Você está na página 1de 38

O FLO S SANCTO RUM DE 1513

E SU A S A D IÇ Õ E S P O R T U G U E S A S •

C R ISTIN A SO B R A I. •*

A Legenda Aurea d e la c o p o d a V arazze foi, d o s n o v o s le g e n d á r io s


d o m i n ic a n o s o q u e m a io r d iv u lg a ç ã o teve. C o n h e c e m - s e c e r c a de I 100
m a n u s c r ito s m e d ie v a is , e s p a l h a d o s po r to d a a E u r o p a e. no s c c u lo XV. foi
u m a d a s p rim e ir a s o b r a s u e n tra r nos pre los in c u n a b u la rc s Foi tra d u z id a
para as lín g u a s v e rn á c u la s m e d ie v a is. A o lo n g o d a su a tr a n s m is s ã o ,
so fre u a d iç õ e s re g io n a liz a n tc s , c o m as q u a is os e d ito r e s e tra d u to re s
lo c a is p r o c u ra v a m ir a o e n c o n tr o d o interesse e d a s d e v o ç õ e s d a su a
região .
E m p o r tu g u ê s c o n h e c e - s e u m fra g m e n to d o séc. X V ' e a tra d u ç ã o
c o n s e r v a d a n o Fios Sanctorum em lingoage português, i m p r e s s a em
1513, e m L is b o a , p e lo a le m ã o H e r m ã o de C a m p o s e p o r um c o l a b o r a d o r
qu e , até h o je , p e r m a n e c e d e s c o n h e c id o ( R o b e rte R a b e lo ). A e d i ç ã o foi
p a tr o c in a d a p o r D. M a n u e l no â m b ito d o s interesses e sp iritu a is e c u ltu ra is
m a n ife s ta d o s p e lo s re is d o final d o séc. X V e início d o X V I. A e n tr e g a da

• Este artigo pretende dar conta dos principais resultados de um estudo ap resen ­
tado com o dissertação de doutoram ento (SO B RA I.. Adições). As conclusões obtidas e as
hipóteses colocadas fundam entam -se no estudo de todas as tradições textuais im plicadas,
com a colação dos testem unhos e a proposta de stemmala codicorum. Seria m aterialm ente
im possível apresentar aqui os dados que fundam entam as conclusões. Rem eto, por isso.
para o citado estudo, que inclui a edição crítica das adições portuguesas, para cujas linhas
rem eto quando citar o texto.
•• Faculdade de Letras da U niversidade de Lisboa.
Sobre a form ação dos legendários e a sua evolução v. PH Il.I.IPART. Les légen-
diers. Sobre a com posição da Legenda Aurea. v M AGGIONI. R icenhe. O texto foi e d i­
tado criticam ente pelo m esm o filólogo, lacopo da Varazze. Legenda Aurea.
1 Lm Lyon. no século XV. conheceu q u in /c edições e onze na tradução francesa
(cf. C O Q . "L es «politiqucs éditorialcs»**, pp. 179-181).
' VIHGAS, Um códice português ; M ARTINS. "O s fragm entos".

I . C S I T A M A S A C R A , 2* s é rie , l.t-1 4 (2IMI1-2002I 5 ÍI-5 Í.K


532 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T O R I A R E L I G I O S A M E D I EV A L

ta re fa a H e r m ã o de C a m p o s situa o Fios Sanctorum no q u a d r o d a s re l a ­


ç õ e s m a n tid a s p e lo s im p re sso re s a le m ã e s a tr a b a lh a r na P e n ín s u la Ib é ric a ,
c o m d e s ta q u e para os im p res so re s s e v ilh a n o s , p a ra J a c o b o C r o m b e r g e r e
para F ra d iq u e de B asileia, c o m o m o stra a p a rtilh a de c e rto s m a te ria is
tip o g r á f ic o s u sa d o s e o facto de ter sid o e s c o lh id o u m m o d e lo c a s te lh a n o
im p re s so , a p e s a r de ex istir j á u m a tr a d u ç ã o p o r tu g u e s a m a n u s c r ita (de
q u e resta o c ita d o fra g m e n to ), d e p e n d e n te de u m a m e s m a tr a d u ç ã o c a s t e ­
lhana d a Legenda Aurea. C a m p o s , se tr a b a lh o u na o f ic in a d e V a lentim
F e rn a n d e s, c o m o d e f e n d e J. J. A lv es D ias, * n ã o se lim ito u a u sa r o s m a t e ­
riais de q u e aí d is p u n h a ( c o m o fez c o m a lg u m a s g r a v u r a s ) , m as fu n d iu ou
a d q u iriu a lfa b e to s d e m a iú sc u la s, p r o v a v e lm e n te lo g o n o in íc io d a sua
a c tiv id a d e e m P ortugal (tra z id o s de S e v ilh a ? ). A a n á lise d o m aterial t i p o ­
g rá fic o u tiliz a do , n o m e a d a m e n te o e s tu d o d a história de um «h» q u e a p e ­
nas s o b r e v iv e u nas tip o g ra fia s dos im p re sso re s se v ilh a n o s c u jo m aterial
v eio m a is ta rd e a fic a r na po sse de C r o m b e rg e r , m o s tra q u e foi da sua o f i ­
cin a q u e v eio a m a triz usa d a po r C a m p o s , re f o r ç a n d o a h ip ó te s e , j á c o l o ­
c a d a '. da v in d a de C a m p o s de S e v ilh a e m re sp o s ta a o c o n v ite d i r ig id o p o r
D. M a n u e l, e m 1508. a im p re ss o re s e stra n g e iro s.
R e la tiv a m e n te a o a n te c e d en te d o Fios Sanctorum d e 1513 (F). a sua
c o m p a r a ç ã o c o m a Leyenda de los Santos ( B ) * e c o m a Legenda Aurea (L)
c o n firm a as c o n c lu sõ e s p ro p o sta s em 1990 p o r S h a rr e r : a o c o n trá rio do
q u e d iss e ra M. M artin s, o Fios Sanctorum n ã o é u m a tr a d u ç ã o d ire cta da
Leyenda de los Santos. N a o rig e m da tra d iç ã o textual a q u e p e rte n c e F
e ste v e um m a n u sc rito latino da Legenda Aurea c o r re s p o n d e n te a u m a
re d a c ç ã o in term é d ia, visto que c o n tin h a alg u n s d o s te x to s a c re sc e n ta d o s
pe lo a u to r d e p o is d a prim e ira re d a c ç ã o (V irgem de A n tio q u ia . P edro m á r ­
tir. S a v in ia n o . L o b o , M am e rtin o , S a tu rn in o e P e lá g io ) m a s n ão os ú ltim o s
a serem a c rescentad os (Paula, João C risó sto m o , Isabel de H ungria e Siro) *.

* DIAS. "O s prim eiros im pressores", p. 25.


' C f. D ESLA ND ES. Documentos, p. 36; NORTON, A descriptive catalogue, pp.
493. 499; M A RQU ES. “ A lemães e im pressores" p. 12; D IAS. "O s prim eiros im presso­
res". p. 22.
' A Leyenda de los Santos, Burgos. Juan de Burgos, 1499? (H A EB LER , Biblio­
grafia, n"698; VINDEL. El arte tipográfico, VII. p. 267. VIII. p. 3 6 9 -3 7 1) i uma tradução
castelhana da legenda Aurea. Conhece-se um único exem plar na British l.ibrary (BI
53312). V. a descrição do conteúdo em M ARTINS, "O o riginal", que a considera o ante­
cedente directo de F.
SH A R R ER . "The life o f S. Eusiace".
* Os recentes estudos de G. P. M aggioni sobre a form ação da Legenda Aurea m os­
tram que o autor do legendário acrescentou textos ao corpus inicial em diversas redacções
O F L O S S A N C T O R U M DL 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 533

A n lc s de 1478 * foi feita a tra d u ç ã o c a s te lh a n a e fo ra m in te rp o la d o s


( p o d e n d o e s ta s d u a s o p e r a ç õ e s te r s id o feitas e m e ta p a s d ife r e n te s ou
n u m a ú n ic a ) a lg u n s s a n to s, d os q u a is os h isp â n ic o s ( I ld e f o n s o d e T o le d o ,
F u lg ê n c io . E u lá lia de B a rc e lo n a . L e a n d r o de S e v ilh a . T o ríb io de A sto rg a ,
F lo re n tin a , tr a s la d a ç ã o d e Ild efo n so . M a n ç o s ) e a q u e le s c u jo s te x to s sã o
de p ro v á v e l o r ig e m h is p â n ic a ( A m a r o e B e a triz ), se ju s t if ic a m p e la sua
o r ig e m . O u t r a s n a r r a t i v a s ( B á r b a r a , A m a d o r , B r íg id a , F a c u n d o e
P rim itiv o , M a m e d e . H ila riã o e P a n ú n c io e E u frá sia ) a n d a v a m f r e q u e n te ­
m e n te a d ic io n a d o s a L, p e lo q u e a sua p r e se n ç a e m B. e m p r in c íp io , ta n to
p od e d e v e r - s e a a d iç ã o d o tr a d u to r c a s te lh a n o c o m o à u tiliz a ç ã o d e um
te x to latino q u e c o n tiv e s s e e s se s a c r e sc en to s ". H ila riã o e B á rb a ra a p a r e ­
c e m e m v e rsõ e s d ife r e n te s d as q u e e d ita G r a e s s e ". p o r iss o é m a is p r o ­
vável n e ste s d o is c a s o s o a c r e s c e n to d o tra d u to r c a ste lh a n o . P a tr íc io de
F r a n ç a e os te x to s s o b re u m b isp o que viv e u n o vício, “ T r a n s f ig u r a ç ã o ” ,
“ D o A n ti- C r is to ” e “ E v a n g e lh o plurim orum m artirum ” n ã o s ã o c o n h e c i ­
do s c o m o a d iç õ e s à Legenda Anrea '2, p elo q u e é p ro v á v e l q u e se trate
ta m b é m de a d iç õ e s c a ste lh a n a s. O fa c to d e e ste s ú ltim o s n ã o s e r e m t e x ­
tos h a g io g r á f ic o s strictu sensu p o d e rá c o n tr ib u ir p a ra a d e f in iç ã o d o p e r ­
fil d o tra d u to r c a s te lh a n o , q u e p a re c e fa m ilia riz a d o c o m a te o lo g ia e ter
p r e o c u p a ç õ e s e s c a t o l ó g i c a s ( e x p r e s s a s n o ú ltim o d a q u e l e s te x to s ) .
A lg u m a s n a r ra tiv a s d i v id ir a m - s e e d e r a m o rig e m a duas: a d o N atal r e s u l­
tou e m m a is um títu lo , “ E v a n g e lh o Pastores loquebantur " ; a n a rra tiv a
so b re J u l iã o d e s d o b r o u - s e e m Ju liã o b isp o e Ju liã o h o s p ita lá r io e a v id a
de S. T ia g o A lfe u d e s d o b r o u - s e , d a n d o o rig e m à n a rra tiv a so b re a
D e s tr u iç ã o d e J e ru s a lé m .
F a lta m e m B o s s e g u in te s textos de L

sucessivas e fixam um Normal Corpus de 177 lexios (M AG GIO N I, Ricerche . pp. 132­
134). coincidente com o que concluiu FLEITH, Studien, pp. 51-54. A prim eira redacção
situa-se entre 1260-1263 (v. lacopo da Varazze. Legenda Aurea. p. xiii. n. 2) e as seg u in ­
tes prolongam -se até à m orte do autor (1298).
" F. a data da trasladação de S. V ítores de Cere/.o, incluída entre os Santos E xtrava­
gantes na Leyertda. Sobre a fixação deste limite v. M ARTINS. "O o riginal", p. 266.
" Só a identificação exacta do m anuscrito latino usado na tradução castelhana
poderia esclarecer positivam ente esta questão.
" G raesse editou a legenda Aurea (Jacobi a Voraginc. Legenda aurea ) segundo um a
das mais antigas edições im pressas, que tinha textos acrescentados ao Normal Corpus.
Barbara Fleith (Studien) descreve o corpus dos 1100 m anuscritos latinos de que
teve conhecim ento, oferecendo um inventário de todos os santos incluídos com o adição
ao Normal Corpus.
" A num eração dos textos é a fixada por G. P. M aggioni ( Ricerche . pp. 132-134).
A ssinalo com * os textos acrescentados por I. daV ara/ze depois da prim itiva redacção.
534 T E M A S D E I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

11 - Tomás de C antuária 102 - Na/.ário


16 - R em ígio (vida) 1 1 4 - Sixto
18 - M acário 133 Lam berto
19 - Felix i/i pineis 138 - João C risóstom o *
20 - M arcelo 144 - Furseu
22 - Fabiano
146 - Jerónim o
29 - Paula *
151 - M argarida dila Pelágio
40 - Vedasto
53 - Paixão 168 - Isabel de H ungria *
76 - Pancrácio 177 - M oisés erem ita
91 - S i r o * 178 - A rsénio
95 - Praxedcs 179 - A gatão

A o m is s ã o d o tex to sob re a P a ix ã o d e v e -s e a Fr. G a u b e r t o , r e v is o r d a


tra d u ç ã o q u e , c o m o direi ad ian te, a c r e s c e n to u u m a P a ix ã o in tro d u tó ria .
N ã o faria se n tid o c o n s e r v a r n o interior d a o b ra o u tro te x to so b re o m e s m o
a ss u n to . O n ú m e ro 18 e sta v a no te x to latino u s a d o n a tra d u ç ã o e foi c o m
c e rte z a e lim in a d o p o r um do s t r a d u to r e s /r e fu n d id o re s c a s te lh a n o s . O
tex to s o b re o A n ti-C risto , q u e faz. u m a e s p é c ie de sín te s e d e vá ria s q u e s ­
tões te o ló g ic a s e d o u trin a is q u e se e n c o n tr a m d is s e m in a d a s p e lo s d i v e r ­
sos te x to s diz: “ Si q u isie re s s a b e r dei ã te c h ris to (...) fa lla rlo h a s enel
s e r m õ dei a d u iè to (...). D e los q u e son b a x o s enel infierno: e n lo de s ã t
m a c h a r i o ” (2 2 4 b , cf. tra d u ç ã o literal e m F, 1 74 b-17 4c). S e n d o este um
tex to a c re s c e n ta d o , f ic a m o s a sa b e r q u e q u e m o a c re s c e n to u tin h a n o seu
corpus a v id a de S. M a c á rio . Q u a n to aos o u tr o s te x to s e m falta, n ã o é p o s ­
sível s a b e r rig o r o s a m e n te se se trata de o m is s õ e s in te n c io n a is, e m b o r a
seja p o u c o p ro v á v e l, não só pela a u s ê n c ia de um c r ité rio c o e re n te q u e
e x p liq u e a o m is s ã o d o c o n ju n to c o m o pela c o m p a r a ç ã o e n tre e s ta s faltas
e as d os m a n u s c r ito s h isp â n ic o s d a Legenda Aurea. D o s 8 m a n u s c r ito s 14
q u e a p r e s e n ta m a lte ra ç õ e s ao Normal Corpus, e m 6 fa lta Isabel de
H u n g ria (L A 36. 191, 192, 395, 397, 8 55), e m 3 falta J o ã o C r is ó s t o m o
(L A 36. 192, 3 95). e m I falta F u rse u (L A 395). B. F le ith re g ista 3 m a n u s ­
c ritos p o r tu g u e s e s . E m d o is d e le s (A lc. 39 e M s 180 d o A N T T . r e s p e c t i­
v a m e n te L A 3 5 4 e 356 ) faltam J o ã o C r is ó s to m o e Isabel de H u n g ria . B.
F leith n ã o c o n h e c e u o m a n u sc rito latino da Legenda Aurea q u e p e rte n c e u
à L iv ra ria de m ã o do M o s te iro de S a n ta C r u z de C o im b r a T ra ta -se de

" D escritos por B. Fleith, op. cit.. a quem pertence a num eração dos m anuscritos.
'* C ola de Santa Cruz: Codex XLIX. Esl. 15. C aixa 24. C ola da BPM Porto: 80­
13/5/1. Cf. Catálogo dos Códices da Livraria, pp. 238-240.
O F L O S S A N C T O R U M 1)1 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 535

um c ó d ic e e m p e r g a m in h o , e sc r ito em g ó tic a textual d o s s é c u lo s X IV -X V ,


q u e c o n té m a p e n a s o s te x to s 9 6 a 182 (de M aria M a d a le n a até a o final da
Legenda Aurea). D e n tro d e s te b lo c o final, o c ó d ic e a p r e s e n ta a p e n a s,
c o m o a lte r a ç ã o a o Norm al Corpus , a falta d o s te x to s s o b re J o ã o C r i s ó s ­
to m o , F u rse u e Isabel de H u ng ria.
E in tere ssan te c o n s ta ta r qu e em to do s os m a n u sc rito s h is p â n ic o s o n d e
falta J o ã o C ris ó s to m o falta ta m b é m Isabel de H ungria. H á assim 6 m a n u s ­
critos na P e n ín su la Ibérica (u m e m B arce lo n a , o u tro no E sc o ria i, o u tro e m
M ad rid m as p ro v e n ie n te de B arcelona. 2 e m L isboa e 1 no P orto) q u e a p r e ­
sentam es ta m e s m a falta de d o is textos que foram a c r e s c e n ta d o s p o r I.da
V arazze nas ú ltim a s re d a c ç õ e s d a Legenda Aurea, d o n d e se p o d e s u p o r q u e
e n tra ra m e m E sp a n h a m a n u sc rito s c o n te m p o râ n e o s d o autor. P ro v a v e l­
m e n te d e s ta fa m ília , a que n a tu ra lm e n te os três m a n u sc rito s p o rtu g u e se s
ta m b é m p o d e r ã o p e rte n c e r ' \ d esc e n d e ria o m a n u sc rito u sad o p elo tra d u to r
caste lh a n o . A p o ssib ilid a d e de um a o rig e m c a ta lã /a ra g o n e sa d e v e rá se r tida
em c o n ta e m e s tu d o s m a is d e ta lh a d o s sobre a trad iç ã o de B.
D o tr a d u to r c a s te lh a n o se p o d e d iz e r q u e re fu n d iu o te x to , d ilu iu as
re fe rê n c ia s c r o n o l ó g ic a s e g e o g r á f ic a s c o n c r e ta s e e lim in o u as in tr o d u ­
ç õ e s e tim o ló g ic a s , a m a io r parte d a s e x p o siç õ e s te o ló g ic a s e h is tó ric a s e
q u a se to d o o d is c u r s o c r ític o sob re as fontes. R e la tiv a m e n te a a lg u n s s a n ­
tos, q u e j á e s ta v a m p r e s e n te s e m L, r e c o rre u a o s te x to s latino s o rig in a is
pa ra c o m p l e ta r a n a rra tiv a (p o r e x e m p lo e m S. A n d ré . C ris a n to e D ária,
A n a s tá s ia e n o s e r e m ita s d a s Vitae Patrum P a u lo d e T e b a s. A n tó n io e
M a ria E g ip c ía c a ) ou p ara a s u b s titu ir c o m p le ta m e n te p o r v e r s õ e s d if e r e n ­
tes m a is ta rd ia s e m a is ro m a n e s c a s (é o c a s o de A le ix o e A p o ló n ia )
A n tes d e 1499. F r .G a u b e r to F a b r íc io de Vagad. c iste r c ie n s e sa ra g o -
ç a n o e a u to r d e u m a Crónica Geral do Reino de Aragão ( S a r a g o ç a , P au lo
H uru s, 1 4 9 9 ) ls, rev iu a tra d u ç ã o e a c r e s c e n to u -lh e m ate ria is in tr o d u tó rio s
( o n d e se d e s ta c a u m a P a ix ã o de C ris to tra d u z id a d o M onotessaron de
J o ã o G e r s o n ) e um a p ê n d ic e de sa n to s E x tra v a g a n te s . E n tre e s te s sa n to s

N ote-se que na LA 356 iM s 180 do ANTT) acrescentaram -se em apcndice as


vidas de M am ede, B árbara c L eocádia, sendo os dois prim eiros tam bém adições de tí e
sendo a terceira uma m ártir hispânica. Esta últim a, em especial, abona a favor da tradição
hispânica do m anuscrito do ANTT.
1 Todas estas inovações são seguidas, com pequenas variantes, por F. A leixo surge
aqui na mais antiga ocorrência conhecida da versão hispânica a que Vega cham a "versão
popular" (V EG A . «La Vida de San A l e j a p. 30 e segs.).
" CRAVIOTTO. Cataloga. n° 5958. HAEBLER. Bibliografia. n° 653. V IN D EL, F.l
arte tipográfico. IV; p. 296.
536 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T O R I A K E E I G I O S A ME D I EV A L

e n c o n tr a m - s e as v id a s de S. H e le n o e de S. O n o f r e na tr a d u ç ã o d a s Vitae
P a tru m feita p e lo letra d o a ra g o n ê s G o n ç a lo G a r c ia de S a n ta M a ria c o m o
título Vida d e lo s S a n to s re lig io so s d e E g ip to e im p re s s a e m S a r a g o ç a , p o r
P a u lo H u ru s. e m 1490/91 A id e n tific a ç ã o e x a c ta d e sta fonte p e rm ite
re strin g ir p ara 1 49 0 /9 1 -1 4 9 9 o p e río d o d u r a n te o q u al tra b a lh o u Fr. G a u -
b c rto e s u g e r ir q u e p o d e rá ter sid o P a u lo H u ru s o im p r e s s o r d o a n t e c e ­
d e n te c o m u m a B e F.
A re la ç ã o de p a r e n te s c o e n tre B e F p o d e d e d u z ir -s e d a c o la ç ã o e n tre
os d o is le g e n d á rio s e o u tro s textos. A ss im , é p e rtin e n te , p ara a P a ix ã o ,
prin c ip a l te x to d o m aterial in tro d u tó rio , a c o la ç ã o e n tre B. F. o te x to
latino d o M o n o te ssa ro n e o m e s m o te x to d a P a ix ã o q u e a p a re c e a in tr o ­
d u z ir o L ivro d o s M á rtire s Para o n ú c le o cen tral (te x to s da s festas,
e x c lu íd o o m aterial in tro d u tó rio e os E x tr a v a g a n te s ), a c o la ç ã o e n tre B. F
e L : p a ra os E x tra v a g a n te s , nas vidas de H e le n o e d e O n o f r e , a c o la ç ã o
e n tre B. F, e a tr a d u ç ã o d e G . G. de S a n ta M aria. E ste e s tu d o p e r m ite p o s ­
tu la r um s te m m a co d icu m :

o> tradução eastelhana+inierpolações no núcleo central

a revisão da tradução+Extravaganies - Fr. Gaubcrto/P. Hurus?

F. S. de Fradique de Basileia
F

O te x to rev isto e a c re s c e n ta d o p o r Fr. G a u b e r to foi c o p ia d o (c o m


v aria n te s te x tu a is) em três im p re ssõ e s d ife re n te s: u m a d e F ra d iq u e de

" H A EBLER, Bibliografia, nu 335(5); V IND EL, El arte tipográfico, IV, n° 44. 136.
VIII. pp. 232-234. No recente catálogo Os incunábulos das bibliotecas portuguesas (n°
(W5) veio a lume a existência no ADLeiriu de um exem plar, o único que se encontra na
Península Ibérica. Vendo-o directam ente e com parando-o com o facsim ile publicado por
Vindel c com a descrição dos elem entos tipográficos feita por l laebler, confirm ei a sua
identificação. Uma nota m anuscrita cm letra do séc. XVI perm ite afirm ar que pertenceu à
livraria da rainha D. Leonor, perm itindo rever a identificação feita por Isabel Ccpcda do
n" 43 ( Vitas Patrum en romance) do inventário dos livros de I) Leonor (C EPED A , "O s
livros da rainha” , pp. 51-53) com a im pressão de Jorge C oei (Saragoça, 1511).
x Livro e legèda que fala de todolos fextos e payxoòes dos sãtos mártires. Lisboa.
João Pedro B onhom ini, 1513. V. MARTINS. “O «Livro e legenda»", p. 271.
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 537

B asile ia ( im p r e s s o r d e B u rg o s c o n h e c id o p o r re p e tir o s tr a b a lh o s de
H u ru s '), d e q u e se c o n h e c e m a p e n a s d ois e x e m p la r e s (a p e n a s d o m a t e ­
rial in tro d u tó rio ): o u tr a p o r J u a n de B urgo s, s u c e s s o r d e F r a d iq u e , q u e
a p r o v e ito u a su a im p r e s s ã o d o m aterial in tro d u tó rio (é a Leyenda g u a r ­
d a d a na B ritish L ib ra ry ); e o u tra , d e s c o n h e c id a , q u e c h e g o u a P o rtu g a l e
foi o m o d e lo tr a d u z id o no Fios Sanctorum de 1513 e u s a d o ta m b é m (p a ra
o tex to s o b re a P a ix ã o ) p e lo tr a d u to r d o Livro dos Mártires.
F se g u e , c o m a lg u m a s v a ria n te s textuais, as in o v a ç õ e s d e B. D a d o
q u e n ã o c o n h e c e m o s e x a c ta m e n t e o a n te c e d e n te c o m u m , q u a n d o n ã o é
p o ssív e l s a b e r qual d o s d o is, B ou F. está m a is p r ó x im o de L ou d e o u tro
tex to u s a d o c o m o fo n te , n ã o te m o s e le m e n to s p ara a v a lia r c o r r e c ta m e n te
se as v a ria n te s de F re p r e s e n ta m e ss e a n te c e d e n te e m lu g a re s o n d e B in o ­
vou ou se são i n o v a ç õ e s de F. E ste a p re se n ta , p o r e x e m p lo , u m a in t r o d u ­
ç ã o na v id a de E s tê v ã o p r o to m á r tir sobre a su a filiação, a le g a n d o c o m o
fo n te o " a u to d o s a p o s to llo s no cap itollo . seys. e tc .” (fl. 18b). q u e n ã o se
e n c o n tra e m L n e m e m B. isto a p e s a r de no resto d o te x to n ã o se e n c o n ­
tra re m v a r ia n te s s ig n if ic a tiv a s e m re la ç ã o a B. que . n esta v id a . s e g u e de
pe rto o te x to de L. D e v e - s e este p r ó lo g o a o tr a d u to r d e F o u e s ta v a e m p
e foi c o r ta d o p o r B ? N ã o c p o ssív e l r e s p o n d e r c o m e x a c tid ã o . C a s o s e m e ­
lhante é o d o e p íl o g o d a v ida de S a n to O n o fre , no s E x tr a v a g a n te s . N ã o
sa b e m o s se a a d iç ã o feita à tra d u ç ã o de G . G. d e S a n ta M a r ia se d e v e a
Fr. G a u b e r t o ( te n d o sid o e lim in a d a p o r B) se a o tr a d u to r p o rtu g u ê s .
A l g u m a s v a ria n te s e n c o n tr a d a s n o u tro s textos, d e v e m , p o ré m , se r a t r i b u ­
ídas a e ste ú ltim o , p o r d e n o ta r e m u m a certa a fe iç ã o p e la s c id a d e s p o r t u ­
g u e sa s e u m d e s e jo d e n ã o d a r e v id ê n c ia às e s p a n h o la s ~.
N o n ú c le o c e n tr a l, fa lta m e m F as se g u in tes vidas: F u lg ê n c io , E u lá lia
d e B a rc e lo n a , L e a n d r o d e S e v ilh a , F lo re n tin a , T h a y s , S iv ia n o e irm ã.
M a m e r tin o , L e o d e g á rio , S e v e r in o de T o lo sa, P a n ú n c io e E u frá sia , u m
b isp o q u e viveu no vício. F a c r e sc e n ta , s e g u n d o se d e c la r a n o c ó lo f o n . 19
te xtos, p o r isso é na tu ral q u e o tra d u to r p re te n d a g a n h a r a lg u m e s p a ç o

V IND EL. El arte tipográfico. VU, p. xxii.


"euora" (B fl. 119b) I "m uyto nobreie sem pre leal çidade de euora" (F 11. 91a);
“vna vil la que llam ã euora” (B 11. I 19b) / "m uyto nobre çidade de euora" (F 11. 91a); “ lisu-
ona" (B fl. 42c) I “muy nobre çidade de lixboa" (F fl. 32d); "m uy noble cibdad de scui-
Iha" (B fl. 43c)/ “cidade de seu ilha" (F 11. 33d); “com o quiera que en espana son m uchas
cibdades grandes e nobles en diuersas maneras. pero toledo es la cabeca de todas ellas. y
es m ucho m as honrrada entre las honrradas" ( B 11. 5 1b-c) / “com o quer que en espãha som
m uytas cidades grades e nobres en diuersas mancyras antre as quaes toledo he hua delias,
e hc hòrrada com as hõrradas" (F 11. 39d).
538 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O E M H I S T O K I A R E L I G I O S A M E D I E V A L

p ara c ie s, ju s tif ic a n d o p la u s iv e lm e n te as faltas o b s e rv a d a s . Já a c o m p r e ­


e n s ã o d o c r ité rio q u e p re sid iu ao s c o rte s n ã o p are c e fácil. O g r u p o c o n s ­
titu íd o p o r F u lg ê n c io , L e an d ro . F lo re n tin a ' e S e v e r in o , q u e n ã o p e rte n c e
a o corpus d e L e q u e re su lta c e r ta m e n te de a d iç ã o d o tr a d u to r c a s te lh a n o ,
é aq u e le c u ja o m is s ã o m a is f a c ilm en te se c o m p r e e n d e . Sc a tr a d u ç ã o -
c o m p i la ç ã o p o rtu g u e s a foi o rie n ta d a por u m c r ité rio n a c io n a lista , c o m o
pa re c e in d ic a r o c ó lo fo n '•*, e te n d o e m c o n ta q u e a id e n tid a d e n a c io n a l no
início d o séc. X V I se e x p rim ia p o r o p o s iç ã o a C a s te la , é natu ral q u e os
p rim e ir o s sa n to s a se re m e lim in a d o s fo s se m p r e c is a m e n te o s e sp a n h ó is .
P o r é m há o u tr o s sa n to s e s p a n h ó is in te rp o la d o s q u e F c o n s e r v a (l ld e f o n s o
- vida e tra s la d a ç ã o - e T oríbio). O s re sta n tes te x to s d e s te g r u p o são h e t e ­
r o g é n e o s. T h a y s , S iv ia n o e irmã, M a m e r tin o e L e o d e g á r io p e rte n c e m a o
corpus de L. A p r im e ir a é u m a das p e c a d o r a s d a s Vituc Patrum, d a s qu ais
F c o n s e r v a M a ria E g ip c ía c a e Pelágia. S iv ia n o ( S a b in ia n o ) e S a b in a , m á r ­
tires d e h is to ric id a d e d u v id o s a so b A u re lia n o , s ã o d e o r ig e m ro m a n a .
M a m e r tin o p e rte n c e a A u x e rre e L e o d e g á rio foi b is p o de A u tu n n o p e r í ­
o d o m e r o v ín g i o ( re in a d o de C h ild e ric o ). A p e s a r d a r e la ç ã o d e s te s ú ltim o s
sa n to s c o m o te rritó rio da F ran ça, d if ic ilm e n te se p o d e r á a le g a r u m c r i t é ­
rio q u e e lim in a s s e san to s fra nc e ses, visto q u e m u ito s o u tr o s fo ra m c o n ­
se r v a d o s (H ilá rio d e P oitiers. L uís de F r a n ç a , G e r m a n o . P a tríc io , e n tre
o u tro s). P a ra a lé m d e ste s. F não a p r e s e n ta o u tr o s d o is te x to s a lh e io s ao
corpus d e L e q u e d e v e m ter sid o a c r e s c e n ta d o s p e lo tra d u to r c a s te lh a n o :
a le g e n d a de P a n ú n c io e E u frá sia e ra um te x to m u ito a p re c ia d o d a s Vitae
Patrum , d o q u al se c o n h e c e m e m Portu gal v á rio s te s te m u n h o s a . A sua
e lim i n a ç ã o p o r F não se d e v e u c e rta m e n te a o m e n o r in te re sse q u e o te x to

Estes três santos sào os três irmãos de S. Isidoro de Sevilha Fulgêncio. bispo de
Ecija c de C artagena. e Leandro, arcebispo de Sevilha. foram am bos hom ens de ciência e
com batentes na luta contra a heresia ariana. Florentina fez vida professa c dirigiu m o stei­
ros fem ininos. N ão deixa de parecer estranho que o tradutor castelhano tivesse interpolado
as vidas dos três irm ãos dc S. Isidoro mas não o próprio Isidoro, que só vem a ser a c re s­
centado pelo com pilador dos Extravagantes.
‘ “ E nom m enosprezando nem esqueeçedo os nossos sanctos que nos regnos de
porlugal resprandcçem per muytos m ilagres acrcçcnlam cntos destes aa presente .xix.
vidas..."
Para além da sua inclusão na colecção das Vituc Patrum, atribuída a S. Jerónim o
e de que há várias notícias em inventários m edievais (que aqui não cabe recensear), conhe-
eem -sc versões latinas num m anuscrito do séc. XII de S. C ruz de C oim bra (cod.
I.XXII 1/348 da BPM P) c num alcobacense do séc. XIV (A lc. L X X V II/I). Uma tradução
portuguesa conserva-se no Alc. CCLX VI. da prim eira m etade do século XV.
O I L O S S A N C T O R U M Dfc 1513 l S UAS ADI Ç ÔHS P O R T U G U E S A S

p o d e ria de sp e rta r. P o r fim , a n a rrativ a so b re o b isp o q u e v iv e u no v íc io


n ã o é h a g io g r á f ic a strictu sensu : trata-se d e um e x e m p lo v is io n á rio .
Q u a n to a E u lá lia d e B a rc e lo n a , n ão foi v e r d a d e ir a m e n te o m itid a . O t r a ­
d u t o r p o r tu g u ê s a c r e s c e n to u e s ta m á r tir nos E x tr a v a g a n te s , p r e f e rin d o
tra d u z ir aí. não a v e rsã o a b r e v ia d a in c lu íd a p elo tr a d u to r c a s t e lh a n o no
n ú c le o c e n tr a l, m a s a passio la tin a se m a b re v ia ç õ e s e tr a d u z id a c o m c o n ­
sid e rá v e l fid e lid a d e.
N o a p ê n d ic e d e E x tr a v a g a n te s , F e lim in a 14 te x to s, a g o ra c o m um
c r ité rio c o e re n te . T o d o s sã o so bre santos e s p a n h ó is ou lu g a re s d e c u lto
e s p a n h ó is , e x c e p to o te x to da s Vitae P a tru m so b re a c id a d e de O x irin c o ,
c u ja e l i m in a ç ã o se e x p lic a , m a is u m a vez. p o r não ser h a g io g r á f ic o strictu
se n su . N ã o se trato u d e e lim in a r to d o s os san to s e s p a n h ó is: fo r a m c o n ­
s e rv a d o s a q u e le s q u e tê m u m a vida r o m a n e s c a , c o m o A n to lim , V ictores
de C e r e z o . Q u ité r ia e S u sa n a . A s d u a s ú ltim a s d e ix a r a m v e s tíg io s na
to p o n ím a p o rtu g u e sa . Q u a n to a E n g rá c ia , m ártir em S a r a g o ç a , ju stifica a
su a s o b r e v iv ê n c ia c o m a su a o r ig e m b ra c a re n s e . C r is p in o e C r is p in ia n o ,
p o r s u a vez, tin h a m c u lto m u ito a n tig o e m P ortugal . É in te r e s s a n te v e r i­
fic ar q u e to d o s o s b is p o s h is tó ric o s e s p a n h ó is do s E x tr a v a g a n te s d e s a p a ­
re c e m e m F, talvez, p o r se re m as su as vidas c o n s id e r a d a s p e lo tr a d u to r
p o r tu g u ê s in s u f ic ie n te m e n te a v e n tu re ira s ; e q u e . do s d o is reis sa n to s do s
E x tr a v a g a n te s , L u ís de F ra n ç a e F e rn a n d o d e C a ste la , é o rei c a s te l h a n o
q u e cai e n ã o o fra n c ê s.
Sc n o s c o rte s d o s E x tr a v a g a n te s p a re c e m a is c la r o qual foi o c rité rio
u tiliz a d o , p o d e m o s a c e ita r q u e o m e s m o c r ité rio v ig o ro u ta m b é m no
n ú c le o c e n tra l, j u s t i f i c a n d o o d e s p a r e c im e n to d o s b is p o s e s p a n h ó is q u e aí
se e n c o n tr a v a m , e x c e p to I ld e fo n so e T oríb io , o ú ltim o d o s q u a is te m t a m ­
bé m u m a v ida r o m a n e s c a . Q u a n to ao p rim eiro , a p e s a r de te r e n tr a d o r e l a ­
t iv a m e n te ta rd e n o c u lto p o p u la r, é m e n c io n a d o em to d o s o s c a le n d á r io s
p o r tu g u e s e s , s e n d o titu la r d e fre g u e sia s p o r tu g u e s a s e m 1283 (P o rto ),
1320 ( A lm o d ô v a r ) e 1388 (G u a rd a ) *.
D o s 19 tex to s a c r e s c e n ta d o s p e lo tra d u to r p o rtu g u ê s , s o b re v iv e r a m
17: E u lá lia d e B a rc e lo n a . Isabel d e H u n g ria . V eríssim o . M á x im a e J ú lia ,
G o n ç a lo d e A m a r a n te . G e r a ld o de B raga. V íto r d e B ra ga . F r u tu o s o .
M a rç a l. Iria, A n tó n io de P á d u a , V icente. S a b in a e C ris te ta , C la ra ,

Sobre a evolução do culto a S. Q uitéria em Portugal e sua "n acionalização" v.


OL1VKIRA. Lenda <• História, pp. 130-142.
’’ Cf. ROSA. "H ugiografia". p. 337
COSTA . Calendários, p. 127.
540 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME DI E VAI

P a n ta le ã o . P e d ro G o n ç a lv e s . G o ld o ír e . A n a e J o a q u im e tr a s la d a ç ã o d e S.
V icente p ara L isb o a . D e v id o à falta de fólios n o ú n ic o e x e m p la r d o Fios
Sanctorum. a lg u n s d e s te s tex to s so fre ra m la c u n a s e d o is o u tr o s ( R o q u e e
E r a s m o ) d e s a p a r e c e r a m c o m p le ta m e n te . A a ná lise lin g u ística das 17 a d i ­
ç õ e s in dic a q u e to d o s o s te x to s te rão sid o tra d u z id o s no s é c u lo X V o u in í­
c io d o X V I, p o d e n d o a Vida de S. C la ra ser o te x to m a is a n tig o (p r im e ir a
m e ta d e d o séc. X V ).
N o tr a b a lh o q u e este artigo re su m e pro c u re i e s tu d a r c a d a u m a d a s 17
a d iç õ e s, d e fo rm a a e n c o n tr a r na h istória d o c u lto a c a d a s a n to u m a r a z ã o
q u e ju s tif ic a s s e a su a se le c ç ã o p elo c o m p il a d o r de 151 3 e a id e n tific a r, na
m e d id a d o p o ssív e l, a fonte usa da p elo c o m p ila d o r, b e m c o m o c a r a c te r i­
z a r o tra b a lh o de tra d u ç ã o de c a d a texto, q u e p o d e ria a p o n ta r o n ú m e r o de
tra d u to re s in te rv e n ie n te s. O e s tu d o o b te v e re s u lta d o s d e sig u a is. S ó para
d o is d o s te x to s foi po ssível ide n tific a r rig o ro s a m e n te a fo n te utilizada.
A V ida d e S a n ta A n a e S. J o a q u im é tra d u ç ã o literal d o s d o is p r im e i­
ros c a p ítu lo s de u m a o b ra d o e sp a n h o l J u a n d e R o b le s. La vida y exce-
lencias e m iraglos de santa Anna v de la gloriosa nuestra sefíora santa
nutria, im p re ss a e m S ev ilha. e m 1511, po r J a c o b o C r o m b e r g e r '. A o b ra
foi r e d ig id a e n tre 1503 e 1511 p elo q u e . s e g u r a m e n te , o Fios Sancto­
rum d e 1513 foi tr a d u z id o e c o m p o s to e n tre 1511 e 1513. O u tr a fonte
id e n tific a d a c o m se g u r a n ç a é a d a Vida d e S. A n tó n io d e P á d u a . c o lh id a
p e lo c o m p ila d o r de 1513 n um Fios Sanctorum e m p o r tu g u ê s d a a u to ria de
P au lo d e P o rta le g re , c ó n e g o da C o n g r e g a ç ã o de S. J o ã o E v a n g e lis ta
(L óios). A id e n tific a ç ão d a fonte foi p o ssív e l g ra ç a s à r e p r o d u ç ã o p o r
Jo rg e C a r d o s o d e d o is m ila g re s o c o r r id o s no A le n te jo q u e o h a g ió lo g o
a firm a te r c o lh id o no Fios Sanctorum de P a u lo d e P o rta le g re ". A p a rtir
d e sta in f o r m a ç ã o foi p ossív el v e rific a r a c o in c id ê n c ia e n tr e o q u e se p o d e
s a b e r d a v ida d e P a u lo d e P ortalegre e as i n fo rm a ç õ e s q u e o tr a d u to r da
V ida d e S. A n tó n io d á de si m e sm o : c o n ta - n o s q u e fez u m a v ia g e m p e lo
A le n te jo na c o m p a n h i a de u m c a p e lã o d a C a s a d e S. A n tó n io de L isbo a,
c h a m a d o F e rn ã o P o m b e ir o que, m a is ta rd e , p a sso u a c h a m a r - s e Padre
B aptista. P a u lo de P o rta le g re e s c re v e u , e m 1468. u m Novo M em orial do
Estado Apostólico o n d e . nu m c a p ítu lo a u to b io g r á fic o (11. 3 3 v ) c no u tro

Existe um exem plar na BNLisboa (Rcs. 555P). Para a descrição du obra e estudo
sobre o autor, as fontes que utilizou c o seu trabalho de com pilação e com posição, v.
SO BR A L. Adições, pp 505-535.
* C f SO BRA L. Adições, p. 514.
" CA RD O SO . Agiologio, II. p 679
11 O Memorial conserva-se no ANTT (Ms.da Livraria 796). numa cópia parcial do
O n o s S A N C T O R U M l»E 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 541

s o b re a vida e m o r te d o P. B a p tista (fl. 38v), f ic a m o s a s a b e r q u e e ra s o b r i­


nh o d e F e m ã o A lv a re s P o m b e ir o da C u n h a e seu d is c íp u lo e sp iritu a l,
te n d o feito c o m ele v árias v ia g e n s pelo país, n o m e a d a m e n te p e lo A len tejo .
Q u a n d o F e m ã o A lv a re s in gre sso u na C o n g r e g a ç ã o d o s L ó io s m u d o u o
n o m e p ara P. B a p tista e in flu e n c io u o s o b rin h o a e n tra r na m e s m a fa m ília
re lig io sa , o n d e e ste fez u m a brilh ante carreira, o c u p a n d o c a rg o s d e c h e fia
c m a n te n d o - s e p e rto d o p o d e r p o lític o . A p e sa r de o M emorial n ã o fa z e r
re fe rê n cia a o c a rg o na igreja de S. A n tó n io q u e d e te ria F e m ã o Á lv a re s,
o u tr o c r o n is ta lóio refere q u e lhe fora o b tid a p o r D. A fo n s o . I o D u q u e de
B ra g a n ç a , "Im a igreja e m L isbo a de m o d e ra d a re n d a " ’.
O q u e p o d e m o s h o je s a b e r d o Fios Sanctorum de P a u lo de P o rta le g r e
resulta d o c o n f r o n to d a s in f o rm a ç õ e s de J o r g e C a r d o s o , P.F r a n c is c o de
S a n ta M a ria e J o ã o F ra n c o B a rre to *’ c o m a a n á lise d o M em orial e c o m a
Vida de S. A n tó n io . O le g e n d á rio c irc u lo u e m v árias c ó p ia s m a n u s c r ita s
nas c a s a s d a C o n g r e g a ç ã o e ta m b é m fora dela. Era c o n s titu íd o p o r q u a tr o
to m o s i/i fo lio e o r g a n iz a v a -s e per circulam anui. c o m c e r c a d e três m e s e s
e m c a d a to m o . S a b e m o s ( p o r in fo rm a ç ã o d e J o rg e C a r d o s o ') q u e . alé m
d a Vida d e S. A n tó n io , c o n tin h a as vidas d e S. F ru tu o s o . S. P e d r o
G o n ç a l v e s e a tr a s la d a ç ã o d e S. V icente. U m a r e m is s ã o se m r e f e re n te na
V ida d e S. A n tó n io d o s E x tr a v a g a n te s ("e m e s se s d ia s ho n o b re Infa nte
D õ P e d ro tro u x e d e M a r r o c o s d a terra d e A frica c e rto s c o r p o s d e m a r t y ­
res. scilicet. B e rn a rd o . P e d ro . A c u rsio . A iu to e O c to n io . to d o s r e lig io so s
da O rd è d o s F r a d e s M e n o re s . O s q u a e e s p o r Jh e su C h r is to e po r su a ffe
p a d e c e r õ en M a r ro c o s e r e c e b e rõ m a rtirio . c o m o se la rg a m e te diz e m sua

se t XVI. Pertenceu ao M osteiro de S. Bento de X abregas c c constituído por 75 fólios de


papel, de quatro m ãos. A data de 1468 é a do início da redacção, ã qual lorain sendo a cres­
centados capítulos sobre cónegos posteriorm ente falecidos. L m dos últim os foi o P. João
de N a/areth ( t 1478). im pulsionador e destinatário (m uitas v e/es invocado) da obra. O
m anuscrito foi pela prim eira v e/ noticiado na BITAGAP (Bibliografia de Textos A ntigos
G alegos e Portugueses, preparada por A rthur L-F. Askins. Harvey Sharrer. A inda Fernanda
Dias c M artha E. Schaffer), eonsultávcl cm h ttp://sunsite.berkeley.edu/P hilobibkni/B n A
G A G . E ncontro-m e a preparar a edição crítica do texto.
" Sobre a vida e obra de Paulo de Portalegre, as fontes para o seu co n hecim ento c
o seu papel com o confessor do Duque de Bragança e ao serviço de D .João II. v. SO BR A L.
“Um autor ignorado” : SO BRA L. Adições, pp. 334-347.
“ SANTA M A RIA. O Céu Aberto, p. 718.
C A R D O SO . A río Iorío , I. p. 124; SANTA M ARIA. O Céu Aberto, pp 846-865 c
disscm iiiadam entc ao longo da obra. em que cila com frequência as obras do P Paulo
com o a sua fonte m ais fidedigna: BARRETO . Bibliotheca, V. p 835.
* C A R D O SO . A río Iorío . II. pp. 565. 606; III. p. 73.
542 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I E V A L

e s t ó r ia ” , 4 0 - 4 3 ) in d ic a -n o s qu e ta m b é m c o n tin h a o s c in c o f r a n c is c a n o s
(q ue e s tã o a u s e n te s d o Fios Sanctorum de 1513). C o n tin h a , a lé m d isso ,
p e r s o n a g e n s c o n te m p o r â n e a s do autor, fa le c id a s e m f a m a de s a n tid a d e ,
a lg u m a s a c re s c e n ta d a s , à im a g e m d o q u e s u c e d e n o M emorial, d e p o is de
c o n c lu íd a a ob ra . C o m e ç a d a e m 1484 ", e s ta v a c e r ta m e n te c o n c lu íd a e m
1488, v isto q u e o P. D io g o G o n ç a lv e s , fa le c id o a 5 d e N o v e m b r o d e s s e
a n o e m o d o r d e s a n tid a d e , a p are c e n o final d o 2o to m o “ , ju n t a m e n t e c o m
o s sa n to s d e J u n h o , e não a m e io d o 4 o to m o , c o m o lhe c a b e r ia n a o r d e m
p er circulam anui. A e x p lic a ç ã o p ara este d e s lo c a m e n to e s tá no f a c to d e,
te n d o j á te rm in a d o o leg e n d á rio , o a u to r ter a p r o v e it a d o u m e s p a ç o d i s ­
p o n ív e l, q u e ficara e m b ra n c o no fim d o 2° tom o .
A c o n s e r v a ç ã o d e re m issõ e s sem re fe re n te , de in te rp e la ç õ e s d ire c ta s
a d e s tin a tá rio s d e s c o n h e c id o s d o Fios Sanctorum d e 1513 (“ a g o ra o u ç a
v o ssa c a r id a d e ” , 2 1 4 ) e do d is c u rso na p rim e ira p e s s o a c o m q u e o n a r r a ­
d o r c o n t a a su a v ia g e m a o A le n te jo c o m o P. B a p tista s ã o sin ais e v id e n te s
de q u e o te x to da Vida de S. A n tó n io foi tr a n s p o r ta d o p a ra o Fios
Sanctorum de 1513 em c ó p ia fiel, s e m in te r v e n ç ã o d o c o m p ila d o r de
1513. A ssim , p o d e m o s ju n t a r a o c o n h e c im e n to d a o b r a d o a u to r lóio w
es te f r a g m e n to d o seu Fios Sanctorum e c o l o c a r in e v ita v e lm e n te a p e r ­
g u n ta : te n d o o c o m p ila d o r de 1513 à sua d is p o s iç ã o q u a tr o to m o s d e u m
Fios Sanctorum e m p o rtu g u ê s qu e in clu ía m as V idas de S. F r u tu o s o e de
S. P e d ro G o n ç a lv e s e a tra s la d a ç ão de S. V icen te e d e s e ja n d o a cre sc e n tá -
las ao s E x tra v a g a n te s , po rq u e p ro c u ra ria u m a fonte d ife re n te , lim ita n d o -
se a co p ia r, d o Fios Sanctorum de P au lo , a p e n a s a V ida de S. A n tó n io ?
Pare c e le g ítim o a d m itir q u e e stes três te x to s d o s E x tr a v a g a n te s p o d e r ã o
p ro v ir ta m b é m d o le g e n d ário d e Paulo. N o c a s o da n a r ra tiv a d a tr a s la d a ­
ç ã o d e S. V icente, há indícios m u ito fortes d e isso le r a c o n te c id o . F o ra m
tr a d u z id o s (e re fu n d id o s) o c o n h e c id o te x to de M e s tr e E stê v ã o , c h a n tr e da
c a te d ra l d e L isb o a e o a n te c e d e n te d o re la to so b re a tr a s la d a ç ã o p a ra
B ra g a d o B re v iá rio dc S o e iro 40. S e m n u n ca c o n te s t a r a p r im a z ia de

n BARRETO . Bibliotheea. V. p. 835.


" Cf. SANTA M ARIA. O Céu Aberto, p. 798.
“ Além do Memorial. Paulo de Portalegre é autor dc um Tratado e de uma Carla
sobre a m orte de D. Fernando. Duque de Bragança, que acom panhou com o confessor (s.
SO BRA L, "U m aulor ignorado"). F. de Santa M aria (O Céu Aberto, p. 864) atribui-lhe
ainda a autoria de um Itinerário da Terra Santa e J.F.B arreto ( Bibliotheea . V. p. 835) a tra­
dução de uina Vitas Patrum mas destas obras não se tem m ais nenhum a notícia.
* Sobre o texto de Lisboa e seus testem unhos v. N A SC IM EN TO . S. Vicente. Sobre
o ofício da trasladação de S. Vicente para Braga, a naturalidade bracarense do seu autor e
O I I.OS S A N C T O R U M DE 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P D R T I J G U E S A S 543

L is b o a c o m o c e n tr o d e c u lto a S. V icente, o tr a d u to r re iv in d ic a no e n ta n to
a lg u m p re s tíg io ta m b é m p a ra B raga: “ E p o re m n o m sem r a z o m se faz
m e m ó r ia d e ta m g lo r io s a trã s la d a ç a m e m u d a n ç a a a q u e lla c id a d e e aa
n o ss a terra. M a s d e sp o is ... q u is N o s s o S e n h o r h o n r r a r a a y g re ja de
B ra a g a ..." (8 6 -8 9 ). O seu in te re sse pela c id a d e , p o ré m , n ã o o leva a in c lu ir
na tra d u ç ã o u m d o s m ila g r e s n a rra d o s no o fíc io , a p e s a r de c o n ta r um
o c o r r id o e m L isb o a . M o stra c o n h e c e r as d u a s c id a d e s, id e n tif ic a n d o a
r e líq u ia c o n s e r v a d a e m B ra g a (“ huu b r a ç o ” . 90, in f o r m a ç ã o q u e n ã o es tá
no o fíc io ) e d a n d o c o n ta , n u m a in te rp o la ç ã o e x p lic a tiv a , d o fa c to d e o r e i ­
to r de S. J u s ta b e n e f ic ia r de u m a p re b e n d a e c o n e s ia n a S é de L is b o a ( 6 7 ­
-70). T o d o s e s te s e l e m e n t o s c o in c id e m c o m a h is tó r ia d e v id a d e P a u lo de
P o rta le g re , e n tre L is b o a e B ra g a J‘. M ais im p o rta n te se rá o facto d e te r ­
m os n e ste te x to , c o m o na V ida d e S. A n tó n io , u m a r e m is s ã o s e m r e f e ­
re nte. a lu d in d o a o m a rtírio de S. V icente: “c o m o j á d is s e m o s na p r im e y r a
p arte o n d e d is s e m o s d e seu m a rtirio " ( I I ) . A d iv isã o e m p a rte s n ã o é a
e s tru tu r a e x te r n a e x p lic ita d a e m F. Se e sta fosse u m a r e m is s ã o p a r a o
n ú c le o c en tra l, o n d e se e n c o n tr a a p a ix ã o de S. V icente, a s e c ç ã o d o s
S a n to s E x t r a v a g a n te s seria in tro d u z id a p o r u m a d id a s c á lia q u e . e m vez
d e s ta d e s ig n a ç ã o , teria S e g u n d a P arte. E e v id e n te q u e a r e m is s ã o n ã o se
faz p a ra o n ú c le o c e n tra l d e F m a s foi c o n s e r v a d a de u m te x to q u e fazia
p a rte d e u m a o b r a e s tr u tu r a d a e m partes. Se essa o b ra fo sse um l e g e n d á ­
rio o r g a n iz a d o p e r circulum anni , teria a p a ix ã o d e S. V ic e n te (22 de
J a n e ir o ) na p r im e ir a p a rte e a tr a s la d a ç ã o para L isb o a (15 de S e te m b r o )
n o u tra parte. E sta d e s c r iç ã o c o in c id e c o m o s q u a tr o to m o s d o Fios
Sanctorum de P a u lo , e m c u ja 4 ;‘ p a rte sa b e m o s q u e e s ta v a a n a r r a tiv a d a
tr a s la d a ç ã o J:. C a r d o s o ide ntific a a relíquia que e stava c m B rag a, in f o r m a ­
ç ão q u e . c o m o v im o s, n ã o e s ta v a n o o fíc io m as está e m F, e c o n ta u m ún ico
m ilag re, q u e b e n e ficio u “c e r ta d o n z e la " , q u e e sta v a j á " d e s c o n f ia d a d o s
M é d ic o s ". E m F ta m b é m se c o n ta a p e n a s um ú n ic o m ila g re , q u e c u ro u

a sua presença nos breviários bracarenscs. v. FKRRE1RA, Estudos, pp. 298-299; DAVID,
Études, p. 528; R O C H A . L'office, pp. 515-516. A ausência cm F de certo erro do ofício do
Breviário de Soeiro indica não 1er sido este o texto directam ente traduzido e sim um seu
antecedente ou colateral (v. SO BRA L. Adições, p. 554).
" D epois da sua entrada na C ongregação ( 1445), e descontadas breves passagens
pelos conventos de Lam ego ( 1483-84) e Porto ( 1494-95). viveu entre o convento de Vilar
de Frades (B arcelos, B raga) e o de S. Elói de Lisboa, onde morreu e foi sepultado (1510).
*' Num parágrafo em que m enciona as trasladações para Braga e Porto. J. C ardoso
inclui, entre as fontes alegadas, “o P.Paulo de Portalegre na 4 .p. de seu Fios Sanct. foi. 99"
(CA RD OSO . Agiologio. III. p. 73).
T h MA S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T O R I A R E L I G I O S A M E D I E V A L

u m a d o n z e la q u e tin ha um a d e f o r m a ç ã o no ro sto A p a rtir de to d a s e stas


c o in c id ê n c ia s , não será difícil d e fe n d e r que ta m b é m o tex to so bre S.
V icente foi tr a d u z id o p o r P aulo de Po rtale g re e c o lh id o n o seu legen dário.
N a tr a d u ç ã o d a Vita Prima d e S. A n tó n io , P. d e P o r ta le g re re f u n d iu o
retra to d o sa n to , p r o c e d e n d o a o c o m p le to a p a g a m e n to da sua fa c e ta e r u ­
dita: e lim in o u to d a s as re fe rê n cia s à sua lon ga a p r e n d iz a g e m e m Po rtu gal
e à sua a c tiv id a d e c o m o p ro fe s so r e c o m o a u to r d e S e r m õ e s . R e d u z iu
to d o s o s seu s c o n h e c im e n to s a l e r e re z a r (1 5 -1 6 ) e re fe riu -se a o seu sa b e r
c o m o r e c e b id o “ p e r g ra ç a e divinal q u e nõ p o r c iê n c ia a q u e rid o . o qual
e s c a s s a m è t e o u v e r a a lg ü u p o u c o c o n h e c i m e n t o d o s p r i n c i p i o s de
G r a m a ti c a " (9 5-96 ). D e sp id o de q u a lq u e r tra ç o q u e r e v e le a sua fig u ra de
e r u d ito , S. A n tó n io s u rg e c o m o u m a s c e ta e um p r e g a d o r in sp ira do . O
p ro b le m a d o p e c a d o de o r g u lh o in te le c tu a l e n c o n tr a e c o na v iv ê n c ia e s p i ­
ritual d e P a u lo de P o rtale g re, q u e, no M emorial (11. 3 5v ), relata a su a p r ó ­
pria e x p e riê n c ia. E n c o n tr a m - s e sinais d o m e s m o p ro b le m a na V ida d e S.
F r u tu o so , o n d e é re fu n d id o u m p a ra le lo e s ta b e l e c id o e n tre S. F ru tu o s o e
S. Isid o ro de S e v ilh a de fo rm a a retirar a e ste ú ltim o to d o s os tra ç o s c a r a c ­
te rístic o s d o seu re tra to de s á b io e e ru d ito (8 -9 . 1 1-12 44) c são re tira d o s a
B e n ta , d is c íp u la de F rutuoso , o s e s tu d o s e s p iritu a is (“ sp ir itu a lib u s stu-
d iis " ) c o m q u e a v irg e m se q u a lific o u e q u e p o d e r ia m ser e n te n d id o s
c o m o leituras e r u d ita s, para s e re m s u b s titu íd o s p e la " a lte z a d a s v ir tu d e s " ,
te n d o a v irg e m a lc a n ç a d o a p e n a s, d o q u e n os livros se p o d e a p r e n d e r,
s a b e r “c o m p r id a m e n t e ” o o fíc io e c le s iá s tic o (182-1X3 4S). N a Vida d e S.
P e d ro G o n ç a lv e s , s a n to q u e . d e v id o ã v o c a ç ã o p ró p ria d o s d o m in ic a n o s ,
d ific ilm e n te se p o d e ria a p re se n ta r ig n o ra n te ou se m a p a s s a g e m pelo
e s tu d o te o ló g ic o o b rig a tó r io n os c o n v e n to s da O r d e m , é m e s m o a ssim
a te n u a d a a a p r e n d iz a g e m de c iê n c ia s se c u la r e s q u e e s ta v a n o te x to latino,
c o n s e r v a n d o - s e a p e n a s a re fe rê n cia às a r te s lib e rais a p r e n d id a s na j u v e n ­
tud e. e s ã o e lim in a d a s a r e fe rê n c ia e s p e c íf ic a à c iê n c ia a d q u ir id a p o r Fr.
P edro e a a v id e z c o m q u e ele a p ro c u ra ra w. E m b o r a n ã o d i s p ú n h a m o s

* O m ilagre da donzela nào se encontra em nenhum dos dois lexios latinos trad u ­
zidos. É uma inovação do tradutor que resulta, provavelm ente, de uma novelização feila
a partir de um m ilagre contado por M estre Estêvão ocorrido com um rapazinho de três
anos. A "donzela” é exclusiva de F.
u Cf. Im Vida de S. Fructuoso, 1/8-15.
*’ Cf. La Vida de S. Fructuoso, 15/16
“ Cf. as linhas 8-9 c 248 da Vida de S. Pedro G onçalves cm F com as pp. 246 e 248
da "L egenda B.Petri C onfcssoris” .
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 545

p ara e s te s d o is te x to s de a r g u m e n to s tão fortes c o m o pa ra o s a n te rio r e s ,


j u l g o h a v e r ra z õ e s para a c e ita r m o s c o m o m u ito p ro v á v e l q u e os te x to s
so b re F r u tu o s o e P e d r o G o n ç a lv e s d os E x tr a v a g a n te s p r o v ê m d o Fios
Sanctorum de P a u lo de P o rta le g re , j á qu e este os co n tin h a .
A in d a q u e sem a b a se d e a p o io do te s te m u n h o d e J o rg e C a r d o s o ,
p o d e m o s , n u m p la n o c o n j e c t u r a l , q u e s t i o n a r o s r e s t a n t e s te x to s .
T e n h a m o s e m c o n ta q u e , se no Agiologio Lusitano n ã o se c o lh e in f o r m a ­
ç ã o s o b re a p r e s e n ç a d o s re s ta n te s s a n to s no le g e n d á rio de P a u lo , isso não
sig n ific a q u e lá n ã o e s tiv e s s e m , visto qu e J o rg e C a r d o s o só p u b lic o u três
to m o s (de J a n e ir o a J u n h o ) 4\ O u tu b r o (m á rtire s de É v o ra , Iria e m á rtire s
de L is b o a ), N o v e m b r o (Isabel de H u n g ria ) e D e z e m b r o (G e r a ld o ) n u n c a
fo ra m p u b lic a d o s . É a d m is s ív e l q u e P a u lo de P o rta le g re não d e ix a s s e de
in c lu ir o s m ártire s tu te la re s d a sua d io c e se de o r ig e m ( É v o r a ) e u m do s
a r c e b is p o s sa n to s ( G e ra ld o ) d a a rq u id io c e s e a que p e rte n c ia o C o n v e n t o
d e V ilar de F ra d e s, o n d e foi Reitor. N a igreja de ste C o n v e n t o r e c o n s t r u ­
ída no t e m p o d o P. J o ã o de N a z a re th " , h a v ia u m a c a p e la de S. G e r a ld o ,
c u jo c u lto se m a n tin h a v iv o no final d o séc. XV. m e r e c e n d o e sp e c ia l
d e v o ç ã o d o a r c e b is p o D .F e r n a n d o d a G u e rra , q u e o re n o v o u **.
A V ida de S. G e r a ld o de F ap re se n ta -s e c o m o u m a tr a d u ç ã o d o a n t e ­
c e d e n te d o o f íc io d o B r e v iá rio de S o e iro Vl, c o m in o v a ç õ e s q u e re d e f in e m

47 O 4" tom o (Julho e A gosto) foi publicado por A ntónio C aetano de Sousa em
1744, após a morte de C ardoso (1669). Este continuador lam enta, no prólogo do 4" tom o,
a im possibilidade de acesso aos docum entos que Jorge C ardoso reunira para os últim os
seis m eses do Agiologio.
“ Com o qual tinha particular ligação espiritual e afectiva; veja-se o pranto à sua
morte no fl. 59 do Memorial.
" C U N H A . Historia Hclcsiastica dos Arcebispos de Braga. II. p. 27.
» ROC H A . L office. pp. 503-509. Defendi (SO B RA I.. Adições, pp. 195-209). ao
contrário de outros autores (FR EIR E. "A spectos'', p 575; M ATTOSO, “ Le Portugal", p.
85). que o texto do B reviário depende do texto original de Bernardo e não da versão e d i­
tada por Baluze (Stephani Baluzii Tutelensis. Miscellanca . 2* edição, I. 1761. pp. 131-137,
reproduzido em VMH. Scriptores. I. pp. 55-59). Entre outros argum entos (presença da data
de tum ulação, versão mais correcta do episódio da visão do diácono, posição correcta de
um passo que serviria de introdução aos m ilagres póstum os), invoquei a conservação na
versão do B reviário dc um discurso na prim eira pessoa que identifica o autor com o n a r­
rador hom odiegético. que se apresenta com o com panheiro dc G eraldo desde M oissac e
com o testem unha dos seus m ilagres. A. A. N ascim ento (N A SC IM EN TO . "U m traço sin ­
gular") considerou a presença da prim eira pessoa verbal uma consequência de adaptação
posterior (atribuível ao autor) do texto ao uso litúrgico bracarensc. onde se procurava
reforçar a im portância do relato testem unhal. Esta explicação não invalida o argum ento
546 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

o perfil d o sa n to , a c e n tu a n d o as suas v irtu d e s a sc é tic a s, e n v o lv e n d o a sua


s a b e d o r ia (a c iê n c ia a d q u irid a ) na “ a v o n d ã ç a de lu m e d iv i n a l” e a c r e s ­
c e n ta n d o - lh e a c iê n c ia infusa (20 -2 1). N o e p is ó d io q u e n a rra a visita de
G e r a ld o a S a n ta M a ria D o u ra d a , o tra d u to r a c r e s c e n ta m e s m o e le m e n to s
in v e r o s ím e is , a p r e s e n ta n d o o san to e m p re g a ç ã o itin e ra n te pe la s igrejas e
c o m a r c a s (3 9 -4 2 ), o q u e c o n tra ria ra d ic a lm e n te a v o c a ç ã o e a c la u su ra
d o s b e n e d itin o s. A o c o n trá rio , a c o m b in a ç ã o d e sta s d u a s v e r te n te s (a sc e se
e p r e g a ç ã o itin e ra n te ) res p o n d e c a b a lm e n te à v o c a ç ã o d o s lóios, e n c o n tr a
e c o nas lin has d e e s p iritu a lid a d e e x p r e s s a s p o r P a u lo de P o rta le g re no
M emorial e, ju n ta n d o - s e às p re o c u p a ç õ e s c o m a n a tu re z a d o s a b e r
c o m u n s ao s te x to s a trib u ív e is ao a u to r ló io , l e v a m - m e a p r o p o r a su a
a u to ria da tra d u ç ã o - r e f u n d iç ã o d a Vida de S. G e ra ld o .
A falta à v e rd a d e h istó ric a e m fu n ç ã o de u m a o r ie n ta ç ã o id e o ló g ic a
de leitu ra, p a te n te na re fu n d iç ã o da V ida d e S. G e r a ld o , p o d e ve rific a r-se,
d e f o rm a a in d a m a is n otória, na Vida d e S. F ru tu o s o , c u jo tr a d u to r o p e ra
u m a série de in o v a ç õ e s q u e fla g ra n te m e n te se d e s tin a m a n a c io n a liz a r o
sa n to d e B raga, im p e d in d o q u a lq u e r re la ç ã o su a c o m A sto rg a M. O m ite
tod a s as r e fe rê n cia s à re g iã o d o B ie rzo (su a terra n ata l), s u g e r in d o q u e o
sa n to n a s c e r a e m B ra g a e a í fu nda ra o seu p rim e ir o m o s te iro . N u m a n a ­
c r o n is m o e v id e n te , substitui o b isp o C o n â n c io , tio d e F r u tu o s o (nasc.
6 0 0 /6 1 0 ) e seu tutor, p or S. M a rtin h o de D u m e ( f 5 80 ). A v ida d o sa n to ,
re f u n d id a , a p re s e n ta - o fa z e n d o a sua fo rm a ç ã o e sp iritu a l e m B ra g a , j u n t o
de um d o s p a tro n o s b r a c a re n s es , e in ic ia n d o a s u a a c ç ã o fu n d a d o r a nesta
c id a d e , de o n d e parte a levar à P e n ín su la Ib é rica a e v a n g e li z a ç ã o e a o n d e
re g r e s s a no final da v id a p ara o c u p a r a c a d e ir a e p is c o p a l, f u n d a r o ú ltim o
m o s te iro , m o rr e r e ser sep u ltad o . O p e r c u r s o c ir c u la r e m to rn o d e B ra g a

usado para filiar o texto português: F conserva a prim eira pessoa do discurso e aprcsenta-
a tam bém num lugar onde o ofício a não tem ("A d hanc siquidem altercationem ministris
aures apponentibus", lectio VI; "E estando nós atentos ao que o sancto hom è d iz ia ”. 212).
o que perm ite defender a sua dependência do antecedente do ofício, visto que o tradutor
cita o texto traduzido ("diz o autor da obra". 25). justifican d o o uso, em seguida, da p ri­
m eira pessoa (25-28). A vita escrita por Bernardo (bispo de C oim bra em 1128-1146) foi
datada por M attoso (“Le Portugal”, p. 83) de I 112-1128. No entanto, julgo que a data de
redacção deve colocar-se em 1128-1146. visto que há no texto referência aos governos de
D. H enrique e de D. Teresa com o factos já não actuais c o autor usa os deílicos ibi c ibi­
dem para se referir ao túm ulo do santo em Braga, revelando o seu afastam ento geográfico.
Estaria, portanto, já em Coim bra (v. SOBRAL. Adições, pp. 192-195).
41 Sobre a relação entre o culto a S. Frutuoso e os conflitos eclesiásticos entre
Braga c A storga v. G O N ZÁ LEZ G ARCÍA, "B raga c A storga".
O n . O S S A N C T O K U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 547

fic aria p r e ju d ic a d o se o tr a d u to r a d m itiss e q u e a s e p u ltu ra e s ta v a vazia,


d e v id o a o f a m o s o p io la tro c ín io de D .D io g o G e lm ir e s e m 1102. P o r isso,
dá o c o r p o c o m o p re s e n te e m B raga, re fe rin d o a e x is tê n c ia “ atte os p r e ­
se n te s d ia s ” (2 2 8 ) de m ila g r e s j u n t o da sepultura. F in a lm e n te , p a ra r e f o r ­
ç a r o p re stíg io do s a n to b ra c a re n s e , c o m e te o u tro e rro h istó ric o , a p r e s e n ­
ta n d o J o ã o C a s s ia n o c o m o d is c íp u lo de S. F ru tu o so ( 2 2 9 -2 3 7 ). T a m b é m
na V ida de S. P e d r o G o n ç a lv e s , o tra d u to r o m ite o n o m e d a d io c e s e g a le g a
(L u g o ) o n d e o s a n to a n d a v a p r e g a n d o , fa c ilitan d o a id e n tif ic a ç ã o p e lo
p ú b lic o e n tre e s ta p re g a ç ã o e a q u e a tra diç ã o d iz ia q u e o s a n to f iz e ra p o r
terras m in h o ta s ” . P or fim , a tra d u ç ã o d a passio de V icente. S a b in a e
C r is te ta d e n o ta a m e s m a in ten ç ã o , c o n c re tiz a d a e m in te r p o la ç õ e s que
situ a m a a c ç ã o na É v o r a p o rtu g u e s a , q u e é e x a lta d a (7-1 1), e na s u b s tit u ­
iç ã o de Á v ila p o r M é r id a nu m p e r c u rso r u m o a S e v ilh a , s e g u id o p e lo s
m á rtire s e m fug a (4 0 -4 1 ). E sta s in o v aç õ e s, q u e c o n tr a d iz e m a h is tó r ia d o
c u lto (e m Á v ila ), p e rm ite m , no e n ta n to , re so lv e r a f a v o r de P o rtu g a l a
p o lé m ic a a lim e n ta d a e n tr e p o r tu g u e s e s e e s p a n h ó is a c e r c a d a p á tria do s
sa n to s " .
C o n s t a ta m o s , a ssim , a e x is tê n c ia de u m g r u p o d e te x to s ( A n tó n io .
F ru tu o s o . V icen te. P e d r o G o n ç a lv e s . G e r a ld o e m ártire s d e É v o ra ) q u e
a p re s e n ta e m c o m u m c e rto s tra ç o s m o tiv a d o re s de re fu n d iç ã o : o p r o ­
b le m a d a n a tu re z a d o sab er, a e s p iritu a lid a d e d o sa nto fu n d a d a n o b i n ó ­
m io a s c e s e /p r e g a ç ã o itine ra nte e o n a cio n a lism o . A c e r te z a d a a u to ria de
P au lo de P o rta le g re d o p r im e iro te x to e a sua forte p ro b a b ilid a d e n o s três
s e g u in te s re f o r ç a a h ip ó te s e de u m a au to ria c o m u m p a ra to d o e ste g r u p o
d e te x to s 54.
Q u a n to aos re sta n te s textos, n a d a de s ig n ific a tiv o c o n tê m q u e in d iq u e
a a u to ria d e P a u lo de P o rta le g re. S e r ia de e s p e ra r q u e , n u m le g e n d á r io
que c o n tiv e s s e F r u tu o s o e G e ra ld o , e n c o n tr á s s e m o s ta m b é m V íto r qu e ,
c o m e le s, p e r te n c e à g a le r ia de sa n to s p a d ro e iro s de B raga. D o tra d u to r da

M Sobre esta tradição, v. SO BRA L. Adições, pp. 458-459.


” Sobre esta polém ica v. SO BR A L. Adições, pp. 377-379. A alteração do percurso
perm ite resolver o problem a da inverosim ilhança das distâncias que está na base da c o n ­
testação da origem portuguesa dos mártires.
u Um estudo aprofundado das linhas de espiritualidade expressas na obra de Paulo
(M emorial. Carta e Tratado) poderá ilum inar melhor esta questão. Por exem plo, o p ro ­
blem a da tentação diabólica, destacado em algum as destas traduções; a questão dos judeus
e a ideia da fraternidade entre os que fazem um m esmo cam inho com o um a virtude que
pode conduzir à santificação (evidenciadas na tradução da paixão dos m ártires eborenses)
são aspectos evidenciados no Memorial.
548 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A M E D I E V A L

p a ix ã o dc V eríssim o , M á x im a e Jú lia s a b e m o s q u e c o n h e c ia a c id a d e de
L isb o a , c u ja to p o g ra fia ca ra c te riz a e m lição p r iv a tiv a (“ q u e he a saz
g ra n d e e a s p e r a e m m u y to s lo g u a re s” , 84) e q u e te v e a c e s s o a u m a fo n te
lis b o n e n s e ' ' e ta lv e z ta m b é m a u m a e b o r e n s e (a n te c e d e n te da q u e tr a n s ­
m ite o b re v iá rio d e É v o ra d e 1548). O te x to r e v e la u m c e rto n a c io n a lis m o ,
p ate n te na a b e rtu ra c o m um e lo g io a P o rtu gal, p á tria de sa n to s , e na q u a ­
lific a ç ão d a c id a d e d e L isbo a c o m o “ m u y n o b re e a n tiig u a ” . P o ré m , d a d o
q u e n ã o se c o n h e c e c o m e x a c tid ã o o te x to d o o u d o s a n te c e d e n te s , n ã o se
p o d e a f ir m a r q u e este n a c io n a lis m o p e rte n c e a o tr a d u to r p a ra o id e n tif i­
c a r c o m P a u lo d e P o rtalegre.
A Vida de S. G o ld o f r e resulta de u m a fu sã o de e l e m e n to s d o c u lto ao
p r im e iro p rio r (final d o séc. XI) d o M o s te ir o d e S. P e d ro d e F o lq u e s
(A rg a n il). n a d e p e n d ê n c ia de S. C r u z de C o im b r a , c o m a passio d e S.
G a n g o l f o ( m á r tir b o rg o n h ê s d o m e s m o sé c u lo ), q u e foi re fu n d id a . P o u c o
se p o d e d iz e r a c e r c a d o a u to r /tra d u to r d o texto. A f u s ã o d o s d o is s a n to s 54
e a r e d a c ç ã o d e u m a vita talvez se e x p liq u e p o r in flu ê n c ia d e G ille te de
L a v ille u . p ro c u r a d o r francês q u e g o v e r n o u o m o s te ir o de F o lq u e s em
n o m e d o p rio r G u ilh e r m e Fila stério (1 4 1 5 - 1 4 2 8 ) . seu c o m p a tr i o ta ' 7. ou
talv e z se e n q u a d r e no p e río d o se g u in te a 1479, a n o e m q u e o p rio r D. J o ã o
M o n te ir o e m p r e e n d e u o b ra s de v u lto na igreja e m q u e o s a n to e s ta v a
se p u lta d o , p ara as q u a is pediu o c o n tr ib u to d a p o p u la ç ã o .
A Vida de S. Iria. tra d u z id a d o m e s m o te x to latin o q u e d e u o r ig e m a o
o fíc io d o B re v iá r io b ra c a rcn s e de 1470 '* r e v e la d ife r e n ç a s , re la tiv a m e n te
a este, de q u e n ã o é p o ssív e l sa b e r se re s u lta m d e in o v a ç ã o d o tr a d u to r ou
se r e p r e s e n ta m o texto original.
A o c o n h e c im e n to da Vida de S. G o n ç a lo ta m b é m p o u c o se pode
acre sc enta r. De a u to ria d o m in ic a n a 5\ o te x to seria, se m d ú v id a , b raca-
rense: o c u lto de S. G o n ç a lo , até a o séc. X V I, c irc u n s c re v e u - s e à d io c e s e
de B ra g a , até m e a d o s d o séc. X V a p e n a s na áre a G u im a r ã e s - C h a v e s , e

’* A legenda latina antecedente da que se conserva no c ó d .c v /l-2 3 d. n° 2, lis. l-7v


da BPAD Évora. Para a datação e descrição do texto v. M ARTINS, "A legenda dos san­
tos".
" A testada ainda no séc. XVII por Jorge C ardoso (v. Agiologio, I. pp. 341, 347­
-348). Sobre S. G oldofre v. ainda SANTA M ARIA. Chronica. p. 158; M ÁRTIRES.
Crõnictr. III. p. 100 c segs.; PEREIRA. "O m osteiro", pp. 163-165.
’ M ÁRTIRES. Crónica. III. p. 103.
" V. COSTA. "Santa Iria"; COSTA. "Im portante breviário".
" V SO BRA L. “ A Vida de S. G onçalo". pp. 1453-1454; ROSA. “Dos m endicantes
aos m ísticos" (no prelo).
O n o s S A N C T O K l U DE l S f 3 E S U A S A D U O l S P O R T U G U E S A S

d e p o is e s t e n d e n d o - s e à liturgia b ra c a re n s e (e a m a is n e n h u m c o s tu m e
1itú rgico) “ . T e n d o u s a d o e le m e n to s d a tra d iç ã o p o p u la r ( c o m o d e n o ta a
c o n s e r v a ç ã o de rim a no e p is ó d io da c o n s tru ç ã o d a p o n te ) e ta lv e z ta m b é m
re g isto s e s c rito s e m latim (de q u e se terá c o n s e r v a d o a e x p r e s s ã o “ ho qual
ry o e m lin g u a je m se c h a m a T a m e g a ” . 150-151). o a u to r e s c r e v e u d e p o is
de 1422. c o m o m o s tra a u tiliz a ç ã o da e ra de C ris to p a ra d a ta r o m ila g r e
p ó s t u m o ( " a n n o d e N o s s o S e n h o r de mil e c c c c " . 2 3 1 ). ta lv e z no s e g u n d o
q u a rte l d o séc. XV, v isto q u e e ste m ila g re é n a rra d o c o m g r a n d e r e a lis m o ,
sem q u e a fig u ra q u e sa lv a a p o n te ( in te rp re ta d a c o m o S. G o n ç a lo ) s u b ­
verta as re g ra s d a n a tu re z a . A Vida foi incluída, a p e d id o d o A r c e b is p o d e
B ra g a , n u m Fios Sancionou, c o m o se sab e pela notícia d e Fr. L u ís de
S o u s a , q u e a f ir m a ter lido q u e o sa nto p ro fe s so u n o C o n v e n to d e
G u i m a r ã e s n u m a V ida de S. G o n ç a lo q u e e sta v a n u m ‘‘F ios S a n c to r u m .
q u e os A r c e b is p o s a n tig o s de B rag a m a n d a r ã o im p rim ir d u z e n to s a n n o s
d e p o is d a m o rte d o S a n to " S a b e n d o - s e q u e e ste a u to r da ta a m o r te d e
G o n ç a lo d e 1260 w. e s te in c u n á b u lo seria d e 1460, d a ta in a c e itá v e l ' . E
difícil a c re d ita r, p o r é m , q u e Fr. L u ís de S o u sa in v e n to u e s te Fios
Sanctorum . ta n to m a is q u e o c ita. não para a b o n a r as su a s a f ir m a ç õ e s
m as. p e lo c o n tr á r io , p ara o refutar. N ã o d e v e p o rta n to h a v e r d ú v i d a d e q u e
e x istiu um Fios Sanctorum im p re ss o p e lo s A rc e b isp o s d e B ra g a q u e c o n ­
tin h a u m a Vida d e S. G o n ç a lo . o n d e se d izia qu e ele tin h a p r o f e s s a d o no
c o n v e n to d e S. D o m i n g o s d e G u im a rã e s. Isso m e s m o d iz F ( 137 . 146 ).
Fr. L uís d e S o u s a c o n s id e r a o s 200 a n o s de um m o d o m u ito la rg o e a d a ta
de ste Fios Sanctorum n ã o é 1460 c sim 1490 . da ta já m a is p ro v á v e l para
um im p r e s s o de B ra g a (o B re v a riu m B ra c h a re n se é d e 1494 )? Se a s s im
fo sse , ta lv e z n ã o h o u v e s s e n e c e ssid a d e d e q u e a p e n a s 23 a n o s p a s s a d o s
(e m 1 5 1 3 ) o A r c e b is p o d e B ra g a m a n d a s s e c o m p o r o u tr o Fios Sanctorum ,
o s e g u n d o d e q u e fala S o u sa : “ Q u a n d o se c o m p o z o F ios S a n c t o r u m de
B raga, q u e foi no a n n o d e 1513 a g ra n d e q u a n tid a d e de m ila g r e s , q u e

C U N H A . S. Gonçalo. pp 5-7.
*' SO U SA . Historia, II. p. 1X2.
*•' SO U SA . Historia. II. p. I KA.
' A expansão da tipografia na Europa só se dá a partir de 1460 (M A R Q U II.H A S.
"T ipografia". 1)1.M a n . p. 625). sendo Portugal um dos países europeus onde a im prensa
é mais tardiam ente introduzida O s mais antigos im pressos portugueses são de 1487
( Pentateuco , F aro. Sam uel G aco n l. 1486-1493 (Certificado de Indulgências de Inocêncio
V III) e 1488 (Sacramental de Sanchez de Vereial). Pelas mesm as razões é de rejeitar a
atribuição por A C unha (.V. Gonçalo. p 8) da data de 1450 a este Fios Sanctorum. que não
poderia ser anterior à Hiblia da.\ 42 linhas.
550 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I E V A L

e n tã o se s a b iã o d o S a n to , o b rig o u a o d e v o t o A r c e b i s p o a m a n d a r, q u e se
e s c r e v e s s e su a vida. e a lg u m a parte d ’e lle s ” M. N ã o há d ú v i d a q u e e s te
s e g u n d o Fios Sanctorum não é u m a sim p le s r e e d iç ã o , p o is o v e rb o " c o m ­
p o r ” in dic a um tr a b a lh o de r e c e n sã o e s e le c ç ã o d e tex to s. A lé m d isso ,
re p a re -s e q u e as p a la v ra s d e S o u sa su g e r e m q u e a in c lu s ã o de u m a vida
de S. G o n ç a lo n u m Fios Sancionou era d e s c o n h e c id a e m Braga. R e sta
u m a h ip ó te se q u e e x p lic a ria to d a s e sta s c irc u n stâ n c ias : a d a ta a p o n ta d a
p o r S o u s a p ara o p rim e iro Fios Sanctorum r e fe rid o é a in d a m a is larg a d o
q u e in ic ia lm e n te c o n je c tu re i e. na v e rd a d e , o Fios Sanctorum im p re sso
e m B rag a 2 0 0 a n o s d e p o is d a m o rte d o s a n to é o m e s m o Fios Sanctorum
q u e foi c o m p o s to e m 1 5 13. A franja de 53 a n o s q u e S o u sa o m itir ia n a c o n ­
ta b iliz a ç ã o d o s 2 0 0 an o s pa rec e e x c e ss iv a m a s, te n d o e m c o n ta a real
im p o ssib ilid a d e d e uin Fios Sanctorum im p re s so na d a ta c o n ta b iliz a d a
p elo c ro n ista , e s e n d o c e r to q u e ele o m itiu p e lo m e n o s 30 a n o s , c u sta
m e n o s a a c e ita r q u e tiv e sse p a s s a d o p o r a lto m a is de m e io séc u lo . A d ia n te
r e to m a re i o p r o b le m a da id e n tific a ç ão d es te le g e n d ário .
A V ida d e S. Isabel de H u n g ria e a de S. C la ra p r o v ê m c e r ta m e n te de
fon te s f r a n c is c a n a s, c o m o parece in d ic a r a a n á lise d a tr a d u ç ã o - r e f u n d i-
ção. O te x to s o b re a p rim e ira tra d u z a Vida c o m p o s ta p o r l.d a V arazze: F
tra d u z o s se u s lu g a re s c a ra c terístic o s. A c o la ç ã o m o s tr a q u e o te x to latino
u s a d o na tr a d u ç ã o não foi o d o A lc. 4 0 (ú n ic o m a n u s c r ito d e L e m
P ortug al q u e inclui a sa n ta ) e sim um m a n u s c r ito h oje p e r d id o , de o n d e se
tra d u z iu o texto, talvez p ara to m a r a fo rm a d e um libellus “ , o q u e d e n o t a ­
ria, d a parte d o tradutor, um interesse espe c ial p e la san ta c o e re n te c o m o
perfil q u e se extrai das in ov a ç õ e s praticadas: re lig io so , c o n h e c e d o r d a
liturgia “ e da d isc ip lin a regular, o tra d u to r era p r o v a v e lm e n te fra n c isc a n o .
u m a vez q u e a firm a que S. Isabel era c la ris sa c o n tra toda a tra d iç ã o e
id en tific a a p e rfe iç ã o da h u m ild a d e c o m a m e n d ic â n c ia .
Q u a n to à Vida d e S. Clara, foi trad uzida e re fu n d id a no séc. X V (talvez
na p rim eira m etade, d a d o o n ú m e ro p o u c o habitual - 7 - d e f o rm a s v erbais
na se g u n d a pesso a do plural c o m c o n se rv a ç ã o d e -d- in tcrv o c á lic o ), p o r

M SO U SA . Historia, tl. p. 188.


*' Uso a designação de PHILLIPART. Les Légendiers. p. 21.
“ O tradutor cita Itradu/indo) integralm ente o responsório citado abreviadam ente
no texto latino: "R egnum mundi et omnem ornatum saeculi contem psi. propter amorem
Domini mei Jesu C hrisli. quem vidi. quem am avi. in quem credidi. quem dilexi" (Corpus
Antiphonalium Officii. IV. n" 7524).
’ Sobre esta questão v. FOLZ. Les suintes reines, p. 110. n. 116. p. 119; Der soge­
nannte libellus. p. 45. n.

f.O flTRp Hl
O H . O S S A N C T O R U M 1)1: 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 551

a lg u é m fa m ilia riz a d o co m a activ id a d e da pregação e q u e teve a c e sso a f o n ­


tes franciscanas. É original neste tex to a ad op ç ã o , para a narrativa da vida
da santa e m S. D a m iã o , da estrutura de um se rm ã o F o ra m utilizadas d u a s
legendas d ife re n te s e u m relato d o m ilagre das cerejas c u ja pre se n ç a e m
c o n v e n to s c la re a n o s se p o de po stula r pelo m e n o s no séc. X V N a refu n -
d iç ã o s ã o o m itid o s o s a s p e c to s m a is c a r a c te rístic o s d o f r a n c is c a n is m o d e
C la ra: a re c u s a d o títu lo d e a b a d e s s a , a o p ç ã o pela p o b r e z a ra d ic a l, a c o n ­
c e s s ã o pap al d o P r iv ilé g io d a P o b re z a , a re c u sa da s p r o p r ie d a d e s o f e r e c i ­
d a s p e lo P a p a e a c o n c e s s ã o d a R e g ra p ró p ria à h o ra d a m o rte . E s ta s
a u s ê n c ia s, q u e p o d e r i a m s u g e rir um a u to r n ã o f r a n c isc a n o . p o d e m d e c o r ­
re r d a n e c e s s id a d e d e a d a p ta r a vida da fu n d a d o ra a o fra n c is c a n is c o f e m i ­
n in o q u e se v iv ia e m P o rtu g a l, o n d e foi a d o p ta d a a R e g ra u r b a n a e os
m o s te iro s a c e ita r a m p r o p r ie d a d e s , po r im p o s iç ã o d o p ap a. O a c e s s o a t e x ­
tos q u e se g u a rd a v a m e m m o s te iro s c la re a n o s su g e re q u e o p r e g a d o r a u to r
d o te x to seria um M enor.
A V ida de S. P a n ta le ã o e a de S. E u lá lia d e B a r c e lo n a s ã o o s ú n ic o s
te x to s tr a d u z id o s d e f o n te latina qu e se a p r o x im a m d a literal idade. N e le s
n ão se p ra tic o u , c o m o e m to d o s o s re sta n te s c u jo a n te c e d e n te la tin o se
c o n h e c e , a abbreviatio e as in o v a ç õ e s p ro d u z id a s p a re c e m e x p lic a r- s e
m e lh o r c o m o p r o c e s s o s d e tra d u ç ã o d o q u e c o m o r e fu n d iç õ e s q u e v o l u n ­
ta r ia m e n te a d a p ta m o te x to latino a um n o v o p ú b lic o . N o c a s o d a m á rtir
b a r c e lo n e s a . a su b s titu iç ã o d a a n te rio r passio a b r e v ia d a de B p o r e s ta é
um sinal d e q u e o c o m p ila d o r de 1513 p re fe ria tra d u ç õ e s m a is literais.
C e r ta m e n t e e s te s d o is te x to s n ã o p r o v ê m d o Fios Sanctorum de P a u lo de
P o r ta le g r e , q u e se m o s tr o u n o u tro s ( n o m e a d a m e n t e na V ida d e S.
A n tó n io ) um tra d u to r-re fu n d id o r. A h ip ó te s e d e s e re m tr a d u ç ã o d o c o m ­
p ila d o r de 1513 p o d e r á c o lo c a r - s e m as n ã o é p o ssív e l v erific á -la. A o p ç ã o
p o r tr a d u ç õ e s literais n ão se v erifica, p o ré m , n o c a s o da V ida d e S.
M a rç a l, m u ito a b r e v ia d a d e u m lo ng o te x to latino " q u e d e v e r á te r sid o
tr a d u z id o p r o p o s ita d a m e n te para in teg ra r o Fios Sanctorum de 15 13. p e lo

w V. SO BRA L. Adições, pp. 418-419


w O conhecim ento ileste m ilagre supõe-se na sua atribuição (no séc. X V) à infanta
L conor A fonso ( t l 302), clarissa no m osteiro de Santarém , onde m orreu em fam a de san­
tidade e onde foi venerada pelo povo (cf. Fr. Manuel da Esperança, Histnria Serufica. pp.
532-534). Este é um m ilagre tipicam ente franciscano. de que se conhecem variantes a tri­
buídas a S. Francisco. S. C lara e S, Isabel de Hungria (v.SO BRA L, Adições, pp. 116. 406.
412. 417-418). Em todas estas variantes o alim ento desejado é outro, sendo as cerejas
com uns apenas aos m ilagres atribuídos a L eonor A fonso e a S. C lara (em F).
A Vim proUxior de S. M arçal (HHL 5552).
552 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

q u e a a trib u iç ã o d a tr a d u ç ã o a o c o m p ila d o r d e 15 13 se ju stific a . A a ná lise


de u m a in te rp o la ç ã o a o e p is ó d io d o b o rd ã o de S. P e d ro m o s tr a q u e o t r a ­
d u t o r leu a V ida de S. Pedro de 1. d a V arazze na Legenda Aurca. O u tra
in te rp o la ç ã o d iz -n o s qu e a tra d u ç ã o foi feita p ara se r in c lu íd a n um l e g e n ­
d á r io q u e , c o n tr a ria n d o a o rd e m p e r circulum anni , a p r e s e n ta v a a Vida de
S. M a rç a l (J u n h o ou Ju lh o ) d e p o is d a vida de S. D in is ( O u tu b r o ) , c o m o
s u c e d e e m F, e m q u e S. M arçal é a d iç ã o E x tr a v a g a n te 7I. O e le v a d o g rau
de abbreviatio p ra tic a d o nesta tra d u ç ã o p a re c e e x p lic a r -s e fa c e a u m te x to
latino re a lm e n te p ro lix o , e x c e s s iv o n os p o r m e n o r e s e r e p e titiv o n os e p i ­
sód io s. O tr a d u to r d e s e n h a para S. M arçal u m perfil d e sa n tid a d e d e c o r ­
re n te d a p rá tic a e x e m p la r d a s v irtud e s e v a n g é lic a s q u e o a p r o x im a do
p ú b lic o leigo.
A trib u ív e l ig u a lm e n te ao c o m p ila d o r d e 1513 é a tr a d u ç ã o d o s do is
c a p ítu lo s d e J u a n de R o b le s sob re S. A na. N a in tr o d u ç ã o à o b r a de R o b le s
( 4 a p á g in a ) lê-se u m a c e n s u r a ao s q u e “e s c r iu ie r õ las v id as d e los sa n c to s
e a o d e s c u y d o o ne g lig e ia de los q u e tra sla d a ro n d e Iatin en r o m a n c e el
fios s a n c to r e las otras y sto rias de los sa n to s y d e x a r õ a sa n ta A n n a olui-
d a d a s e y e n d o tan principal y tã g lo rio sa sa n ta ", q u e e n c o n tr a e c o n o c ó lo -
fon de F: “ ...F io s S a n c to ru m ... a c r e ç e n ta d a d e d u a s v id as lo u u a u e e s.s. de
s a n c ta A n n a e sam E rasm o: q u e por g r a n d e n e g lig e n ç ia fo r o m e s q u e ­
cidas". S u g e r e - s e a ss im q u e o re d a c to r d o c ó lo f o n (o c o m p ila d o r de
1513) p o d e r á ter sido o m e s m o q u e leu a o b ra de R o b le s (o tr a d u to r da
v id a de S. Ana).
Se a c e ita r m o s a id e n tific a ç ão e n tre o c o m p i l a d o r de 1513 e o t r a d u ­
to r d a V ida d e S. M arçal d e v e m o s a c e ita r a su a lig a ç ã o a B ra g a , v is to que
o tr a d u to r d e M a rç a l, n u m a lição p riv a tiv a , se id e n tific a c o m a q u e le s qu e
r e iv in d ic a m a p rim a z ia d o a p o s to la d o de S. M a rç a l so b re o d e S. D inis,
e m F r a n ç a , id e n tif ic a n d o - s e p o r t a n to c o m o c o s t u m e litú r g ic o d a
A q u itâ n ia , q u e teve re c e p ç ã o p riv ile g ia d a eni B ra g a , ú n ic a d io c e s e o n d e
S. M arçal tinh a lu g a r no santoral e e ra c o m e m o r a d o c o m o fíc io p ró p r io e
c o m s o le n id a d e e q u ip a rá v e l à d os b isp o s b ra c a re n s e s . B rag a a p a r e c e ,
aliás, c o m o a d io c e se que estaria em c o n d içõ e s de f o rn e c e r p arte d o s textos
c om p ila d o s. O Fios Sanctorum de Paulo de Portaleg re existia, c o m o diz
F ra n c isc o d e Santa M aria, nas várias casas da C o n g re g a ç ã o , p e lo q u e h a v e ­
ria c e rta m e n te u m a có pia eni Vilar d e Frades. É n um B rev iá rio b racarense

7' V. a discussão mais porm enorizada desta questão cm SO BRA L. Adições, pp.
271 - 273 .
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 553

q u e se c o n h e c e a v e rs ã o latina d a le g e n d a de S. Iria m a is p r ó x i m a da d o s
E x tr a v a g a n te s e a V ida d e S. G o n ç a lo c o m p ô s - s e c e rta m e n te n a q u e la d i o ­
c e s e . a ú n ic a q u e o c e le b r a v a . O n ú m e ro de santos p ró p rio s d a d io c e s e (a
m ais r e p r e s e n ta d a ) e s c o lh id o s para os E x tr a v a g a n te s é ta m b é m s ig n if ic a ­
tivo. P o r o u tro lado, a u tiliz a ç ã o d e u m a fo n te c o m o Ju a n d e R o b le s ,
im p re s s a p o r C r o m b e r g e r , a p o n ta pa ra a fa c ilid a d e e p e r m a n ê n c i a da s
r e la ç õ e s de D. L e o n o r e D. M a n u e l c o m os im p re sso re s s e v ilh a n o s , n o m e ­
a d a m e n te c o m C r o m b e r g e r . q u e tra b a lh o u p a ra o rei p o r tu g u ê s n e que
fo r n e c e u m a te ria l t ip o g r á f ic o a H e r m ã o de C a m p o s . D o m e s m o m o d o , o
a n te c e d e n te d e F foi um te x to im p re ss o e m c a s te lh a n o e p r o d u z id o n o
q u a d r o d e r e la ç õ e s c u ltu ra is m a n tid a s en tre os im p re s so re s a le m ã e s o p e ­
rantes na P e n ín s u la Ib érica. O tr a d u to r de F, e m 1513, d i s p u n h a de um
Fios Sanctorum j á e m p o r tu g u ê s (o de P a u lo ), que d is p e n s a ria , p o rta n to ,
o tr a b a lh o d a tra d u ç ã o . A p e s a r disso , e sc o lh e u - s e p ara a e d iç ã o u m
m o d e lo e m c a s te lh a n o , q u e , a o ed itor, o fe re c ia a v a n ta g e m de p e r m iti r
u m a p la n if ic a ç ã o d a e d i ç ã o c o m p o u c a s a lte ra ç õ e s , u m a s e le c ç ã o de t e x ­
tos já p r o n ta e c o in c id e n te c o m a d im e n s ã o p rá tic a q u e se q u e ria d a r à
o b ra . O Fios Sanctorum de P a u lo tin ha 4 v o lu m e s , o q u e im p lic a ria , e v i ­
d e n te m e n te , u m n ú m e r o m u ito m a io r de textos, e x ig in d o um tr a b a lh o de
a d a p ta ç ã o m a is c o m p l e x o d o q u e a sim p le s s u b stitu iç ã o de um b lo c o final
d e E x tr a v a g a n te s p o r o utro. A o im p re sso r, o m o d e lo e s c o lh id o o f e r e c ia
a in d a m o d e lo s d e g ra v u r a s q u e p o d ia m se r c o p ia d a s . Foi p o r ta n to no
a m b ie n te c u ltu ra l da c o r te q u e se p lan e o u a e d iç ã o de F, s o b o p a tr o c ín io
d o rei e c o m a p ro v á v e l c o la b o r a ç ã o do im p re sso r H e r m ã o de C a m p o s ,
q u e tr a b a lh a v a na o f ic in a de V alen tim F e rn a n d e s, q u e d e v e te r m a n tid o ,
c o m o registei, re la ç õ e s c o m F ra d iq u e de B asileia. Po ré m , q u e r e n d o o rei
q u e a e d iç ã o c o n tiv e s s e a lg u n s d o s p rin c ip a is sa n to s p o r tu g u e s e s , o q u e
seria ta n to m a is im p o rta n te q u a n t o é c e rto q u e parte da tira g e m se d e s t i ­
n a v a à E x p a n s ã o p o r tu g u e s a 7\ to rn a v a -s e n e c e s s á r ia a c o la b o r a ç ã o d e um
tra d u to r q u e t a m b é m fosse c o n h e c e d o r d a s fon te s h a g io g rá f ic a s d i s p o n í ­
veis e m P o rtu g a l e c a p a z d e se le c c io n a r tex to s n essa s fon tes. N e m o rei

” G R IFFIN , Los Cromberger. pp. 72-78.


71 V. M ARTINS. "O «Livro e legenda»". N ote-se que a exportação não explica a
não sobrevivência de outros exem plares da edição. Há vários casos de edições da p rim i­
tiva im prensa peninsular de que não resta nenhum exem plar e cujo desaparecim ento não
se explica com a Expansão. A causa do desaparecim ento terá mais a ver com a explicação
sugerida por G riffen para os casos espanhóis: seriam obras de grande aceitação entre o
público, que sofreram um a larga difusão e um elevado grau de m anuseam ento.
554 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A M E D I EV A L

n e m o im p r e s s o r e s ta ria m q u a lific a d o s p a ra e s s a f u n ç ã o , q u e se ria m e l h o r


e n tr e g u e a u m religioso.
D a d a a p ro v á v e l re la ç ã o do c o m p ila d o r c o m B ra g a , é a ltu ra de le m ­
b ra r a in fo r m a ç ã o , já c o m e n ta d a , d e Fr. L uís d e S o u sa , s e g u n d o o q u al os
a r c e b is p o s de B r a g a fiz e ra m im p rim ir e m 1513 um Fios Sanctorum p ara
o q u al foi c o m p o s ta u m a Vida de S. G o n ç a lo . J u lg o q u e n ã o é de a d m itir
q u e , no m e s m o ano, e m d u a s c id a d e d ife re n te s e sob o p a tr o c ín io d e d u a s
e n tid a d e s d ife r e n te s m as q u e ig u a lm e n te se s itu a m ao m a is a lto nível d as
r e s p o n s a b ilid a d e s n ac io n a is, se tiv esse m a n d a d o im p r im ir a m e s m a obra.
O m e rc a d o d o s im p re ss o re s qu e tra b a lh a v a m e m P o rtu g al na é p o c a não
e r a tão g ra n d e q u e a c o n se lh a ss e e sta s d u a s im p re ss õ e s. E s a b e n d o -s e q u e
os im p r e s s o re s , m e s m o q u a n d o p a tro c in a d o s, n ã o a r ris c a v a m tra b a lh o s
q u e n ã o tiv e sse m a c e ita ç ã o no m e rc a d o , sou le v a d a a c o lo c a r u m a h i p ó ­
tese: não se tra ta ria afinal d o m e s m o Fios Sanctorum ? R e c o r d e m o s q u e a
V ida d e S. G o n ç a lo q u e e s ta v a no Fios Sanctorum q u e c o n h e c e u Fr.Luís
de S o u s a c o in c id ia , e m te rm o s de c o n te ú d o , c o m a q u e se lê e m F.
L e m b r e m o s a in d a q u e F r.L uís d e S o u sa foi c o n t e m p o r â n e o (e b ió g ra fo )
d o a r c e b is p o Fr. B a rto lo m e u do s M á rtire s, a m b o s d o m in ic a n o s . O a r c e ­
b isp o, q u e e s te v e n o C o n c ílio de T re n to . foi o r e sp o n s á v e l pe la im p re s sã o ,
e m 1567, de um n o v o Fios Sanctorum . r e v isto e e m e n d a d o , ta re fa qu e
e n c a rr e g o u a Fr. D io g o do R o sá rio , o qual d e c la r a no p r ó lo g o o q u e m o t i ­
vou tal d ecisão:

Nota pio leitor que nas historias das vidas de santos que andam
impressas em vulgar, ha y muitas falhas : e hüa he, que trazem escrip-
tas alguas cousas muy incertas e apocriphas. Polo que pareceo bem
ao senhor Arcebispo que ja que se auia de imprimir este liuro, fosse
reuisto e e m e n d a d o .74

A s p a la v ras de Fr. D io g o do R o sá rio p e r m ite m c o n c l u i r q u e a d e c is ã o


d o a r c e b is p o de re fa z e r o Fios Sanctorum re su lto u d a a v a lia ç ã o fe ita de
o u tr o Fios Sanctorum , qu e e ra im p re sso e q u e e ra e m p o rtu g u ê s .
E n c o n tr a - s e n o Stim ulus Pastorum de Fr. B a r to lo m e u d o s M á rtire s um
p a s s o c u ja s e m e lh a n ç a textual c o m a V ida de S. G o n ç a lo é tão e v id e n te
q u e o b r i g a a s u p o r u m a re la ç ã o de p a r e n te s c o e n tre eles:

74 ROSÁ RIO, Historia. 3“ página do "proem io" (não num erada).


O H . O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U C U E S A S 555

Vida de S. Gonçalo Stim ulus Pastor um


E as outras cousas aos proves dava. Res pauperum non pauperibus dare, par
sabendo que he certo seer pecado de sacrilegíi crim en esse dignoscitur; nam
sacrilégio as cousas dos proves aos p ro ­ patrím onia sunt pauperum facultates
ves nó dar e que as fazendas das ygre- ecclesiarum . et sacrílega eis crudclitatc
ja s som palnnionio dos proves. E sacri- surripítur quidquid m inistri et d isp en sa­
lejos cruces com ete aquclles que pera si tores (non utique vel possessores) ultra
mais recebe do |q u e | com er e beber c victum accipiunt et vcslilum
vestido sèdo despèceiros d o Senhor (M ÁRTIRES. Estimulo, p 83)
(47-51).

D e ix a n d o e m a b e rto a p o s sib ilid a d e de re c u rso a u m a fonte c o m u m ,


q ue , to d a v ia , n ã o c o n se g u i id e n tific a r nem foi ide n tific a da p e lo e d ito r c r í ­
tico d o Stimulus, su g iro , e m alte rna tiva , a p o ssib ilid a d e de a fo n te d o a r c e ­
b isp o ter sid o a p ró p ria V ida de S. G o n ç a lo . P e rm ito -m e ag o ra p e rg u n ta r
se. te n d o Fr. B a rto lo m e u c o n h e c id o um Fios Sanctorum im p re ss o e m p o r ­
tu g u ê s a n te r io r a 1567 e e x is tin d o no Fios Sanctorum de 1513 u m p a s s o
te x tu a lm e n te id ê n tic o a o seu. n ã o terá sido neste le g e n d á rio q u e o a r c e ­
bisp o leu o p a s so d a Vida d e S. G o n ç a lo qu e reproduz, no Stimulus. D a d a
a p ro x im id a d e e n tre Fr. L u ís de S o u sa e Fr. B a rto lo m e u d o s M á rtire s ” ,
n ã o te r ã o c o n h e c i d o o m e s m o Fios Sanctorum, v isto q u e o p r im e iro
c o n h e c e u u m . im p re s s o e m 1513, c u ja Vida de S. G o n ç a lo tin h a c o n te ú d o
c o i n c id e n te c o m o d e F. e o s e g u n d o r e p ro d u z u m p a s s o d a m e s m a Vida
q u e só se e n c o n tr a e m F ? S e e x istiu o u tro Fios Sanctorum , im p r e s s o e m
1513 p e lo a r c e b is p o de B ra g a, c de c r e r qu e . p e lo m e n o s na V ida d e S.
G o n ç a lo . seria m u ito se m e lh a n te a F. o q u e c o n stitu i a r g u m e n to c o n tr a a
sua e x is tê n c ia , te n d o e m c o n ta a c o in c id ê n c ia de data.

'' Q uando apresenta, pronta, em 16IV, A Viila do Arcebispo, 6 no C onvento de S.


D om ingos de Viana do C astelo que Fr. Luís de Sousa o faz ("D este C onvento de S.
Domingos de V iana...", SO U SA . A Vida. p. 6). Foi a este C onvento que o arcebispo d e i­
xou (em 1575) a sua livraria c bens. É m uito provável que o cronista dom inicano, que c o li­
giu e ordenou vários apontam entos reunidos por Fr.Luís de C ácegas sobre o arcebispo,
tenha lido acesso directo ao esp ó lio do seu biografado. R. A. Rolo acredita que assim foi:
"... Fr.Luís de Sousa, que neste ponto | descrição das obras escritas pelo arccb isp o | é e x tre ­
m am ente concreto, apontando a abertura e o fecho de quase todos estes escritos. D iríam os
que escreveu esta relação no C onvento de Viana do C astelo, cm presença do últim o e sp ó ­
lio literário encontrado ainda na cela do A rcebispo no dia do seu passam ento" (R O LO .
Formarão, p 305).
556 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A M E D I E V A L

S e se tr a ta d o m e s m o Fios Sanctorum , p o d e m o s s u p o r q u e t e ria D.


M a n u e l e n c a r r e g a d o o a r c e b is p o de B r a g a d e d e s i g n a r p e s s o a r e s p o n ­
sá v e l e c o m p e t e n t e p a ra a ta re f a de t r a d u z i r o Fios Sanctorum e de
c o m p i l a r as a d iç õ e s p o r tu g u e s a s . J u n t a v a m - s e . a s s im , a o s o b j e c t i v o s
p o l í t i c o - c u l t u r a i s e x p a n s i o n i s t a s d o rei, o s o b j e c t i v o s p a s t o r a i s d o a r c e ­
b is p o , p r e o c u p a d o c o m a o c u p a ç ã o d o s t e m p o s d e l a z e r d o s f ié is , q u e
e n c o n t r a v a m n o Fios Sanctorum l e itu r a e d i f i c a n t e p a r a s u b s tit u i r
o u t r a s m e n o s p r o v e ito s a s , c o m o e x p l i c i t a m e n t e se d e c la r a n o c ó lo f o n .
r e p r o d u z i d o e m q u a d r o , a d ia n te . E n tr e 1511 e 1513, e r a a r c e b i s p o d e
B r a g a D. D io g o de S o u s a ( 1 5 0 5 - 1 5 3 2 ) , c u j a a c ç ã o r e f o r m a d o r a e m
B r a g a é s o b e j a m e n t e c o n h e c i d a . N o c a m p o r e l i g i o s o - c u l t u r a l , D. D io g o
d e S o u s a m a n d o u i m p r im ir e m S a l a m a n c a o Breviário Bracarense
( 1 5 1 1. r e i m p r e s s o e m 1528), o M issal ( 1 5 1 2 ) e u m a Arte de R ezar as
H oras Canónicas ( 1 5 2 1 ) , c u j a c o m p o s i ç ã o e n c a r r e g o u a um c o l a b o r a ­
d o r 7\ M a s j á n o P o rto , o n d e o c u p a r a a c a d e i r a e p i s c o p a l e n t r e 1496 e
1505. e s te a r c e b i s p o d e r a p r o v a s d e a t r i b u i r o d e v i d o v a lo r à n o v a arte
t ip o g r á f ic a , m a n d a n d o i m p r i m ir as C o n s t i t u i ç õ e s d a d io c e s e , e m 4 de
J a n e i r o d e 1497, a o i m p r e s s o r p o r tu g u ê s R o d r i g o A l v a r e s 77. A i n d a no
m e s m o a n o , a 25 d e O u tu b r o , o im p r e s s o r p o r t u e n s e t r a d u z iu d o c a s t e ­
lh a n o e im p r im i u a o b r a a tr ib u íd a a G u i l h e r m e P a r i s i e n s e Postilla
super epistolas et evangelia. q u e , na tr a d u ç ã o c a s t e l h a n a d e G o n ç a l o
G a r c ia d e S a n ta M a r ia , to m o u o títu lo E vangelios y E pistolas , e foi
im p r e s s a e m 1485, e m S a r a g o ç a , p o r P a u lo H u r u s 7*. R o d r i g o A lv a r e s
u so u c o m o m o d e l o a tr a d u ç ã o de G . G. d e S a n t a M a r ia , n a e d iç ã o de
1493 de S a la m a n c a , p a r a i m p r im ir o s s e u s E vangelhos e E pistolas com
suas exposições em romance 79. O c o n f r o n t o e n t r e o c ó l o f o n d e s t a
i m p r e s s ã o de R o d r ig o A lv a r e s e o c ó l o f o n d e F, m o s t r a q u e o t r a d u t o r
d o Fios Sanctorum c o n h e c e u a t r a d u ç ã o d e G. G . de S a n t a M a r i a d a
o b r a d o P a r i s ie n s e e q u e a c o n h e c e u na t r a d u ç ã o e i m p r e s s ã o de
R o d r i g o A lv a r e s :

P. X isto Figueira (cf. COSTA, “Sousa, D. D iogo de").


77 Constituições que fez ho Senhor Dom Diogo de Sousa Bispo do Porto. Porto,
R odrigo Á lvares, 1497 (H A EBLER. Bibliografia, nu 169(5): Os Incunábulos das
Bibliotecas Portuguesas. n° 1503).
711 V. Bibliografia Geral Portuguesa. 1, p. 230 e segs.
w Os Incunábulos das Bibliotecas Portuguesas, n" 818.
a F L O S S A N C T O R U M DE 15 13 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 557

Evangellos e Epistolas, Evangellos e Epistolas, F


Salam anca, 1493 “ Porto, R odrigo A lvares.
1497 “
...la qual obra se fizo a fim A qual obra se fez a fym Ha qual obra foy feita e
que los que la legua latina que os que a lingoa latina tresladada a fym que os
ignoran. no sean priuados nõ eintede nõ sejã priua­ que a lengua latina nom
de tan excellcnte y mara- dos de tam exçellente 7 entedem. nom sejam priu­
uillosa m arauilhosa ados de tam exçel lentes e
doctrina: qual fue la de doutrina, a qual foy a de m arauilhosas
ch risto nuestro red ep to r C hristo nosso redem ptor vidas e exem pros.
escripta en los euangelios. escripta nos euangelhos.
y por que cada uno E por cada huum estando
retraydo en su casa. d es­ em sua casa despenda lio Et p or que cad a liuu
penda e! tiem po ante en tem po antes em leer tam estando em sua casa d e s­
leer tan altos m istérios: penda o tepo em leer tam
altos m istérios exçellentes e sanctas vidas
e exem pros
que en o tro s libros de que em outros liuros de que outras ystoreas vaãs ou
poeo fruto... pouco fruyto. liuros de pouco frueto.

A d e p e n d ê n c ia d e F é e v id e n te , a b s tra in d o d a a d a p ta ç ã o q u e f a z ao
g é n e r o d a o b r a . q u e j á não tra ta v a d os altos m isté rio s da d o u tr in a do s
e v a n g e l h o s m a s sim d o s e x c e le n te s e x e m p lo s d a s v id a s d o s san to s. A
m a io r p r o x im id a d e d a tr a d u ç ã o de R o d rig o A lv a re s é visív el n os lu g a re s
a s s in a la d o s a neg rito. D. D io g o d e So u sa , o a r c e b is p o q u e e m 1513 m a n ­
dou im p rim ir um Fios Sanctorum em B raga (se d e r m o s c r é d ito a Fr. L u ís
de S o u sa ), c o n h e c ia b e m o im p re sso r R o d rig o A lv a re s d o P o rto e a p r e ­
se n ta -se c o m o o v e íc u lo m a is provável do c o n h e c im e n to pe lo t r a d u to r de
F d a o b r a d o im p r e s s o r p o rtu e n se. T odo s e stes e le m e n to s , a c re s c id o s da
re la ç ã o d e a m iz a d e q u e ligava D. D io g o de S o u sa a D. M a n u e l *2, a p o n ta m
para a su a p ro v á v e l c o la b o r a ç ã o na e d iç ã o d o Fios Sanctorum d e 1513.
M a s, n o e x e m p la r ú n ic o d e q u e hoje d is p o m o s , a p e n a s se a p r e s e n ta
e x p lic ita m e n te o p a tr o c ín io d o rei, ta n to no ro sto c o m o no c ó lo f o n , e e m
n e n h u m lu g a r se m e n c io n a a p a rtic ip a ç ã o do a rc e b is p o d e B ra g a . A ssim

*' E xem plar de U psala. reproduzido por Haebler. apucl Bibliografia Geral Portu­
guesa, p. 235.
" C ólofon dos Evangelhos e Epistolas (edição facsim ilada).
K Em 1505 é pelo rei enviado a Roma em m issão diplom ática e é a ele que deve a
sua elevação à dignidade episcopal de Braga (COSTA, "Sousa, D iogo de” ).
558 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

se n d o , c o m o teria F. L u ís de S o u sa c o n h e c id o , no séc. X V II, e s s a p a r tic i­


p a ç ã o ? M a is a in da , Fr.L u ís d e S o u s a sa b ia q u e “ o s a u to r e s " d o Fios
Sanctorum e ra m se c u la re s e n ã o d o m in ic a n o s 8i. D e d u z iu - o d o fa c to da
in te rv e n ç ã o d o a r c e b is p o o u teve ou tra s in f o r m a ç õ e s , q u e o d iz ia m ? Falta
a F o fl. A 2. e m q u e e sta ria c o n tid o o re sto d o p ró lo g o c o m e ç a d o no fl.
A “. D a m e s m a fo rm a que. na p rim e ira c o lu n a d o p r ó lo g o , o tr a d u to r p o r ­
tu g u ê s reg ista, n u m a in te rp o la ç ã o , a r e a liz a ç ã o d a tra d u ç ã o p a ra p o r tu ­
g u ê s (“ E a g o ra e s s a m e s m a foy tra s la d a d a de c a s tilh a n o c m le n g o a g e m
p o r tu g u e e s ...” ) na d a nos g a ra n te qu e , n o final d o p ró lo g o , n ã o tiv e sse
feito o u tra in te rp o la ç ã o p ara m e n c io n a r as c o n d iç õ e s e m q u e a tra d u ç ã o
p o r tu g u e s a foi feita, p o d e n d o aí ter feito re fe rê n c ia à p a r tic ip a ç ã o d o a r c e ­
b is p o de B rag a . U m in d íc io m aterial p e rm ite a p o ia r a in d a o u tr a h ip ótese.
O fl. AIO, ú ltim o fólio d o m aterial in tro d u tó rio , te m m e d id a s d e c o m p o ­
siç ã o d if e re n te s d as q u e se o b s e r v a m no resto d o q u ín io inicial. A p a rtir
d o fl. A IO m u d a o n ú m e r o m é d io de linhas, a la rg u ra m é d ia da c o lu n a , a
a ltu ra m é d ia d a m a n c h a e a altura m é d ia d a m a n c h a + linha de títu lo +
linha de d ire c ç ã o . E ste fólio co nstitui p a r c o n ju g a d o c o m o fólio A. q u e
c o n té m o ro sto e, no v erso, o pró lo go. E ste p a r c o n j u g a d o d e v e rá te r sid o
c o m p o s to p o r u m c o m p o s ito r d ife re n te d o q u e c o m p ô s os re sta n te s p ares
da série de a ss in a tu ra s p re lim in a re s, o que a p o ia a h ip ó te s e q u e a g o ra
ap re se n to : o Fios Sanctorum de 1513 p o d e te r s id o im p re sso c o m d o is
ro s to s d ife re n te s. A q u e le q u e c o n h e c e m o s n o e x e m p la r ú n ico, o n d e se
m e n c io n a a p e n a s o p riv ilé g io real, d e s tin a d o à " e x p o r ta ç ã o ” d o l e g e n d á ­
rio, e o u tro o n d e se m e n c io n a ria a p a r tic ip a ç ã o d o a r c e b is p o d e B ra g a ,
d e s tin a d o a o u so na d io c e s e c u ra d a p elo a r c e b is p o . S e n d o as m e d id a s do
fl. A IO igu ais às d o re sto d a e d iç ã o , n ã o é de s u p o r q u e a r e - c o m p o s iç ã o
d o p a r c o n ju g a d o te n h a sid o feita m u ito d e p o is d a im p r e s s ã o d a o bra.
P ode im a g in a r-se a se g u in te se q u ê n c ia : um c o m p o s i to r fez a c o m p o s iç ã o
d o q u ín io inicial, c o m o m aterial in tro d u tó rio , c o m p o n d o um r o s to que
m e n c io n a v a o a rc e b is p o de B raga; o u tro c o m p o s ito r c o m p ô s to d o o Fios
Sanctorum , c o m m e d id a s diferentes. N o final, e ste ú ltim o c o m p o s ito r foi
e n c a r r e g a d o de re fa z e r o p a r c o n ju g a d o q u e c o n tin h a o ro s to e fê -lo
s e g u n d o as m e d id a s q u e tin h a u tiliz a d o até aí. p r o d u z in d o as d ife r e n ç a s

Fr. Luís de Sousa, ao referir-se à Vida de S. G onçalo que está "cm hum Fios
Sanctorum , que os A rcebispos antigos de Braga m andarão im prim ir" afirm a que "os auto­
res d 'aqu ella escritura. (...) erão. seculares, c por isso ignorantes da particularidade de |sua)
R eligião" (SO USA . História. II. p. 182). ou seja da religião do santo dom inicano. Note-se
que "seculares" deve referir-se a membros do clero secular (clérigos) e não a leigos.
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 559

a ss in a la d a s . R e s ta - m e le m b r a r q u e não é in édito o fa c to de u m a m e s m a
im p r e s s ã o a p r e s e n ta r d o is r o s to s d ife re n te s M.
A d m itin d o a h ip ó te s e e x p o s ta d a p a rtic ip a ç ã o de D. D io g o d e S o u sa ,
a d m ite -s e q u e este te ria e s c o lh i d o a lg u m d os seus c ó n e g o s p a ra c u m p r ir a
m issã o d e t r a d u z ir o Fios Sanctorum e fa z e r as a d p ta ç õ e s n e c e s s á r ia s à
a d iç ã o d e a lg u m a s v id a s de sa n to s, a u se n te s da v e rsã o c a s te lh a n a e j u l g a ­
da s im p o rta n te s. D. D i o g o de S o u s a co m facilidade p o d e r ia te r in d ic a d o
a o seu c o l a b o r a d o r o Fios Sanctorum de P au lo , p o is m a n te v e c o m os
c ó n e g o s d o C o n v e n to de V ilar ó p tim a s relaçõ es, f a v o r e c e n d o - o s e c u s t e ­
a n d o a c o n s tr u ç ã o d a c a p e la - m ó r d a igreja d o C o n v e n to s5. A lg u n s a n o s
a n tes, D. D io g o d e S o u s a p re sid ira no Porto à tra s la d a ç ã o so le n e d a s r e l í ­
q u ia s d e S. P a n ta le ã o de M ir a g a ia p ara a Sé. N ã o d e ix a r ia , p o r isso, de
r e c o m e n d a r a o seu c ó n e g o q u e n ã o se e sq u e c e ss e de in c lu ir S. P a n ta le ã o
nas a d iç õ e s fina is e p o d e r ia m e s m o e s ta r e m boas c o n d iç õ e s d e lhe f a c u l ­
ta r o te x to u sa d o c o m o fonte. E s te n ão foi a c tu a liz a d o c o m o re la to da
tra s la d a ç ã o p a r a a S é p o r q u e o tra b a lh o ficou a c a r g o de u m tr a d u to r q u e ,
n o u tro s te x to s , d e u s o b e ja s p ro v a s d e se ter lim ita d o a c o p ia r f o n te s de
fo r m a r e la tiv a m e n te passiva . N a V ida de S. F ru tu o so , c o lh id a p r o v a v e l ­
m e n te em P a u lo de P o rta le g re , o c o m p ila d o r ta m b é m n ã o a c tu a liz o u a
lo c a liz a ç ã o d a s re líq u ia s , n a d a d iz e n d o s o b re o r o u b o de D io g o G c lm ir e s
e c o n se rv a n d o p assiv am e n te o falso presente do Indicativo relativo à p re­
se n ça do c o rp o e m Braga. Parece ter-se apenas p re o c u p a d o e m fa z e r a d a p ­
tações actu alizan tes nas ad iç õ e s qu e ele próprio traduziu, c o m o a Vida de S.
A na, onde, m e s m o assim , as fez im p erfeitam ente, d e ix a n d o e s c a p a r alg uns
ele m e n to s relativo s à estru tu ra e x tern a da obra de R obles V ê-se, nesta tra ­
duç ã o . qu e q u e m a fez e sta v a p o u c o f am iliarizado c o m a lin g u a g e m m ística
e c o m as do utrinas conc re ta s assum id as por franciscanos e d o m in ic a n o s

w É o caso, por exem plo, da obra de Fr. Estêvão Sam payo. im pressa em Paris em
1586, de que existem dois exem plares na BNLisboa, que apresentam , cada um deles, títu ­
los diferentes, que resultam da substituição da folha de rosto num dos exem plares:
Triumphus Chrislianus Romanos Cunctos obscurans (Res. 6201 P) e Thesaurus Arcanus
Lusitanas Gemmis Refulgens (Res.4715 P). Ambas as folhas de rosto são assinadas por
Tomás Perier, im pressor parisiense e datadas de 1586, apesar de apresentarem diferentes
marcas de im pressor. No verso, a form ulação do índice difere e o segundo dos ex em p la­
res apresenta a mais um a licença. No resto, os exem plares são iguais, com os m esm os
tipos, m esm as assinaturas e todos os outros elem entos tipográficos, não havendo, ap aren ­
tem ente, razão para crer que não sc trate de uma mesma edição, com um a diferente folha
de rosto.
*' SANTA M A R IA , O Céu Aberto , p. 376.
* V. SO BRA L, Adições, p. 542.
560 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

r e la tiv a m e n te à Im a c u la d a C o n c e iç ã o ” , o q u e d e p õ e a f a v o r d o perfil
se c u la r d o tradutor. T a m b é m n o u tro te x to q u e d e v e te r sid o tra d u z id o po r
ele. a V ida de S. M a rç a l, se nota a o r ie n ta ç ã o pa sto ra l e e v a n g é l ic a d a
r e f u n d iç ã o , e m d e trim e n to da faceta m a is m o n á s tic a da v id a d o sa n to , o
q u e a p o n ta ig u a lm e n te para o perfil s e c u la r d o tradutor.
Q u a n d o c o m p ilo u fon tes, lim ito u -se , p e lo m e n o s n a lg u n s c a s o s, a
c o p ia r p a s s iv a m e n te , n u m tra b alh o p o u c o c u id a d o , e m q u e s o b re v iv e r a m
as re m is s õ e s sem refe re nte (para a p a ix ã o d o s m á rtire s de M a r r o c o s na
V id a de S. A n tó n io e p ara u m a P rim e ira P a rte na tr a s la d a ç ã o de S.
V icente), v o c a tiv o s e figuras (o P. B a ptista ) d e s c o n h e c i d o s e o d is c u r s o na
prim e ira p e s so a (na Vida de S. A n tó nio). Q u a n d o tra d u z iu u so u c rité rio s
d ife r e n te s p ara a tr a d u ç ã o (literal) de u m a lín g u a p r ó x im a (o c a s te lh a n o
n a V ida d e S. A n a e nos sa n to s não a c re s c e n ta d o s ) e p a ra o latim (n a V ida
de S. M a rç a l), q u e refu nd iu .
G lo b a lm e n te , nos tex to s tra d u z id o s do latim e n c o n tr a m o s c rité rio s de
tra d u ç ã o d if e r e n te s n as V idas de E u lá lia e P a n ta le ã o , r e la tiv a m e n te aos
re s ta n te s textos. E n q u a n to nestes do is ex iste u m e le v a d o g ra u de literali-
da d e e p ra tic a m e n te n e n h u m a in te n ç ã o de re d u z ir a d i m e n s ã o d o texto,
no s o u tro s p r e d o m in a a re fu n d iç ã o e a abbreviatio foi se m p r e c rité rio
im p o rta n te . M e s m o e m textos que fo r a m c e r ta m e n te tr a d u z id o s p o r d i f e ­
re n te s tra d u to re s (p o r e x e m p lo a V ida de Isab el d e H u n g ria e a de
A n tó n io ) e n c o n tr a m - s e critérios de tr a d u ç ã o c o m u n s , o q u e in d ic a e s t a r ­
m o s p e r a n te u m a tra d iç ã o de p rá tic a d e tra d u ç ã o d e tex to s, re la tiv a m e n te
à q u al as tra d u ç õ e s de E ulá lia e P a n ta le ã o c o n s titu e m j á u m a e ta p a d if e ­
rente. A s sim , e te n ta n d o u m a s is te m a tiz a ç ã o d o s c rité rio s, p o d e m o s d iz e r
que o s tr a d u to re s p r o c u ra m c u m p r ir fu n d a m e n ta l m e n te q u a tr o o b je c tiv o s:

I o R e d u z ir a d im e n s ã o d o texto, de fo rm a a c a p ta r a a te n ç ã o d o
público. E sta re d u ç ã o d e te r m in a a e lim in a ç ã o de p o r m e n o r e s ,
e p is ó d io s e p e r s o n a g e n s se c u n d á r io s ou m a r g in a is à h istó ria e
fa c to s d e v a lo r se m e lh a n te a o u tro s c o n s e r v a d o s ss. D e te r m in a
ta m b é m a prática d a sín tese e c o n c e n tr a ç ã o d ie g é tic a .
2o T o r n a r o te x to m ais c la ro e c o m p r e e n s ív e l. P ro c u r a - s e a a c t u a l i ­
z a ç ã o d o se n tid o e da in fo rm a ç ã o d o te x to e a su a e x p lic a ç ã o ,
a tra v é s d e in ova ç õ e s c la rific ad o ras. P r o c u r a - s e a in d a u m a certa
v u lg a r iz a ç ã o d o d isc u rso , sim p lific a n d o o u e lim in a n d o o d isc u rs o
te o ló g ic o e ex e g ético .

” V. SO BRA L. Adições, pp. 544-545.


M O exem plo mais flagrante é a conservação de apenas alguns m ilagres de uma
série e a elim inação de todos os restantes.
O / L O S S A N C T O K t M DE 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 561

3° T o r n a r o te x to a g r a d á v e l, r e fo rç a n d o a c o e r ê n c ia d a n a rra tiv a e
a c e n tu a n d o a su a d r a m a tic id a d e . a c r e s c e n ta n d o e fe ito s e stilís tic o s
e p ro m o v e n d o a in te n sific a ç ã o no d isc u rs o , r e c o r r e n d o à a m p l i f i ­
c a ç ã o e às d u p lic a ç õ e s.
4" A s s e g u r a r a e x e m p la r i d a d e d o te xto, p r o m o v e n d o e x p l ic ita m e n te
v a lo re s d o u tr in a is ou m o ra is e r e fa z e n d o (ou re to c a n d o ) o re tra to
das p e r s o n a g e n s e m o rd e m a ce rto s v a lo re s ou o r ie n ta ç õ e s e s p i r i ­
tuais c o n c r e ta s (qu e p o d e m d ife rir da d o te x to latino).

E stes c rité r io s d e n o ta m u m a c la ra o rie n ta ç ã o da tr a d u ç ã o d e n a r r a t i ­


vas h a g io g r á f ic a s n o séc. X V e início d o X V I p a ra um p ú b lic o leigo. A
m e n o r im p o r tâ n c ia d a d a à v e rd a d e h istó ric a (p a te n te s o b r e tu d o nas re fu n -
d iç õ e s a trib u ív e is a P a ulo de P o rta le g re ) e a c la ra s o b r e p o s iç ã o d e um c r i ­
té rio n a c io n a lis ta m o s tr a m q u e , no final d o séc. XV, se p r o c u r a s o b r e tu d o
o v a lo r e x e m p la r d a n a r ra tiv a h a g io g rá fic a , q u e se e n c o n t r a ta m b é m , na
v ira g e m d o sé c u lo e m q u e se e x p lo r a rã o c o n s c ie n te m e n te o s e l e m e n t o s da
id e n tid a d e p o r tu g u e s a , no c e n tr o da b u sc a de v alo res a u tê n tic o s n a c i o ­
nais. Isso n ã o sig n if ic a q u e se tenh a p o sto de parte o epos h a g io g r á f ic o
tip ic a m e n te m e d ie v a l, c o m o m o s tr a a r e fu n d iç ã o da V ida de S. C la ra ,
o n d e se privileg io u u m retrato de santa tradicional, e m d e trim e n to d a sua
n o v id a d e franciscana, e a refu nd ição da Vida de S. G a n g o lf o (aliás,
G o ld o fre ), o n d e se a p ro x im a o perfil d o m ártir d a e p ic id a d e d o s heróis das
p erse g u iç õ e s, fu n d a d o re s d o C ristianism o. E m 19 textos a c re s c en ta d o s, 9
são sobre m ártires, o q u e m ostra b e m a im po rtân cia qu e o m a rtírio c o m o
m o d e lo de sa ntid a de c o n tin u a v a a ter na e sp iritu alid ade da é p o c a . N ã o há,
po rtanto, fractura e n tre o u niverso espiritual e h a g io g rá fic o m e d ie v a l e
aqu ele a que a c o m p ila ç ã o de 1513 se dirige. Pelo con trário , j u lg o qu e a
e s c o lh a feita pelo c o m p ila d o r atesta um m o m e n to de síntese c m q u e se
reú ne a h e ra n ç a e spiritual m e diev al para direccion á-la no futuro, p o ten c i-
a nd o os seus prin c ip a is v ecto res p ara o c o n fro n to c o m novas re a lid a d e s e
r e s p o n d e n d o a n o v a s p re o c u p a ç õ es, que estão no c e n tro da vida deste p e ­
ríodo. A análise da história d o culto dos 19 santos revela q u e tod os eles se
a c h a v a m p a rtic u la rm en te activ os no final d o século X V e na d é c a d a
seguinte. É sig nificativo o facto de se registar um g ru p o de textos sob re s a n ­
tos in v ocado s na p ro te c ç ã o da peste: S. R oque. S. A na. e talv ez S. C lara. S.
A na rep re sen ta ain da u m a n o v a devo ç ã o , que caiu e m m o d a e sp e c ia lm e n te
neste p e río do e q u e e stev e no centro de g ran des d isc u ssõ e s te o ló g ic as m.

■" Sobre a discussão do dogm a da Im aculada C onceição de M aria e o culto a S. Ana


v. SO BRA L. Adições , pp. 491-499.
562 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A M E D I EV A L

O u tr o g r u p o dc s an to s e stá no c e n tr o da s d e v o ç õ e s lig a d a s à vida m a r í ­


tim a: S. V icente, S. E r a s m o e S. P ed ro G o n ç a lv e s , p a d r o e ir o s d o s m a r e ­
an tes; S. G e r a ld o , S. C lara, San to s V eríssim o. M á x im a e Jú lia, ta m b é m
in v o c a d o s e m situ a ç õ e s de te m p e s ta d e m a rítim a ; e S. P a n ta le ã o que ,
e m b o r a n ã o tiv e sse d ire c ta m e n te a ver c o m o s n a v e g a n te s a não s e r n a
e tim o lo g ia d o seu n o m e e x p licita d a p e lo a n jo n o final d a passio, a c a b a
po r ser, no re la to d a tra sla d a ç ão , ta m b é m de a lg u m m o d o a s s o c ia d o à vida
m a rítim a e ao s o c o rro nas te m p e sta d e s, a lé m da h istó ria d o seu c u lto e m
M ira g a ia e sta r re la c io n a d a c o m a a c tiv id a d e n aval de u m a c o m u n id a d e
ribeirinh a.
O u tr a o r ie n ta ç ã o na e sc o lh a d o s sa n to s a a c r e s c e n ta r te rá sid o p r iv i ­
legiar um m o d e lo d e sa n tid a d e m o d e rn o , o d o s sa n to s m e n d ic a n te s d o séc.
XIII, tã o c a ro ao s reis e rainh as d o final da Idade M é d ia : Isabel de
H u n g ria , C la ra . A n tó n io . G o n ç a lo e P e d ro G o n ç a lv e s . A lé m d e s te s c r ité ­
rios d e fu n c io n a lid a d e m o d e rn a , de a c tu a lid a d e c u ltu a l e d e v o c io n a l, não
há d ú v id a q u e o c o m p ila d o r de 1513 te v e ta m b é m e m c o n ta a tra d iç ã o ,
p r o c u r a n d o d e ix a r r e p re s e n ta d o na sua e s c o lh a o to d o n a c io n a l, no c o n ­
ju n t o d o s sa n to s p a d ro e iro s das suas m a is im p o r ta n te s d io c e s e s: L is b o a é
r e p re s e n ta d a pe los m á rtire s V e ríssim o, M á x im a e Júlia, V icen te e Iria,
alé m de S. A n tó n io : B rag a tem re p re s e n ta d o s o s se u s sa n to s tu te la re s , o
m á rtir V íto r e o s a rc e b isp o s F r u tu o s o e G e ra ld o , a lé m d o b is p o S. M arçal.
v e n e r a d o na d io c e s e d e s d e o séc. X II. e de S. G o n ç a lo , c u jo c ulto , até ao
séc. X V I, era um c u lto reg io nal da d io c e s e ; É v o r a é re p re s e n ta d a pelo s
seus m á rtire s Vicente, S ab in a e C ris te ta e o P o rto p e lo p a d r o e ir o S.
Pan ta le ã o . O n ú m e ro c o n sid e rá v e l de m á rtire s a c r e s c e n ta d o s p e lo c o m p i ­
la d o r refle cte c la ra m e n te um a certa p r e o c u p a ç ã o c o m as o rig e n s e a h i s ­
tória d a s d io c e s e s e a v ariedade da s igrejas r e p r e s e n ta d a s refle cte u m a
c e rta c o n c e p ç ã o un itária d o país. U m s a n to fog e à c la re z a d e s te critério :
S. G o ld o f r e c o m o r e p re s e n ta n te de C o im b ra . D e facto, c a u s a e s tr a n h e z a a
a u s ê n c ia d e o u tro s sa n to s im p o rta n te s d a q u e la d io c e se : falta S. T e o tó n io
e fa lta m o s M á rtire s d e M a rro c o s , d o is c u lto s v iv o s n o séc. X V e in íc io
d o X V I. A a u s ê n c ia d o s m ártires fra n c is c a n o s é ta n to m a is e s tr a n h a
q u a n to s a b e m o s q u e o c o m p ila d o r de 1513 d is p ô s d e u m a fonte (o Fios
Sancionou de P a u lo de P o rta le g re ) qu e c o n tin h a e s te s m ártires.
S e m e n c o n tr a r e x p lic a ç ã o sa tisfa tó ria p a r a a p o u c a im p o rtâ n c ia qu e
os c u lto s c o im b r ã o s p a re c e m ter tid o n o c r ité rio de se le c ç ã o de fontes,
j u lg o q u e d e la se p o d e d edu zir, p elo m e n o s , a a u s ê n c ia de q u a lq u e r r e la ­
ç ã o d o c o m p ila d o r c o m esta d io cese.
E u lá lia d e B a rc e lo n a é o u tro c a s o de não fácil e x p lic a ç ã o . A a n u la ç ã o
da sua h o m ó n im a d e M é rid a é difícil de c o m p r e e n d e r, p o r se tra ta r da
O / - L O S S A N C T U R U M DE 1513 E S U A S A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 563

m ais v e n e ra d a d a s d u as . T e n d o em c o n ta qu e a liturgia e b o r e n s e p a re c e ter


d a d o um c e r to d e s ta q u e à m á rtir d e B a rc elo n a , p o d e r -s e - ia p o s tu la r
a lg u m a r e la ç ã o d o c o m p il a d o r c o m a q u e la d io c e se . N o e n ta n to , o s livros
litú rg ic o s de É v o r a n ã o e s q u e c e m E u lá lia de M é rid a . n ã o se v is lu m b r a n d o
p o r q u e r a z ã o u m c o m p il a d o r re la c io n a d o c o m É v o r a a o m itiria . E ste s
d o is c a so s . G o ld o f r e e E u lália. m o s tra m b e m c o m o às te n ta tiv a s d e e x p l i ­
c a ç ã o q u e ho je p o d e m s e r te n ta d a s falta c e rta m e n te a c o n s i d e r a ç ã o d e f a c ­
tores irre c u p e ráv e is.

B ib lio g r a fia c ita d a a b r e v ia d a m e n t e :

BARRETO, João Franco, Bibliotheca Luzitana de Autores Portugueses, cópia da


BNL do exem plar m anuscrito da Casa Cadaval.

Bibliografia G eral Portuguesa. I: século XV, Lisboa, Academia das C iências de


Lisboa-Im prensa Nacional. 1941.

CARD O SO , Jorge, Agiologio Lusitano dos Sanctos e varoens illustres, Lisboa,


O fficina de H enrique Valente d'O liveira. 1657 (I, II); O fficina Cracs-
beckiana, 1662 (III); O fficina Sylviana. 1744 (IV, publicado por António
C aetano de Sousa).

Catálogo dos Códices da Livraria de mão do M osteiro de Santa Cruz de


Coim bra, coord. Aires do Nascim ento e José Francisco M eirinhos. Porto,
B iblioteca Pública M unicipal do Porto. 1977.

C FPED A . M aria Isabel Vilares. "O s livros da rainha D.Leonor", Revista da


Biblioteca N acional, série 2. vol.2 (Jul-Dez 1987). pp. 51-81.

COQ, D.. “ Les «politiques éditoriales» des prem iers im prim eurs parisiens et lyo­
nais (1470-1485)”, Legenda Aurea: sept siècles de diffusion. Actes du colo­
que international sur la Legenda Aurea; texte latin et branches vernaculaires
à l'U niversité du Québec à M ontréal (11-12 mai 1983), sous la direction de
Brenda D unn-Lardeau. M ontréal-Paris, Édition Bellarm in-Librairie J.Vrin,
1886. pp. 171-182.

Corpus Antiphonalium O fficii. IV, editum a Renato-Joanne H esbert. Roma, Casa


Editrice Herder, 1970.

COSTA, Avelino de Jesus da. C alendários Portugueses M edievais, tese de licen­


ciatura apresentada à Faculdade de Letras da U niversidade de Coim bra,
1950.

COSTA. Avelino de Jesus da, “ Importante breviário bracarensc de meados do


século XV". D idaskalia. 25 (1995). pp. 47-56.
564 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

COSTA, Avelino de Jesus da. "Santa Iria e Santarém: revisão de um problema


hagiográfico e toponím ico". Revista Portuguesa de H istória, t. XIV, vol.3
(1974), pp. 1-63, 521-530.

COSTA, Avelino de Jesus da. "Sousa. Diogo de (14617-1532)” , D icionário de


História de Portugal. I, dir. por Joel Serrão, s.l.. Iniciativas Editoriais. 1963.

CRAVIOTTO. Francisco Garcia, Catalogo general de Incunables en Bibliotecas


Espaüolas, M adrid. M inistério de Cultura-D ireccion General dei Libro y
Bibliotecas. 1988.

CUNHA. Arlindo de M agalhães Ribeiro da. S. G onçalo de Amarante. Um vulto


e um culto, Vila Nova de Gaia, edição da Câm ara M unicipal. 1996.

CUNMA. D. Rodrigo da. Historia Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, edição


facsim ilada da edição de 1635, com nota de apresentação de José M arques.
Braga, s.e.. 1989.

DAVID, Pierre, Études historiques sur la Galice et le Portugal du Vie au XII e


siècle. Paris. Société d'édition Les Belles Lettres, 1947.

D ESLANDES, Documentos para a história da tipografia portuguesa nos sécu­


los XVI e XVII, 21 edição, facsimilada de de 1888. Lisboa, Imprensa
Nacional-C asa da M oeda, 1973.

DIAS. João José Alves. "O s primeiros im pressores alem ães em Portugal". No
Quinto C entenário da Vita Christi, Lisboa, Instituto da B iblioteca Nacional
e do Livro, pp. 15- 27.

ESPERA N ÇA , Fr. Manuel da. Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores
de S. Francisco na P rovinda de Portugal. Lisboa, na officina Craes-
beeckiana, 1656.

FERREIRA, José Augusto, Estudos histórico-Htúrgicos. Os ritos particulares


das Igrejas de Braga e Toledo. C oim bra. Coim bra Editora, 1924.

FLEITH, Barbara. Studien zur U berlieferungsgeschichte der lateinische Legenda


Aurea. Bruxelles, Société des Bollandistes, 1991.

FOLZ, Robert, Les saintes reines du Moyen Âge en Occident ( Vie-XIIle sèclesj,
Bruxelles, Société des Bollandistes, 1992.

FREIRE, G eraldes, "A spectos literários da Vita Sancti G eraldi". A d a s do


Congresso Internacional do IX Centenário da Sé de Braga, I, Braga,
Universidade Católica Portuguesa-Faculdade de Teologia de Braga. 1990,
575-579.
O H L O S S A N C T O R U M DE 1 5 1 3 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 565

GO N ZÁ LEZ G A R CÍA , Miguel Ángel, "B raga e Astorga: de la dependencia a la


vinculación en la devoción a San Frucluoso y otros santos bracarenses".
Actas do Congresso Internacional do IX Centenário da St1 de Braga. I,
Braga, U niversidade Católica Portuguesa-Faculdade de Teologia de Braga.
1990. pp. 597-609.

GRII FIN. C live. Los Crom berger: la historia de una imprenta del siglo X VI en
Sevilla v M éjico, M adrid. Ediciones de Cultura Hispânica, 1991.

H AEBLER. Konrad, Bibliografia Ibérica dei siglo XV: enumerat ion de todos los
Hbros impresos en Espana y Portugal hasta el ano de 1500. La Haya-
l.eipzig, M artinus Jijhoff-K arl W .Hiersemann. 1903.

lacopo da Varazze, Legenda Aurea, edizione critica a cura di G iovanni Paolo


M aggioni, seconda edizione rivista dall'autore, Firenze. Sism el-Edizioni del
G alluzo, 2000.

Incunábulos (Os) das Bibliotecas Portuguesas, l-II. coord. e org. M aria Valentina
Sul M endes. Lisboa, Secretaria de Estado da C ultura-lnstituto da Biblioteca
Nacional e do Livro. 1995.

Jacobi a Voragine. Legenda aurea. vulgo Historia Lombardica dicta, ad optim um


librorum fidem recensuit Dr. T héodor Frutuosoe G raesse. D rcsde-Leipzig.
1846.

"Legenda B. Petri C onfessoris, O rdinis Praedicatorum ”, in FLOREZ. Enrique,


Espana Sagrada, t. XXIII. M adrid. António Marin, 1767. pp. 131-176. 245­
-289.

M AGGIONI. Giovanni Paolo, Riccrche sulla com posizione e sulla trasm issione
delia «Legenda A urea». Spoleto, C entro Italiano di Studi sulFA Ito
M edioevo. 1995.

M ARQUES. A. H. O liveira, “ A lem ães e im pressores alem ães no Portugal de


finais do século XV", No Quinto Centenário da Vila Christi, Lisboa,
Instituto da B iblioteca Nacional e do Livro, 1995, pp. 11-14.

MARQU1LHAS, Rita, “T ipografia". D icionário de Literatura M edieval Galega


e Portuguesa, org. e coord. por G iulia Lancini e Giuseppe Tavani. Lisboa,
Cam inho, 1993.

MARTINS, M ário. "O s fragm entos da «Legenda Aurea» em m edievo-portu-


guês". Itinerarium . ano VII, Jan-M ar, 1962. pp. 47-51.

MARTINS. M ário, "A legenda dos Santos M ártires Veríssimo, M áxima e Júlia do
eó d .cv /l-2 3 d ., da Biblioteca de Évora”, Revista Portuguesa de H istória. 6
(1955). pp. 45-93.
566 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I EV A L

M ARTINS, M ário. “O «Livro e legenda dos Santos M ártires» e o Fios


Sanctorum de 1513", Estudos de Cultura M edieval, I. Lisboa, Verbo. 1969,
pp. 269-280.

M ARTINS, Mário. "O original em castelhano dos Flos Sanctorum de 1513",


Estudos de Cultura M edieval. 1. Lisboa. Verbo. 1969. pp. 255-267.

M ÁRTIRES. Estim ulo = MÁRTIRES, Fr. Bartolomeu dos. Obras Completas.


vol. VIII: Estimulo de Pastores, tradução por M anuel Barbosa Pinto e
António Freire, introdução e notas por Raúl Alm eida Rolo. Porto, M ovi­
mento Bartolomeano, 1981.

M ÁRTIRES. D. Tim óteo dos. Crónica de Santa Cruz. I-III, Coim bra. Biblioteca
M unicipal. 1955. 1958, I960.

MATTOSO, José, “Le Portugal de 950 à 1550” , H agiografies. Histoire interna­


tionale de la Littérature hagiographique latine et vernaculaire en Occident
des origines à 1550, II, sous la direction de G uy Philippart. Tum hout.
Brepols, 1994. pp. 83-102.

NASCIM ENTO, Aires Augusto, “Um traço singular em textos hagiográficos bra-
carenses medievais: a 1“ pessoa verbal” , Theologica. II série, vol. XXXV,
fase. 2 (2000), pp. 589-598.

NASCIM ENTO, Aires Augusto. GOM ES. Saul António, S. Vicente de Lisboa e
seus M ilagres M edievais, Lisboa, Edições Didaskalia, 1988.

NORTON. F. J., A descriptive catalogue o f printing in Spain and Portugal (1501-


•1520), Cam bridge, University Press, 1978.

O LIV EIRA . Miguel de. Lenda e História-Estudos H agiográficos, Lisboa, União


G ráfica, 1964.

PEREIRA, A ugusto Nunes, "O M osteiro de S. Pedro de Folques", Santa Cruz de


Coimbra do século X I ao século XX: estudos, Coim bra, s.e., 1984, 159-174.

PHILIPPART. Guy, Les Légendiers Latins et autres m anuscrits hagiographiques.


Turnhout, Brepols. 1977.

P.M.H. = Portugaliae M onumenta Histórica a saeculo octavo post Christum


usque a d quintum decim um . Volumen I: Scriptores, O lisipone. Typis acade-
m icis. 1856.

ROCHA, Pedro Romano, L'O ffice divin au M oyen Age dans l'É glise de Braga.
Paris, Fundação Calouste G ulbenkian-Centro Cultural Português, 1980.

ROLO. Raúl de Alm eida, Formação e Vida Intelectual de D. Fr. Bartolom eu dos
Mártires, Porto. M ovim ento Bartolomeano. 1977.
O F L O S S A N C T O R U M DE 1513 E S UAS A D I Ç Õ E S P O R T U G U E S A S 567

ROSA. Maria de Lourdes. "D os m endicantes aos m ísticos" (no prelo).

ROSA. M aria de Lourdes. "H agiografia". D icionário de H istó ria R elig io sa de


P o rtu g a l, dir. por C arlos M oreira Azevedo, Lisboa C írculo de Leitores.
2000.

ROSÁRIO, Fr.D iogo do. H isto ria das vidas e fe ito s heroicos e o b ra s in sig n es dos
sa n c to s. Braga. Antonio de M aris, 1567.

SANTA M ARIA. P. Francisco, O Céu A berto na Terra. H istó ria d a s S a g ra d a s


C ong reg a çõ es d os C ó n eg o s Seculares de S. Jorge em A lg a d e Venesa e d e S.
Jo ã o E va n g e lista em P ortugal. Lisboa, na officina de Manuel Lopes
Pereyra, 1697.

SANTA MARI A, Fr. N icolau de. C hronica da O rdem d o s C o n eg o s R eg ru n tes do


P atriarclia S. A g o stin h o , Lisboa, na officina de loam da C osta, 1668.

SHARRER, Harvey, “The life o f St. Eustace in Ho Flos sanctorum cm lingoagem


português (Lisbon. 1513)” , S a in ts a n d their au th o rs: S tu d ie s in M ed ieva l
H isp a n ic H a g io g ra p h y in h o n o u r o f Jo h n K. Walsh, M adison, 1990. 182­
-196.

SOBRAL. C ristina. A d iç õ es p o rtu g u e sa s no F los S a n cto ru m d e 151.1 <ed içã o e


estu d o ), tese de doutoram ento em Literatura Portuguesa apresentada à
Faculdade de Letras da U niversidade de Lisboa. 2001.

SO BRA L, C ristina. “ Um autor ignorado e a recepção da hagiografia no século


XV". O G énero do T esto M edieval, coord. por Cristina de Almeida Ribeiro
e M argarida M adureira. Lisboa. Edições Cosmos, 1997. 271-281.

SOBRAL, C rislina. “A vida de S. G onçalo de Amarante: hipóteses de datação e


autoria". A cta s d e l VI C o ngreso In tern a cio n a l d e la A so cia ció n H isp â n ica
d e L itera tu ra M ed ieva l, Alcalá de Henares, 1997. 1449-1456.

S o g en a n n te ( Der) L ib ellu s de d ictis q u a tu o r S. E lisa b eth a n cilla ru m co n fec tu s,


ed. por A lbert H uyskens, K em pten und M ünchen, Verlag der Jos.
K oscl'sehen Buchhandlung, 1911.

SO USA, Fr. Luís de. H istoria de São D om ingos, introdução por M .Lopes de
Alm eida. Porto, Lello e Irmão, 1977.

SO USA, Fr. Luis de, A Vida de D. Fr. B ertolam eu dos M ártires, introdução por
Aníbal Pinlo de C astro. Lisboa. Imprensa N acional-Casa da M oeda. 1984.

VEGA, Carlos. Im «Vida de San A lejo». Versiones ca stella n a s, Salam anca,


Universidad de Salam anca. 1991.
568 T E M A S DE I N V E S T I G A Ç Ã O EM H I S T Ó R I A R E L I G I O S A ME D I E V A L

Vida (La) de San Fructuoso, estúdio y edición crítica por Manuel Díaz y Dia/,
Braga, s.e., 1974.

VIEGAS. Arthur. Um códice português da Legenda Aurea: fragm entos duma


versão inédita do séc. XV. Lisboa. Tip. e Pap. José Soares e Irmão. 1916.

VINDEL. F.l arte tipográfico en Espana durante el siglo XV, I-IX. Madrid.
Ministério de Asunlos Exteriores-Dirección General de Relaciones
Culturalcs, 1945.

Você também pode gostar