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JANEIRO 4, 2021
Você morreu. Consegue imaginar como foi sua vida? Para fazer o exercício do Necrológio, é necessário
pensar no seu m para avaliar suas ações no presente. O professor Olavo de Carvalho explicou as razões e os
benefícios de re etir sobre isso. Ao nal, percebe-se que pensar na morte pode conduzir à uma vida melhor.
O necrológio está intimamente ligado à vida intelectual. Muitos dos professores que contribuíram com o
conteúdo da Brasil Paralelo zeram este exercício. Conheça as nossas produções para ter contato com
especialistas em história, loso a, economia, política e muito mais.
O que é um necrológio?
De acordo com o dicionário, há três signi cados:
1. Texto, geralmente elogioso, escrito ou falado, sobre pessoas falecidas; elogio fúnebre;
2. Parte de uma publicação periódica onde se noticiam falecimentos;
3. Registro de pessoas falecidas em uma determinada data ou durante um dado intervalo de tempo;
obituário.
O exercício do necrológio, em suma, é uma breve narrativa de sua vida, feita por você mesmo,
contemplando-se a si mesmo morto.
Descrito desta forma, é uma atividade proposta nas primeiras aulas do Curso de Filoso a do Professor Olavo
de Carvalho. Seus efeitos pedagógicos são notáveis. A narrativa proposta visa ajudar o aluno a compreender
melhor quem ele é. Uma vez feito isso, estará pronto para iniciar suas re exões losó cas.
Se você tem interesse em loso a, con ra nossos artigos sobre Sócrates, Platão e suas principais ideias.
Para fazer um necrológio, é preciso presumir a própria morte. Então, você escreverá sobre sua vida após seu
falecimento, como se fosse um amigo seu dizendo. Você falará de si mesmo como se tivesse assistido à sua
vida sendo seu melhor amigo.
Para esta redação, é necessário supor que você tenha realizado na vida tudo o que desejava. Viveu e tornou-
se a melhor versão de si mesmo. É, na verdade, a descrição de quem alcançou a vida que queria e se tornou
quem sonhava ser.
Seu amigo, que é você, descreverá sua vida para outra pessoa. O necrológio é como uma carta para que uma
terceira pessoa tome conhecimento de sua vida.
Em seu necrológico, você descreve como era sua vida ideal. É preciso fazer isso com seriedade e sinceridade.
Não tem que fazer nada hiperbólico, fantasioso.
A narrativa necrológica deve ser resumida, não excedendo vinte ou trinta linhas.
É muito comum que as crianças pensem quem serão quando crescerem. Pensam em heróis, bombeiros,
princesas, policiais, mães, professores. As crianças pensam o que querem se tornar e brincam de ser o que
sonham para si mesmas.
Mas, chega um momento em que não se pensa mais tanto assim. O necrológio o colocará na posição da
criança, mas sem fantasias.
Para responder uma pergunta como essa, além do necrológio, é preciso formar bem a própria personalidade.
Con ra quais são as 12 camadas da personalidade descritas pelo professor Olavo de Carvalho.
Segundo, você não morreu sendo uma pessoa fracassada. Você alcançou o que sonhava.
Terceiro, você não se tornou papa ou imperador. O necrológio considera sua versão ideal no m da vida, não
uma fantasia, um sonho mirabolante e fora de sua realidade de possibilidades.
O exercício do necrológio narra as realizações de suas principais qualidades, não suas ideias de fama e poder.
Escreva não o que você se tornou, mas quem você se tornou. Diga a quem está lendo porque sua vida foi
importante.
Em seu texto, não é tão importante dizer que você se tornou um médico. Mais importante é dizer que tipo de
médico você se tornou, quais virtudes conseguiu viver em sua pro ssão, em sua vida.
Não há problema em mudar seus anseios depois. Se sua intenção nesta vida mudar, muda-se também o
necrológio, mas não deixa de ser uma orientação que o acompanha. Servirá por muitos anos.
Ao criar esta narrativa, será possível ter um mínimo de orientação moral na vida.
A prática de reportar-se ao que você percebe de melhor em si mesmo, ensina a observação atenta da vida.
Ensina também a julgar-se a si mesmo com sabedoria. Faça isso com humanidade, levando em conta o
conjunto do que você sabe.
Efeito do exercício
A intenção é ter uma direção na vida, como foi explicado. Saber quem você é agora, quem você quer ser e
julgar suas ações nesta transição.
Muitos alunos do Professor Olavo começam o necrológio e não o terminam. Têm di culdade. É importante
não desistir e confrontar a própria miséria. Algumas pessoas não terminam sequer três linhas sobre si.
Não ter o que escrever, perceber uma realidade de vida muito aquém do que gostaria, é um bom passo. A nal
de contas, é importante saber estar longe da “meta”.
A razão para fazer o necrológio é que a maioria das pessoas não tem um plano de vida. Se não há um plano
de vida, não há um norte, não há um cume, não há lugar para chegar.
Chesterton, escritor inglês, descreve a ausência de um rumo na vida com o exemplo de alguém que embarca
em um ônibus sem saber para onde está indo.
Muitos brasileiros vivem apenas o imediato sem uma perspectiva da vida inteira. É como se fosse um caos,
uma distração e perda de foco.
Pense: Se você não sabe o que quer ser, como julgará suas ações? Como você dirá a si mesmo se está
acertando o caminho ou não?
O necrológio cria um personagem ideal, o modelo que você mais almeja se tornar. Esta sua melhor versão
possível será o juiz de suas ações. Caso seja religioso, a versão de seu necrológio será seu “eu” diante de
Deus.
Presume-se o arrependimento daquele que se confessa. Isto signi ca que algo em você percebeu uma atitude
que não corresponde às mais altas expectativas que você tinha de si mesmo.
O “eu” ideal é o único critério objetivo que você terá para elaborar um juízo da própria vida que leva. Ele
pode lhe perguntar:
— “O que você está fazendo? Não é assim que você vai alcançar o que quer”.
Neste exemplo de con ssão, sua parte mais elevada é capaz de ver seu aspecto que se rendeu a certas
satisfações. Ela é uma personalidade consolidada e superior.
Sem uma visão clara de sua melhor versão, bem sucedida nos melhores sonhos, você será julgado por outras
instâncias. Imagine-se no tribunal sendo julgado por seus medos, preconceitos, por grupos que você
interiorizou, mas com os quais nunca se identi cou, etc.
Somente sua parte mais alta pode julgá-lo no exercício do necrológio proposto pelo Professor Olavo.
Segundo ele, é apenas esta consciência que Deus aceita.
Conheça mais do conteúdo do professor Olavo lendo o artigo das 12 camadas da personalidade.
A cultura losó ca resume-se em conhecer a prática losó ca de outros estudiosos, os outros lósofos.
Desenvolver a atividade losó ca exige sinceridade para viver o que se acredita, por exemplo, como
Sócrates. A verdadeira maneira de fazer loso a é realmente viver e acreditar no que se ensina.
A loso a é essencialmente uma busca pessoal na qual você mesmo terá que descobrir seus critérios de
certeza.
É a busca da verdade inquestionável, tão óbvia que não pode ser esquecida. O pensamento está seriamente
vinculado à existência. Por esta razão, busca-se a credibilidade máxima.
Quando você desenvolve seu juiz interior, você se torna alguém mais autêntico, que sabe quem você é e o
que você quer. O necrológio é o primeiro passo para isso. Não é algum professor que irá avaliá-lo, nem uma
instituição acadêmica, nem seu chefe ou familiares, nem mesmo seu líder religioso.
Normalmente os bons juízes são mais velhos, possuem anos de experiência. Um juiz de 21 anos não passaria
credibilidade. Por isso, seu melhor juiz é você mesmo, realizado, no nal de sua vida.
Aprenda muito mais sobre loso a através de dezenas de cursos no Núcleo de Formação da Brasil
Paralelo.
Exemplo de um necrológio
“Francisco contemplou a morte por muitos anos de sua vida, mas foi em 18 de dezembro de
2020 que ela lhe retribuiu o olhar. Precocemente, ele a namorou sem desejá-la, ainda que
soubesse que um dia seu beijo viria. Demorou 78 anos para que ela se inclinasse xa e fria sobre
ele, que a esperou sereno e rme.
Aos 15 anos, notou que o dia se desenrolava sem a presença de sua irmã mais nova. Seria comum
se ela fosse uma menina que tinha amor pela cama como as de sua idade. Levantava-se sempre
cedo, mas naquela manhã permanecera no quarto.
Francisco a buscou, mas seu corpo estava frio. Partiu dormindo, provavelmente, pela madrugada.
Mas não é sobre o passamento dela este texto. Importa o que aconteceu com ele por causa deste
fato.
Ele nunca tinha se sentido tão impotente. Neste dia ele viu a morte e começou a namorá-la. Era
certo que ela o queria, mas ele precisava usar o tempo que tinha para compreender como
recebê-la.
Esta é a história de um homem que viveu bem, porque compreendeu que suas atividades
cessariam. A virtude de Francisco foi dedicar-se ao que não teria m com o seu m.
Ele não foi apegado ao dinheiro, porque o dinheiro terminaria. Nem aos prazeres, porque teriam
um m não prazeroso. Sequer ao próprio ego, justamente porque viu, na morte de sua irmã, que
a vaidade é impotente por natureza.
Seus anos, seus estudos, seus esforços, seu suor, sua dor, tudo fora dedicado à medicina. Ele se
tornou pediatra. Sua irmã ele não poderia ter de volta, mas muitas outras irmãs, embora não
fossem suas, poderiam não deixar seus irmãos como ele fora deixado.
Estou escrevendo, caro leitor, sobre a motivação do maior pediatra que conheci. O doutor
Francisco nunca foi um homem triste, ainda que esta tenha sido sua realidade. Ele conseguiu.
Sua pro ssão e seus títulos não o endeusaram. O valor de seu salário não desviou sua razão.
Diante do valor da vida dos pequeninos, seus prazeres nunca foram prioridade.
Ele se encontrou com aquela que enxergara ainda de costas no leito de sua amada irmã.
Entendeu como é a vida. Viveu feliz salvando vidas e as alegrias dos seus pacientes eram suas
alegrias.
Quiséramos nós também ter um propósito tão forte. Francisco teve família, teve lhos, trabalhou
nos melhores hospitais e foi respeitado internacionalmente. Mas o que lhe punha brilho e
sorrisos na face eram as vitórias de cada alta assinada no hospital.
Ele viveu para curar e sabia disto. Esta sua missão era a primeira na hierarquia.
‘Nunca dormi sem ter me dedicado a um pequenino sequer. Devotei a todos o amor que tinha
por minha querida Helena. Sou feliz’”.
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Também não deixe de acompanhar todo o conteúdo produzido na Brasil Paralelo.
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decapitava seus pretendentes
14 comentários
JANEIRO 5, 2021 AT 4:05 PM
Erlandison
Mais uma vez a Brasil Paralelo está de parabéns. A meses venho pesquisando sobre esta
matéria, e muito pouco tenho encontrado. Certamente a contemplação da morte em vida, nos
torna mais vívidos e mais sedentos pelas boas realizações.
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Isabelle
Excelentes texto e proposta! Obrigada!
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Aroldo Maciel
Olá!
O Necrológio é uma bênção na vids de quem o escreve e põe em prática…!
Iniciei o meu em 2013 e tem sido mudado até hoje, pois ainda há mais a ser escrito e
ajustado…
Um abraço a todos!
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