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DOI: 10.1590/1413-81232018247.

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Fleischer S
Os “problemas de pressão” na Guariroba/DF, Brasil: um aporte Introdução há uma concepção de adoecimento nem de dis-

temas livres free themes


da antropologia para pensar doenças crônicas cardiovasculares túrbio prolongado e, por isso, tenho optado por
Em 2004, Firmo et al. afirmaram que, “se por
1 categorizar a discussão que encopasse causas, sin-
um lado os estudos epidemiológicos da hiper- tomas, indisposições, tratamentos e significados
“Pressure problems” in Guariroba/Brazil: an anthropological tensão arterial no Brasil têm sido cada vez mais sobre as alterações da pressão sanguínea como
approach to chronic cardiovascular diseases numerosos, por outro lado, os estudos antropo- “problemas de pressão”15.
lógicos ainda são raros”. Mais recentemente, Fava Essa categoria deriva diretamente do ter-
et al.2 ainda perceberam essa escassez: “Apesar do mo utilizado pelas pessoas que conheci ao fazer
interesse crescente das pesquisas para se entender pesquisa etnográfica na Guariroba, um bairro
a construção cultural do processo saúde/doença, histórico da cidade de Ceilândia/DF. Circulei
são poucos os trabalhos atuais relacionados à pela Guariroba quase semanalmente, sozinha ou
HAS nessa perspectiva”. Canesqui3, também em acompanhada de diferentes estudantes de gra-
um artigo recente, afirma o mesmo: “É relativa- duação e pós-graduação. Passei bastante tempo
mente escassa a produção acadêmica nacional observando e conversando com as pessoas nos
sobre a hipertensão do ponto de vista da inves- bancos de espera de um dos doze centros de saú-
tigação qualitativa em interlocução com as ciên- de da cidade. Mas também participei dos grupos
cias sociais e humanas”. de apoio aos “hipertensos e diabéticos”, da dis-
Aparentemente, na última década, a Antro- pensação farmacêutica, da sala de acolhimento e
pologia continua tímida para tomar adoecimen- do grupo de ginástica do local. Quando convi-
tos crônicos, como os cardiovasculares, como dada, continuei conversas nas casas das pessoas,
Soraya Fleischer (http://orcid.org/0000-0002-7614-1382) 1 tema de pesquisa. Podemos contar nos dedos geralmente sexagenários, migrantes nordestinos,
os trabalhos publicados até o momento4-12. Em goianos ou mineiros que vieram tentar a sorte na
alguns casos, os “problemas de pressão” surgi- capital que nascia no início dos anos 1960. Por
ram colateralmente, como o estudo de Adriana aqui, casaram e tiveram filhos, ao passo que tes-
Abstract This article, driving from Anthropolo- Resumo Este artigo pretende, a partir da Antro- Vianna, que ao tomar o assassinato de jovens por temunharam a cidade crescer enormemente nos
gy, presents ethnographic data elaborated in Gua- pologia, apresentar dados etnográficos construídos forças policiais no Rio de Janeiro/RJ, notou que últimos 50 anos16. A Ceilândia, fundada no início
riroba, a neighborhood in the capital of Brazil. no bairro da Guariroba/DF. Entre 2008 e 2014, as menções aos “problemas de pressão” eram co- da década de 1970, é a maior das 31 regiões ad-
Between 2008 and 2014, dwellers, usually in their moradores, em geral sexagenários, migrantes e de muns entre as mães desses jovens na busca por ministrativas que compõem o DF, com cerca de
sixties, migrants and blue-collar workers, shared classe popular, compartilharam suas percepções justiça e reconhecimento (comunicação pessoal, meio milhão de moradores. Ainda que tenham
their perceptions on what they called high blood sobre o que chamavam de pressão alta e proble- ANPOCS, 2012). Ou mesmo Elena Calvo-Gon- conseguido superar as adversidades da migração
pressure and pressure problems, how they felt, ma de pressão, como os sentiam, explicavam e zalez13 que começou curiosa por entender ques- tão estoica, se mantiveram nas camadas popula-
explained and treated them. A very significant tratavam. A relação estreita e significativa entre tões raciais em Salvador/BA e terminou em con- res, mas com certa ascensão econômica.
relation between pressure and nerves was clearly a pressão e os nervos surgiu claramente e ajuda a sultórios onde a “hipertensão arterial” era mote Esse artigo tem como principal objetivo re-
stated and helps clarify health professionals and balizar a dificuldade que os profissionais de saúde das conversas clínicas. Em todo caso, tomando a tomar as percepções dessas quase 70 pessoas que
also researchers in dealing with cardiovascular di- e os pesquisadores da área têm em considerar essa pressão como tema direto ou indireto, no âmbi- conheci no bairro sobre os “problemas de pres-
seases. I suggest this relation can improve clinical relação. Sugiro que considerar essa relação tanto to dos estudos dos adoecimentos crônicos, vale a são” com os quais conviviam. Primeiro, apresento
and pharmaceutical practice and also the scienti- aprimorará a prática clínica e farmacêutica quan- sugestão de que “os estudos antropológicos per- a terminologia por elas utilizada para comunicar
fic results on hypertension. Knowing the percep- to os resultados científicos sobre a hipertensão ar- mitem conhecer em profundidade a percepção as sensações corporais que vivenciam cotidia-
tions from first person perspective, from those who terial. Conhecer as percepções em primeira pessoa, que as pessoas têm da hipertensão, como agem namente. Com isso, posso chegar às explicações
live with long and chronic illnesses, is a relevant de quem experiencia adoecimentos prolongados diante desta condição e quais fatores (econômi- causais sobre o surgimento dos “problemas de
measure to strategically modulate actions of pre- e crônicos, é uma medida relevante para modu- cos, sociais e culturais) podem influenciar per- pressão”, em especial o lugar que os “nervos”
vention and care. lar mais estrategicamente as ações de prevenção cepções e ações neste campo”1. ocupam nessas explicações. Ao final, pretendo
Key words Pressure problem, Nerves, Brazil, e cuidado. A elevação definitiva da pressão sanguínea mostrar como essa aproximação, entre pressão e
Anthropology. Palavras-chave Problema de pressão, Nervoso, é compreendida, pela perspectiva biomédica, nervos, extrapola para a relação com os medica-
Distrito Federal, Antropologia como “hipertensão arterial sistêmica” (HAS), mentos, os serviços de saúde e as formas de auto-
uma patologia crônica, irreversível e incurável14. cuidado. Minha aposta é de que, ao conhecer as
Desse ponto de vista, a “hipertensão” é um dos percepções locais sobre os problemas de pressão,
mais comuns e persistentes problemas de saúde seja possível modular de forma mais sensível e
da população brasileira: “sua prevalência no Bra- exitosa as iniciativas de prevenção e tratamento
sil varia entre 22% e 44% para adultos (32% em dos problemas cardiovasculares.
1
Departamento de média), chegando a mais de 50% para indivíduos
Antropologia, Universidade
com 60 a 69 anos e 75% em indivíduos com mais O “problema de pressão” e a “pressão alta”
de Brasília. Campus
Darci Ribeiro, Cidade de 70 anos”14. Por outro lado, a partir da perspec-
Universitária. 70910-900 tiva de pessoas que convivem com alterações di- A partir das primeiras pessoas que conheci,
Brasília DF Brasil.
árias de pressão sanguínea, não necessariamente fui pedindo indicações de outras que conviviam
fleischer.soraya@gmail.com
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com a “hipertensão”. Era comum receber negati- Sensações Car18 também encontraram. Muito mais presente Explicações para o problema de pressão
vas, “Não, não conheço ninguém”. Foi numa das O primeiro aprendizado sobre o “problema foi a relação do problema com sua faceta sinto-
conversas com Dona Marcela, mineira e viúva, de pressão” mática do que com a silenciosa. Como já comentado, as primeiras sensações
que me pareceu pertinente afinar as categorias. Havia os exames clínicos e laboratoriais para corporais amenas ou críticas levaram à consta-
Imersa há alguns meses em campo, me escapou Conheci Dona Arabela no banco de espera do definir um problema de pressão. Mas, em casa, tação do “problema de pressão”. Quer dizer, as
uma pergunta utilizando o substantivo “pressão”. centro de saúde. Contou-me que, uns dias antes, essas pessoas também realizavam “testes”, como crises, mais ou menos intensas, foram lidas e tra-
Ao passo que ela prontamente respondeu, “Ah, no feriado da Páscoa daquele ano de 2011, ha- chamavam, para descobrir se a dor de cabeça duzidas em vários espaços, a começar pela casa,
pressão alta tem muitos. Minha irmã Camila via estado na região de Barreiras/BA, visitando o estaria relacionada ao problema de pressão. Um passando pela família extensa e por vezes pela
tem, por exemplo. A Judite aqui da frente tem, filho que lá morava há alguns anos. Por lá, pas- dos testes era consumir alimentos proibidos. vizinhança até chegar às consultas de rotina (gi-
meu marido também”. Ao que parece, a categoria sou mal: “Senti uma grande pressão na cabeça, Dona Carolina lembrou, “Hoje, se eu como uma necologia, pré ou pós-natal, nutrição etc.) ou nas
nosológica “hipertensão”, enquanto uma doença uma pressão no juízo, apertando, apertando aqui comida com sal na hora do almoço, logo depois ambulâncias do SAMU e nas alas de emergência.
que precisa de tratamento, acompanhamento atrás [e apontava para a base da cabeça, junto à eu já estou passando mal”. Quando já estivessem Mas as pessoas foram além, explicando-me as ra-
e medicamentos de uso controlado e contínuo, nuca]. E eu não sabia o que era, não conseguia fazendo tratamento, outro teste era pular o medi- zões dessas sensações e crises. Nessa seção, gos-
encontrava melhor correspondência local como nem deitar”. Dores (ou também apertos e pres- camento, passar um ou mais dias sem tomá-lo17. taria de explorar essas explicações que ajudam a
“problema de pressão” e não exata ou simples- são) na cabeça (ou no juízo, na nuca, na testa, na A dor de cabeça e/ou um número alto no visor entender os problemas de pressão e, mais do que
mente “pressão alta”. No primeiro caso, o “pro- fronte, no alto, no miolo) eram, sem comparação, do esfigmomanômetro eram formas de constatar isso, a trajetória biográfica dentro da qual esse
blema” parece mais permanente e insistente e era a sensação corporal mais comumente relaciona- que o teste havia funcionado. A medição, nesse problema faz sentido aparecer.
comum vê-lo sendo comunicado com o verbo da com uma pressão alta, pelo que me contaram sentido, era entendida como uma comprovação Para começar, várias mulheres associaram
“ter” no presente, “Minha irmã tem problema de esses guarirobenses. Era o primeiro desconforto do que havia sido percebido a nível corporal. o início de seu “problema de pressão” a eventos
pressão desde que engravidou da última filha”. Já sentido que motivava encontrar uma explicação. As aferições ganhavam um protagonismo reprodutivos como a gravidez, o aborto ou a
o segundo termo, “pressão alta”, parece ser usado Outros estudos apontaram o mesmo sintoma importante na interpretação das sensações cor- menopausa. Outros relatos também trouxeram
como uma condição passageira bastante comum, inicial1,17-19. Se essa pressão alta eventual se trans- porais de mal-estar. A maioria das pessoas que a consanguinidade como explicação4. Dois dos
como um “pico de pressão alta” imprevisível ou formasse em algo permanente, como no caso do conheci ao longo desses anos contava com es- irmãos do Seu Felipe eram “hipertensos”. Ele
não. Tanto que se emprega o verbo “estar” ou “ter” “problema de pressão”, a dor de cabeça passava a figmomanômetros em casa e realizava aferições concluiu: “Se você tem alguém na família, você
flexionado no passado: “Eu estava com a pressão ser uma importante sensação indicativa de que o várias vezes ao dia, por diferentes motivos6. Os tem que se cuidar. Se não se cuidar, você também
alta semana passada”. Assim, atentei para esses di- problema se acirrava. Assim, esse incômodo pas- equipamentos e seus números seguiam ajudando desenvolve o problema”. Em Salvador/BA, Trad
ferentes termos e “problema de pressão” passou a sava de sensação a sintoma, à medida que a expe- a conferir sentido onde não havia, sobretudo às et al.23 notaram entre seus entrevistados que “a
equivaler a um quadro mais antigo, persistente e riência caminhava de “pressão alta” à “problema pessoas ditas assintomáticas. Mais disponíveis e HAS é reconhecida, nesse grupo, como uma do-
envolvente de adoecimento e sofrimento. de pressão”. acessíveis do que as autoridades médicas, os apa- ença da família devido ao número de membros
“Pressão alta” e “problema de pressão” são Lefévre20 lembra que a doença de “hiperten- relhos se popularizavam como fonte explicativa portadores e por ter acometido diferentes gera-
termos encontrados de modo distinto também são” é uma sensação. Não é à toa que muitas, ao para diferentes mal-estares, distúrbios, sobres- ções” (ênfase minha). A expressão “da família”,
por outros colegas1,4,5. Pelo que eu entendo do descreverem essas dores e incômodos, concluíam saltos, não só dos problemas da pressão (idem). em vez de “de família”, é muito eloquente porque
que foi dito na Guariroba, “pressão alta” é uma usando a expressão, “é assim quando eu sinto a Contudo, com o tempo e a convivência com os deixa mais claro ainda, a meu ver, que esse pro-
situação passageira, à qual qualquer pessoa po- pressão”. Era do mundo do sentir que vinha a “problemas de pressão”, as pessoas iam se auto- blema é percebido como específico e pronun-
deria estar eventualmente sujeita. “Problema de experiência mais próxima e concreta da “pressão nomizando dos números, aparelhos e opiniões ciado, sobretudo naquela família. Esse quadro
pressão” é a “pressão alta” que se tornou persis- alta” e, em seguida, do “problema de pressão”. técnicas. Atentavam progressivamente aos sinto- se estendeu, em alguns relatos, para identificar a
tente, que se tornou um problema de saúde, que Dona Rebeca disse, “Ah, quando eu sinto dor de mas e sensações, como se o corpo se transformas- linhagem feminina da interlocutora como defini-
infelizmente algumas pessoas tinham. Concordo cabeça, eu sei que está precisando medir”. Dona se, pouco a pouco, numa espécie de “esfigmoma- dora das formas (capacidade, duração, momento
com Firmo et al.1 de que a “pressão alta” é um fe- Camila explicou: “Ah, quando é a orelha que nômetro natural”. Ao se sentirem mal, talvez não na vida) de engravidar, segurar a barriga, perder,
nômeno abrupto e que o “problema de pressão” é quenta, eu sei que é “pressão alta”. Dor de cabe- conseguissem precisar se estavam “15 por 10” ou parir, quarentar, menopausar e, eventualmente, o
permanente. O “problema de pressão” parecia se ça, tontura também”. Seu Ivan falou que “a testa “16 por 10”, mas sabiam estar alta a pressão. Uma efeito dessas fases reprodutivas sobre a pressão.
aproximar mais de “hipertensão” como doença, fica quente e o olho fica pesado. Eu conheço meu senhora, que cuidou dos pais com “problemas de Por outro lado, é bom lembrar que a recorrên-
em termos biomédicos. Fava et al.2, em pesquisa corpo. Sei quando está diferente”. Aprendiam a pressão” e agora convivia com o irmão na mesma cia familiar do problema pode contribuir para
com pessoas com “hipertensão”, em Alfenas/MG, notar quais sensações se relacionavam especifica- situação, explicou, “Quando meu irmão está com banalizar a causalidade e também o tratamento.
também notaram o uso corrente do termo “pro- mente com o “problema de pressão”, sobretudo, pressão alta, ele nem precisa olhar no aparelho. Por exemplo, um dos entrevistados de Castro e
blema de pressão”, muito associado ao “problema quando a pressão estivesse subindo. O objetivo Ele fica todo vermelho, tem coceira e fica nervo- Car18, numa amostra entre paulistanos, lembrou:
dos nervos”. A relação entre estes dois tipos de era notar qualquer mudança da pressão para, em so, precisa tomar um banho frio, tomar um chá”. “Existe conhecimento do diagnóstico de hiper-
problemas reforça meu pleito pela associação de tempo, agir e normalizá-la, já que era relacionada Sugiro que o problema de pressão, enquanto tensão arterial há quatro anos e o tratamento foi
“problema de pressão” a um quadro mais sério de por essas pessoas a eventos críticos como o der- sensação, índice numérico e, como mostrarei na iniciado há dois anos. Porque a família tudo tem
adoecimento. Ainda assim, nada disso queria di- rame, o aneurisma, o infarto e ao acidente vas- seção seguinte, como explicação, integre o elenco isso, não liguei”.
zer que as pessoas se percebiam necessariamente cular cerebral17. As sensações foram relatadas de dos distúrbios físico-morais, tão bem discutidos Além disso, parece que o envelhecimento era
como doentes ou, ao menos, doentes por muito duas formas: sintomáticas – “crises” ou “picos de por Duarte22. Esse ponto será melhor discutido um fenômeno tido como produtor de debilidade
tempo. pressão” – e seguidas de atenção emergencial ou abaixo. a ponto de explicar o surgimento de vários pro-
silenciosas e descobertas numa consulta de roti- blemas, dentre eles o de pressão3-5,11,23. Em geral,
na, como Santos e Silva21, Péres et al.19 e Castro e ouvi acepções como a seguinte, quando Dona Ju-
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lieta contou que tinha pressão alta, gota, nervoso: de suporte em todas as áreas, desempenh[a] um O nervoso, os medicamentos mento para a HAS. A percepção que eles têm do
“A velhice chega, a doença chega”. papel fundamental nos momentos de doença. e a curabilidade problema é que ele é decorrente do nervoso, sin-
Ademais, havia todo um conjunto de expli- Isso poderia explicar por que qualquer proble- tomático e curável e, portanto, o tratamento, de
cações que se referia aos efeitos que as emoções ma com a família constitui um acontecimento O nervoso era uma categoria tão presente na acordo com seu critério, será por tempo determina-
– geralmente provocadas por situações de con- tão ameaçador”1. Também notei entre os guari- lógica explicativa dos problemas de pressão que do” (ênfase minha). Concordo de que um proble-
flito – exerciam sobre a pressão arterial. Quando robenses, que a família podia ser geradora, mas encontrei uma ampla circulação de psicotrópi- ma sintomático (nervos) irá repercutir na solu-
visitei Dona Janete, ela trouxe uma caixa de sa- também se esperava que fosse a principal cuida- cos. Algumas pessoas diziam que haviam come- ção de outro problema (pressão), na maior parte
pato onde guardava os remédios que consumia. dora dos problemas de pressão. O mesmo pode çado a tomar o “remédio controlado para pres- das vezes assintomático. Sugiro que essa ideia de
Notei que várias cartelas estavam parcialmente ser dito em relação aos serviços de saúde, inicial- são” no momento em que a pressão alta virou um resolubilidade esteja associada ao consumo dos
consumidas. Seu filho, do outro lado da sala, se mente, imaginados como fonte de cuidados, mas, “problema de pressão”. Muitas outras diziam, ao medicamentos, especialmente os psicotrópicos.
surpreendeu, “Mas mamãe, por que a senhora de fato, encontrados como fonte de conflitos. Seu falarmos dos “problemas de pressão”, que toma- Dessa forma, fica difícil sustentar a ideia de
não toma como o doutor falou?”. Ela deu de om- Olavo me contou como a iatrogenia biomédica vam “remédio controlado”, sem adjetivo explica- que o problema de pressão seja uma doença crô-
bros e continuou conversando comigo: “Eu sou poderia alterar sua saúde: “No Hospital Regional tivo, numa clara alusão aos diazepínicos. nica, como insiste a Biomedicina. Pela recorrente
assim, tomo quando eu precisar, quando eu es- da Ceilândia é igual. Os médicos são tudo cavalo. Na manhã em que conheci Dona Lina no e significativa associação do problema de pressão
tou meio assim”. Eu quis entender o “meio assim” Trata a gente que nem bicho, só vendo. A pessoa centro de saúde, ela parecia apreensiva. Tomava ao nervoso e seus medicamentos, surge a premis-
e ela explicou: “Ah, minha filha, às vezes, eu fico vem no médico pra que, né? Vem caçando solu- vários remédios e me mostrou a receita de cada sa de curabilidade. Fava et al.2 lembram ainda que
aqui vendo televisão e vejo cada coisa... Umas ção. Vem ver se acha um medicamento melhor um deles. Apesar de conviver com o problema os seus entrevistados “apoiam-se firmemente na
coisas tão feias, tanto problema pelo mundo. Aí, que baixa a pressão, né? Mas aí, é tratado assim, de pressão, estava ali esperando a consulta para crença da cura do problema, contudo, as recidivas
eu fico meio assim. E tomo um comprimido a já sai com raiva. Sai com a pressão aumentada. tentar convencer o clínico a lhe garantir uma me- são previstas, pois os fatores externos que desen-
mais para ver se fico melhor”. Seu Tadeu, numa Passa raiva é aí dentro do consultório”. dicação em especial: “Sim, tomo vários remédios, cadeiam o nervoso muitas vezes não podem ser
manhã no banco de espera do centro de saúde, Parece que a “coisa do momento”, explicada mas o importante mesmo é o controlado, o de evitados, fazem parte da vida” (ênfase original).
seguiu na mesma linha de Dona Janete. Ele me pelo Seu Tadeu, Dona Janete e Seu Olavo, era algo dormir. Essa noite, por exemplo, eu não dormi Assim, a cura pode ter acontecido para um epi-
contou o que lhe fazia subir a pressão, “Ah, eu momentâneo. E o “emocional”, como Dona Ra- quase nada. Acho que acordei umas três da ma- sódio, mas os nervos poderiam se desestabilizar,
acho que é coisa do momento. Você tá bem, mas faela ilustrou, tem efeito duradouro, deixando-a nhã e estou até agora acordada. Não consigo dor- a pressão voltaria a subir e o problema recome-
se fica nervoso, aí já sobe a pressão. Aí, você toma perturbada por muito mais tempo. Essas pessoas mir de noite, não consigo dormir de dia. É uma çaria. Embora as pessoas com quem eu conversei
o medicamento, em uma hora, ele já faz efeito e me ajudaram a entender que as “coisas do mo- tormenta isso. Por isso, quero pedir para que o cuidassem do problema de pressão, dadas as suas
você fica com a pressão boa de novo. Mas se você mento” talvez se relacionassem mais com as flu- médico volte com o Ametril. É isso que eu mais potenciais sequelas, só era possível realizar o con-
se agita com alguma coisa, volta a subir”. Eu peço tuações da pressão alta; enquanto que o “emocio- quero, sabe. Esses medicamentos são para o re- trole de certas variáveis que sabiam afetar a pres-
um exemplo, ele pensa um pouquinho e diz, “Ah, nal”, produzido por eventos trágicos e sofridos, laxamento, para conseguir dormir. São impor- são, como a comida ou o remédio, por exemplo.
uma coisa do momento é uma notícia ruim que deixava marcas mais intensas, configurando com tantes para mim. Fico muito melhor com eles”. Mas as notícias ruins e outros eventos que im-
você recebe, por exemplo. Isso te agita e a pressão o tempo um problema de pressão. As “coisas de Um médico anterior havia lhe retirado esse me- pactavam o emocional eram difíceis de evitar. Ao
sobe”. Dona Rafaela, que estava sentada ao nosso momento” também afetavam quem já tivesse um dicamento, alegando ser desnecessário. Ela que- falarem do impacto das preocupações e conflitos,
lado ali mesmo no centro de saúde, discordou de problema de pressão instalado, provocando, por ria convencer esse segundo médico de que sem estavam a explicar que os “fatores externos que
Seu Tadeu: “Ah não, meu tipo é diferente. Meu exemplo, picos ou crises de pressão. Esses relatos dormir, era impossível relaxar e, por tabela, im- desencadeiam o nervoso fazem parte da vida”2.
tipo de pressão alta é do emocional. Esse é o meu parecem me comunicar que os corpos velhos se possível controlar os problemas de pressão e de Conforme esses aspectos, as pessoas me fa-
tipo. A pressão é coisa de agonia, de aperreio. apresentavam como mais frágeis, mais suscetíveis diabetes. Dona Ivia explicou no mesmo sentido: ziam pensar como a reprodução, a família, a ve-
É o emocional da gente que fica alterado e afe- aos efeitos do que definiam como raiva, preocu- “Eu tomo o remédio da pressão porque mi- lhice, o trabalho, a cidade, os serviços de saúde
ta o sangue, a pressão do sangue”. Ela explicou pação, estresse e nervosismo. Estavam mais pro- nha pressão é uma pressão emocional, com o e as várias “coisas do momento” geravam preo-
que grandes acontecimentos na vida e na famí- pensos a desenvolver uma pressão alta a ponto de sistema nervoso ela sobe. Não é que eu tenho a cupações a ponto de ficarem “meio assim” e sua
lia fizeram a pressão “começar a subir” e, com o virar um problema de pressão. pressão alta, alta, não. Minha pressão é 12 por pressão arterial se elevar tão frequentemente a
passar do tempo, se transformar em um proble- Canesqui4 mapeou a gama causal que vá- 8, normal. Agora, qualquer coisinha, qualquer ponto de se tornar um problema constante. Esses
ma continuado: “Meu pai morreu com 95 anos, rios outros estudos também encontraram: “as probleminha de emoção que eu sinto, qualquer dados dialogam com a literatura. Outros autores
ele morreu de câncer. Eu fui cuidar dele e tudo. explicações das causas da pressão alta pelos in- coisa, aí ela sobe rapidinho. Controla só com o também notaram que os pacientes tomavam a
Mas foi muito difícil para mim. Foi nessa época formantes (...) comportam múltiplos domínios: Lexotan. Só com o remédio da pressão a pressão “hipertensão” como “decorrência de um estado
que minha pressão começou a subir. Foi coisa do físico, emocional, relacional, familiar, moral, nu- não controla. É porque eu tomo todo dia o remé- emocional, traduzido como passar muito nervo-
emocional mesmo. Mas o que me ajuda mesmo tricional, hereditário, de vida e laboral”. Também dio da pressão, mas, pra mim, quando eu estou so”17 (ênfase das autoras). No estudo de Péres et
é a caminhada e também a ginástica aqui do pos- ressoando ali na Guariroba, essas explicações não nessas fases de descontrole emocional, assim, só al.19, um terço de seus entrevistados mencionou
tinho. Quando caminho e tudo, fico muito bem, necessariamente aconteciam dentro de caixinhas melhora se eu tomar o remédio controlado, o Le- a necessidade de “controlar a emoção [ao] evitar
sem essa coisa do emocional me afetando muito”. ou de modo isolado. A pressão alta era momen- xotan. É muito bom! ficar nervosa, ficar mais calma e viver tranquila;
Além das mazelas do mundo que chegavam tânea e podia ser alterada por uma preocupação. Fava et al.2, em pesquisa no sul mineiro, aten- sair da situação de estresse, como sair de casa
pela televisão de Dona Janete, por exemplo, as Por outro lado, sendo constante e insistente o taram para mais um aspecto, que parecia ter para passear, conversar com outras pessoas, ler e
mazelas mais próximas, na figura dos problemas sofrimento ou a preocupação, a pressão tinha o implicações importantes para a convivência e fazer palavra cruzada”. Esse nervoso foi associado
familiares, também tinham larga influência nos potencial para permanecer alta e se transformar, cuidados com os problemas de pressão. Percebe- por diferentes entrevistados a “rua [com] mui-
problemas de pressão1,23. Mais adiante, contudo, de fato, em um problema. ram que “um aspecto peculiar para os depoentes ta bagunça e brigaiada, [sem] sosseg[o] noite e
lembraram que “a família como a primeira fonte são os sentidos atribuídos aos objetivos do trata- dia”2, “ao stress da vida moderna”17, “a viver e tra-
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balhar em uma grande metrópole (‘agitada’)”18, riroba, se fosse um medicamento prescrito pelo etc. Vivenciar intensamente o problema de pres- mas mentais e morais, num claro efeito encapsu-
às “aflições da vida (...), as emoções contidas, os “meu médico” (em vez de um clínico geral desco- são era, portanto, uma forma legítima e estraté- lante, contribuía para invisibilizar ou até banali-
conflitos e as preocupações domésticas e fami- nhecido), personalizado (em vez de um fármaco gica para também atenuar toda uma outra gama zar os problemas dos nervos.
liares”4, “à sobrecarga de afazeres domésticos”24, genérico), eficaz (em vez de um medicamento de problemas, corriqueiros e persistentes, como a A tendência era o sofrimento das emoções,
associando também as questões de gênero aos tomado há muito tempo e, com o qual, o corpo insônia, o nervoso, a angústia, a impaciência com dos nervos e até da mente serem classificados
problemas de pressão. Péres et al.19 encontraram, já tivesse se acostumado, como indicaram Firmo vizinhos, parentes, colegas de trabalho, o pânico e como indicado por Canesqui4: “observa-se nas
entre os “hipertensos” entrevistados em Ribeirão et al.1), comprado (em vez de retirado gratuita- medo urbano, por exemplo. Essas pessoas sabiam investigações feitas com pacientes cardíacos aten-
Preto/SP, palavras como “nervosismo e irritação mente na farmácia do centro de saúde) de uma bem como eram escassas e rápidas as consultas didos em uma unidade de pronto-atendimento
(60%), preocupação (31%) e ansiedade (9%)”. drogaria específica (em vez de qualquer uma do HIPERDIA, impedindo a disponibilidade do na cidade de São Paulo que, aos classificados
Assim, a literatura aponta que o nervoso e ao redor da cidade) a um alto preço (em vez de médico para uma escuta atenta e terapêutica. como ‘poliqueixosos’ pelos profissionais de saú-
o emocional, em suas diferentes acepções e ma- preços de custo, tabelados ou subsidiados), esta Por isso, aproveitavam as consultas do “grupo de de, imputam-se ‘dores imaginárias’ ou ‘psicoló-
nifestações, como “a principal causa da pressão pílula teria mais chance de surtir efeitos sobre a hipertensos”7 para também associar os proble- gicas’ e a busca frequente dos vários serviços de
alta”1. Ainda assim, apesar da contundência do pressão alta e também o nervoso. Era do encanta- mas do nervoso aos da pressão e logo sair dali saúde”. Muitos profissionais anedotizavam os
nervoso, a meu ver, encompassador e onipre- mento exercido por certos medicamentos que me com prescrições de tranquilizantes, calmantes, problemas de nervos e desconsideravam os efei-
sente (antes, durante e depois da pressão alta), falavam25. Contudo, essas pessoas geralmente só soníferos, etc.8. Havia uma clareza de como os tos desses problemas nos de pressão. Ao final das
alguns autores ainda persistem em desvalorizar tinham condições de recorrer aos centros de saú- problemas de pressão, sobretudo pela eficiente contas, observo, nem o problema dos nervos e,
essa lógica explicativa para os problemas de pres- de, às consultas rápidas, aos medicamentos gra- legenda “hipertensão”, contavam com um amplo muito menos, o da pressão eram bem compreen-
são. Péres et al.19 acham que entre seus entrevis- tuitamente dispensados no atacado. Havia uma aparato de políticas, serviços e direitos. Esse apa- didos e encaminhados. Ignorado pelas equipes de
tados havia “um desconhecimento da etiologia forte desconfiança sobre esses medicamentos rato era bem aproveitado para tentar controlar a saúde, era provável que o nervoso continuasse a
da hipertensão arterial e uma concentração de dispensados: acreditavam ser “feitos de farinha” pressão, mas também todos os outros problemas manter a pressão elevada, preocupante e perigosa
respostas, atribuindo as causas da doença aos e “fracos”. Por isso fazia sentido que as pessoas que lhes afetavam. Ao encontrarem as políticas entre esses pioneiros moradores da Guariroba.
aspectos emocionais”. Mais a frente, estes auto- recorressem a outro conjunto de medicamentos, para as doenças crônicas, na figura da “hiperten- Nesse artigo, tratei de considerar dois con-
res, representando em minha opinião um possí- tidos como mais potentes para resolver, a um só são” (e também da “diabetes”), as pessoas teriam juntos de interlocutores, aqueles que convivem
vel senso comum na academia e nos serviços de tempo, pressão e nervoso. O remédio controlado, a chance de serem minimamente atendidas em e cuidam e aqueles que pesquisam os problemas
saúde, indicam também haver uma “distorção” tarja preta, da farmácia especial, retirado median- seus problemas de nervos, já que estes figuravam de pressão. Dada a quantidade de estudos sobre
no entendimento por parte dos pacientes e uma te apresentação da receita azul, era amplamente como a principal explicação para o problema de as doenças hipertensivas, aqui representadas por
“não compreensão da natureza multifatorial da reconhecido e valorizado, e, mais importante, pressão. um pequeno conjunto eloquente, é possível pen-
hipertensão”. Impressiona como um dado recor- respeitado e consumido. Era retirado na farmá- Por outro lado, contudo, manter-se sob a sar que sejam fonte consultada pelos gestores e
rentemente encontrado em diferentes pesquisas, cia pública ou, dada sua potência, a compra de guarida das doenças cardiovasculares significava, profissionais da atenção primária em saúde. Há
sociais e biomédicas ao redor do país, pode ser poucos itens já seria eficiente, confirmando seu muitas vezes, que essas pessoas fossem privadas uma passagem gradativa dos resultados apon-
tão desconsiderado, sobretudo pelos estudos em custo-benefício. de passar ao plano dos especialistas e psicotera- tados pelos estudiosos da “hipertensão” para os
que o principal objetivo é conhecer como os pa- Pessoas como Dona Lina e Dona Ivia ha- pias voltadas para os problemas da saúde men- consultórios ao redor do país. O que preocupa,
cientes pensam para melhor envolvê-los na ade- viam encontrado na farmaceuticalização psiqui- tal, dos quais, suspeito, de fato padeciam. Algu- portanto, é que a forma como os problemas de
são aos tratamentos. átrica dos seus problemas de pressão uma saída mas das profissionais do centro de saúde que eu pressão eram percebidos pelos sujeitos que os vi-
De forma mais apropriada, a meu ver, Fava et para controlar seus índices corporais e manter, frequentei por tantos anos reconheciam que os venciavam não coincidia com a chave interpreta-
al.2 parecem matar esta charada: “Percebe-se que por mais tempo, o bem-estar cotidiano. Como “problemas de casa” acabavam elevando a pres- tiva utilizada pelos profissionais que os tratavam.
os modos de pensar e de agir das pessoas com apresentei, com o Ametril, Dona Lina voltava a são, mas esse reconhecimento não se convertia, Portanto, noto que desconsiderar a relação entre
“HAS”, que podem ser traduzidos pela experi- dormir, o que parecia determinar seu humor, dis- na prática, em realmente considerar o nervoso o nervoso e a pressão pode gerar consequências
ência da enfermidade, são pouco valorizados e posição ao longo do dia e a pressão controlada. dentro dos serviços oferecidos aos “hipertensos” muito negativas. Esses usuários do SUS corriam
compreendidos pelos profissionais de saúde” e, Com o Lexotan, Dona Ivia se blindava das “coisas naquele centro de saúde. Nenhuma atividade era o risco de encontrar diálogos distanciados, auto-
acrescento, também pelos acadêmicos. De for- de momento” ou mesmo do peso emocional que oferecida além de consultas, aferições, informa- ritários e equivocados nos centros de saúde que
ma ousada e interessante, ao propor uma mirada os conflitos familiares ou os noticiários poderiam ções sobre alimentação, medicamentos e um gru- frequentavam, já que muito da pesquisa poderia
autocrítica e reversa, a equipe de Fava reconhe- lhe proporcionar. A prescrição cada vez mais li- po de ginástica (protagonizado pelos pacientes e estar orientando a forma como a gestão, as con-
ce que a incompreensão está, na verdade, entre beralizada desses medicamentos lhes era favorá- bastante deslegitimado pelos gestores locais26). sultas e a assistência farmacêutica são realizadas
quem manda e estuda, isto é, os profissionais e vel, garantindo o acesso e a automedicação nos Assim, a tendência a “hipertensivar” os proble- no país.
pesquisadores da saúde. momentos de crise da pressão e dos nervos.
Assim, por um lado, o tema da pressão abria
Considerações finais: pressão, a possibilidade de conseguir acesso a consultas,
nervos e medicamentos grupo de apoio, medicamentos. Era um tema,
como bem percebiam essas pessoas, que contava
O medicamento anti-hipertensivo não pre- com um campo estabelecido enquanto política
cisava apenas baixar a pressão, sobretudo aque- pública (principalmente, o Hiperdia14) e isso se
las teimosas e perigosamente silenciosas, mas traduzia, na prática, em prioridade desses pa-
também disputar essa pressão com os efeitos do cientes nas filas, salas de acolhimento, consultó-
nervoso. Aos olhos desses interlocutores da Gua- rios, farmácias, laboratórios, grupos de ginástica
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Ciência & Saúde Coletiva, 24(7):2617-2626, 2019

Fleischer S
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