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"No m istério d o Se m - Fim ,

equilibra-se um p la n e t a .
E, no p lan eta, um ja r d im ,
e, no jard im , um c a n t e ir o :
no canteiro, u m a v io le t a ,

Par quetenho i e, sobre e la , o d ia in t e iro ,


entre o p lan e t a e o Sem - Fim ,

m edo
a asa de u m a b o rb o le t a ."

Cecília M eireles em Verdes Reinos Encantados


Editora Salam an d ra, Rio d e Jan eiro , 1 9 8 8 .

de lhe dizer quem


OU?
JohnPoweN

EDITORA

29aedição
Por que t enho m edo d e lhe dizer quem sou?
D I G I T A LI Z A D O PO R PR. D A N I EL SO A R ES
Dados Int ernacionais de Cat alog ação na Publicação (CIP)
(Câm ara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Powell, John
Por que te nh o m e d o d e lhe dizer q u e m sou?: insights a re sp e ito d o
au toco n he cim e n to , do crescim ento pe ssoal e da com unic açã o interpessoal /jo h n
P ow ell: tradução C la ra Feldm an. - 2 9a e d . - B elo H orizonte: C resce r, 2012.
1. A m or p ró p rio 2. A utoco nfiança 3. Relações Interpessoais
I.T ítu lo . II.Título: In s ig h ts a re speito d o a u to c o n h e c im e n to , d o cres cim ento pessoal e
da com unicação interpesso al.
ISBN 85-85615-10-9
93-1895 C D D -158.1

índices para cat álog o sist em ático:


1. A m o i-p ró p rio : P sicologia aplicada 158.1
2. A u toco nfian ça : P sicologia aplicada 158.1
3. A uto -e stim a : P sicologia aplicada 158.1
Po r q u e t en h o m ed o
d e lh e d iz e r q u e m so u ?

Insights sobre o crescim ento pessoal

JO H N PO W ELL, S.J.

Tra d u çã o : Clara Feld m an

2 9a ed ição
Título do original em inglês:
W hy A m I Afraid to Tell You W h o I Am?
© 1969 Argus C om m unications.
A division of D LM , Inc.
Allen, Texas, U.S.A.

Concepção da capa:
Renata Feldman

Ca p a :
C lóvis M ello / H élb er Soares

Tradução:
Clara Feldman

Revisão:
D io n ic e Lupiano Dias O liveira

Colaboração:
A ltivo R. C oelho
Elieser C ardoso (Borboletário da Fundação
de Z o o b o tâ n ic a de Belo Horizonte)

Diagram ação:
Bits'

Direit os d e t radução em língua portuguesa:

Rua do O uro 1 0 4 conjunto 501 - S erra - CEP: 302 20-000


Fone: (3 1 ) 3221.9235 Fax: (31) 3227-0729
Belo H o riz o n te - Minas G e rais - Brasil
ed ito racrescer@ editoracrescer.co m .br
w w w .editora crescer.co m .b r
Co n t e ú d o

Pre f ácio 9

1. Co m p re e n d e n d o a co n d ição h u m an a 13

2 . Cre sce n d o co m o p esso a 35

3. Relacio n am en t o s in t erp e sso ais 47

4 . Lid an d o co m n o ssas em o çõ es 83

5 . M ét o d o s d e d efesa d o eg o 97

6 . Cat álo g o d e jo g o s e p ap éis 115


Pr e f ácio à 2 1 - e d içã o b r asile ir a

O relan çam en t o d o liv ro Po r Q u e Tenho Medo de


lhe Dizer Quem Sou? n o Bra sil, em su a 2 1 â ed ição -
ret rad u zid o , revisad o e co m n o vo p ro jet o g ráfico - é um
m arco na vid a d a Ed it o ra Cre sce r.
D esd e a su a fu n d ação , em 1 9 8 3 , sem p re so ub e q u e,
ap esar d o n o m e Crescer, n o sso cre scim en t o não seria no
sen t id o q u an t it at ivo . N u n ca fu i d ad a a m et as g ran d io sas
em term o s n u m érico s. Preferi sem p re esco lh as sim p les q u e
m e t ro u xessem sig n ificad o , sat isfação e realização , p esso al
e p ro fissio n al. Co m p art ilh ar, aju d ar o o u t ro , crescer co m o
p esso a e aju d ar o o utro a crescer - estas fo ram as m etas
q u e d eram , ain d a dão e, t en h o cert eza, co n t in u arão d an d o
sen t id o à m in h a vid a.
Q u an d o d esco b ri o livro co m o valio so in st ru m en t o
t erap ê u t ico e surg iu a Ed it o ra, sab ia q u e cresceríam o s
m u it o m ais em q u alid ad e d o q u e em q u an t id ad e. Sab ia
q u e nosso t rab alh o seria sim p les, art esan al, co n st ru íd o
d evag ar, co m u m a en o rm e d o se d e carin h o e afeto - q u ase
sem p re, co m en tu siasm o e p aixão .
Assim fo i co m a esco lh a d o p rim eiro t ít u lo d e Jo h n
Po w ell p u b licad o em 1 9 8 5 , Por Que Tenho Medo de lhe
Dizer Q u em Sou?, q ue p rat icam en t e lan ço u a Ed ito ra e a
t o rn o u co n h ecid a e re co n h e cid a - t a n t o no Brasil q u an t o

9
no ext erio r, esp ecialm en t e em Po rtu g al (o n d e m u it o s de
no sso s t ít u lo s já fo ram tam b ém p u b licad o s).
A o esco lh ê- lo , já co n h e cia seu s efeit o s b en éfico s
so b re as p esso as. Em fo rm a de ap o st ilas, ele já t in h a sid o
t est ad o e ap ro vad o co m clie n t es, est u d an t es e leit o res
em g eral. D ep o is d e p u b licad o , fo ram in ú m eras as cart as,
t elefo n em as e e - m ails receb id o s d e t o d o s o s can t o s do
Brasil (e d e o u t ro s p aíses t am b ém ). M en sag en s co m o ­
ven t es d e p ro fissio n ais, leig o s, p re sid iário s, in t ern o s em
ce n t ro s d e re cu p e ração p ara d ep en d en t es q u ím ico s,
p esso as d o s m ais v ariad o s n íveis in t e le ct u ais, d e id ad es
e p ro fissõ es as m ais d ive rsas. Co m o a m o ça d e Salvad o r,
q u e t rab alh ava n u m a casa d e fa m ília e q u e ap ro veit ava
alg uns fin s d e sem an a p ara visit ar o s p aren t es no sertão
b aian o . Seg u n d o e la (em su a cart in h a escrit a co m visível
d ificu ld ad e ), co st u m ava freq ü en t ar a liv raria d a ro d o viá­
ria en q u an t o esp erava a h o ra d e p eg ar o ô n ib u s. Q u an d o
lá d esco b riu Por Q u e Tenho M edo de lhe Dizer Quem
Sou? e n ão t en d o d in h e iro su f icie n t e p ara ad q u iri- lo ,
p asso u a visit ar a liv r a r ia p ara le r um p ed acin h o d e cad a
vez! A ssim , d e cid iu e scre v e r à Ed it o ra, p ed in d o q u e lhe
en viássem o s um e xe m p la r d e p resen t e p ara q u e p ud esse
t erm in ar a le it u r a ... D e sn ecessário d e screver a em o ção
geral p art ilh ad a p o r m im e p elo s f u n cio n á rio s, q u e se
ap ressaram em e n v ia r o exe m p lar so licit ad o .
E ch eg o u en t ão o m o m en to d e g estar n o vam en t e o
livro p ara fazê- lo n a sce r m ais b o n it o , m ais leg ível, m ais
co rret o - crescid o e m q u alid ad e, g ráfica e lit e rária.

10
A m ais g rat ifican t e d as t are fas fo i d ar à lu z a n o va
cap a. Co m o aco n t eceu em vário s o u tro s m o m en t o s im ­
p o rt an t es da Ed it o ra, p u d e co n t ar co m a co lab o ração d e
m in h a m ais se n sív e l, in can sável e co m p et en t e p arceira -
m in h a filh a Re n at a. Gest an d o seu p rim e iro f ilh o , ela
en g ravid o u t am b ém d a cap a e f e z n ascer a id é ia da b o r­
b o let a - "alg u ém " q u e co m eça co m o larva, fech a- se no
casu lo (p arecen d o t er m ed o d e n o s d izer q u em é ...) até se
t ran sfo rm ar n a m ais b ela b o rb o let a, sem m ed o d e se
m o st rar co m o é , em t o d a a su a in t eireza, in clu in d o um
co rp o n ão tão b o n it o , m as q u e faz ig u alm en te p arte d e
su a id en t id ad e e q u e não p recisa m ais esco n d er. Co m o
n ó s, seres hu m an o s q u e, ao reco n h ecerm o s no ssas b elezas
e aceit arm o s no ssas lim it açõ es, p erd em o s t am b ém o m ed o
d e d ize r q u em so m o s e no s t o rn am o s p esso as m ais au t ên ­
t icas, m ais p len as, m ais verd ad eiras.
E, co m o realm en t e n ad a é por acaso , en q u an t o
p rep arava a n o va e d ição , receb i d e p resente d e um am ig o
"A Lição da Bo rb o le t a" , b elo t ext o q ue co m p art ilh o co m
os leit o res neste p re fácio .

Clara Feldman
Belo H o rizo n t e, m arço d e 2 0 0 3

11
A Lição d a Bo r b o let a

O hom em observava o casulo há dias quando per­


cebeu que nele se abria um pequeno orifício. Durante horas,
a borboleta tentou fazer passar seu corpo pela abertura.
De repente parou, com o se não conseguisse ir adian­
te. O homem resolveu ajudá-la. Com uma tesoura cortou
o restante do casulo. A borboleta deixou- o facilmente. Mas
seu corpo era pequeno; estava murcho e as asas amassadas.
O hom em continuou observando. Esperava o m o­
mento em que as asas se abrissem e se esticassem para o
primeiro vôo.
Mas nada aconteceu. A borboleta rastejava, o corpo
murcho, as asas encolhidas. Jamais foi capaz de voar.
Ansioso para ajudar, o homem não sabia. Não conhe­
cia o processo da metamorfose que perm ite o vôo da bor­
boleta. Pois que é o seu esforço que lhe dá esta capacidade:
ao comprimir seu corpo pelo orifício do casulo, secreta a
substância necessária para esticar as asas e voar.
Como a borboleta, também nós precisam os de esfor­
ço muitas vezes em nossa vida. Sem obstáculos e a força
necessária para vencê-los, ficaríamos enfraquecidos. Jamais
seríamos capazes de voar.

A n ô n im o

12
1
Co m p re e n d e n d o a co n d ição h u m an a

" Q u ão b ela, q u ão inten sa e lib ert ad o ra é a exp eriên ­

cia d e ap ren d er a aju d ar o o utro . É im p o ssível d escrever a

n ecessid ad e im en sa q u e têm as p esso as d e serem real­

m en t e o u vid as, levad as a sério , co m p reen d id as.

A Psico lo g ia d e no sso s d ias nos t em , cad a vez m ais,

ch am ad o a a t e n çã o p ara esse asp ect o . Bem no ce rn e

d e t o d a p sico t e rap ia p erm an ece esse t ip o d e re lacio ­

n am en t o em q u e alg u ém p o d e falar t u d o a seu p ró p rio

re sp e it o , co m o u m a crian ça fala t u d o a su a m ãe.

N in g u ém p o d e se d esen vo lver liv re m e n t e n est e

m u n d o , n em e n co n t rar u m a vid a p le n a, sem sen t ir- se

co m p re e n d id o p o r u m a p esso a, p elo m e n o s...

A q u e le q u e q u iser se p erceb er co m clareza d e v e

se a b r ir a um co n f id e n t e , esco lh id o liv re m e n t e e m ere­

ce d o r d e t al co n f ia n ça .

O u ça t o d as as co n versas d est e m u n d o , tanto en t re

n açõ es q u an t o e n t re casais. São , na m aio r p art e, d iá lo ­

gos e n t re su rd o s" .

Dr. Paul Tournier, M .D .


Psiquiatra e autor suíço

13
D isse en t ão o Sen h o r D eu s:

“ n ão é b o m q ue
o ho m em est eja só ...”

( Genesis 2.18)
A PA LA V RA com un icação re fe re - se ao p ro cesso

p e lo q u al alg u é m o u alg u m a co isa t o rn a- se co m u m a

d u as o u m ais p esso as, o u se ja , é co m p a rt ilh ad a . Se

v o cê m e co n t a u m seg re d o , n ó s p o ssu ím o s o co n h e ­

cim e n t o d esse seg red o c o m u m , p o is v o c ê o co m u ­

n ico u a m im .

M as v o cê p o d e m e co m u n icar, se q u ise r, m u it o

m ais d o q u e ap e n as um d e se u s seg red o s. Vo cê p o d e

m e d iz e r q u em é , co m o p o sso lh e d ize r q u em so u .

A pessoa "real"

N a so cie d ad e d e h o je , t e m o s d ad o g ran d e ên fase

à a u t e n t icid ad e . Falam o s em co lo car m áscaras so b re a

f a ce d e n o sso " v e r d a d e ir o " e u e em re p re se n t ar p ap éis

q u e d isfarçam n o ssa p esso al r e a l. A im p licação d isso é

q u e , em alg u m lu g ar, d en t ro d e vo cê e d e n t ro de m im ,

est á e sco n d id o o n o sso eu r e a l.

Su p o st am e n t e , esse eu é u m a re alid ad e est át ica

e est ru t u rad a e h á m o m en t o s em q u e m e sin t o co m p e­

lid o a cam u flá- lo .

Ta lv e z h a ja alg u m a ju st if ic a t iv a p a r a essa m a­

n e ir a d e f a la r, m as a cre d it o q u e isso p o d e ser m ais

e n g an o so d o q u e b e n é f ic o . N ão há u m a p esso a r e a l,

v e r d a d e ir a e f ix a d e n t ro d e v o c ê o u d e m im , sim p le s­

m e n t e p o rq u e ser uma pessoa im p lica se m p re tornar-

15
se uma p e sso a est ar num processo. Se r u m a p esso a é
o que

p en so

ju lg o

sin t o

valo rizo

h o n ro

est im o

am o

d et est o

t em o

d e se jo

esp e ro

acre d it o

e m e co m p ro m e t o co m .

Estes são o s asp ect o s q u e d e fin e m a m in h a p esso a

em p ro cesso d e m u d an ça co n st a n t e . A n ão ser q u e m i­

n h a m en t e e m eu co ração e st e jam irre m e d iav e lm e n t e

b lo q u ead o s, t o d o s esses asp ect o s q u e m e d e fin em est ão

se m p re m u d an d o .

M in h a p esso a n ão é co m o u m n ú cle o ríg id o d e n ­

t ro d e m im ou u m a p eq u en a e st át u a p e rm an e n t e e f ix a ;

p e lo co n t rário , se r p esso a im p lic a u m p ro cesso d in â ­

m ico . Em o u t ras p alavras, se v o cê m e c o n h e ce u o n t em ,

p o r f av o r não p en se q u e so u a m e sm a p e sso a q u e v o cê

e n co n t ra h o je.

16
Exp e rim e n t e i m ais d a v id a, e n co n t re i n o vo s se n t i­

m en t o s n aq u e le s a q u em am o , so f r i, rezei e est o u d if e ­

ren t e.
Po r favo r, n ão m e at rib u a u m " v alo r m é d io " , fixo

e irrevo g áve l, p o rq u e est o u sem p re ale rt a, ap ro veit an d o

as o p o rt u n id ad es d o d ia- a- d ia. A p ro xim e - se d e m im ,

en t ão , co m u m sen so d e d esco b e rt a; est u d e m in h a f ace ,

m in h as m ão s, m in h a v o z e p ro cu re p elo s sin a is d e m u ­

d an ça: é ce rt o q u e m u d e i. M as, m esm o q u e vo cê re co ­

n h eça isso , p o sso est ar u m p o u co t em ero so d e lh e d ize r

q u em so u .

A condição humana

Co n sid e re a seg u in t e co n v e rsa :

A u t o r : "Est o u e scre ve n d o u m livro ch am ad o Por

Que Tenho M edo de lhe Dizer Q uem Sou?"


O u t r a p esso a: " V o cê q u e r u m a resp o st a à sua

p erg u n t a?"
A u t o r : "Est a é a f in a lid a d e d o liv ro , re sp o n d e r à

p erg u n t a" .
O u t ra p esso a: " M as vo cê q u e r a m in h a resp o st a?"

A u t o r : " É claro q u e q u e ro " .

O u t r a p esso a: " Ten h o m ed o d e lh e d ize r q u em

sou p o rq u e , se eu lh e d isse r q u em so u , v o cê p o d e não

g o star e isso é t u d o o q u e t e n h o " .

17
Se e xp o n h o a vo cê
m in h a n u d e z
co m o p e sso a,
n ão m e f a ç a s e n t ir
ve rg o n h a.
Esse p e q u e n o e xt ra t o fo i re t irad o d a v id a r e a l, d e

u m a co n v e rsa n ão p ro g ram ad a. Re f le t e um p o u co d o s

m ed o s q u e n o s ap risio n am e d as d ú v id as q u e n o s e n f r a ­

q u e ce m , im p e d in d o - n o s d e ca m in h ar p ara f r e n t e , em

d ireção à m at u rid ad e, à fe licid ad e e ao ve rd ad e iro am o r.

N u m t r a b a lh o a n t e r io r , d e n o m in a d o Po r Q u e

Tenho M edo d e Am ar?, t e n t e i d e sc r e v e r alg o a re sp eit o


d as d o res e cic a t r ize s h u m an as q u e b lo q u e iam o c a ­

m in h o p ara o v e rd a d e iro am o r. São as m esm as c ic a ­

t rize s, as m esm as d o res e m ed o s q u e b lo q u e iam o c a ­

m in h o p ara a v e rd ad e ira co m u n icação so b re a q u al o

am o r é co n st ru íd o .
D an d o co n t in u id ad e ao t rab alh o , q u erem o s d e s­

crever aq u i co m o essas m arcas e as d efesas q u e u sam o s

p ara no s p ro t eg er d e u m a v u ln e rab ilid ad e m aio r t en d em

a fo rm ar p ad rõ es d e ação e reação . Esses p ad rõ es p o d em

se t o rn ar t ão en g an o so s q u e acab am o s p erd en d o t o d o o

sen so d e id e n t id ad e e in t eg rid ad e. D e sem p en h am o s

" p ap é is" , u sam o s " m áscaras" e m o n t am o s "jo g o s" .

N en h u m d e n ó s d e se ja ser u m a frau d e o u v iv e r

u m a m e n t ira; n en h u m d e nó s q u er ser u m a p esso a falsa

o u fin g id a. M as o s m ed o s q u e e xp e rim e n t am o s e o s

risco s e n v o lv id o s n u m a a u t o c o m u n ic a ç ã o h o n e st a

p arecem - n o s t ão in t en so s q u e se t o rn a q u ase u m a ação

reflexa e n at u ral b u scar refú g io em n o sso s p ap éis, m ás­

caras e jo g o s.

19
D e p o is d e um ce rt o t em p o , t o rn a- se at é m esm o

d if ícil d ist in g u irm o s o q u e realm en t e so m o s do q u e m o s­

t ram o s ser, n u m m o m en t o q u alq u er d e nosso d e se n vo l­

vim e n t o co m o p esso a. Est e é um p ro b lem a h u m an o

t ão u n ive rsal q u e p o d em o s ch am á- lo , co m razão , d e

" a co n d ição h u m an a" .

Est a é , p e lo m en o s, a co n d ição n a q u al a m aio ria

d e nó s se en co n t ra e o p o n t o d e p art id a em d ir e ç ã o ao

cre scim e n t o , à in t eg rid ad e e ao am o r.

A análise transacional

O co n h e cid o p siq u ia t ra D r. Eric Be rn e , em seu

b est - selle r Jogos da Vida*, fa la d a " a n á lise t ran sacio n a l"

q u e é u m a an álise d a t ran sação so cial en t re d u as p esso as

q u e se e n c o n t r a m em d e t e r m in a d a sit u a ç ã o . H á o

" e st ím u lo t r a n sa c io n a l" (p o r e x e m p lo , u m a c r ia n ç a

d o en te q u e p ed e u m c o p o d 'á g u a ) e a " r e sp o st a

t ra n sa cio n a l" (a m ãe q u e o t r a z). A an á lise t ran sacio n al

t en t a d iag n o st icar o s ch am ad o s " e st ad o s d e e g o " d as

p esso as e m in t e ração (o e st im u la d o r e o resp o n d e n t e )

n o m o m en t o d a t ra n sa çã o . A su p o sição é q u e p o d e m o s

ag ir u san d o d if e re n t e s p a p é is o u est ad o s d e eg o em

d ife re n t e s in t e raçõ e s.

* N.T. Publicado no Brasil pela Livraria N ob el em 19 95.

20
Esses est ad o s p o d e m ser d iv id id o s em t rê s c a t e ­

g o rias: o Pai (q u e é su p e r io r , p ro t et o r e q u e , d e alg u m a

f o r m a , su p re a in a d e q u a çã o d o o u t r o ), o Adult o (q u e

é ad eq u ad o em si m esm o e q u e se re lacio n a co m o u t ro

a d u lt o d e ig u al p ara ig u al) e a Chança (q u e é in a d e ­

q u ad a e n e ce ssit a, p o rt a n t o , d e alg u m t ip o d e aju d a e

su p o rt e ). N en h u m d e n ó s p e rm an e ce f ixad o em q u a l­

q u e r d esses e st ad o s; p o d e m o s f lu t u a r d e um p ara o u ­

t r o , d e p en d e n d o d a sit u a çã o e d as n o ssas n ecessid ad es

n o m o m en t o .
Po r e xe m p lo , o h o m em q u e às vezes f u n cio n a

co m o Pai p ara seu f ilh o o u co m o Adu lt o p ara a esp o sa

o u só cio , é t am b ém ca p a z d e assu m ir (co n scien t e o u

in co n scie n t e m e n t e ) o est ad o d e eg o d a Criança. En ­

q u an t o se ap ro n t a p ara le v a r a m u lh e r ao t eat ro , o n d e

p ro v av e lm e n t e assu m irá o est ad o d e Pai ou A d u lt o , ele

p erg u n t a- lh e im p e t u o sam e n t e : " M ã e , vo cê sab e o n d e

est ão m in h as ab o t o ad u ras?" . A C r ia n ç a q u e est á d en t ro

d e le é at ivad a d e rep en t e p o r cau sa d e u m a n ecessid ad e

m o m en t ân ea e p o d e ser t ro cad a rap id am e n t e p o r um

d o s o u t ro s est ad o s, d e p e n d e n d o d e n o vas n ecessid ad es

f ísicas o u e m o cio n ais.

Po d e t am b ém a co n t e ce r q u e a esp o sa q u e ira e v i­

t a r q u alq u e r resp o n sab ilid ad e e su a Crian ça v e n h a à

t o n a . " Ih , Pai, se v o cê n ão sab e o n d e elas e st ão , eu

t am b ém n ão se i" . "A lin h a d e v e t o r" f ic a na h o rizo n t al

21
Po sso aju d á- lo a ace it ar- se
e a a b r ir - se
n a m a io r ia d as vezes
m e ace it an d o e
m e re v e lan d o p ara vo cê.
d u ra n t e essa t r a n sa ç ã o : u m a C r ia n ç a e st á se r e la ­

cio n an d o co m o u t ra C r ia n ç a .

Como som os programados para escolher "estados


de ego"

N a a p lic a ç ã o d e ssa t e o r ia , a e x p e r im e n t a ç ã o

clín ica co n sid e ro u q u e t o d o s n ó s so m o s cap aze s d e

assu m ir q u alq u e r um d esses estad o s d e ego e q u e fo m o s

p ro g ram ad o s p o r n o ssas h ist ó rias p sico ló g icas e in d i­

vid u ais p ara reag irm o s co m o Pai, A d u lt o o u Cria n ça

em ce rt as sit u açõ e s d a v id a . Essa p ro g ram ação resu lt a

d a asso ciação d e in f lu ê n cia s an t e rio re s em n o ssas vid as

(p ro g ram ação so cial) co m n o ssa re ação a elas (p ro ­

g ram ação in d iv id u a l). O s est ím u lo s d essas in flu ê n cias

an t erio res e d e n o ssas reaçõ e s est ão reg ist rad o s p ara

sem p re d e n t ro d e n ó s.

O o rg an ism o h u m an o p o ssu i alg o sem e lh an t e a

um g ravad o r p o rt át il q u e t o ca sem p re d e m an eira su ave,

m as in sist e n t e , d en t ro d e cad a u m . A f it a d esse g ravad o r

rep ro d u z a m en sag em d a m ãe o u d o p ai (ou d e o u t ro s).

A m ãe p o d e ain d a est ar d ize n d o : " N ão p recisa faze r

n ad a, f ilh in h a . D e ixa q u e a m am ãe lava o s p rat o s e

arru m a as cam as. V o cê p o d e ir b r in c a r " . Se a " f ilh in h a "

reag e a ce it a n d o o p ap e l d e e t e rn a cr ia n ç a , co n t in u a

b rin can d o q u an d o a d u lt a , esp eran d o ain d a q u e o s o u-

23
t ro s façam t u d o p o r e la , in cap az d e assu m ir q u a lq u e r

re sp o n sab ilid ad e .

O u o g rit o d o p ai p o d e est ar n o g ravad o r: " V o cê

n ão p rest a p ara n ad a, seu d e saje it ad o !" Se a cria n ça

n esse caso reag iu d o cilm e n t e , p o d e t o rn ar- se u m ad u lt o

m al h u m o rad o , d e se n co rajad o e d ize n d o p ara si m es­

m o : "Eu n ão p rest o p ara n ad a... Eu n ão p rest o p ara

n a d a ..."

As p ro g ram açõ es in d ivid u al e so cial t en d em a se

crist a liza r em p ad rõ es d e ação e re a çã o . N o g e ral, p o ­

d em o s p r e d ize r n o sso s p ad rõ es co m um alt o g rau d e

p recisão . D e p e n d e n d o d e no ssas n ecessid ad es f ísica s

o u e m o cio n a is d o m o m e n t o , a ca b a m o s assu m in d o

o s m esm o s jo g o s e p ap é is. Se vo cê co m p re e n d e o jo g o

co rre t am e n t e , isso o a ju d a a co n h e ce r o p ro g ram a.

Programação: quem vai dominar no psicodram a

D e n t ro d e cad a u m d e nó s há u m g ravad o r t o ca n ­

d o a t rilh a so n o ra d e u m p sico d ram a q u e se d e se n ro la

o t em p o t o d o . N o p alco est á o Pai (o u a M ãe ), a C r ia n ç a

e o A d u lt o . A M ã e ou o Pai t ran sm it e u m a m en sag em à

Cria n ça . Ela reag e à su a m an e ira. O A d u lt o , q u an d o

escu t a a m en sag em e v ê a reação d a Cr ia n ça , t em q u e

in t e rfe rir p ara co n f irm ar o u n eg ar a m en sag em . Ele t em

q u e se d e f e n d e r p o rq u e , caso co n t r á r io , o fu t u ro d a

24
p esso a e n v o lv id a será a p e n as v iv e r o p ro g ram a d o

p assad o .

Po r e xe m p lo , se o Pai d iz: " V o cê n u n ca vai c o n ­

seg u ir n ad a" , o A d u lt o t em q u e e n t rar e re p re e n d e r o

Pai: " Pare d e d ize r a essa cria n ça q u e e la n ão é b o a !" .

A co n t in u id a d e p o d e e d e v e ser q u e b rad a. A v id a t em

q u e ser alg o m ais além d e u m sim p les cu m p rir d e p r o ­

g ram as d o p assad o , e p o d e v ir a sê- lo se o n o sso A d u lt o

in t e rfe rir.

Q u an d o falam o s o u ag im o s, h á m o m en t o s em q u e

a M ãe o u o Pai d en t ro d e n ó s p red o m in a (a m en sag em

é in d e lé ve l e ap are ce em m u it as sit u açõ e s). Em o u t ro s,

a Cr ia n ça é q u em fala e , ain d a em o u t ro s, o A d u lt o .

A lg u m as v e ze s o Pai in t e rro m p e a c r ia n ç a , co m o : " O

d ia est á t ão b o n it o lá fo ra q u e eu t en h o vo n t ad e d e sa ir

e m e d iv e r t ir (C r ia n ça ), m as não se p o d e faze r se m p re

o q u e se d e se ja (Pa i)." N esse p o n t o , o A d u lt o p o d e

in t e rv ir e d e c id ir : "M as eu p reciso d e ar fresco e p re ciso

d isso ag o ra, d e m o d o q u e vo u sa ir" .

Em o u t ras p alavras, h á em cad a u m d e n ó s, a lé m

d o s vário s est ad o s d e eg o , um eu aculturado e u m eu

deliberado. É a m esm a d ife re n ça q u e e xist e en t re o eu


p ro g ram ad o e o eu d o A d u lt o in t e rve n ie n t e . A cu lt u ra

o u su b cu lt u ra em q u e vivem o s é u m a d as fo n t es d e

n o sso s p ro g ram as. É o q u e d et erm in a n o ssa reação em

alg u m as sit u açõ e s. Q u a n d o o b rig am o s o u t ro s a ag ir d e

25
M as, se eu lh e d isser q uem so u ,
vo cê p o d e n ão g o st ar, e
isso é t u d o o q ue t e n h o .”
aco rd o co m as re açõ e s esp erad as o u q u an d o ag im o s

d e aco rd o co m p ad rõ e s d e t e rm in ad o s p elo p assad o , é

o eu aculturado q u e e st á at u an d o . À m ed id a q u e a p es­

so a t o rn a- se m ais a d u lt a (m ad u ra), o eu d e lib e ra d o p re ­

d o m in a co m o re su lt ad o d a c o n v icçã o e in t eg ração p es­

so al. O se r h u m an o p le n o lib e rt a- se p o u co a p o u co d e

seu p ro g ram a e d e ixa d e ser u m " re at o r" p ara se r um

" a t o r " . Ele se t ran sfo rm a na p esso a q u e re alm e n t e é .

Refugiando-se nos jogos

O s "jo g o s" n est e co n t ext o n ão se refe re m e xat a­

m en t e a b rin cad e iras. São reaçõ es p ad ro n izad as a sit u a­

çõ es d e v id a , p ro g ram ad as p ara n ó s em alg u m p o n t o

d e n o ssa h ist ó ria p sico ló g ica, p e sso al. A lg u m as v e ze s,

esses jo g o s são m u it o ríg id o s p o rq u e t o d o m u n d o est á

jo g an d o p ara g an h ar alg u m a c o isa . Se q u ise rm o s al­

c a n ç a r u m a c o m u n ic a ç ã o h o n e st a co m o s o u t ro s,

e xp e rim e n t a r a su a r e a lid a d e , n o s t o rn ar in t eg rad o s e

cre sce r, é b o m q u e est ejam o s at e n t o s às n o ssas reaçõ es

p a d r o n iza d a s- a o s jo g o s q u e jo g am o s. Se no s t o rn arm o s

cien t e s d esses jo g o s, p o d em o s ab an d o n á- lo s.

Eles são q u ase sem p re p eq u en as m an o b ras q u e

u sam o s p ara e v it ar a au t o - re a lizaçã o e a au t o co m u -

n icação . São p eq u en o s escu d o s q u e carreg am o s à nossa

fren t e q u an d o e n t ram o s na b at alh a d a v id a ; e le s nos

27
p ro t eg em d a d o r e no s aju d am a g an h ar alg u n s p e ­

q u en o s t ro féu s p ara no sso s eg o s. Eric Be rn e ch am a esses

p e q u e n o s g an h o s d e ca r ícia s - p eq u en as v it ó rias o u

su cesso s q u e n o s t razem p ro t eção ou re co n h e cim e n t o .

O s jo g o s são v ariad o s p o rq u e as h ist ó rias p sico ló g icas e

o s p ro g ram as são ú n ico s; além d isso , h á u m a v arie d ad e

d e est ad o s d e eg o q u e p o d em o s e sc o lh e r p ara r e ­

p resen t ar, d e p e n d e n d o d as n ecessid ad es d o m o m en t o

e d a sit u ação d e v id a .

H á um asp e ct o co m u m a to d o s esse s jo g o s: a n u ­

lam o au t o co n h e cim e n t o e d est ro em t o d a a p o ssib i­

lid a d e d e u m a co m u n ica çã o h o n est a co m o s o u t ro s.

O p reço d a v it ó r ia é alt o ; é p eq u en a a ch an ce q u e a

p esso a t em d e e x p e r im e n t a r e n co n t ro s in t erp e sso ais

verd ad e iro s q u e vão levá- la ao cre scim en t o e à p len it u d e


d a v id a .

A m a io ria d e n ó s jo g a co m os o u t ro s em n o sso

co m p o rt a m e n t o h a b it u a l. N ó s o s le v am o s a re ag ir d a

m a n e ir a co m o g o st aríam o s q u e re ag isse m . Po r e x e m ­

p lo , p o d em o s n u n ca ch e g ar a ser p esso as a u t ê n t ica s

p o r q u e f o m o s d e t e r m in a d o s a se r c r ia n ç a s , in a ­

d e q u a d a s e c a r e n t e s. Tran sm it im o s n o sso s " sin a is d e

p ie d a d e " at ra v é s d o so m d e n o ssas v o ze s e d as e x ­

p ressõ e s d e n o ssas f ace s. C o n d ic io n a m o s o s o u t ro s a

re ag ir g e n t ilm e n t e co n o sco . Pare cem o s se r t ão d e sam ­

p arad o s co m o as c r ia n ç a s; d ia n t e d e n ó s, o s o u t ro s

28
Só posso saber
a meu respeito
aquilo que tive
a coragem de
confidenciar a você.
se t o rn am am áve is, seg u in d o as d ire çõ e s q u e d am o s

d o p alco .

O u t r a s p esso as, assu m in d o u m p ap el m e ssiân ico ,

in sist em em salvar o s o u t ro s o t em p o t o d o . Q u e rem

ser os " aju d ad o re s" e t ran sfo rm am em " aju d ad as" t o d as

as p esso as co m q u em se re lacio n am . A lg u m as v e ze s, a

et ern a c r ia n ç a se casa co m o M essias e os d o is jo g am

p ela v id a af o ra. Co m o o s d o is jo g o s se en t ro sam , as

co isas v ão f u n cio n ar m u it o b em e n en h u m d e le s jam ais

t erá q u e cre sce r.

Se ap e sar d o s m ed o s e in seg u ran ças (q u e no s le ­

vam a assu m ir vário s est ad o s d e eg o e a jo g ar vário s

jo g o s), p u d ésse m o s e n t r a r em co n t at o h o n est o co m

n o ssas e m o çõ e s e c o m u n ic á - la s h o n e st a m e n t e , o s

"sin ais d e p ie d ad e " o u a " m íst ica m e ssiân ica" se t o rn a­

riam ó b vio s p ara n ó s.

A e t e r n a c r ia n ça d e sco b riria q u e n u n ca se re la ­

cio n a b em co m os o u t ro s, a n ão ser q u an d o lh es t raz

seu d e sam p aro e seu s p ro b le m as; t am b ém o salvad o r

d e sco b riria q u e n u n ca se relacio n a b em co m as p esso as,

a n ão se r q u e elas e st e jam em d if icu ld a d e e d e sam ­

p arad as... e p re cisan d o d e le . Ser h o n est o co n sig o m es­

m o n essa sit u ação n ão é f á c il; re q u e r u m e xt rav asar d e

em o çõ es re p rim id as e o re co n h e cim e n t o d e seu v e r ­

d ad eiro sig n if icad o ; re q u e r a co m u n icação d essas e m o ­

çõ es a o u t ro s, co m o ve re m o s d e p o is.

30
É p o u co p ro vável q u e e xist a alg u é m q u e n u n ca

jo g a. Po rt an t o , se q u ero v e r as co isas co m o re alm e n t e

são e co m u n icá- las co m o são , d evo m e faze r alg u m as

p erg u n t as d if íc e is so b re o s p ad rõ es d e ação e re a ção

q u e em erg em em m in h a co n d u t a ; d e v o m e p erg u n t ar

o q u e esses p ad rõ es m e re ve lam so b re a m in h a p ró p ria

p esso a.

Será q u e in co n scie n t e m e n t e crio p ro b lem as p ara

g an h ar at e n ção ? Será q u e in sist o em r e d u z ir a s p esso as

co m q u em m e re lacio n o à cat eg o ria " d aq u e le s q u e p r e ­

cisam d e m in h a aju d a?" Será q u e m e m o st ro d e lica d o

p ara asseg u rar u m t rat am en t o am ável d o s o u t ro s? Est arei

u san d o o u t ras p esso as co m o t ran sfu são d e v id a p ara

m eu eg o fraco ? Estarei t e n t an d o im p ressio n ar o s o u t ro s

co m m in h a au t o - su ficiê n cia exat am en t e p o rq u e d u vid o

d e m eu v alo r co m o p esso a?

A ú lt im a seção d e st e liv r o é u m a list a d e alg u n s

d o s p ap é is m ais co m u n s q u e as p e sso as assu m e m ,

p e rm an e n t e o u o casio n alm e n t e . Po d eríam o s ch am á-

la d e um " cat álo g o d e jo g o s e p a p é is" . Essa se ção , n o

e n t an t o , n ão t em co m o f in a lid a d e o e n t re t e n im e n t o .

To d o s n ó s e x p e r ie n c ia m o s a c o n d iç ã o h u m an a d o

m ed o e d o seg red o . To d o s n ó s sab em o s alg u m a co isa

d o sig n ificad o d est a a f ir m a çã o : " M as, se lh e d ig o q u em

eu so u , v o cê p o d e n ão g o st ar d e m im e isso é t u d o o

q u e ten h o ".

31
Precisam o s d e u m m o m en t o d e v e rd ad e e d e

t ran sfo rm á- lo em u m h áb it o . D e vem o s no s p erg u n t ar

n a q u ie t u d e e n a p r iv a c id a d e d e no ssas m e n t e s e

co raçõ es: Q u e jo g o s eu uso ? O q u e esto u t en t an d o

esco n d er? O q u e p re t e n d o g an h ar?

M eu em p en h o em ser h o n est o co m ig o m esm o

d ian t e d essas q u est õ es será o fat o r d e cisivo e a co n d ição

essen cial p ara m eu cre scim e n t o co m o p esso a.

32
Uma pessoa em
crescim ento renova-se
a si mesma...
tão nova quanto
um novo dia...

Est u d e sua face


e su as m ão s
escu t e su a v o z...
p ro cu re p ela
m u d an ça.,
é certo
que ela mudou.
2
Cr e sce n d o co m o p esso a

N ESTA S PÁ G IN A S, f aze m o s re fe rê n cia co n st an t e

ao " cre scim e n t o co m o p esso a" e m u it o se rá d it o so b re

a n e ce ssid ad e d a co m u n ica çã o e d o e n co n t ro in t e r­

p esso al co m o m eio s p ara alcan çá- lo . É ao m esm o t em p o

co m p le xo e d if íc il t e n t ar d e sc r e v e r o sig n ificad o d esse

cre scim e n t o . É im p o ssível cit a r o exe m p lo d e u m a p es­

so a in t e iram e n t e cre scid a p o rq u e cad a u m d e nó s d e ve

cr e sce r na su a p ró p ria d ire ção , e não t o rn ar- se " co m o "

u m a o u t ra p esso a.

Q u e t ip o d e p esso a est am o s t e n t an d o no s t o r­

n ar? C a r i Ro g ers a d e n o m in a "p esso a fu n cio n an d o p le ­

n am e n t e " (Psychoterapy: Theory, Research and Practice,

1 9 6 3 ). N at u ralm e n t e , d esd e q u e t o rn ar- se u m a p esso a

é u m p ro cesso d in âm ico e d u ra t o d a u m a v id a , o cre s­

c im e n t o d e ve rá se r sem p re d e f in id o em t e rm o s d e

f u n ç õ e s. A b rah am M aslo w , o fam o so p sicó lo g o d a

B r a n d e is U n iv e r sit y , ch am a e ssa p e sso a d e " au t o -

re alizad a" e d e "p esso a in t eiram en t e h u m an a" .

35
Interioridade e exterioridade

A p esso a in t e ir a m e n t e h u m an a m an t é m um

e q u ilíb r io en t re in t e rio rid a d e e e x t e r io r id a d e . Tan t o

a p esso a m u it o in t ro v e rt id a q u an t o a m u it o e xt ro v e r­

t id a est ão fo ra d e e q u ilíb r io . A in t ro v e rt id a est á q u ase

q u e e xclu siv a m e n t e p re o cu p ad a co n sig o m e sm a; t o r­

n a- se o ce n t ro d e g ravid ad e em seu p ró p rio u n ive rso .

Po r cau sa d e su a p re o cu p a çã o co n sig o m e sm a, t o rn a-

se d e sat e n t a em r e la çã o ao vast o m u n d o à su a vo lt a.

A p e sso a m u it o e xt r o v e r t id a lan ça- se p ara f o ra , m o ­

v e n d o - se d e u m a d ist ração e xt e rn a p ara o u t ra . Su a

v id a n ad a t em d e r e f le x iv a e , co m o c o n se q ü ê n c ia ,

há p o u co ap ro f u n d a m e n t o in t e r io r. Co m o d isse Só ­

c r a t e s, " U m a v id a sem r e f le x ã o n ão v a le a p en a se r

v iv id a " . A p r im e ir a co n d içã o p ara o c r e scim e n t o é o

e q u ilíb r io .

Interioridade implica que a pessoa se explorou e


se experienciou. Ela est á c ie n t e d a v it a lid a d e d e seu s
se n t id o s, e m o çõ e s, m en t e e v o n t ad e ; n ão t e m e n em

d e sco n h e ce as at iv id a d e s d e se u co rp o e d e su as em o ­

çõ e s. Seu s sen t id o s lh e t raze m t an t o a b e le za q u an t o a

d o r, e a n en h u m a e la recu sa. É cap az d e e xp e rim e n t a r

t o d a a g am a d e e m o çõ e s, d a t rist eza à t e r n u ra . Su a

m en t e e st á viv a, n u m a b u sca p e rm an e n t e ; su a vo n t ad e

alca n ça cad a vez m a is o q u e é b o m e ao m esm o t em p o

36
sab o re ia o q u e já p o ssu i. Ela se escu t a e sab e q u e n ad a

em se u in t e rio r é m au o u am eaçad o r.

Interioridade im plica auto- aceitação. A in t e r io ­


r id a d e sig n ifica q u e essa p esso a in t e iram e n t e h u m an a,

re a liza d a e f u n cio n an d o p le n am e n t e , n ão est á ap e n as

cie n t e d e seu s d e se jo s e at iv id ad e s f ísica s, p sico ló g icas

e e sp irit u ais - e la t am b ém o s a ce it a co m o b o n s. Sen t e-

se à vo n t ad e co m seu co rp o , co m suas e m o çõ es, t an t o

t e rn as q u an t o h o st is, co m seu s im p u lso s, p en sam en t o s

e d e se jo s.
N ão ap en as est á à v o n t ad e co m o q u e já e x p e ­

rim e n t o u , co m o t am b ém est á ab ert a a n o vas sen saçõ es,

a re açõ e s e m o cio n ais d if e re n t e s e m ais p ro fu n d as, à

m u d an ça d e p en sam en t o s e d e se jo s. A c e it a q u e su a

co n d içã o in t e rn a p o ssa m u d ar co n st an t e m en t e, p o is o

cre scim e n t o é m u d an ça. Seu d est in o fin a l co m o ser h u ­

m an o , ou se ja, o q u e vai se t o r n a r ao f in al d e su a v id a ,

é a g r a d a v e lm e n t e d e sc o n h e c id o . N ão p o d e p re­

d e t e rm in ar p ad rõ es d e cre scim e n t o p ara si m esm a. Ela

n ão am b icio n a t ran sfo rm ar- se em q u alq u e r o u t ra p es­

so a, p o rq u e é e la m esm a; seu p o t e n cial, ren o vad o a

cad a d ia p o r n o vas e x p e r iê n c ia s, não p o d e ser d e fin id o

em n en h u m est ág io d e seu cre scim e n t o .

Ela aceit a o q u e é, f ísic a , em o cio n al e in t e le ct u al­

m e n t e . Sab e q u e aq u ilo q u e co n h e ce a seu resp eit o é

b o m ; sab e t am b ém q u e seu p o t e n cial é ain d a m aio r. É,

37
n o en t an t o , re alist a q u an t o às su as lim it a çõ e s; n ão f ic a

so n h an d o co m alg u ém q u e quer ser, n em p assa o re st o

d a v id a se co n ve n ce n d o d e q u e é essa p esso a. Ela se

e scu t a, se e xp lo ra e am a o q u e realm en t e é . E a ca d a

n o vo d ia , su a e xp e riê n cia d e si m esm a será t ão n o va

q u an t o o p ró p rio d ia , p o rq u e est á sem p re m u d an d o ;

re v e la- se n u m a p e rso n alid ad e t am b é m n o va a ca d a

m an h ã, em co n st an t e m u d an ça. Co n f ia em su as p ró ­

p rias h ab ilid ad e s e re cu rso s, e acre d it a q u e p o d e se

ad ap t ar e lid ar co m t o d o s o s d esafio s q u e a vid a lh e

ap re se n t a.

Esse t ip o d e au t o - ace it ação lh e p e rm it e v iv e r p le ­

n am e n t e , co n fian t e n aq u ilo q u e est á d e n t ro d e la, sem

m ed o d e q u alq u e r co isa q u e é o u p o ssa v ir a ser p art e

d e si m esm a.

Exterioridade implica que ela está aberta não ape­


nas ao seu interior, mas tam bém ao am biente que a
ce rca . A p esso a in t eira é aq u e la q u e e st ab e le ce um c o n ­

t at o sig n ificat iv o e p ro fu n d o co m o m u n d o à su a v o lt a .

N ão só escu t a a si m esm a, co m o t am b ém às vo zes d e

seu m u n d o . A ext en são d e su a p ró p ria e xp e riê n cia in d i­

v id u a l é in fin it am e n t e m u lt ip licad a p o r u m a em p at ia

sen sív e l q u e e xp e rim e n t a em relação ao s o u t ro s. Ela

so fre co m a d o r e se aleg ra co m a f e licid a d e . Ela re n asce

a cad a p rim ave ra e sen t e o im p act o d o s g ran d es m is­

t é rio s d a v id a: o n ascim e n t o , o cre scim e n t o , o am o r, o

38
A m elhor coisa
que t enho para
lhe oferecer
é sem pre
a verdade.
so frim e n t o , a m o rt e. Se u co ração bate co m o s e n a ­

m o rad o s e e la co n h e ce a aleg ria q u e está co m e le s.

Co n h e ce t am b ém a d im e n são d o d esesp ero , a so lid ão

d o s q u e so fre m sem a lív io ; e o s sin o s, quando t o cam ,

resso am d e m an e ira sin g u la r p ara e la .

" C r ie em m im , Se n h o r, um co ração q u e e scu t a " ,

re za o Salm ist a.

O o p o st o d essa ab e rt u ra é u m tipo d e p o st u ra

d efen siva em q u e a p esso a só escu t a o que q u er e scu t ar,

d e aco rd o co m suas e st ru t u ras p ré- co n ceb id as e co m

su as t e n d ê n cias, e só vê o q u e q u er ver. A^ essoa d e f e n ­

s i v a n ão co n seg u e cr e sc e r p o rq u e seu m undo n ão é

m aio r d o q u e e la p ró p ria e o cír cu lo d e seus h o rizo n t e s


est á fe ch ad o .

A exterioridade atinge seu ápice na habilidade de

dar amor livrem ente. D r. Karl St e rn , um p siq u iat ra d e


insig h ts p ro fu n d o s, d isse q u e a e vo lu ção do crescim en t o

h u m an o é a e vo lu ção d e u m a necessidade absoluta de

ser amado (in f ân cia) p ara u m a prontidão integral para


dar am or (m at u rid ad e ), co m v ário s estágios e n t re as
d u as. D iz o D r. St ern : " Em n o sso est ad o de u n ião p r i­

m ário (no in ício d e n o sso cr e scim e nto com o p e sso a),

so m o s eg o íst as - não e m p re st an d o a essa p alavra su a

co n o t ação m o ral co st u m e ira. O eu infantil ain d a é o id

(o t erm o d e Fre u d p ara d e sig n ar nossos im p u lso s e

am b içõ es) sem d if e r e n cia çã o d o ego (que se ad ap t a e

40
h arm o n iza o s im p u lso s p esso ais co m a re alid ad e , d e

aco rd o co m o sist e m a Fre u d ian o ); o id d o eu in fan t il

m o n o p o liza t u d o sem u m a co n sciê n cia ad eq u ad a d e

seu s p ró p rio s lim it e s. O s ato s d e u n ião d a p erso n alid ad e

m ad u ra são ab n eg ad o s, o u se ja , prescindem do eu ". *

A p esso a in t e ir a p o d e sa ir d e si m esm a, p o d e se

co m p ro m e t e r co m u m a cau sa; e ela o faz livrem ente.

N at u ralm e n t e , a p esso a in t e ira d eve ser liv r e . H á f ila n ­

t ro p o s en t re n ó s q u e d o am p art e d e su as p o sses e d e

seu t e m p o d e m a n e ira v ic ia d a o u co m p u lsiv a . Ele s

p arecem t er u m a n ecessid ad e q u e os d e ix a in q u ie t o s;

alg u m a cu lp a o u an sie d ad e q u e t ran sfo rm am em u m

ap e lo o b sessivo , levan d o - o s a p rat icar u m a b o a ação

ap ó s o u t ra. A p esso a in t eira sai d e si m esm a em d ire ção

ao s o u t ro s e a D e u s, não p o r cau sa d e u m t ip o d e n e u ­

ro se o b se ssivo - co m p u lsiva, m as d e m an eira livre e p ro ­

d u t iv a , sim p le sm e n t e p o rq u e esco lh eu f a ze r isso .

O filó so fo M art in H eid eg g er, d iscu t in d o as u n iõ es

d e am o r, m e n cio n a d u as arm ad ilh as q u e p o d em ab afar

o crescim en t o h u m an o : u m a sat isfação co m p lace n t e

q u e m an t ém u m a sit u ação já est ab e le cid a e , no o u t ro

e xt re m o , u m a at iv id a d e in q u ie t a , q u e p assa d e u m a

d ist ração p ara o u t ra à p ro cu ra d e algo m ais. O resu lt ad o ,

* Simpósio do Institute of M an sobre N eu rose e Crescim en t o


Pessoal, D uquesne University, Pittsburgh, Pa., 18 de novembro,
1966.

41
d iz H eid eg g er, é sem p re a au t o - alie n ação . N o am o r,

d evem o s p o ssu ir e d esfru t ar aq u ilo q u e t em o s e , sim u l­

t an e am e n t e , t e n t a r a lca n ça r e am ar t u d o o q u e p u ­

d e rm o s, o m ais p len am e n t e p o ssível. Est e é o e q u ilíb rio

alcan çad o p e la p esso a e n t re o "q u e é " e o q u e " p o d e


v ir a se r" .

A p esso a in t e ira, em seu am o r, n ão se id e n t if ica

co m aq u ilo q u e am a, co m o se o o b jet o d o am o r fo sse

u m m ero a cré scim o a su a p esso a. G a b r ie l M are ei, em

seu liv ro Being and Having, lam en t a q u e no ssa c i v i ­

liza ção nos e n sin e a t o m ar p o sse d as co isas, q u an d o

se ria m elh o r se n o s in iciasse n a art e d o d esap eg o , p o is

n ão h á lib e rd ad e n em v id a v e rd ad e ira sem a a p r e n ­

d izag em d o d e sp o jam e n t o .

A in t eg ra çã o da p er so n a l i d a d e im plica um
equilíbrio en t re interioridade e exterioridade. A n a ­
t u r e za h u m an a, ao co n t rá rio d o m u it o q u e já fo i d it o

so b re o assu n t o , é b asicam e n t e r a c io n a l. Ca ri Ro g ers

in sist e nessa p o siçã o , b asead a em v in t e e cin co a n o s

d e t rab alh o c o m p sico t e ra p ia . O h o m em n ão é u m a

f lo r e st a d e im p u lso s e d e se jo s ir r a c io n a is. Se f o sse

a ssim , ele n ão d e se ja r ia se r u m a p esso a p le n a . To d o s

n ó s so m o s ca p a ze s d e u m a d o se d e e x a g e r o ; p o d em o s

n o s vo lt ar m u it o p ara d e n t ro o u m u it o p ara fo ra. Po ­

d e m o s nos t o r n a r e scra v o s d o s p r a ze r e s d e n o sso s

se n t id o s, sem le v a r em co n t a n o ssa p a z d e e sp ír it o

42
o u n o ssa n e ce ssid ad e so cial d e am arm o s e n o s d o ar­

m o s a o u t ro s. O u p o d em o s e xag e rar, t o rn an d o - n o s

p risio n e iro s do in t e le c t o , vivo s a p e n as do p e sco ço p ara

cim a.

Q u a n d o o h o m e m v iv e p le n a m e n t e t o d as as

su as f a c u ld a d e s e h a r m o n iza t o d o s os seu s p o d e re s,

a n a t u r e za h u m an a v a i se m o st rar co n st r u t iv a e co n ­

f iá v e l. Em o u t ras p a la v r a s, co m o Ro g ers a ssin a la ,

q u an d o o h o m em f u n c io n a liv r e m e n t e , p o d e - se co n ­

f ia r em su a s r e a ç õ e s; e la s se r ã o p o sit iv as e co n s­

t r u t iv a s, p u xa n d o - o p ara c im a . Est e é um g ran d e at o

d e fé n a n at u re za h u m a n a , q u e p o u cas p esso as jam ais

a ssu m e m : se u m h o m e m est á v e r d a d e ir a m e n t e ab e r­

to a t u d o o q u e e le é e se f u n c io n a liv re e p le n am e n t e

co m t o d o o seu p o t e n c ia l (se n t id o s, e m o çõ e s, m en t e

e v o n t a d e ), seu co m p o rt am e n t o v a i h a rm o n iza r t o d o s

o s a sp e ct o s d esse p o t e n c ia l, d e m a n e ira e q u ilib r a d a

e r e a list a . Ele e st ará n o ca m in h o d o cre scim e n t o q u e

é o d e st in o d o h o m e m - n ão a p e r f e iç ã o , m as o cr e s­

c im e n t o .

Agir versus reagir

A pessoa inteira é um ator, não um reator. O

co lu n ist a Sid n e y H a r r is co n t a u m a h ist ó ria em q u e

aco m p an h ava u m am ig o à b an ca d e jo rn ais. O am ig o

43
cu m p rim e n t o u o jo r n a le ir o am av e lm e n t e , m as co m o

ret o rn o re ceb eu um t rat am en t o ru d e e g ro sseiro . Pe ­

g an d o o jo rn al q u e fo i at irad o em su a d ir e çã o , o am ig o

d e H arris so rriu p o lid am e n t e e d esejo u u m b o m fim d e

sem an a ao jo r n a le ir o . Q u an d o o s d o is am ig o s d e sce ram

p ela ru a, o co lu n ist a p erg u n t o u :

" Ele se m p re t e t rat a co m t an t a g ro sse ria?"

" Sim , in f e lizm e n t e é sem p re assim " .

" E vo cê é se m p re t ão p o lid o e am ig áve l co m

e le ?"

" Sim , so u " .

"Po r q u e v o cê é t ão ed u cad o , já q u e ele é t ão

in d e licad o co m vo cê ?"

"Po rq u e n ão q u ero q u e e/ e d e cid a co m o eu d e v o

a g ir " .

A im p licação d esse d iálo g o é q u e a p esso a in t e ir a

é " seu p ró p rio d o n o " , n ão se cu rv a d ian t e d e q u alq u e r

ve n t o q u e so p r a ; ela n ão est á à m ercê d o m au h u m o r,

d a m e sq u in h aria, d a im p aciê n cia e d a raiva d o s o u t ro s.

N ão são os am b ie n t e s q u e a t ran sfo rm am , m as.e la q u e

t ran sfo rm a o s am b ie n t e s.

M uito s d e nó s, in felizm en t e, nos sen t im o s co m o u m

b arco q u e flu t u a à m ercê d o s ven to s e d as o n d as. N ão

t em o s firm eza q u an d o os ven t o s se en fu recem e as o n d as

se en cresp am . D izem o s co isas d o tip o " ele m e d e ixo u

e n fu re cid o , v o c ê m e in co m o d a , seu co m en t ário m e

44
O se u m a is leve o lh a r
vai m e f a z e r,
f a c ilm e n t e ,
d e sa b r o c h a r a p e sa r
d e eu t e r m e
f e c h a d o co m o u m
p u n h o ce rrad o ,
v o cê m e a b re se m p r e
p é t a la p o r p é t a la
co m o a p r im a v e r a a b r e
(t o c a n d o d e le v e ,
m ist e r io sa m e n t e )
su a p r im e ir a r o sa .

e. e. cummings
em b araço u t errivelm en t e , esse t em p o m e d ep rim e, esse

t rab alh o m e ab o rrece, só d e vê- lo fico t rist e " .

Rep arem q u e t o d as essas sit u açõ es estão fazendo

alguma coisa com igo e com minhas em oções. N ad a t e n ho


a d ize r so b re m in h a r a iv a, m in h a d ep ressão ou m in h a

t rist eza. E, co m o to d as as p esso as, m e co n t en t o em cu lp ar

o s o u t ro s, as circu n st ân cias, a falt a d e so rt e. A p esso a

in t e ira, co m o Sh ak esp eare a d escreve em Julius Caesar,

sab e q u e: "A fa lh a , caro Bru t u s, n ão est á nas est relas,

m as em nó s m e sm o s..." Po d em o s no s levan t ar acim a d a

p o eira d iária q u e nos su fo ca e no s ce g a; é exat am en t e

ist o q u e é p ed id o a cad a u m d e nó s em no sso p ro cesso

d e crescim en t o co m o p esso a.

N ão se t rat a aq u i d e su g erir a repressão d e e m o ­

çõ e s o u a n eg ação da p le n it u d e d a v id a e m no sso s se n ­

t id o s e em o çõ e s. A su g est ão é equilibrar e integrar as

e m o çõ es. N a p esso a in t e ira m e n t e v iv a n ão p o d e h av e r

n em o en t o rp e cim e n t o n em a en t reg a in co n d icio n al

ao s sen t id o s e em o çõ es.

A p esso a in t eira e scu t a e est á em sin t o n ia co m

seu s sen t id o s e em o çõ es, m as a re n d ição a eles sig n if i­

ca r ia ab d icar d o in t e le ct o e d a e sco lh a ; e são e x a t a ­

m en t e essas facu ld ad e s q u e t o rn am o s seres h u m an o s

alg o além d e an im ais irracio n ais e alg o aq u é m d o s an jo s.

N u m o u t ro t ó p ic o , vam o s f a la r m ais so b re a co n ciliação

d o s sen t id o s, em o çõ es, in t e le c t o e v o n t a d e .

46
3
Re lacio n am e n t o s in t erp esso ais

H A RRY STA CK SU LLIV A N , u m d o s m ais e m i­

n en t es p siq u iat ras d o re lacio n am e n t o in t erp esso al d e

n o sso s t e m p o s, p ro p ô s a t e o ria seg u n d o a q u al t o d o

cre scim e n t o , lesão e reg ressão , assim co m o a cu ra d a

p esso a, re su lt am d e seu re lacio n am e n t o co m o s o u t ro s.

H á um a su p o sição p ersist en t e e e rrô n e a d e q u e p o ­

d em o s re so lv e r t o d o s o s n o sso s p ro b lem as e co m an d ar

in t e iram e n t e n o ssa v id a , m as a v e rd a d e é q u e so zin h o s

so m o s a p e n a s co n su m id o s p o r n o sso s im p asse s e

n au frag am o s. A q u ilo q u e so u , a q u a lq u e r m o m en t o d a

m in h a v id a , se r á d e t e r m in a d o p o r m eu s r e la c io ­

n am en t o s co m aq u eles q u e m e am am o u se recu sam

a m e am ar; co m aq u eles a q u em am o e a q u em m e

recu so a am ar.

É ce rt o q u e um re lacio n am e n t o só será b o m n a

m edida em que for boa a sua com unicação. Se eu e


v o cê p o d em o s no s d ize r h o n est am en t e q u em so m o s -

o q u e p e n sam o s, ju lg am o s, se n t im o s, v a lo r iza m o s,

am am o s, re sp eit am o s, est im am o s, o d iam o s, t em e m o s,

d e se ja m o s, e sp e ram o s, acre d it am o s e nos co m p ro -

47
m et em o s co m - só en t ão cad a um d e n ó s p o d e ser

realm en t e o q u e é , d ize r o q u e realm e n t e p en sa, e x ­

p ressar o q u e re alm en t e se n t e , falar d a q u ilo q u e r e a l­

m en t e am a. Est e é o v e r d a d e ir o se n t id o d a a u t e n ­

t icid a d e co m o p esso a: q u an d o o m eu e xt e rio r re fle t e

v e rd ad e iram e n t e o m eu in t erio r. Sig n ifica q u e p o sso

se r h o n esto n a m in h a co m u n icação co m o s o u t ro s. E

só p o sso co n seg u ir isso se vo cê m e aju d a r. A n ão ser

q u e vo cê m e a ju d e , n ão co n sig o cre sce r, o u ser f e liz ,

o u t o rn ar- m e in t e iram e n t e v iv o .

Preciso se r liv re e ca p a z d e r e la t a r m eu s p e n ­

sam en t o s a v o c ê , f a lar so b r e m eu s ju lg am e n t o s e v a lo ­

r e s, exp o r m e u s m ed o s e f ru st raçõ e s, ad m it ir m eu s

fracasso s e v e rg o n h as, c o m p a r t ilh a r m in h as v it ó r ia s,

an t es q u e eu p o ssa est ar realm e n t e ce rt o d aq u ilo q u e

so u e d aq u ilo q u e p o sso v ir a ser. Pre ciso ser cap az d e

lh e d ize r q u em so u p ara q u e eu m esm o p o ssa sab e r

q u em so u . E p re ciso sab e r q u em so u p ara q u e p o ssa

ag ir c o e r e n t e m e n t e , o u se ja , d e a c o r d o co m m eu
verd ad e iro e u .

A relação sujeito-objeto versus o "encontro"

N a lin g u ag em d a Psico lo g ia Ex ist e n c ia l, " e n co n ­

t ro " d escreve u m a re la çã o e sp e cial e n t re d u as p esso as.

O co rre q u an d o essas p esso as at in g em u m a v e rd ad e ira

48
co m u n h ão o u co m u n icação . U m a e xist ê n cia est á se c o ­

m u n ican d o co m a o u t ra, u m a e xist ê n cia e st á co m p ar­

t ilh a n d o co m a o u t ra. G ab rie l M aree i ch am a esse r e la ­

cio n am en t o d e " co m u n h ão o n t o ló g ica" , u m a fu são v e r ­

d ad e ira en t re d u as p esso as. Para ilu st rar o q u e isso sig ­

n if ica , M areei e xp lic a q u e, n o g e ral, n o ssas em o çõ es e

sim p at ias não aflo ram q u an d o n o s d e fro n t am o s co m o

so frim e n t o d as o u t ras p esso as n o d ia- a- d ia. Po r alg u m a

razão , n ão co n seg u im o s re sp o n d e r a e la s; é co m o se ,

sim p le sm e n t e , n ão exist issem p ara n ó s. M as se lerm o s

a cart a d e um am ig o q u e est á a m ilh as d e d ist ân cia,

co n t an d o - n o s so b re alg u m a d o e n ça o u acid e n t e , f ic a ­

m o s ju n t o d ele im e d iat am e n t e co m o se fô ssem o s u m a

só p esso a, so fre n d o co m e le ; ficam o s a seu lad o sem

q u a lq u e r re st rição .

D e aco rd o co m M art in Bu b e r, o filó so fo ju d eu d a

in t e rp e rso n alid ad e em seu liv r o l-Thou, é at ravés d o

e n c o n t r o q u e o o u t ro d e ix a d e ser u m in d iv íd u o

im p e sso al, u m " e le " o u " e la " , m as t o rn a- se u m " v o cê "

se n sív e l e p ró xim o d o m eu " e u " .* A o u t ra p esso a t o rn a-

se, d e u m a m an e ira m ist e rio sa e q u ase in d e f in ív e l, u m

ser e sp e cial d ian t e d o s m eu s o lh o s, p art e d o m eu m u n ­

d o e p art e d o m eu e u . A t é o n d e isso é p o ssíve l, en t ro

n o m u n d o d e su a re alid ad e e e la en t ra n o m u n d o d a

* Eu e Tu, publicado no Brasil pela Cent auro Editora, São Paulo,


2001.

49
m in h a. H á u m a e sp écie d e fu são , ap esar d e cad a u m

p e rm an e ce r co m o seu p ró p rio e u , d ist in t o d o o u t r o .

Co m o e scre v e e .e . cu m m in g s:

" U m n ão é a m et ad e d e d o is. O s d o is é q u e são

m et ad e d e u m " .

O am ig o co m q u em m e e n co n t ro n ão é m ais a l­

g u ém q u e est á " lá em alg u m lu g ar" , q u e serve ao s m eu s

p ro p ó sit o s o u q u e p e rt e n ce ao m eu clu b e , o u q u e t r a ­

b alh a co m ig o . N o ssa re lação n ão é m ais d o t ip o su je it o -

o b je t o ; e xp e rie n ciam o s u m a co m u n h ão o u ju n t id ad e

m ist e rio sa, p o rém v e rd a d e ira . É a isso q u e o s p sicó lo g o s

e xist e n cia is ch am am d e " e n c o n t r o " . E a co m u n icação

h o n est a é a su b st ân cia d e q u e é fe it o esse en co n t ro .

O n d e e xist e um e n co n t ro v e r d a d e ir o , e est am o s

d ize n d o q u e isso é ab so lu t am en t e e sse n cial ao c r e sc i­

m en t o h u m an o , a p re o cu p ação d as p esso as não é t an t o

co m p ro b lem as e so lu çõ e s, m as co m a co m u n h ão e a

p a rt ilh a . A b ro a m im m e sm o e ao m eu m u n d o p ara

v o cê en t rar e v o c ê se a b r e e ao seu m u n d o p ara eu

e n t rar. Perm it o a vo cê m e e xp e r ie n c ia r co m o p esso a

em t o d a a m in h a p le n it u d e , co m o p o sso e xp e rie n c iá -

lo t am b ém d essa m a n e ira. E, p ara isso , p re ciso lhe d iz e r

q u em so u e v o cê d e ve m e d ize r o m esm o a seu resp eit o .

A co m u n ica ç ã o é o ú n ico ca m in h o p ara a co m u n h ão .

É p o r isso q u e p sicó lo g o s co m o Erich Fro m m

d ize m q u e n ão co n se g u im o s am ar alg u ém sem q u e isso

50
n o s le v e a am ar m u it a s o u t ras p e sso as. Se n o s c o ­

m u n icam o s um co m o o u t ro a p e n a s em n ív e l su je it o -

o b je t o , p ro v a v e lm e n t e vam o s n o s c o m u n ic a r co m o s

o u t ro s, e m esm o co m D e u s, no m esm o n ív e l. V am o s

p e rm a n e ce r co m o su je it o s iso la d o s; os o u t r o s, e t a m ­

b ém D e u s, vão p e rm a n e ce r co m o m ero s " o b je t o s" em

no sso m u n d o , e n ão co m o e x p e r iê n c ia s. A n ão se r

q u e t e n h a sid o t o cad a p o r um e n c o n t r o , a p esso a v a i

t er su p o st o s am ig o s e u m a su p o st a fé (u m t ip o d e

re lação co m D eu s) ap e n as p o rq u e é isso q u e se esp e ra

d e la. Se u s re la cio n a m e n t o s serão a m e n id a d e s so c ia is

e n ad a m a is. N ão h a v e r á n eles q u a lq u e r sig n if ica d o

p esso al.
O m u n d o d e u m a p esso a assim é feit o d e o b jet o s,

d e co isas a serem m an ip u lad as, fo n t es d e d ist ração e

p razer. Su as p o sses p o d em ser valio sas e b o n it as o u

p o d em se r co m u n s e b arat as, m as a p esso a est ará só .

Ela ch e g ará ao fim d a v id a sem jam ais t e r v iv id o . O

p ro cesso d in âm ico d e " se r p esso a" v ai se t o rn ar e st át ico ,

co m o en t u lh o s flu t u a n d o em ág u a p arad a. Q u a n d o o

p ro cesso d e ser p esso a é rep rim id o , a vid a se t ran sfo rm a

n u m g ran d e t é d io . Se as arest as d esse p ro cesso são

ag u d as, a vid a p o d e t o rn ar- se m u it o d o lo ro sa. H ave rá

a n ecessid ad e d e est ím u lo s art if iciais e d e cu rt a d u ração

a q u e ch am am o s " p ic o s" , p eq u en as t en t at ivas d e fu g ir

à v id a, p eq u en as " v iag e n s" num esfo rço p ara e sca p a r á

51
in exo rável in t ro m issão d a realid ad e e d e fu g ir à so lid ão

b ásica d a p esso a q u e n ão tem am ig o s d e v e rd a d e .

A v id a h u m an a t em su as le is e u m a d e las é : d e v e ­

m o s usar as co isas e am ar as p esso as. A p esso a q u e v ive

t o d a u m a v id a no p lan o su je it o - o b je t o d e sco b re q u e

am a as co isas e usa as p esso as. Est á d ecret ad a a sen t en ça

d e m o rt e p ara a f e licid a d e e a p le n it u d e h u m an a.

O encontro interpessoal e os cinco níveis de


com unicação

A lg u ém d ist in g u iu d e m an eira h áb il cin co n íveis

d e co m u n icação at rav é s d o s q u ais as p esso as p o d em

se re lacio n ar u m as co m as o u t ras. Talv e z p o ssam o s co m ­

p reen d er m e lh o r esses n ív e is se v isu alizarm o s u m a p es­

so a t ran cad a n u m a p risã o . Ela rep re se n t a o ser h u m an o

p rem id o p o r u m a n e ce ssid ad e in t e rn a d e ir ao en co n t ro

d o o u t ro e ao m esm o t em p o t em e ro so d e f a zê - lo . O s

cin co n ív e is d e co m u n ica çã o d e scrit o s ad ian t e r e p r e ­

sen t am c in co g rau s d e d isp o sição d a p esso a p ara sair

d e si m esm a e se c o m u n ic a r co m o s o u t ro s.

O h o m em na p risão - e e le p o d e ser q u a lq u e r

p esso a - e st á e n ca rce rad o h á m u it o t e m p o , ap e sar d e

as p o rt as d e ferro n ão est arem t ran cad as. Ele p o d e sair,

se q u iser, m as d u ran t e o lo n g o t em p o d e su a d e t e n çã o ,

ap ren d eu a t e m e r os p erig o s ext ern o s. Ch eg a até m esm o

52
a se n t ir u m a e sp é cie d e se g u ran ça e p ro t eção at rá s

d o s m u ro s d e su a p risão , o n d e se m an t ém co m o u m

p risio n e iro v o lu n t ário . A escu rid ão o p ro t eg e d e se v e r

co m clare za; e le n em m esm o está ce rt o d e co m o se ria

su a ap arên cia à lu z d o d ia. A cim a d e t u d o , n ão está ce rt o

d e co m o seria rece b id o p elo m u n d o q u e v ê p o r t rás d as

g rad es e p elas p esso as q u e se m o vim en t am n esse m u n ­

d o . Fica d ivid id o p o r um a n ecessid ad e q u ase d esesp erad a

d e ir ao e n co n t ro d aq u ele m u n d o e d aq u elas p esso as e ,

ao m esm o t e m p o , p o r um m ed o q u ase d esesp erad o d e

se r rejeit ad o , caso ab an d o n e seu iso lam en t o .

Esse p risio n e iro faz le m b rar o q u e V ik t o r Kran k l

e scre v e so b re seu s co m p an h eiro s d o cam p o d e co n ce n ­

t r a çã o n azist a d e D ach au , em seu liv ro Em Busca d e

Sen t ido* . A lg u n s d e le s, q u e an siavam t ão d e se sp e ­


rad am e n t e p o r su a lib e rd a d e , ficaram p reso s p o r t a n t o

t em p o q u e , q u an d o fo ram fin alm en t e lib ert o s, an d avam

à lu z d o so l, p iscan d o n e rvo sam en t e ; d e p o is vo lt avam

em silê n cio p ara a e scu rid ão fam iliar d a p risão à q u a l

t in h am se aco st u m ad o p o r t an t o t e m p o .

É esse o d ilem a visíve l e um t an t o d ram át ico q u e

t o d o s nó s e xp erie n ciam o s em alg um m o m en t o d e n o s­

sas vid as e d u ran t e o p ro cesso d e no s t o rn arm o s p esso a.

A m aio ria em it e ap en as u m a resp o sta fraca ao co n v it e

* Publicado no Brasil pela Editora Sinodal, São Leopoldo, 1 9 9 1 .

53
p ara o en co n t ro co m o s o u t ro s e co m o m u n d o . A razão

p ara isso é q u e no s sen t im o s d e sco n fo rt áve is q u an d o

exp o m o s no ssa n u d ez co m o p esso as. A lg u n s ap en as d e ­

se jam faze r essa viag em , en q u an t o o u t ro s en co n t ram ,

d e alg u m a fo rm a, a co rag em p ara p erco rrer t o d o o cam i­

n h o at é a lib e rd ad e . H á vário s estág io s in t e rm e d iário s,

d escrit o s ab aixo so b o t ít u lo d e " o s cin co n ív e is d e co m u ­

n ic a çã o " . O q u in t o n ível, q u e é o p rim eiro a ser ab o rd a­

d o , rep resen t a a m en o r d isp o sição p ara n o s co m u n icar­

m o s co m o s o u t ro s. O s n íveis su cessivo s e d escen d e n t es

in d icam , cad a v e z m ais, o su cesso nessa av e n t u ra.

Nível cinco: conversa clichê

Est e n íve l re p re se n t a a re sp o st a m ais fraca ao

d ile m a h u m an o e o n ível m ais b aixo d e au t o co m u -

n icaçã o . N a v e r d a d e , n ão h á aq u i q u alq u e r fo rm a d e

co m u n ica çã o , a n ão ser p o r a c id e n t e . Co n v e rsam o s

at ravé s d e clich ê s d o t ip o : " C o m o v a i?... Co m o vai su a

f a m ília ?... Por o n d e v o cê t em a n d a d o ?..." D ize m o s c o i­

sas co m o " Go st o m u it o d o seu v e st id o ... Esp ero q u e

p o ssam o s nos v e r em b r e v e ... É m u it o b o m e n co n t rar

v o c ê " . N a v e r d a d e , q u ase n ad a d o q u e d ize m o s o u

p erg u n t am o s é v e r d a d e ir o . Se a o u t ra p esso a reso lvesse

re sp o n d e r co m d e t alh e s à n o ssa p erg u n t a, " Co m o v a i" ?,

f icaríam o s em b araçad o s.

54
M as, f e lizm e n t e ela p e rce b e a su p e rf icialid ad e e

o c o n v e n cio n a lism o d e n o sso in t eresse e d e n o ssas p er­

g u n t as. Cu m p re su a o b rig ação d an d o a resp o st a p ad rão ,

" V o u b e m , o b rig a d o " .


Est a é a co n ve rsa q u e caract e riza a au sên cia d e

co m u n icação d a f e st a, d o e n co n t ro no clu b e , n o su p er­

m e rcad o . N ão h á u m co m p art ilh ar ve rd ad e iro en t re as

p esso as. To d o m u n d o p erm an ece em seg u ran ça no iso ­

lam en t o d e u m a p ret en sa so fist icação , q u e é falsa. Parece

q u e t o d o o g ru p o se en co n t ra p ara ficar em so lid ão , u n s

ju n t o s d o s o u t ro s. Isso é b em ilu st rad o n o s verso s d e

Pau l Sim o n , Sounds ofSilen ce , n o film e The Graduate.

" E eu vi n a n o it e n u a

D e z m il p esso as, t alve z m ais,

Pesso as f a la n d o sem d ize r,

Pesso as o u v in d o sem e scu t ar,

Pesso as e scre v e n d o can çõ e s q u e v o ze s

Jam ais co m p art ilh aram .

N in g u ém se at reveu

A p e rt u rb ar o s so n s d o silê n c io ."

Nível quatro: relatando fatos sobre os outros

N est e q u art o n íve l, n ão vam o s m u it o lo ng e d e

n o ssa p risão so lit á r ia em d ire çã o a u m a co m u n icação

real p o rq u e q u ase n ad a e xp o m o s d e nó s m esm o s.

55
Co n t en t am o - n o s em d ize r ao s o u t ro s o q u e a l­

g u ém d isse o u f e z. N ão d am o s q u alq u e r t o q u e p esso al

o u d e au t o - re ve lação ao s co m e n t ário s; relat am o s fat o s,

sim p le sm e n t e . A ssim co m o , às veze s, m u it o s se e sco n ­

d e m at rás d e c lic h ê s, b u scam o s p ro t e ção n as fo fo cas,

e m frag m en t o s d e co n versas e n o s " caso s" so b re o s o u ­

t r o s. N ad a o fe re cem o s d e n ó s m esm o s, n em c o n v i­

d am o s o o u t ro a se d ar em t ro ca.

Nível três: minhas idéias e julgamentos

N est e n ív e l, h á alg u m a c o m u n ic a ç ã o so b re a

m in h a p esso a. Est o u d isp o st o a d ar u m p asso além d e

m e u co n f in a m e n t o so lit á r io . Vo u c o r r e r o risco d e lh e

f a la r so b re a lg u m a s d e m in h as id é ia s e lh e r e v e la r

alg u n s d o s m e u s ju lg am e n t o s e d e cisõ e s. N o e n t an t o ,

m an t e n h o m in h a co m u n ica ç ã o so b e st r it a ce n su ra . À

m e d id a q u e co m u n ico m in h a s id é ia s, o b se rvo c u id a ­

d o sam e n t e su as re açõ e s. Q u e r o t e st ar a t e m p e rat u ra

d a ág u a an t es d e m e rg u lh ar. Q u e r o e st a r c e rt o d e q u e

v a i m e a c e it a r co m m in h as id é ia s, ju lg am e n t o s e d e ­

c isõ e s. Se v o cê le v an t ar a so b r a n ce lh a o u ap e rt ar o s

o lh o s, se b o c e ja r o u o lh ar o reló g io , v o u m e re t irar,

p r o v a v e lm e n t e p a r a t e r r e n o m ais se g u r o . Vo u m e

re fu g iar n o ab rig o d o silê n c io , o u m u d a r o t em a d a

co n v e r sa , o u , p io r a in d a , v o u co m e ç a r a d ize r co isas

56
q u e v o c ê g o st aria d e escu t ar. Vo u t e n t a r ser aq u ilo q u e

p o d eria lh e ag rad ar.

A lg u m d ia, n o en t an t o , q u an d o t iver a co rag em e

o d e se jo d e cre sce r co m o p esso a, v o u d esp ejar t o d o o

co n t eú d o d e m in h a m en t e e d e m eu co ração d ian t e

d e v o cê . Se rá o m eu m o m en t o d e ve rd ad e . Po d e ser

q u e eu já t en h a feit o isso an t es; a in d a assim , vo cê só

co n h e ce u m p o u co a m eu re sp e it o , a não ser q u e eu

q u eira a v a n ça r p ara o p ró xim o n ív e l d e p ro fu n d id ad e

na au t o co m u n icação .

Nível dois ou nível visceral: meus sentimentos e


emoções

Po d e n ão t er o co rrid o a m u it o s d e nós q u e , m es­

m o re v e lan d o n o ssas id éias, ju lg am en t o s e d e cisõ es,

há ain d a m u it o d e n o ssa p esso a p o r co m p art ilh ar. N a

verd ad e , as co isas q u e m ais m e d ife re n ciam e m e in d iv i­

d u alizam em re lação ao s o u t ro s, o q u e t o rn a a co m u ­

n icação d e m in h a p esso a um co n h e cim e n t o ú n ico , são

os m eu s sentim entos ou em oções.

Se q u e ro re alm e n t e q u e v o c ê saib a q u em so u ,

d evo lh e co n t a r so b re m eu est ô m ag o (n ível v isc e r a l) e

so b re m in h a ca b e ç a . M in h as id é ia s, ju lg am e n t o s e

d ecisõ es são m u it o co n v e n cio n a is. Se p ert en ço ao p ar­

t id o d o g o ve rn o o u à o p o sição , t e n h o m u it o s co m p a ­

57
n h e iro s. Se so u co n t r a o u a fav o r d a e xp lo ra çã o e sp a­

c ia l, h ave rá o u t ro s m e ap o ian d o n a m in h a co n v icç ã o .

M as o s sentim entos su b jace n t e s às m in h as id é ia s, j u l ­

g am en t o s e c o n v ic ç õ e s são u n icam e n t e m eu s. N in ­

g u ém p e rt e n ce a um p art id o p o lít ico , o u ad o t a u m a

c o n v ic ç ã o re lig io sa, o u est á co m p ro m e t id o co m a l ­

g u m a cau sa, se n t in d o e xa t a m e n t e o m eu en t u siasm o

o u a m in h a a p a t ia . N in g u ém e x p e r ie n c ia o m esm o

sen so d e fru st ração q u e e u , t ra b a lh a so b o s m eu s m e ­

d o s o u sen t e m in h a s p a ix õ e s. N in g u ém se o p õ e à

g u erra co m a m in h a in d ig n ação p a rt icu lar o u e x p e ­

r im e n t a o p at rio t ism o co m o m eu sen so ú n ico d e

le a ld a d e .

São esses se n t im e n t o s, n esse n ível d e co m u n i­

c a ç ã o , q u e d evo co m p a rt ilh a r co m v o cê , se q u ise r lh e

d ize r q u em so u re alm e n t e .

Para ilu st r a r , g o st aria d e co lo c a r alg u n s ju lg a ­

m en t o s n u m a c o lu n a à e sq u e rd a e , à d ir e it a , alg u m as

d as p o ssíveis re a ç õ e s e m o cio n a is ao ju lg am e n t o . Se

lh e falo ap en as so b re o co n t e ú d o d a m in h a m e n t e ,

e st are i g u ard an d o um b o cad o so b re a m in h a p esso a,

e sp e c ia lm e n t e a q u e la s á r e a s n as q u a is so u m a is

p e sso a l, m ais in d iv id u a l, m ais p r o f u n d a m e n t e e u


m esm o .

58
Julgam ento

Eu ach o q u e
vo cê é in t elig en t e
ianocmes
Algumas possíveis reações

... e m e sin t o e n ciu m ad o .

... e m e sin t o fru st rad o .

... e m e sin t o o rg u lh o so d e ser

seu am ig o .

... e isso m e d e ixa d esco n fo rt ável

d ian t e d e v o cê .

... e m e sin t o in fe rio r a vo cê.

... e m e sin t o im p e lid o a im it ar

vo cê.

... e t e n h o vo n t ad e d e fu g ir d e
vo cê .

... e t en h o vo n t ad e d e h u m ilh ar

vo cê.

A m aio r p art e d as p esso as se n t e q u e o o u t ro n ão

t o le raria t al h o n est id ad e e m o cio n al n a co m u n icação .

Pre fe rim o s d e fe n d e r n o ssa h o n est id ad e aleg an d o q u e

p o d eríam o s m ag o ar o o u t ro e , t ran sfo rm an d o no ssa fa l­

sid ad e em n o b re za, in iciam o s re lacio n am e n t o s su p er­

ficia is. Isso o co rre n ão ap en as co m o s relacio n am en t o s

o casio n ais, m as t am b ém co m m em b ro s d e n o ssa fam ília,


59
ch eg an d o a d e st ru ir a co m u n h ão au t ê n t ica d o s casa­
aju d am o s o s o u t ro s a cr e sce r . En q u an t o isso , t e m o s

q u e v iv e r co m em o çõ es re p rim id as - um cam in h o p e r i­

g o so e au t o d e st ru t ivo p ara se t r ilh a r . Q u a lq u e r r e la ­

cio n am en t o q u e p ressu p o n h a um e n co n t ro ve rd ad e iro

e p esso al d e ve se r b asead o n essa co m u n icação h o n est a,

ab e rt a, v isc e r a l. A o u t ra alt e rn at iva é p e rm an e ce r na

m in h a p risão e viv er, p asso a p asso , a m in h a m o rte co m o


p esso a.

Vam o s f a la r m ais so b re esse n íve l d ep o is d e d e s­

creverm o s o p rim e iro e m ais p ro fu n d o n íve l d e c o m u ­

n icação e n t re as p esso as.

Nível um: a comunicação culminante

To d as as am izad e s p ro fu n d as e au t ê n t icas, e sp e ­

cia lm e n t e o s ca sa m e n t o s, d e ve m se r b asead o s em

ab so lu t a ab e rt u ra e h o n e st id ad e . A lg u m as vezes, t o rn a-

se d ifícil a co m u n icação v isc e r a l, m as é exat am en t e n e s­

ses m o m en t o s q u e ela é m ais n e ce ssária. En tre am ig o s

ín t im o s o u e n t re p arce iro s d e um casam en t o h a v e r á ,

alg u m as v e ze s, u m a co m u n h ão e m o cio n al e p esso al

co m p let a.

Em n o ssa co n d ição h u m an a, esse n íve l d e c o m u ­

n icação n ão p o d e ser u m a e x p e r iê n c ia p e rm an en t e.

N o en t an t o , exist em m o m en t o s em q u e o en co n t ro a t in ­

ge u m a co m u n icação p e r f e it a . Sei q u e m in h as re açõ e s

60
ess°* S
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As pessoas que est ão


rep let as de d úvidas
t end em a ser
d o g m at ist as que nunc;
est ão errad as.
são co m p art ilh ad as in t eiram en t e p o r m eu am ig o ; m in h a

aleg ria o u t rist e za é d u p licad a n e le co m p e rf e ição . So ­

m o s co m o d o is in st ru m en t o s m u sicais t o can d o e xa t a ­

m en t e a m esm a n o t a, em it in d o o m esm o so m . É a isso

q u e ch am am o s d e n ível u m , a co m u n icação cu lm in an t e

(A .H . M aslo w , Religions, Values and Peak Expériences,


1 9 6 4 ).

"Regras" para a com unicação em nível visceral

Se a am izad e e o am o r d e vem am ad u re ce r en t re

d u as p esso as, é p reciso h aver u m a re v e lação m ú t u a,

ab so lu t a e h o n est a e n t r e e la s; e sse t ip o d e au t o -

re ve lação só p o d e se r alcan çad o at ravé s d a q u ilo q u e

ch am am o s d e co m u n icação em " n ív e l v isc e r a l" . N ão

h á o u t ra a lt e rn a t iv a ; t o d as as razõ es q u e ap resen t am o s

p ara r a c io n a liz a r n o sso s d isf a rce s e d e so n e st id ad e s

d evem se r co n sid e rad o s co m o en g an o s. Se r ia m u it o

m elh o r d ize r - lh e co m o re alm e n t e m e sin t o em r e la çã o

a vo cê d o q u e en t rar n a m o n o t o n ia e d e sco n fo rt o d e

um re lacio n am e n t o f a lso .

A d e so n e st id ad e t e m se m p re u m a m a n e ira d e
vo lt ar p ara n o s p e rse g u ir e n o s c a u sa r p r o b le m a s.

D ize r- lh e q u e n ão o a d m ir o o u n ão o am o é m u it o

m elh o r d o q u e t en t ar en g an á- lo e t e r q u e p ag ar o p re ço

fin al p o r t o d a essa d e c e p ç ã o - u m a d o r m aio r p ara

62
v o c ê e p ara m im . E às v e z e s vo cê t e r á q u e m e d iz e r

c o isa s d if íc e is d e se re m c o m p a r t ilh a d a s. M a s, n a

v e r d a d e , n ão t e n h o e sc o lh a : se q u e ro su a a m iza d e ,

d e v o est ar p ro n t o p ara a c e it á - lo co m o é . Se u m d e

n ó s en t ra n o r e la cio n a m e n t o sem essa d e t e r m in a ç ã o

d e h o n e st id ad e e a b e rt u ra m ú t u as, n ão p o d e h a v e r

a m iza d e n em c r e sc im e n t o : p elo c o n t r á r io , v ai h a v e r

so m e n t e u m r e la cio n a m e n t o d o t ip o su je it o - o b je t o ,

c a r a c t e r iz a d o p e lo m au h u m o r, p e la s b rig as a d o ­

le sce n t e s, c iú m e s, raivas e a cu sa çõ e s. A t e n t ação m ais

f re q ü e n t e n essa sit u ação é p e n sar q u e a co m u n ica ç ã o

d e u m a r e a ç ã o e m o cio n a l d e sf a v o rá v e l p o d e le v a r

à se p a r a ç ã o - o m ais d e st r u t iv o d o s e n g an o s n a

á r e a d as r e la ç õ e s h u m a n a s. Se f ic o in c o m o d a d o

q u an d o v o cê f a z alg u m a c o isa , p o sso a cr e d it a r q u e

se ria m elh o r n ão lh e d ize r isso . N o ssa r e la çã o será m ais

p a c íf ic a . D e q u alq u e r m a n e ir a , v o cê n ão iria co m ­

p re e n d e r.

A ssim , g u ard o isso p ara m im e , ca d a v e z q u e vo cê

f a z " a su a c o i s a " , m e u e st ô m a g o f ic a co n tan ­

d o ...2 ...3 ...4 ...5 ...6 ...7 ...8 ... at é q u e u m d ia vo cê f az a

m esm a co isa q u e sem p re f e z e o céu d e sab a. D u ran t e

t o d o o t em p o em q u e v o cê est ava m e in co m o d an d o ,

eu g u ard ava t u d o p ara m im e , em alg u m lu g ar secre t o ,

est ava ap ren d en d o a o d iá- Jo . M eu s b o n s p en sam en t o s

se t ran sfo rm aram em fe l.

63
Q u a n d o , f in alm e n t e , t u d o exp lo d e n u m a g ran d e

a v a la n ch e e m o cio n al, vo cê n ão co m p re en d e e co n si­

d e ra essa reação t o t alm en t e d e sn e ce ssária. O s laço s d e

n o sso am o r p arecem frág eis e p rest es a se d esfazer. E

t u d o co m eço u q u an d o eu d isse :" Eu n ão g o sto d o q u e

ele/ ela est á f aze n d o , m as é m e lh o r n ão d ize r n ad a. O

relacio n am en t o será m ais t r a n q ü ilo " . Isso fo i u m g ran d e

en g an o e eu d e v e ria t er- lh e d it o d esd e o co m e ço . Ag o ra

h o u ve u m d iv ó rcio e m o cio n al, t u d o p o rq u e eu q u eria

m an t er a p az en t re n ó s.

Regra um: a comunicação em nível visceral,


baseada na abertura emocional e na honestidade >
nunca deve implicar um julgamento do outro

N ão est arei su ficie n t em en t e am ad u re cid o p ara en ­

trar n u m a verd ad e ira am izad e, a m en o s q u e co m p reen d a

q u e n ão p o sso ju lg ar a in t en ção o u m o t ivação d e um a

o u tra p esso a. D e vo ser h u m ild e e sen sat o o su ficie n t e

p ara m e cu rv ar an t e a co m p le xid ad e e o m ist ério d e um

ser h u m an o . Se o ju lg o , est arei ap e n as revelan d o m in h a

p ró p ria im at u rid ad e e in cap acid ad e p ara a am izad e .

A sin ce rid ad e e m o cio n al im p lica q u e n ão d eve

h aver um ju lg am en t o d a su a p esso a; n a v e rd ad e im p lica

t am b ém q u e n ão d e vo ju lg ar a m in h a p ró p ria p esso a.

Por e xe m p lo , se e u lh e d isse r: " Sin t o - m e an sio so co m

64
v o c ê " , est o u se n d o h o n esto e , ao m esm o t em p o , n ão

est o u q u e re n d o d iz e r q u e v o cê é cu lp ad o p o r m in h a

an sie d ad e . Talvez isso se d eva ao m eu p ró p rio co m p lexo

d e in f e rio rid a d e o u ao m eu co n ce it o e xag e rad o d e sua

in t e lig ê n c ia . N ão est o u d ize n d o q u e é c u lp a de n in ­

g u é m ; est o u sim p le sm e n t e re lat an d o m in h a reação

e m o cio n a l d ian t e d e vo cê n essa sit u ação .

Se eu lh e d isse r q u e m e sin t o a b o rre cid o ou m a­

g o ad o p o r alg u m a co isa q u e v o cê fe z o u d isse , é a m es­

m a co isa . Eu n ão o esto u ju lg an d o . Talv e z se ja a m in h a

p aran ó ia (co m p le xo d e p e rseg u ição ). N ão est o u cert o

e , n a m aio ria d as ve ze s, p o sso n ão est ar. Essa cert eza

im p lica um ju lg am e n t o . Po sso ap en as lh e d iz e r que essa

t em sid o e é m in h a reação e m o cio n al.

Se lh e d isse r q u e vo cê f az alg u m a c o isa q u e m e

a b o rre ce , n o vam en t e eu n ão est aria sen d o t ão arro g ante

a p o n t o d e p en sar q u e su a ação ab o rre ce ria a q u alq u er

o u t ra p esso a. N em m esm o est o u lh e d ize n d o q u e su a

ação é errad a o u o fen siva. Sim p lesm en t e q u e ro lhe d ize r

q u e aq u i e ag o ra e xp e rim e n t o u m cert o d esg o st o . Talvez

isso seja p o r cau sa d a m in h ad o r d e cab e ça, o u d a m in h a

in d ig est ão , o u p o r n ão ter d o rm id o b em a n o it e p assad a.

Re alm en t e n ão se i. Tu d o o q u e sei é ist o : est o u t en t an d o

lh e d ize r q u e m e sin t o d esg o st o so n est e m o m en t o .

Se ria p ro vavelm en t e m ais ú t il, n a m aio r p arte d o s

caso s, in t ro d u zir n o ssa co m u n icação visceral co m alg um

65
t ip o d e n eg ação p ara asseg u rar ao o ut ro q u e n ão h averá

q u alq u e r ju lg am en t o . Posso co m eçar d izen d o : "N ão sei

p o rq u e isso m e in co m o d a, m as in co m o d a... ach o q u e so u

m u it o sen sível e realm en t e n ão q u ero d ize r q u e é cu lp a

sua, m as m e sin to m ag o ad o co m o q u e vo cê est á d izen d o ."

N at u ralm en t e , o p o n to m ais im p o rt an t e é q u e n ão

h á, d e fato, q u a lq u e r ju lg am e n t o . Se t en h o o co st u m e

d e ju lg a r as in t e n çõ e s o u m o t ivação d o o u t ro , d e ve ria

e sfo rçar- m e p ara su p e ra r esse h áb it o ad o le sce n t e . Sim ­

p le sm e n t e , n ão se rei cap az d e d isfarçar m eu s ju lg a­

m en t o s, m esm o q u e e u n eg u e est ar ju lg an d o .

Po r o u t ro lad o , se sou re alm e n t e m ad u ro p ara m e

ab st er d e t ais ju lg am e n t o s, isso t am b ém f ic a r á ap aren t e

no f in a l. Se q u ero sab e r a in t en ção , m o t ivação o u reação

d o o u t r o , h á so m e n t e u m a m an e ira d e sa b e r: devo

perguntar- lhe, p o is n ão t en h o o lh o s d e r a io - x.
Talv e z se d e v e sse in se rir aq u i u m a p alav ra so b re

a d if e r e n ça e n t re ju lg a r um a p esso a e ju lg ar u m a ação .

Se v e jo alg u ém ro u b an d o o d in h e ir o d e o u t ra p esso a,

p o sso ju lg ar q u e essa ação é m o ralm en t e e rrad a, m as

não p o sso ju lg ar a pessoa. É t a r e f a d e D e u s, n ão m in h a

ou su a , ju lg ar a re sp o n sab ilid ad e h u m an a. En t ret an t o ,

se n ão p u d éssem o s ju lg ar u m a ação co m o ce rt a o u

e rrad a, seria o fim d e to d a m o ralid ad e o b je t iv a . N ão

p o d em o s co n co rd a r co m a id é ia d e q u e n ão exist em

co isas ce rt as o u e r r a d a s, q u e t u d o d e p en d e d a m an eira

66
co m o v o cê e n c ara as co isas. M as, ju lg ar a resp o n sa-

b ilid a d e d o o u t ro é b rin car d e D e u s.

Regra dois: as emoções não são morais (boas ou más)

N a t eo ria, a m aio ria d e n ó s a ce it a ria o fato d e

q u e as em o çõ es n ão são lo u v á v e is nem p e cam in o sas.

Se n t ir- se fru st rad o o u a b o rre cid o , e x p e r ie n c ia r m ed o s

e raivas não f aze m co m q u e u m a p esso a se ja b o a o u

m á. N a p rát ica, en t re t an t o , n ão aceit am o s n o co t id ian o

o q u e aceit am o s n a t e o ria. Exe rce m o s u m a cen su ra

m u it o severa so b re no ssas e m o çõ e s. Se n o ssa cen su ra

n ão as ap ro va, n ó s a rep rim im o s em n o sso su b co n scie n ­

t e. Esp ecialist as em M ed icin a Psico sso m át ica d izem q u e

a cau sa m ais co m u m d a fad ig a e d a d o en ça é a rep ressão

d e sen t im en t o s. O fato é q u e n ão ad m it im o s a exist ên cia

d e d e t erm in ad as em o çõ es. Tem o s verg o n h a d e n o sso s

t e m o re s, ou sen t im o - n o s cu lp ad o s p o r n o ssa raiva o u

p o r n o sso s d e se jo s em o cio n ais e físico s.

A n t es q u e q u alq u er p esso a est eja liv r e p ara p ra­

t ica r a " co m u n icação em n ív e l v isce r a l" , n a q u al vai

e st ar e m o cio n alm e n t e ab e rt a e h o n est a, d e v e a cr e d i­

t ar q u e as e m o çõ e s n ão são m o rais, m as ap e n as f a c ­

t u a is. M eu ciú m e , m in h a r a iv a , m eu s d e se jo s sexu ais e

m eu s t em o res n ão m e t o rn am u m a p esso a b o a ou m á.

N at u ralm e n t e , essas re açõ e s e m o cio n ais d evem ser

67
e^ °
\X ve^e
6S° W t f-
v^ e

A .£
in t eg rad as à m in h a v o n t ad e ; m as, an t es q u e p o ssam

ser in t eg rad as, an t e s q u e eu p o ssa d e cid ir se d esejo o u

n ão ag ir d e aco rd o co m elas, d evo p e rm it ir q u e aflo re m ;

d evo e scu t a r co m cla r e za o q u e e las est ão m e d ize n d o .

D evo se r cap az d e ad m it ir, sem q u alq u e r co n o t ação d e

re p re e n são m o ral, q u e esto u co m m ed o , o u co m raiva,

o u e xcit a d o se xu alm e n t e .

A n t e s q u e eu est eja liv re p ara fazer isso , no e n ­

t an t o , d e vo est ar co n v ict o d e q u e as em o çõ es não são

m o rais - n em b o as, n em m ás em si m esm as. D e vo est ar

co n v ict o , t am b ém , d e q u e a e xp e riê n cia d e t o d a a g am a

d e em o çõ es é u m a p art e d a co n d içã o h u m an a, a h eran ­

ça d e t o d o ser h u m an o .

Regra três: sentimentos e emoções devem ser


integrados ao intelecto e à vontade

É m u it o im p o rt an t e en t en d erm o s esse it e m . A n ão -

re p re ssão d e n o ssas em o çõ es sig n ifica q u e d evem o s

exp erien ciá- las, reco n h ecê- las e aceit á- las in t eg ralm en t e.

Isso n ão sig n if ic a , d e m o d o alg u m , q u e vam o s

sem p re ag ir d e aco rd o co m e las. Se ria t rág ico , e a p io r

fo rm a d e im at u rid ad e , a p esso a p e rm it ir q u e seu s sen ­

t im en t o s o u em o çõ es co n t ro lassem sua v id a. U m a co isa

é se n t ir e ad m it ir p ara m im m esm o e p ara o s o u t ro s

q u e est o u co m m e d o , m as o u t ra co isa é p e rm it ir q u e

69
esse m ed o m e d o m in e. U m a co isa é sen t ir e ad m it ir

q u e esto u co m raiva, e o u t ra é ag red ir a p esso a q u e m e


evo ca esse sen t im en t o .

Intelecto

JS ||^

ff

Vontade Sentimentos (emoções)

N o t riân g u lo a c im a , est ão as t rês facu ld ad e s d o

h o m em q u e d evem se r in t eg rad as, ist o é, co lo cad as

n u m t o d o h arm o n io so , se d e se jam o s e vo lu ir n o p ro ­

cesso d e n o s t o rn arm o s p esso a. Se est á claro o sig n i­

f ica d o d essa in t eg ração , f ica ó b vio q u e a m en t e av alia

a n ecessid ad e o u o d e se jo d e ag ir so b re cert as e m o çõ e s

q u e fo ram t o t alm en t e e x p e r ie n c ia d a s; e o arb ít rio e x e ­

cu t a essa a v a lia çã o . Po r e xe m p lo , p o sso t e r m u it o m ed o

d e lhe d iz e r a ve rd ad e so b re ce rt o assu n t o . O fat o é

q u e esto u sen t in d o m e d o e isso n ão é b o m n e m ru im

em si m esm o . Perm it o - m e sen t ir esse m ed o e re co ­

n h e cê- lo . M in h a m en t e co n sid e ra q u e não d e v o ag ir

d e aco rd o co m e le , m as ap e sar d isso , d evo lh e d ize r a

ve rd ad e . Co m o co n se q ü ê n cia , a vo n t ad e leva em co n t a

a co n sid e ração d a m en t e . Eu lh e d ig o a v e rd ad e .

70
C o n t u d o , se est o u b u scan d o u m re lacio n am e n t o

re a l e a u t ê n t ico e d e se jo p rat icar a co m u n ica çã o em

" n ív e l v isc e r a l" , d e v o lh e d ize r alg u m a co isa co m o :

" Re a lm e n t e n ão sei p o r q u e ... t a lv e z se ja um t ra ço d e

c o v a r d ia ... m as sin t o m ed o d e lh e d iz e r u m a co isa e ,

n o e n t an t o , sei q u e d e v o se r h o n est o co m v o c ê ... Essa

é a v e rd a d e , t al co m o a p e r c e b o ..."

O u , p ara cit ar o u t ro e xe m p lo , t alv e z eu m e sin t a

m u it o t e rn o e am o ro so co m vo cê. Co m o Ch est ert o n o b ­

servo u , o m ed o m ais d esp re zív el é o m ed o d o se n t i­

m en t o . Talv e z seja a n o ssa h eran ça cu lt u ral o u o m ed o

d a reje ição , m as freq ü en t em en t e relu t am o s em e xt e rn ar

t ern u ra e am o r. N esse caso , m in h a m e n t e d e cid e q u e é

co rret o ag ir d e aco rd o co m esses sen t im en t o s e , n o va­

m en t e, m in h a vo n t ad e re aliza a d e cisão . N at u ralm en t e,

n a p esso a in t eg rad a as em o çõ es n ão são rep rim id as n em

assu m em co n t ro le so b re e la . São re co n h ecid as (o q u e é

q u e est o u sen t in d o ?) e in t eg rad as (d e vo ag ir d e aco rd o

co m esse sen t im en t o o u n ão ?)

Regra quatro: na comunicação em nível visceral\ as


emoções devem ser "relatadas"

Se q u ero lhe d ize r q u em so u , d e v o lhe co n t ar so b re

m eu s sen t im en t o s: n ão im p o rt a se v o u ag ir o u n ão d e

aco rd o co m eles. Po sso lh e d ize r q u e esto u co m raiv a,

71
e xp lican d o m eu sen t im en t o sem f aze r q u a lq u e r ju lg a­

m en t o d e su a p esso a e sem p re t e n d e r ag ir d e aco rd o

co m essa raiva. Po sso lh e d ize r q u e esto u co m m ed o ,

e xp lica n d o o m eu sen t im en t o sem acu sar v o c ê d e ser a

cau sa e , ao m esm o t em p o , n ão su cu m b in d o a e le . M as

se q u e ro m e ab rir co m vo cê , d e vo p e rm it ir q u e exp e-

rie n cie e e n co n t re co m m in h a p esso a, d ize n d o - lh e d e

m in h a raiva e d e m eu m ed o .

Tem - se a f ir m a d o , co m r a zã o , q u e o u falamos

so b re n o sso s sen t im en t o s ou o s extravasam os d e o u tra

fo rm a. O s sen t im en t o s são co m o o vap o r q u e se ju n t a

d en t ro d e u m a c h a le ir a . Rep rim id o s e g an h an d o fo rça,

p o d em arran car a " t am p a h u m a n a " , co m o o vap o r

arran ca a t am p a d a ch a le ira.

Já n o s referim o s ao vered ict o d a M ed icin a Psico sso ­

m ática seg u n d o o q u al as em o çõ es rep rim id as são a causa

m ais co m u m d a fad ig a e d a d o en ça. Isso f a z p arte do

p ro cesso d e ext ravasam en t o . A s em o çõ es rep rim id as

p o d erão en co n t rar saíd a ext ravasan d o - se e m d o res d e

cab eça, d o en ças d e p ele, alerg ias, asm a, g rip es co m u n s,

d o res n as co stas o u m em b ro s; o u p o d erão se ext ravasar

em t en são m u scu lar, b at er d e p o rt as, p u n h o s cerrad o s,

p ressão alt a, ran g er d e d en t es, lág rim as, m au h u m o r, atos

d e v io lê n cia. N ão co n seg u im o s enterrar no ssas em o çõ es;

elas p erm an ecem vivas em no sso su b co n scien t e e em

no sso s in t est in o s p ara no s ferir e n o s cau sar p ro b lem as.

72
Relat ar nossos sen t im en t o s verd ad eiro s n ão é útil ap en as

p ara u m a relação au t ên t ica; relat á- lo s é ig u alm en t eessen -

cial p ara nossa in t eg rid ad e e saú d e .

A razão m ais co m u m p ara não relat arm o s n o ssas

em o çõ es é q u e n ão q u erem o s ad m it i- las p o r alg um m o ­

t ivo . Tem em o s q u e o s o u t ro s p o ssam f a ze r m au ju ízo

d e n ó s, ou n o s re je it e m , o u n o s cast ig u em p o r n o ssa

f ran q u e za em o cio n al. Fo m o s " p ro g ram ad o s" d e alg u m a

fo rm a p ara n ão ace it arm o s ce rt a s em o çõ es co m o p art e

d e n o ssa p esso a. Tem o s verg o n h a d elas. Racio n alizam o s

d ize n d o q u e n ão p o d em o s relat á- las p o rq u e n ão seriam

e n t e n d id a s, o u p o rq u e p o d e ríam o s p e rt u rb a r u m a

re la çã o t ran q ü ila o u p ro vo car u m a reação v io le n t a p o r

p art e d o o u t ro . M as essas razõ e s são b asicam en t e f ra u ­

d u le n t as e n o sso silê n cio p o d e p ro d u zir ap en as re la­

cio n am en t o s frau d u le n t o s. Sem ab ert u ra e h o n est id ad e,

um re lacio n am e n t o será co n st ru íd o so b re a re ia - n ão

re sist irá ao t est e d o t em p o e n en h u m a d as p art es ext rairá

d essa relação q u alq u e r b e n e f ício .

Regra cinco: com raras exceções as emoções ,


devem ser relatadas no momento em que estâo
sendo experienciadas

É m u it o m ais f á cil relat ar u m a em o ção q u e já p as­

so u p ara a h ist ó ria. Falar so b re sit u açõ es q u e v iv i há um

73
o u d o is an o s, ad m it in d o q u e sen t i m u it o m ed o ou m u it a

raiva n aq u ela ép o ca, é q u ase co m o f a la r so b re o u t ra

p esso a. Po rq u e fo ram em o çõ e s t ran sit ó rias e já p assa­

ram , é fácil d isso ciar esses sen t im en t o s d e m in h a p esso a

aq u i e ag o ra. É d if ícil re ca p t u rar um sen t im en t o q u e já

p asso u p ara a m in h a h ist ó ria p esso al. Ficam o s g e ral­

m en t e co n fu so s co m e m o çõ e s p assad as. " N ão sei p o r­

q u e fiq u ei t ão e xcit a d o " . O m o m en t o d e relat ar as e m o ­

çõ es é o m o m en t o em q u e est ão sen d o e xp e rie n cia d as.

N ão é sen sat o n em sau d áve l ret ard ar esse relat o , a in d a

q u e p o r alg u m t em p o .

N at u ralm e n t e , t o d a co m u n ica çã o d eve resp e it ar

n ão ap en as o t ran sm isso r, m as t am b ém aq u e le q u e vai

re ce b e r a c o m u n ic a ç ã o . Co m o co n se q ü ê n cia , p o d e

o co rre r q u e n a in t eg ração d e m in h as em o çõ es, m eu

ju lg am en t o d e t e rm in e q u e est e não é o m o m en t o o p o r­

t u n o p ara r e la t a r m in h a re ação e m o cio n a l. Se a o u t ra

p esso a está p e rt u rb ad a e m o cio n alm e n t e a p o n to d e se

t o rn a r m en o s r e ce p t iv a , e se isso vai le v á - la a d ist o rce r

m eu relat o , p o d e ser m e lh o r ad iá- lo .

M as, se o assu n t o é b ast an t e sé r io e as e m o çõ e s

são fo rt es, e sse p e río d o d e a d ia m e n t o n ão p o d e ser

m u it o lo n g o , n e m d e v o f ic a r t e m e ro so o u in t im id ad o

a p o n t o d e r e p r im ir p o r co m p le t o m in h a s e m o çõ e s.

A lé m d isso , o a d ia m e n t o n ão d e v e a c o n t e c e r co m f r e ­

q ü ê n c ia .

74
U m a o u t ra e xce çã o v álid a a essa reg ra é a d ia r ou

m esm o o m it ir esse relat o n o caso d e u m in cid en t e p assa­

g eiro n u m re lacio n am en t o casu al. O s m o d o s g ro sseiro s

d e um m o t o rist a d e ô n ib u s p o d em m e irrit ar sem q u e

e u p recise en fren t á- lo ca ra a cara o u falar- lh e d e m in h as

reaçõ es e m o cio n ais d ian t e d o in cid e n t e . N o en t an t o , no

caso d e d u as p esso as q u e t rab alh am e vivem ju n t a s, o u

q u e d esejam se re lacio n ar p ro fu n d am en t e, é im p o rt an t e

faze r o relat o no m o m en t o em q u e as em o çõ es o co rrem .

O s benefícios da com unicação em nível visceral

O b e n e fício b ásico e m ais e v id e n t e d a co m u n i­

cação em " n ív e l v isc e r a l" é um re lacio n am e n t o re al e

au t ê n t ico a q u e ch am am o s d e um v e rd ad e iro e n co n t ro .

H ave rá n ão ap en as u m a co m u n ica çã o m ú t u a, o co m ­

p art ilh ar e e xp e rie n cia r d a p esso a d e cad a u m , co m o

t am b ém u m a d e fin ição ca d a vez m a io r d a id e n t id ad e

d e cad a u m a d as p art es e n v o lv id as.


H o je em d ia , m u it a s p e sso as se p e r g u n t a m :

" Q u e m so u e u ?" . Essa t o rn o u - se u m a q u est ão d a m o d a.

A im p licação é q u e n ão co n h e ço v e rd a d e ira m e n t e o

m eu p ró p rio e u . D isse m o s q u e m in h a p esso a é o q u e

p en so , ju lg o , sin t o . Se co m u n iq u e i essas co isas liv re

e ab e rt am en t e, d e m an e ira clara e h o n est a, vo u p e r c e ­

b e r um cre scim e n t o n o t áv e l no m eu p ró p rio sen so d e

75
id e n t id ad e , assim co m o um co n h ecim en t o m ais au t ên t i­

co e m ais p ro fu n d o d o o u t ro . To rn o u - se um lu g ar co m u m

p sico ló g ico d izer q u e só p o sso co m p reen d er d a m in h a

p esso a aq u ilo q u e m e d isp u ser a co m u n icar ao o u t ro .

O seg u n d o resu lt ad o im p o rt an t e d e t al co m u ­

n icação é q u e, t e n d o m e co m p re e n d id o p o rq u e m e

co m u n iq u e i, vo u d e sco b rir q u e o s p ad rõ es d e im at u ­

rid ad e est ão m u d an d o p ara p ad rõ es d e m at u rid ad e.

Po sso m u d ar! Q u a lq u e r p esso a q u e o b serva su as rea­

çõ es e se d isp õ e a e xam in á- las p o d e v ir a co m p re en d e r

q u e alg u m as d essas reaçõ es são d e h ip ersen sib ilid ad e

o u p aran ó ia. N o m o m en t o em q u e at in g e essa co m ­

p re e n são , e la vai v e r if ic a r q u e o p ad rão est á m u d an d o .

N ão d e vem o s a cr e d it a r q u e p ad rõ e s e m o cio n ais são

p u ram e n t e b io ló g ico s o u in e v it á v e is. Eu p osso e vou

m udar m eus padrões em ocion ais; p o sso t ran sfo rm ar


m in h as em o çõ es se p e rm it ir q u e aflo rem p ara serem

r e co n h e cid a s, se re lat á- las d e m an e ira h o n est a e se

ju lg á- las im at u ras e in d e se jáv e is.

Po r e xe m p lo , se relat o d e m an e ira h o n est a e co n ­

sist en t e a em o ção d e " sen t ir- m e m ag o ad o " p o r m u it as

co isas p eq u en as e in co n se q ü e n t e s, t o rn a- se ap are n t e ,

n u m d ad o m o m en t o , q u e so u h ip ersen sível e q u e esto u

m e t rat an d o co m a u t o p ie d a d e . N o m o m en t o em q u e

isso se t o r n a r claro p ara m im e re alm e n t e m e at in g ir,

p o sso m u d ar.

76
O co m p o r t a m e n t o do
se r h u m a n o p len o
é se m p r e
im p re v isív e l -
sim p le sm e n t e
p o rq u e
X

e
Em re su m o , a d in âm ica é est a: p erm it im o s q u e

n o ssas em o çõ es aflo rem p ara q u e p o ssam ser id e n t i­

f ic a d a s; o b se rvam o s o s p ad rõ e s d e n o ssas r e a çõ e s

e m o cio n ais; n ó s o s re lat am o s e o s av aliam o s. Faze n d o

isso , p ro m o vem o s d e m an e ira in st in t iva e im e d iat a o s

aju st e s n ecessário s à lu z d e n o sso s p ró p rio s id e ais e

esp eran ça d e cre scim e n t o . M u d am o s. Bast a t en t ar p ara

v e r if ic a r os re su lt ad o s.

Co m o fo i d it o , n o ssas reaçõ es e m o cio n ais não são

n ecessid ad es b io ló g icas o u p sico ló g icas. Po d em o s p assar

d e u m a em o ção p ara o u t ra, se d esejarm o s. Po d eríam o s

acrescen t ar m u it o s o u tro s e xe m p lo s. Po sso m e sen t ir b as­

t an t e co m p e t it ivo . Se p erm it o q u e as em o çõ es q u e est ão

so b o m eu e sp írit o co m p e t it ivo ven h am à su p e rfície p ara

re co n h e cim en t o , p o sso d e sco b rir q u e é ap en as o m eu

sen t im en t o d e in fe rio rid ad e e m in h a falt a d e co n fian ça

em m im m esm o q u e m e in d u ze m à co m p e t ição . É ao

m esm o t em p o est ran h o e m ist erio so co m o essas e m o ­

çõ es, ao ilu m in arem n o sso in t e rio r, p o d em no s co n t ar

co isas d e q u e ja m a is su sp eit am o s a no sso resp eit o . Esse

t ip o d e au t o co n h ecim en t o é o co m eço d o cre scim e n t o .

À s vezes p o sso est ar lu t an d o co m u m a e m o ção

d est ru t iva co m o o d esesp ero . Se p erm it o q u e essa e m o ­

ção aflo re p ara se r a v a lia d a , p o sso p e rce b e r q u e é a p e ­

n as u m a t e n t a t iv a d e a u t o p u n içã o . M u it a s v e ze s, a

d ep ressão é t am b é m u m a fo rm a d e au t o p u n ição . U m a

78
in vest ig ação p o st erio r p o d erá m e m o st rar q u e t en h o

se n t im e n t o s d e cu lp a e p re ciso d e ssa p u n içã o p ara

e xp iá- lo s. Esto u no cam in h o d a a u t o d e st r u içã o . Q u an ­

d o r e co n h e ço essas em o çõ es c o m o n eg at ivas e au t o -

d e st ru t iv as, t en h o o p o d er d e m u d a r p ara u m a n o va

re ação e m o cio n a l - d a a u t o p u n iç ã o p ara o am o r,

d a r a iv a p ara a e m p at ia, d o d e se sp e ro p ara a esp e­

ran ça.

Se t u d o isso é verd ad eiro , b ast a e xp e rim e n t ar p ara

co m p ro v a r a v e rd ad e . En t ão , t o rn a - se ó b v io q u e a

p eq u en a frase q u e u sam o s q u an d o é co n ve n ie n t e , " Sin ­

to m u it o , m as é assim q u e eu so u " , é ap en as u m refúg io

e u m a ilu são . É cô m o d o , se vo cê n ão q u er c r e sce r ; m as

se v o cê q u e r cre sce r d e ve rd ad e , vai t e n t ar se elevar

acim a d essa f alácia.


O t e rce iro b en efício d a co m u n icação em " n ível

v isce ral" é q u e ela p ro vo ca n o s o u t ro s u m a reação d e

h o n e st id a d e e a b e rt u ra n e c e ssá r ia s a u m a re lação

in t erp esso al recíp ro ca. O p siq u iat ra G o ld b ru n n e r afirm a

co m o rg u lh o q u e p o d e o b ter ace sso às p art es m ais p ro ­

fu n d as d e q u alq u er p esso a em q u est ão d e m in u t o s. Sua

t é cn ica n ão co n sist e em fazer p erg u n t as, p o is isso leva

a p esso a in seg u ra a se t o rn ar a in d a m ais d e fe n siv a. Se­

g u n d o su a t e o ria, se d esejam o s q u e o o u t ro se ab ra

co n o sco , d evem o s co m eçar n o s ab rin d o co m e le , f alan ­

d o - lh e ab ert a e h o n est am en t e d e n o sso s sen t im en t o s.

79
U m a p esso a é resso n an t e a o u t ra p esso a, in sist e

G o ld b ru n n e r. Se esto u d isp o st o a sa ir d a e scu rid ão d e

m in h a p risão , a e xp o r a m in h a p art e m ais p ro fu n d a a

o u t ra p esso a, o resu lt ad o é q u ase se m p re au t o m át ico

e im e d iat o : e la se sen te au t o rizad a a se re ve lar p ara

m im . Ten d o o u v id o m eu s m ais secret o s e p ro fu n d o s

se n t im e n t o s, e la se sen t e e n co rajad a a co m u n icar- m e

o s se u s. A isso , em ú lt im a a n á lise , ch am a m o s d e

" e n co n t r o " .

80
Quaisq uer que
sejam m eus
segredos,
lem bre- se, quando
eu os confio
a você,
eles são
parte de m im .
4
Lid an d o co m n o ssas em o çõ es

D issem o s q u e a p esso a p le n a n ão re p rim e su as

e m o çõ e s, se e st iv e re m so b seu co n t ro le , p erm it in d o

q u e a f lo re m à su p e r f íc ie p ara r e co n h e cim e n t o . Ela

e x p e r ie n c ia a t o t a lid a d e d e su a v id a e m o c io n a l:

est á em co n t at o c o m , sin t o n izad a co m su as em o çõ es,

co n scie n t e d o q u e estão lh e d ize n d o so b re suas n e ­

ce ssid ad e s e su as re laçõ e s co m o s o u t ro s. Po r o u t ro lad o ,

d isse m o s t am b ém q u e isso n ão im p lica ren d er- se às

e m o çõ e s, in t e le ct o e vo n t ad e. A s em o çõ es t êm q u e

ser in t e g rad as. Em b o ra seja n ecessário exp ressá- las, n ão

é n e ce ssário d e m o d o alg u m q u e at u em o s d e aco rd o

co m e las.

A im p o rt ân cia d e t u d o isso vai f ic a r e vid e n t e se

v o cê p en sar p o r u m m o m en t o q u e q u ase t o d o s os p ra-

ze re s e so fri m en to s d a vid a est ão p ro fu n d am e n t e en vo l­

vid o s co m as e m o çõ e s; a m aio r p art e d a co n d u t a h u m a­

n a é resu lt ad o d e fo rças e m o cio n ais (e m b o ra sejam o s

t o d o s t en t ad o s a p assar p o r p u ro s in t e lect o s e a e xp licar

n o ssas p re fe rê n cias e açõ es at ravés d e b ases racio n ais

e o b je t iv as); a m a io r p arte d o s co n flit o s in t erp esso ais

83
resulta d e t en sõ es em o cio n ais (p o r exem p lo , raiva, ciú m e ,

fru st ração ) e a m aio ria d o s en co n t ro s in t erp e sso ais é

alcan çad a at ravés d e alg u m t ip o d e co m u n h ão em o cio n al

(p o r exem p lo , em p at ia, t e rn u ra, sen t im en t o s d e afe ição

e at ração ). Em o ut ras p alavras, su as em o çõ es e a m a­

n eira co m o vo cê lid a co m elas p ro vavelm en t e d e t e rm i­

n arão seu su cesso ou seu fracasso n a aven t u ra d a v id a.

O m ecan ism o d e e st ar cie n t e , e xp ressar e in t eg rar

em o çõ es p o d e ser ilu st rad o co m o se seg u e.

Situação: Vo cê est á t en d o u m a d iscu ssão co m u m a


p esso a d a f a m ília ou u m am ig o . H á várias d if e re n ças

d e o p in ião e, g rad u alm en t e , as vo ze s e a p ressão san ­

g ü ín ea se e le vam . Vo cê est á co m eçan d o a sen t ir a t en são

p ro vo cad a p o r sen t im en t o s fo rt es. O q u e vo cê d e v e ria


fazer?

Saudável

V Esteja cient e d e suas em oções. D e sv ie su a


at e n ção d a d iscu ssão , p o r u m m o m en t o , e p rest e a t e n ­

ção em su a reação e m o cio n al. Perg u n t e- se: O q u e est o u

sen t in d o ? É m ed o (ele é a lt o e est á fican d o m ais n ervo so

a cad a m in u t o )? Su p e r io r id a d e (p o r q u e v o c ê e st á

le van d o van t ag em e e le sab e d isso )?

2) Adm ita sua em oção. Vo lt e t o d a a sua at e n ção


p ara e la. Exam in e - a b e m , d e m o d o a p o d e r id e n t if icá-

84
A m aio ria de nó s
sen te que o s o u t ro s
n ão vão t o le r a r
t am an h a h o n est id ad e
em o cio n al n a co m u n icação .
Preferim o s d efen d er
n o ssa d eso n est id ad e
aleg an d o q ue isso
p o d eria f e r ir as p esso as,
e, t en d o racio n alizad o
n o ssa falsid ad e
at ravé s da n o b reza,
in iciam o s
relacio n am en t o s
su p e rf iciais.
la. A v alie , t am b ém , a su a in t e n sid ad e . É raiva, p o r exem ­

p lo , e d e " alt a vo lt ag em " .

3) Investigue sua em oção. Se v o cê q u er realm en t e


d e sco b rir alg u m a co isa a seu r e sp e it o , p erg u n t e à sua

raiva co m o ch eg o u at é a í e d e o n d e ela v e io . Bu sq u e a

su a o rig e m . V o cê p o d e n ão ser c a p a z d e d e sco b rir t o d a

a árvo re g en ealó g ica d e su a em o ção p resen t e , m as p o d e

vislu m b rar um co m p le xo d e in f e rio rid a d e q u e n u n ca

t in h a ad m it id o .

Não saudável

1) Ignore sua reação em ocional. D e q u a lq u e r


m an eira e la n ad a t em a v e r co m a d iscu ssão . M elh o r

ain d a (se vo cê q u e r co m e t e r um e r r o p io r), d ig a a vo cê

m esm o q u e n ão est á n ervo so . Se v o c ê está t ran sp iran d o ,

d ig a q u e é p o rq u e est á calo r na sa la . G u ard e su a raiva

n o fu n d o d o est ô m ag o , o n d e sua ca b e ça n ão p o d e p er­

ceb ê- la. Se n t ir em o çõ es d u ran t e u m a d iscu ssão in t e le c­

t u al n ão é d ig n o d e v o c ê , d e q u a lq u e r fo rm a.

2) Con tinu e negando suas em oções. D ig a a si


m esm o e ao s o u t ro s: " Eu n ão est o u n e rv o so " . A s e m o ­

çõ es são ig n o rad as m ais f a cilm e n t e se v o cê m an t é m a

m en te f ix a n a d iscu ssão . N ão d e ix e q u e su as em o çõ es

o d ist r a ia m . V o cê p o d e t o m ar u m d ig e st ivo d e p o is,

q u an d o seu est ô m ag o ch am á- lo d e m e n t iro so .

86
3) Vasculhe sua m ente a procura de material para
rebater. Co m o s m o vim en t o s ce rt o s, v o cê v ai co n se g u ir
v e n c e r o a d v e rsá rio . É g an h ar ou p e rd e r. V á d e vag ar

co m as p alavras p ara n ão p e rd e r o c o n t r o le . M an t e n h a

u m flu xo d e f a la co n t ín u o , o u o o u t ro p o d e rá in t e rro m ­

p ê- lo e m o st rar q u e e le e st á ce rt o . Co n ce n t re - se n a

d iscu ssão e co n t in u e m o ven d o - se e m d ir e ç ã o ao p o n t o

f r a c o d o o u t ro .

Saudável

4) Relate sua em oção. A g o ra só o s fat o s. N a d a


d e in t e r p r e t a çõ e s o u ju lg am e n t o s. " V a m o s f ic a r f r io s

p o r um m in u t o . Est o u f ica n d o m u it o ag it ad o e c o ­

m e çan d o a d iz e r co isas q u e re alm e n t e n ão q u e ria d i ­

z e r " . É m u it o im p o rt a n t e n ão acu sar o u ju lg a r o o u t r o

n esse re lat o . N ão lh e d ig a q u e fo i p o r c u lp a d e le q u e

v o c ê fico u n e rv o so . Isso n ão é v e r d a d e , vo cê sab e . É

alg u m a co isa e m v o cê . N ão o acu se n em m esm o em

su a m en t e .

5) Integre sua em oção. Ten d o e scu t ad o , q u e s­


t io n ad o e re lat ad o su a e m o ção , d e ix e ag o ra q u e su a

m en t e a v alie o q u e é m ais acert ad o f a ze r e q u e su a

v o n t ad e e x e c u t e a a v a lia ç ã o . Po r e xe m p lo : " V am o s

co m e çar n o v am e n t e . A ch o q u e fu i m u it o d e fen siv o ao

e scu t á- lo . G o st a ria d e t e n t ar n o v am e n t e " . O u " V o cê se

87
im p o rt aria se p arássem o s p o r aq u i? A ch o q u e est o u

f ican d o m u it o irr it a d o p ara d isc u t ir q u alq u e r co isa" .

Não saudável

4) Se você qu er perder a calm a por com pleto e


ficar incoerente, jog u e a culpa no out ro. E ce rt if iq u e - se
d e in c lu ir alg um d e f e it o d e p erso n alid ad e e m su a acu sa­

ção . D ig a- lh e p o r e xe m p lo : " É im p o ssível d iscu t irm o s

q u alq u e r co isa. V o cê é arro g an t e d e m ais. V o cê n u n ca

escu t a (g e n e ralizaçõ e s co m o essas aju d am t am b ém ).

Vo cê p en sa q u e é D e u s, n ão é ?" (Ce rt if iq u e - se d e q u e

ele sab e q u e a p erg u n t a é r e t ó rica ).

5)Já que você nem m esm o adm ite ter sentido uma
em oção, n ão p r e c isa se d ar ao t r a b a lh o d e t e n t a r
ap re n d e r at ravés d e su as re açõ e s e m o cio n ais o u t en t ar

in t eg rá- las. Em o çõ es re p rim id as, e n t re t an t o , t êm um

m o d o d e se in su b o rd in ar; assim , saia an d an d o m al h u ­

m o rad o , t o m e d u as asp irin as e co n t in u e p en san d o o


q u ão in ju st o ele f o i.

Reflexões sobre "afastamento" e "encontro"

A p e sa r d e n o ssa r e lu t â n cia em d iz e r ao o u t ro

q u em so m o s, há em cad a um d e nó s um p ro fu n d o d ese­

jo d e se r co m p re e n d id o . Está cla r o q u e t o d o s q u erem o s

88
Dizer- lhe m eus
PEN SAM EN TOS
é localizar- m e
num a categoria.

Dizer- lhe meus


SEN TIM EN TOS
é dizer-lhe
sobre M IM .
a rd e n t e m e n t e ser a m a d o s; m as q u an d o n ão so m o s

co m p reen d id o s p o r aq u e le s cu jo am o r d esejam o s e n e­

cessit am o s, t o rn a- se d if íc il e d esco n fo rt ável q u a lq u e r

t ip o d e co m u n icação p ro fu n d a. Isso n ão no s en g ran d ece

n em nos e st im u la. To rn a- se evid en t e q u e n in g u ém p o d e

n o s am ar d e m an e ira e fe t iva sem n o s co m p re e n d e r.

Q u alq u e r p esso a q u e se se n t ir co m p re en d id a, n o e n t an ­

t o , vai se se n t ir am ad a, ce rt am e n t e .

Se n in g u ém m e co m p re e n d e , n em m e a c e it a c o ­

m o so u , vo u m e se n t ir alie n ad o . N em m eu s t alen t o s

n em m in h as p o sses p o d e rão m e co n fo rt ar. M esm o em

m eio a m u it as p esso as, vo u carre g ar sem p re co m ig o

um se n t im e n t o d e iso lam e n t o e so lid ã o . Vo u e xp e -

r ie n ciar u m t ip o d e " co n f in am e n t o so lit á rio " . É u m a lei

t ão ce rt a co m o a le i d a g rav id ad e - a q u e le q u e é

co m p re e n d id o e am ad o cre sce rá co m o p esso a; aq u e le

q u e é re je it ad o m o rrerá so zin h o em seu iso lam en t o .

H á m u it as co isas d e n t ro d e ca d a u m d e n ó s q u e

g o st aríam o s d e co m p art ilh ar. To d o s n ó s t em o s n o sso

p assad o se c r e t o , n o ssas v e rg o n h a s o cu lt a s, n o sso s

so n h o s d e sfe it o s, n o ssas esp e ran ças jam ais r e v e la d a s.

D ian t e d a n e ce ssid ad e e d o d e se jo d e co m p a rt ilh a r

esses seg red o s e d e se r co m p re e n d id o , cad a u m d e v e

a v aliar seu m ed o e o risco q u e está co rre n d o . Q u a isq u e r

q u e sejam m eu s seg re d o s, p arecem ser m in h a p art e

m ais p ro fu n d a e ú n ica , m ais d o q u e q u alq u e r o u t ra

90
co isa. N in g u ém jam ajs f e z e xat am e n t e as m esm as co isas

q u e eu f iz, n in g u ém ja m a is p en so u o q u e p en sei o u

so n h o u o q u e so n h e i. N em m esm o est o u ce rt o d e p o d e r

en co n t rar as p alavras p ara co m p art ilh ar essas co isas co m

o u t ra p esso a; n ão est o u ce rt o t am b ém d e co m o v ã o

so ar p ara e la.

A p esso a co m u m a b o a a u t o - im ag e m , q u e se

a ce it a v e rd ad e iram e n t e , p o d erá r e so lv e r m elh o r e sse

d ile m a . É p o u co p ro v áve l, n o e n t an t o , q u e alg u ém q u e

n u n ca t en h a co m p a rt ilh a d o seu m u n d o p o ssa co n st ru ir

a b ase d e u m a b o a au t o - im ag e m . A m aio ria d e n ó s

v iv e u sit u açõ e s, e xp erim e n t o u sen saçõ es e sen t im en t o s

q u e jam ais se at re v e ria a re ve lar. A o u t ra p esso a p o d e ria

p en sar q u e est am o s e rra d o s, o u q u e so m o s m au s, r id í­

cu lo s o u p resu n ço so s. To d a a n o ssa vid a p o d eria p are ce r

u m g ran d e en g o d o .

M ilh are s d e m ed o s n o s p ren d em n o co n fin am e n -

to so lit ário d a a lie n a çã o . Em alg u n s d e n ó s há o m ed o

d e su cu m b ir, d e p erd er o co n t ro le e ch o rar. O u t ro s

p o d em se se n t ir t o lh id o s p elo m ed o d e a o u t ra p esso a

n ão alcan çar o en o rm e sig n ificad o d e seu seg red o . G e ­

ralm en t e, an t e cip am o s a d o r p ro fu n d a d e verm o s n o sso

seg red o re ce b id o co m a p at ia, in co m p reen são , e sp an t o ,

raiva ou zo m b aria . M eu co n fid e n t e p o d e ria ficar co m

raiv a o u r e v e la r m eu seg red o a p esso as às q u ais eu n ão

p ret en d ia re v e lá- lo .

91
Po d e ser q u e, em alg u m m o m en t o d a m in h a v id a ,

eu t en h a exp o st o p art e d e m im d ian t e d o s o lh o s d e

o u t r a p esso a. Po d e ser q u e e la n ão t e n h a en t en d id o e

m e refu g iei ch e io d e m ág o a n u m a d o lo ro sa so lid ão .

A in d a assim , em o u t ro s m o m en t o s, alg u ém p o d e t e r

e scu t ad o m eu seg red o e a ce it o m in h a co n f id ê n cia g e n ­

t ilm e n t e . Po sso at é m e le m b rar d o q u e a p esso a d isse

p a ra m e e n co rajar e a co m p aixão em su a v o z, seu o lh a r

d e co m p re en são . Po sso m e lem b rar d a exp ressão d e

se u s o lh o s, d o leve t o q u e d e su a m ão d ize n d o q u e m e

co m p re e n d ia . Fo i u m a e xp e r iê n cia sig n ificat iv a e lib e r ­

t ad o ra e , q u an d o t e rm in o u , sen t i- m e co m o se est ivesse

m ais vivo . U m a n ecessid ad e im en sa fo i at e n d id a d e n t ro

d e m im - se r re alm e n t e e scu t ad o , le v a d o a sé rio e

co m p re e n d id o .

A p esso a co n seg u e se co n h e ce r a p e n as q u an d o

co m p art ilh a seu m u n d o . A in t ro sp e cção é in ú t il. U m a

p e sso a p o d e co n f id e n cia r t o d o s o s se u s seg red o s às

p ág in as d ó ce is d e u m d iá r io , m as ela só p o d e se c o ­

n h e c e r e e x p e r ie n c ia r a p le n it u d e d a v id a at ravés d o

e n co n t ro co m o u t ra p esso a. A am izad e se t o rn a u m a

g ran d e av e n t u ra. H á u m a d e sco b e rt a co n t ín u a e ca d a

v e z m ais p ro fu n d a d a m in h a p esso a e d a p esso a d e

m e u am ig o à m e d id a q u e re ve lam o s n ív e is m ais n o vo s

e m ais p ro fu n d o s d e cad a u m d e n ó s. É u m a e xp e riê n cia

q u e ab re m eu in t e le ct o , alarg a m eu s h o rizo n t e s, au m en -

92
A p esso a in t e ir a é aq u e la q u e
est ab e le ce u m c o n t a t o sig n if ic a t iv o
e p r o f u n d o co m o m u n d o à su a v o lt a .
Ela n ão só e scu t a a si m e sm a,
co m o t am b é m às vo ze s
d e seu m u n d o .
A e xt e n são d e su a p r ó p r ia e xp e r iê n cia
é in f in it a m e n t e m u lt ip lica d a p ela
e m p at ia q ue se n t e em r e la çã o ao s
o u t r o s. Ela so f r e co m o s in f e lize s
e se ale g r a co m o s b e m - av e n t u rad o s.
Ela n asce a cad a p r im a v e r a e se n t e
o im p act o d o s m ist é r io s d a v id a : o
n ascim e n t o , o cr e sc im e n t o , o a m o r ,
o so f r im e n t o , a m o r t e .
Seu co ração b at e co m o s en am o rad o s
e ela co n h ece a ale g ria q u e est á
co m e le s. Ela co n h ece t am b ém o
d esesp ero , a so lid ão d o s q u e so f r e m
sem a lív io ; e o s sin o s, q u an d o t o ca m ,
re sso am de m a n e ir a sin g u la r p a r a ela.
ta m in h a at e n ção , ap ro fu n d a m eu s sen t im en t o s e d á

sen t id o a m in h a v id a .

N o en t an t o , as b arreiras n ão estão q u eb rad as p ara

sem p re. A am izad e e a au t o - revelação t razem co isas no ­

vas a cad a n o vo d ia p o rq u e ser p esso a en vo lve m u d an ça

e crescim en t o d iário s. M eu am ig o e eu est am o s cres­

cen d o e as d ife re n ças se t o rn an d o m ais ap aren t es. N ão

est am o s n o s t o rn an d o u m a só p esso a, m as ca d a um se

t o rn an d o su a p ró p ria p esso a. D e scu b ro em m eu am ig o

o u tro s g o sto s e p re fe rê n cias, o u t ro s sen t im en t o s e esp e­

ran ças, o u t ras reaçõ es a no vas e xp e riê n cias. D escu b ro

q ue n ão p o sso lh e d ize r q u em so u d e um a só v e z o u d e

m o d o d e fin it ivo . Preciso lh e d ize r continuam ente q u em

sou e e le p recisa m e d ize r continuamente q u em é p o rq u e

am b o s est am o s e v o lu in d o a cad a d ia.

Po d e ser q u e ju st am en t e as co isas q u e co m eçaram

a m e a t r a ir n e le , ag o ra d if icu lt e m a co m u n ica çã o . N o

co m e ço , seu se n t im e n t o p are cia co m p e n sar m in h as

in clin açõ e s in t e le ct u ais. Su a m a n e ira e xt ro ve rt id a co m ­

p lem e n t ava m in h a in t ro v e rsão ; seu re alism o co n t ra­

b alan çava m in h a in t u ição art íst ica. Parecia ser a am izad e

id eal. Parecíam o s se r m et ad es sep arad as q u e p re ci­

savam u m a d a o u t ra p ara fo rm ar u m in t eiro . M as, ag o ra,

q u an d o q u ero q u e co m p art ilh e co m ig o m in h a visão

in t e le ct u al, f ico ab o rre cid o p o rq u e ele não se in t eressa

p o r m e u s arg u m e n t o s o b je t iv o s e r a c io n a is. A g o ra,

94
q u an d o q u ero lh e m o st rar q u e n ão e st á se n d o ló g ico

em seu se n t im e n t o , isso n ão p are ce lh e in t e re ssar em

ab so lu t o . N o co m e ço p are cíam o s no s a ju st a r t ão b em .

A g o ra, se u d esejo d e p ro cu rar o u t ras p esso as e m in h as

in clin a çõ e s in t ro v e rt id as à p r o cu r a d e so lid ão p arecem

p ro m o v e r n o ssa se p aração .

É cla ro q u e n o ssa a m iza d e ain d a p o d e so b reviver.

Est am o s p ró xim o s d a q u ilo q u e é m ais g rat if ican t e e

m ais b o n it o . N ão d e ve m o s v o lt a r at rás a g o ra. A in d a

p o d e m o s c o m p a rt ilh a r a q u e la s co isas q u e co m p a rt i­

lh á v a m o s co m t a n t a e x c it a ç ã o n o c o m e ç o , q u an d o

eu lh e d isse p ela p rim e ira v e z q u em e u e r a e ele m e

d isse q u e m e le e r a . A g o ra p o d e m o s c o m p a r t ilh a r m ais

p ro f u n d am e n t e p o rq u e e st am o s m ais p ro fu n d o s. Se

eu co n t in u a r a e scu t á- lo co m o m esm o se n so d e d e s­

co b e rt a e a m esm a aleg ria d o in íc io , e se e le m e escu t ar

assim t am b é m , n o ssa am izad e f ará c r e sc e r ra íze s m ais

f ir m e s e m ais p ro fu n d as. O b ro n ze d e n o sso p rim e iro

c o m p a r t ilh a r vai se t ran sf o rm a r em o u r o . Est arem o s

ce rt o s d e q u e n ão h á a n e ce ssid ad e d e e sco n d e r co isa

alg u m a u m d o o u t ro e d e q u e p o d em o s c o m p a r t ilh a r

tud o .

Co n t in u are i e xp e r ie n c ia n d o a m in h a re alid ad e e ,

at rav é s d o o u t ro , est arem o s ju n t o s e xp e rie n cia n d o a

r e a lid a d e d e D e u s q u e d isse u m a vez " ... n ão é b o m

q u e o h o m em est e ja so zin h o " .

95
O seu mais leve olhar
vai me fazer, facilmente, desabrochar
apesar de eu ter me fechado
com o um punho cerrado,
você m e abre sempre pétala
por pétak
com o a primavera abre
(tocando de leve, misteriosamente)
sua primeira rosa.
e.e. cummings

96
5
M ét o d o s d e d efesa d o ego

Formação de reação

A n t e s d e p ro sse g u irm o s p ara um ca t á lo g o d e

v á rio s p ap é is e jo g o s, t o rn a- se n e ce ssá rio d iz e r a l­

g u m a c o isa so b re o s m ét o d o s d e d e fe sa d o eg o q u e

est ão , d e alg u m a f o rm a , n eles e n v o lv id o s. Em resu m o ,

essas d e fe sas d o eg o são co m p e n sa çõ e s cu lt iv a d a s

p ara c o n t r a b a la n ç a r e c a m u f la r alg u m a c o isa q u e

co n sid e r a m o s co m o um d e f e it o o u u m a d e sv a n ­

t ag em .

O g ran d e A lfre d A d le r in t eresso u - se in icialm e n t e

p ela com pensação co m o u m fe n ô m e n o p sico ló g ico

q u an d o p erceb eu co m o a n at u re za h u m an a t en d e a

co m p e n sar d e ficiê n cias físicas. U m rim d esem p en h a a

fu n ção d o s d o is se u m d e ixa d e fu n cio n ar. O m esm o

aco n t ece co m o s p u lm õ es. U m a frat u ra ó ssea q u e se

co n so lid a ad eq u ad am en t e faz co m q u e o lu g ar d a fra­

t u ra se t o rn e m ais fo rt e d o q u e o n o rm al.
É verd ad e t am b ém q u e m u it as p esso as fam o sas

d esen vo lveram alg u m a h ab ilid ad e em alt o n ív e l exa-

97
t am en t e p o rq ue est avam t en t an d o co m p e n sar alg u m a

d e ficiê n cia. Glenn Cu n n in g h am , o p rim e iro d o s fam o so s

co rred o res am erican o s, t o rn o u - se u m g ran d e at le t a na

t en t at iva d e fo rt alecer su as p ern as, ale ijad as se riam e n t e

n u m in cên d io q ue q u ase lh e t iro u a v id a q u an d o t in h a

set e an o s. Ch arles A t la s t o rn o u - se o p rim e iro d o s fam o ­

so s at let as d a m u scu lação p o rq u e se sen t ia e xt re m a ­

m en t e em b araçad o co m seu físico d é b il d u ran t e a ad o ­

lescê n cia. H á t am b ém o q u e se ch a m a d e " c o m p e n ­

sação sub stitu t a" at ravé s d a q u al a p esso a co m d e f ic iê n ­

cia n u m a área ap ren d e a se so b ressair em o u t ra. O fa­

m o so p in t o r, W h ist ler, fo i re p ro vad o n a A ca d e m ia d e

W est Po in t e d esistiu d a carre ira m ilit a r, m as ap re n d e u

a se so b ressair com o art ist a, d esen vo lv en d o seu s t alen t o s

n esse cam p o .

A "fo rm ação d e re ação " q u e est am o s co n sid e ­

ran d o aq u i é um a co m p e n sação q u e co n sist e em e xa ­

g erar o u su p erd esen vo lver alg u m as in clin açõ e s co n s­

cie n t e s; isso serviria co m o d efesa co n t ra t e n d ê n cia s

in co n scien t es de c a r á t e r o p o st o e re p ro v áv e l e q u e

am eaçam v ir à co n sciê n cia . A p esso a e xt re m am e n t e

d o g m át ica, q ue est á se m p r e c e r t a d e t u d o , c u lt iv a

co n scien t em en t e essa p o st u ra d e c e rt e za p o r cau sa d e

d ú vid as d esm o ralizad o ras em sua m e n t e su b co n scien t e.

Su a auto - im ag em n ão é fo rt e o su f icie n t e p ara co n v iv e r

co m essas d ú vid as. Su sp e it a- se q u e p esso as a f á v e is

98
d e m ais, q u e ch eg am a u m sen t im e n t alism o exag erad o ,

assu m em essa at it u d e co m o co m p e n sa çã o p ara t en ­

d ê n cias ru d e s e cru é is q u e fo ram re p rim id as n a m en te

su b co n scie n t e .
O p u d o r, em f o rm a e xt re m a , é g e ralm e n t e um a

co m p e n sação p ara d e se jo s se xu a is n o rm ais q u e estão

re p rim id o s p o rq u e a p esso a m u it o re cat ad a n ão co n ­

seg u e c o n v iv e r co m e le s. A p esso a q u e m an ife st a um a

p r e o cu p a çã o e xag e rad a p ela sa ú d e d e u m p ai m ais

v e lh o o u d e u m a m ã e id o sa e st á p r o v a v e lm e n t e

co m p e n san d o o d e se jo su b co n scie n t e d e se lib e rt ar

d a re sp o n sab ilid ad e p o r esse p ai o u m ãe a t r a v é s de

su a m o rt e .

N at u ralm e n t e , n ão p o d em o s su sp e it ar d e to d a

b o a in clin açã o co m o sen d o um d isfarce p sico ló g ico para

in clin açõ e s o p o st as. O p o nto ch a v e d a fo rm ação de

reação é sem p re u m a su p erco m p en sação e u m a reação

exag erad a. A t it u d es co m p en sat ó rias são um m o vim en t o

p ara t rás c u ja f in alid ad e é e v it ar u m m o vim en t o p ara

fre n t e . Esse t ip o d e co m p e n sação , q u an d o em fu n ­

cio n am e n t o , sem p re resu lt a n u m exag e ro o u ext rem o .

Su sp eit a- se, en t ão , q u e a "fo rm ação d e re a ção " co m ­

p en sad o ra co n sist e ap en as n u m co m p o rt am e n t o exa­

g erad o d e q u alq u e r n at u reza. O d o g m át ico n u n ca está

e rrad o . O recat ad o é e xce ssiv am e n t e cast o . O tip o

refo rm ist a g o sta d e f a ze r serm õ es, é sem p re ín t eg ro ,

99
Est á n a m o d a p e r g u n t a r :
Q u e m so u e u ?

N ão h á u m “eu v e r d a d e ir o ”
d e n t r o d e m im .
Eu so u a q u ilo co m q ue
e st o u co m p r o m e t id o .
d et est a in v a ria v e lm e n t e o p e cad o e o p e ca d o r, sem

q u alq u e r re co n h e cim e n t o d a fraq u e za h u m an a n o rm al.

A co n clu são é e st a : um com portam ento exagerado

d e u m a p esso a sig n if ic a , em g e ral, justam ente o oposto

d o q u e e la d e clara. G e ra lm e n t e acu sam o s o d o g m át ico

d e o rg u lh o so e t en d em o s a en sin ar- lh e a h u m ild ad e .

N a v e r d a d e , f alt a- lh e seg u ran ça q u an t o a si m esm o ;

q u an t o m ais arg u m en t am o s co m e le t e n t an d o cu lt iv ar

d ú vid as em su a m e n t e e e xp o r seu s erro s, m aio r é a

su a n ecessid ad e d e co m p e n sação . É p ro váve l q u e seu

d o g m at ism o se t o rn e ain d a m ais ext re m ad o e an t ip át ico .

Deslocam ento

Um seg u n d o m e can ism o d e d e fe sa d o ego é

ch am ad o d e " d e slo cam e n t o " . Re fe re - se , n o g eral, à

e xp re ssão in d iret a d e um im p u lso q u e a co n sciê n cia

ce n so ra (o superego d e Freu d ) n o s p ro íb e d e exp ressar

d ire t a m e n t e .

Po r e xe m p lo , u m a cria n ça p o d e d e se n v o lv e r um a

h o st ilid a d e im en sa e m re lação a seu s p ais. Su a p ro g ra­

m ação so c ia l n ão lh e p e rm it e a exp re ssão d ir e t a d esse

se n t im e n t o . N ão é p e rm it id o o d ia r o s p r ó p r io s p ais.

A ssim , n ão est an d o em co n t at o co m a h o st ilid a d e q u e

p re cisa re p rim ir, e ssa cria n ça q u e b ra o b je t o s, d est ró i

p ro p rie d ad e s p ú b lic a s ou f a z q u a lq u e r o u t ra co isa irra-

101
cio n a l. O t o rce d o r d e b o xe , co m ap are n t e s in st in t o s

h o m icid as, g rit a f u rio sa m e n t e ao la d o d o rin g u e , in st i­

g an d o o m ais fo rt e a g o lp e a r o m ais fra co . En q u a n t o

isso , um lu t ad o r d e sam p arad o e se m sen t id o s se d o b ra

so b re o s jo e lh o s. O t o r c e d o r n u t r e , o b v ia m e n t e , a l­

g u m a h o st ilid a d e su b co n scie n t e q u e p re cisa se r r e ­

p rim id a, p o is n ão p o d e co n v iv e r co m e la n em e x­
p ressá- la.

A " v álv u la d e escap e" é um a fo rm a co m u m d e d es­

lo cam en t o . Reag im o s co m u m a v io lê n cia d e sn e ce ssária

q u an d o alg u ém no s " e n cara" p o rq u e h á u m a h o st ilid ad e

em nó s q u e n ão p o d em o s exp re ssar d ire t am e n t e . Po r

alg u m a razão a p esso a a q u em a h o st ilid ad e é d irig id a

n o s p arece am e d ro n t ad o ra. U m h o m em d e t e m p e r a ­

m en to v io le n t o n o t rab alh o p o d e e st ar e xp re ssan d o a

h o st ilid ad e q u e sen t e p e la m u lh er o u p o r si m esm o ,

m as n ão co n seg u e exp re ssá- la em ca sa . O u o h o m em

q u e fo i ce n su rad o in ju st am e n t e p e lo p at rão (e a q u em

t em e p o rq u e seu em p reg o est á em risco ) p o d e ch e g ar

em casa e jo g ar su a h o st ilid ad e so b re a m u lh er e o s

filh o s. A re ca t ad a, q u e n ão p o d e a d m it ir su a n at u re za

sexu al, p o d e se m o st rar m u it o in t eressad a em " e sc â n ­

d alo s" d e n at u re za se xu a l. A p esso a so lit ária e iso lad a,

q u e n ão p o d e a d m it ir su a n e ce ssid ad e d e a m o r e

afe ição , vai se d e clarar " lo u cam e n t e ap aixo n ad a" p o r

alg u ém (a q u em não am a re alm e n t e ).

102
U m a se g u n d a fu n ção d o d e slo ca m e n t o é d isfar­

ç a r re a lid a d e s d e sag rad áv e is. A p esso a n ão p o d e ad ­

m it i- la s (e p o rt a n t o as r e p r im e ), e n f a t iza n d o c o n s­

c ie n t e m e n t e alg u m a o u t ra co isa q u e n ão é t ão e m ­

b araço sa p ara o eg o . N ó s n o s d ize m o s p reo cu p ad o s

co m alg u m a t riv ia lid a d e p ara e sco n d e r u m m ed o m aio r

q u e n ão q u e re m o s ad m it ir, h o n e st a m e n t e . D ig am o s,

p o r e xe m p lo , q u e t en h o c iú m e d e v o cê , m as não p o sso

a d m it ir isso , n em m esm o p a r a m im . A ssim , m e d e ­

t e n h o em alg u m a co n t ra rie d a d e t r iv ia l, co m o o t o m

d e su a v o z. Co n sid e ro - a m u it o ásp e ra . O m arid o e a

m u lh e r q u e ch e g am a se d e sp re zar, m as n ão p o d em

a d m it ir ab e rt am e n t e as f o n t e s re ais d e su a an g ú st ia,

g e ralm e n t e b rig am co m g ran d e v e e m ê n c ia p o r ca u sa

d e b a n a lid a d e s.

O h o m em cu ja m ãe d o m in o u o p ai é p ro g ram ad o ,

em g e ral, p ara t rat ar a p ró p ria m u lh e r co m o um se r

in fe rio r. N o e n t a n t o , não p o d e ad m it ir seu re ssen t im en ­

t o em re lação à m ãe e a o t rat am e n t o q u e e la d ava ao

p a i; n ão p o d e, t am b é m , a d m it ir q u e q u e r v e r su a m u ­

lh e r " p o r b a ix o " . A ssim , vai p ro v av e lm e n t e q u e ixar- se

d e p eq u en o s h áb it o s in co n se q ü e n t e s q u e e la t em . V ai

n eg ar o v alo r d e suas o p in iõ e s e a ad e q u ação d e su as

a çõ e s. Vai c r it ic á - la am arg am en t e p ela m an e ira in a d e ­

q u ad a co m q u e jo g a b aralh o .

103
Projeção

O u t ro m ecan ism o d e d efesa d o eg o é ch am ad o

d e " p ro je çã o " . To d o s nó s t e m o s a t e n d ê n cia a d e sco ­

n h e ce r t raço s em n ó s m esm o s e p ro jet á- lo s no s o u t ro s.

Ten t am o s n o s liv ra r d e n o ssas p ró p rias lim it açõ es a t r i­

b u in d o - as a alg u m a o u t ra p esso a. A d ão e xp lico u seu

p e cad o a D e u s d ize n d o :„ " A .m u lh er m e t e n t o u " . Eva

a t r ib u iu t o d a a c a la m id a d e à se r p e n t e . É t am b é m

p ro je ção q u an d o acu sam o s o u t ras co isas p elo s n o sso s

f racasso s, co m o as circu n st ân cias, as fe rram e n t as q u e

u sam o s, a p o sição d as e st re las. So m o s t en t ad o s a p e r­

g u n t ar à o u t ra p esso a, "Po r q u e vo cê n ão o lh a p o r o n d e

a n d a ?" , q u an d o esb arram o s n e la.

E h u m an o e fre q ü e n t e u sarm o s o m ecan ism o d a

p r o je çã o , re je it a n d o nos o u t ro s o q u e n ão p o d em o s

a c e it a r em n ó s. O v e rd ad e iro m ist é rio d a p ro je ção é

q u e n ão reco n h ecem o s essas co isas e m n ó s m esm o s.

Ela s est ão r e p r im id a s. Co n d e n a m o s f o rt e m e n t e n o s

o u t ro s o q u e n ão ad m it im o s em n ó s. Q u a n t o m ais fo rt e

e m ais exag erad a f o r a m an ife st ação d o d esg o st o p o r

alg u m a co isa o u alg u m t r a ç o , m aio r é a su sp eit a d e se


t r a t a r d e p ro je ção .

Q u an d o u m a p esso a co n d e n a a h ip o crisia co m

f r e q ü ê n c ia , p ro clam an d o q u e é um t raço co m u m à raça

h u m an a, é b em p ro vável q u e est eja re p rim in d o o r e c o ­

104
n h e cim e n t o co n scie n t e d e q u e e la p ró p ria é h ip ó crit a.

O h o m em vaid o so q u e não r e co n h e ce su as p ró p rias

in clin a çõ e s su sp eit a q u e to d o m u n d o d eseja at en ção e

p u b licid a d e . A p esso a am b icio sa q u e não p o d e ad m it ir

h o n est am en t e (e p o rt an t o re p rim e ) su as p ró p rias t en ­

d ê n cias am b icio sas n o g eral, d iz q u e "t o d as as p esso as

só se p reo cu p am co m elas p ró p rias; t u d o o q u e q u erem

é fam a e d in h e ir o " .

H á t am b ém o p aran ó ico (v ít im a d e co m p le xo d e

p erseg u ição ) q u e p ro jet a o ó d io q u e sen t e p o r si m esm o

e p en sa q u e os o u t ro s n ão g o stam d e le .

A recat ad a p e n sa q u e t o d o h o m em at rae n t e está

" u lt rap assan d o o s lim it e s" co m e la ; p ro jet a seu s p ró p rio s

d esejo s o cu lt o s (re p rim id o s) em cad a h o m em at rae n t e .

U m a p e sso a d e " c o n sc iê n c ia p e sad a" se n t e q u e os

o u t ro s d e sco n fiam d e la , a o b se rvam . Q u an d o alg u ém

no s m o st ra um p o n t o fraco , co m o p o r e xe m p lo , no ssa

o scilação d e h u m o r, re vid am o s acu san d o : " V o cê é q u e

é m u it o t e m p e ram e n t al" .

Introjeção

" In t ro je çã o " é a d efesa d o eg o at ravés d a q u al

at rib u ím o s a nós as q u alid ad e s d e o u t ro s. A in t ro je ção

f ica p at e n t e no q u e ch am am o s d e " cu lt o ao s h e ró is" .

N ó s n o s id e n t ificam o s co m eles. Id e n t ificam o s t am b ém

105
Pa r a c o m p r e e n d e r
as p e sso as,
d evo t e n t a r e sc u t a r
o q u e e las
não e st ã o d ize n d o ,
o q u e e la s t a lv e z
n u n ca v e n h a m
a d iz e r .
a q u ilo q u e p o ssu ím o s co m a n o ssa p e sso a. Ficam o s

o rg u lh o so s q u an d o alg u ém e lo g ia n o ssa ca sa , ou n o s

co n sid eram o s "o s b o n s" p o rq u e viem o s d e u m a cid ad e

fam o sa, p ert e n cem o s a u m a asso ciação co n h e cid a o u

v iajam o s a m u it o s lu g ares. M u it a s m u lh e re s se id e n ­

t if icam co m as h e ro ín as so fre d o ras d as n o v e las d e t e le ­

v isão . U m p siq u iat ra d e M an h at t an n o t o u q u e m u it as

d e su as p acien t es t in h am re caíd as d ep o is d e se t o rn arem

v icia d a s em n o ve las. Elas se id e n t if icav am co m t o d a a

in f e lic id a d e d as p e rso n ag e n s so f re d o ras d o s m e lo ­

d ram as.

Esse t ip o d e id e n t if ica çã o o fe re ce acesso fácil a

um m u n d o d e fan t asias e p ro p o rcio n a o ro m an ce em

n o ssas v id as; n o e n t an t o , n em sem p re o s resu lt ad o s

d essa d efesa d o eg o são p ro veit o so s o u co n fo rt ad o re s.

Racionalização

A fo rm a m ais co m u m d e d efesa d o eg o é a " racio ­

n a liza ç ã o " . Co m o u m a t é cn ic a d e au t o ju st ificação , é

d if íc il se r v e n c id a . En co n t ram o s alg u m a razão q u e

ju st if iq u e no sso s at o s. Pen sam o s (racio n alizam o s) d e

m o d o a cam in h a rm o s p ara u m a c o n c lu sã o p re d e ­

t e rm in a d a. N o g e r a l, há d u as razõ es p ara t u d o o q u e

f aze m o s: a razão aleg ad a e a razão real. A racio n alização

n ão é ap en as en g an o sa, m as t am b ém co rro m p e to d o o

107
sen so de in t e g rid ad e e in t e ire za . Racio n alizam o s n o ssas

f a lh a s; e n co n t ram o s ju st if icat iv a s p a ra n o ssas a çõ e s;

co n ciliam o s n o sso s id e ais co m n o sso s at o s; t ran sfo r­

m am o s n o ssas p referên cias em o cio n ais em co n clu sõ es

racio n ais. Eu d e claro q u e b eb o ce rv e ja p o rq u e é u m a

b eb id a q u e co n t ém m alt e. A verd ad eira razão é q u e gosto

d e b eb er; q u an d o b eb o , m e sin t o d e sin ib id o e seg u ro .

Co m o em t o d o s o s o u t ro s m ecan ism o s d e d e fe sa,

h á sem p re alg u m a co isa q u e n ão p o sso a d m it ir ; alg u m a

co isa q u e g o st aria d e f aze r, m as m e p are ce e r r a d a ; o u

alg u m a c r e n ç a q u e m e f a z se n t ir m e lh o r. A r a c io ­

n alização é a p o n t e q u e t ran sfo rm a m eu s d e se jo s em

fat o s. E o u so d a in t e lig ê n cia p ara n eg ar a v e rd a d e ; é

u m m ecan ism o q u e m e t o rn a d eso n est o co m ig o m es­

m o . E, se n ão p o sso ser h o n est o co m ig o , ce rt am e n t e

n ão p o sso se r h o n est o co m q u a lq u e r o u t ra p esso a.

Co m o co n se q ü ê n cia, h á u m a sab o tag em d e t o d a au t e n ­

t icid ad e h u m an a. É um m ecan ism o q u e d esin t e g ra e

frag m en t a a p e rso n alid ad e .

A in sin c e r id a d e , co m o um e st a d o in t e r io r d a

m e n t e , é u m a im p o ssib ilid ad e p sico ló g ica. N ão p o sso

d ize r , ao m esm o t e m p o , q u e a cre d it o e n ão acre d it o

em alg u m a c o isa . Esco lh e r o m al p e lo m al é t am b ém

u m a im p o ssib ilid ad e p sico ló g ica p o rq u e a vo n t ad e só

e sco lh e o b e m . Co m o co n se q ü ê n cia , n ão p o sso n eg ar

o q u e ad m it o co m o sen d o ve rd ad e , n em p rat icar at o s

108
q u e rep ro vo ; p re ciso en t ão r a cio n a liza r p ara q u e a v e r ­

d ad e d eixe d e se r v erd ad e e o m al se t o rn e o b em .

A lg u m a v e z v o cê já se co lo c o u e st a q u e st ão

su rp re e n d e n t e m e n t e d if íc il: co m o alg u ém esco lh e o

m al? Co m o co m et e m o s o p ecad o ? Po r su a p ró p ria n a­

t u r e za , a vo n t ad e só e sco lh e o q u e é b o m . É m in h a

co n v icçã o p esso al q u e o e x e r c íc io liv r e d a vo n t ad e

n u m a sit u ação d e cu lp a o c o r r e da seg u in t e m an e ira: a

v o n t ad e d e se ja alg u m m al q u e p o ssu i b o n s asp ect o s

(se eu ro u b ar seu d in h e iro , v o u ficar r ic o ). A ssim , f o rça

o in t e lect o a se co n ce n t rar ap en as n o elem e n t o b o m

q u e vai se r a d q u ir id o a t r a v é s d o at o in co rre t o e a

e lim in a r o re co n h e cim e n t o d o m al. Isso leva o in t ele ct o

a r a cio n a liza r o q u e a p r in c íp io fo i re co n h e cid o co m o

m al. En q u an t o est o u f aze n d o alg u m a co isa e rrad a, n ão

p o sso en carar d e fren t e se u asp ect o n e g at ivo ; p re ciso

p e n sar n o q u e é b o m e c e r t o . Co m o co n se q ü ê n cia, o

liv r e arb ít rio se e xe rcit a n o at o d e co ag ir o in t elect o a

ra cio n a liza r e n ão d e e x e c u t a r o at o em si m esm o .

Cuidado: seres humanos

Rep arem q u e em t o d o s o s m ecan ism o s d e d e f e sa

d o eg o h á alg u m a co isa q u e a p esso a p re cisa re p rim ir.

Ela n ão p o d e v iv e r co m alg u m a id éia. D e u m m o d o o u

d e o u t ro , m an t ém suas p eças p sico ló g icas in t at as at ravés

10 9
d e alg u m a fo rm a d e au t o - en g an o . Ela sim p le sm en t e n ão

co n seg u e c o n v iv e r co m a v e rd a d e e, p o rt an t o , t em q u e

re p rim i- la.

A ssim se n d o , e isso é m u it o im p o rt an t e , a t e n ­

d ê n cia q u e t e m o s d e " c o lo c a r as p esso as n a lin h a " ,

d e t ir a r suas m áscaras e d e f o rçá- las a e n c a r a r a verd ad e

r e p r im id a é u m a v o c a ç ã o e x t r e m a m e n t e p erig o sa

e d e st ru t iva. Er ic Bern e av isa so b re o p erig o d e d e silu ­

d ir as p esso as em relação a seu s " jo g o s" . Po d e ser q u e

n ão co n sig am su p o rt ar isso . Elas b u scaram um p ap e l,

co m eçaram a jo g ar e a u sar u m a m áscara exat am en t e

p o rq u e isso iria t o rn ar suas v id as m ais f á ce is e t o le ráve is.

Po rt an t o , d evem o s se r m u it o cu id ad o so s p ara n ão

co n fro n t arm o s as p esso as co m suas ilu sõ es. So m o s t o d o s

t en t ad o s a d esm ascarar os o u t ro s, a d est ru ir su as d efesas,

a d eixá- lo s n u s e ceg o s d ian t e d a lu z d e n o ssa d e sco ­

b e rt a. O s resu lt ad o s p o d em ser t rág ico s. Se as p eças

p sico ló g icas se so lt arem , q u e m vai ap an h á- las p ara r e ­

co m p o r a p esso a? Vo cê v a i? V o cê sab e?

O maior bem de todos: a verdade

Tu d o o q u e fo i d it o n est as p ág in as d e v e ria nos e st i­

m u lar a serm o s ab ert o s e verd ad eiro s em re lação a n ó s

m esm o s, a n o sso s p en sam en t o s e em o çõ es; d everia n o s

e st im u lar a serm o s h o n esto s co n o sco e co m o s o u t ro s.

110
Por o u t ro lad o , sem est ar ret iran d o o q u e fo i d it o , é ab so ­

lu tam en te n ecessário co m p re en d e r q u e n ad a d o q u e está

escrito n est as p ág inas m e au t o riza a ju lg ar o s o u t ro s. Posso

lhe d izer q u em so u , co m u n icar- lh e m in h as em o çõ es co m

fran q u eza e h o n est id ad e, e esse é o m aio r b em q u e po sso

fazer a m im m esm o e a v o cê . M esm o se m eu s p en sam en ­

tos e em o çõ es n ão lh e ag rad am , reve lar- m e d e m an eira

ab ert a e h o n est a ain d a é o m elh o r q u e t en h o p ara lhe

o ferecer. A t é o n d e f o r cap az, vo u t en t ar ser h o n est o

co m ig o e m e co m u n icar h o n est am en t e co m v o cê .

O u t r a co isa é m e co lo c a r co m o ju iz d e su as

ilu sõ es. Isso é b rin car d e D eu s. N ão d evo q u e re r ser o

g u ard ião d e su a in t eg rid ad e e h o n e st id ad e : essa t arefa

é su a. Só p o sso e sp e rar q u e m in h a h o n est id ad e co m ig o

m esm o lh e p erm it a se r h o n esto co m v o cê . Se p u d er

lhe e n ca rar e lh e d iz e r d e m in h as falt as e v aid ad e s,

m in h as h o st ilid ad e s e m ed o s, m eu s seg re d o s e ver­

g o n h as, t a lv e z vo cê p o ssa ad m it ir su as co isas p ara vo cê

m esm o e co n f id e n ciá - la s a m im , se q u iser.

É u m a v ia d e m ão d u p la. Se v o cê fo r h o n e st o co ­

m ig o , m e co n t ar su as vit ó rias e f racasso s, so frim en t o s e

aleg rias, vai m e a ju d a r a en carar m in h as p ró p rias v i­

vê n cias e a m e t o rn ar u m a p esso a in t e ira .

Pr e c iso d e su a a b e rt u ra e h o n e st id a d e ; vo cê

p recisa d a m in h a. É im p o rt an t e t e n t a r lh e d ize r q u em

so u , d e v e rd ad e .

111
“ Cu st a t a n t o se r u m a p esso a p le n a, q u e
m u it o p o u co s são aq u eles
q u e t êm a lu z o u a co rag e m
d e p ag ar o p r e ço ...
É p re ciso a b a n d o n ar p o r co m p le t o
a b u sca d a se g u ran ça e c o r r e r o
r isc o de v i v e r co m o s d o is b r a ço s.
É p re ciso a b r a ç a r o m u n d o co m o
u m am an t e .
É p reciso a c e it a r a d o r co m o
co n d ição d a e xist ê n cia .
É p re ciso c o r t e ja r a d ú vid a e a
escu rid ão co m o p reço s do co n h e cim e n t o .
É p reciso t e r u m a v o n t ad e o b st in ad a
n o c o n f lit o , m as t am b é m u m a
cap acid ad e d e ace it ação t o t a l d e cad a
co n se q ü ê n cia do v i v e r e d o m o r r e r .”

M orris L. W est em
“As Sandálias do Pescador” .
N inguém m ais
pode decidir
com o você
vai agir...
Cada um deve
m arch ar ao
som de seu
próprio
t am bor.
6
U m cat álo g o d e jo g o s e p ap éis

N ão h á u m a o rd e m ló g ica n est a list a p arcial de

p ap éis e jo g o s, p ad rõ es co m u n s n as relaçõ es h um an as.

N ão h á t am b é m q u a lq u e r rest rição d e sexo o u id ad e.

Q u a lq u e r p esso a p o d e jo g ar u m o u m ais d esses jog os.

A q u e le s n o s q u ais eu e vo cê n o s t o rn am o s p erit o s ou

u sam o s co m m aio r f r e q ü ê n c ia , v ai d e p e n d er d e nossa


" p ro g ram ação " e d e n o ssas n e ce ssid ad es.

Esses jo g o s t êm u m a co isa em co m u m , n ão im ­

p o rt a o q u ão d ife re n t e s p o ssam p a r e c e r : m ascaram e

d ist o rcem a v e rd ad e so b re o q u e t e n h o d e m e lh o r para

co m p art ilh ar co m v o cê - eu m esm o . Preciso m e per­

g u n t ar: Q u a is d esses jo g o s eu u so ? O q u e est o u bus­

can d o ? O q u e esto u esco n d en d o ? O q u e esto u t en t an d o

g an h ar?

Sempre certo

Est a p esso a raram e n t e p erd e u m a d iscu ssão . M es­

m o q u an d o as e v id ê n cia s se vo lt am co n t ra e la , ain d a

assim co n seg u e resp eit o p o r su a p o sição . N ão escu t a

115
b em as o u t ras p esso as e p arece q u e não e sp e ra ap ren d er

m u it o co m e la s. Ba sica m e n t e su a a u t o - e st im a est á

am e açad a. Seu d o g m at ism o é o q u e Freu d ch am o u d e

" fo rm ação d e r e a ç ã o " . Ag e co m o d o b ro d e seg u ran ça

p ara se d e fe n d e r d as d ú vid as d e sm o ralizad o ras q u e se

ag it am em seu su b co n scie n t e e p o d em m in a r su a ce rt e ­

z a . Seu co m p o rt am en t o in d ica o o p o st o d o q u e p arece

ser v e rd ad e . Tem d ú vid as p ro fu n d as e su b co n scie n t e s

so b re si m esm a e so b re suas o p in iõ e s.

Todo coração

A cred it a- se q u e t am b ém aq u i a fo rm ação d e re a­

ção seja resp o n sável p ela p reo cu p ação e xce ssiv am e n t e

am ável e se n t im e n t al d a p esso a. É u m a co m p e n sação

su b co n scien t e p o r su as t e n d ê n cias sád icas (cru é is). To ­

d o s nó s t em o s in clin açõ e s c r u é is alg u m as v e ze s, m as

e st a p esso a f ic a e sp e cialm e n t e am e d ro n t ad a d ian t e

d isso .

U m d ad o im p o rt an t e so b re a co m p en sação é q u e,

u m a vez in iciad a, q u ase sem p re resu lt a em su p erco m -

p en sação . Por alg u m a razão , a p ro g ram ação d est a p esso a

t o rn o u-a in cap az d e en t rar em co n t at o co m e la m esm a

e d e ad m it ir suas in clin açõ es h o st is; assim , g ast a a m aio r

p art e d e su a en erg ia n eg an d o a verd ad e q u e n ão p o d e

ad m it ir. É p ro vável q u e seja e xce ssiv am en t e carin h o sa

116
co m a n im a is, se n t im e n t a l e in d u lg en t e co m as crian ças,

d em o n st ran d o afet o e a m a b ilid ad e exag erad o s.

Ela seg u e seu co raçã o em t o d as as sit u açõ es a ponto

de o s o u t ro s se p erg u n t arem se su a cab eça f u n cio n a em

alg um m o m e n t o . O co ra ção d e cid e t u d o . M an ifest a t o ­

dos o s t ip o s d e e m o çã o su ave ; raram en t e o u n u n ca ex­

p ressa e m o çõ e s d e sag rad áve is, exat am en t e p o r tem ê-

las; p o r isso as re p r im e . A s m u lh ere s são m ais in clin ad as

a esse t ip o d e " f o rm ação d e re ação " p o rq u e n o ssa so cie­

d ad e as p ro g ram a p ara acre d it are m q u e em o çõ es ho stis

e cru é is são p art icu larm e n t e t e rrív e is em u m a m u lh er.

Corpo bonito

Em g e ral, a v a id a d e f ísica é u m a co m p en sação

p ara um sen t im en t o co rro sivo d e in fe rio rid ad e . A p esso a

b o n it a o u ch arm o sa q u e usa est e jo g o b u sca n o esp elh o

e n o s o lh o s d o s o u t ro s (o u em q u a lq u e r o u t ra su p e rfície

b rilh an t e) o seu p ró p rio re fle xo p o r não co n se g u ir en -

co n t rar co n so lo m ais p ro fu n d o . H á u m a t r ist e za q u e

p aira so b re esse t ip o d e v a id ad e . O b v iam e n t e a vid a

t erm in a ao s 3 5 . N u m e xt re m o , essa p esso a se id e n t ifica

co m o seu co rp o . Ela re sp o n d e ria à q u est ão : " O q u e

vo cê é?" d a seg u in t e m an e ira: " Eu so u b o n it a " . E se

p u d esse se r h o n est a e ab e rt a, acre sce n t a ria : " ... nad a

além d isso , ap en as b o n it a" .

117
Valentão

Este jo g o é u m a t en t at iva in fan t il d a p esso a d e

r e iv in d ica r sua su p e rio rid ad e so b re os o u t ro s. É um a

d as v á r ia s m a n if e st a çõ e s d e u m d e se n v o lv im e n t o

e m o cio n al in t e rro m p id o . O v a le n t ã o é , em g e ral, um

" b rig ã o " t am b ém , se a sit u ação p erm it ir. Q u e r d o m in ar

os o u t ro s, seja co m p alavras o u co m fo rça f ísic a , se ele

se se n t ir seg u ro p a ra isso . Est a m an ifest a ç ã o in d ica

a u sê n cia d e au t o - e st im a. Ele q u e r se sen t ir im p o rt an t e

e n ad a e n co n t ra e m si m e sm o p ara sa t isf a ze r essa

n e ce ssid ad e . A lg u m as vezes lh e p erg u n t am o s: "A q u em

v o c ê e st á q u e r e n d o c o n v e n c e r , a n ó s o u a vo cê

Palhaço

Co m o a m aio r p art e d as p esso as, o p alh aço co m ­

p u lsiv o est á b u scan d o alg u m t ip o d e reco n h ecim en t o

e a t e n ção . O t rist e é q u e p en sa q u e a ú n ica m an e ira d e

se f a ze r n o t ad o é " b a n ca n d o o b o b o " p ara o s o u t ro s.

M ais sério d o q u e isso é q u e e le p o d e se id e n t ificar

co m seu s at o s e t e n t a r fu g ir d a re alid ad e , sem levar

n ad a a sé r io . Fazer g raça o t e m p o t o d o é às v e ze s um

a rt if íc io p ara escap ar. O p alh aço n ão sab e lid a r co n sig o

m esm o n u m a sit u a çã o sé ria, n em sab e reag ir à t rist e za;

118
assim ad o t a u m a at it u d e d e aleg ria irre sp o n sáve l. N a

co n v iv ê n cia co m o s o u t ro s, suas " p a lh aça d a s" se rve m

co m o m áscara d e d efesa (co m o a m áscara d o p alh aço

d o circo ) p ara e v it ar q u e o s o u t ro s saib am q u em e le é

re alm e n t e . Pre fere rir e f a ze r g raça d o q u e e n fre n t ar as

sérias re alid ad e s d a v id a . Prefere e n ce n ar n u m p alco

d o q u e d e ix a r su a p esso a à m o st ra.

Com petidor

A c u lt u r a a m e r ica n a p ro g ram o u a m aio ria d as

p esso as p ara a ce it a r a co m p e t ição co m o p art e d o p lan o

d iv in o . O co m p e t id o r d e v e v e n ce r q u alq u e r co isa q u e

f a ç a . Tran sfo rm a t u d o e m sit u açõ e s d e " g an h ar- o u -

p e r d e r " . Ele n ão d iscu t e - d isp u t a. A v it ó ria q u e b u sca

m u it as v e ze s às cu st as d o s o u t ro s p o d e ser fru t o d e

p rivação e m o cio n al o u d e falt a d e ap ro vação em su a

v id a p reg ressa. A in se g u ran ça re su lt an t e leva- o a q u e s­

t io n ar seu v a lo r e a e st ar sem p re t en t an d o p ro var su a

im p o rt ân cia at ravés d e co m p e t ição e riv alid ad e . Su a

n ecessid ad e d e reco n h ecim e n t o in t e n sifica seu im p u lso

d e p ro g red ir. Sen t e- se h o st il q u an d o p en sa q u e alg u ém

p o ssa e st ar b lo q u e an d o seu c a m in h o o u q u e r e n d o

su p e rá- lo . M ais ced o o u m ais t a rd e , será d o m in ad o p o r

u m a sen sação d e f racasso , p o is su a ân sia d e v it ó r ia se

t o rn a cad a v e z m ais v o raz. A o fin al, n ão co n seg u e p ro var

119
su a su p erio rid ad e e t e rm in a fru st rad o . Seu p ro b lem a

b ásico é q u e n ão co n seg u e d ist in g u ir en t re su a p esso a e

su as realizaçõ es, en t re se r e t er (veja " In f e r io r " ad ian t e ).

Conformista

Este jo g o se ch am a " p az a q u a lq u e r p re ço " e o

p reço é ab an d o n ar t o d a in d iv id u alid ad e em fu n ção d o s

o u t ro s. Isso co m e ça , n o g eral, co m alg u m a au t o rid ad e

t irân ica na v id a d a p esso a q u e p ro vo ca sen t im en t o s d e

cu lp a . O co n fo rm ist a n ão p o d e co rre r o risco d e ser

re je it ad o p e lo s o u t r o s. É sem p re e lo g ia d o p o r su a

d isp o sição em aco m p an h ar t o d o m u n d o , m as p ag a um

alt o p reço em em o çõ es rep rim id as p elas m ig alh as d e

elo g io q u e re ce b e . Su a d if icu ld ad e em d isco rd ar d a

o p in ião e st ab e le cid a o u q u e est á n a m o d a lh e co n f e re

o an o n im at o em relação ao s o u t ro s. Em g e ral, d e se n vo l­

v e alg u m t ip o d e sin t o m a p sico sso m át ico ; seu su b ­

co n scie n t e , às v e ze s, se t o rn a so b recarreg ad o co m t u d o

o q u e p recisa re p rim ir p ara co n t in u a r sen d o o " b o m

m en in o q u e a ce it a t u d o " (v e ja " Cu lp a d o " ad ian t e ).

Ranzinza

A t e n d ê n cia n e u ró t ica q u e ca r a ct e r iza o r a n zin za

é u m a b aixa t o le rân cia à fru st ração . Ele n ão se sai m u it o

120
b em em sit u a çõ e s d e e sf o r ç o e t e n sã o . Em g e ral, a

p ro g ram ação d o r a n z in za , co m o a d o co m p e t id o r, e n ­

v o lv e u m a p r iv a çã o e m o c io n a l p r e co ce q u e re su lt a

em se n t im e n t o s d e h o st ilid a d e . Ele se se n t e p riv a d o

d e se g u ran ça p e sso al. Se n t e - se m en o s seg u ro a in d a

q u a n d o alg u m a co isa n ão v a i b e m ; d e se n v o lv e u m a

lo n g a list a d e in cô m o d o s q u e d ivu lg a p ara o s o u t ro s

d e t e m p o s em t e m p o s. O s q u e e st ão em su a v i z i ­

n h a n ç a sab em q u e q u a lq u e r it em d a list a f a z co m q u e

" sa ia d o sé r io " e isso é p a r t e d o jo g o . O u t ro s são

a v isa d o s, d e v á r ia s m a n e ir a s, d e q u e n ão d e v e m

f ru st rá - lo .

Cét ico

A s e xp e ct a t iv a s d a v id a , q u an d o em e xce sso , g e­

ralm e n t e se d esm o ro n am e re su lt am n o "jo g o d o c é ­

t ic o " . A p esso a q u e fo i p ro g ram ad a p ara p en sar q u e

o u n ive rso fo i cr ia d o em f u n ç ã o d e seu p ró p rio co n f o r­

t o sem p re so fre u m ch o q u e d o lo ro so co m a r e a lid a d e .

N e sse p o n t o , e la at aca co m seu c e t ic ism o . B a sic a ­

m e n t e , o cé t ico é um irre alist a d e sm o ralizad o . As co isas

n ão saíram co m o q u e ria e e le " d esco n t a" su a d e silu são

n o s o u t ro s. Ele n ão p o d e co n f ia r em n in g u é m . To d o

sist e m a é co r r u p t o . En q u an t o d e se m p e n h ar o p ap e l

d e c é t ic o , n ão t e rá d e o lh a r h o n e st am e n t e p ara si

121
m esm o o u p ara se u m u n d o , n em t erá q u e se n t ir a d o r

d o a ju st e à r e a lid a d e . Seu d e b o ch e é g e ralm e n t e u m

sin t o m a d e an t ag o n ism o e n c o b e r t o p o rq u e a vid a n ão

é co m o d e se jaria q u e f o sse . N u n ca ap re n d e u a se r

e m p át ico ou t o le r a n t e co m o s o u t ro s e n u n ca e xp e -

rie n cio u um a a f e iç ã o v e r d a d e ir a p o r alg u é m . Co m o

co n se q ü ê n cia, é u m a p esso a so lit á ria p o r t rás d e seu

so rriso m a licio so .

Iludido pela grandeza

O jo g o se d e se n v o lv e a p art ir d e u m sen so d e

im p o rt ân cia p esso al errô n eo . O jo g ad o r fo i p ro g ram ad o

p ara ap aren t ar se r u m a p esso a m u it o im p o rt an t e ao s

o lh o s d o s o u t ro s. N u n ca se re f e re a o u t ras p esso as e

t o d a a su a co n ve rsa é ce n t rad a na p alavra " e u " . Co m o

o " valen t ão " , est a p esso a jo g a p ara co m p e n sar su a au t o -

est im a in ad e q u ad a. H á sem p re u m esfo rço p ara p ro t e­

g er o eg o d a h u m ilh ação . Sen t e- se at raíd o p o r g ran d es

façan h as. Q u er se m p re est ar n a b e rlin d a. Ressen t e - se

p o r co isas in sig n ifican t es. Est á sem p re so n h an d o co m

alg u m fe it o e sp e t acu lar q u e vai f a ze r o m u n d o se lem ­

b rar d e le q u an d o se fo r. O sist em a d e ilu são em q u e

vive lh e p ro p o rcio n a u m a im p o rt ân cia q u e n ão tem n a

re alid ad e . N at u ralm en t e , é d if íc il p ara e le se r h o n est o


co n sig o m esm o .

122
Dominador

Este jo g o é caract e rizad o p o r u m d esejo exag erad o

d e co n t ro la r a v id a d o s o u t ro s e a t é seu s p en sam en t o s.

Co m o a m aio r p art e d as p esso as q u e exag era su a p ró p ria

im p o rt ân cia ou sab e d o ria, o d o m in a d o r é p ert u rb ad o

por sen t im en t o s su b co n scie n t e s d e in ad e q u ação . O e s­

t ran h o é q u e est a p esso a est á t ão d e t e rm in ad a a ag ir

de m an e ira ad eq u ad a q u e se t o rn a d esat en t a em relação

às su as p ró p rias ca ract e ríst icas d o m in ad o ras. Ela e xp lica

sua d o m in ação co m o n e cessária, razo áv e l e ju st if ica d a .

O d o m in ad o r e xp e rim e n t a co m fre q ü ê n cia sen t im en t o s

de h o st ilid ad e . Co m o ele o s re p r im e , essa rep ressão

resu lt a e m eg o ísm o e d e scu id o n o co n t at o co m as p es­

soas a q u e m su p o st am en t e am a.

Sonhador

O p ro p ó sit o d o jo g o é c la r o : fu g ir. O o b jet ivo d o

so n h ad o r é escap ar d a re alid ad e . Ele a lcan ça g ran d es

m etas e m seu m u n d o d e fan t asia n o q u al re ce b e reco ­

n h e cim en t o e h o n raria s. Co m f r e q ü ê n cia seu s so n h o s

su b st it u em re alizaçõ e s v e r d a d e ir a s; rep re sen t am u m

t ip o d e co m p e n sação p ara su a falt a d e su cesso n o m u n ­

d o re a l. O so n h ad o r co st u m a g o st ar d e film e s e d e h is­

t ó rias q u e alim en t am su a im ag in ação co m n o vo s cen á-

123
rio s e m at erial p ara d e v an e io s fu t u ro s. Eve n t u alm e n t e ,

cr ia um m u n d o co n fo rt áv e l em q u e p o d e se t o rn ar

" alg u ém " . N o g eral, o so n h ad o r am b icio n a m ais d o q u e

su as h ab ilid ad e s p o d em lh e p ro p o rcio n ar e t em q u e se

co m p e n sar at ravés d a fan t asia p o r cau sa d e seu d esa­

p o n t o co m a re alid ad e . Ch am am o s a isso " f ic çã o n eu ­

ró t ica" . Ele t em um á lib i p ara e x p lic a r cad a fracasso e

n ão p o d e co lo car no m esm o n ível su as am b içõ es e h ab i­

lid ad es. O q u e ele m a is p recisa é d e co rag em p ara se

ace it ar co m o é .

Viciado em álcool e drogas

O so n h ad o r fo g e d a realid ad e n o t ap et e m ág ico d e

su a fan t asia: o viciad o t en t a o cam in h o d a n arco se. As

pessoas m ais vu ln eráveis ao stress são as q u e m ais p recisam

d e um escap e. O vício d a b eb id a o u d a d ro g a é en co n t rad o

co m freq ü ên cia entre aq u eles q u e reag em m al à p rivação ,

q u e se ren d em facilm en t e à d erro t a e q u e se sen t em em ­

b araçad o s e p o u co à vo n t ad e co m o s o u t ro s.

O a lív io m o m en t ân eo e a se n sação d e lib e rd ad e

exp erim en t ad o s sob a sed ação p o r b e b id a ou d ro g a são

seg uid o s n o g eral d o au m e n t o d a an sie d ad e e d ep ressão

q u an d o "p assa o n e v o e iro " . A an sie d ad e e a d ep ressão ,

p o r sua v e z, levam à n e ce ssid ad e d e m ais sed ação p ara

d im in u ir a an g ú st ia, o co m p le xo d e c u lp a e a d ep ressão .

124
Tan t o a b e b id a q u an t o a d ro g a, n o e n t a n t o , são lim it ad as

q u an t o à su a cap acid ad e d e se t o rn are m u m a " saíd a"

p ara a p esso a. A fug a d a re alid ad e , en q u an t o a n arco se

f a z efe it o , ap e n as t o rn a ain d a m ais d if íc il a vo lt a a essa

re alid ad e e à co n v iv ê n cia co m o co t id ia n o . O n o m e d o

jo g o é " m u le t a" - f a cilit a t e m p o rariam e n t e a so cia b ili­

d ad e , a au t o - exp ressão , a d im in u içã o d a t im id e z e o


esq u e cim e n t o d o s p ró p rio s p ro b lem as.

Conquist ador

O jo g o d a co n q u ist a é b asicam e n t e um a t e n t at iv a

d e g an h ar alg u m t ip o d e r e co n h e cim e n t o p ara o eg o . É

u sad o g e ralm en t e p o r p esso as q u e n u n ca cu lt iv aram

q u alq u e r t ip o d e ap ro fu n d am en t o e m o cio n al. Só as r e ­

laçõ es m ais p ro fu n d as p o d em t raze r seg u ran ça p ara o

eg o , resu lt an t e d e u m au t o co n h e cim e n t o m aio r e d a

au t o - aceit ação . N a co n q u ist a, a p esso a se recu sa a co rre r

o s risco s d e u m re lacio n am e n t o d e au t o - re ve lação : p r e ­

f e re fu g ir.

A co n q u ist a só é p o ssível q u an d o as em o çõ es são

t riv ia is e su p e r f icia is, o q u e n in g u ém q u e r ad m it ir a seu

p ró p rio re sp e it o . A s re laçõ e s est áveis e m ais p ro fu n d as

n u n ca são co n st ru íd a s so b re esse t ip o d e e m o çã o .

Tam b ém f a z p art e d o jo g o in ic ia r n o vas co n q u ist a s

q u an d o o jo g ad o r se can sa d a a n t e rio r. É um t ip o d e

125
É u m a lei d a v id a h u m a n a ,
t ã o ce r t a co m o a d a g r a v id a d e :

p a r a v iv e r m o s p le n a m e n t e ,
p r e cisa m o s a p r e n d e r
a usar as co isa s
e amar as p e sso a s...
n ão amar a s co isa s
e usar as p e sso a s.
esp o rte eg o íst a em q u e h á m u it as le sõ e s. N in g u ém q u er

ad m it ir q u e usa e sse jo g o (o u q u a lq u e r o u t ro ), m as esse

é o p rim e iro p asso p ara o v e r d a d e ir o cre scim e n t o e m o ­

cio n al - a d m it ir alg u m t ip o d e t e n d ê n c ia p ara q u e e la

p o ssa se r a v a liad a .

Em t o d o s esses jo g o s, d e v e m o s no s p erg u n t ar o

q u e q u e re m o s re a lm e n t e , p o r q u e q u e re m o s (essa re s­

p o sta n o s d iz sem p re alg u m a co isa a no sso resp eit o ) e

p o r q u e se r ia m elh o r d esist irm o s d o jo g o .

A p e sa r d e a co n q u ist a p r o p ic ia r alg u m a g rat i­

ficação p assag eira p ara o eg o , as p e q u e n as p aixõ e s

sem p re co m p licam a v id a , n o s le v a m a su b t erfú g io s,

a in ven t ar d e scu lp as, à falsid ad e e à p re o cu p ação co m

a p ró p ria p esso a. O d e se n v o lv im e n t o e m o cio n al e se ­

xu al sem p re co m eça co m o n arcisism o (au t o - am o r) n a

crian ça, m as, co m o cre scim e n t o , a p esso a d e v e ria se

t o rn ar ca d a vez m ais cap az d e se r alt ru íst a (am ar o

o u t ro ). A co n q u ist a fo i f ixad a n u m est ág io ad o le sce n t e

e o cre scim e n t o e m o cio n al fo i in t e rro m p id o n essa fase.

Frágil - pegue com cuidado

A p esso a " f r á g il" d á v árias m en sag en s ao s o u t ro s

d e q u e é d e licad a e p re cisa ser t r a t a d a co m m u it a c a u ­

t e la. O u t r o s relu t am em co n f ro n t á- la - seu s ca n a is la-

crim ais e st ão sem p re ab ert o s e é c a p a z d e d e p re ssõ e s

127
in st a n t â n e a s; re lu t am em d a r - lh e m ás n o t ícia s, em

d e le g ar- lh e q u a lq u e r r e sp o n sa b ilid a d e (é m ais f á cil

assu m ir a re sp o n sab ilid ad e d o q u e p ed ir- lh e q u e o

f aça). Ela p ró p ria r e lu t a em f a ze r- se u m a c r ít ic a h o ­

n est a. Est e jo g o se d e se n v o lv e b asicam en t e a p art ir

d e u m a in a b ilid a d e n e u ró t ica d e lid a r co m a v id a . A

p esso a frág il m o st ra t am b é m u m a g ran d e sen sib ilid ad e

d ian t e d o s o u t ro s. Se u eg o é f r a c o ; su as o b servaçõ es

e seus g est o s são , m u it as v e ze s, m al in t e rp re t ad o s. É

h ip e rse n sív e l e xat am e n t e p o rq u e se d á p o u co valo r.

N o g eral, isso n ão e st á claro n em p ara e la, n em p ara

o s o u t ro s.

A f rag ilid ad e re p re se n t a u m a reg ressão p ara a

in fân cia, p ara um est ad o d e d e p e n d ê n cia e d esam p aro .

Se o jo g o f o r b em su ce d id o , a p esso a não vai p recisar

d e cre sce r o u d e e n f re n t ar as v icissit u d e s da v id a real.

A p esso a frág il e xp re ssa co m t rau m as e ch o ro sú b it o o

q u e a c r ia n ç a exp ressa co m ch u t es e g rito s. Ela p ed e o

m esm o t rat am en t o d isp e n sad o às crian ças.

Julgador

A p esso a q u e ju lg a , co m o o s o u t ro s jo g ad o res,

u sa este t ip o d e jo g o p o r in t e resses p esso ais. E in cap az

d e usar t o d o o p o t en cial d e su as h ab ilid ad e s: é d erro t ist a

e sen t e- se p esaro so p o r n ão p o d er co rre sp o n d e r a seu

128
p ró p rio eg o id e a l. A ssim , p re f e re a u m e n t a r su a au t o -

e st im a m in an d o a est im a d o s o u t ro s. A d le r o ch am a d e

" d e p re cia d o r c r ít ic o " . É m u it o m ais f á cil p u xar o s o u t ro s

p ara b aixo d o q u e se e le v a r at ravé s d as p ró p rias r e a li­

za çõ e s. A su p e rio rid a d e e a in f e r io r id a d e são t erm o s

relat ivo s e , assim , d im in u ir o s o u t ro s p are ce ser u m a

m an e ira d e e le v a r o p ró p rio st at u s.

Ben jam in Fran k lin d isse cert a v e z q u e se vo cê q u e r

co n h e ce r as falh as d e u m a p esso a, b ast a elo g iá- la p ara

se u s co m p an h e iro s. O ju lg am e n t o p o d e ser t am b ém

u m alív io p ara o se n t im e n t o d e c u lp a . Go st am o s d e

re lat ar as m ás açõ e s d o s o u t ro s p ara n ão no s se n t irm o s

t ão m al d ia n t e d as n o ssas p ró p rias. Isso e xp lica n o ssa

an sie d ad e p ara sab erm o s o s ú lt im o s e scân d alo s d e jo r ­

n ais e revist as q u e p ro n t am e n t e n o s lib e ram d e n o ssa

cu lp a . D e p o is d e lerm o s so b re assassin o s e crim in o so s,

n o sso sarcasm o e n o ssa ra iv a n ão p are ce m m ales t ão

t e rrív e is. G a n h o d o jo g o : e le v ação d a p ró p ria p esso a e

m ais facilid ad e p ara c o n v iv e r co m o p ró p rio d esg o st o .

Hedonista

A p esso a d o t ip o " p r a ze r acim a d e t u d o " t e n t a

e sco n d e r su a im at u rid ad e e m o cio n al at rás d e e u fe m is-

m o s ("o m ais im p o rt an t e é ap ro ve it ar a v id a " ), m as a

im a t u rid a d e ap a re ce ra p id am e n t e em seu s r e la c io -

129
n am en t o s. É o q u e ca r a c t e r iza a cr ia n ça e o n e u ró t ico ,

q u e é u m a cr ia n ç a e m o cio n alm e n t e - q u e re r o p ra ze r

im e d iat o . Est e t ip o d e p esso a n ão co n seg u e in ib ir p o r

m u it o t em p o q u alq u e r im p u lso q u e a f av o re ça. N ão

co n seg u e in t e rro m p e r su a b u sca d o p raze r n em m esm o

p ara avaliar as im p licaçõ e s d e seu s at o s.

A in a b ilid a d e em a d ia r o p ra ze r e v e n t u alm e n t e

le va o h ed o n ist a a b u scar sat isfação em t o d as as co isas,

às cu st as d e q u alq u e r p esso a. Q u a n d o su rg e u m e st í­

m u lo p ara o p raze r a resp o st a é au t o m át ica. O s h áb it o s

d e h ed o n ism o são a d q u irid o s g e ralm en t e co m o co m ­

p en sação p ara o s asp ect o s d if íce is d a v id a . "Fu i ig n o rad o

e in co m p re e n d id o , p o r isso ag o ra co m o à vo n t ad e o u

m e m ast u rb o o t em p o t o d o " (essa ló g ica q u ase n u n ca

é e xam in ad a em n ível co n scie n t e ).

Eu... eu... eu...

Esta é q u ase u m a lei u n iversal - a e xt e n são d o

eg o cen t rism o d e u m a p esso a é p ro p o rcio n al à q u a n ­

t id a d e d e d o r q u e e xp e r im e n t a . É u m a q u e st ão d e

at e n ção . U m a p esso a n ão p o d e d ar u m a g ran d e q u o t a

d e at en ção p a ra si m esm a e p ara o s o u t ro s ao m esm o

t e m p o . A n o ssa q u o t a d e at e n ção é lim it a d a .

O q u e t o rn a a d o r d e st ru t iva e d eg rad an t e é q u e

e la m ag n et iza a at e n ção p ara n ó s m esm o s e p ara a área

130
d a n o ssa d o r. A q u e le s q u e so fre m co m u m a d o r d e d e n ­

t e e co m a so lid ão d a v e lh ic e t e n d e m a o eg o cen t rism o .

A p re o cu p ação co n sig o m e sm o m u it as v e ze s evo lu i p ara

a h ip o co n d ria (p r e o cu p a ç ã o co m a sa ú d e ) o u p ara a

p aran ó ia (co m p le xo d e p e rse g u ição ).

A p esso a n ão co n se g u e ser o c e n t r o d o u n iv e rso

e ace it ar, ao m esm o t e m p o , q u e o s o u t ro s n ão a v e ja m

a ssim . Q u a isq u e r q u e se ja m as m a rca s d e ixad as p o r

n o sso s p ro g ram as p assad o s (c u lp a , in f e rio rid ad e , a n sie ­

d a d e ), essas m arcas v ã o n o s le v ar in e v it a v e lm e n t e à

a r m ad ilh a d o e g o ce n t rism o . O e g o cê n t rico n ão se im ­

p o rt a co m o co n t e ú d o d e q u alq u e r co n v e rsa , d e sd e

q u e seja a re sp eit o d e si m esm o . A lg u m as vezes e n t ra

e m d ep ressão p o rq u e v iv e r n u m m u n d o rest rit o co m o

e st e é v iv e r n u m a p risão . Ele so fre m ais d o q u e as p e s­

so as q u e v iv e m o u t rab alh am a seu la d o .

Inferior e culpado

Gêm eos não- idênticos - A lit e ra t u ra p sican alít ica


d if e r e n cia o s sen t im en t o s d e in f e rio rid ad e d o s se n t i­

m en t o s d e cu lp a . N o en t an t o , am b o s são m an ifest açõ es

d e co n flit o en t re o eu real e o eu id e al, en t re o q u e a

p esso a é e o q u e g o staria d e ser, en t re o q u e a p esso a faz

o u sente e o q u e ela p en sa q u e d everia f aze r o u sen t ir. A

d ifere n ça fu n d am en t al é q u e , nos sen t im en t o s d e in ferio ­

131
rid ad e , h á um re co n h e cim e n t o d e fraq u eza e in ad e­

q u ação . A s p esso as q u e so frem d e co m p lexo d e in fe rio ­

rid ad e g eralm en t e p ro vo cam co m p e t ição e ag ressão .

Ten t am e lim in ar esses sen t im en t o s m o st ran d o su p erio ­

rid ad e em alg u m a fo rm a d e co m p e t ição . O s sen t im en t o s

d e cu lp a, p elo co n t rário , p o d em ser v e rb alizad o s: "Eu

n ão so u u m a p esso a m u it o b o a. M eu s d esejo s (q u ase

t u d o q u e eu q u ero fazer) e m eu s ato s (o q u e f iz) m e

p a re ce m d e sp r e zív e is e m au s. M e re ço d e sp r e zo e

p u n ição p elo m eu fracasso " . O s sen t im en t o s d e cu lp a

in ib em o esp írit o co m p e t it ivo . São reaçõ es ao s im p u lso s

h o stis e ag ressivo s q u e a p esso a t em d en t ro d e si.

Para se livrar d esses se n t im e n t o s, a p esso a g eral­

m en t e t e n t a r e n u n c ia r à c o m p e t iç ã o , e n q u a n t o os

sen t im en t o s d e in f e rio rid a d e a co n vid am a u m a at it u ­

d e co m p e t it iv a. O s sen t im en t o s d e cu lp a co st u m am nos

le var à su b o rd in a çã o ; ap are ce m em at it u d es d e au t o -

d e p re cia çã o e at é d e au t o p u n ição . A s p esso as t en t am

se lib e rt ar d o sen t im en t o d e in fe rio rid ad e a t rav é s d a

am b ição e d a co m p e t içã o , d e sfo rran d o - se n o s o u t ro s,

t en t an d o le v a r van t ag em . A a m e n iza çã o d o sen t im en t o

d e cu lp a se f az at ravé s d a su b m issão , e v it an d o - se co m ­

p o rt am en t o s ho stis o u ag ressivo s. O s sen t im en t o s d e

in f e r io r id a d e t e n d e m a p r o d u zir re b e ld e s; o s se n t i­

m en t o s d e cu lp a t e n d e m a p ro v o car co n fo rm ist as, d e

co m p o rt am en t o su b m isso e h u m ild e .

132
Para a p esso a o p rim id a p e la c u lp a , a am b ição e

a co m p e t içã o p e rt e n ce m ao t e r r e n o d a im ag in ação

e d a f a n t a sia . Ela é g e ralm e n t e u m a p e sso a ret raíd a,

q u e n ã o g o st a d e a p a r e c e r e e v it a c o n t r a d iç õ e s.

Tem u m a t e n d ê n cia a d e sv a lo r iza r su as h a b ilid a d e s.

Q u a n d o se co m p o rt a d e m o d o a se r re p r o v a d a p o r su a

p ró p ria c o n sc iê n c ia , d e cid e n u n ca m ais f a z e r a m esm a

co isa. A p esso a co m se n t im e n t o s d e in f e r io r id a d e q u a ­

se se m p r e reag e se p e rg u n t an d o : " Po r q u e n ão ? N ão

vo u m e re n d e r a p re ssõ e s in t e r n a s o u e xt e r n a s n a

e sco lh a d e m in h a c o n d u t a !" (v e ja Fran z A le xa n d e r ,

Fundam entals o f Psychoanalysis, 1 9 6 4 ).

Indeciso e incerto

D iz- se q u e o m aio r erro d e u m a p esso a é t e r m ed o

d e co m e t e r erro s. A in d ecisão e a in ce rt e za são m an eiras

d e e v it a r o erro e a re sp o n sab ilid ad e . Se n en h u m a d e ­

cisão é t o m ad a, n ad a vai d ar e r r a d o .

A t e n d ê n c ia a e v it a r d e c isõ e s é m a n if e st a d a ,

a lg u m a s v e ze s, a d ia n d o - a s t a n t o q u a n t o p o ssív e l.

O v e r d a d e ir o e rro é n ão ap re n d e rm o s co m n o sso s

e rro s.
O p ro b lem a b ásico aq u i é a au t o - est im a e a t e n ­

t at iva d e p ro t eg ê- la. A s p esso as in d e cisas t em e m p erd er

o re sp e it o se t o m arem a d ecisão e rrad a. N at u ralm e n t e ,

133
só as p esso as lim it ad as n u n ca e rram . A p re n d e m o s m ais

co m n o sso s erro s d o q u e co m n o sso s su ce sso s. M as

a p esso a in d e cisa e st á t ão v o lt ad a p ara o seu p ró p rio

eg o e p a r a seu v a lo r p esso al q u e n ão p e r c e b e a

valid ad e d essas v e rd ad e s. O n o m e d o jo g o é seg u ran ça

e a u t o p ro t e çã o ; se u le m a : q u em n ão in v e st e , n ão

p erd e.

M u it as vezes, a in d e cisão re su lt a d e u m a p ro ­

g ram ação q u e foi f e it a at ravés d e in st ru çõ es m ú lt ip las,

às vezes co n t rad it ó rias e m o ralist as; o u d e rep re en são

e em b araço p o r erro s p assad o s. En fim , a in d ecisão p o d e

levar a p esso a a se e n v o lv e r co m p ro b lem as m ais p e­

sad o s d o q u e é cap az d e su p o rt ar. G e ralm e n t e se t o rn a

co n fu sa e n ão co n seg u e re so lver co isa alg u m a.

Irado

í d if íc il acred it ar, m as a p esso a d e "est o p im cu rt o "


e q u e t az m u it o est ard alh aço est á g eralm en t e reag in d o

a um su p o st o est ím u lo - n ão é ele q u e a está ab o rre ce n ­

d o realm en t e . Co m o n ão p o d e d isc u t ir ab ert am e n t e o

verd ad eiro p ro b lem a, d e ixa e scap ar o " v a p o r" a cu m u ­

lad o e su a raiv a raram en t e é p ro p o rcio n al ao e st ím u lo .

O q u e re alm en t e está ard e n d o em seu su b co n scie n t e é

a h o st ilid ad e. A s p esso as são m ais h o st is u m as co m as

o u t ras d o q u e p en sam (est ão re p rim id as) p o rq u e no ssa

134
so cie d ad e as co n d icio n o u a a c r e d it a r q u e a h o st ilid ad e

é in ad e q u ad a e n t re seres h u m a n o s so c iá v e is e c iv i­

lizad o s.
Karl M en n in g er, em seu liv r o Love Against Hate,

d e scre ve a cad e ia d e reaçõ es d e p ais co m h o st ilid ad e s

o cu lt as q u e fru st ram seu s f ilh o s e lh es in cu t e m m ais

h o st ilid ad e re p rim id a . A ssim , o s f ilh o s se t ran sfo rm am

em p ais fru st rad o s q u e , p o r su a v e z , fru st ram o s filh o s.

M ais h o st ilid ad e ! M e n n in g e r su g ere um p rim e iro p asso

p ara q u e b rar essa c a d e ia : re co n h e ce rm o s as fo n t es e a

ext en são d e no ssa ag re ssivid ad e e h o st ilid ad e , d as q u ais

m u it as v e ze s n ão t em o s c o n sc iê n c ia . Elas est ão e s­

co n d id as (re p rim id as) p o rq u e as p esso as n o s en sin aram

q u e n ão p o d em o s se n t ir raiv a (e sp e cia lm e n t e em r e ­

lação ao s p ais q u e " t an t o f ize ram p o r n ó s" ). Precisam o s

n e u t r a liz a r essas h o st ilid a d e s, a p r o f u n d a n d o n o ssa

co m p re en são o u lib e ran d o - as d e m an eiras n ão co m ­

p e t it iv a s. G e r a lm e n t e so m o s m ais in f la m a d o s co m

aq u e le s a q u em am am o s; é co m essas p esso as q u e

sen t im o s m aio r h o st ilid ad e , p o is n o sso co n t at o co m elas

é m ais lo n g o e m ais in t en so .

Intelectual

N o sso p ro g ram a so cial n o s le v a a serm o s in t e le c­

t u ais e a d esp rezarm o s as re açõ e s h u m an as in t en sas,

135
e sp e cialm e n t e p o rq u e são e m o cio n ais. M u it as v e ze s a

p esso a q u e assu m e o p ap el d e in t e le ct u al t e m m ed o

d e suas e m o çõ e s o u se sen t e d e sco n fo rt áve l co m elas

p o r q u alq u e r razão .

Talv e z t en h a sid o p ro g ram ad a p ara n ão m o st rá-

las, p ara p e n sar q u e se n t im en t o é fraq u e za. A lg u m as

v e ze s, t am b é m , a p esso a se sen t e in ca p a z d e se r e la c io ­

n ar co m o s o u t ro s e d e f aze r am izad e s e , assim , se re­

fu g ia em su a p o se d e in t e le ct u al.

A " t o r r e d e m arfim " d o in t e le ct u a l é t am b é m um

refú g io co m u m d a co m p e t içã o p r ó p r ia d as re laçõ e s

h u m an as. O s p ro cesso s d e ap re n d izag e m são m en o s

a m e a ç a d o r e s d o q u e as p e sso as. A sala d e a u la é

p re f e rív e l ao m u n d o f r io e cru e l q u e e le ap re n d e u a

t em er. A s p esso as m ais t ím id as p re f e re m le r so b re a

v id a d o q u e t e n t ar v iv e r . A s est an t es d a liv ra ria p o d em

se r um r e f ú g io d as d o re s d e c a b e ç a d o d ia - a - d ia ;

p o d em o f e r e c e r o co n so lo d o iso lam e n t o e o p re st íg io

d e se r e m e st u d a n t e s. Po d e m se r u m a f u g a d as

re sp o n sab ilid ad e s so c ia is.

As p esso as p ro g ram ad as p ara o iso lam en t o são ,

n o g eral, m ais in clin ad as às t arefas esco lares d o q u e às

relaçõ es sig n ificat ivas co m o s o u t ro s. A o in vés d e ad m it ir

q u e é um e re m it a , e xc lu íd o d a so cie d ad e , este jo g ad o r

in sist e em d ize r q u e é d e d icad o à ap ren d izag e m d e

alt o n íve l. Co m o co n se q ü ê n cia , est e jo g o o liv ra d e res-

136
p o n sab ilid ad es so c ia is, d e p a r t ic ip a r d e o rg an izaçõ e s,

d e cu m p r ir co m o b rig açõ es e f a ze r a m iza d e s.

Isso n ão é , e m ab so lu t o , u m a a cu sa ç ã o aos e st u ­

d io so s. O v e r d a d e ir o est u d io so f a z co n t r ib u içõ e s v a lio ­

sas à so cie d ad e , m as isso n ão o im p e d e d e ser u m a

p esso a h u m an a, q u e viv e p le n a m e n t e .

Solitário

H á um o u t ro jo g o d e e sca p e m u it o p are cid o co m

a t o r r e d o in t e le ct u alism o d e scr it a a c im a : é o jo g o d o

iso lam e n t o . O so lit ário se e x c lu i d o g ru p o , v iv e so zin h o

e t e n t a se co n v e n ce r d e q u e g o sta d e v iv e r assim . En ­

t ran d o nesse co n fin am e n t o so lit á r io , co n seg u e escap ar

d o s d if íce is d e safio s d a so cie d a d e e d a v id a h u m an a.

Ele assu m e u m a at it u d e d e p re su n ção , c r it ic a as o rg a­

n izaçõ e s e r id icu la r iza as p esso as so ciáv e is p ara as q u ais

o lh a co m u m a p ret e n sa a t it u d e d e su p e r io r id a d e e

co n d e sce n d ê n cia . Está se m p re d izen d o a si m esm o q u e

é su p e rio r a e las e a essas f u t ilid a d e s.

O n e u ró t ico se sen t e d iv id id o e n t re im p u lso s in ­

t e rn o s d e ap ro xim ação e afast am en t o d a s p esso as. O

so lit ário é u m n e u ró t ico q u e o p t a p elo afast am en t o .

Ele fo g e e, co m o n ão co n seg u e se re la cio n a r facilm e n t e

co m o s o u t ro s, u sa seu jo g o p ara e vit ar o fracasso n o s

re lacio n am en t o s. O s efeit o s fin ais são d et erm in ad o s p o r

137
a q u ilo q u e est á d en t ro d o so lit á r io , p e las razõ es q u e o
lev am a fu g ir.

Se p re d o m in ar a h o st ilid a d e , est a p o d e e v e n t u a l­

m e n t e e xp lo d ir co m v io lê n c ia , co m o n o caso d e Le e

H arv e y O sw a ld .* Se p red o m in ar a p aran ó ia, vai se a p r o ­

f u n d a r o ab ism o en t re a p esso a e o rest o d o m u n d o . O

p ad rão e scap ist a p o d e t e r m in a r em alg u m t ip o d e


t rag é d ia.

M ártir

O co m p le xo d e p e rseg u ição d o " m á r t ir " (p a r a ­

n ó ia) é u m a d eso rd em e m o cio n al ca ra ct e rizad a p o r

falsas su sp eit as. A s t e n d ê n cias p aran ó id es ap arecem em

u m t ip o d e e sq u izo f re n ia, u m a d eso rd em m en tal n a

q u al a p esso a d o en t e está afast ad a d a re alid ad e . A c a r a c ­

t e ríst ica m ais m arcan t e d o p aran ó ico é a su sp eit a. Ele

so fre d o q u e o s p sicó lo g o s ch am am d e " e rro d e r e f e ­

rê n cia" q u e o leva a p en sar q u e t o d o m u n d o está f a ­

lan d o a seu re sp e it o ; q u e est á ch o ve n d o n o d ia d o seu

d e sf ile p o rq u e D eu s t em alg u m a co isa co n t ra e le , e

assim p o r d ia n t e . É um se n t im e n t o d e est ar se n d o

sem p re p reju d icad o p o r alg u ém o u p o r alg u m a co isa .

* N.T. - O assassino do presidente am ericano John Fitzgerald


Kennedy.

138
D e v e - se d ize r q u e u m p o u co d e sse se n t im e n t o

est á p re se n t e em t o d o s n ó s, em alg u n s m o m e n t o s;

p esso as n o rm a is t am b ém so fre m d e ilu sõ e s, às v e ze s.

Essas ilu sõ es n ão são , n o e n t a n t o , t ão ir ra cio n a is, e x ­

t rem ist as o u arrasad o ras. O p aran ó ico se en co n t ra, m u i­

tas v e ze s, na sit u ação d o m e n t iro so q u e p recisa in ve n t ar

h ist ó rias p ara ju st if ic a r a d e t u rp a ção q u e faz d o s fat o s.

À s v e ze s, e sse s en g an o s se t o rn a m sist e m át ico s e o

in d iv íd u o in sist e em co m e t ê - lo s, a p e sa r d e t o d as as

in co n sist ê n cias ap aren t es.

O co m p le xo d e p erseg u ição se d esen vo lve g eral­

m en te a p art ir d e um co m p le xo d e in fe rio rid ad e . A p es­

so a d etesta su a p ró p ria in ad eq u ação e p ro jet a seu p en ­

sam en t o so b re as m en tes d o s o u t ro s; co n clu i q u e e le s a

d et est am t a m b é m . N ão co n se g u e e st a b e le c e r r e la ­

cio n am en t o s satisfat ó rio s e é , n o g eral, su p ersen sível. Seu

eg o é m u it o frág il. A o sen t ir- se re je it ad a, ela se re t rai,

t o rn an d o - se cad a vez m ais afastad a e alie n ad a em relação

às o utras p esso as. Sen d o assim , t o rn a- se in cap az d e ch ecar

as in t erp ret açõ es im ag in árias d o s fat o s q u e d et u rp a. Ela

ach a q u e acred it o u nas p esso as e elas a en g an aram . To rn a-

se d esco n fiad a e d ecid e n ão co n fiar em n in g u ém .

É im p o ssíve l su st e n t ar re laçõ e s so ciais n o rm ais

co m essas id é ia s na c a b e ç a . To d o s n ó s so m o s u m p o u ­

co d e sco n fiad o s. Caso c o n t r á r io , se ríam o s m u it o c r é ­

d u lo s o u in g ê n u o s. O p aran ó ico vai m u it o m ais lo n g e .

139
Execu t a seu jo g o cu lp an d o o s o u t ro s p elo s seu s erro s.

O h áb it o d e e xim ir- se d e q u alq u e r resp o n sab ilid ad e

faz p art e d a ilu são p aran ó ica. O p aran ó ico n ão co n se­

gue d ist in g u ir, d e m an e ira ap ro p riad a, a su a p arce la d e

re sp o n sab ilid ad e d a p arcela d o s o u t ro s em relação a

seus p ro b lem as. Su as d e ce p çõ e s co n sig o m esm o lhe

p arecem ab so lu t am en t e claras e v e rd ad e iras.

O c o m p le xo d e m árt ir se d e se n v o lv e a p art ir

d e u m a a u t o - a v a lia ç ã o in st á v e l e d e u m f racasso

em m an t e r um n ív e l sat isfat ó rio d e co n f ian ça n as p es­

so as. Isso se e xp re ssa q u an d o e le cu lp a os o u t ro s p o r

sua in f e lic id a d e . O p aran ó ico est á cie n t e d e seu s sen ­

t im e n t o s h o st is, m as o s r a c io n a liza a t ra v é s d e suas

ilu sõ es. Seu d e se jo é d e at acar o s o u t ro s p o r se sen t ir

p erseg u id o . Esse t ip o d e ilu são é u m a sim p le s t en t at iva

d e criar u m a sit u ação im ag in ária cu jo s sin t o m as p o ssam

p arecer racio n ais e ace it áv e is. A cap acid ad e d e ra cio ­

n alização d o p aran ó ico é q u ase sem p re n o t á v e l; às

vezes co n seg u e a t é m esm o c o n v e n c e r os o u t ro s da

racio n alid ad e d e seu co m p o rt am en t o .

M essias

Est e jo g o d e m an d a um p o u co d e im ag in ação e

um a n ecessid ad e su b co n scien t e d e se sen t ir im p o rt an t e.

O M essias se im ag in a co m o o salv ad o r d a raça h u m an a,

140
o q u e p o d e se r u m a fo rm ação d e re ação a o m ed o d a

in sig n if icâ n cia . Ele se vê co m o " a ju d a d o r " e os o u t ro s

co m o " a ju d a d o s" em q u ase t o d o s o s seu s r e la cio n a­

m e n t o s. A o in v é s d e in ce n t iv a r o s o u t ro s a u sar su a

p ró p ria fo rça e sa b e d o ria , o f e r e c e a su a, re sp e it o sa­

m e n t e . Se o lh a r à su a v o lt a, v a i d e sco b rir q u e se r e la ­

cio n a co m p o u cas p esso as d e ig u al p ara ig u al. Se as

p esso as se sen t em at raíd as p o r su as q u a lid a d e s - q u e

n ão e st ão co m p le t am e n t e e sco n d id as at rás d o p ap el

d e M essias - é m e lh o r q u e ap re se n t e m u m p ro b lem a

o u u m a n e ce ssid ad e re al.

O g an h o d o jo g o é u m e n o rm e se n t im e n t o d e

g ran d e za e u m a lo n g a e b em g u ard ad a list a d e p esso as

q u e fo ram a ju d a d a s p o r e le . B a sica m e n t e , o M essias

t em se n t im e n t o s d e in f e r io r id a d e e p r o c u r a lib ert ar-

se d e le s d o m in a n d o as o u t r a s p esso as e m o c io n a l­

m en te.

Supermãe

A m ãe su p e rp ro t e t o ra d e se m p e n h a um p ap e l

b a st a n t e p r e ju d ic ia l. G e r a lm e n t e p r o d u z p eq u en o s

t ir a n o s, eg o cên t rico s e q u e só q u erem sa b e r d e si em

t o d as as sit u açõ e s. O f ilh in h o d a m am ãe se t o rn a t r a ­

g icam e n t e d e sp re p arad o p ara u m m u n d o q iie n ão o

m im a, nem sat isfaz seu s ca p rich o s. Estu d o s p sico ló g ico s

141
co m so ld ad o s em t em p o d e g u erra m o st ram q u e aq u e ­

les q u e se d esest ru t u ram m ais se riam e n t e eram fru t o s

d e m ães p ro t et o ras. A ca n ç ã o m ais so lic it a d a p elo s

so ld ad o s q u an d o Bin g C r o sb y v isit o u as t ro p a s n o

Pacífico Su l d u ran t e a Seg u n d a G u e rra , fo i " Lu lla b y " ,*


d e Brah m s.

Este jo g o n ão é m o t ivad o p o r um am o r g e n u ín o ,

sau d áve l e m ad u ro . H á t rês cau sas p ro váve is: (1 ) Ansie­

dade neurótica. A m ãe in seg u ra t em e q u e seu filh o p o ssa


so f re r alg u m d an o se e la n ão f iz e r t u d o p o r e le e g eral­

m en t e lh e t ran sm it e esse m ed o . U m a m ãe d esse t ip o

n ão d esfru t a a p re se n ça d o s f ilh o s, ap en as se p reo cu p a

co m eles. (2) Hostilidade. Po r m ais est ran h o q u e p o ssa

p arecer, alg u m as v e ze s a su p erp ro t eção m at e rn a é u m a

fo rm a d e co m p e n sar (fo rm ação d e reação ) a h o st ilid ad e

su b co n scien t e em relação ao s f ilh o s. Ela co m p e n sa seu

d esam o r at ravés d e u m a d e vo ção co n scie n t e p o r e les.

(3 ) Relações conjugais frustradas. A m ãe q u e é in fe liz

co m o m arid o d e sp e ja seu s sen t im en t o s d e afet o co n ­

t id o so b re o s filh o s. N essas circu n st ân cias, a cr ia n ça car­

reg a o p eso da v id a afet iva in sat isfat ó ria d a m ãe . (Veja

D a v id Le v y , M a t er n a l O v er p r o t ect i o n , C o lu m b ia
U n iv e rsit y Press).

* N.T. - Cantiga de ninar.

142
Q u an d o re p rim o
m in h as em o çõ es,
m eu est ô m ag o
co m eça a c o n t a r ...
Eterno jovem

Est e é o jo g o d a p esso a q u e est á e n v e lh e ce n d o

e q u e sim p le sm e n t e n ão co n seg u e se aju st ar a e sse

f a t o . Co m f r e q ü ê n c ia , p esso as d e m e ia- id ad e se n t e m

q u e est ão p e rd e n d o seus at rat ivo s. A c a lv íc ie , a f la cid e z

m u scu lar e as ru g as em v o lt a d o p e sco ço sim b o lizam

u m d e c lín io d o p re st íg io co m o se xo o p o st o . Pa ra

co m p e n sar essa d e t e r io r ia çã o d a id ad e , aq u eles q u e

n u n ca se d e se n v o lv e ram co m o p esso as v e rd a d e ira s

n e m e st ab e le ce ram v ín c u lo s e m o cio n a is p ro fu n d o s

co m e çam a b u sca r um p a r c e ir o m ais jo v e m . A lém d a

e v id ê n c ia f ísic a m o st rad a p e lo e sp e lh o , essas p esso as

ten tam tam b ém c o m p e n sa r u m a p o ssív e l q u e d a

e m o cio n a l, e v id e n cia d a p e la p erd a d e am b ição , p e la

f ad ig a e p o r c r ise s m ais f re q ü e n t e s d e d e p re ssão . B io ­

lo g icam e n t e , isso p o d e t e r co m o cau sa u m a p ro d u ção

in su f ic ie n t e d e h o rm ô n io .

O p ro b lem a é q u e esses " jo g ad o re s" so freram d e

u m a p risão e m o cio n al e n u n ca ap ren d eram a se r e la ­

c io n a r sig n ificat iv am e n t e co m as p esso as; ag o ra p o u co

lh e s rest a co m o co n so lo n a m e ia- id ad e . Ten d o su p er-

v a lo riza d o seu s at rat ivo s f ísic o s, t em em q u e eles d e sa ­

p a r e ç a m . La m e n t a v e lm e n t e , t e n t am e sco n d e r se u

q u e ixo d u p lo , su as v a rize s, ru g as e cab e lo s b ran co s,

t e n t an d o p en sar e ag ir co m o jo v e n s. O s at rat ivo s físico s

144
n u n ca fo ram a c h a v e p ara as b o as c o isa s d a v id a ; ce r­

t am en t e n ão e st arão p re se n t e s p a r a su a v iza r o e n v e ­

lh e cim e n t o .

Pobre coitado

Est e jo g o é u sad o p o r aq u ele s q u e se d e svalo rizam .

O jo g ad o r se d e p r e cia d ian t e d o s o u t r o s, t a lv e z em b u s­

ca d e u m a se g u ran ça q u e a m e n iz a seu s se n t im e n t o s

d e cu lp a (V e ja t am b é m Inferior e cu lpado).

M al humorado

O jo g o d o m au h u m o r é u sa d o p o r p esso as q u e

são cr ia n ça s d o p o n t o d e vist a e m o cio n a l. O m al h u ­

m o rad o n ão p o d e se assen t ar e d isc u t ir p ro b lem as in t e r­

p esso ais p o rq u e su a d isp o sição o u su a q u e ixa é ir r a ­

cio n al e e le sab e d isso , em seu ín t im o . Co st u m a p u n ir

os o u t ro s at ravés d e seu silê n cio e o lh a r t rist e , sem lh es

d ize r o q u e o está a b o rre ce n d o . Fic a am u ad o , m as n ão

assu m e a resp o n sab ilid ad e d e e x p lic a r p o rq u e está ag in ­

d o d essa m an e ira. U m a e xp lic a çã o p o d eria p are ce r t ão

t o la q u e e le sab e (su p e rf icia lm e n t e ) q u e a o u t ra p esso a

p o d eria ach a r g raça; p o d e sat isfazer- se e t o le rar su a

au t o p ie d ad e sem t e r q u e t ra b a lh a r sit u açõ es d if íce is

at ravés d a co m u n ica çã o .

145
Preconceituoso e fanático

Este jogo é fru t o d e um a n eu ro se so cial q u e ap arece

p rincip alm ente en t re o s in seg u ro s. A p esso a p reco n cei­

t uo sa precisa de algum t ip o d e v azão p ara su a h o st ilid ad e

em o cio n al, que não t raz q u alq u er b en efício p ara aq u eles

q u e se tornam o alvo d o p reco n ceit o . Go rd o n A lp o rt em

The Nature of Prejudice, su g ere q u e o p reco n ceit o se


o rig in a de nossas an sied ad es; sen t im o - n o s in seg u ro s e

ju n t am o - n o s a um g ru p o co m o fo rm a d e p ro t eção .

A q u eles que estão fo ra d o no sso g ru p o são co n sid erad o s

um p erig o e uma am eaça. N ó s o s at acam o s p o rq u e, d e

alg u m a form a, nos sen t im o s am e açad o s p o r eles. N ão

co nseg uim o s o ferecer u m a e xp licaçã o ló g ica p ara isso

(ap esar d e ap resentarm o s várias razõ es), m as q u alq u er

p esso a que não est eja n o no sso g ru p o é u m a am eaça

p ara nó s se estiverm os m u ito an sio so s e in seg u ro s.

O preconceito é um en g an o e m o cio n al m as, o nd e

q u er q u e exista, n u n ca é re co n h e cid o co m o t al p elas

p esso as p reco nceituo sas. O fan át ico sem p re t en t a exp li­

car seu preconceito em t erm o s in t e le ct u ais. D ificilm e n t e

ad m it e a irracio n alid ad e d e su a p o sição . N a v e rd ad e , o

p ré- julg am ento é um ju lg am en t o an t e rio r à co n sid e ­

ração d a evid ência.

A sociedade co st u m a c o n t r ib u ir p ara a fo rm ação

d e n o vo s p reco n ceito s at ravés d e u m t ra b a lh o d e ra-

146
c i o n a l iz a ç ã o n e c e ssá r io à e x p lic a ç ã o d e sse s p re ­

c o n c e it o s ; a m a io r ia d o s f a n á t ic o s, p o r t a n t o , n ão

p r e cisa lid a r co m su a p ró p ria e x p lic a ç ã o ló g ica e ra­

c io n a liz a d a . Bast a ap e n as r e c it a r alg u m as frases b em

e n sa ia d a s.

Prot elador

O jo g o d o ad iam e n t o é u m a t e n t at iva d e fu g ir d a

r e a lid a d e , p ro t elan d o as co isas q u e d e ve riam ser feit as

aq u i e ag o ra. O p ro t e lad o r en g an a- se at rav é s d e p ro ­

m essas irre ais d o t ip o "V o u p a r a r d e f u m ar assim q u e

e n t rar d e férias. Vo u co m e çar a f a ze r g in ást ica log o q u e

o t e m p o m elh o rar. Vo u v o lt a r a f re q ü e n t ar a Ig reja

q u an d o m e e st ab e le ce r e t iv e r fam ília e f ilh o s" . Fu g ir

p ara am an h ãs vag o s e irreais é ap en as u m a d as várias

m a n e ir a s at ravé s d as q u ais a p esso a e sca p a d e su a

r e a lid a d e .

Ressentido

Q u a n d o a p esso a d o t ip o " n ascid a p ara p e rd e r"

p ro cu ra um cu lp ad o p ara seu p ró p rio f racasso , acu sa

alg u ém o u alg u m a co isa : o " sist e m a" , a v id a , as m u d an ­

ças. Ressen t e- se co m o su cesso e a f e licid ad e d o s o u t ro s

p o rq u e , co m p aran d o - se a e le s, sen t e- se m ais in f e liz.

147
Ela fo i p rivad a d e alg u m a c o isa . To d o s t en t am o s co m ­

p r e e n d e r n o sso s fracasso s, e xp lica n d o - o s at ravés d e

o u t ras razõ es q u e n ão as n o ssas p ró p rias in ad e q u açõ e s.

Trat am en t o d esig u al p o r p art e d o s o u t ro s, in ju st iça e a

t ra m a d as circu n st ân cias são fat o res q u e t o rn am n o sso s

fracasso s m ais su p o rt áveis.

O ressen t id o g asta t o d as as su as en e rg ias co m

ressen t im en t o s e , p o r isso , r e a liza m u it o p o u co . À s ve ze s

p are ce - n o s q u e o s crít ico s m ais fe rre n h o s d e alg u m a

co isa (g o vern o , e sco la, Ig re ja) são aq u e le s q u e n ad a f a ­

ze m p elas in st it u içõ es q u e t an t o c r it ica m . A p esso a r e s­

se n t id a está se m p re t e n t an d o t raze r o seu caso ao t r i­

b u n al d a v id a, n a esp e ran ça d e q u e o jú r i o ab so lva d e

se u s fracasso s.

Re sse n t im e n t o vem d o lat im resentire (sen t ir d e

n o v o ); o resse n t id o est á se m p re re m o e n d o o p assad o ,

r e v iv e n d o b at alh as q u e n ão p ô d e v e n c e r e , n o g e ra l,

p e rsist e em seu jo g o p o r t o d a a v id a . O re sse n t im e n t o

se t o rn a um h áb it o e m o c io n a l. N e n h u m se n t im e n t o é

ca u sa d o p elo s o u t ro s. N o sso s se n t im e n t o s são c a u ­

sad o s p o r n o ssas p ró p rias resp o st as e m o c io n a is, p o r

n o ssas esco lh as e reaçõ e s. O re sse n t id o é u m re at o r,

n ão u m ato r, e , q u an d o p e r c e b e seu jo g o , p e rd e q u a l­

q u e r vest íg io d e au t o - re sp e it o . Passo u t o d a a su a v id a

u san d o u m m ecan ism o f a lh o e , d e alg u m a f o rm a, sab e


d isso .

148
Sedutor(a)

Co m e x c e ç ã o d o est ad o d o e n t io d a n in fo m an íaca

q u e v iv e o b ce cad a p o r se xo , as m u lh e re s q u e u sam

est e jo g o n ão o fazem p o rq u e re alm e n t e d esfru t am d a

se xu alid ad e g e n it al o u p o rq u e t êm u m a n ecessid ad e

se xu a l tão g ran d e . Elas o f a ze m m ais p o rq u e p en sam

q u e n ad a t êm a o ferecer, se n ão um co rp o sed u t o r. Q u e ­

rem g an h ar a a t e n ção m ascu lin a e d e se jam ser p o p u la­

res. Est e jo g o co st u m a f u n cio n ar, m as o s h o m en s a p r i­

sio n ad o s at rav é s d e le são , n o g eral, co n q u ist as last i­

m á v e is. A lém d e sse t rist e p re t e xt o p ara g an h ar afet o e

a t e n ç ã o , alg u m as ve ze s a " su p e r se x y " est á t en t an d o

d e sa f ia r seu s p ais p ara m ag o á- lo s.

O sed u t o r é , g e ralm e n t e , um " c a ç a d o r d e eg o s"

q u e an d a à p ro cu ra d e n o vo s t ro féu s p ara co n q u ist ar.

Exp e rim e n t a sen t im en t o s p ro fu n d o s d e in ferio rid ad e e

q u e r co m p e n sá - lo s a t r a v é s d e c o n q u ist a s d o se xo

o p o st o . A lg u m as v e ze s, o s co n q u ist ad o re s b em su ce ­

d id o s são ap e n as n eu ró t ico s em p en h ad o s em esco n d er

su a in seg u ran ça p esso al. D e ve riam se r m ais lam en t ad o s

d o q u e ce n su rad o s.

O q u e é t r ist e n o s se d u t o r e s é q u e e st ã o

b u scan d o alg u m t ip o d e p r o xim id a d e . U sam a in t i­

m id ad e f ísica co m o fo rm a d e su b st it u ir a p ro xim id ad e

p e sso a l, p o is e ssa e x ig e m u it o t e m p o p ara se r


e st a b e le c id a e m u it a h o n e st id ad e (co m u n ica çã o em

n ív e l v isc e r a l); e essas p esso as n ão se sen t e m cap aze s

d e p ag ar o p re ço p e la v e r d a d e ir a in t im id ad e . N ão se

se n t e m p re p arad as p ara f a z e r q u a lq u e r co isa m elh o r.

D e aco rd o co m A lf r e d A d le r , em seu liv r o What Life

Sh ou ld Mean to You (O Q u e a V id a D e v e ria Sig n ificar


p a ra V o c ê ), n in g u é m p e r m a n e c e n u m a v id a in sa ­

t isf a t ó r ia , a não se r q u e h a ja o m ed o d a d e rro t a n o

lad o sau d áve l d a v id a . A s p esso as q u e u sam est e jo g o

são t ão p o u co d e se n v o lv id a s e m o cio n a lm e n t e , q u e

p assam a viv e r d e aco rd o co m o " p ad rão D o n Ju a n " ;

são in cap aze s d e o f e r e c e r u m am o r d u ra d o u ro ao

o u t ro , se é q u e são cap aze s d e e x p e r im e n t a r q u al­

q u e r t ip o d e am o r.

Sofredor

A lg u n s n e u ró t ico s fo ram co n d icio n a d o s d e t al

m o d o q u e se se n t e m cu lp ad o s p o r d esfru t are m q u al­

q u e r co isa na v id a . Co m o d isse A b rah am Lin co ln , "as

p esso as são f e lize s n a m ed id a em q u e d e cid e m q u e

vão ser f e lize s" . Est e jo g o m aso q u ist a exig e u m a n o va

p e n it ê n cia a cad a p razer. Essa p esso a raram en t e gasta

d in h e iro co m co isas su p érflu as; ela nem m esm o d esfru t a

u m a saíd a à n o it e se o p reço f o r ca ro . Ten d e a se e n vo l­

v e r em sit u açõ es am o ro sas im p o ssíve is e a se ap aixo n ar

150
p o r p esso as t o t alm e n t e f o r a d o seu a lc a n c e . Se p erceb e

q u e est á v iv e n d o b o n s m o m e n t o s, p la n e ja u m a m an eira

d e se p u n ir p o r t ê- lo s v iv id o , co m o u m p ecad o r arre p e n ­

d id o . G a n h o s m at e riais lh e p a r e c e m fú t eis e d e sp ro ­

vid o s d e sig n if ica d o ; o so f re d o r raram e n t e p e rc e b e q u e

a d e f ic iê n cia est á d e n t ro d e si m e sm o .

Seu p ro b lem a b ásico en vo lve sen t im en t o s d e cu lp a.

Essa p esso a n ão se co n sid e ra m e re ce d o ra d e b o n s p en ­

sam en t o s o u d e b o n s m o m e n t o s; co st u m a se a f lig ir co m

d ú vid as e t en d e à p aran ó ia. Cast ig a- se co m cu id ad o e

p ro jet a o ó d io q u e n u t re p ela p ró p ria p esso a n o s o u t ro s,

acre d it an d o q u e se n t e m p o r e la o q u e se n t e p o r si

m esm a. É at ravés d essa m an e ira q u e e xt e rio riza seu s

sen t im en t o s d e cu lp a . Su a vo z in t e r io r se t ran sfo rm a em

um a v o z e xt ern a. Tal p esso a t am b ém se p reo cu p a m u it o

em ag rad ar os o u t ro s e m o rre d e m ed o d e su a rep ro ­

vação . N ão é cap az d e se re lacio n ar p ro fu n d am en t e co m

m uitas p esso as, se é q u e se relacio n a co m alg u m a, p o rq u e

o ó d io q u e sen te p o r si m esm a sab o t a t o d o s o s seu s

relacio n am en t o s.

Calado versus falante

Po r cau sa d e vário s m ed o s, a m aio ria d e n ó s relu t a

em d e ixar q u e o s o u t ro s saib am q u em realm en t e so m o s.

H á d u as t é cn icas m u it o efe t ivas p ara evit ar a co m u -

151
n icação . A p rim eira é falar p o u co . A s p esso as vão p en sar

q u e vo cê é p ro fu n d o se f ic a r ca la d o . D e aco rd o co m

u m v e lh o d it ad o , " rio s p ro fu n d o s co rrem em silê n c io " .

A seg u n d a m an eira é falar t an t o q u e as p esso as n ão

co n sig am o rd en ar o q u e e scu t am , n em p e rce b e r q u al­

q u e r co isa a seu re sp e it o . N o e n t a n t o , u san d o a t écn ica

d a " v e rb o rré ia" e d a am b ig ü id ad e , é d if ícil d ize r m u it o

sem d ar várias in d icaçõ e s co n t rad it ó rias. N in g u ém vai

p o d e r acu sá- lo d e falt a d e co m u n ica ção . Só as p esso as

m ais at en t as vão p e rce b e r q u e n ão sab em co isa alg u m a

so b re o q u e vo cê an d o u f a la n d o .

Preocupado

Ro llo M ay, e m seu liv ro The Meaning o f Anxiety

(O Sig n ificad o da A n sie d ad e ), d iz q u e a an sie d ad e n o r­

m al é p ro p o rcio n al ao p erig o o u am eaça o b je t iv a à

e x ist ê n c ia d e u m a p esso a. A an sie d ad e n e u ró t ica é

desproporcional em relação ao p erig o o b je t ivo . A cau sa


m ais co m u m da an sie d ad e é a in seg u ran ça q u e a p esso a

e xp e rim e n t o u q u an d o c r ia n ç a . Se e la n ão t e v e , na

in f â n cia , a sen sação d e seg u ran ça n e ce ssária, se não

fo i a cale n t ad a p ara ad o rm e cer, se n ão se se n t iu seg u ra

q u an t o ao am o r d e seu s p ais, é p ro váve l q u e seu n ível

d e a n sie d a d e se ja a lt o . O jo g o se m p r e se g u e o
p ro g ram a.

152
Co m o um jo g o , a p re o cu p a çã o é u m a m an eira

im a t u r a d e se lid ar co m as d if ic u ld a d e s. O p reo cu p ad o

g e r a l m e n t e en t ra n u m cír c u lo v ic io so : vai e vo lt a várias

v e z e s ao m esm o t e m a sem ch e g ar a lugar alg u m (ao

f i n a l , no e n t an t o , p o d e d e se n vo lv e r u m a ú lcera). Rep ete

in u t ilm e n t e seu p ro b lem a; e n sa ia d iversas alt ern at ivas

se m se d e c id ir por n e n h u m a; e n u m e ra tod as as p o ssíveis


c o n s e q ü ê n c i a s d e cad a alt e rn at iv a v árias vezes. O p reo ­

c u p a d o t alv e z se sin t a cu lp ad o p o r n ão fazer alg u m a co isa

c o n st r u t iv a , assim e le faz alg u m a co isa: p reo cu p a- se.

Em t e rm o s p sic o ló g ic o s, a p r e o cu p a çã o est á

r e la c io n a d a à an sied ad e q u e re su lt a d e um a so b recarg a

d e e m o ç õ e s re p rim id as (p o r e xe m p lo , a h o st ilid ad e

co m o u sem q u alq u e r am e aça e x t e r n a ). O p reo cu p ad o

c r ô n ic o se sen t e a f lit o sem sa b e r o q u ê o est á in co ­

m o d a n d o re alm e n t e . As p ressõ es in t ern as d e em o çõ es

r e p r im id a s n em se m p re p re cisa m d e e st ím u lo s e x­

t e r n o s p ara p ro d u zir essa co n d iç ã o d e d e sco n fo rt o .

É u m d o s alt o s p reço s q u e p ag am o s p ela rep ressão

e m o c io n a l.

153
“Sint o m uito, m as é assim que eu so u .
Fui sem pre assim , sou assim agora e s<i
para sem pre...” é um lem a fácil
e um engano a que você pode
re co rre r se não q u iser crescer.
Impressão e acabam ento

GRÁFICA E EDITORA

O L U T A D IÉ ã lR
Por que tenho medo
de lhe d izer quem sou?
John Powell

Por que tenho m edo de lhe dizer quem sou?


E por que você tem m ed o de me dizer quem é ?

Po r q ue co n vivem o s, lad o a lado, dia após d ia, e estando


assim tão p ró xim o s fisicam en te, nos sentim os, às v e ze s, tão
d istantes em o cio n alm en te?

N ão há um a resp o sta única p ara essas q u estõ es, nem

John Powell é professor dí um a verd ad e ab so luta q u e as exp liq ue. Os seres h u m an o s são
Universidade de Loyola, em Chicago. com p lexos d em ais, im p revisíveis dem ais, m isterio so s dem ais.
Sua formação nas mais Co m p lexas, im p revisíveis e m isterio sas são tam bém as relaçõ es
diversas áreas - Clássicos, Inglês,
q ue m antêm uns com os o u tro s.
Psicobgia e Teologia - permite-lhe a
combnação única de conhecimentos A p esar d isso , em P o r que tenho medo de lhe
teórios e profunda sensibilidade. Além izer quem sou ?, Jo h n Po w ell nos oferece várias respostas
de professor e autor de best-sellers, p ara estas e o u tras q u estõ es. Su as co lo caçõ es, ao m esm o tem po
John Powell é conselheiro e
in cisivas e sen síveis, no s aju d am a p erceb er m elho r nossas
conferencista renomado em seu país.
Suas outras obras publicadas i icu ld ad es em o cio n ais e as relaçõ es de nosso d ia- a- d ia, a
pela Editora Crescer são: O Seg r ed o i en tificar o s m edos que n o s ap risio n am e a co n stru ir um a vida
d o A m o r Et er n o , Pa r a V i v er em m elho r, p ara nó s e p ara as p esso as à n o ssa vo lta.
Plen it u d e, Fe licid a d e : Um
Tr a b a l h o In t er i o r , El e Me ôs-asbi s-i o
To co u , Am or In co n d i ci o n a l ,
D eci f r a n d o o En i g m a d o Eu e
Por Q u e Ten h o M ed o de
EDITORA
A m ar?

7 3 8 5 8 5 6151
Por que tenho m edo
de lhe dizer quem sou?
John Powell

Por que t enho m edo de lhe dizer quem sou?


E por que você t em m edo de m e dizer quem é?

Po r q ue co n vivem o s, lad o a lad o , d ia ap ós d ia, e estand o


assim tão p ró xim o s fisicam en te, nos sen tim o s, às vezes, tão
d istan tes em o cio n alm en te?
N ão h á um a resp o sta ú n ica p ara essas q u estõ es, nem
um a verd ad e ab so luta q u e as exp liq u e. Os seres hum an o s são
co m p lexo s d em ais, im p revisíveis d em ais, m isterio so s dem ais.
Co m p lexas, im p revisíveis e m isterio sas são tam bém as relaçõ es
q ue m antêm uns com o s o u tro s.
A p esar disso , em Por que tenho medo de lhe
dizer quem sou?, Jo h n Po w ell nos o ferece várias resp o stas
p ara estas e o u tras q u estõ es. Su as co lo caçõ es, ao m esm o tem po
in cisivas e sen síveis, n o s ajud am a p erceb er m elh o r no ssas
d ificu ld ad es em o cio nais e as relaçõ es de nosso d ia- a- d ia, a
id en tificar o s m edos q ue no s ap risio n am e a co n stru ir um a vid a
m elhor, p ara nós e para as p esso as à n o ssa vo lta.

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