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E SU A S A D IÇ Õ E S P O R T U G U E S A S •
C R ISTIN A SO B R A I. •*
• Este artigo pretende dar conta dos principais resultados de um estudo ap resen
tado com o dissertação de doutoram ento (SO B RA I.. Adições). As conclusões obtidas e as
hipóteses colocadas fundam entam -se no estudo de todas as tradições textuais im plicadas,
com a colação dos testem unhos e a proposta de stemmala codicorum. Seria m aterialm ente
im possível apresentar aqui os dados que fundam entam as conclusões. Rem eto, por isso.
para o citado estudo, que inclui a edição crítica das adições portuguesas, para cujas linhas
rem eto quando citar o texto.
•• Faculdade de Letras da U niversidade de Lisboa.
Sobre a form ação dos legendários e a sua evolução v. PH Il.I.IPART. Les légen-
diers. Sobre a com posição da Legenda Aurea. v M AGGIONI. R icenhe. O texto foi e d i
tado criticam ente pelo m esm o filólogo, lacopo da Varazze. Legenda Aurea.
1 Lm Lyon. no século XV. conheceu q u in /c edições e onze na tradução francesa
(cf. C O Q . "L es «politiqucs éditorialcs»**, pp. 179-181).
' VIHGAS, Um códice português ; M ARTINS. "O s fragm entos".
sucessivas e fixam um Normal Corpus de 177 lexios (M AG GIO N I, Ricerche . pp. 132
134). coincidente com o que concluiu FLEITH, Studien, pp. 51-54. A prim eira redacção
situa-se entre 1260-1263 (v. lacopo da Varazze. Legenda Aurea. p. xiii. n. 2) e as seg u in
tes prolongam -se até à m orte do autor (1298).
" F. a data da trasladação de S. V ítores de Cere/.o, incluída entre os Santos E xtrava
gantes na Leyertda. Sobre a fixação deste limite v. M ARTINS. "O o riginal", p. 266.
" Só a identificação exacta do m anuscrito latino usado na tradução castelhana
poderia esclarecer positivam ente esta questão.
" G raesse editou a legenda Aurea (Jacobi a Voraginc. Legenda aurea ) segundo um a
das mais antigas edições im pressas, que tinha textos acrescentados ao Normal Corpus.
Barbara Fleith (Studien) descreve o corpus dos 1100 m anuscritos latinos de que
teve conhecim ento, oferecendo um inventário de todos os santos incluídos com o adição
ao Normal Corpus.
" A num eração dos textos é a fixada por G. P. M aggioni ( Ricerche . pp. 132-134).
A ssinalo com * os textos acrescentados por I. daV ara/ze depois da prim itiva redacção.
534 T E M A S D E I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L
" D escritos por B. Fleith, op. cit.. a quem pertence a num eração dos m anuscritos.
'* C ola de Santa Cruz: Codex XLIX. Esl. 15. C aixa 24. C ola da BPM Porto: 80
13/5/1. Cf. Catálogo dos Códices da Livraria, pp. 238-240.
O F L O S S A N C T O R U M 1)1 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 535
e n c o n tr a m - s e as v id a s de S. H e le n o e de S. O n o f r e na tr a d u ç ã o d a s Vitae
P a tru m feita p e lo letra d o a ra g o n ê s G o n ç a lo G a r c ia de S a n ta M a ria c o m o
título Vida d e lo s S a n to s re lig io so s d e E g ip to e im p re s s a e m S a r a g o ç a , p o r
P a u lo H u ru s. e m 1490/91 A id e n tific a ç ã o e x a c ta d e sta fonte p e rm ite
re strin g ir p ara 1 49 0 /9 1 -1 4 9 9 o p e río d o d u r a n te o q u al tra b a lh o u Fr. G a u -
b c rto e s u g e r ir q u e p o d e rá ter sid o P a u lo H u ru s o im p r e s s o r d o a n t e c e
d e n te c o m u m a B e F.
A re la ç ã o de p a r e n te s c o e n tre B e F p o d e d e d u z ir -s e d a c o la ç ã o e n tre
os d o is le g e n d á rio s e o u tro s textos. A ss im , é p e rtin e n te , p ara a P a ix ã o ,
prin c ip a l te x to d o m aterial in tro d u tó rio , a c o la ç ã o e n tre B. F. o te x to
latino d o M o n o te ssa ro n e o m e s m o te x to d a P a ix ã o q u e a p a re c e a in tr o
d u z ir o L ivro d o s M á rtire s Para o n ú c le o cen tral (te x to s da s festas,
e x c lu íd o o m aterial in tro d u tó rio e os E x tr a v a g a n te s ), a c o la ç ã o e n tre B. F
e L : p a ra os E x tra v a g a n te s , nas vidas de H e le n o e d e O n o f r e , a c o la ç ã o
e n tre B. F, e a tr a d u ç ã o d e G . G. de S a n ta M aria. E ste e s tu d o p e r m ite p o s
tu la r um s te m m a co d icu m :
F. S. de Fradique de Basileia
F
" H A EBLER, Bibliografia, nu 335(5); V IND EL, El arte tipográfico, IV, n° 44. 136.
VIII. pp. 232-234. No recente catálogo Os incunábulos das bibliotecas portuguesas (n°
(W5) veio a lume a existência no ADLeiriu de um exem plar, o único que se encontra na
Península Ibérica. Vendo-o directam ente e com parando-o com o facsim ile publicado por
Vindel c com a descrição dos elem entos tipográficos feita por l laebler, confirm ei a sua
identificação. Uma nota m anuscrita cm letra do séc. XVI perm ite afirm ar que pertenceu à
livraria da rainha D. Leonor, perm itindo rever a identificação feita por Isabel Ccpcda do
n" 43 ( Vitas Patrum en romance) do inventário dos livros de I) Leonor (C EPED A , "O s
livros da rainha” , pp. 51-53) com a im pressão de Jorge C oei (Saragoça, 1511).
x Livro e legèda que fala de todolos fextos e payxoòes dos sãtos mártires. Lisboa.
João Pedro B onhom ini, 1513. V. MARTINS. “O «Livro e legenda»", p. 271.
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 537
B asile ia ( im p r e s s o r d e B u rg o s c o n h e c id o p o r re p e tir o s tr a b a lh o s de
H u ru s '), d e q u e se c o n h e c e m a p e n a s d ois e x e m p la r e s (a p e n a s d o m a t e
rial in tro d u tó rio ): o u tr a p o r J u a n de B urgo s, s u c e s s o r d e F r a d iq u e , q u e
a p r o v e ito u a su a im p r e s s ã o d o m aterial in tro d u tó rio (é a Leyenda g u a r
d a d a na B ritish L ib ra ry ); e o u tra , d e s c o n h e c id a , q u e c h e g o u a P o rtu g a l e
foi o m o d e lo tr a d u z id o no Fios Sanctorum de 1513 e u s a d o ta m b é m (p a ra
o tex to s o b re a P a ix ã o ) p e lo tr a d u to r d o Livro dos Mártires.
F se g u e , c o m a lg u m a s v a ria n te s textuais, as in o v a ç õ e s d e B. D a d o
q u e n ã o c o n h e c e m o s e x a c ta m e n t e o a n te c e d e n te c o m u m , q u a n d o n ã o é
p o ssív e l s a b e r qual d o s d o is, B ou F. está m a is p r ó x im o de L ou d e o u tro
tex to u s a d o c o m o fo n te , n ã o te m o s e le m e n to s p ara a v a lia r c o r r e c ta m e n te
se as v a ria n te s de F re p r e s e n ta m e ss e a n te c e d e n te e m lu g a re s o n d e B in o
vou ou se são i n o v a ç õ e s de F. E ste a p re se n ta , p o r e x e m p lo , u m a in t r o d u
ç ã o na v id a de E s tê v ã o p r o to m á r tir sobre a su a filiação, a le g a n d o c o m o
fo n te o " a u to d o s a p o s to llo s no cap itollo . seys. e tc .” (fl. 18b). q u e n ã o se
e n c o n tra e m L n e m e m B. isto a p e s a r de no resto d o te x to n ã o se e n c o n
tra re m v a r ia n te s s ig n if ic a tiv a s e m re la ç ã o a B. que . n esta v id a . s e g u e de
pe rto o te x to de L. D e v e - s e este p r ó lo g o a o tr a d u to r d e F o u e s ta v a e m p
e foi c o r ta d o p o r B ? N ã o c p o ssív e l r e s p o n d e r c o m e x a c tid ã o . C a s o s e m e
lhante é o d o e p íl o g o d a v ida de S a n to O n o fre , no s E x tr a v a g a n te s . N ã o
sa b e m o s se a a d iç ã o feita à tra d u ç ã o de G . G. d e S a n ta M a r ia se d e v e a
Fr. G a u b e r t o ( te n d o sid o e lim in a d a p o r B) se a o tr a d u to r p o rtu g u ê s .
A l g u m a s v a ria n te s e n c o n tr a d a s n o u tro s textos, d e v e m , p o ré m , se r a t r i b u
ídas a e ste ú ltim o , p o r d e n o ta r e m u m a certa a fe iç ã o p e la s c id a d e s p o r t u
g u e sa s e u m d e s e jo d e n ã o d a r e v id ê n c ia às e s p a n h o la s ~.
N o n ú c le o c e n tr a l, fa lta m e m F as se g u in tes vidas: F u lg ê n c io , E u lá lia
d e B a rc e lo n a , L e a n d r o d e S e v ilh a , F lo re n tin a , T h a y s , S iv ia n o e irm ã.
M a m e r tin o , L e o d e g á rio , S e v e r in o de T o lo sa, P a n ú n c io e E u frá sia , u m
b isp o q u e viveu no vício. F a c r e sc e n ta , s e g u n d o se d e c la r a n o c ó lo f o n . 19
te xtos, p o r isso é na tu ral q u e o tra d u to r p re te n d a g a n h a r a lg u m e s p a ç o
Estes três santos sào os três irmãos de S. Isidoro de Sevilha Fulgêncio. bispo de
Ecija c de C artagena. e Leandro, arcebispo de Sevilha. foram am bos hom ens de ciência e
com batentes na luta contra a heresia ariana. Florentina fez vida professa c dirigiu m o stei
ros fem ininos. N ão deixa de parecer estranho que o tradutor castelhano tivesse interpolado
as vidas dos três irm ãos dc S. Isidoro mas não o próprio Isidoro, que só vem a ser a c re s
centado pelo com pilador dos Extravagantes.
‘ “ E nom m enosprezando nem esqueeçedo os nossos sanctos que nos regnos de
porlugal resprandcçem per muytos m ilagres acrcçcnlam cntos destes aa presente .xix.
vidas..."
Para além da sua inclusão na colecção das Vituc Patrum, atribuída a S. Jerónim o
e de que há várias notícias em inventários m edievais (que aqui não cabe recensear), conhe-
eem -sc versões latinas num m anuscrito do séc. XII de S. C ruz de C oim bra (cod.
I.XXII 1/348 da BPM P) c num alcobacense do séc. XIV (A lc. L X X V II/I). Uma tradução
portuguesa conserva-se no Alc. CCLX VI. da prim eira m etade do século XV.
O I L O S S A N C T O R U M Dfc 1513 l S UAS ADI Ç ÔHS P O R T U G U E S A S
P a n ta le ã o . P e d ro G o n ç a lv e s . G o ld o ír e . A n a e J o a q u im e tr a s la d a ç ã o d e S.
V icente p ara L isb o a . D e v id o à falta de fólios n o ú n ic o e x e m p la r d o Fios
Sanctorum. a lg u n s d e s te s tex to s so fre ra m la c u n a s e d o is o u tr o s ( R o q u e e
E r a s m o ) d e s a p a r e c e r a m c o m p le ta m e n te . A a ná lise lin g u ística das 17 a d i
ç õ e s in dic a q u e to d o s o s te x to s te rão sid o tra d u z id o s no s é c u lo X V o u in í
c io d o X V I, p o d e n d o a Vida de S. C la ra ser o te x to m a is a n tig o (p r im e ir a
m e ta d e d o séc. X V ).
N o tr a b a lh o q u e este artigo re su m e pro c u re i e s tu d a r c a d a u m a d a s 17
a d iç õ e s, d e fo rm a a e n c o n tr a r na h istória d o c u lto a c a d a s a n to u m a r a z ã o
q u e ju s tif ic a s s e a su a se le c ç ã o p elo c o m p il a d o r de 151 3 e a id e n tific a r, na
m e d id a d o p o ssív e l, a fonte usa da p elo c o m p ila d o r, b e m c o m o c a r a c te r i
z a r o tra b a lh o de tra d u ç ã o de c a d a texto, q u e p o d e ria a p o n ta r o n ú m e r o de
tra d u to re s in te rv e n ie n te s. O e s tu d o o b te v e re s u lta d o s d e sig u a is. S ó para
d o is d o s te x to s foi po ssível ide n tific a r rig o ro s a m e n te a fo n te utilizada.
A V ida d e S a n ta A n a e S. J o a q u im é tra d u ç ã o literal d o s d o is p r im e i
ros c a p ítu lo s de u m a o b ra d o e sp a n h o l J u a n d e R o b le s. La vida y exce-
lencias e m iraglos de santa Anna v de la gloriosa nuestra sefíora santa
nutria, im p re ss a e m S ev ilha. e m 1511, po r J a c o b o C r o m b e r g e r '. A o b ra
foi r e d ig id a e n tre 1503 e 1511 p elo q u e . s e g u r a m e n te , o Fios Sancto
rum d e 1513 foi tr a d u z id o e c o m p o s to e n tre 1511 e 1513. O u tr a fonte
id e n tific a d a c o m se g u r a n ç a é a d a Vida d e S. A n tó n io d e P á d u a . c o lh id a
p e lo c o m p ila d o r de 1513 n um Fios Sanctorum e m p o r tu g u ê s d a a u to ria de
P au lo d e P o rta le g re , c ó n e g o da C o n g r e g a ç ã o de S. J o ã o E v a n g e lis ta
(L óios). A id e n tific a ç ão d a fonte foi p o ssív e l g ra ç a s à r e p r o d u ç ã o p o r
Jo rg e C a r d o s o d e d o is m ila g re s o c o r r id o s no A le n te jo q u e o h a g ió lo g o
a firm a te r c o lh id o no Fios Sanctorum de P a u lo d e P o rta le g re ". A p a rtir
d e sta in f o r m a ç ã o foi p ossív el v e rific a r a c o in c id ê n c ia e n tr e o q u e se p o d e
s a b e r d a v ida d e P a u lo d e P ortalegre e as i n fo rm a ç õ e s q u e o tr a d u to r da
V ida d e S. A n tó n io d á de si m e sm o : c o n ta - n o s q u e fez u m a v ia g e m p e lo
A le n te jo na c o m p a n h i a de u m c a p e lã o d a C a s a d e S. A n tó n io de L isbo a,
c h a m a d o F e rn ã o P o m b e ir o que, m a is ta rd e , p a sso u a c h a m a r - s e Padre
B aptista. P a u lo de P o rta le g re e s c re v e u , e m 1468. u m Novo M em orial do
Estado Apostólico o n d e . nu m c a p ítu lo a u to b io g r á fic o (11. 3 3 v ) c no u tro
Existe um exem plar na BNLisboa (Rcs. 555P). Para a descrição du obra e estudo
sobre o autor, as fontes que utilizou c o seu trabalho de com pilação e com posição, v.
SO BR A L. Adições, pp 505-535.
* C f SO BRA L. Adições, p. 514.
" CA RD O SO . Agiologio, II. p 679
11 O Memorial conserva-se no ANTT (Ms.da Livraria 796). numa cópia parcial do
O n o s S A N C T O R U M l»E 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 541
e s t ó r ia ” , 4 0 - 4 3 ) in d ic a -n o s qu e ta m b é m c o n tin h a o s c in c o f r a n c is c a n o s
(q ue e s tã o a u s e n te s d o Fios Sanctorum de 1513). C o n tin h a , a lé m d isso ,
p e r s o n a g e n s c o n te m p o r â n e a s do autor, fa le c id a s e m f a m a de s a n tid a d e ,
a lg u m a s a c re s c e n ta d a s , à im a g e m d o q u e s u c e d e n o M emorial, d e p o is de
c o n c lu íd a a ob ra . C o m e ç a d a e m 1484 ", e s ta v a c e r ta m e n te c o n c lu íd a e m
1488, v isto q u e o P. D io g o G o n ç a lv e s , fa le c id o a 5 d e N o v e m b r o d e s s e
a n o e m o d o r d e s a n tid a d e , a p are c e n o final d o 2o to m o “ , ju n t a m e n t e c o m
o s sa n to s d e J u n h o , e não a m e io d o 4 o to m o , c o m o lhe c a b e r ia n a o r d e m
p er circulam anui. A e x p lic a ç ã o p ara este d e s lo c a m e n to e s tá no f a c to d e,
te n d o j á te rm in a d o o leg e n d á rio , o a u to r ter a p r o v e it a d o u m e s p a ç o d i s
p o n ív e l, q u e ficara e m b ra n c o no fim d o 2° tom o .
A c o n s e r v a ç ã o d e re m issõ e s sem re fe re n te , de in te rp e la ç õ e s d ire c ta s
a d e s tin a tá rio s d e s c o n h e c id o s d o Fios Sanctorum d e 1513 (“ a g o ra o u ç a
v o ssa c a r id a d e ” , 2 1 4 ) e do d is c u rso na p rim e ira p e s s o a c o m q u e o n a r r a
d o r c o n t a a su a v ia g e m a o A le n te jo c o m o P. B a p tista s ã o sin ais e v id e n te s
de q u e o te x to da Vida de S. A n tó n io foi tr a n s p o r ta d o p a ra o Fios
Sanctorum de 1513 em c ó p ia fiel, s e m in te r v e n ç ã o d o c o m p ila d o r de
1513. A ssim , p o d e m o s ju n t a r a o c o n h e c im e n to d a o b r a d o a u to r lóio w
es te f r a g m e n to d o seu Fios Sanctorum e c o l o c a r in e v ita v e lm e n te a p e r
g u n ta : te n d o o c o m p ila d o r de 1513 à sua d is p o s iç ã o q u a tr o to m o s d e u m
Fios Sanctorum e m p o rtu g u ê s qu e in clu ía m as V idas de S. F r u tu o s o e de
S. P e d ro G o n ç a lv e s e a tra s la d a ç ão de S. V icen te e d e s e ja n d o a cre sc e n tá -
las ao s E x tra v a g a n te s , po rq u e p ro c u ra ria u m a fonte d ife re n te , lim ita n d o -
se a co p ia r, d o Fios Sanctorum de P au lo , a p e n a s a V ida de S. A n tó n io ?
Pare c e le g ítim o a d m itir q u e e stes três te x to s d o s E x tr a v a g a n te s p o d e r ã o
p ro v ir ta m b é m d o le g e n d ário d e Paulo. N o c a s o da n a r ra tiv a d a tr a s la d a
ç ã o d e S. V icente, há indícios m u ito fortes d e isso le r a c o n te c id o . F o ra m
tr a d u z id o s (e re fu n d id o s) o c o n h e c id o te x to de M e s tr e E stê v ã o , c h a n tr e da
c a te d ra l d e L isb o a e o a n te c e d e n te d o re la to so b re a tr a s la d a ç ã o p a ra
B ra g a d o B re v iá rio dc S o e iro 40. S e m n u n ca c o n te s t a r a p r im a z ia de
L is b o a c o m o c e n tr o d e c u lto a S. V icente, o tr a d u to r re iv in d ic a no e n ta n to
a lg u m p re s tíg io ta m b é m p a ra B raga: “ E p o re m n o m sem r a z o m se faz
m e m ó r ia d e ta m g lo r io s a trã s la d a ç a m e m u d a n ç a a a q u e lla c id a d e e aa
n o ss a terra. M a s d e sp o is ... q u is N o s s o S e n h o r h o n r r a r a a y g re ja de
B ra a g a ..." (8 6 -8 9 ). O seu in te re sse pela c id a d e , p o ré m , n ã o o leva a in c lu ir
na tra d u ç ã o u m d o s m ila g r e s n a rra d o s no o fíc io , a p e s a r de c o n ta r um
o c o r r id o e m L isb o a . M o stra c o n h e c e r as d u a s c id a d e s, id e n tif ic a n d o a
r e líq u ia c o n s e r v a d a e m B ra g a (“ huu b r a ç o ” . 90, in f o r m a ç ã o q u e n ã o es tá
no o fíc io ) e d a n d o c o n ta , n u m a in te rp o la ç ã o e x p lic a tiv a , d o fa c to d e o r e i
to r de S. J u s ta b e n e f ic ia r de u m a p re b e n d a e c o n e s ia n a S é de L is b o a ( 6 7
-70). T o d o s e s te s e l e m e n t o s c o in c id e m c o m a h is tó r ia d e v id a d e P a u lo de
P o rta le g re , e n tre L is b o a e B ra g a J‘. M ais im p o rta n te se rá o facto d e te r
m os n e ste te x to , c o m o na V ida d e S. A n tó n io , u m a r e m is s ã o s e m r e f e
re nte. a lu d in d o a o m a rtírio de S. V icente: “c o m o j á d is s e m o s na p r im e y r a
p arte o n d e d is s e m o s d e seu m a rtirio " ( I I ) . A d iv isã o e m p a rte s n ã o é a
e s tru tu r a e x te r n a e x p lic ita d a e m F. Se e sta fosse u m a r e m is s ã o p a r a o
n ú c le o c en tra l, o n d e se e n c o n tr a a p a ix ã o de S. V icente, a s e c ç ã o d o s
S a n to s E x t r a v a g a n te s seria in tro d u z id a p o r u m a d id a s c á lia q u e . e m vez
d e s ta d e s ig n a ç ã o , teria S e g u n d a P arte. E e v id e n te q u e a r e m is s ã o n ã o se
faz p a ra o n ú c le o c e n tra l d e F m a s foi c o n s e r v a d a de u m te x to q u e fazia
p a rte d e u m a o b r a e s tr u tu r a d a e m partes. Se essa o b ra fo sse um l e g e n d á
rio o r g a n iz a d o p e r circulum anni , teria a p a ix ã o d e S. V ic e n te (22 de
J a n e ir o ) na p r im e ir a p a rte e a tr a s la d a ç ã o para L isb o a (15 de S e te m b r o )
n o u tra parte. E sta d e s c r iç ã o c o in c id e c o m o s q u a tr o to m o s d o Fios
Sanctorum de P a u lo , e m c u ja 4 ;‘ p a rte sa b e m o s q u e e s ta v a a n a r r a tiv a d a
tr a s la d a ç ã o J:. C a r d o s o ide ntific a a relíquia que e stava c m B rag a, in f o r m a
ç ão q u e . c o m o v im o s, n ã o e s ta v a n o o fíc io m as está e m F, e c o n ta u m ún ico
m ilag re, q u e b e n e ficio u “c e r ta d o n z e la " , q u e e sta v a j á " d e s c o n f ia d a d o s
M é d ic o s ". E m F ta m b é m se c o n ta a p e n a s um ú n ic o m ila g re , q u e c u ro u
a sua presença nos breviários bracarenscs. v. FKRRE1RA, Estudos, pp. 298-299; DAVID,
Études, p. 528; R O C H A . L'office, pp. 515-516. A ausência cm F de certo erro do ofício do
Breviário de Soeiro indica não 1er sido este o texto directam ente traduzido e sim um seu
antecedente ou colateral (v. SO BRA L. Adições, p. 554).
" D epois da sua entrada na C ongregação ( 1445), e descontadas breves passagens
pelos conventos de Lam ego ( 1483-84) e Porto ( 1494-95). viveu entre o convento de Vilar
de Frades (B arcelos, B raga) e o de S. Elói de Lisboa, onde morreu e foi sepultado (1510).
*' Num parágrafo em que m enciona as trasladações para Braga e Porto. J. C ardoso
inclui, entre as fontes alegadas, “o P.Paulo de Portalegre na 4 .p. de seu Fios Sanct. foi. 99"
(CA RD OSO . Agiologio. III. p. 73).
T h MA S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T O R I A R E L I G I O S A M E D I E V A L
* O m ilagre da donzela nào se encontra em nenhum dos dois lexios latinos trad u
zidos. É uma inovação do tradutor que resulta, provavelm ente, de uma novelização feila
a partir de um m ilagre contado por M estre Estêvão ocorrido com um rapazinho de três
anos. A "donzela” é exclusiva de F.
u Cf. Im Vida de S. Fructuoso, 1/8-15.
*’ Cf. La Vida de S. Fructuoso, 15/16
“ Cf. as linhas 8-9 c 248 da Vida de S. Pedro G onçalves cm F com as pp. 246 e 248
da "L egenda B.Petri C onfcssoris” .
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 545
47 O 4" tom o (Julho e A gosto) foi publicado por A ntónio C aetano de Sousa em
1744, após a morte de C ardoso (1669). Este continuador lam enta, no prólogo do 4" tom o,
a im possibilidade de acesso aos docum entos que Jorge C ardoso reunira para os últim os
seis m eses do Agiologio.
“ Com o qual tinha particular ligação espiritual e afectiva; veja-se o pranto à sua
morte no fl. 59 do Memorial.
" C U N H A . Historia Hclcsiastica dos Arcebispos de Braga. II. p. 27.
» ROC H A . L office. pp. 503-509. Defendi (SO B RA I.. Adições, pp. 195-209). ao
contrário de outros autores (FR EIR E. "A spectos'', p 575; M ATTOSO, “ Le Portugal", p.
85). que o texto do B reviário depende do texto original de Bernardo e não da versão e d i
tada por Baluze (Stephani Baluzii Tutelensis. Miscellanca . 2* edição, I. 1761. pp. 131-137,
reproduzido em VMH. Scriptores. I. pp. 55-59). Entre outros argum entos (presença da data
de tum ulação, versão mais correcta do episódio da visão do diácono, posição correcta de
um passo que serviria de introdução aos m ilagres póstum os), invoquei a conservação na
versão do B reviário dc um discurso na prim eira pessoa que identifica o autor com o n a r
rador hom odiegético. que se apresenta com o com panheiro dc G eraldo desde M oissac e
com o testem unha dos seus m ilagres. A. A. N ascim ento (N A SC IM EN TO . "U m traço sin
gular") considerou a presença da prim eira pessoa verbal uma consequência de adaptação
posterior (atribuível ao autor) do texto ao uso litúrgico bracarensc. onde se procurava
reforçar a im portância do relato testem unhal. Esta explicação não invalida o argum ento
546 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L
usado para filiar o texto português: F conserva a prim eira pessoa do discurso e aprcsenta-
a tam bém num lugar onde o ofício a não tem ("A d hanc siquidem altercationem ministris
aures apponentibus", lectio VI; "E estando nós atentos ao que o sancto hom è d iz ia ”. 212).
o que perm ite defender a sua dependência do antecedente do ofício, visto que o tradutor
cita o texto traduzido ("diz o autor da obra". 25). justifican d o o uso, em seguida, da p ri
m eira pessoa (25-28). A vita escrita por Bernardo (bispo de C oim bra em 1128-1146) foi
datada por M attoso (“Le Portugal”, p. 83) de I 112-1128. No entanto, julgo que a data de
redacção deve colocar-se em 1128-1146. visto que há no texto referência aos governos de
D. H enrique e de D. Teresa com o factos já não actuais c o autor usa os deílicos ibi c ibi
dem para se referir ao túm ulo do santo em Braga, revelando o seu afastam ento geográfico.
Estaria, portanto, já em Coim bra (v. SOBRAL. Adições, pp. 192-195).
41 Sobre a relação entre o culto a S. Frutuoso e os conflitos eclesiásticos entre
Braga c A storga v. G O N ZÁ LEZ G ARCÍA, "B raga c A storga".
O n . O S S A N C T O K U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 547
p a ix ã o dc V eríssim o , M á x im a e Jú lia s a b e m o s q u e c o n h e c ia a c id a d e de
L isb o a , c u ja to p o g ra fia ca ra c te riz a e m lição p r iv a tiv a (“ q u e he a saz
g ra n d e e a s p e r a e m m u y to s lo g u a re s” , 84) e q u e te v e a c e s s o a u m a fo n te
lis b o n e n s e ' ' e ta lv e z ta m b é m a u m a e b o r e n s e (a n te c e d e n te da q u e tr a n s
m ite o b re v iá rio d e É v o ra d e 1548). O te x to r e v e la u m c e rto n a c io n a lis m o ,
p ate n te na a b e rtu ra c o m um e lo g io a P o rtu gal, p á tria de sa n to s , e na q u a
lific a ç ão d a c id a d e d e L isbo a c o m o “ m u y n o b re e a n tiig u a ” . P o ré m , d a d o
q u e n ã o se c o n h e c e c o m e x a c tid ã o o te x to d o o u d o s a n te c e d e n te s , n ã o se
p o d e a f ir m a r q u e este n a c io n a lis m o p e rte n c e a o tr a d u to r p a ra o id e n tif i
c a r c o m P a u lo d e P o rtalegre.
A Vida de S. G o ld o f r e resulta de u m a fu sã o de e l e m e n to s d o c u lto ao
p r im e iro p rio r (final d o séc. XI) d o M o s te ir o d e S. P e d ro d e F o lq u e s
(A rg a n il). n a d e p e n d ê n c ia de S. C r u z de C o im b r a , c o m a passio d e S.
G a n g o l f o ( m á r tir b o rg o n h ê s d o m e s m o sé c u lo ), q u e foi re fu n d id a . P o u c o
se p o d e d iz e r a c e r c a d o a u to r /tra d u to r d o texto. A f u s ã o d o s d o is s a n to s 54
e a r e d a c ç ã o d e u m a vita talvez se e x p liq u e p o r in flu ê n c ia d e G ille te de
L a v ille u . p ro c u r a d o r francês q u e g o v e r n o u o m o s te ir o de F o lq u e s em
n o m e d o p rio r G u ilh e r m e Fila stério (1 4 1 5 - 1 4 2 8 ) . seu c o m p a tr i o ta ' 7. ou
talv e z se e n q u a d r e no p e río d o se g u in te a 1479, a n o e m q u e o p rio r D. J o ã o
M o n te ir o e m p r e e n d e u o b ra s de v u lto na igreja e m q u e o s a n to e s ta v a
se p u lta d o , p ara as q u a is pediu o c o n tr ib u to d a p o p u la ç ã o .
A Vida de S. Iria. tra d u z id a d o m e s m o te x to latin o q u e d e u o r ig e m a o
o fíc io d o B re v iá r io b ra c a rcn s e de 1470 '* r e v e la d ife r e n ç a s , re la tiv a m e n te
a este, de q u e n ã o é p o ssív e l sa b e r se re s u lta m d e in o v a ç ã o d o tr a d u to r ou
se r e p r e s e n ta m o texto original.
A o c o n h e c im e n to da Vida de S. G o n ç a lo ta m b é m p o u c o se pode
acre sc enta r. De a u to ria d o m in ic a n a 5\ o te x to seria, se m d ú v id a , b raca-
rense: o c u lto de S. G o n ç a lo , até a o séc. X V I, c irc u n s c re v e u - s e à d io c e s e
de B ra g a , até m e a d o s d o séc. X V a p e n a s na áre a G u im a r ã e s - C h a v e s , e
d e p o is e s t e n d e n d o - s e à liturgia b ra c a re n s e (e a m a is n e n h u m c o s tu m e
1itú rgico) “ . T e n d o u s a d o e le m e n to s d a tra d iç ã o p o p u la r ( c o m o d e n o ta a
c o n s e r v a ç ã o de rim a no e p is ó d io da c o n s tru ç ã o d a p o n te ) e ta lv e z ta m b é m
re g isto s e s c rito s e m latim (de q u e se terá c o n s e r v a d o a e x p r e s s ã o “ ho qual
ry o e m lin g u a je m se c h a m a T a m e g a ” . 150-151). o a u to r e s c r e v e u d e p o is
de 1422. c o m o m o s tra a u tiliz a ç ã o da e ra de C ris to p a ra d a ta r o m ila g r e
p ó s t u m o ( " a n n o d e N o s s o S e n h o r de mil e c c c c " . 2 3 1 ). ta lv e z no s e g u n d o
q u a rte l d o séc. XV, v isto q u e e ste m ila g re é n a rra d o c o m g r a n d e r e a lis m o ,
sem q u e a fig u ra q u e sa lv a a p o n te ( in te rp re ta d a c o m o S. G o n ç a lo ) s u b
verta as re g ra s d a n a tu re z a . A Vida foi incluída, a p e d id o d o A r c e b is p o d e
B ra g a , n u m Fios Sancionou, c o m o se sab e pela notícia d e Fr. L u ís de
S o u s a , q u e a f ir m a ter lido q u e o sa nto p ro fe s so u n o C o n v e n to d e
G u i m a r ã e s n u m a V ida de S. G o n ç a lo q u e e sta v a n u m ‘‘F ios S a n c to r u m .
q u e os A r c e b is p o s a n tig o s de B rag a m a n d a r ã o im p rim ir d u z e n to s a n n o s
d e p o is d a m o rte d o S a n to " S a b e n d o - s e q u e e ste a u to r da ta a m o r te d e
G o n ç a lo d e 1260 w. e s te in c u n á b u lo seria d e 1460, d a ta in a c e itá v e l ' . E
difícil a c re d ita r, p o r é m , q u e Fr. L u ís de S o u sa in v e n to u e s te Fios
Sanctorum . ta n to m a is q u e o c ita. não para a b o n a r as su a s a f ir m a ç õ e s
m as. p e lo c o n tr á r io , p ara o refutar. N ã o d e v e p o rta n to h a v e r d ú v i d a d e q u e
e x istiu um Fios Sanctorum im p re ss o p e lo s A rc e b isp o s d e B ra g a q u e c o n
tin h a u m a Vida d e S. G o n ç a lo . o n d e se d izia qu e ele tin h a p r o f e s s a d o no
c o n v e n to d e S. D o m i n g o s d e G u im a rã e s. Isso m e s m o d iz F ( 137 . 146 ).
Fr. L uís d e S o u s a c o n s id e r a o s 200 a n o s de um m o d o m u ito la rg o e a d a ta
de ste Fios Sanctorum n ã o é 1460 c sim 1490 . da ta já m a is p ro v á v e l para
um im p r e s s o de B ra g a (o B re v a riu m B ra c h a re n se é d e 1494 )? Se a s s im
fo sse , ta lv e z n ã o h o u v e s s e n e c e ssid a d e d e q u e a p e n a s 23 a n o s p a s s a d o s
(e m 1 5 1 3 ) o A r c e b is p o d e B ra g a m a n d a s s e c o m p o r o u tr o Fios Sanctorum ,
o s e g u n d o d e q u e fala S o u sa : “ Q u a n d o se c o m p o z o F ios S a n c t o r u m de
B raga, q u e foi no a n n o d e 1513 a g ra n d e q u a n tid a d e de m ila g r e s , q u e
C U N H A . S. Gonçalo. pp 5-7.
*' SO U SA . Historia, II. p. 1X2.
*•' SO U SA . Historia. II. p. I KA.
' A expansão da tipografia na Europa só se dá a partir de 1460 (M A R Q U II.H A S.
"T ipografia". 1)1.M a n . p. 625). sendo Portugal um dos países europeus onde a im prensa
é mais tardiam ente introduzida O s mais antigos im pressos portugueses são de 1487
( Pentateuco , F aro. Sam uel G aco n l. 1486-1493 (Certificado de Indulgências de Inocêncio
V III) e 1488 (Sacramental de Sanchez de Vereial). Pelas mesm as razões é de rejeitar a
atribuição por A C unha (.V. Gonçalo. p 8) da data de 1450 a este Fios Sanctorum. que não
poderia ser anterior à Hiblia da.\ 42 linhas.
550 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I E V A L
e n tã o se s a b iã o d o S a n to , o b rig o u a o d e v o t o A r c e b i s p o a m a n d a r, q u e se
e s c r e v e s s e su a vida. e a lg u m a parte d ’e lle s ” M. N ã o há d ú v i d a q u e e s te
s e g u n d o Fios Sanctorum não é u m a sim p le s r e e d iç ã o , p o is o v e rb o " c o m
p o r ” in dic a um tr a b a lh o de r e c e n sã o e s e le c ç ã o d e tex to s. A lé m d isso ,
re p a re -s e q u e as p a la v ra s d e S o u sa su g e r e m q u e a in c lu s ã o de u m a vida
de S. G o n ç a lo n u m Fios Sancionou era d e s c o n h e c id a e m Braga. R e sta
u m a h ip ó te se q u e e x p lic a ria to d a s e sta s c irc u n stâ n c ias : a d a ta a p o n ta d a
p o r S o u s a p ara o p rim e iro Fios Sanctorum r e fe rid o é a in d a m a is larg a d o
q u e in ic ia lm e n te c o n je c tu re i e. na v e rd a d e , o Fios Sanctorum im p re sso
e m B rag a 2 0 0 a n o s d e p o is d a m o rte d o s a n to é o m e s m o Fios Sanctorum
q u e foi c o m p o s to e m 1 5 13. A franja de 53 a n o s q u e S o u sa o m itir ia n a c o n
ta b iliz a ç ã o d o s 2 0 0 an o s pa rec e e x c e ss iv a m a s, te n d o e m c o n ta a real
im p o ssib ilid a d e d e uin Fios Sanctorum im p re s so na d a ta c o n ta b iliz a d a
p elo c ro n ista , e s e n d o c e r to q u e ele o m itiu p e lo m e n o s 30 a n o s , c u sta
m e n o s a a c e ita r q u e tiv e sse p a s s a d o p o r a lto m a is de m e io séc u lo . A d ia n te
r e to m a re i o p r o b le m a da id e n tific a ç ão d es te le g e n d ário .
A V ida d e S. Isabel de H u n g ria e a de S. C la ra p r o v ê m c e r ta m e n te de
fon te s f r a n c is c a n a s, c o m o parece in d ic a r a a n á lise d a tr a d u ç ã o - r e f u n d i-
ção. O te x to s o b re a p rim e ira tra d u z a Vida c o m p o s ta p o r l.d a V arazze: F
tra d u z o s se u s lu g a re s c a ra c terístic o s. A c o la ç ã o m o s tr a q u e o te x to latino
u s a d o na tr a d u ç ã o não foi o d o A lc. 4 0 (ú n ic o m a n u s c r ito d e L e m
P ortug al q u e inclui a sa n ta ) e sim um m a n u s c r ito h oje p e r d id o , de o n d e se
tra d u z iu o texto, talvez p ara to m a r a fo rm a d e um libellus “ , o q u e d e n o t a
ria, d a parte d o tradutor, um interesse espe c ial p e la san ta c o e re n te c o m o
perfil q u e se extrai das in ov a ç õ e s praticadas: re lig io so , c o n h e c e d o r d a
liturgia “ e da d isc ip lin a regular, o tra d u to r era p r o v a v e lm e n te fra n c isc a n o .
u m a vez q u e a firm a que S. Isabel era c la ris sa c o n tra toda a tra d iç ã o e
id en tific a a p e rfe iç ã o da h u m ild a d e c o m a m e n d ic â n c ia .
Q u a n to à Vida d e S. Clara, foi trad uzida e re fu n d id a no séc. X V (talvez
na p rim eira m etade, d a d o o n ú m e ro p o u c o habitual - 7 - d e f o rm a s v erbais
na se g u n d a pesso a do plural c o m c o n se rv a ç ã o d e -d- in tcrv o c á lic o ), p o r
f.O flTRp Hl
O H . O S S A N C T O R U M 1)1: 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 551
7' V. a discussão mais porm enorizada desta questão cm SO BRA L. Adições, pp.
271 - 273 .
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 553
q u e se c o n h e c e a v e rs ã o latina d a le g e n d a de S. Iria m a is p r ó x i m a da d o s
E x tr a v a g a n te s e a V ida d e S. G o n ç a lo c o m p ô s - s e c e rta m e n te n a q u e la d i o
c e s e . a ú n ic a q u e o c e le b r a v a . O n ú m e ro de santos p ró p rio s d a d io c e s e (a
m ais r e p r e s e n ta d a ) e s c o lh id o s para os E x tr a v a g a n te s é ta m b é m s ig n if ic a
tivo. P o r o u tro lado, a u tiliz a ç ã o d e u m a fo n te c o m o Ju a n d e R o b le s ,
im p re s s a p o r C r o m b e r g e r , a p o n ta pa ra a fa c ilid a d e e p e r m a n ê n c i a da s
r e la ç õ e s de D. L e o n o r e D. M a n u e l c o m os im p re sso re s s e v ilh a n o s , n o m e
a d a m e n te c o m C r o m b e r g e r . q u e tra b a lh o u p a ra o rei p o r tu g u ê s n e que
fo r n e c e u m a te ria l t ip o g r á f ic o a H e r m ã o de C a m p o s . D o m e s m o m o d o , o
a n te c e d e n te d e F foi um te x to im p re ss o e m c a s te lh a n o e p r o d u z id o n o
q u a d r o d e r e la ç õ e s c u ltu ra is m a n tid a s en tre os im p re s so re s a le m ã e s o p e
rantes na P e n ín s u la Ib érica. O tr a d u to r de F, e m 1513, d i s p u n h a de um
Fios Sanctorum j á e m p o r tu g u ê s (o de P a u lo ), que d is p e n s a ria , p o rta n to ,
o tr a b a lh o d a tra d u ç ã o . A p e s a r disso , e sc o lh e u - s e p ara a e d iç ã o u m
m o d e lo e m c a s te lh a n o , q u e , a o ed itor, o fe re c ia a v a n ta g e m de p e r m iti r
u m a p la n if ic a ç ã o d a e d i ç ã o c o m p o u c a s a lte ra ç õ e s , u m a s e le c ç ã o de t e x
tos já p r o n ta e c o in c id e n te c o m a d im e n s ã o p rá tic a q u e se q u e ria d a r à
o b ra . O Fios Sanctorum de P a u lo tin ha 4 v o lu m e s , o q u e im p lic a ria , e v i
d e n te m e n te , u m n ú m e r o m u ito m a io r de textos, e x ig in d o um tr a b a lh o de
a d a p ta ç ã o m a is c o m p l e x o d o q u e a sim p le s s u b stitu iç ã o de um b lo c o final
d e E x tr a v a g a n te s p o r o utro. A o im p re sso r, o m o d e lo e s c o lh id o o f e r e c ia
a in d a m o d e lo s d e g ra v u r a s q u e p o d ia m se r c o p ia d a s . Foi p o r ta n to no
a m b ie n te c u ltu ra l da c o r te q u e se p lan e o u a e d iç ã o de F, s o b o p a tr o c ín io
d o rei e c o m a p ro v á v e l c o la b o r a ç ã o do im p re sso r H e r m ã o de C a m p o s ,
q u e tr a b a lh a v a na o f ic in a de V alen tim F e rn a n d e s, q u e d e v e te r m a n tid o ,
c o m o registei, re la ç õ e s c o m F ra d iq u e de B asileia. Po ré m , q u e r e n d o o rei
q u e a e d iç ã o c o n tiv e s s e a lg u n s d o s p rin c ip a is sa n to s p o r tu g u e s e s , o q u e
seria ta n to m a is im p o rta n te q u a n t o é c e rto q u e parte da tira g e m se d e s t i
n a v a à E x p a n s ã o p o r tu g u e s a 7\ to rn a v a -s e n e c e s s á r ia a c o la b o r a ç ã o d e um
tra d u to r q u e t a m b é m fosse c o n h e c e d o r d a s fon te s h a g io g rá f ic a s d i s p o n í
veis e m P o rtu g a l e c a p a z d e se le c c io n a r tex to s n essa s fon tes. N e m o rei
Nota pio leitor que nas historias das vidas de santos que andam
impressas em vulgar, ha y muitas falhas : e hüa he, que trazem escrip-
tas alguas cousas muy incertas e apocriphas. Polo que pareceo bem
ao senhor Arcebispo que ja que se auia de imprimir este liuro, fosse
reuisto e e m e n d a d o .74
A d e p e n d ê n c ia d e F é e v id e n te , a b s tra in d o d a a d a p ta ç ã o q u e f a z ao
g é n e r o d a o b r a . q u e j á não tra ta v a d os altos m isté rio s da d o u tr in a do s
e v a n g e l h o s m a s sim d o s e x c e le n te s e x e m p lo s d a s v id a s d o s san to s. A
m a io r p r o x im id a d e d a tr a d u ç ã o de R o d rig o A lv a re s é visív el n os lu g a re s
a s s in a la d o s a neg rito. D. D io g o d e So u sa , o a r c e b is p o q u e e m 1513 m a n
dou im p rim ir um Fios Sanctorum em B raga (se d e r m o s c r é d ito a Fr. L u ís
de S o u sa ), c o n h e c ia b e m o im p re sso r R o d rig o A lv a re s d o P o rto e a p r e
se n ta -se c o m o o v e íc u lo m a is provável do c o n h e c im e n to pe lo t r a d u to r de
F d a o b r a d o im p r e s s o r p o rtu e n se. T odo s e stes e le m e n to s , a c re s c id o s da
re la ç ã o d e a m iz a d e q u e ligava D. D io g o de S o u sa a D. M a n u e l *2, a p o n ta m
para a su a p ro v á v e l c o la b o r a ç ã o na e d iç ã o d o Fios Sanctorum d e 1513.
M a s, n o e x e m p la r ú n ic o d e q u e hoje d is p o m o s , a p e n a s se a p r e s e n ta
e x p lic ita m e n te o p a tr o c ín io d o rei, ta n to no ro sto c o m o no c ó lo f o n , e e m
n e n h u m lu g a r se m e n c io n a a p a rtic ip a ç ã o do a rc e b is p o d e B ra g a . A ssim
*' E xem plar de U psala. reproduzido por Haebler. apucl Bibliografia Geral Portu
guesa, p. 235.
" C ólofon dos Evangelhos e Epistolas (edição facsim ilada).
K Em 1505 é pelo rei enviado a Roma em m issão diplom ática e é a ele que deve a
sua elevação à dignidade episcopal de Braga (COSTA, "Sousa, D iogo de” ).
558 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L
Fr. Luís de Sousa, ao referir-se à Vida de S. G onçalo que está "cm hum Fios
Sanctorum , que os A rcebispos antigos de Braga m andarão im prim ir" afirm a que "os auto
res d 'aqu ella escritura. (...) erão. seculares, c por isso ignorantes da particularidade de |sua)
R eligião" (SO USA . História. II. p. 182). ou seja da religião do santo dom inicano. Note-se
que "seculares" deve referir-se a membros do clero secular (clérigos) e não a leigos.
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 559
a ss in a la d a s . R e s ta - m e le m b r a r q u e não é in édito o fa c to de u m a m e s m a
im p r e s s ã o a p r e s e n ta r d o is r o s to s d ife re n te s M.
A d m itin d o a h ip ó te s e e x p o s ta d a p a rtic ip a ç ã o de D. D io g o d e S o u sa ,
a d m ite -s e q u e este te ria e s c o lh i d o a lg u m d os seus c ó n e g o s p a ra c u m p r ir a
m issã o d e t r a d u z ir o Fios Sanctorum e fa z e r as a d p ta ç õ e s n e c e s s á r ia s à
a d iç ã o d e a lg u m a s v id a s de sa n to s, a u se n te s da v e rsã o c a s te lh a n a e j u l g a
da s im p o rta n te s. D. D i o g o de S o u s a co m facilidade p o d e r ia te r in d ic a d o
a o seu c o l a b o r a d o r o Fios Sanctorum de P au lo , p o is m a n te v e c o m os
c ó n e g o s d o C o n v e n to de V ilar ó p tim a s relaçõ es, f a v o r e c e n d o - o s e c u s t e
a n d o a c o n s tr u ç ã o d a c a p e la - m ó r d a igreja d o C o n v e n to s5. A lg u n s a n o s
a n tes, D. D io g o d e S o u s a p re sid ira no Porto à tra s la d a ç ã o so le n e d a s r e l í
q u ia s d e S. P a n ta le ã o de M ir a g a ia p ara a Sé. N ã o d e ix a r ia , p o r isso, de
r e c o m e n d a r a o seu c ó n e g o q u e n ã o se e sq u e c e ss e de in c lu ir S. P a n ta le ã o
nas a d iç õ e s fina is e p o d e r ia m e s m o e s ta r e m boas c o n d iç õ e s d e lhe f a c u l
ta r o te x to u sa d o c o m o fonte. E s te n ão foi a c tu a liz a d o c o m o re la to da
tra s la d a ç ã o p a r a a S é p o r q u e o tra b a lh o ficou a c a r g o de u m tr a d u to r q u e ,
n o u tro s te x to s , d e u s o b e ja s p ro v a s d e se ter lim ita d o a c o p ia r f o n te s de
fo r m a r e la tiv a m e n te passiva . N a V ida de S. F ru tu o so , c o lh id a p r o v a v e l
m e n te em P a u lo de P o rta le g re , o c o m p ila d o r ta m b é m n ã o a c tu a liz o u a
lo c a liz a ç ã o d a s re líq u ia s , n a d a d iz e n d o s o b re o r o u b o de D io g o G c lm ir e s
e c o n se rv a n d o p assiv am e n te o falso presente do Indicativo relativo à p re
se n ça do c o rp o e m Braga. Parece ter-se apenas p re o c u p a d o e m fa z e r a d a p
tações actu alizan tes nas ad iç õ e s qu e ele próprio traduziu, c o m o a Vida de S.
A na, onde, m e s m o assim , as fez im p erfeitam ente, d e ix a n d o e s c a p a r alg uns
ele m e n to s relativo s à estru tu ra e x tern a da obra de R obles V ê-se, nesta tra
duç ã o . qu e q u e m a fez e sta v a p o u c o f am iliarizado c o m a lin g u a g e m m ística
e c o m as do utrinas conc re ta s assum id as por franciscanos e d o m in ic a n o s
w É o caso, por exem plo, da obra de Fr. Estêvão Sam payo. im pressa em Paris em
1586, de que existem dois exem plares na BNLisboa, que apresentam , cada um deles, títu
los diferentes, que resultam da substituição da folha de rosto num dos exem plares:
Triumphus Chrislianus Romanos Cunctos obscurans (Res. 6201 P) e Thesaurus Arcanus
Lusitanas Gemmis Refulgens (Res.4715 P). Ambas as folhas de rosto são assinadas por
Tomás Perier, im pressor parisiense e datadas de 1586, apesar de apresentarem diferentes
marcas de im pressor. No verso, a form ulação do índice difere e o segundo dos ex em p la
res apresenta a mais um a licença. No resto, os exem plares são iguais, com os m esm os
tipos, m esm as assinaturas e todos os outros elem entos tipográficos, não havendo, ap aren
tem ente, razão para crer que não sc trate de uma mesma edição, com um a diferente folha
de rosto.
*' SANTA M A R IA , O Céu Aberto , p. 376.
* V. SO BRA L, Adições, p. 542.
560 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L
r e la tiv a m e n te à Im a c u la d a C o n c e iç ã o ” , o q u e d e p õ e a f a v o r d o perfil
se c u la r d o tradutor. T a m b é m n o u tro te x to q u e d e v e te r sid o tra d u z id o po r
ele. a V ida de S. M a rç a l, se nota a o r ie n ta ç ã o pa sto ra l e e v a n g é l ic a d a
r e f u n d iç ã o , e m d e trim e n to da faceta m a is m o n á s tic a da v id a d o sa n to , o
q u e a p o n ta ig u a lm e n te para o perfil s e c u la r d o tradutor.
Q u a n d o c o m p ilo u fon tes, lim ito u -se , p e lo m e n o s n a lg u n s c a s o s, a
c o p ia r p a s s iv a m e n te , n u m tra b alh o p o u c o c u id a d o , e m q u e s o b re v iv e r a m
as re m is s õ e s sem refe re nte (para a p a ix ã o d o s m á rtire s de M a r r o c o s na
V id a de S. A n tó n io e p ara u m a P rim e ira P a rte na tr a s la d a ç ã o de S.
V icente), v o c a tiv o s e figuras (o P. B a ptista ) d e s c o n h e c i d o s e o d is c u r s o na
prim e ira p e s so a (na Vida de S. A n tó nio). Q u a n d o tra d u z iu u so u c rité rio s
d ife r e n te s p ara a tr a d u ç ã o (literal) de u m a lín g u a p r ó x im a (o c a s te lh a n o
n a V ida d e S. A n a e nos sa n to s não a c re s c e n ta d o s ) e p a ra o latim (n a V ida
de S. M a rç a l), q u e refu nd iu .
G lo b a lm e n te , nos tex to s tra d u z id o s do latim e n c o n tr a m o s c rité rio s de
tra d u ç ã o d if e r e n te s n as V idas de E u lá lia e P a n ta le ã o , r e la tiv a m e n te aos
re s ta n te s textos. E n q u a n to nestes do is ex iste u m e le v a d o g ra u de literali-
da d e e p ra tic a m e n te n e n h u m a in te n ç ã o de re d u z ir a d i m e n s ã o d o texto,
no s o u tro s p r e d o m in a a re fu n d iç ã o e a abbreviatio foi se m p r e c rité rio
im p o rta n te . M e s m o e m textos que fo r a m c e r ta m e n te tr a d u z id o s p o r d i f e
re n te s tra d u to re s (p o r e x e m p lo a V ida de Isab el d e H u n g ria e a de
A n tó n io ) e n c o n tr a m - s e critérios de tr a d u ç ã o c o m u n s , o q u e in d ic a e s t a r
m o s p e r a n te u m a tra d iç ã o de p rá tic a d e tra d u ç ã o d e tex to s, re la tiv a m e n te
à q u al as tra d u ç õ e s de E ulá lia e P a n ta le ã o c o n s titu e m j á u m a e ta p a d if e
rente. A s sim , e te n ta n d o u m a s is te m a tiz a ç ã o d o s c rité rio s, p o d e m o s d iz e r
que o s tr a d u to re s p r o c u ra m c u m p r ir fu n d a m e n ta l m e n te q u a tr o o b je c tiv o s:
I o R e d u z ir a d im e n s ã o d o texto, de fo rm a a c a p ta r a a te n ç ã o d o
público. E sta re d u ç ã o d e te r m in a a e lim in a ç ã o de p o r m e n o r e s ,
e p is ó d io s e p e r s o n a g e n s se c u n d á r io s ou m a r g in a is à h istó ria e
fa c to s d e v a lo r se m e lh a n te a o u tro s c o n s e r v a d o s ss. D e te r m in a
ta m b é m a prática d a sín tese e c o n c e n tr a ç ã o d ie g é tic a .
2o T o r n a r o te x to m ais c la ro e c o m p r e e n s ív e l. P ro c u r a - s e a a c t u a l i
z a ç ã o d o se n tid o e da in fo rm a ç ã o d o te x to e a su a e x p lic a ç ã o ,
a tra v é s d e in ova ç õ e s c la rific ad o ras. P r o c u r a - s e a in d a u m a certa
v u lg a r iz a ç ã o d o d isc u rso , sim p lific a n d o o u e lim in a n d o o d isc u rs o
te o ló g ic o e ex e g ético .
3° T o r n a r o te x to a g r a d á v e l, r e fo rç a n d o a c o e r ê n c ia d a n a rra tiv a e
a c e n tu a n d o a su a d r a m a tic id a d e . a c r e s c e n ta n d o e fe ito s e stilís tic o s
e p ro m o v e n d o a in te n sific a ç ã o no d isc u rs o , r e c o r r e n d o à a m p l i f i
c a ç ã o e às d u p lic a ç õ e s.
4" A s s e g u r a r a e x e m p la r i d a d e d o te xto, p r o m o v e n d o e x p l ic ita m e n te
v a lo re s d o u tr in a is ou m o ra is e r e fa z e n d o (ou re to c a n d o ) o re tra to
das p e r s o n a g e n s e m o rd e m a ce rto s v a lo re s ou o r ie n ta ç õ e s e s p i r i
tuais c o n c r e ta s (qu e p o d e m d ife rir da d o te x to latino).
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