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C A rg o n a u ta s do P a cífico O cid en ta l,
M alin o w sk i n ão re a liz o u a p e n a s
u m a a d iç ã o , e m b o ra s u b s ta n c ia l, à etn o
co m p lex o e m u ita s v ezes c o n tra d itó rio
de su a o b ra p ro v o c a a a d m ira ç ã o sin cera
e a c rític a im p ie d o sa que têm m a rc a d o
g r a f ia d a M elan e sia , m as p ro ced eu a to d a s a s a v a lia ç õ e s de su a c o n trib u iç ã o
u m a v e rd a d e ira re v o lu ç ão n a lite ra tu ra cien tífica. A e x tra o rd in á ria v iv acid a d e e
a n tro p o ló g ic a . p e n e tra ç ã o d a a n á lise e tn o g rá fic a colo
O c a rá te r in o v ad o r d a o b ra de M ali cam p ro b le m a s te ó ric o s d a m a io r re le
n o w sk i, ex e m p lifica d o n e ssa m o n o g ra fia v ân cia, que p erm an ecem hoje tão a tu a is
e no s tra b a lh o s que a su ce d era m , u ltr a com o no p a ssa d o . P o r o u tro lad o , a s ten
p a sso u de m u ito o círcu lo re s tr ito dos e s ta tiv a s de sis te m a tiz a ç ã o te ó ric a , esp e
p e c ia lis ta s em a n tro p o lo g ia . T alvez a p e c ialm en te com o a p a re c e m nos p o u co s en
n a s M o rg an (1 8 1 8 -1 8 8 1 ), a n te s d ele, e saio s que p u b lic o u sobre o m étodo
L é v i-S tra u ss (1 9 0 8 - ), d ep o is, ten h am fu n c io n a lista , d o is dos q u a is p ó stu m o s,
lo g ra d o u m a re p e rc u ssã o tão a m p la de e stã o e iv a d a s de c o n tra d iç õ e s in so lú v eis
seus tra b a lh o s , inclusive e n tre o p ú b lico e g e n e ra liz a ç õ e s a p re s s a d a s , que o b scu
leigo. recem o a lca n ce e a im p o rtâ n c ia d a s
No caso de M alin o w sk i, com o no dos q u e stõ e s le v a n ta d a s n o s tra b a lh o s e tn o
o u tro s d o is, a p o p u la rid a d e d a o b ra e g rá fico s. P o r isso , a a p re c ia ç ã o do que
seu sig n ificad o in o v ad o r re p o u sa m n a e x iste de vivo e p ro v o c an te n a su a o b ra
a p re s e n ta ç ã o de u m a n o v a "visão do h o só po d e ser fe ita a tra v é s d a le itu ra de
m em e n a in d icaç ão de u m a n o v a m a u m a de su a s m o n o g ra fia s, com o Os A r
n e ira de co m p reen d er o c o m p o rta m e n to g o n a u ta s do P a cífico O cidental.
hu m an o . Com os A rg o n a u ta s, d esfaz-se
d efin itiv am en te a v isão d a s so cied a d es As novas bases
tr ib a is com o fó sseis vivos do p a ssa d o do da antropologia
hom em , eq u iv ale n te s h u m an o s d a s p e
ç a s de m u seu , a g lo m e ra d o s de cren ça s e M alinow ski chegou à a n tro p o lo g ia
co stu m es irra c io n a is e d esco n ex o s. Os p o r c a m in h o s tra n sv e rso s. S u a fo rm ação
co stu m es e a s cren ça s de um povo e x ó in icial foi no cam p o d a s c iên c ias e x a ta s ,
tico a d q u ire m a g o ra p le n itu d e de sig n ifi te n d o o b tid o em 1 9 0 8 o d o u to ra m e n to
cad o e o c o m p o rta m e n to n a tiv o a p a re c e em físic a e m a te m á tic a p e la U niversi
com o aç ão coeren te e in te g ra d a . A etn o d ad e de C racó v ia, su a c id ad e n a ta l.
g ra fia a d q u ire a c a p a c id a d e de re c o n s N e ssa ép o ca, tin h a a p e n a s 2 4 an o s de
tru ir e tra n s m itir u m a e x p e riê n c ia de id ad e, p o is n a s c e ra n e ssa a n tig a cid ad e
v id a d iv e rsa d a n o ssa , m a s nem p o r isso p o lo n esa, a 16 de m aio de 1884.
m en os ric a , ou m enos h u m an a. De c o n stitu iç ã o fra n z in a , teve que in
OS PENSADORES MALINOWSKI
Em m en o s de trê s an o s, M alin o w sk i j á
era re co n h ec id o com o a n tro p ó lo g o p ro
m isso r e de g ra n d e s q u a lid a d e s in te le c
tu a is , ten d o p u b lic a d o tr ê s a r tig o s e um
I í v t o . Em 1 9 1 3 , com eçou su a c a rre ira
do cen te, ten d o m in istra d o , e n tre esse ano
e o seg u in te, d o is c u rso s n a L ondon
S chool o f E conom ics, com o L e c tu re r on
S p e c ia l S u b je c ts. N esse m esm o perío d o
tra v o u re la ç õ e s com os m a io re s a n tro p ó
lo g o s d a é p o c a com o S elig m an , H a d d o n ,
R ivers, F ra z e r e M a re tt. Com S elig m an ,
p a rtic u la rm e n te , m a n tin h a co n tato
m u ito e s tre ito , o m esm o ac o n tecen d o
tam b ém com W e ste rm a rc k , que p re fa
ciou seu p rim e iro liv ro , T he F a m ily
A m o n g th e A u stra lia n A b o ríg in es.
0 início d a c a r r e ir a de M alin o w sk i
coincide com u m p erio d o de g ra n d e efer
v esc ên cia n a a n tro p o lo g ia , c a ra c te ri
za d o pelo desen v o lv im en to de n o v as té c
n ic a s de p e s q u is a e p e la c rític a a o s
m éto d o s de in te rp re ta ç ã o vig en tes.
Até o fim do século X IX , a q u a se to ta
lid ad e dos a n tro p ó lo g o s ja m a is h a v ia se A sa ú d e p re c á ria o b rig o u M a lin o w s k i
q u e r v isto um re p re se n ta n te d o s c h a m a a a b a n d o n a r su a carreira no se to r d as
dos p o v o s p rim itiv o s so b re os q u a is ciên c ia s e x a ta s. E ele aca b o u com o
escrev iam . S eus tra b a lh o s b a se av am -se u m d o s m a io res n o m e s da a n tro p o lo g ia .
em m a te ria l h istó ric o e a rq u e o ló g ic o so (M a lin o w s k i ao se fo r m a r em C racóvia.)
b re a s c iv iliz a ç õ e s c lá ssic a s e o rie n ta is
e em in fo rm açõ es sobre so cied a d es t r i a im p o rtâ n c ia d a s in fo rm aç õ es o b tid a s
b a is c o n tid a s em r e la to s de v ia ja n te s, co p o r m eio de o b se rv a ç ã o d ire ta p a r a a r e -
lonos, m issio n á rio s e fu n c io n á rio s d o s so lu ção d o s p ro b le m a s teó ric o s c o lo ca
governos co lo n iais. H a v ia , é c la ro , a lg u dos p e la a n tro p o lo g ia . Só e ssa o b ra in s
m a s ex ceçõ es, p rin c ip a lm e n te n a A m é p iro u pelo m enos trê s g ra n d e s tra b a lh o s,
ric a : M o rg a n tr a b a lh a r a com in fo rm an c a d a um d o s q u a is c o n s titu ía u m a re fle
tes íro q u e se s, C ush in g v iv e ra cinco an o s x ão in o v a d o ra em seu p ró p rio ca m p o : A s
e n tre os ín d io s Z un i. Com B oas fo r m a s elem en ta res da v id a relig io sa , de
(1 8 5 8 -1 9 4 2 ), a tra d iç ã o do tra b a lh o de D u rk h e im (1 8 5 8 -1 9 1 7 ), T o te m e Tabu,
cam p o esta b e le c e u -se d efin itiv am en te de F re u d (1 8 5 6 -1 9 3 9 ), e A fa m ília entre
n o s E sta d o s U nidos: j á em 1 8 8 3 -1 8 8 4 , os a b o rig in es a u stra lia n o s, o p rim e iro
r e a liz a r a u m a p e s q u is a e n tre os e s q u i livro de M alin o w sk i, to d o s p u b lic a d o s
Cortesia do Consulado da Polônia
VIII IX
1
OS PENSADORES MALINOWSKI
United Nations
M a lin o w s k i p r e c o n iz o u e p r a tic o u a ob serva çã o p a r tic ip a n te : sem d isp en sa r os
info rm antes, su b s titu iu -o s em p a r te p e la ob serva çã o d ire ta do co m p o rta m e n to
dos indígenas. 0 a n tro p ó lo g o d eve co n v iv er p ro lo n g a d a m e n te com o s n a tiv o s em
su a s a ld eia s e a p ren d e r-lh es a língua, a ssim ila n d o ca teg o ria s inconscientes
q ue o rd en a m o u niverso c u ltu r a l in vestig a d o . (P a p u a s — n a tiv o s da N o v a G uiné.)
ted N a tio n s
p reced e e p e rm ite o p ro c ed im en to a n a lí ser re s o lv id a n a e la b o ra ç ã o d a s m ono
tico con scien te d a in v estig açã o d a r e a li g ra fia s sobre os tro b n a n d e s e s , ta re fa à
d a d e c u ltu ra l. q u a l M alin o w sk i se d edicou com o m á
D e ssa m a n e ira , a to ta lid a d e e a in te x im o em penho d u ra n te o re sto de vida.
g ra ç ã o d a c u ltu ra , que co n sistiam em Os tra b a lh o s d e M a lin o w s k i sobre a v id a s e x u a l e a fa m ília de a b o rig in es da
p re ssu p o sto s teó ric o s d e c o rre n te s d a c rí A instituição M e la n e sia to rn a ra m -se su a s ob ra s m a is p o p u la re s. N u m a época a in d a m arcada
tic a à a n tro p o lo g ia c lá ssic a , tra n s f o r p e lo p u r ita n is m o vito ria n o , f a s descriçõ es b a sta n te e x p líc ita s da v id a s e x u a l
m am -se a g o r a n u m a re a lid a d e que é Após su a e x tra o rd in á ria e x p e riê n c ia d o s indígenas, e m o stra o fu n c io n a m e n to d e u m a so cied a d e m a trilin e a r —
a tin g id a in tu itiv a m e n te pelo in v e s tig a de tra b a lh o de cam p o , M alin o w sk i vol- o inverso da so cied a d e o c id e n ta l d e então. (N ova G uiné: fa m ília d e n a tivo s.)
XIV XV
OS PENSADORES MALINOWSKI
to u à A u strá lia , onde se caso u com E lsie no siste m a de v alo re s em v is ta dos q u ais D esse m odo, v erific a-se que os d ife
M asso n , filh a de um p ro fe sso r de quí os seres h u m an o s se asso c ia m ;' isto é, re n te s a sp e c to s d a in s titu iç ã o não p o s
m ica d a U n iv ersid ad e de M elboure. S ua co rresp o n d e à id é ia d a in stitu iç ã o ta l suem to d o s a m e sm a re le v â n c ia e x p lic a
saú d e, sem pre frá g il, e s ta v a b a s ta n te com o é co n c eb id a pelo s m em b ro s d a p ró tiv a , p o is e n a s a tiv id a d e s, isto é, no
a b a la d a e, logo ap ó s seu re g re s so à In p r ia so ciedade. C om preende tam b ém um c o m p o rta m e n to h u m an o re a l, que se en
g la te rra . a a m e a ç a de tu b e rc u lo se fo r g ru p o h u m an o o rg a n iz a d o , c u ja s a tiv i c o n tra o elem en to v e rd a d e ira m e n te sin
çou-o a re tira r-s e p a r a T enerife, n a s d a d e s re a liz a m a in stitu iç ã o . E ssas a ti té tic o q u e fornece a chave p a r a a a p re e n
ilh a s C a n á ria s. F o i aí que em a b ril de v id a d e s se p ro c essam de a c o rd o com são d a m s titu iç ã o n a to ta lid a d e de seus
1921 term in o u su a p rim e ira m o n o g ra fia n o rm a s e re g ra s , que co n stitu em m a is a sp e c to s.
sobre os tro b ria n d e se s, à q u a l deu o ura elem ento d e s s a to ta lid a d e . F in a l A sín tese que M alin o w sk i se esfo rça
nom e ro m â n tic o de A rg o n a u ta s do P a cí m ente, com preende um eq u ip am e n to m a p o r c o n s tru ir n a d e sc riç ã o e tn o g rá fic a
f i c o O cidental. No ano seg u in te, a o b ra te ria l q u e o g ru p o m an ip u la no n ão ae re d u z p o is ao e sta b e le c im e n to de
e r a p u b lic a d a n a In g la te rra , p a r a onde desem penho de suas a tiv id a d e s. E sses in te rd e p e n d ê n c ia s e n tre siste m a s a n a líti
M alin o w sk i j á h a v ia v o ltad o . d iferen tes elem e n to s definem o que M ali cos d iv e rso s (le g a is, eco nó m icos, té c n i
O tra b a lh o difere b a s ta n te d a s m ono now ski c h a m a e s tr u tu r a d a in stitu iç ã o . cos, re lig io so s), to m a d o s em su a in d e
g ra fia s tra d ic io n a is. Não é u m a d e s c ri Q asp e cto m a is im p o rta n te d essa con- p en d ê n cia. P a r a ele, esse tip o de sín tese
ção de to d a a c u ltu ra tro b ria n d e s a . N ão c e itu a çâo co n siste n a p re se rv a ç ã o d a n ào p o d e ser a tin g id o a p o s te r io r i, p e la
é tam b ém u m a a n á lise e s p e c ia liz a d a de m u ltid im e n sío n a lid a d e do re a l, re p ro d u ju s ta p o s iç ã o e c o rre la ç ã o de a sp e c to s
um dos asp e c to s n o s q u a is os a n tro p ó lo zindo, em c a d a u n id ad e de a n á lise , a s di d esc o n tín u o s, m a s deve e s ta r p re se n te de
gos n o rm alm en te decom põem a c u ltu ra : m en sõ es do p ro cesso c u ltu ra l era su a to início e em to d o s os m o m en to s d a inves
eco nom ia, p a re n te sc o e o rg a n iz a ç ã o so ta lid a d e . Com efeito, o processo tig a ç ã o , P o r isso é que os te m a s que
c ia l, re lig iã o , r i t u a l e m ito lo g ia , c u ltu ra c u ltu ra l, isto é, a p ró p r ia v id a social, em iso la com o focos de a n á lise , isto é, as
m a te ria l. C onsiste, n a v e rd a d e , de to d o s q u a lq u e r de su a s m an ife sta çõ es concre in stitu iç õ e s, com o o K u la, são e sc o lh i
esses a sp e c to s v isto s d a p e rsp e c tiv a de ta s, envolve sem pre, p a r a M alinow ski, dos de m odo a p re se rv a r, n a u n id ad e de
u m a ú n ic a in stitu iç ã o , o K u la. A esc o lh a seres h u m an o s em re la ç õ e s so ciais d efi in v e stig a ç ã o , e ssa s to ta lid a d e s co m p le
d a a n á lise in stitu c io n a l c o n stitu i, p o r n id a s, p e sso a s que m a n ip u la m a rte fa to s x a s que incluem a m u ltip lic id a d e do re a l
ta n to , a solução e n c o n tra d a p o r M a li e se com unicam a tra v é s d a lin g u ag em e e, ao c o n trá rio d a s m o n o g ra fia s tra d ic io
n o w sk i p a r a re c o n s titu ir, n a d esc rição de o u tra s v a ria d a s fo rm a s de sim bo n a is , ja m a is se e n c o n tra em M alin o w sk i
e tn o g rá fic a , a in te g ra ç ã o e a co erên cia lism o. O eq u ip am e n to m a te ria l, a o rg a u m a a n á lis e de siste m a econôm ico, p o lí
ou, em o u tra s p a la v ra s , a to ta lid a d e in n iz a ç ã o so cial e o sim b o lism o co n sti tico , re lig io s o , etc., em si m esm o s.
te g ra d a q u e a té c n ic a de in v e stig a ç ã o lhe tu em trê s dim en sõ es in tim am en te A in stitu iç ã o a p a re c e pois com o u m a
h a v ia p e rm itid o c a p ta r no tra b a lh o de v in c u la d a s e a re a lid a d e ja m a is pode ser p ro je ç ã o p a r c ia l d a to ta lid a d e d a c u l
cam po. c o m p re e n d id a in te g ra lm e n te se n ão se tu ra , n ã o com o um de seu s a sp e c to s ou
Se, p a r a M alin o w sk i, a c u ltu ra c o n sti a p re e n d e r a sim u lta n e id a d e de to d a s a s p a rte s . A d e s c riç ã o sem pre a s desenvolve
tu i u m a to ta lid a d e in te g ra d a , n ão é, en su a s dim ensões. no sen tid o de m o s tra r, sim u lta n e a m e n te ,
tre ta n to , um to d o in d ifere n ciad o , m as Na in te rp re ta ç ã o de M alin o w sk i, a. com o a in stitu iç ã o em ap re ç o p e rm e ia
a p re s e n ta n ú cleo s de o rd e n açã o e c o rre in stitu iç ã o não deve ser co n c eb id a com o to d a a c u ltu r a e, in v ersa m e n te, com o
lação -que são as in stitu içõ e s. As in s titu i a sim p les som a dos a sp e c to s de sua e s to d a a c u ltu ra e s tá p re se n te n a in stitu i
çòes se a p re se n ta m p o rta n to com o lim i tr u tu ra , m as v e rd a d e ira m e n te com o sua çào, M u ito s a u to re s j á a p o n ta ra m um
te s ‘‘n a tu r a is " , isto é, estab e le c id o s p ela síntese. A in te g ra ç ã o d a s d iferen tes d i a p a re n te p a ra d o x o : M alin o w sk i, que
p ró p ria c u ltu ra , que p e rm ite m e v ita r o m ensões d a c u ltu ra é a re fe rê n c ia co n s ta n to se p re o cu p o u com a n o ção d a to ta
p erig o de tra n s fo rm a r a a n á lise funcio- ta n te de to d a a in v estig açã o . P o r o u tro lid a d e d a c u ltu ra , ja m a is a p re se n to u
n a lis ta no e sta b e le c im e n to infindável de lad o , é n ec essário n ão confundir a sín u m a d esc rição in te g ra d a de to d o s os a s
c o rrelaç õ es, O conceito de in stitu iç ã o tese c o n stru íd a pelo an tro p ó lo g o com a p e c to s d a c u ltu ra tro b ria n d e s a . É que o
erm ite a M alin o w sk i re so lv e r o pro- id éia que d e la fazem seus p o rta d o re s. estu d o do to d o n ão se confunde com o es
Iem a d a ad e q u a ç ã o entre a s c a te g o ria s N ote-se que M alin o w sk i sem p re in siste tu d o de tu d o e a to ta lid a d e só pode ser
d a a n á lise e a re a lid a d e e m p írica , e s ta n a d iferen ça e n tre o código e as n o rm as
a p re e n d id a co n c retam e n te a tra v é s de
b elecen do um iso la d o teó ric o que c o rre s d a in stitu iç ã o , de um lado, e, de o u tro , re a liz a ç õ e s p a rc ia is , p ro je ta d a no com
p on de á s u n id a d e s o b se rv a d a s n a p ró a s a tiv id a d e s efetiv am en te d ese m p e n h a
p o rta m e n to dos hom ens.
p r ia re a lid a d e e que d e la em ergem . d a s p elo s m em b ro s do grupo. É a tra v é s
P a r a M alin o w sk i, a in stitu iç ã o é d a a n á lise d a s a tiv id a d e s e de seus r e s u l
sem pre u m a u n id a d e m u ltid im e n sio n a l. ta d o s que o in v e stig a d o r e n c o n tra in stru
Viagens e trabalhos
P ara M a lin o w s k i o conceito de fu n ç ã o
C onform e a fo rm u laç ão e la b o ra d a an o s m en to s p a r a su p e ra r a co n sc iê n cia re s
é q u e p e r m ite , a p a r tir de da d o s A pós a p u b lic a ç ã o dos A rg o n a u ta s,
m a is ta rd e , no seu en saio Uma Teoria tr i t a e d e fo rm a d a que os m em b ro s de
a p a re n te m e n te caótico s, rec o n stru ir com a q u al fo rm u la a s lin h a s g e ra is de
C ientífica d a C ultura, ela com preende u m a so ciedade p o ssu em de su a p ró p ria
os siste m a s que o rd en a m e dão seu m éto d o , a b re -se um p erío d o m u ito
u m a c o n stitu iç ã o ou cód ig o , que consiste c u ltu ra .
sen tid o a o s co m p o rta m e n to s e co stu m e s. fé rtil n a c a r r e ir a de M alin o w sk i.
XVI
XVII
OS PENSADORES MALINOWSKI
Fabbri
p a rte d a p u b lic a ç ã o C ulture — T he d iffu m odo siste m á tic o , e m b o ra re su m id o , su a
sion controversy, em que fig u ra m t r a b a visão p ró p ria do tra b a lh o an tro p o ló g ico .
lhos de seus o p o sito res, G. E llio t S m ith, T ra ta -se do v erb ete A n th ro p o lo g y, p u b li P ara M a lin o w s k i o p r o c e s so cu ltu ra l, em to d a s a s su a s m a n ife sta ç õ e s concretas,
H. S. S pm den, A. G oldenw eiser. A r ig i cado n a 1 3 .a ed ição d a E n cyclo p a ed ia envolve sem p re seres h u m a n o s em rela çõ e s so cia is d e fin id a s e q u e m a n ip u la m
dez de m u ita s de su a s fo rm u laç õ es p re n B rita n n ica . D a ta a in d a d esse m esm o ano a rte fa to s e se co m u n ic a m a tra vés da lin g u a g e m e o u tra s fo r m a s de sim b o lism o .
de-se inegavelm ente ao c a rá te r polêm ico C rim e a n d C ustom in S a va g e S o ciety , E q u ip a m e n to m a teria l, o rg a n iza çã o s o c ia l e sim b o lism o e sta ria m in tim a m e n te
de g ra n d e p a rte dos tra b a lh o s que esc re onde e x p lo ra a noção de re c ip ro c id a d e vin cu la d o s. (Im a g e m e m á sca ra da reg iã o do G olfo de P apua, N o v a G uiné.)
veu n e ssa época. com o p rin cíp io de o rd e n açã o social.
M alin o w sk i tam b ém viajou m u ito , São e n tre ta n to os tem as re fe re n te s ao im a g in a r o sucesso de tra b a lh o s em que siste m a de p a re n te sc o , te m a tra d ic io n a l
tendo m in istra d o cu rso s e co n ferên cias sexo e à v id a fa m ilia r que p arecem cons fig u ra m d esc riçõ es b a s ta n te e x p líc ita s d a a n tro p o lo g ia , m a s e s tu d a r a d in â m ic a
em G enebra, V iena e O slo, v isita n d o t i t u a a p re o cu p aç ão c e n tra l de M ali d a v id a se x u a l n u m a ép o c a a in d a m a r esp e c ífic a d a o rd e n a ç ã o d a s c o n d u tas
m u ita s o u tra s c a p ita is e m an ten d o con no w sk i até o fim d a d é c a d a de 2 0 , ex e m c a d a p o r m u ito s re sq u íc io s de p u rita - d en tro d esse q u a d ro in stitu c io n a l, isto é,
ta to s p e sso a is com a n tro p ó lo g o s de Lodo p lific a d a a tra v é s de in ú m ero s p equenos nism o v ito ria n o . com o “ fu n c io n a v a’', n a v erd ad e, u m a so
o m undo. V isitou os E sta d o s U nidos em tra b a lh o s, re u n id o s em p a r te no livro D o ponto de v is ta eu ro p eu , a p rim e ira cie d a d e m a trilin e a r.
1 9 2 6 , 1 9 3 3 e 1936 q u an d o re ceb e u o S e x a n d R e p re ssio n in S a va g e So ciety, g ra n d e p e c u lia rid a d e tro b ria n d e s a r e s i A o rd e n a ç ã o d o s d a d o s, n esses tr a b a
g ra u de D outor H o n o rá rio p e la U niversi de 1 9 2 7 . E ssa fase cu lm in a, em 1 9 2 9 . d ia ju s ta m e n te n a a m p la lib e rd a d e se lhos, n ã o se fa z ta n to em te rm o s d a in s ti
d ad e de H a rv a rd . Em 1 9 3 4 , p e rco rre u com a p u b lic a ç ã o de su a se g u n d a g ra n d e x u a l. Com efeito , en tre eles, n ão só a tu iç ã o da fa m ília , m a s em te rm o s de um
tam b ém a A frica M erid io n al e O rie n ta l, m o n o g ra fia sobre os tro b ria n d e se s, The c a stid a d e p ré -n u p c ia l e ra to ta lm e n te a sp e c to u n iv e rsa l do c o m p o rta m e n to h u
v isita n d o en tão m u ito s de seus d isc íp u S e x u a l L ife o f S a v a g e s in N o rth W estern d esc o n h ecid a, com o ta m b é m a fid e lid a d e m ano, p re sen te em to d a s a s c u ltu ra s: o
los que e sta v a m re a liz a n d o tra b a lh o s de M ela n esia . co n ju g al n ão e ra o b se rv a d a com m u ito im p u lso sex u al.
cam po, p o is M alinow ski foi o re s p o n sá rig o r. A se g u n d a p e c u lia rid a d e re fe  a n á lise d a v id a se x u a l é fe ita em te r
vel pelo p rim e iro p ro g ra m a de tre in a Sexo e cultura ria -s e a o fa to de q q e os tro b ria n d e s e s , m os de u m a d u p la re fe rê n c ia : os im p u l
m ento em p e sq u isa de cam po do In te rn a além de n eg arem a p a te rn id a d e so cial, sos b io ló g ic o s e sua re g u la m e n ta ç ã o so
tio n a l A fric a n In s titu te . C ertam e n te su a Os tra b a lh o s re fere n tes à v id a sex u al ap re se n ta n d o -se com o so cied a d e e s tr ita cial. A im p o rtâ n c ia d esse tem a, p a r a
c a p a c id a d e de fa la r d iv e rsa s lín g u as e e à fa m ília ce rta m e n te foram — e talv ez m ente m a trilin e a r, ig n o ra v a m in clusive M alin o w sk i, e s tá ju s ta m e n te em que
su a o rig em p o lo n e sa co n trib u íra m m uito a in d a sejam — os m ais p o p u la re s de to d a a p a te rn id a d e fisio ló g ic a , a c re d ita n d o co n siste no tip o de a tiv id a d e , p o r ex c e
p a r a esse co n tato tã o am p lo com in sti a o b ra de M alin o w sk i, Do ponto de v ista que a s fém eas (ta n to h u m a n a s, q u an to lên cia, n a q u a l se in te g ra m , de m odo o
tu içõ es e p e sq u isa d o re s de d iferen tes an tro p o ló g ic o , a ssim com o do p ú b lico an im a is) p ro c ria v a m in d ep en d en tem en te m a is e x p líc ito , im p u lso s n a tu ra is e im
p a íse s, q u eb ran d o o re la tiv o iso lam en to científico e leigo em g e ra l, o fascínio das re la ç õ e s se x u a is. A d e sc riç ã o de u m a p e ra tiv o s so ciais, a p re se n ta n d o -se p o r
que c a ra c te riz a v a a co m unidade de a n d esse s tra b a lh o s re sid e n a c a p a c id a d e de so cied ad e d esse tip o n ão p o d ia d e ix a r de tan to com o ponto c e n tra l d a re fle x ã o so
tro p ó lo g o s b ritâ n ic o s. M alin o w sk i de r e tr a ta r o funcionam ento fa sc in a r um p ú b lic o m u ito m a is am p lo b re a p ró p r ia n a tu r e z a d a c u ltu ra . E ssa
S u a v id a p esso a l, e n tre ta n to , co n ti de u m a so cied ad e m a trilin e a r que cons que o círc u lo re s tr ito d o s a n tro p ó lo g o s in te g ra ç ã o , e n tre ta n to , só p o d e ser
n u av a m a rc a d a p e la doença. S u a p ri titu i, pelo m enos sob esse a sp e c to , pra.ti- p ro fissio n a is. a p re e n d id a ao nível in d iv id u a l e a re fe
m e ira m u lh e r, com quem teve trê s filhas, eam ente o inverso d a so cied ad e o cid en O p ro b le m a b ásic o que M alin o w sk i se rê n c ia b á s ic a ao im p u lso se x u a l im p lica
foi a c o m e tid a de um a d o e n ç a incurável ta l d a época Além d isso , pode se bem p ro p u n h a n ã o e ra a n a lis a r a e s tru tu ra do n u m a a b o rd a g e m que lo c a liz a no indiví-
X V III XIX
OS PENSADORES MALINOWSKI
saio s, v e rb e te s e a r tig o s n o s q u a is p ro
duo (e n ão n a so cied ad e) to d o s os p ro tisfa ç à o d a s n e c e ssid a d e s h u m a n a s a p a c u ra e x p lic ita r e s in te tiz a r su a p o siç ã o
cessos sig n ificativ o s e to d a s as e x p lic a rece constan tem ente em su as te n ta tiv a s te ó ric a . D a ta m d e s sa épo ca, p o r exem
ções fo rm u lad a s. A parecem assim nesse de e la b o ra ç ã o te ó ric a e co n stitu i um p ro plo, o v erb ete C ulture d a E n cy clo p a ed ia
tem a, com g ra n d e n itid e z , o bio lo g ism o b lem a que ele ja m a is co n seg u iu re so lv e r o f S o c ia l S cien c es (1 9 3 1 ), o v e rb e te
e o p sico lò g ism o que e stão la te n te s em de m odo sa tisfa tó rio . N as e lab o raçõ e s A n th ro p o lo g y, do B o o k o f th e Year de
q u ase to d a a o b ra de M alinow ski. p o ste rio re s, esp e cialm en te ta l com o a p a 19 38 d a E n cy clo p a ed ia B rita n n ic a e as
E n ec essário reco n h ecer que, a p e sa r rece em A S cie n tiflc T h eo ry o f C ulture, d ife re n te s v ersõ es do a r tig o “ C u ltu re as
d a s d eficiên cias d esse tip o de a b o rd a M alinow ski p o stu la to d a u m a g a m a de d e te rm in a n t o f B ehavior'” (1 9 3 7 , 1 9 3 7 ,
gem , e la p e rm ite a M alin o w sk i, com o tip o s de n ecessid ad e. In icialm en te, h á a 1 9 3 8 ). É ta m b é m a p a r tir d e ssa ép o ca
talvez, em nenhum o u tro tra b a lh o , fa z e r c o n sid e ra r a s n e c e ssid a d e s b io ló g ic a s do que su a p o siç ã o com eça a ser c r itic a d a
em erg ir, com e x tra o rd in á ria n itid e z , a o rg a n ism o , d en o m in ad a s b ásicas (n u tri p elo s a n tro p ó lo g o s m a is jo v e n s, so b re os
visão do nativo “ em carn e e o sso ” . F o c a ção, p ro c ria ç ã o , p ro te ç ã o , etc.). Como o q u a is a u m e n ta a in flu ên c ia do fu n c io n a
lizan d o q u ase que ex c lu siv a m e n te a s ati hom em , e n tre ta n to , só pode s a tisfa z e r lism o e s tru tu ra l de R ad cliffe-B row n.
tu d e s e a m o tiv ação do co m p o rta m e n to essa s n e c e ssid a d e s b á síc a s a tra v é s d a
— isto é, o a rra n jo p a r tic u la r tro b n a n - c u ltu ra , surgem n ec essid ad es d e riv a d a s, A última grande obra
dês de a sp e c to s u n iv e rsa is do com por re la c io n a d a s à m an u ten ção , re p ro d u ç ã o
tam en to hu m an o —, to rn a -se a p a re n te , e tra n s m is s ã o do p ró p rio eq u ip am e n to E n tre ta n to , n ão se po de d iz e r q u e d i
a tra v é s d a p e c u lia rid a d e do co stu m e, a c u ltu ra l. E sta s, M alinow ski subdivide m in u a o p re stig io de M alin o w sk i. S eus
q u alid ad e h u m a n a d a co nduta. em im p era tiv o s in stru m e n ta is (que inclui p ró p rio s alu n o s com eçam a a tin g ir a m a
M alin o w sk i d e m o n stra que o c o m p o r a o rg a n iz a ç ã o econôm ica, le g a l e e d u c a tu rid a d e cien tífica ; m u ito s d eles, j á
tam en to do tro b ria n d ê s não é nem ir r a cional d a sociedade) e im p era tiv o s inte- ten d o te rm in a d o o tra b a lh o de cam po
cio n al nem im o ral, m a s coerente e com g ra tiv o s (coroo a m a g ia , a re lig iã o , a sob su a o rie n ta ç ã o , com eçam a p u b lic a r
p reen sível d en tro d a s p re m issa s d a ciên c ia e a s a rte s). A d ificu ld ad e fu n d a o b ra s o rig in a is . M alin o w sk i p refacio u
c u ltu ra tro b ria n d e s a . P a ra d e m o n stra r m en tal q u e e n c o n tra é a de re la c io n a r, de m u ita s d e ssa s m o n o g ra fia s: em 1 9 3 2 ,
isso, é n ec essário a p re e n d e r as p re m is um lado, as n ec essid ad es d e riv a d a s às escreveu a in tro d u ç ã o do liv ro de Reo
sas, m as não é n e c e ssá rio a n a lis á -la s n e c e ssid a d e s b á sic a s e, de o u tro , as in s F o rtu n e , S orcerers o f D o b u e de A udrey
com o siste m a . P o r isso m esm o, n esses titu iç õ e s à s n ec essid ad es. R ic h a rd s, H u n g e r a n d W o rk in a S a va g e
tra b a lh o s evidenciam se cla ra m e n te C a b e ria e x a ta m e n te ao conceito de T ribe; em 1 9 3 4 , p re fa c io u o tra b a lh o de
ta n to a r iq u e z a com o as lim ita ç õ e s desse função s u p e ra r e s ta ú ltim a d ificu ld ad e. Ian H o g b in , L aw a n d O rder in P o ly n e
tip o de ab o rd ag em . De um lado, ela nos D e n tro d e ssa fo rm u lação , M alin o w sk i sia; em 1936, o de R ay m o nd F ir t, W e,
a p ro x im a d a vida re al, m as, de o u tro , define o conceito em term o s d a c o rre s The T ik o p ia ; no ano seg u in te, o de Ash-
a b a n d o n a u m a p ro b le m á tic a de enorm e p o n d ên c ia en tre a in stitu iç ã o e a s n eces ley -M o n tag u , Corning o f A g e in S a m o a ;
re le v â n c ia , m u ito m ais p re sen te n a s d u as sid ad es que e la sa tisfa z . O bviam ente, tal em 1 9 3 8 , a p a re c e , com p re fác io de M a li
o u tra s m o n o g rafia s, que co n siste n a a n á definição d ista n c ia -se enorm em ente d a n o w sk i, o livro de Jo m o K e n y a ta , F acing
lise d a s fo rças so ciais que ex p lica m a ap lic a ç ã o efetiva do conceito à an á lise M o u n t K en ya , a p rim e ira m o n o g ra fia
em erg ên cia e a força d a s a titu d e s p ró e tn o g rá fica. a n tro p o ló g ic a e s c rita p o r um m em b ro d a
p ria s d a s situ a ç õ e s in v e stig a d a s: a n a tu N a v erd ad e, a p o sição de M alinow ski so cied ad e trib a l.
r e z a d a s re la ç õ e s entre os g ru p o s e a n e s s a q u e stã o é b a sta n te am b íg u a, pois C om ta n to s d isc íp u lo s fa zen d o tr a b a
o p o sição entre segm entos so ciais, e s tru elab o ro u d iferen tes co n ceito s de função, lhos de cam po, a u m e n ta tam b ém seu in
tu ra d a s a tra v é s do p aren tesco . d efin in d o -a tam b ém , em o posição ao có te re sse p elo s p ro b le m a s d a tra n s fo rm a
Na v erd ad e, a a u sê n c ia de u m a a n á lise digo ou c a rta de u m a in stitu iç ã o , com o ção c u ltu ra l in d u z id a p e la d in â m ic a d a
s iste m á tic a do p aren tesco , freq u en te seu p a p e l no esq u e m a g e ra l d a c u ltu ra , situ a ç ã o co lo n ial, in tere sse que cresce
m ente im pede o e sc la rec im e n to de a sp e c ta l com o é definido pelo in v estig ad o r. depois de su a v is ita à Á frica. Em 1 9 3 6 ,
to s fu n d a m e n ta is d a o rg a n iz a ç ã o so cial, V erifica-se facilm en te que e s s a definição a p a re c e seu p rim e iro a rtig o sobre esse
co n stitu in d o u m a d eficiên cia que tem é diferen te d a a n te rio r e m u ito m a is p ró p ro b le m a , “ N ativ e E d u c a tio n and C ul
sido a p o n ta d a por to d o s os crítico s de x im a do m étodo de in te rp re ta ç ã o u sad o tu re C o n ta c t” . D a ta de 1 9 3 8 u m en saio
M alinow ski. no tra ta m e n to dos d a d o s em p írico s, onde in titu la d o “ In tro d u c to ry E ssa y on the
O b io lo g ism o ta n ta s vezes c ritic a d o é a a n á lise d a função que p e rm ite a p a s A n th ro p o lo g y o f C h an g in g A frican C ul
em M alin o w sk i re la c io n a -se d ire ta m e n te sagem d a co n sciên cia d o s a g e n te s p a r a tu re s ” , in co rp o rad o m ais ta rd e em D y n a
com sua concepção de c u ltu ra , que é a s conexões g e ra is, c o n stitu íd a s pelo ob m ic s o f C u ltu re C hange. Além d esse s, h á
sem pre re fe rid a à c a p a c id a d e de sa lisfa serv ad o r e que definem a n a tu re z a d a M a lin o w s k i fo i u m d o s e x p o e n te s do inúm eros tra b a lh o s m en o re s sob re o
zer n e c e ssid a d e s h u m an as. A in stru m en - in stitu iç ã o (com o o co rre, p o r exem plo, fu n c io n a lism o em a n tro p o lo g ia . m esm o a ss u n to , a re s p e ito do q ual p a s
ta lid a d e d a c u ltu ra é que a s s e g u ra , do n a a n á lise do K ula). (M a lin o w sk i no E n co n tro A n u a l da sou a c o n d u z ir sem in á rio s re g u la re s .
ponto de v ista de M alinow ski, su a ra c io Q u estõ es te ó ric a s e m e to d o ló g ic a s Associação Antropológica Americana, A p esar d a s d ific u ld a d e s que e n c o n tra
n a lid a d e in eren te. p erm eiam to d a a o b ra de M alinow ski. em fo rm u la r de m odo sa tisfa tó rio os
re a liza d o no ano de 1 9 3 9 .)
A re la ç ã o entre a s in stitu iç õ e s e a sa- Após 1 9 3 0 a p a re c e m m a is a lg u n s en-
XX XXI
OS PENSADORES MALINOWSKI
XXII XXI1Í
OS PENSADORES
CRONOLOGIA
1858 — Franz Boas nasce Totem e Tabu, de Freud; e xual Life of Savages in ARGONAUTAS DO
em Minden, Alemanha. de A família entre os aborí North-Western Melanesia.
1881 — Radcliffe-Brown
nasce em Birmingham, In
glaterra.
gines australianos, de M ali
nowski.
1922 — M alinowski p u
1930 — Radcliffe-Brown
publica The Social Organi
zation o f Australian Tribes.
PACÍFICO OCIDENTAL*
1883/84 — Boas realiza ob blica Argonautas do 1932 — M alinowski p u
servações entre os esquimós. Pacífico Ocidental; publica blica The Sexual Life of Sa
1884 — Nasce Bronislaw ção de The Andam an Islan vages.
M alinowski em Cracóvia, ders, de Radcliffe-Brown. 1935 — Publica Coral
Polónia. 1925 — M alinowski p u Gardens and Their Magic.
1906/08 — Radcliffe- blica Magic, Science and 1942^-f^ Morre Malinowski.
Brown faz pesquisas entre Religion. Morre Franz Boas.
os andamaneses. 1926 — Publica o verbete 1944 — Publicação de A
1910 — M alinowski ê ad Antropologia, na Enciclopé Scientific Theory of Culture.
mitido na London School dia Britânica, e as obras 1945 - - Publicação de The
o f Economics. Crime and Custom in Sa Dynamics of Culture
1911 — Boas publica Chan vage Society e Myth in Change.
ges in Bodily Form o f Des Primitive Psychology. 1947 -— Publicação de
cendents o f Immigrantes. 1927 — Publica Sex and Freedom and Civilization.
1913 h Publicação de / l í Repression in Savage So 1948 •. - Publicação de M a
form as elementares da vida ciety. - gic, Science and Religion
religiosa, de Durk heim : 1929 — Publica The Se and Other Essays.
BIBLIOGRAFIA
mente econômica dos habitantes das ilhas Trobriand; todavia, com a grande maléfica e anti-social; e que é sempre usada pelo indivíduo para promover seus
abertura de perspectiva e acuidade que o caracterizam, ele se dá ao cuidado de próprios interesses egoístas e prejudicar seus inimigos, sem levar em conta seus
nos demonstrar que essa curiosa circulação de riquezas entre os habitantes das efeitos sobre o bem-estar comum. A magia pode ser usada com essa finalidade
ilhas Trobriand e os das demais ilhas, embora acompanhada por um comércio e, de fato, provavelmente o é em todas as regiões do mundo; nas ilhas Trobriand
de tipo comum, não constitui, de maneira alguma, uma forma de transação estrita também se acredita que seja praticada com fins nefandos pelos feiticeiros, que
mente comercial; ele nos mostra que essa modalidade de troca não se fundamenta provocam nos nativos temores profundos e preocupação constante. Mas, em si,
num mero cálculo utilitário de lucros e perdas; e que ela vem de encontro a a magia não é nem benéfica nem maléfica; é simplesmente urn poder imagi
necessidades emocionais e estéticas de ordem mais elevada que o simples atendi
nário de controle sobre as forças da natureza, que pode ser exercido pelo feiti
mento aos requisitos da natureza animal. Tudo isso leva o Dr. Malinowski a
ceiro para o bem ou para o mal, para beneficiar o indivíduo ou a comunidade,
criticar acerbamente a concepção que se faz do Homem Econômico Primitivo ou para prejudicá-los. Sob esse ponto de vista, a magia está exatamente no
como um tipo de fantasma que, segundo parece, ainda infesta os livros de texto
mesmo plano das ciências, das quais vem a ser a “irmã bastarda” ; também as
das ciências econômicas, chegando mesmo a estender sua influência nefasta às
ciências não são nem boas nem más em si, embora possam gerar tanto o bem
mentes de alguns antropólogos. Vestindo os farrapos abandonados pelos senhores
quanto o mal, conforme a maneira como forem utilizadas. Seria absurdo, por exem
Jeremy Bentham e Gradgrind, esse fantasma horrendo aparentemente é movido plo, estigmatizar a farmacêutica como ciência anti-social por que o conhe
exclusivamente pela sede de lucro, o qual ele busca implacavelmente, seguindo cimento das propriedades das drogas pode ser empregado tanto para curar quanto
princípios spencerianos, ao longo das linhas de menor resistência. Se realmente para destruir o homem. É igualmente absurdo negligenciar a aplicação bené
os bons pesquisadores acreditam que tal ficção angustiante possa encontrar para
fica da magia, atendo-se apenas a sua utilização maligna na caracterização das
lelos na sociedade silvícola e não a vêem apenas como mera abstração útil, o
propriedades que a definem. As forças da natureza, sobre as quais a ciência
relato do Dr. Malinowski sobre o Kula deve contribuir para destruir definitiva exerce controle real e a magia controle imaginário, não são influenciadas pela
mente este fantasma — pois o Dr. Malinowski demonstra que a transação de disposição moral ou pela boa ou má intenção do indivíduo que se utiliza dc seus
objetos úteis, parte integrante do Kula, ocupa, na mente dos nativos, uma posição conhecimentos especiais para colocá-las em movimento. A ação das drogas no
inteiramente subordinada à troca de certos objetos que é feita sem quaisquer
organismo humano é exatamente a mesma, quer sejam elas administradas por
finalidades utilitárias. Combinando transações comerciais, organização social, mitos
um médico, quer por um envenenador. A natureza e as ciências não são nem
e rituais mágicos — o Kula, essa. extraordinária instituição nativa que chega a
benéficas nem hostis à moral; são simplesmente indiferentes a ela, e estão igual
abranger enorme extensão geográfica, parece não ter paralelos nos anais de
mente prontas para atender às ordens quer do santo, quer do pecador, desde
antropologia. Mas, seu descobridor, o Dr. Malinowski, pode muito bem ter razão
que um deles lhes dê a ordem adequada. Se na artilharia as armas estão bem
ao presumir que entre os povos selvagens e bárbaros existem outras instituições
— se não idênticas, pelo menos semelhantes ao Kula — que eventualmente serão carregadas e apontam para o alvo certo, seu fogo será igualmente destrutivo: não
descobertas através de novas pesquisas. não importa que seus portadores sejam patriotas a lutar em defesa da pátria,
ou invasores a arriscar-se numa guerra de agressão injusta. Caracterizar a
Segundo o Dr. Malinowski, à importância que a magia assume nesta instituição
ciência ou a arte em função de sua aplicabilidade, ou de acordo com a intenção
constitui uma das facetas mais interessantes e instrutivas do Kula. A julgar pela
moral do cientista ou artista é obviamente falacioso no que se refere à farma
maneira com que ele a descreve, a realização dos rituais de magia e o uso de
cêutica ou à artilharia; e o é igualmente (embora, para muitos, não tão óbvio) no
fórmulas mágicas são indispensáveis ao bom êxito do Kula em todas as suas
que diz respeito à magia.
faseS — desde a derrubada das árvores, cujos troncos são escavados e transfor
mados em canoas, até o momento em que, terminada a expedição com êxito, A grande influência da magia sobre a vida e o pensamento dos nativos das
as canoas e sua preciosa carga iniciam a viagem de volta ao ponto inicial. A ilhas Trobriand é, no presente volume, talvez um dos aspectos que mais impres
propósito, aprendemos também que os rituais de magia e os feitiços são igual sionam o leitor. O Dr. Malinowski nos conta que “a magia, tentativa humana
mente indispensáveis à horticultura e ao bom êxito na pesca — duas das ativi de controlar diretamente as forças da natureza através de conhecimentos especiais,
dades que constituem o principal meio de sustento dos nativos; o “feiticeiro é fator fundamental e permeante na vida dos nativos das ilhas Trobriand” ; é
“parte integrante de todas as suas atividades industriais e comunitárias” ; “todos
agrícola” , a quem cabe a responsabilidade de promover, através de suas fórmulas,
os dados até agora analisados revelam a extrema importância da magia no sis
o crescimento das plantas, é conseqüentemente um dos elementos mais impor
tema do Kula. Mas, se se tratasse de qualquer outro aspecto da vida tribal desses
tantes da aldeia, figurando hierarquicamente logo abaixo do chefe e do feiticeiro nativos, constataríamos igualmente que os nativos recorrem à magia toda vez que
propriamente dito. Em suma, os nativos crêem que a magia é absolutamente
enfrentam problemas de importância vital. Podemos dizer, sem corrermos o risco
imprescindível, a todo e qualquer ramo de suas atividades — que é tão impres
de exagerar, que a magia, segundo eles, governa os destinos do homem; que ela
cindível ao bom êxito de um trabalho como as operações técnicas envolvidas, tais
dá ao homem o poder de dominar as forças da natureza e que ela é a arma e o
como a impermeabilização, pintura e lançamento de uma canoa, o plantio de uma escudo com que o homem enfrenta todos os perigos que o rodeiam”.
horta, a colocação de uma armadilha para peixes. “A fé no poder da magia” ,
Assim sendo, no ver dos ilhéus de Trobriand, a magia c uma força de su
conta-nos o Dr. Malinowski, “é uma das principais forças psicológicas que per
prema importância, quer para o bem, quer para o mal; ela pode construir ou ani
mitem a organização e sistematização do esforço econômico nas ilhas Tobriand.”
quilar a vida de um homem; pode sustentar e proteger o indivíduo e a comu
O valioso relato do Dr. Malinowski sobre a magia como fator de grande nidade, ou pode prejudicá-los e destruí-los. Comparada a esta convicção univer
importância para o bem-estar econômico e, de fato, para a própria sobrevivência sal -e profundamente enraizada, a crença na existência dos espíritos dos mortos
da comunidade nativa, é suficiente para anular a hipótese errônea de que a poderia, à primeira vista, parecer de pouca influência na vida daqueles nativos.
magia, contrariamente à religião, é por sua própria natureza essencialmente
Contrariamente à atitude geral entre os selvagens, os nativos de Trobriand não
ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL 9
interdependentes que um não pode ser estudado e entendido a não ser levando- dição; e a ele, mais do que posso expressar com palavras, sou especialmente
se em consideração todos os demais. O leitor irá perceber claramente que, grato pelo incentivo e aconselhamento científico que me deu tão generosamente
embora o tema principal desta pesquisa seja econômico — pois trata de empre no transcorrer de minhas pesquisas na Nova Guiné.
endimentos e transações comerciais — , constantes referências serão feitas à orga B. M.
nização social, aos rituais mágicos, à mitologia e folclore — enfim, a todos os
demais aspectos da vida tribal, além do nosso tema principal. El Boquin,
A região geográfica de que tratamos neste volume limi.ta-se à dos arquipélagos Icod de Los Vinos,
situados no extremo leste da Nova Guiné. Nela, um único distrito, o das ilhas T enerife,
Trobriand, constitui o objeto principal de nossa pesquisa. Este, entretanto foi abril de 1921.
estudado minuciosamente. Durante aproximadamente dois anos, e no decorrer
de três expedições à Nova Guiné, vivi naquele arquipélago e, naturalmente, du
rante esse tempo, aprendi bem a sua língua. Fiz meu trabalho completamente
sozinho, vivendo nas aldeias a maior parte do tempo. Tinha constantemente ante
meus olhos a vida cotidiana dos nativos e, com isso, não me podiam passar des
percebidas quaisquer ocorrências, mesmo acidentais: falecimentos, brigas, disputas,
acontecimentos públicos e cerimoniais.
Na atual situação em que se acha a etnografia, quando ainda há muito por
fazer no sentido de se estabelecerem as diretrizes e o escopo de nossas próximas
pesquisas, é necessário que cada contribuição nova se justifique em diversos pontos.
Deve revelar algum progresso metodológico; deve superar os limites das pes
quisas anteriores, em amplitude, em profundidade ou em ambas; e, finalmen
te, apresentar seus resultados de maneira precisa, mas não insípida. O espe
cialista interessado em metodologia irá encontrar, na Introdução, nas seções II-
IX e no capítulo XVIII, uma exposição dos meus pontos de vista e esforços
neste sentido. Ao leitor que se preocupa com os resultados da pesquisa mais do
que com o processo pelo qual foram obtidos, apresento nos capítulos IV-XXI
um relato das expedições do Kula e dos vários costumes e crenças que a ele se
acham associados. O estudioso que se interessa não só pelas descrições, mas
também pela pesquisa etnográfica que as fundamenta e pela definição precisa da
instituição, encontrará a primeira dessas nos capítulos I e II, e a última no
capítulo III.
Ao Sr. Robert Mond desejo expressar meus maiores agradecimentos. Graças
à sua generosa doação, pude levar a efeito, durante muitos anos, a pesquisa da
qual esta monografia representa apenas uma parcela. Ao Sr. Atice Hunt, C. M. G.,
secretário do Departamento de Habitação e Territórios do governo australiano,
quero expressar meu reconhecimento pelo auxílio financeiro que obtive através
de seu departamento, e também pela grande colaboração que ele me ofereceu
tão prontamente. Nas ilhas Trobriand, fui imensamente auxiliado pelo Sr. B.
Hancock, negociante de pérolas, a quem sou grato não só pela assistência e
serviços a mim prestados, mas também pelas grandes provas de amizade que
dele recebi.
Pude aperfeiçoar muito dos meus argumentos neste livro através da crítica
feita por um amigo meu, o Sr. Paul Khuner, de Viena, especialista nos negócios
práticos da indústria moderna e pensador altamente qualificado em assuntos eco
nômicos. O Professor L. T. Hobhouse pacientemente leu o manuscrito, dando-me
conselhos valiosos sobre diversos pontos.
Sir James Frazer, com seu prefácio, engrandece o valor deste livro muito
além de seu mérito; é não só uma grande honra e de grande proveito tê-lo como
autor do prefácio, mas também especial satisfação, pois minha paixão pela
etnologia associa-se em sua origem à leitura de seu livro Golden Bough (O Ramo
Dourado), na época em sua segunda edição.
Por último, desejo mencionar o nome não menos importante do Professor
C. G. Seligman, a quem dedico este livro. A ele devo a iniciativa de minha expe-