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contemporânea
Karl Erik Schollhammer
O leito r m in im am e n te iniciad o em li
teratu ra b rasileira e n c o n trará n este
liv ro u m ap anhad o d e no ssa p ro d u ção
fic c io n al d as ú ltim as três d écad as, até
c h eg ar à p ro d u ção re c e n te, q u e te m
sid o c ham ad a d e “ G eração 00”. Karl
Erik Sc h o llh am m er, ren o m ad o teó ric o
e c rític o d e lite ratu ra, in ic ia su a re fle
xão exp o nd o a d ificu ld ad e d e d efin ir
o q ue é “ c o n tem p o rân e o ”, te rm o q u e
so fre c o n c o rrê n c ia d e c o rrelato s, tais
co m o atu al, p resen te, m o d erno , pó s-
m o d e m o , e n tre o u tro s. A ssim , so m o s
lev ad o s a rep en sar a q u estão d a p e
rio d iz ação h istó ric a a p artir d e u m
o lh ar d e h o je , m as sem p erd er a esp e
cificid ad e d e m o m en to .
N um a ling u ag em p recisa e clara,
aliad a ao g rand e rig o r d a p esq u isa, o
au to r p ro p õ e análises d e c o n ju n to ao
m esm o tem p o q ue faz rec o rtes em
p ro fund id ad e, lend o e co m entand o a
o b ra d e escrito res A ccio nistas. Inev ita
v elm en te seletiv a, a ab o rd ag em não
p retend e em ab so lu to esg o tar o tem a,
m as sim d ar u m a co ntrib u ição d eci
siv a ao s estud o s crítico s em to rn o d a
literatu ra p ro d uzid a em te rritó rio na
c io n al, m as q ue m an tém co m a reali
d ad e b rasileira co m p lexas relaçõ es de
ap ro xim ação e afastam ento , d e ad e
são e c etic ism o . To d av ia, a reflexão se
faz sem p erd er d e v ista o que aco ntece
em o u tro s p aíses, v isto q ue se to rno u
im p o ssív el tratar iso lad am ente q ual
q u er literatu ra em u m a ép o ca d e cu l
tu ra p lanetária.
Ficção brasileira
cont emporânea
Karl Eric Sch0llhammer
Ficção brasileira
contemporânea
O R GAN I Z AD O R DA COLEÇÃO
Ev and o N asc im en to
C I V I L I Z A ÇÃ O B R A S I L E I R A
R io d e Ja n e i ro
2009
COPYRIGHT © Karl Scho llham m er. 2009
SIN D IC A TO N A C IO N A L D O S ED IT O R ES D E LIV R O S, RJ
CDD: 09-1832
09-1831 CDU: 821.134.3(81).09
Este texto foi revisado segundo o novo A cordo Orto gráfico da Língua Portuguesa.
Impresso no Brasil
2009
Sumário
N o ta intro d u tó ria 7
O Pó s-m o d em ism o 28
D a “ G eração 90” à “ 00” 35
O m ercad o 46
2. O realism o d e no v o 53
O hip er-realism o 70
Um no v o reg io nalism o ? 77
O m inico nto 92
Literatu ra m arg inal 98
3. O su jeito em cena 1° 5
4. Os p erig o s da ficção
10
Do is arg u m ento s se ju n tam aqui: um a escrita que tem
urg ência, que realm ente “u rg e”, que sig nifica, segund o o
A urélio , que se faz sem d em o ra, m as tam bém que é em i
n en te, que in siste, o br ig a e im p ele, o u seja, um a escrita que
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de g eração insiste e pro d uz aind a leituras sugestivas para
entend er a ficção p ro d uzid a nu m d eterm inad o m o m ento .
Um a d as so lu çõ es m ais freq u entes é eleg er um a d écad a
co m o d efinid o ra d e cad a g eração , o que já crio u d efiniçõ es
b astante reco nhecid as que faz em d e 1970 a d écad a de co n-
tistas urbano s^ d e 1980 ad é c ad ad a literatu ra pó s-mo d erna
no Brasil e d e 1990 a g eração d e “ transg resso res”, num
tem p o d eterm inad o p ela escrita, d e co m p utad o r e pela tem
p o ralid ad e im ed iata d a Internet. A “ Geração 00”, po r sua
vez,, aind a não g anho u um p erfil claro , e nenhum grupo se
id entifico u p ara escrev er o m anifesto e lev antar sua ban
d eira d e g eração . Para Flávio Carneiro , po r exem plo ,
l ê n io , n u m p ro ce s s o q u e , co m o v im o s , co m e ço u a se d efla
g ra r n o s an o s 8 0 , to m an d o - s e m ais d en so n o s 9 0 , é o d a
p o d e e s ta r v in d o d o p ró p rio u m b ig o d o e scrito r, co m o n o
co n d e n ad a. (M o rico n i, 2 0 0 4 )
17
lerância estariam co ntid o s nas an to lo g ias d e co n to s edita-
d as po r N elso n de O liv eira (2001 e 2003), Luiz Ru ffato (2004
e 2005) e ítalo M o rico ni (2001), na v irad a d o sécu lo , alavan-
cas para um a série de no v o s esc rito re s q u e h o je conquis-
taram seu esp aço p ró p rio no m erc ad o e d ian te d a crítica,
Talvez a im p ressão de d iv ersid ad e v e n h a d a p ro liferação de
no v o s no m es de escrito res, c u ja ap ariç ão m u itas v ezes £re-
m atura exp ressa a increrrientação d o n o sso m erc ad o edi
to rial. O Plano Real e a estab ilid ad e e c o n ô m ic a d o p aís pro
p iciaram , na últim a d écad a, u m au m e n to c o nsid eráv el na
vend a de liv ro s; no vas liv rarias ab riram , as fe iras d e livros
se co nv erteram em m eg aev ento s, e, p rin c ip alm e n te , surgiu
um a varied ad e de p eq u enas ed ito ras q u e so u b eram apro
v eitar 0 b arateam ento te c n o ló g ic o d o c u sto d e pro d ução
inv estind o em no v o s no m es e o fere c e n d o e sp aç o a auto res
d e p rim eira v iag em em ed iç õ e s re lativ am e n te baratas.
Co m revistas literárias co m o Ficçõ es (Rio d e Jan e iro ), Inimigo
R u m or (Rio de Janeiro / São Paulo ) e R asc u n ho (Paraná), uma
19
Capítulo 1
Breve mapeamento das últimas gerações
Som bras dos reis barbu do s (1972), os co nto s de Sem inário dos jj
ratos (1977), d e Lygia Fagund es Telles, ou Ivan  ngelo co m
o ro m ance A fe s t a (1976). Igno rada fo i a d ramatização das
g rand es questõ es univ ersais e u tó p icas, assim co m o os te
m as nacio nais clássico s. Tam b ém fo ram aband o nad as as
d iscu ssõ es crític as d o o tim ism o fu tu rista e as demandas
d e um a m o d erniz ação necessária, fo rm u lad as p elo projeto
m o d ernista d o s ano s 20. M ais u m a v ez , c o n f irmava-se a
o p ção histó rica d a literatu ra p elo re alism o , e, em b o ra pro-
cu rand o no v as To rm ãsTã~p ro sa p ó s^ õ lp ê~ d ã^ d écad as de
1960 e 1970 será m arcad a p ela v o cação p o lític a. V ale a pena
iniciar a d iscussão co m u m a b rev e re flex ão so b re a década
d e 1970, um a vez que são o s traço s d a lite ratu ra d esse mo
m ento que ap o ntam p ara a co m p reen são d a v irad a d e sécu
lo , em alg uns caso s, p o r m eio d e u m p ro c esso d e cano niza
ção d iante d o qual o s escrito res m ais re c e n te s se fo rmulam.
Não basta, entretanto , d escrev er a g eraç ão d e 1970 co m o li
gad a a um no vo realism o u rb ano , em bw raTtenha sid o uma
característica dos co ntistas e d o s ad ep to s d o ro mance-repo r-
tagem . Silv iano Santiag o su b linha, n o e n saio “ Pro sa literá
ria atual no Brasil”, d e 1984. a “ an arq u ia fo rm al” d essa ge
ração que, ap esar d o en g ajam en to , p e rm itia u m a inovação
de o p çõ es estilísticas. Santiag o su b lin h a a em erg ên c ia de
um a narrativ a au to b io g ráfica q u e p o ssib ilita a d esconfían-
ça d iante “ da co m p reensão d a h istó ria p ela g lo balização ”
(Santiago , 2002, p. 37) e que exp ressa a o p ção su b jetiv a por
so luçõ es p o líticas m ais rad icais. Para San tiag o , surge, as
sim , um a genealo g ia e n tre o te x to m o d ern ista e o memo-
rialism o , abo rd and o a fam ília e o clã, e n q u an to o s jo vens
m ais p o litizad o s enc o n tram n o esc o p o au to b io g ráfico ex
p ressão m ais P£o j3lcia_ ajim iji2w
d úvid a, id entifica-se a v erten te au to b io g ráfic a e memoria
lista tam b ém na literatu ra co n tem p o rân ea, ag o ra não mais
enq u anto d ecisãa existenciaL d iante d e o p çõ es d e vid a sob
o reg im e auto ritário ,_m as na p ro cu ra p o r m o d o s d e existen-
cia nu m a d em o cracia eco no m icam ente glo balizad a mais es
tável, p o rém aind a incap az d e criar so luçõ es para seus gra
ves p ro blem as so ciais. A .literatu ra auto bio gráfica da d éca
da d e 1970 fo i p ro fu nd am ente m arcad a p elo m em o nalismo
de Ped ro Nava e p o r sua o b ra m o nu m ental em seis vo lumes
— Baú d e ossos, C hão d e fe r r o , B alão cativ o. Beira- m ar, G alo das
trev as, 0 círio p e r fe it o (Nava, 1998-2006) — , m as tam bém fo i
vro Lit eratu ra e v ida lit e r ár ia, d e 1985, a crítica e ensaísta Flo-
ra Süssekind b atiz o u essa p ro d ução de literatu ra v er dade^ e
m o stro u co m o a ap ro xim ação en tre repo rtag em / crô nica
jo rn alístic a, ro m ance e c o nto era u m a resp o sta direta aos
censo res que entraram nas red açõ es d o s jo rn ais em i 95g
lo g o ap ó s o Al-5. Os escrito res, m u ito s d eles tam bém j0r
nalistas, inclu íam no ro m ance, so b fo rm a ficcio n al, a notí
cia rep rim id a e censurad a, p riv ileg iand o as relaçõ es perj.
g o sas en tre p o liciais co rru p to s e o m u nd o d o s esquadrões
d a m o rte, assim co m o a relação e n tre a rep ressão do cri-
m ino so co m um e o co m b ate à re sistê n c ia p o lítica. Os títu
lo s m ais fam o so s eram A in fân c ia d o s m o r t o s (1977) e Lúeio
Fláv io - P assag eiro d a ag o n ia, d e Jo sé Lo u z eiro ; V iolên cia e re
26
co nfig ura u m a su b jetiv id ad e em crise, co m o o co rre, p o r
exem p lo , em Z ero , d e Ig nácio d e Lo yo la Brand ão , d e 1974,
em R eflex os do baile , d e A nto nio Callad o , d e 1976, e no C abe
ça de p ap e l, d e 1977, d o jo rn alista Paulo Francis. N esse m es
0 Pos-modernismo
28
vo lv im ento d e um a eco no m ia d e m ercad o que integro u as
ed ito ras e p ro fissio naliz o u a p rática do escrito r nacio nal.
Um no vo c ritério d e q ualid ad e surge, resultand o em ro
mances que co m binam as qualid ad es de b e st sellers co m as’
narrativas ép icas clássicas, reto m and o aos clássico s mito s
de fund ação , co m o em T ocaia g r an de (1984), de Jo rge Ama
do, e em V iva o p o v o br asileiro (1984), de Jo ão Ubaldo Ribeiro.
A pesar d e rep resentar um reto m o ao s tem as trad icio nais
da fund ação d a nação , d a histó ria brasileira e do desenvol
v im ento d e um a id entid ad e cultural, esses ro mances repre
sentam , ao m esm o tem p o , um a reescrita da m em ó ria na
cio nal d a p ersp ectiv a d e um a histo rio g rafia m etaficcio nal
p ó s-m o d em a, v alend o -se freq u entem ente da irrev erência
nesse trabalho . Um b o m exem p lo é o ro m ance de Ana Mi
rand a, B oc a do In fern o (1989), que o bteve grand e sucesso de
público , m esm o send o um ro m ance de estreia. Trata-se de
uma ficcio naliz ação d a vid a d o p o eta barro co Gregó rio de
Matos co m binad a a um co m p lexo enred o po licial, no estilo
do ro m ance d e Um berto Eco , 0 n o m e d a rosa, de 1983, no
qual um a v asta d o cu m entação histó rica em basa uma nar
rativ a satírica q ue flerta ab ertam en te co m o grand e pú
b lico leito r. M ais tard e, A na M irand a tenta rep etir a fó r
mula de sucesso em ro m ances co m o 0 retrat o do rei (1991),
so bre a Guerra d os Em bo abas, A ú ltim a qu im era (1995), so
bre A ugusto d os A njo s, e D esm u n do (1996), que narra a his
tó ria das m u lheres ó rfãs, enviad as ao Brasil para se casar
co m os co lo no s p o rtugueses. Mas em nenhum desses livros
a auto ra co nseg ue cheg ar ao s resultad o s o btid o s co m seu
ro m ance d e estreia. É característico d essa fo rm a de revi
sio nism o histó rico d o Brasil, via ficção anacrô nica, que o
co nteúd o histó rico se to m e alego ria da realid ad e nacio nal
m o d em a. Co m um a ling u ag em efic iente e m uitas vezes
29
inspirad a em gênero s po p ulares, co m o o susp ense policiai
o u o ro m ance d etetiv esco , as referências histó ricas são me-
tabo lizad as de m o d o a p o ssib ilitar no v as hip ó teses inter
p retativ as. Um bo m exem p lo é o ro m an c e A g o s t o , grande
sucesso de Rubem Fo nseca, d e 1990, q u e co nta a história
do atentad o co ntra Lacerd a e o suicíd io d e G etúlio Vargas
sem ro m p er a co erência d os fato s reais, m as inserindo-os
num enred o po licial que não d eixa nad a a d esejar aos fãs
d e Geo rges Sim eno n e d e o u tro s clássic o s d esse gênero,
Co m frequência, o leito r, o trad u to r o u o c rític o surgem
nessas histó rias co m o v erd ad eiro s d etetiv es e n tre manus
crito s ap ó crifo s e p istas d e eru d ição , c o m o o co rre no ro-
m ance-rev elação de Isaías Pesso tti, d e 1993, A qu e le s cães
m alditos deA rqu elau , em que um g ru p o d e p esquisad o res ita
30
tura, p ro piciad a p elo no v o d iálo go entre a literatura, a cul
tura p o pular e a cultura de m assa, o u a mescla entre os gé
neros d e ficção e as fo rm as d a não ficção , co mo a biografía,
a histo ria e o ensaio .
Tod avia, a p rincip al d im ensão híbrid a, na pro sa da dé
cada d e 1980, é resu ltad o d a interação entre a literatura e
o utro s m eio s d e co m u nicação , p rincip alm ente meio s vi
suais, co m o fo to g rafia, cinem a, publicid ad e, víd eo e a pro
dução d a m íd ia em g eral. Co nfo rm e o bserva Flora Süsse-
kind , no ensaio “ Ficção 80: d o brad iças & v itrines”, de 1986
(in Süssekind , 1993), a ficção d a d écad a de 1980 se conver
te nu m a esp écie d e m u ltim ídia, o u eventual m etam ídia, na
qual a esp etacu lariz ação d a so cied ad e m id iática co ntem po
ránea no Brasil enco ntra sua exp ressão e questio nam ento .
Mas a d efinição d o p ó s-m o d em o d ep end e, princip alm ente,
de urna no v a p o sição d o su jeito m arcad a pela expressão li
terária d e um a ind iv id ualid ad e d espro vid a de co nteúd o psi
co ló gico , sem p ro fund id ad e e sem p ro jeto . A aparição da
o bra d e Jo ão G ilb erto N o ll, em 1980, co m a co leção de co n
to s 0 ceg o e a dan ç ar in a, aind a so b influência de Clarice Lis-
p ecto r e d a d iscussão existencial, to m o u-se o m elho r exem
plo d essa no v a exp ressão . Süssekind m o stra, no ensaio de
1986, d e que m aneira, no co nto “ M arilyn no inferno ”, o lei
to r entra nu m m u nd o ficcio nal no qual os perso nagens são
incap azes d e d isting u ir entre a realid ad e e a fantasia o u
entre a exp eriên cia p esso al e o m und o o nírico dos d elírio s
pro d uzid o s p elo s m eio s d e co m unicação . Ao m esm o tem
po , um a no v a p ersp ectiv a v isual é aberta na narrativ a po r
m eio d o uso d e técnicas d o cinem a — flas h , mud ança de
fo co , co rtes, co ntrastes, elip ses no tem p o e ritm o acelera
do — , que arrastam o narrad o r em m o vim ento s co ntinua
m ente estilhaçad o s, refletid o s nas vitrines e nas imagens
31
cinem ato g ráficas, criand o , assim , u m a atm o sfera sem i¡.
m ites nítid o s entre a realid ad e e as p ro jeç õ es fantasmagó-
ricas. Mais tard e, no s ro m ances A fú r ia d o c o r p o (1981), Ban
doleiros (1985), H otel A tlân tico (1989), R asto s d o v e r ão (1990),
33
terário na d écad a seg u inte, é Sérg io San t’A n na. Sua ficçà0
é um q uestio nam ento co n stan te d a c o n stru ç ão d a realida-
d e em seus fu nd am ento s fic c io n ais e d ram átic o s. Já em
1977, Sant’A nna p u b lico u u m ro m an c e c h am ad o Simula-
cros, e esta referência teatral está p re se n te p o sterio rm ente
38
exp lo ração d e um arq uiv o de imagens da cultura de mí
dia po p ular, m as elab o ra esse im ag inário em narrativas
que exp lo ram a em erg ência, do po nto de vista atual, bas
tante ino cente d o esp etacu lar e do assombro da mídia grá
fica, ju n to co m o resg ate do fascínio que regia seu universo
infantil.
Em o utras exp eriências, co m o , po r exemplo, no roman
ce de Rubem Fo nseca, Vastos em oções e pensamentos imper
fe it os , de 1990, tratav a-se m ais de uma homenagem à es
39
A narrativa se cria em torno da relação e n tre o auto r e sua
imagem pública, ativando o cerne d o c o n flito entre o per.
151 literário criado pelos livros e a “p esso a re al”, o u extralj.
terária, numa história em que um leito r entu siasta assassj.
na o seu objeto de admiração, o auto r, q u e passava entâo
por uma crise criativa, para to m ar seu lu g ar e converter-se
ele mesmo em autor e dar co ntinuid ad e à o bra. Mas foi 0
conto “A arte de andar nas ruas do Rio d e Jan e iro ” que se
ofereceu para uma geração inteira d e esc rito re s como o
conto emblemático de uma nova literatu ra d a cid ad e. O tí
tulo do conto é também o título d o liv ro q u e o protagonis
ta está escrevendo a partir de um a im ersão n o submundo
da cidade do Rio de Janeiro , e no q ual ab o c an h a a vida ur
bana da perspectiva mais baixa e ig no rad a. O co nto se com
promete com a ambientação real e co m referên cias histó
ricas e geográficas facilmente reco nhecív eis, em diálogo
explícito com os debates atuais so bre a situ ação e os pro
blemas da cidade do Rio de Janeiro . Para alg u ns escritores
de sucesso em atividade, co m o A na M irand a, Rubens Fi
gueiredo, Jô Soares e Patrícia Melo, Fo nseca fo i não apenas
um exemplo e um modelo, mas^ Jn lalg u ns c aso s, tamBém
o mentor flirêfcTe o possibilitador d e suas o b ras. Fonseca,
por sua vez, continua escrevendo liv ro s co m ó tim a aceita
ção de leitores e crítica, como E do m e io d o m u n do prostituto
40
não perd eu a m ão na arte do co nto breve e vo lta, de certa
maneira, ao s tem as d o auge bru talista. Em 27 co nto s curtos,
o perso nagem que d esencad eia as pequenas histó rias sem
pre é um a m u lher, cu jo no m e dá título ao co nto . Os cená
rios são fam iliares ao univ erso de Fo nseca, co mo no co nto
“Belinha”, em que o narrad o r é um assassino de aluguel
com alto s p rincíp io s ético s, tarad o po r Belinha, de 18 anos,
que go sta d ele p o r ser band id o . Quand o ela pede que ele
mate o pai, acaba a atração sexual e, para a menina, o tiro
sai pela culatra:
41
seg und o liv ro , 0 m at ad o r , que se to m aria u m fenô m eno de
v end as. A auto ra já hav ia ang ariad o elo g io s p elo livro de
estreia, A cqu a t o jfan a (1994), m as fo i co m 0 m at ad o r que Pa-
trícia exp licito u a v o ntad e d e se inscrev er n o co ntexto lite
rário brasileiro co m o a m ais fiel herd eira d a p ro sa brutalis-
t a. d e Rubem Fo nseca. O p erso nag em p rincip al d o mundo
43
Não havia nenhuma nuvem no céu, e o sol fazia tudo bri
lhar e arder. A previsão, naquele dia, era de que a tempera
tura subisse a quarenta e dois graus, fato ano rmal naquela
época do ano, comentara o co brad or do ônibus. Porra. José
Luís subiu lentamente o morro, sem saber exatamente o
que iria fazer, os cachorros na frente latind o. (Melo, 2000,
p. 367)
44
sua vid a no c o n ju n to hab itacio nal Cidade de Deus. Con
seguiu sup erar co nd içõ es so ciais d esfavoráveis, formar-se
na univ ersid ad e p ú b lica e realiz ar um trabalho sociológico
sobre a sua p ró p ria fav ela, p ercurso de vida e de pesquisa
que cu lm ina nu m p ro jeto literário d e grand e importância.
0 livro po d e ser lid o d e v árias m aneiras. É um documento
sobre a histó ria d a Cid ad e d e Deus, co m p lexo habitacional
co nstruíd o p ara ab rig ar a p o p ulação que havia perdido
suas casas d u rante as g rand es enchentes no Rio de Janeiro ,
em 1966. A s três p artes d a narrativ a — “História de cabe
leireira”, “ H istó ria d e Ben é” e “Histó ria de Zé Pequeno ” —
retratam três d écad as — 1960, 1970 e 1980 — da história
do lugar. A o m esm o tem p o , é um a narrativ a memo rialista
em que o p ercu rso d o d esenv o lv im ento individual — par
tind o da infância ino cente, atrav essand o o cho que do mun
do real na ad o lescência e d irecio nand o -se para o cinismo
da m aturid ad e — se reflete no to m de vo z, a cada passo
mais d uro no relato . Finalm ente, trata-se de uma ficciona-
lização de fato s reais: “ tud o no liv ro é real”, costuma insis
tir o auto r co m ferv o r natu ralista o u, d iríamo s, antro po
ló gico , co m p ro m etid o co m seus “info rm antes”. Não cabe
dúvida de que esse co m p ro m isso co nscientem ente assu
mido co nstitu i a g rand e fo rça e, ao m esm o tempo , a gran
de fraqueza d o ro m ance. Fo rça po rque a realid ade trans
parece em cad a ação d o s “ m aland ro s” o u “bicho s so lto s”,
muitas v ezes d e m aneira co m o v ente, e po rque a reconstru
ção da ling uag em d o s p erso nag ens é realizad a com muito
esmero . Mas tam b ém fraq u ez a, po is o s perso nagens pa
recem p reso s no s p ap éis previsíveis de d ramas em que a
ind ivid ualid ade d e cad a um p arece se co nfund ir com seus
“tipos”. De to d o m o d o , o resultad o do trabalho de Lins é
admirável p elo seu fô leg o e envergad ura, pelo compromis-
45
so cientifico e afetiv o co m o s tem as ali p re se n te s, e pelo
esfo rço de exp ressão , no q ual a c ru eld ad e d a v id a serve
co m o po tência p o ética à sua literatu ra.
0 mercado
46
geríveis d o g o sto d o m ercad o e ab rir m ão do pro jeto literá
rio e d os p ad rõ es d e q u alid ad e, herd ad o s do mo dernismo,
de co erência e exp erim en taç ão . Seis ano s d epois, em 1990,
numa entrev ista p ara Is t o É/ Senho r, Silv iano co m enta a Lei
do M ercad o , ad v ertind o q u e o escrito r passo u
(...) a p ro d u z i r u m te x to d e b o a q u al id ad e , m as q ue não
47
no Real. Quem aco m panha a lista d o s liv ro s m ais vendidos
sabe que a aparição d e ro m ancistas b rasileiro s entre os
best sellers de ficção literária é raríssim a, p o is no rm alm en
te são dominadas po r trad uçõ es d e g rand es no m es interna
cionais como Dan Brow n, que d urante o s ú ltim o s ano s tem
congestionado esta lista co m até q u atro títu lo s simultanea-
mente. A primeira o bservação , p o rtanto , é q ue até mesmo
os escritores que se pro puseram a ating ir urna m eta comer
cial não conseguiram enco ntrar u m fo rm ato cap az de com
petir com o escrito r internacio nal e co m o m ercad o edito
rial globalizado. Nem m esm o au to res co m o Patricia Meló,
cujo sucesso inicial co m 0 m at ado r lev o u-a a fig u rar na lis
ta da Time M agazine co m o urna d as p erso nalid ad es latino
americanas do século XXI. Suas v end as se exp lic am em
grande parte pela co nso lid ação d a fó rm u la já exp erim en
tada pelo mestre Rubem Fo nseca, q ue se co nv erteu numa
espécie de câno ne de literatu ra su b u rb ana co m preferên
cia por temas de suspense e crim e. O su cesso in ic ial do pri
meiro ro mance histó rico d e A na M irand a, Bo ca do Inferno ,
48
ciais de Luiz A lfred o Garcia-Ro za, as ficçõ es conspiratórias
de Ivan San tA n n a, o u as satiras histó ricas de Jô Soares,
mas não são esses escrito res que caracterizam o mercado,
e devemos rec o n h ec er que nenhu m d eles teve a aceitação
ampla do p ú b lico , na escala antes co nseguid a po r Jo rge
Amado, salv o , o b v iam ente, Paulo Co elho , cujo caso mere
ce uma av aliação em sep arad o . A ntes d isso, apenas obser
vamos que a am eaça co m ercial co ntra a liberd ad e da for
ma nunca se realiz o u ; em vez d isso , o mercad o brasileiro
de literatu ra se transfig u ro u d urante os último s vinte anos,
pro curando am p liar sua b ase d e vend a em grandes livra
rias, co leçõ es d e clássico s a p reço s acessíveis, pro liferação
de feiras e ev ento s literário s, assim co m o uma integração
maior co m o s m eio s d e co m u nicação de grand e alcance,
programas d e telev isão , e p o r m eio de um diálogo mais in
tenso co m o cinem a g raças ao fo rtalecim ento da indústria
cinem ato gráfica nacio nal. A g eração d e 1970 foi canoniza
da, às v ezes o cu p and o lu g ar nas fileiras dos im o rtais da
A cademia Brasileira d e Letras, que, co m o d izem as más lín
guas, aceitam “ até esc rito res” , e se co nsagro u com prêmios
e inclusão nas b ib lio g rafias o brig ató rias da rede pública de
ensino. No en tan to , é p reciso sub linhar que não existe no
Brasil nenhu m a Isabel A llend e, nenhum a Laura Esquivei,
nem sequer u m O svald o So riano , escrito res que, no co ntex
to latino -am ericano , ab riram cam inho entre os best sellers
após a p assag em d o s m o nstro s sagrad o s Gabriel Garcia
Márquez e Vargas Llo sa. A lém d isso , ning uém surgiu ocu
pando o lug arTfiPpep tílarid ad e d e Jo rg e A mado, que, nesta
perspectiva, faz falta, p o is nenhu m auto r depois d ele se
lançou num a literatu ra co m a am bição de o ferecer uma vi
são glo bal, nem m esm o id ealizad a e fo lcló rica, da realida
de brasileira. A p esar da m o d ernização do mercado edito-
49
rial, sua realidade eco nô m ica é crítica. Desd e 1998 até mui
to recentemente, nenhum seto r d a eco no m ia b rasileira sp.
fteu tanto quanto o mercad o dó liv ro . N aquele ano , as ven
das totais de livros so m aram 410 m ilhõ es d e exemplares,
e, no ano passado, apenas 271 m ilhõ es. Em p arte, a queda
se explica pela falta de inv estim ento s, p o r p arte do gover
no Lula, nos livros d idáticos; em 2001, p o r exem p lo , o go
verno comprou 117 m ilhõ es d e liv ro s, enq u anto que o mer
cado privado vend eu 183 m ilhõ es. Em 2005, o mercado
privado ainda se manteve co m a v end a d e 183 m ilhõ es de
exemplares, enquanto o go v erno d im inu íra a co m p ra para
88 milhões de livros. O que ap arece nas estatísticas como
uma queda abso luta de vend a po d e, p o r causa d esta redu
ção das compras públicas, esco nd er um a relativ a melhora
nas vendas no mercado. A ssim, em 2005, fo ram vendidos
29 milhões de livros a mais d o que em 2004, m as o gover
no comprou 47 milhõ es de exem p lares a m eno s. Em outras
palavras, após um lo ngo perío d o d e q ued a nas vendas, o
mercado do livro no Brasil passa p o r um a tím id a recupera
ção comercial, graças à qued a no s p reço s e à red ução nos
lucros editoriais, fato res que, em 2005, p o ssibilitaram um
aumento de vendas, nas liv rarias, d e 18 m ilhõ es de exem
plares. No ano seguinte, o nú m ero to tal d e livro s vendidos
chegou a 310 milhõ es de exem p lares e, em 2007, a 329
milhões, o que gerou um aum ento d e lucro de 6,06%. Esse
acentuado crescim ento recente se d eve à recup eração do
mercado consumidor, que co m p ro u 8,21% m ais exemplares
em 2007 (um to tal de 200 m ilhõ es de exem p lares), e a uma
recuperação tímid a das co m pras efetuad as p elo governo,
que adquiriu mais 2,89% (129 m ilhõ es d e exem plares).
Infelizmente, a ficção não p arece ser a lo co m o tiv a desta
tendência. Os campeões brasileiro s d e vend a se e n c o n tr a m
50
entre os gênero s d id ático (aum ento de mais de 50%|e^reli-
jxjoso (aum ento de 12,8%). O go v erno ainda é o maior com
prador, resp o nsáv el p o r cerca de 24% das vendas do setor,
mas esse nú m ero está em qued a co ntínua. A boa notícia é
que os auto res nacio nais estão se fo rtalecend o , com um
crescimento d e m ais d e 10%, de 303 milhõ es em 2006 a
334,8 m ilhõ es de exem p lares em 2007.1
51
Ca p ítu lo 2
0 realism o d e novo
54
lism o o u p a ra u m a l i te ra tu ra q u e ch am o de “ eg ó tica”, m ui
to ce n trad a n o eu . T e n to cam in h ar e m o u tra seara, a da li
te ratu ra re al i s ta, q u e n o m e u e n te n d e r n ão é o tim ista nem
tir d o real.
ce”. T am b ém a ch o q u e n ão é. M as o q ue é? N ão é u m livro
de co n to s. Q u e ro co l o c a r e m xe q u e essas estruturas. Não
q uero f az e r u m a re f l e x ã o só so b re a realid ad e política, mas
55
comum na história da literatura b rasileira reco nhecer o
predomínio da tradição realista em d iferença às literatura*,
nacionais latino-americanas, co m sua riqueza e diversidade
de formaTdêlítérãtura fantástica e as várias exp ressõ es do
realismo maravilhoso. Ainda éñ b rm al reco nhecer na lite
ratura brasileira uma tensão entre a v o ntade experimental
e o engajamento social que só vai enco ntrar lugar de conci
liação na obra de Guimarães Rosa. Para o s escrito res da
atuaTi(Tã(Tê,~al]uestão se reco lo ca nesses term o s e agora
diante de um pano de fundo m id iático carac terizad o por
uma grande demanda de realidade. O que m ais interessa à
mídia de hoje é a “vida real”. N otícias em tem p o real, re
portagens diretas, câmera oculta a serviço do fu ro jo rnalís
tico ou do mero entretenimento , televisão interativ a, reality
pio res notícias dos seus lindo s lábio s, A q u ino d á m o stras de seu
talento narrativ o co nstruind o a h istó ria d e u m a p aixão fa
tal e proibida entre o fo tó g rafo Cauby e Lav ínia, um a mis
terio sa e sed uto ra m ulher. O enred o se p assa nu m a cidade
do garimpo no Pará, e a escrita arm a u m a estru tu ra enig
mática que habilm ente pro d uz um su sp ense n a m elho r tra
d ição p o licial a serviço d e u m a intrig a d e am o r impossível,
que acaba reveland o os po d res e a vio lência^d e um a comu
nidad e na fro nteira da civ ilização n o in te rio r d o Brasil.
Fernand o Bo nassi, d e m o d o sem elh an te, atu a no s mais
diversos fo rm ato s, co m o literatu ra ju v en il, p o esia, ro teiros
de cinem a, pro gramas d e telev isão (Castelo R á- t im - bum ), jo f'
60
I
i nalismo, teatro e p ro sa. Sua estreia ficcio nal se deu com
! uma anto lo gia rad ical d e co nto s, d e 1989, intitulad a 0 amo r
í em cham as, cu jo su b títu lo “ Pânico -ho rro r & m o rte” não es-
• camoteia o p ro jeto d o auto r. Co m relato s voltados para o
subúrbio da g rand e São Paulo , co m o M o o ca e São Caetano,
" bairro de o rig em d o au to r, o liv ro d esafia os limites da re-
1 presentação d a v io lência e d o sexo . Em relato s muito dife
rentes entre si, alg u ns b em cu rto s, o utro s relativamente
longos, e im p rim ind o ritm o s v ariad o s, alguns tecidos ape-
l nas por d iálo go s, o u tro s feito s d e d escriçõ es cirúrgicas, Bo-
! nassi co nsegue m etab o liz ar o estilo co rtante das notícias
í de jornal, transcriçõ es d e cenas d e film e e televisão, anún-
è —---------------------------— -------------------------------------- ,
j cios de sexo , frag m ento s e ru b ricas de ro teiro , entreo utro s
■j pro ced imento s, e x p erim en tan d o claram ente com a in-
’ trodução, na ficção , d esses resto s textuais da vida real, à
| procura do m áxim o e fe ito . É a realid ad e mais brutal que
- transparece, um Brasil m und o -cão m irad o através da iden-
| tificação co m o s d esejo s e o s so nho s do cotid iano da peri
feria, que rev elam a tenacid ad e, o despudor, mas também
a tragédia e o d esam p aro d a vid a co m o ela é. Bonassi nun
ca abandona to talm en te esse cenário degradado. No ro-
; mance do m esm cTano , U m c éu d e e s t relas, o relato constrói
o penoso e sufo cante ^processo de escalad a de ciúmes entre
um casal, pro vo cad o p ela v o ntad e d e mudança e liberdade
‘ da mulher, que acab a exp lo d ind o em vio lência e morte.
5 Aqui, a vio lência já ap arece na tensão dos diálogos entre
: os amantes, e não p o r m eio d e d escriçõ es detalhadas, opta-
se, antes, po r m o strar em lug ar de relatar, e o romance,
que mais tarde fo i ad ap tad o para o teatro , sob a direção de
Ugia Cortez, e para o cinem a, p o r Tata A maral, contribuiu
consideravelmente na d iv ulg ação do trabalho de Bonassi
para um público m ais am p lo . Nos ano s seguintes, ele diver
61
sifica suas atividades d ed icand o -se b astan te ao teatro . En.
tre suas várias peças, figura A po calipse 1,11, do Teatro da Ver
i O d esem p reg ad o
63
cara. Bombeiros gritando não me deixam dormir. Talvez eu
não preste. E esses talheres sambando na marmita? Ven
dendo o café da manhã pelo almoço que não tenho onde
comer. Um passe puído de esperanças. Uma família arrima
da em tudo, todos & ninguém. Abrindo classificados em de
sespero, como quem estupra a pró pria mulher. (Bonassi in
Oliveira, 2001, p. 44)
65
que aco nteceu d epo is, to d a a histo ria é trag ad a p ela urgen,
cia de viver uma situação que p o d em o s c arac teriz ar como
“evento ”. No evento , aquilo q ue ac o n tec e está acontecend o
para o sujeito co m um a tal fo rça q u e rem o v e a oposição
entre o interno e o externo , en tre su b jetiv id ad e e mundo,
revelando , d esse mo d o , um p lano d e im an ê n c ia na recep-
ção que d esm o nta a p rem issa rep resentativ a. D ito d e outra
maneira, a instantaneid ad e d o s relato s d e N o li não está na
co ncretud e ou na fixação d e um m o m en to esp ecífico , por
mais d etalhad o e referencial que seja, m as n a estrutura in
tensa entre subjetivid ad es e ac o n tec im e n to s q u e irrompe
da sequência narrativ a. Trata-se d e u m a situ ação narrativa
fund amental que, ev entu alm ente, p o d e ser in sc rita como
um elo para urna histo ria m ais e x ten sa, m as q u e aqui apa
rece na limpid ez da sua sing u larid ad e. Po r isso , a revela
ção do instante pelo texto , em v ez d e se d ar c o m o uma re
velação tecida po r d etalham ento s e esp ecificid ad es, remete
mais a um “esp aço -tem p o q u alq u er”, e m q u e a referência
eventual a uma situação g eo g ráfica e h istó ric a, p o r exem
plo, “Golpe de 64” o u “Po rto A leg re” , fu n c io n a co m o con
trap o nto para a univ ersalid ad e im an e n te d o aco ntecid o .
Em erg en cias
n h am se an te cip ad o : m i ra v a m o s ca b e l o s a f o g u e a d o s de
o lh o u d e n o v o a ca ra d o p a rce i ro , o q u e v iu f o i a láp id e
de sangue, lê-se:
67
Moço, não, sua mão, suando, grito no semáforo, em con
tramão, suada, pelos carros, sobre os carros, carros, moço,
não, viu sua mãe e a cidade, nervosa, avançando o meio-
dia, dia de calor, calor enorme, ninguém que avista, Socor-
rinho, algumas buzinas, céu de gasolina, ozônio, cheiro de
álcool, moço, não, parecido sonho ruim. (p. 47) !
68
- ¿ades poéticas to m a m c o n ta dos en red o s e convertem os
contos em poem as:
0 hiper-realismo i
70
SWÇ
honesta. Na d ificuld ad e d e e n c o n trar um d eno m inad o r des
sa forma de escrev er, tem -se ressaltad o afinid ad es co m Jo sé
Agrippino de Paula, o g u ru d a Tro p icália, co m o livro Pana -
mérica, de 1967, em p articu lar p ela rev erência à cultura pop
e pela maneira o bsessiv a d e u sar a rep etição co m o recurso
estilístico na criação d e um ritm o co ntag iante e sedutor.
No caso de A nd ré San t’A nna, sua escrita assum e a aliena
ção e o estranham ento d ep o sitad o s na linguagem o ral de
personagens co m p letam ente co d ificad o s p o r seus papéis so
ciais. Todos, em burrecid o s e p reco nceituo so s, falam co m o
se fossem máquinas, sem p ro fund id ad e e sem interio rid a
de, valendo-se d e clichês e lug ares-co m uns incessantem en
te. Sant’Anna exp lo ra as rep etiç õ es aã infinit um , fo rjand o
um ritmo o ral em q ue a narrativ a é achatad a e banalizada
num esvaziamento exp ressiv o e na aleg re afirm ação de sua
condição id eo ló gica alienad a. Há aí um a clara o pção pela
paródia do univ erso e d a ling u ag em m id iático s, capaz de
aglutinar os p reco nceito s p o p ulares d a no ssa realidade pós-
modema co nsum ista, inv entariad a p o r simulacro s. No en
tanto, a narrativ a d e San t’A nna g anha fo rça po ética pela
qualidade da escrita, seu ritm o exaltad o , sua serialidad e
repetitiva e iro nia co ntag io sa, sua sup erficialid ad e d elibera
da e elíptica que no s d eixa co m a im p ressão co nstante de
perda de segredo e d e p ro fund id ad e. A ssumind o a condição
alienada, Sant’A nna p arece d ar realid ad e literária ao artifi
cio, numa esp écie de sup er-realism o d iscursivo no qual a
apresentação literária não to m a a realid ad e co m o o bjeto,
mas assume a realid ad e d o p ró p rio d iscurso numa constru-
Çào sem o bjeto exterio r, nem interio r subjetivo .
Nesse sentid o, é p o ssív el id entificar um parentesco en
tre a literatura d e SantVYnna e as exp eriências da po p- art
71
genealogia crítica mais co nv incente d o super-realismo de i
Andy W arho l, Hal Fo ster (1994) o b serv a co m o esse tip01
de realismo não se d eixa exp licar ad eq uad am ente por ne-1
nhum dos dois esquemas de co m p reensão predominantes i
na crítica das últimas d écad as: o m o d elo referencial, por un I
lado, e o simulacràl, po r o utro . O p rim eiro m o d elo entende I
as imagens e os signos co m o lig ad o s a referentes, a temas |
iconográficos ou a coisas reais, p ertencentes ao mundo da
experiência, e o segundo entend e to d as as im ag ens como
meras representações de o utras im ag ens, o que converte
todo o sistema de representação , inclu siv e o realismo, em
um sistema auto rrefeíencial. Mas, assim co m o Foster su
gere para7) caso de W arho l, p ro p o m o s aq ui que a prosa
de Sant’A nna, seu super-realismo p articu lar, deve ser lida
como simultaneamente referencial e sim ulacral, pois cria
imagens literárias que estão co nectad as à realid ad e, mas
também desconectadas e artificiais, afetiv as e firias, críticas b
e complacentes. Para Hal Fo ster, é exatam en te a possibili-1
dade de coexistência dos dois m o d o s d e rep resentação que ^
constitui o que ele d eno m inará “ realism o trau m ático ”. Sem r*
aprofundar 6 argumento de Fo ster, d ev em o s entend er que {J
sua leitura do trauma co m o um “ en c o n tro falho ” com o -í
real ganha amplitude para além d o s lim ites subjetivo s e in- H
dividuais, pois Foster sustenta que a exp eriência pós-indus-
trial promove uma cultura trau m ática que im p õ e o “encon-
tro falho” como cond ição g eral, e não circunscrita a esta sijj
ou aquela subjetividade. D iante d essareãlid ad e, a represen- j j
tação passa a ser entend id a co m o um a c o nstrução (tela. |
anteparo, biombo) que exib e e esco nd e ao m esm o temp0 f
A representação nos guarda e p ro teg e co ntra o real em su3
manifestação mais co ncreta (v io lência, so frim ento e mortal
e, num mesmo golpe, ind ica e ap o nta p ara o real, na &
criação de alg uns d e seu s efeito s co m o efeito s estético s.
Central para a leitu ra d e F o s t e r é i co m p reensão da repe
tição que, para ele, no s rastro s d o p ensam ento de Lacan,
não será apenas W iederk ehr, um a rep etição do recalcad o em
sintoma ou sig nificante, m as W iederho lung , um a rep etição
compulsiva do enco ntro trau m ático co m o real, algo que
resiste à sim bo lização , e q ue não co nstitu i nenhum signifi
cante senão o efeito , o to q u e (t uché , t ique) do real. Desta
perspectiva, a rep etição não d ev e ser v ista ap enas co m o re
produção, no sentid o d e rep resentação d e um referente ou
simulação de um a im ag em p ura, um significante isolado.
Mesmo que a rep resentação co ntinu e funcio nand o nessa
forma de rep etição , o u tra rep etição , a rep etição compulsi
va da significação, “ enq u ad ra” o real e ap o nta para seu efei
to traumático.
No ro mance 0 p araís o é b em b acana, um calham aço de
quase 500 páginas, p u blicad o em 2006, Sant’A nna realiza
um em p reend im ento d e fô leg o no relato de um garo to ,
Manuel dos Santo s, d e U batu ba, um talento nato do fute
bol que, apesar d e não co nseg u ir se ad aptar em lugar ne-
|nhum, de não entend er nu nca o que aco ntece a seu redor,
! vira jogador do clube H ertha Berlin, da A lemanha, onde se
! converte ao islam ism o , to m a-se M uham m ed Mané e, com
a finalidade de realiz ar o so nho d e um paraíso com 72 vir
gens à disposição, vira ho m em -bo m ba e se explod e sozinho
; no meio do cam p o d e fu tebo l. O relato gira em to m o da
! vida de Mané, um g aro to esq u isito d e Ubatuba que se tor
na um jo gado r m ais esq u isito aind a em Berlim, numa rea
lidade que nunca entend e realm ente e co m a qual nunca
consegue se co m unicar, nem se faz er entend er. Simulta
neamente, aco m p anha-se o d elírio de Mané quando, na
cama de ho spital, co m eça a sair da anestesia completamen-
73
te destruido pelo impacto da b o m ba, im ag inand o qUe 1
nalmente, tinha chegado ao p araíso . Há u m a espécie ^
autismo no narrador que faz co m que ele se cho que ince$. ■
>
74
pessoa que estaria p o r trás d a p rim eira. Desse modo, o des
d o bramento au to rreflexiv o d eixa de ag ir co mo um efeito
de persp ectiv a q u e d isting ue o mund o de sua representa
ção, mas pro d uz u m a d o bra d upla que dá densidade ao pró
prio artificio e en c o n tra u m cam inho inusitad o de realizar
o signo.
Em o utras narrativ as d o auto r, esse exagero reaparece
na ad o ção rad ical d o nív el d e falató rio e discursivo da rea
lidade m id iátic a c o ntem p o rânea, que é reto mado inco n
d icio nalm ente, co m o se transcrito ou gravado sem neces
sidade d e d istância. A ssim , a ling uag em literária não só
reproduz a ling u ag em d o lugar-co m um , mas articula-a me
canicam ente c o m o u m o b je to e d esafia sua superficiali
dade atrav és d e u m exag ero e afirm ação vertiginosos. Isso
aco ntece na n arrativ a d o liv ro Sexo , que se desepvolve
como se co nstruíd o p o r um p rim itiv o programa de compu
tação que estaria ag ru p and o elem ento s substantivos em
lugar de no m es p ró p rio s:
C om D etal h es V e rm e lh o s , (p. 2 6 0 )
76
alienação, o p era-se, na escrita de Sant’Anna, uma inversão
da alienação e d o estranham ento em potência afirmativa
— no lugar d a falta d e su jeito , aparece uma subjetividade,
e, em vez d o s c lic h ês banalizad o s e superficiais, sua repe
tição v ig o ro sa faz em erg ir a sensação de uma realidade,
traumática talv ez , into leráv el e d ificilmente significável.
A brutalid ad e d as p alav ras e a sobrecarga de descrições no
relato de A nd ré San t’A nna, produzidas e repetidas inces
santemente nu m excesso de significação, tendem a esva
ziar a ling uag em e to rná-la banal, apontando para um con
teúdo que as p alav ras já não conseguem simbolizar.
Na criação d e u m a realid ad e cotidiana estereotipada e
vulgar, su jeita à rep ro d u ção acelerad a dos objetos de con
sumo, a literatu ra te n ta, assim , injetar um mínimo nível
de d iferença, jo g an d o co m o utro s níveis de diferença e até
mesmo co m d uas séries o p o stas em contraste; no caso da
prosa de San t’A nna, a série habitual do consumo e as sé
ries instintiv as d e d estruição e mo rte. Dessa forma, a sua
literatura c o necta o nív el de estupidez e ignorância com o
nível da crueld ad e, d esco rtinand o , por baixo dessa consu
mação frenética, a v io lência e a mo rte. Esteticamente, sua
narrativa satura em ritm o d elirante as mistificações e fan
tasias que m o v em a so cied ad e de consumo num gesto re
petitivo, in sisten tem en te banal, abrind o, assim, a possibi
lidade de que um m ínim o d e d iferença finalmente possa
ser expresso.
Um novo regionalismo?
t u r a p o lic ia l n a c a d e i a , n a e n t r a d a d o n o v o s é c u l o . S e a vida I
n a Z o n a d a M a ta e r a m i s e r á v e l , a r e a l i d a d e d a f u g a , n a saga r
d e R u ffato , p a r e c e p i o r a i n d a , n ã o f o s s e p o r e x e m p l o s como í
a N elly, d e “E r a u m a v e z ” , q u e c o n s e g u e s e f o r m a r enfer-
m e ir a e , c o m o e s f o r ç o d o p r ó p r i o t r a b a l h o , m a n t é m unida i
a fa m ília , a p e s a r d o f r a c a s s o d o m a r i d o .
O u tro s u c e s s o l i t e r á r i o d a s ú l t i m a s d é c a d a s f o i cu n h ad o !
e m t o m o d o r e s g a t e n a r r a t i v o d a i d e n t i d a d e e s p e c í f i c a da !
re g i ã o d o A m a z o n a s , v i v i f i c a n d o s u a r i c a h i s t ó r i a e cultura j
q u e , p a r a g r a n d e p a r t e d o s b r a s i l e i r o s , c o n t i n u a s e n d o tão-
e x ó tic a q u a n to a c u ltu r a d e u m p a ís d i s t a n t e .
U m a m u l h e r v o l t a p a r a M a n a u s a p ó s u m p e r í o d o d e in
t e r n a ç ã o e m u m a c l í n i c a d e S ã o P a u l o e c h e g a à c a s a da
m ã e a d o t iv a , E m i l ie , p r e c i s a m e n t e l o g o a p ó s a s u a m orte.
E s c re v e n d o u m a c a r t a a o i r m ã o a d o t i v o q u e v i v e e m Bar
c e l o n a , a m u l h e r i n i c i a u m a l o n g a n a r r a ç ã o d a s m e m ó r ia s
de in fâ n cia, e n tre m e a d a p o r d e p o i m e n t o s e te s te m u n h o s
d e u m g r u p o d e p e r s o n a g e n s q u e t r a z e m d e v o l t a c e n a s da
v id a n o A m a z o n a s e o s a c o n t e c i m e n t o s t r á g i c o s d a histó
r i a d a f a m íl i a . M u it o s r e c o n h e c e r ã o p r o v a v e l m e n t e essa
d e s c ri ç ã o c o m o o i n í c i o d o e n r e d o d o r o m a n c e Relato de um !
l o , M ilto n H a to u m , c u j o l a n ç a m e n t o , e m 1 9 9 9 , d e s p e rto u
u m g r a n d e i n t e r e s s e e n t r e c r í t i c o s e l e i t o r e s . S e m e n t r a r na
d i s c u s s ã o d a s q u a li d a d e s n a r r a t i v a s , o r o m a n c e co n cilio u
u m leq u e d e te m a s e in te r e s s e s q u e g a r a n t i r a m s e u suces
so e q u e se d e sd o b ra ra m n o s r o m a n c e s s e g u i n t e s , Dois ir
mãos, Cinzas do Norte e Órfãos do Eldorado, d e 2 0 0 8 . Todos os .
r o m a n c e s f o r a m m u i t o p r e m i a d o s , o s t r ê s p r i m e i r o s rece
b e r a m o P r ê m i o J a b u t i d e M e l h o r L i v r o d e F i c ç ã o , e , cofl1
e les , H a to u m s e m d ú v id a c o n s o lid o u u m a v e r t e n t e n a
rativa b r a s i l e i r a a n t e s t i m i d a m e n t e r e p r e s e n t a d a. U m a e x
p l ic a ç ã o p a r a a p o p u l a r i d a d e d a l i t e r a t u r a d e H a t o u m e n
c o n tr a - s e n a c o n v e r g ê n c i a e n t r e u m c e r t o r e g i o n a li s m o
sem e x a g e r o s f o l c l ó r i c o s e o i n t e r e s s e c u l t u r a l i s t a n a di-
v e r s id a d e b r a s i l e i r a q u e , n a s ú l t i m a s d é c a d a s , s u b s titu iu
a t e m á t i c a n a c i o n a l . H a t o u m n a s c e u e m M a n a u s n o in ício
da d é c a d T d e 1 9 5 0 , n u m a f a m í l i a d e o r i g e m l ib a n e s a . Seus
avós e r a m d e B e i r u t e , c r i s t ã o s m a r o n i t a s , e s e u p a i c re s
c e u n o L í b a n o , a i n d a s o b o p o d e r c o l o n i a l f r a n c ê s . T a n to a
t ra d i ç ã o d a n a r r a t i v a á r a b e q u e H a t o u m h e r d o u d o av ô e
dos v i z i n h o s q u a n t o a i n f l u ê n c i a f r a n c e s a q u e s u a fa m ília
receb eu m a r c a r a m s u a f o r m a ç ã o e , p o s t e r i o r m e n t e , su a
li te ra t u r a . J á a d u l t o , e s t u d o u a r q u i t e t u r a e l i t e r a t u r a n a USP
e in icio u u m d o u t o r a d o n a S o r b o n n e , n a d é ca d a de 1 9 8 0 ,
t ra b a l h a n d o c o m a n o v a n a r r a t i v a l a ti n o - a m e r i c a n a . De c e r
ta m a n e i r a , e n c o n t r a m o s n o s r o m a n c e s d e H a to u m o re g io
n a l is m o a m a z o n e n s e , q u e s o b r e v i v e u n a s d é c a d a s d e 1 9 7 0
e 1 9 8 0 p o r i n t e r m é d i o d o s l i v r o s d e M á r c i o S o u z a — e n t re
tes á r a b e s n o B r a s i l , q u e s e c o m u n i c a c o m a s o b ra s d e
R a d u a n N a s s a r e S a l i m M i g u e l , e n t r e o u t r a s . A p e s a r d e su a
o b ra c o n t a r c o m a p e n a s d o is r o m a n c e s — Lavoura arcaica
(1 9 7 5 ), e Um copo d e cólera, d e 1 9 7 8 — e algu n s p ou co s co n
N assar f o i u m e s c r i t o r m a r c a n t e n a d é c a d a d e 1 9 7 0 , p e la
e x c e l ê n c i a a r t ê s a n a l d a e s c r i t a , a o d e s c r e v e r o c o n fl it o c u l
tu ra l n o s e i o í n t i m o d e u m a f a m í l i a l i b a n e s a o r to d o x a n o
in t e r i o r d e S ã o P a u l o . O c a t a r i n e n s e S a l i m M ig u el c h e g o u
ao B ra s il c o m a f a m í l i a a o s 3 a n o s d e id a d e , n a d é c a d a d e
1 9 2 0 , e t e m m a i s d e v i n t e l i v r o s p u b l i c a d o s , e n t re eles o
sab o ro so re la to Nur na escuridão , d e 1 9 9 9 , q u e l h e d e u pro.
je ç ã o n a cio n a l e c u j o t e m a é p r e c i s a m e n t e a tra je t ó r ia ^
fa m ília e d o s l ib a n e s e s n o B r a s i l . F i c a p o r t a n t o c l a r o qUç
H a to u m n ã o é o p i o n e i r o n a e x p l o r a ç ã o d o t e m a d a migra
ç ã o , d o s c o n f li t o s c u l t u r a i s e d o s s e n t i m e n t o s d e estrangej.
rid a d e . A lé m d o s j á c i t a d o s , t a m b é m a u t o r e s c o m o Samuel
R a w e t e M o a c y r S c l i a r t r o u x e r a m o u n i v e r s o j u d a i c o para
a r e a li d a d e n a c i o n a l , e N é l i d a P i n o n d e i x o u n o rom ance
l a , a s s i m c o m o J o s é C l e m e n t e P o z e n a t o g a n h o u visibili
ita l ia n o s e m S a n t a C a t a r i n a , t r a n s f o r m a d o e m f i l m e p o r Fá
b io B a r r e t o . P a r a n e n h u m d e s s e s a u t o r e s , e n t r e t a n t o , o re
c o n h e c i m e n t o t e m s i d o t ã o u n â n i m e q u a n t o n o c a s o de
c ia c o m o i n t e r e s s e q u e a c r í t i c a a c a d ê m i c a esp ecializad a
t e n t e d e estudo_s q u e e m p l a c o u n o B r a s i l n o f i m d a década
d e 1 9 8 0 , m u i t o i m p u l s i o n a d a p e l a f u n d a ç ã o d a A ssociação
B r a s i le i ra d e L i t e r a t u r a C o m p a r a d a ( A b r a l i c ) e p e l a orien
t a ç ã o p r e d o m i n a n t e e m d i r e ç ã o a o m u n d o a c a d ê m i c o ame
r i c a n o , q u e s e c o n s o l i d o u n a d é c a d a d e 1 9 8 0 . N e s s e con
te x to , fo rta le c e u -s e u m a d i s c u s s ã o e m t o r n o d e questões
h i s t ó ri c a s e h i s t o r i o g r á f i c a s e m q u e f o r m a s e x p e rim e n ta is
d a f i c ç ã o h i s t ó r i c a g a n h a v a m u m a n o v a i m p o r t â n c i a effl
d e t r i m e n t o d e u m a a n á l i s e m a i s e s t r u t u r a l o u e s t il í s t i c a de
c u n h o e u r o p e u . N e s s e m e s m o i m p u l s o , s u r g i u u m a aten
ç ã o r e n o v a d a s o b r e o s t r a ç o s d e i d e n t i d a d e s e m p e rs p #'
tiv as n a c io n a i s , m u l t i c u l t u r a i s , é t n i c a s e d e g ê n e r o j f
p u d e s s e m s e r v e r i f i c a d a s ( ^a n a l i s a d a s n ã o a p e n a s c o m o s>n
t o m a s d e c o n te ú d o , m a s t a m b é m c o m o f o r m a ç õ e s d isc ^
s iv a s a q u i a c u m u l a d a s s o b a f o r m a d e t r a ç o s lin g u ístico 5
híbridos n a o r a l i d a d e d o s r e l a t o s . A v o l ta a u m in teresse
por p a r t e d e u r n a c e r t a c r í t i c a , d o e x a u r i m e n t o d o e x p e ri
m e n ta li s m o m a i s t é c n i c o e f o r m a l . A o m e s m o t e m p o /h á
na n a r r a t i v a d e H a t o u m u m a a p r o x i m a ç ã o à h e ra n ç a lite
rária l a t in o - a m e r i c a n a q u e s e d e s e n v o l v e u d os ro m a n ce s
n a lism o b r a s i l e i r o , e m d i r e ç ã o à d e s c o b e r t a d o re a l m a
rav ilh o so e d o r e a l i s m o m á g i c o , t a l c o m o o c o r re u n o c o n
te x to c a r i b e n h o , n o f i m d a d é c a d a d e 1 9 4 0 , e q u e depois
li te r á r ia , p r i n c i p a l m e n t e n a v o n t a d e é p ic a d e c o n s t ru i r
um a b o a n a r r a t i v a , s e m a b r i r m ã o d a s e s t ru t u r a s co m p le
xas, e p ê ]õ ~p ü r s p é c t I v i s m o q u e m u l t i p l i c a o l h a re s T v O z è s ,
e n r i q u e c e n d o a s p o s s i b i l i d a d e s d e l e i tu r a . E m Relato de um
certo Oriente, p o r e x e m p l o , a n a r r a d o r a p a s s a a p alav ra a ou
tros q u a t r o n a r r a d o r e s , p r o d u z i n d o e l ip s e s e in c e rte z a s s o
bre a c o n s i s t ê n c i a d a m e m ó r i a q u e s ó é r e s g a t a d a p arcial
m e n te e n u n c a d e s p r o v i d a d a a m b i g u i d a d e n e c e s s á r ia à
sua n a t u r e z a f r a g m e n t á r i a . S e m r e c o r r e r a o s e x c e s s o s des-
boom l a t i n o - a m e r i c a n o , H a t o u m c o n s e g u e a b s o rv e r e m sua
ficção o e s p a ç o a m a z o n e n s e e r e l a t a r s e u s c o s t u m e s , sem
cair n u m e x o t i s m o h i p e r t r o f i a d o e v a l o r iz a n d o re fe rê n cia s
Precisas a o s f a t o s h i s t ó r i c o s .
to u e p en d u ro u o p ên is d o a n im a l n a p o rta d a m a l o ca . Aí a
a m u l h e r v o l ta s s e p a ra e l e . (p. 12)
e xp u l s ar e s s e f o g o d a a l m a . A g e n te n ão respira n o que
m e o l h an d o c o m o s e e u f o s s e u m m e n tiro s o . O m esm o
o uv ind o l e n d as ? (p . 1 0 3 )
Numa entrevista co nced id a a A id a Ram ezá Hanania2
em 1993, o autor se situa, insp irad o p o r W alter Benjai^
(1985), dentro de uma trad ição narrativ a que envolve Co.
merciantes-viajantes o rientais sem p re em trânsito pei0s
povoados e pelas vias fluviais do A m azo nas que também
traziam episódios ocorridos no p assad o d o Oriente Médio
por um lado, e, por outro, os am az o nenses sedentários que
vinham para a capital m anauense p ro vid o s d e lendas e de
mitos indígenas. Benjamin serv iria aí p ara evo car a pos
sibilidade de um narrador capaz d e tran sm itir uma expe
riência genuína, reco nstruir na narrativ a a essência da
aprendizagem humana extraíd a d a co nting ência histórica,
Poderia ser um resumo do p ro jeto literário d e Hatoum sua
vontade narradora, que se pro põ e co m o antíd o to moral ao
esvaziamento co ntemporâneo de sentid o , carregand o uma
certa nostalgia reativa, uma certa falta d e hum o r, que tal
vez o impeça de ser aquele g rand e fab u lad o r que Jorge
Amado foi, em alguns livros, cu ja p o tência po ssa liberara
ficção de um compromisso m o ral co m o entend imento do
passado e apontar para o futuro , p ara a lib eração de uma
certa vontade de viver p lenam ente.
0 miniconto
94
indicador n a m e sm a d ireção . No entanto foi Marcelino
Freire quem , e n tre nó s, co lo co u o m inico nto na ordem do
" dia, pro po nd o o d esafio d e escrev er um co nto com menos
? de 50 letras a u m a série d e auto res, resultand o no já citado
; Os cem m eno res co nto s brasileiro s do século (2004). Apesar da ini-
- ciativa p io neira, e p reciso insistir no s exemplos do passa-
do, d entre o s q uais enco ntram o s resultad os notáveis, como
^ as narrativas teleg ráficas d e Osw ald em M emórias sentimen-
Quintal
(p. 68)
96
vez em estilo m ais enxu to e d epurad o para extrair o máxi
mo de unid ad es m ínim as, cham ad as po r ele de haicais. No
prólogo de 1974, ano em que publico u o livro que marca
uma virad a em sua o b ra, 0 pássaro de cinco asas, o próprio
Dalton id entifico u o p ro cesso que, a partir desse momen
to, passou a m o b iliz ar sua escrita:
98
ge seu espaço tam b ém na ficção . Exemplo disso é o último
romance de Ferrez, M anual prático áo ódio, de 2003, e o seu
livro de co nto s N inguém é ino cente em São Paulo, de 2006. Em
alguns casos, esta sed e d e realid ad e se reflete em biografias
históricas e rep o rtag ens jo rnalísticas sem nenhuma inova
ção literária, co m o o recente livro de Caco Barcellos, Abusa
do, sobre o traficante M arcinho VP, a biografia de um trafi
cante da classe m éd ia cario ca, M eu nome não é Johnny, e, o
mais recente sucesso d e vend as, a autobiografia da garota
de pro grama Bru na Su rfistinha, O doce veneno do escorpião
a gente!”
100
de Rinaldo de Fernand es (2006). Aqui, fica claro que já não
; é mais po ssível av aliar o eng ajam ento ou o compromisso
1 com a realid ad e p ela o p ção tem ática e nem pelos conteú
dos esco lhido s, um a vez que a realidade marginal e perifé
rica foi há m u ito inco rp o rad a pelo d esejo espetacular, pela
linguagem m elo d ram ática e sentimental, e pela aceitação,
i por parte da crítica, d e um a linguagem neorrealista sim-
pies, que se cano niz o u e ago ra se reproduz dentro do do-
cumentarismo, d o cinem a e da prosa ficcional mainstream.
em Kormiga, no e s ta d o d e M in a s G e r a is , e m 1 9 3 6 , filho de
com o jo g o de e sp e lh o s e n t r e o e u q u e fa la e o “e u ” falado,
co m o efeito n o d is c u r s o , e n t r e u m o r i g i n a l e u m a cópia,
co n fian ça em u m n o v o c o n f e s s i o n a l i s m o , desconstruindo
m en te. No ro m a n c e d e S a n t i a g o , o a u t o r jo g a c o m os indi
rapêutica, p e la e s c r it a .
For o u tro la d o , p a r e c e a s u p e ra ç ã o de uma certa censu
i
rra um caminho e n tre o e s p a n t o t r a n s g r e s s i v o d a r e a lifa .
d e d o s fa to s , p o r u m l a d o , e o i n t i m i s m o e x p o s i t i v o , p0r
outro, em q u e a r e a l i d a d e d a s p a l a v r a s s e s o b r e p õ e às pa]a.
vras da r e a lid a d e , n o m o v i m e n t o d o d e s e j o e r ó t i c o que se
confunde com o m o v im e n to d a p r ó p r i a e s c r i t a . A narrati- 1
Os peri gos da fi c ç ão
chiro T an izak i, a o d i z e r q u e
126
ba rb á rie selv ag em n a Á frica profunda, mas, como é sabi
mo se nota em Os b ê b a d o s e o s s o n â m b u l o s , r o m a n c e no qual
132
seu m ovim en to é u m a in v ersão contínua dessas distinções
qUe ap arecem c o m o m e r o s efeitos prismáticos da rotação
¿0 cubo. H á, aq u i, u m a o u tra m itologia literária que per
mite realizar e v e n to s d a m e m ó ria e do imaginário social e
reviver o e n c o n tr o , ta lv e z fa tal, en tre Torquato Neto e Jimi
Hendrix, e s cu ta n d o a v e rsã o de “Helter skelter” do Álbum
bran co, dos B e a tle s, q u e te ria inspirado Charles Manson a
cometer o m a s s a c r e n a m a n sã o de Sharon Tate, em 1969.
Apesar das fa n ta sia s m a is deliran tes, bem no molde beatník,
adotando os m a ld ito s do sécu lo XIX, Terron traz esse uni
verso literário p a r a d e n tr o de u m a genealogia própria da
literatura b ra s ile ir a , j á n ã o definida pela nacionalidade,
nem pelo m o m e n to h istó rico . No m ais recente Sonho inter
rompido p o r g u ilh o t in a , de 2 0 0 6 , a m escla da ficção com en
saio p erm ite d e m a r c a r u m a “pequena família” anacrônica
que escap a às d e fin içõ e s de geração. Essas afinidades ele
tivas en volv em V a lê n cio Xavier, personagem em dois dos
contos, Jo sé A g rip p in o d e Paula, o Escritor sem Nome e
autor de P a n a m é r ic a e L u g a r pú b lic o , Raduan Nassar, Glau
co M attoso, D a lto n T rev isan e, ju n to com eles, um vasto
elenco de a rtis ta s in te rn a cio n a is , Duchamp, Gombrowicz,
Kafka, D ash iell H a m m e tt, N icolas Ray, ultrapassando, as
sim, fro n te iras tra d icio n a is p ara caracterizar o que se pode
esperar da c r ia ç ã o lite rá r ia hoje. Joca Reiners Terron rom
pe com to d as as te n d ê n c ia s trad icionais da literatura brasi
leira, escreve n o c a m p o m in ad o entre ensaio e ficção, usan
do en trevistas, d iá rio s , a n o ta çõ e s e fragmentos, sem abrir
mão da lib erd ad e im a g in á ria e do atrevimento transgressi-
vo na re a liz a çã o . N ão h á vo lta , já estamos do lado errado
da queda g lo b a liz a d a : “Eu resu m iria o drama contempo
râneo assim : n ã o p o d e m o s v o ltar para casa”, afirmou Ni*
c°las Ray, “c o m u m M arlb o ro nos lábios e ao volante de
ura Porsche Spyder em d isp a ra d a r u m o a o sol poente”
(Terron, 2006, p. 115). O que r e s ta é u m a lín g u a portugue-
sa em reconstrução e à e sp e ra d o e s c r it o r desconhecido
cuja obra megalomaníaca foi “m u d a r o n o m e de tudo, ob
jetos, seres e lugares” (p. 1 51). N ã o h á c a m in h o de volta e
não existe um futuro c la ro p a r a a l i t e r a t u r a co m o havia
para Kafka, Joyce, Pessoa e P ro u s t, e is o fu n d am en to de
uma vontade irrev eren te e v io le n ta d e exp erim en tação :
“Ao escritor contem p orâneo s o m e n te r e s t a s u a fé animal a
orientá-lo sem esperança n e m te m o r , a fé a n im a l que o
preserva da demência e o e s cr a v iz a à v id a ” (p. 177).
Uma outra voz, m u ito d ife re n te , m a s q u e ta m b é m colo
ca no centro de sua criativ id ade o d iá lo g o c o m a literatura,
pertence a Adriana Lisboa, e s c r ito r a c a r i o c a , fo rm ad a em
música e com pós-graduação e m L e tra s . L isb o a estre ou com
o romance Os fio s d a m e m ó r ia , e m 1 9 9 9 , e re c e b e u vários
prêmios e amplo re c o n h e cim e n to c r í t i c o p e lo s romances
Sinfonia em branco (2001), U m b e ijo d e C o lo m b in a (2 0 0 3 ) e Ra-
kushisha (2007), além de te r p u b lica d o u m liv ro de minicon-
Um sol vago de f in a l d e t a r d e m a n c h a v a o a s s o a l h o e t in
gia o rosto da jo v e m p o r tu g u e s a c o m u m a t o n a l i d a d e a c o
b reada e som bria, d is s i m u la n d o - l h e o s o l h o s b a i x o s . Sob
seu colo, o m ín im o cru c ifix o o s c ila v a s e g u n d o o v a i v é m dos
pulm ões. (1999, p. 36)
M arco o lh o u d e n t r o d o s o l h o s d e l a e d i s s e : v o c ê e s tá
b o n ita.
A q u ela f ra se lu m in o s a .
£ tr in ta s e g u n d o s p a s s a r a m . E t r ê s m e s e s , e t r ê s a n o s se
p a ssaram . E o u tr o s t a n t o s . E o s e s t i l h a ç o s d e s s a f r a s e lu m i
no sa g a n h a r a m o e s p a ç o , d e s c o m p o s t o s , a f i m d e se tr a n s
f o r m a r e m o u tr a c o isa , j á q u e n a d a , a b s o l u t a m e n t e n a d a , se
p e rd e , j á q u e tu d o e n g e n d r a t u d o m a i s . ( L is b o a , 2 0 0 7 , p. 90)
138
dância do b an al e d e im ag en s p o éticas já exauridas — “ Na
verdade, o s o lh o s m ap eav am o utro s lugares, vagavam den
tro dele, e c atav am c ac o s d e m em ó ria co m o uma criança
que co lhe c o n c h in h as n a areia d a p raia” (Lisboa, 2001, p. 9)
^ e a v o ntad e e p ro m e ssa d e lev ar a co nstrução da ima
gem p o ética a u m o u tro nív el, q ue po d emo s id entificar
com o inefáv el —
140
te para p reserv ar a id ealid ad e do amo r. Rapidamente, ini-
cia-se um a relaç ão tó rrid a e n tre os dois, sem que Anita sus
peite das v erd ad eiras in ten ç õ es d o am ante. Seduzida pelo
erotismo arreb atad o r d e H o ld en e sem mais recursos pró
prios, A nita m u d a-se p ara a sua casa, no bairro de Palermo,
e descobre q u e H o ld en é o líd er carism ático de um mis
terioso g rup o d o q u al faz e m p arte Ju anjo , um açouguei
ro sem cab elo s n e m p e lo s, Jo rg e Parsifal, Pepino, Esteban,
Vigo e a lind a Silv ia. Insp irad o s p o r um obscuro escritor
guatemalteco, Jú p ite r Irrisari, o grup o de escritores, em vez
de se p ro p o r a e sc re v e r as histó rias, passa a vivê-las.
142
para H o ld en, o f im d o enred o está escrito há muito tempo
e não há c o m o alte rá-lo , m as, p ara A nita, o fim tem de
ser su rp reend ente e n ão d eve ser revelado antes da hora.
Galera c o n stró i c o m m u ita habilid ad e a transformação na
vida de A nita e m fu n ç ão d a capacid ad e da personagem de
se co lo car e m c e n a e n q u an to tal. O que diferencia essa
mudança p esso al d as transfo rm açõ es psicológicas e intros
pectivas d a trad iç ão lite rária m o d erna é que o escritor ha
bilmente ab re m ão d e g rand es incursõ es em reflexões de
consciência ín tim a e, c o m eq uilibrio , elabora seu caminho
através d e u m e n re d o im p lacáv el em sua precisão e deter
minismo. A h is tó ria n ão e stá escrita como ocorreu, mas
está o co rrend o m e tic u lo sam e n te co m o se fosse escrita.
literatu ra so b re lite ratu ra co ntinua sendo um caminho
frequentad o n a p ro d u ç ão b rasileira contemporáñéaTfggs-
crever as o b ras d a trad iç ão u m de seus atalhos favoritos.
Como já fo i v isto , n ão h á nad a de novo nesse procedimen
to e, na m aio r p arte d o s caso s, o gesto traz embutido o re
co nhecim ento , m ais o u m en o s humild e, dependendo do
escritor, d e q u e to d o s o s q ue escrevem são leitores antes
de se to m are m au to re s, anõ es so bre ombros de gigantes
que, ao in c lu ir e m su a literatu ra suasjeferéncias literarias,
pagam um trib u to m o d esto . H o je, entretanto , vivendo nu-
rca cultura d a c o p ia, e m q u e a aura da origem há muito se
Perdeu, o e x e rc íc io d esse p ro ced im ento exige um cuidado
rc^ior, p o is, e m v ez d e p o ssib ilitar um recuo e urna apro- [
Priaçào p ro d utira, p o d e ten d er acap tu rar o autor nüma re- \
verência p arasitária e na sacraliz ação que esvazia a potèn- j
Cla de c o m p ree n são e d e crítica.
Quando Patrícia M elo escrev e seu último romance Jotms,
0 c° prom an ta (2008), a p artir de um conto de Rubem Fón
K 146
l
Capítulo 5
0S"00" em metamorfose ambulante
7 http://w w w .ranchocarne.org/pdf/dentes.pdf.
148
jentem ente d iv id id a em três m o m ento s: um garoto de dez
anos, ciclista u rb an o , arrisca um a alucinante corrida pelos
caminhos d e u m a cid ad e elabo rad a e dominada por sua
imaginação e p e ríc ia até ser interro m p id o por um tremen
do to m bo . O o u tro m o m e n to d iz resp eito à vida de um
médico b em -su c ed id o , q u e em certa manhã parte para
uma v iag em ru m o ao A ltip lano Bo liviano, onde escalará a
montanha C e rro Bo n e te, u m d esafio arriscado proposto
por seu am ig o e p arc eiro Renan. Parte deixando em casa
mulher e filh a, e o le ito r aco m p anha sua viagem e refle
xões d urante n ad a m ais d o que duas horas. A terceira li
nha narrativ a v o lta-se p ara um ad o lescente de 15 anos, mo
rador da Esp lanad a, b airro o p erário de Porto Alegre, que
exp erimenta u m m o m e n to d e transição em sua vida, cons
trangido p elo d ifíc il eq u ilíb rio entre os desejos de aceitação
entre os am ig o s e o s esfo rço s p ara d elim itar suas próprias
metas e d esejo s. São trê s tem p o s e três durações muito di
ferentes, to d o s c o n v erg ind o p ara um momento de transe,
de êxtase e d e sin c ro n ia em que um nível dará sentido ao
outro o u ao s o u tro s. H ab ilm ente, Galera escreve no regis
tro da m em ó ria, seletiv a e o rd enad a, e do presente, inten
so e em ato , so b rep o nd o -o s co m o se fossem ordens para
lelas co m u m a in d ep en d ên cia inicial que logo se mostra
ilusória. Os trê s p erso nag en s e as três histórias em realida
de fo rm am u m a h istó ria única. Seus planos temporais con
vergem p ara u m ep isó d io trau m ático que envolve covardia,
^aição e ap ag am ento . Trata-se de um episódio que se tor
nara inv isív el p o r fo rç a d e um m ecanism o interno de sus
pensão, e q u e d em arc a claram ente a ruptura na vida de
Germano (o m e n in o e ad o lescente que se to m a médico), ao
^esmo tem p o em q u e exp lica sua ambivalência de vida, na
^ual sucesso e realiz aç ão se entretecem com uma simultâ
nea sensação de infelicid ad e e fru stração . C o m o no conto
de Borges “La otra m uerte”, ao heró i q ue fraq u ejo u na ba
talha de sua vida é o ferecid a um a seg und a ch an c e, e dessa
vez ele não perde a o p o rtu nid ad e d e afirm ar q u em ele
“realmente” é. No co nto de Bo rges, o h eró i m o rre duas ve
zes, primeiro como covard e e d ep o is c o m o heró i, m as, no
relato de Galera, co m p ro m etid o co m o realism o da lem
brança, a “m o rte” p rim eira é a p erd a d e alg o o b tu so no ca
ráter de um menino e, na segund a v ez , a “ m o rte ” co incid e
com o nascimento de um ho m em . Do p o n to d e v ista da
história, da co nstrução da narrativ a, o ro m an c e d e Galera
traz semelhanças co m o últim o ro m an ce d o g aú cho M ichel
Laub, 0 segundo tempo (2006). Laub tam b ém estreo u co m o
sucesso M úsica an terior (2001), seg u id o p o r Lon g e d a ág ua
(2004), todos pela Co m p anhia d as Letras. Su a narrativ a se
caracteriza por uma sensibilid ad e q u e c ap ta aco ntecim en
tos aparentem ente sem g rand e d ram aticid ad e; no relato
de 0 segundo tempo, a histó ria é co n stru íd a e m d o is plano s
de memória: o p rim eiro p lano , o c o n c re to , so b re o que
aconteceu dia 12 de fev ereiro d e 1989, q u and o o Grêmio
vai decidir o Campeonato Brasileiro c o n tra o arq u irriv al In
ternacional, no estád io Beira-rio , e u m seg u nd o p lano , das
consequências, se as intençõ es d o n arrad o r tiv essem sido
consumadas. Na histó ria d e Laub, o n arrad o r v ai lev ar o
irmão menor ao jo go , m as, em realid ad e, p lan e ja fug ir de
casa como fo rma de p ro testo c o n tra o d iv ó rcio d o s pais,
traindo, assim, a co nfiança d o m en in o . D esse m o d o , tam
bém se faz a construção do p assad o em d o is nív eis, no pla
no concreto de um dia e no p assad o an te rio r q u e se des
venda na med id a necessária p ara rev elar ao leito r as
motivações por trás dos ato s do p erso nag em . A ind a assim,
a reco nstrução é feita na p ersp ectiv a d o fu tu ro , p o is os
150
aco ntecimento s são relatad o s co m o partes de uma inten
ção que acab a n ão se realiz and o , dand o abertura para con
sequências q u e co n d u z em a narrativ a ao momento a par
tir do qual a h istó ria é co ntad a. Tanto o plano de fuga que
flão se realiz a q u an to as suas co nsequências ganham con
sistência d e realid ad e e, d esse m o d o , dois níveis do passado
se entrecru z am c o m d o is nív eis do futuro possível. No ro
mance de G alera h á u m c erto reto m o ao passado, quando,
no fim d o liv ro , o p erso nag em Herm ano volta ao bairro da
juventude e re e n c o n tra N aiara, irm ã do amigo Bonobo;
mas o p assad o n ão se recu p era e o enco ntro , agora entre
duas p esso as q u e se estran h am , exp ressa essa impossibili-
; dade. Não h á n e n h u m a lição , e “as memó rias que ainda
podem ser rec u p erad as, em b o ra já não signifiquem quase
nada na p rátic a” (G alera, 2006, p. 179). Contudo é impor
tante ressaltar q u e o m o d o co m o o enredo se constrói não
revela o traç o p e c u liar d a escrita de Galera, que tem a ver
muito m ais c o m a d ensid ad e e a p recisão de sua elaboração
do que c o m a e stru tu ra ro m anesca p ro priamente dita. Lon
ge de ser m in im alista, o texto d e Galera resulta compacto
; e sem d iv ag açõ es su p érflu as nem d escriçõ es desnecessá
rias. Em alg u n s m o m e n to s, a o bjetiv id ad e dos detalhes
apresenta se m e lh an ç a c o m v erbetes de dicionário ou ins
truções d e m an u al d e uso , co m o quando o narrador cede à
tentação d e e n trar n o s d etalhes técnico s de uma corrida de
I bicicleta, d e u m a c esarian a o u d e um a escalada de monta
nhismo. Há u m c e rto hip er-realism o nesse detalhismo, mas
nada nesse p ro c e d im e n to o v incula às ilusões representati
vas do m ero artifíc io d escritiv o . A qui, o detalhe preenche
0 relato c o m u m a c e rta necessid ad e que empurra a açáo
para a fren te, c o m o se fo sse um crescim ento natural. Na
ekbo ração d a tran sfo rm aç ão d e personalidade, que ocorre
no romance, a d inâm ica não p assa p ela c o n sc iên c ia refle
xiva, nem tem nela sua fo rça m o to ra, tu d o p arec e ser con
sequência de pequenas c o n tin g ênc ias, q u e fin alm en te ga
nham envergadura em g rand es aç õ es, e a transfo rm ação
se performatiza p lasticam ente na m aterialid ad e d o relato .
Não há espaço para d iscussão e x iste n c ial e m u ito menos
para momentos de hesitação e av aliação d as o p çõ es po ssí
veis, pois tudo se m etam o rfo seia c o m o q u e p o r necessid a
de intrínseca. Sublinham o s, aq u i, esse traç o c o m o essencial
para entend er o que p o d e u n ir v ário s d o s esc rito res mais
recentes, apesar de suas d iferenças em te m a e fo rm a. Des
faz-se a primeira im p ressão d e re alism o sim p les no caso de
Galera quando a leitura se p rend e à ev o lu ção d a histó ria
sem reco rrer ao esp etacular d o s ac o n te c im e n to s.
Um exem plo de o u tra re aliz aç ão d essa m e sm a fo rça
plástica pode ser enco ntrad o no s te x to s d e Santiag o Naza-
rian, que, preco ce co m o G alera, já te m q u atro ro m ances
publicados: Olívio (2003), A m o r t e s e m n o m e (2004), Fer iado de
mim mesmo (2005) e M as tig an do hu m an o s , d e 2006. Feriado
152
ração d o f e n ô m e n o d o d up lo , co m o em Hoffman, ou Poe,
Stevenson e D o sto iev ski, en tre outros. De novo a escrita pa-
rece ser u m lu g ar p o ssív el p ara a materialização da loucu
ra, e tanto a in tro sp e c ç ão q uanto o monólogo interior não
criam a ilu são d e u m a p ro fund id ad e psicológica do perso
nagem, m as m an ife stam a d ram atização do estranhamen
to que a c o n sc iê n c ia p o d e criar.
156
imagina se u m d ia co m e ças s e a ch o v er caralhos. Um monte
158
çã0 do te m p o e d o s p ro c esso s narrativ o s envolvidos, evi
denciados p e lo tra b a lh o c o m a linguagem. A realidade não
é o bjeto e x te rio r à fic ç ão , m as a p o tência de transforma
ção e d e c riaç ão q u e n e la se exp ressa. A té mesmo no retor
no a u m a n arrativ a in tro sp ectiv a, a consciência é insepará
vel de seu o b je to , e a n arrativ a p erfo rm atiza sua simbiose,
conferindo à se n sib ilid ad e subjetiv a uma natureza menos
psicológica e e x iste n c ial. N o ro m ance de estreia da jorna
lista C ec ília G ia n n e tti, Lu g ares qu e n ão conheço, pessoas que
nunca v i, d e 2 0 0 7 , v o ltam o s e não vo ltamos ao cenário ur
ch am ad a p o r n in g u é m , (p. 34-35)
160
pectador d ela, fu n cio n an d o co m o projeção e escudo simul
taneam ente. A n arrad o ra jo rnalista está no limite dessa du
pla face d a realid ad e u rb ana, po r um lado vivendo o tédio
da sensib ilid ad e anestesiad a do cotidiano e, por outro lado,
a crise trau m átic a d e u m a situação que, de repente, a de
sequilibra. Em v ez d e d escrev er e expo r a violência, o ro
mance c o n stró i su as co nseq u ências na percepção da narra
dora, q u e v ai p erd en d o d efinição e nitidez num processo
de d ec o m p o sição . Em certo s mo m ento s, a autora cede à
tentação d a e sc rita d ifíc il, a narrativ a abandona o leitor e
se to m a sin té tic a d em ais p o r falta de concretude na elabo
ração d as seq u ê n c ias. A p esar disso e de uma certa previsi
bilidade n o e n re d o trau m ático , o romance oferece um re
lato so b re a n ec e ssid ad e de esquecer. O encontro com o
presente é in su p o rtáv e l e a m em ó ria não oferece redenção.
Para su p erá-lo , a narrad o ra entend e que precisa deixá-lo
para trás o u su c u m b irá so b o seu peso. Ao abrir mão do
realism o re p rese n tativ o e d a tentação de descrever esse es
p etáculo c o m o é v iv id o o u co m o é reproduzido pela ima
gem m id iátic a, G ian n e tti evita confro ntar a imagem com
o texto . R ealiz a o q u e a literatu ra faz melhor, expressando
a realid ad e ao c riar relaçõ es e ações no tempo e no espaço
em im ag en s su g estiv as q ue, sem serem visualmente descri
tivas, se im p rim e m e no s fazem pensar.
I
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