobre outrl) al1iculá-la num sistena coerenie. m.ts é tânrbém ulrr csforqo monstruoso
co4n), êntáo. não pode agir em parle algurna. â rigor E isto é verdâ,Je. parâ dar conta de cols.is q e erisleff nâ Ícâlidade e para resolver
\{as na hora cm. ue eles vão lazer a deljnlçáo do que é corpo. vê-sc quc problenràs lilosólicos reais. Acontcce quc. se esse cslorqo tivesle sido
o corpo se decompóe etr dois clerrentos: urn sc .hama â suil Irâlériâ, fcito dentro dâ1radiçào plalônico arisi{rtélicâ. ele sc âriicularia dc uma
outro sc chama a s0a caüsa. !iúão, se vorê quiscr châmrr isso dc nra- naneira nlelllor nras como é leito lom dcssa iradição, já é leilo rlrm
teriâlismo. chamc. nlâS n:L verdâde nro é lrnr nral(rialismo. anrbiente de confusão generalizada c de cslupidez. e f|eqüenlemenie o
Partindo iâmbém cb prirrcipio matcriâlisrtl. os csla)icos alidn iloâ qrc se obseNa nos cstóicos é ê luia de uniâ inieligência filosófica reâI,
unidadc cfctiya do cos ros, a unidaÍ]e viventc do cosnr)s, c colocaúo que i€nta se mânilestâÍ co r â linguagcnr. c os mcios de um ambientc
rnl principio: quc âquilo que âconreceu en qlralquer lugrr olr momento alela.io.le €st!pidez. É uma grancle filosofiâ, mas vestida de trapos

lt) rl
É Lrm fcnômeno similar ao do l\'Íário Ferreira dos Sanlos: quando ú claro que entre esses doispólos exisie uma tensáo. e toda a filosofia

você obselYâ o estilo litcrário do Mário, às vezes vê umas vulgaridades ristotélica é iusiamente uma tentativa de erpor as várias pâssâgens e

egrosseias absoluiamente lorâ do comum, certâs liases táo horlenda_ rlenuaçóes entre unlacoisae aoutra, através, por exemplo, da dialética.

mente consiruídas quevocô diz:istoâquié urna günde Àlosofia vestidâ Mas rcsta sempie um problema grave em Aristóteles, que é o de que â

de farrapos. Isso âcontece tâmbém com os eslóicos. No entânto, existe srbstância individual náo pode ser objcto de conceito no sentido rigoroso

ncles, alémde umesforço nlosóficoreâI, istoé, de umeslorço dealcnder do termo, porque só existe conceito do gerâl c do universal; do singular
sriexiste percepçâo.lsto seexpressaÍá na lógica poÍedor nAo_estóica,
a
aosirês requisitos (que seriamo ponto arquimédico, o discursocoeren_
te e a ética coerentc com o discurso - eles lên tudo isso. embora seja Ia lógica derivada da Escolástica aristotélica, que é o conceito da cha_
uma filosofiâ coleiivê desenvolvida pol centenas de pessoas ao longo nracla "simples apreensào". A simples apreensâo é o que se apreende

de muiios séculos), tanbém uma voniâdc delibeiada de organizar o nunr dado de percepçáo sensivel sem nada aliimar ou negar' Isso quer

saber fi1osófico, deorganizdulrl coniunto de d isciplinas filosó tioas que dizer que a percepção sensível, em princípio, nada alirna nem negâi
olr sejâ, a afinnaçáo ou a negâção só comeÇam a partir do juizo ou da
lus.arncrre clc. di\ idixn en I ôgicr. I r\,cá e L rcd.
À Lógica estóicâ abrange muito nais coisas do que âquilo que aca_ alirmaÇâo explícita.

boll sendo designado poresse ronre até o séclrloXx. Por exemplo. clcs os eltóicos, com muitÍssimâ razáo, dizem que isso nao exi§te. Dizem
achâvam, com ioda a razão. quc nâo pode haver uma lógica ind€pendenle que, no ato de percepEáo, já existe uma afirmaçáo oÚ uma negaçao, no

de un1a ieoria das significaÇôes, algo que iá existia em Aristóteles no sentido de que existeumacrerça ou umâ dúvida: aquilo que se percebe,
pcrcebe-se como real iá no instanie da primeirapercepção, náo exisiindo
livro §rràre a inlerprctoção- M^s cam esta idéia de que não é possíl'el
un1ê lógicâ sem a teoda dâ significaqão, o quc eles iazem? Enlblrtern ulna percepçáo neutra. Então, eles tinham conceitos importantíssimos
conscientemente, no edifício daLógicâ, a Retórica e â Grânática. Resul_ na ieoria do conhecinento, o que eles chamâm a "representação con

tado: elesjátinham uma est l Lura da tcoria dos quatro discursos. só nâo ccituâI". Parece que a expressáo contém um paradoxo, porque. se é

sabiam que isto iá estâvâ presentc em Aúsiótelcs, de algll r modo, que representaçáo, apenas arepresentaçáo de um conteúdo scnsível; e, se é
é

seu esforço estavâ indo cxatanente na rDcsma diÍeção de Árisióieles. conceito, é um conceito do geml. E eles dizem: "Náo. já existe o elemento

Em segundo lugar, eles lazem unr cslbrço notabilíssimo pararesol- conceitual na própria Íepresenhçao". isio é, na própria percepçâo. Se
ver un1 grafide problema que hâvia nê filosofia aristoiélica. A palavra nâo existisse, a percepçáo não poderiâ se realizâr 'lenho a impressão

final dâ tcoria de Aristóteles é umâ tcnsào. ou um paradoxo: tudo de que, se Arisióteles estivesse vivo, ele diriâ: "Vocês têm toda razáo,

aquilo que exjste só cÍisie sob â lorma de sübstância irdividual, €, e ó mâis ou menos isso que eu estava teniândo dizer e nâo co.segui"

por outrotado, tudo que é conhccimento se refcre seDrpreâo universal Enláo podemos admitirquea idéia da representaçáo conceitual é já uma

e geral. E, dito isto. Aristóteles mol.reu e nada nrai§ disse nenl lhe foi ponte para üm conhecimenio científco das substâncias individuâis.

perguntado, entáo sobra um "âbâcaxi". Quando. muito mais tarde, se desenvolverá â ciência da Histódâ .'
A ciênciâ cla História em termos aristotélicos estritos nâo poderia ser

33
3Z
üma ciênciâ, náo teria dignidade de ciência, e quando Aristóteles dizia .. rcnl que conhecê-la, evidentcmente. E, entáo. desde quando ele a
que â poesia eÍa mais verdadelrâ filosoficamerie do que a História, erá rlrLrhece? Só no insianle cm que você nasceu? Nào, já conhecia desde
mais ou mcnos isso que ele estavê querendo dizcr Por quê? Porque a \rrlr]rre Isso é â mesrna coisâ que diTer: há milênios, Deus iá sàbia qüê
poesia sobe a un nível de generâlidade, ao pâsso que a História ó a his- h diâ tal eie iâ iazcr o seu lrulâno dc Tal ertão ele já iinha o conceito,
tóriâ do singulâr Mas Aristóteles tarnbém diziâ isso, diziaque énlâis ou r cssência desse seu tulano de 1àl nuito ântcs de 1àzê-lo Esia é uma
menos assim; quer dizer, ele iambém sâbia que. com csta afinnâção, es sr)lução âristoiélica pârâ um problema criado pela doutdna cristá- nlâs
lava fazendo um juÍzo liperbólico, quase que un1 juÍzo poético. um juízo rndo você rastreiâ um pouco vê quc os estóicos já cstavânr na pista
(rr
enfático. Decerto nodír. êpoesia émaisfilosóficadoquea Hislóriê de dcsse negócio com aidéiada represeniação conceitual, e no meio dessa
cetto modo, lllas dc um outro nodo náo o é Qual é a rclâçáo entre esses rnixórdia obscura e creiina desses séculos esta é umâ descobertâ digna
modos? Para resolver isso, só tem um jeilo: tem de ter a representâção (lc se tirar o chapéu. Eles não estavam b ncandol
corceitral qüe pernrite o conhecimento cicntífico do individuâI. veja .lue, pariindo do p ncipio de que só existe conh€cimento sensivel,
Muito nais tardc, vai su rgir con1 Duns Scol o concc:tta àa haecceiÍas: rles chegamaisto. I admitem tanlbé]n o qucchâman de "prolepse", unra
a essénciâ desie ser individual, aquilo que taz que, além de ser um scr cspécicdeconheci]nentoaniecipadoquctodoüundotenldosprincipios
humano em gerêI, você seja você mesmo. Do ponto de vistâ ânterior, ünivcrsais do conhccimento. Essa ó uma coisa quc Aristóteles também
puramente aristotélico Ioflnal, a inctividualidade em si, cornotal, não tem admitia, mâs que nunca exarninou do ponlo de vista psicológico. Ele dir
essência â essênciâ estánaespécie, e a ítnica dilerença de ummcmbro que existen os princípios universais, quc nós conhecemo§ poruma espé_
pâra ouiro da mesnu espécie é de natureza quaôtiiativa. Xlâs aí se cria ci€ de intuiqão dircia e que são o lundamento de todo o conhecimento.
um probiema. O que vanios iázerdaalnla humanâ individual? Ela é u l\,las nunca cxplicou o que ó essâ iniuiçáo, nunca houve um estudo
nada, a diferença éâpenas quaniitâtiva? lsso, num contexto cristào, não psicológico disso. E os cstóicos já eniram nisso também.
é admissível. Daí Duns Scoi resolvc o negócio dizendo: "Náo. existe a Eles têm ainda o nérito de perccber que as fronteiras entre a lógjca
essência da individualidade, aquelâ que só Dcus conhece' lsso quer c a psicologiâ, ou sejâ, entre as regras do conhccimento verdâdeiro e o
dize. qlle o indivíduo, enquanto tâ|. lem uma esséncia eterna tambóm, procedimento efetivo, real, empirico do conhecimento quc se dá nes-
que Deus conhece, e esse é o nomc que ele dá à almâ. te. naquele, naquela pessoa. que essas relaqóes são muito con1plexas.
scndo difícil dizer onde lermina uma, onde começa a ouira Qual éa
l{lúna NAa é coEnoscíztel, entào, a essência ildiüiduaL? (...)) imporiância que isto tcm pâra nós? Para mim, particularmente, que
É cognoscívell É cr-rgnoscível nnpcrfeitamenle, nras você sâbe qlre estou convicto de que existe verdade ou falsidâde no iuizo efetivo
sa)
ela existe e pode fazer um discurso sobre cla Mas varnos dizer que a tal con1o apreendido por üm ser reâl nu
momcnto real do tempo,
essência do individuo é o conhecimento que Deus tcm dclc, porqlLe ainda quc sejâ Deus, e isso scia apreendido em todos os momentos do
Dcus náo lhe conhece só como mcmbro dâ espécie, nlas como você tempo. a consciê.cia dessa lronteirâ difusa entre lógica e psicoiogiâ é
n1esmo. E sc a alma individual écriâdâ por Deus, ó instauradâ por Deu s. absolutamente f undamental.

l4
Existe uma tÍâdiçâo lilosófica qu€ corneça con1 IGnt e culmina na (lâs condi(óes rcais de espaço e tempo nas quâis vivo. daí enúo eu
lênomenologia de Husscrl- que tenta distinguir ao miixinlo essâs duas pcnsâria âssim, assim ou assado. Masvocê sabe quc só pode fazer isso
dimensóes, lógica e psicológica, e isso está muito certo. Mas pelo lãto por inraginação, por hipótese, e dumnteâ1guns minutos, porque depois
de que sejam disiintas em si, ou seja, teoricamente, isso nào queÍ dizer você cai no eu real de novo. E quem é quevai nos aiudar ncsse esludo?
que, na prática, elas náo estejanr mlsturadas. Sáo distinlâs em si, rnas Jusiâmente os estóicos. conl ê idéiâ da representaçâo conceitual e com
no ser hurnâno real elâs vêm misturadâs. Ora. essa disljnçáo enlre o que a idéia de uma lógica na quai a psicologiâ do conheciúento fâz paÍe
é dislinto em si e o que é distinto empiricamentc ê a fâmosâ distinçáo integrante d.t própria ciénciâ lógica.
escolástica cntre os tipos de disiinções e isso tem sempre que ser Muilas dcssasidéias eslóicâs esiáo espalhadas aqui ou ali. lnas nunca
levâdo em conta, se é uma distinçáo nominal, se é un)a disiinqáo reàl, houve una exposiçáo sistêmica, emborâ eles iivessem a vontadc de ler
ou se é.r distinÇáo que eles chamam real-reâl, quer dizeÍ, âquela qüe é uDr sistenla.D(istem muitâs contribuições eÍóicas às quajs dcvemos não
real em todos os senildos da pâ]avra. apenas ser gratos, mâs que podemos ap roveitar âlu almente. ll o iato dc
Ora, com Itaú, há o surgimento da famosa noçáo do "eutünscenden- que se declarassen1 Inaterialis tâs não deve constiiuir nenhum obstáculo
tal'. O que é o eu transcendental? Éaquelcaspecro do eu que é capaz de â nós, exatam€nle dentro daquele scntido que eu citei há pouco, de que
raclocinar sobre sua própda erpe ência, colocando-se dc algum modo tàniofaz ser niaieriatista olr espidtualisiai scndo uma coisaou outra dc
acimadelâ, mas acimâ só no sentido lógico. Você é capaz de conhecer coi- qualquer maneira vâi ler um elemento da coisa contrádâ ali d€ntro
sas, conhecer certos lundamentos que nâo depende da suaexpeiênciâ Pod€mos dizer quc un1a opçáo mâterialista explícita e assunlida
rcal, mas que no entanto estáo dentro daprópriâ experiênciâ reâl. Agora teoreticamente náo ienl vaLor âlgun, porquc scmpre ela Ievará âlinren_
cntcndcmos fâcilmenie que o eu transcendental náoexiste. Eniendemos to cspirituâ1. Mas na prática cultural ela pode ler üma conseqiiência
que ele é apenas um ponto de vista no qtlal o eu enpírico se coloca. efetivâ, rcsllltnndo âté em persegnição religiosâ, assim como. com a
Em certos monlentos. meu pobre eu empirico se coloca de um ponto hjpótese coniráriâ, pode âco ntecer a nesna coisa Para qucessas coisas
de vista que independe dâ existênciâ empirica do meu própdo eu, mas não aconteçam, é necessário aparecer o filósolo que diga: "Olha, essa
para laler i..ô cu pre, isn rer e\ \rencia emt ri(â distinçao q ue vocês estâo fâzendo entrc materiâlismo e esPiritualismo é

 relaçào enire o eu real e o eu iranscendental, para mim, é unl dos apenas uma distinção empírjca, c]â náo é u ma distinçáo ieoreiicamenie
problema\ mai\ bx.ijú\ dd tilu.úfid. purque. .e \ o. e colrc\d a racinnnar nruitoválida". Tanio que havia um bocado dc espirii0alismo deniro do
como se ocu transcendental exisiisse, como seele lossereal, entáo está materialismo estóico, e do mesmo modo haveráum bocâdo de materiâ
râciocinando como se você fosse absoluto, etcrno, imutáve1, etc., e nós lisÍno, por eremplo, nâs dourrinas cspiritllallstas dâ nossa "Nova lrra'
sêbemos que náo somos. Temos de entender que o eu trânsccnd€ntal e âssinl por diantc.
náo é uma coisa existente, ele é apenas uma hipóiese. um ponto de No dominio da lisicâ, como eles afirman a reâlidadc e a unidadc
vista hipotético ou imaginário no qual você se coloca. Isso quer dizer mâlerial do mundo. aí târüénr dcscDbrenl Lrma coisâ muiiíssimo impor
que, se eu existisse nuna outrâ modalidade que fosse independente 1ante, porque sc fica sabendo que todos os dadLrs do nrundo materlal
lãzcff parte de um m€smo rnundo c que nunca podem ser encarados tifiverso pode tcr essa expressâo caricatural, grotescâ, como tern ern
conlo elementos toialmente sollos e autônonos. QnâÀ sáo âs relaçÕes l)iórycnes. mâs pode ler também a expressão que terá na idéià estóica.
exisieüles entre as várias partes do mundo sensivel muito distanciadâs E a ética eslóica tem dois clcmcntos importantes. O primelro é o quc
no teffpo olr no espaço? Os esiójcos percebeú clêranente que, entre le chan\a Í, apátheia, qre náo quer dizer você nAo sentir nadâ, mâs sim
(oi,,\ ruiln nparaJl\ ,o ten,po ( nu (\poc,,. na,. \c.^n.rgue re àbsorvertodo o mundo dâquilo quc ó sentido, que ven1 pelas sensaçoes,
conslitufuum elo causal, mas, por outro lndo, como estâo acontcccndo c blrscar unr ponto de vista mais abrângenle desde o qual vocô náo
d€ntro do mesmo Uliverso e estâo aconiccendo ao nesmo Universo. se identifiqu€ coDr uma sensação oLr com a contrária, mas que esteia
algum clo elas têm qüe ten tjnt.ro eles comcçam a larçâr â noção de conscicnie da multipl;cidâde de1âs. Entáo a ap.íllrei.7, evidentenrerle,
"silnpâiia". O que é simpatia? É dizer que uma pârie do Univcrso scntc naro é umâ aneslesia, l11âs o contrário: seria Lrma espécie dc consciência
iunto com a ouira. Sirrpdl,4os quer dizer "seniir jünto" se lhe dâo a nbrangente da multiplicidâde das sensaçóes.
nartelâdâ no dedo, nAo é só o dedo que rcciama. é você inieiro, entáo o
otlrro elemenlo é o que os esióicos chamavam de "clenlêncla
natLrrâlmenie podem havcr reâçÕes eü oulrâs paÍes do organismo que compreensiva", quc significa o seguinLe: você deve ser iolcrante até
não loran diretânente alttadâs por âquilo. com o âbsurdo, porque âté o absurdo, até âquilo que é absolutamente
Veja. essâs Íelêçóes que sào nào propriamcnte câ(sâis, niÉ que de al- cscandaloso. alguma explicação ele há de ter Entáovocê há de se abrir à
gum modo existcm e quc sãô empiricainenle constaiáveis. clas váo. durântc muitiplicidade das idóias possÍveis, âdnlilindo qlre, no fündo, dcvcn ter
â ldâde wédia. evolulr emtodo um sistema de nexos snnbólicos: simpatia, alglr acxplicaqâo. Orâ, e;iste umacertâ relaçáo cntrc esses elementos
analogia. similjilrrle, etc. lsso val se intcgr no Lrnilerso simbólico e -l: -Lice.'Luir.. q u.urr.;ro dô D.u-..roiro. L inir r!(1., un,a li,^olid
lingüístico .lc todo o edievo e aparecerá. por cxcmplo, n:Ls lârnosas naierialista que Íeconhecc â cxistência de unr Deus. Isio náo apareoc
ciências esolérjcas: alquimia asirologiâ, g€onância, clc. Muito vâi scr enr bdos os filósolos estóicos, nras e1n alguns, nLLrna lãse histórica iá
bascado nessâ noç.ro das silnpatias quc cxistem cntre !árias pa.les Lru um pouco nlais avançada.
componcnrcs dc unr organisuo vjvenie charnâdr) 'Univcrso". Bastâni Eles dizem que. se o mundo é nnido. se o Uüiverso é unido por um
esses elenentos para vocôs lazerenr alguma idéia d.r anplitude e do cornplexíssimo sistema de nexos de simpâtiâ, dc analogia. d€ similitu
im€nso valoÍ da tilosofia estóica. dc, todos esses nexos derem se confluir cn alguln ponto. O ponto de
Do poni.o de visia ético, â üoda na época crâ assimr você lenr que convergência de rodos os clos ertre todas as paries e os aspectos do
se integrar na naturcza, tern que viver segundo a naturcza. Mas vcja cosmos é e{atamcnte onde está Deus. Eles diliânl que isto é DcLrs. mas
que este "viver segundo â nâtureza". conlo ó q e islo eÍa encaraclo por o mais certo seria dizeÍ: "Você nâo sâbe alnda o que é esse Deus. então
Diórgcncs? Elc dilia que, entáo, devenos vivcr como um râir) q ecorre sabe apenas onde ele está". Con1o Deus é aquele que está na conlluên-
paralác paracá num deserto se saberparâ orde vâi, coDro urI átomo cia de todos os clos, onde houver unl elo de algum modo cLe lá cstará.
de Epicuro, chegn.do até à conclusào do que se rnast!rbar em públicc) E a apátheia,longe de ser uma ancstesiâ às sensaqões e sendo. ao
é uma dcmonstração de sabedoriê. A mesma idéia do integrâr'se no contr,rrio. unrâ abertura â ioclâs elas . é o que lhe peÍmitirá considcrar

38
I
âs coisas dcsdc urn ponto de visla divino. Vocô cstá se colocando no lilosofia, mâs é uma gran.te fitosotia. grandec
mâravilhosa fiiosofiâ, que.
ponto dejunqáo de todos os elos, c iusiân1enie isso é o que the perrnite se nao tcn] âqlr ela percepção, âqucl perfcição
esiniruml do plâionismo
ter ar cleméncia comprecnsiva nâ qual lodos os elos e todos os aspcctos ou do adsioielismo. iem umâ grande riqueza
cte elemcntos soltos.
mereceráo dc algum modo algo d.r sua atençãô. Vlcsmo por ser uma eiaboração coletiva,
então nâo ctá parâ arruÍrâr
tudo direitinho.
ÍAluno: Eles C,izia l ttltc tí ham obtído wn (...) opeÍando nesses \4á, ú -ri. c fio d;,prl4r'l, ( Ci.lem, I.i..,,mprern\i\a.qu. Id.
eslaàas, eLes dese üolüia 1o (...)?) se expressa em Iermos ótjcos. rcsulia nurn autüiornínio que
nâo negâ o
Bom- é um processo dc ascctismono qualas scnsaçócs isolaLlâmcnie mundo sensÍvel; apenas se estorça para
se colocar nLrm ponto clc vista
devem ser dominadâs para que náo donine
hipnoiicanrcntc: você o rmis universal possivel, ou scjâ, nâ
confluênci.l.le todos os elos, quer
nunca dcvc se deixar âprisilrnar por nenhLma sensaçáo cnr pariiculêr, dizer, noelodctudos oselos E Daturahnentc
isso im plicâ a plena accita-
porque sernpre exi!ienl as outrâs. scfor totalncnte âb§oNido por esta cáo, por eremplo. da dor. mas urnâ acejtaçaro
que nrro se deiaa Dersur.Jir
sensacão ou por aqucla, você perdelr o ponto de visiâ.livino. náo tô'rlnren'c. nô t,tc, r^ in\ritn t em qu. \.,,n
junçio " u,, .0. o"..,,r,n.,,1,,
esiá orâis no ponto de dês várias correnies. dcixou-sc levar ncutrâlizâda pelâ consciência rle ouiras
coisas, sem se deixar absorver
por uma delâs. Dai a Éijca eslóicâ de r()siíir às scnsaçôes, de nâo se lsso náo quer dizer qlre você não sintâ
a.iori você âpenâs mantefi a sua
dei\J|rrrdsri forncrLumddclr,. t',r inr,n,u.trrs.(a. porq. cürri ifllegridade en lãce clas sensaçóes parcelarcs que the
invadem e tcnlâm
sensâção muiio inlensa pode durar apenas âlglns segundos c nào erierccr sobre vocô urn domínio hiprótico.
signifi car âbsolutameDte n.rda. llsse esforco dc manter a cficácia da
éticâ csrójca vem iusrâm.nte
do fato de que cla não é baseada €nt prernissas
ârbitráriâs, mâs enr atgo
ÍAluno: É curioso cona, nomúime te qtlaüdo a Eente t)ai a n1 pedeitamentc real. Elrião é possilel
de ser praiicada, tanio quanio â
manu( d.e fLasofia, o que se deslaca nos estóitos é iustamenle a os éiica cristâ ou a ética platônjca. Ét uma
ética vcrdadeira. podc nao ter â
ceLis la, cofio se isso losse o obieto (...). universalidãde de ou iras éticas, nras sob
determinados aspecbs podc,se
Náo. o ascetismo crâ unla conseqüênciâ práiica. Qlrerdizer, elcsrônl djzer quc aquilo qLrc ioj conquistado pelos
cstóicos se irtegra .lentro
o ponio arquimédico. ll o ponLo arquinrédico o quc ó? A nidadc do da história da édca como um .laquelcs
lamosos pataDiarcs a que eu Dr.
Universo. Esse é un pdnc4rio: iüdo o quc acolrtccc, acontece no mcsmo rÉlo,;. llt"Í.rdr e und co'\o i,uo una \e/
cun,)(. tdú ,i t , u p,,d. o-
ln,\,r,..,,. r,.nol'nr\.í,o. l.r, e r(unr.nr( u,r fri .iti' dn, não deve ser ignorado pclas geraÇóes
subsequenies .te filósofos Ijssá
contesiável. Pode nào ser um pdncípio suprcrno. nrâs pâra clcs, pelo ll1cnos, idéia de que todas as sensaçoes às quais
esramos sujeiios o tcmpo
é um principio. llá, en seguida. o discurso cocrcntc, quc é a eiaboraEáo lodo, de que elas podeni velfi olr obscurecel
o senso de toialklaclc e
dessa técnica lógica c da fisica quc elcs têrn, lerninando na élica lenr-se. portanto, a sua própria totatidade
e de quc você, scm negá-tas, deve
cntâo. o terceiro ele ento. qLre é ê élica coerente coÍr o d iscurso cocrenie. tenlar se Drant€rnoporlio devisiadaconfluéncia
de torlâs as sersâçoes,
É claro que é uma iilosofiâ no sentido plcno da coisa: E náo só é unü de todos os elos possiveis. acho qlte
isso ó uma conquistâ muitíssinnr

40
.11
impoftante. Você náo vó nadâ disso nâs filosolias anreriores. as üma Essa ética do âuiodomínio clifere do auiodomínio radical. ertra-
vez conquistâdo, está Iá. vrgalrie e hiperbólico de Diórgenes, qre queria de fato contrariar e às
vczes contrariavâ Iâdicahnenie um impulso para eniâiizar um outro.
Muilo do ttlte a se hat Íala lenl ui1l p aLelo cotn a can-
ÍA11J11o: Lxisic evialentenenle na escola cÍnica, coDr Dió€enes. utn clernento
lefiplação anotusa? Con Ll cotnlt id. le ( ..)? teairal (eles chalilanl de iealrâl iudo o que ocorre quando você esiá re_
Tem, sen1 sombra de dúvida. A clelnência conpreensila ó um dos preseniandoumcertoaspectodarcâlidade.mâslazendo tolalâbÍraçâo
clcrnentos daqLrilo que chaDlo _contcmplação arnorosa". Clarc que, na rlos outros. como se náo cxistissenr. Náo é isto que acontccc na escola
ieoria da contcmplaqáo ârnomsê. náo há essa referônciâ às sensações. estóica O âLriodomnrio não é unra negâçao, é nma espécie de elevâçáo
não há nâdadisso, mâs nào sc poderia negarqueesse elemcnto hisrórico e de compcnsação de unras sensaÇões pela consciência das contrárias
ó unrâ d€ suas lonies de inspiraqâo. Essa êtjca é iáo viável na prárjca que... Quando você pcga â teoria de
Ilirrrgenes e o vê exprcssando aquilo na práiicâ, fica cômico, ridiculoL
lA]l:tno: ílleitoun t
inerc de um a dez (...)?l uniáo. cÍá lá o guru se nrasturbando na sâla de âula para ilLrstrâr suâs
históricânisto Há o q!ê? Urra simpatia. Náo ó
r\"ão, não há relação leorias. Você nlto pode rleixat de dar risêda Na escolâ csióicâ, conrc
que um filósolo influencio! ouhLr, não. Um está n]ais ou nrenos pensândo criaEões da práiicâ dâ ótica esróicâaparecen ligüras absolutânerlte notá
unrâ coisa que o olrtro tambónr pensou. ni.rs nào tern relaçáo causâ|, veis, figlllas humanas maravilhosas. como Epictcro oLr Marco Aurólio.
hisiórica enirc eles. Epictetoerâunr escrâyo. Nâsccu con1o escravoe nürtca icntou deixar
or\.r,\.rJ,'o fl, a.harrqrr, r.,ui ;r'rrrr
lÀluno: Essz rscelis/r.) í. ) loi p{ Le dd trudiüia o'istã rlepois?l tenrto. âceitava a situação e se col()cava iulcriormcnte acinln delà. Tânto
Foi. mas corn Lrnra outra êniase, umâ ônlase já supranrundarla. quc cxiste ü lanoso episódio cnl que ele loi lorl!tâdo. quândo o sujeito
O eíóico se contentava ern se colocar do ponio dc visia dr\,ino, nrns elc oboiou ruma máquirM que iâespremendo suapcrna. e elesindesnente
náo icm uma tcologia. evidcrierre te, não há utna teologia cstóicâ nesie a\|so,r: "Olho, a pet tla rai qtrcbult'. O caIa àpeÍtou, apeúou, ele disse:
scnLido, náo háo aprolunrlantento dâ noção de Deus. Eles seu)ntentâm "Estti nento? ()trcbtoLi . E üm indivíduo de unra litreúade intcrior âb-
com a noção de DeLrs como uinr espécie dc cixo do coslnos, urn Deus ., l,lrr n.rr,.,Lr irar,j.1u.c.!,JUIoJ(nr.n,,- g
Cósüico. nâ vcrdadc. Elos parârn porai, e você podcria, cvidcntemenie. a urn tipo dc óticâ unilaterâl e leatrâ|. Vocô vÔ quc ele cstá insiêlaclo a

ir para cima disso no corlhccimcnto dc De s. No entanto. olocalizaçào reâ1idâdc dâ situaç,'o, é pÍr isso quc pcnnite lsto.
de lleus c a ncsma rul caso e no oulro O cstoicismo podc ser prali Quàndo\,.,cê lê. porcncmplo, MÂrcoAurélio,.luccra un1inlperador
ca ente lodo incorporâ(lo d€nrro do cristiânisnnr. quc no cntanlo não vê que o in.livídro. estando no ceniro da situação e sohendo lodo o
yâi poder se contcntar c(xn o horizonte p|rànrenle cósmico no qual os i]lrpacto, aincla consegue llver cour mLrita calma. l'udo aquilo que cstá
estóicos sc contcntânr. aconiccendo, inclusivc os processos de dissolüçáo do próprio lmpério,
q!e eíáo na frcnte dele, ekr é capaz.le olharisso con1uma ceria cal a.

1?.
Ént,to você vô quc sao tipos muito süperiorcs Nâo é uma briicadcira, ÍÃlnt1o: lai acusado dc Ítôs toubas?l
não c Lunâ pâlhaçada c.rmo â escolâ ctuica; é algo qúe ó pârâ valer É, e loi condenado
O lilósolb cínico ou o 6lóso1b mcgárjco, na verdadc. nào eram nenr
cirico nen1rnegárico. clcs ap€nas blinciivarr daquilo crnccrtos molnen- l{lrtrno: Sabia que íoi preceplat?)
los, iustamcnie por seÍ !rna coisa unilateral e uDl recorte tcatrâI, uma É. exâtanenle, nras como ó que você náo vâi ser trâidor dc um cara
impostação lorçaclà. Mâs o cstóico cra estóico de verdadc, assiln como dcsses? Ser acü sad o dc traidor do N ero é seÍ aclr sado de traidor deHiller
o cri!táo pode ser cristáo deverdâde, ou o platôrico pode ser plàtônico l.)unr mériio, dcalgumnodo. Condenado à mortc (náolenbrobem. não
deverdâclc, e assinl pordiarrie. E uffa ótica quenàolhe lê!ârá a afirma! foi cicuta, loi cortar os pulsos c ver o sêngue sair), ele laz:rqullo. assim,
nâ práticê, o conirírio do qrc vocô cstá dizendo nâ ieoriâ, c vice versa. na maior. A lonie dâ iranqüilidade socrálica era a doutrira socrálica, e
Tânbár Dro é urna éiica dcnoniaca, em que o quc qucr que você laça é â dele. â doutrina estaricâ. Os üolivos são difcrcnies, rnâs a elevação da

lalso. coürc a éticâ marxista. por e\emplo. Esia é claranenle denloníaca, âiitudc é idêntica nos dois casos.
se prc produzirá o conlrário do qLrc cstá dizendo nlâs como produziu Con isso dá parâ vôcês teren uma idéia de quc, mesmo nas piores
o contrário vai ter Lrma erplicaÇáo para o contrário, c assirn por dianle condiqóes, podc haver aindà Lnn estorço filosófico real. O que nao apa-
É ul1ra l'orça de autopcrsuasáo demoníacâ. quc pode levâr o suieito recerá cm todo esse periodo é consciôncia alguma da relaçáo entrc os
reâlmentc ao crirne. âo genocídio, à mâldade total. Claro quc ncnhum.L novos conteúdos lllosóficos. bons ou maus, e a sitlrâção histórico-política
conscquência alesse porle podcriânascerda escola cínica ou n1eg,ricÂ. que os suscirou. Isto nenhunr deles dá o enor sinal de perceber. Mês a
Entâo dirÍamos que sáo cscolas cômicâs. na \,€rdâdc, são a câricitlurâ, consciôncia desse tipo de relação só scrá elaborada muito nrais iâÍdc.
o "Casseta & Plarcia' da filosofiâ À,Ias isto de ntro estâr conscicntc ou náo esiír explicirâd.r náo qucr dizer
Eristc. por outro lado. ilgo quc nào é Sozação, mas qrc ó nenlira de que ninguénr pcrcebesse: nossa percepçáo real vai infinitâmente alún
moniaca. Ehá âs lilosoÍ]as dc verdade, que sao não só dclcnsárels racional_ daqü ilo q elaborâr conceitualmente. Quando venos um
ue conseguim os

mente, corno podem scl vi[idas realNenie Então marcâriam vários cstilos: ltnômeno cono o esioicismo. vemos que, enbora nenhüm dclcs anali-
você terá qrc tcr um cslilo crislá0, un cstllo cstóico e assim por dianle .as(á,i,rd\"n h's.ori. J nar l'(rLcbe'r n. ôs cn."ce\.d \i,u.r.rueu.
"
novos contcúdos da filosolia. âlgunrâ consciôncia disso esiá lá presente
A\tna: O Sêüeca tênt dklÍna inlpd|â t::i.t?l lcl, simpl lJru de eler en.a'cmrc"éiÍd, Lmj, rrd..i â un nôdcn nra.
Si . siml Primeiro. por(lue elc ó umâ das lbntes inrPoÍantes para elevada e mâis nobre, vê-se que algo d;sso iá csiá 1á. Mas a consciência
o conhccimento da Íiloso lia .siarica. Sênectr deiroü rnuita coisa escrltâ, histórica, no sentido explicito, só âparcccrá muito mais larde.
criou un1bocadoclepeçâscdcirâtados, elc Éurn grandcescrilorc urra Àcho que, com isso, já rcmos um breve perül desle período, pcríodo
figurâ âbsolLrla entc admirrivel, o qüal. tânbénr conllcnâdo à morte. que é extremaúente útil para justanenie expllciiâr essa relaçáo entre o

aceitâ â condcnaç,ro corn a mesnra calna e lrânqúilidâdc de Sócrâ]cs. que é filosofia de làto e o que sáo ourras possibilidades que se misiuram

cmbora por olriros roth,os. ali c que exercem um pâpelcomo que de umâ son1bra, ou de um limitc, ou

+4
dc umantàgonismo qucaiudaalilosoliââsedetirir llusimm, mais uma
vez, esla minha idéia de qlre â História dâ Filosofiâ deve fazer u]na
disiinçáo categórica entÍe o que é filosofia e o quc sào os elenrentos
adjaccntes, antagônicos, eic., em vez de tentâr integrá los besiâmcnte
nL, próprio conceito de tilosofia. O conceito assim se dilui. até qlle se

chega àqucle ponio em que sc diz: "E impossível defirir lilosofiâ'.


Como é impossivel defini-la se todos qLle a praticavam s.tbiâm mais.ru
menos o que cstavân l'trzendo? Náo pode seÍ uma coisâ táo obscurtt
assim, mâs sc loma obscurâ pcla tentâtiva de colocar dentro do mesmo
conccito lênômenos de oüem especilicamentc diferenie.
É claro qüe uma História assilrr concebida airda náo foi escriia. e

esie curso, bem como os ânicriores sobre a nlesma matériâ, eles ainda
náo sáo umâ Hislória da Filosofia concebida assim. sáo apenas o esboqo
c uma primeira âprcscntâção dela Para realizá lai para escrcver eleti
vrmenie urnâ História da Filosofia nestê base. scria preciso pegar cadâ
manifcstação e distlnguir precisamenle onde cla está, clrlocá-lâ dcntro
.lc umâ cât.iogaçáo que incluisse pseudofilosofia, nriso-sofia, antifilo
sofiâ, eic., e êstc é um trabâlho evidcnienlenle rnoníruoso. Prelendo
co,nplctá-lo algum dia. Sc for possível escrevcr a coisa de talhadarnenie,
ó claro que vou Íâzô-lo. Mâs. enquanto náo 1ãço, pelo menos dou este
Leituras sugeridâs
esboqo lniciâl, limiiado pelo lator materiâl da duração dâ lila, que iá
deve estar acâbando CAR\',\l.llo, olavo dc O jarnin das aliEies

São PaLh É ltealiznqóes 2olltj

coLDScI IIDT vi.lor Lc sr§iae nntcten ct l il;r de Lt lp!


Pàris:Vrin 19!3

RLALE Ci.vanni 1lúrórr l, Ílosor, arrig, Trad \iâr.Êlo pe re

Sào Paul!: LoVola, lqal r 1

RD^LE, ci.vanni Hi:tóti..la Íilosolid


São PauLo: L.yola,19§3 Í I
Dados l eíracionah de catâlosaeàona PubLicação (cIP)
{Cânda Bnsibna do Liro SP Braül)

Ilistória c$en.ial da fiLoso6a /


por Olâvodd Crvxlho Sà. Pâú1.: E tu.lizaqóes.200J

conrcúdo, auLa 1 Históriadas histórias daIiL{Áo§n


ruli2 O pr.jcró so.iáricô -aúla3 SócratesePlaráo
aula4 aula5: Pré Ír.rálicos
rulâ ri ltriódo hcle.lslico I aúlâ7
^ristóleles Periodo helenislico Il
r Filôs.fiâ-F*,trl..pnsn,ô2 F .s.fiá IIIíóriâ
I lilosofia Lrl'lduçaes,L HelenismoI liLulo.

or;1640

Irrdics parn catálog. sisten,ático

Este livro é a Íanscriçao da aula que


foigrarada nodia ll de outubro de2002
!a E Realizaçóes em Sáo Paulo - §P Brâsil.

Iinpresso pela l,àbracor para a


E Itealizacóes. ern dezenbrc de 2006
Os iipos usados sào da lanrilia DnL.h.
O papelé Chamois Bulk 90 s/nr: pará
o miolo e supremo 250 g/mr Dara a capa.

Você também pode gostar