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Drogas & 30 Anos de Redução de Danos

As Três Ondas da Redução de Danos no Brasil


The Three Waves of Harm Reduction in Brazil

Dênis PetucoI

Resumo Abstract

A Redução de Danos, conceito polissêmico que abarca um conjunto Harm Reduction, a polysemic concept that encompasses a set of
de práticas e concepções relacionadas ao cuidado de pessoas que practices and concepts related to the care of people who use drugs,
usam drogas, tornou-se conhecida no Brasil a partir de sua incorpora- has become known in Brazil since its incorporation as part of the
ção como parte da resposta nacional à epidemia de HIV/Aids. Com o national response to the HIV/AIDS epidemic. Over time, the concept
passar do tempo, o conceito foi sendo apropriado por outros campos has been appropriated by other fields of reflection and intervention,
de reflexão e intervenção, como saúde mental e desenvolvimento so- such as mental health and social development. This article proposes
cial. O presente artigo propõe uma narrativa da experiência brasileira a narrative of the Brazilian experience with Harm Reduction that takes
com Redução de Danos que toma as ondas do mar como metáfora the waves of the sea as a metaphor to contemplate an accumulation
para contemplar um processo de acúmulo, contra uma concepção process, against a stageist conception based on historical ruptures.
etapista baseada em rupturas históricas. Conclui-se com uma breve It concludes with a brief reading of the current moment and the chal-
leitura do momento atual e dos desafios a serem enfrentados. lenges to be faced.

Palavras-chave: Redução de danos; História; Brasil. Keywords: Harm reduction; History; Brazil.

Introdução - ou “dos nascimentos às ondas”

E
xistem muitas formas de se contar uma his- A história das teorias, técnicas e políticas
tória. Pode-se optar entre pequenos resu- públicas de cuidado dirigidas a pessoas que
mos ou narrativas grandiloquentes, entre o usam álcool e outras drogas tem sido uma pai-
resgate dos processos estruturais ou das histo- xão para mim, mesmo antes de virar projeto de
rietas cotidianas, entre o texto seco e os parágra- doutorado e livro1. Desde que comecei a traba-
fos que se estendem por páginas e mais páginas lhar na área, eu me interessei por narrativas, cau-
(evoé Saramago!). E não se trata só de estilo; afi- sos, textos antigos e diários de campo em perdi-
nal, a própria historiografia reúne pesquisadores das pastas de computador. Daí vieram artigos e
em acirrados debates com respeito às fontes, ao convites para seminários, nos quais fui dividindo
modo de lidar com os documentos, o lugar dos acúmulos e ensaiando formas. Muitas vezes fui
grandes personagens e dos emudecidos cida- procurado por colegas que generosamente corri-
dãos comuns. giam, não apenas detalhes e incorreções, como
I
Dênis Petuco (denis.petuco@fiocruz.br) é sociólogo pela universidade Fe- as próprias estratégias narrativas.
deral do Rio Grande do Sul (UFRS), Mestre em Educação pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) e Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Nas próximas páginas, gostaria de corrigir
Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Professor e Pesquisador do Laboratório de
Educação Profissional em Atenção à Saúde da Escola Politécnica de Saúde algumas coisas que afirmei nos últimos anos, em
Joaquim Venâncio na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fun-
dação Oswaldo Cruz (EPSJV/FIOCRZ). eventos e artigos2-3. Um dos principais aspectos

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diz respeito à divisão da história da Redução de “O SUS era uma proposta que garan-
Danos (RD) em “nascimentos”, que teriam ocor- tia acesso universal, mas que não consi-
rido em diferentes campos de saberes, demar- derava prostitutas, travestis, e principal-
cados por técnicas de cuidado diferenciadas e mente as pessoas que usam drogas. Os
sem comunicação. Foi Márcia Colombo, amiga e gays também, em certa medida. Dentro
técnica do Departamento de Condições Crônicas da exclusão, da pobreza, da miséria, tinha
e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Mi- uma extra exclusão de alguns segmen-
nistério da Saúde, quem chamou minha atenção tos. E parecia-me um absurdo que aque-
para a possibilidade de substituir a ideia estáti- les segmentos da população fossem extra
ca dos nascimentos, pela sobreposição sinérgica marginalizados”III.
das ondas que se seguem umas às outras e se A tarefa de gerir a saúde em Santos ficaria a
reúnem na praia. Valeu Márcia! cargo de David Capistrano Júnior, importante mili-
tante do Movimento de Reforma Sanitária. Capis-
Primeira onda: prevenção ao HIV/aids e às hepa- trano cercou-se de uma equipe técnica tão quali-
tites virais ficada quanto ousada. A política para o HIV/aids
seria conduzida por Fábio Mesquita, que já tivera
Poderiam haver tempo e lugar mais apropria-
contato com o tema por conta de sua atuação co-
dos para o início da experiência brasileira com
mo médico da rede municipal santista. À época,
Redução de Danos do que a cidade de Santos,
a cidade era conhecida como “Capital da Aids”,
em 1989? Mal terminara a ditadura civil-militar e
com uma incidência de 217 casos para cada 100
a “pátria vermelha”4 ou “moscouzinha brasileira”5
mil habitantes entre 1980 e 19928, sendo que
já colocava a esquerda na gestão municipal, ele-
mais de 50% destes casos estavam diretamen-
gendo a petista Telma de Souza como prefeita.
te relacionados ao compartilhamento de seringas
À beira do mar e “contra a maré”II,6, os santistas
entre pessoas que faziam uso de drogas por via
deram início à uma série de experiências inovado-
injetável9.
ras em áreas como educação, urbanismo, meio
ambiente e participação. A literatura internacional já descrevia inicia-
tivas bem sucedidas para a prevenção do HIV/
Mas seriam as realizações na área da saú-
aids e outras doenças de transmissão parente-
de que tornariam Santos uma referência. No
ral: a disponibilização de seringas e outros ape-
contexto de criação do Sistema Único de Saúde
trechos necessários ao uso de drogas por via
(SUS)7 os santistas não apenas materializaram
injetável. Cientes de que a estratégia era ade-
consignas da Reforma Sanitária brasileira (o que
quada ao contexto santista, os gestores anuncia-
já seria extremamente avançando), como imple-
ram que a troca de seringas passaria a compor
mentaram políticas que seriam vanguarda den-
a resposta ao HIV/aids no município. O Ministério
tro da vanguarda, especialmente nos campos da
Público, entretanto, entenderia a proposta como
Saúde Mental e do enfrentamento ao HIV/aids,
um incentivo ao uso de drogas, impedindo a sua
como dito por uma das pessoas envolvidas na
implementação.
gestão santista à época:
As barreiras de ordem legal fariam com que
Referência ao livro “Contra a maré à beira mar: a experiência do SUS em
II

Santos”6. as primeiras ações de prevenção ao HIV/aids en-


III
Entrevista concedida no contexto da pesquisa para doutorado. tre pessoas que faziam uso de drogas por via

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injetável ocorressem na clandestinidade. Esta si- Assim como diversas outras populações ini-
tuação de impedimento legal só seria superada cialmente estigmatizadas como “grupos de ris-
a partir de 1995, em Salvador. No ano seguinte, co”, os usuários de drogas também foram incen-
outras cidades também conseguiram dar início tivados a se organizarem em associações para
aos seus programas, e antes do final do milênio, facilitar sua participação na construção da res-
já existiam dezenas de iniciativas espalhadas por posta brasileira à epidemia de HIV/aids. Mesmo
todo o país. em programas governamentais, a presença de
O desenvolvimento da experiência brasileira pessoas com experiência pessoal no uso de dro-
com Redução de Danos no contexto do HIV/aids gas era considerada fundamental para garantir
teve implicações, não apenas no que tange ao capilaridade das ações preventivas junto a pes-
impacto nos indicadores epidemiológicos, como soas que, por conta da criminalização, esforça-
também para a definição de elementos éticos, vam-se para manterem-se invisíveis aos agentes
estéticos e políticos. Afinal, o campo social cons- do Estado.
tituído em torno da construção de respostas à Nos primeiros anos do século XXI, uma
epidemia foi (e ainda é) extremamente receptivo transformação interpelaria os grupos envolvidos
à participação de grupos considerados marginais com Redução de Danos. Já conhecido em São
em outras esferas da vida pública. Neste sentido, Paulo desde a década de 1990, o crack come-
é importante conceber a aids não apenas como çaria a se espalhar por todo o país, fazendo com
uma doença relacionada a um vírus, mas como que o uso de drogas por via injetável diminuísse
um fenômeno social: ao ponto de ser considerado epidemiologicamen-
“À aids, acontecimento biológico, so- te irrelevante. O repasse de recursos do Depar-
mava-se a aids como acontecimento políti- tamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais do
co e cultural, interpelando comportamen- Ministério da Saúde diminuiu drasticamente e a
tos e obrigando o debate de temas-tabu, responsabilidade quanto ao uso de álcool e ou-
como sexualidade e uso de drogas. Na tras drogas passou para a Coordenação Nacio-
saúde pública, a Aids interrogava moralis- nal de Saúde Mental, Álcool e Outras DrogasIV.
mos arraigados nas práticas mais cotidia-
Nesta esteira, diversas organizações de Redução
nas de cuidado, naturalizados pela quase
de Danos fechariam suas portas e muitos Pro-
total ausência de questionamento e refle-
gramas de Redução de Danos (PRD) vinculados a
xão. Grupos minoritários, como gays, tra-
políticas municipais de HIV/aids passaram a ser
vestis, prostitutas e usuários de drogas,
chamados ao debate sobre a construção subordinados à Saúde Mental.
de estratégias de enfrentamento à epide- Mas o desaparecimento das relações entre
mia, deram visibilidade a questões situa- doenças infectocontagiosas e uso de drogas não
das para muito além da própria aids, como passava de mera suspeita. Em 2014, a publica-
políticas de ação afirmativa, denúncias de ção de uma pesquisa mostraria que a prevalên-
violação de direitos humanos, luta por re- cia do HIV/aids entre brasileiras e brasileiros que
conhecimento (inclusive profissional, como faziam uso de crack era oito vezes maior que na
no caso das prostitutas), e o enfrentamen- população geral10 (e duas vezes maior também
to de vulnerabilidades, estigmas e precon-
ceitos”1 (p.154). IV
Este ponto será aprofundado quando falarmos da segunda onda da Redu-
ção de Danos..

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para a hepatite tipo C (p.77-78): não só. Especificamente sobre o HIV/aids, Parker
“Os resultados apresentados e Camargo18 partiram do conceito de “sinergia
apontam claramente para a necessida- coletiva de pragas”19 para descrever uma “siner-
de de ações preventivas e de controle gia de vulnerabilidades” no âmbito individual. Es-
de doenças específicas para a popula- ta concepção, fundamental para a superação da
ção usuária de drogas, alertando para noção de “grupo de risco”, anunciava o próximo
as formas de transmissão característi- paradigma na organização da resposta global à
cas desta população, com o propósito epidemia de HIV/aids: a “Prevenção Combinada”,
de minimizar os problemas de saúde adotado no final da década de 2010:
decorrentes de sua inserção em con- “A Prevenção Combinada oferece as
textos adversos”10 (p.81). melhores perspectivas para abordar os
A relação com o compartilhamento de pontos fracos documentados nos progra-
cachimbos parecia óbvia, mas as pesquisas mas de prevenção e para gerar reduções
não conseguiram refutar ou comprovar esta significativas e sustentadas na incidência
hipótese11-14. Se não fosse esta, qual seria do HIV em diversos contextos. As evidên-
então a conexão entre o uso não injetável cias sustentam a maior efetividade de es-
de drogas e a maior exposição ao HIV/aids tratégias complementares de prevenção
e hepatites? Uma resposta já estaria presen- comportamental, biomédica e estrutural.
te nas conclusões da pesquisa de Bertoni e Esta concepção permite operar em dife-
Bastos10: rentes níveis (indivíduos, relacionamentos,
comunidades, sociedades) para atender às
“Os achados do presente estudo
necessidades específicas, mas diversas,
evidenciam a vulnerabilidade da popu-
das populações em risco de infecção pelo
lação de usuários de crack e/ou simi-
HIV” (p.5)20.
lares frente ao risco de contrair doen-
ças infecciosas. Isso se deve ao fato de O Departamento de IST, HIV/Aids e Hepa-
que grande parte da população apre- tites Virais do Ministério da Saúde incorporou a
senta diversos comportamentos de ris- perspectiva da Prevenção Combinada como dire-
co e estão inseridos em contextos pau- triz central para a coordenação da resposta brasi-
perizados, violentos e frequentemente leira à epidemia de HIV/Aids, incluindo a Redução
carentes de qualquer infraestrutura, de Danos, como um componente estratégico, a
mínima que seja (como uma fonte de partir da compreensão de que “...diversos agra-
água corrente) [...]. Essas ações não vos à saúde (incluindo a própria Aids) decorrem
devem ficar restritas à esfera da saú- não apenas do uso de drogas, mas das políticas
de, uma vez que estas situações de de drogas”21 (p.36).
risco [...] possuem profundas raízes so- As experiências com Redução de Danos
ciais” (p.81). desencadeadas pela resposta ao HIV/aids es-
tão longe de se esgotar, não apenas por conta
da alta prevalência de infecções entre pessoas
As conclusões de Bertoni e Bastos10
que usam álcool e outras drogas ou por novas
corroboram a tradição de estudos das deter-
modalidades de uso e vulnerabilidade, como o
minações sociais de saúde e doença15-17, mas

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“chemsex”V,22, mas pela capacidade inventiva en- onda do HIV/aids e das hepatites virais, por al-
sejada pelo território reflexivo organizado em tor- guns anos. Ainda que redutoras e redutores de
no da epidemia. Não obstante, deixaremos por danos nunca tenham se limitado à prevenção dos
ora esta onda. agravos infectocontagiosos, afirmando em ato
uma profunda ampliação do cuidado de pessoas
Segunda onda: Saúde Mental que usam álcool e outras drogas, cabe salientar
que a reflexão acerca destas práticas se mante-
As técnicas e políticas de saúde dirigidas
ve, por algum tempo, circunscrita ao contexto do
a pessoas que usam álcool e outras drogas no
HIV/aids.
Brasil foram, por muito tempo, exclusividade da
Psiquiatria. A eugeniaVI ditaria as regras durante Em meados da década de 2000, entretanto,
a primeira metade do século XX; na ditadura civil- a dispersão do uso de crack por todo o territó-
-militar, seria a vez do tecnicismo reacionárioVII. rio nacional passaria a ser utilizada para atacar
Não obstante, os “anos de chumbo” acolheriam a Política Nacional de Saúde Mental27 e a Refor-
a primeira edição nacional de um livro de Claude ma Psiquiátrica como um todo. Entidades como a
Olievenstein, “Os Drogados Não São Felizes”23, Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), e sin-
referência para toda uma geração de brasileiras dicatos médicos de alguns estados passaram a
e brasileiros descontentes com tratamento dado ganhar espaço midiático para divulgar relatórios
aos usuários de drogas, em nosso paísVIII. que responsabilizavam o fechamento de hospi-
tais psiquiátricos por uma pretensa desassistên-
A Reforma Psiquiátrica brasileira, entretan-
cia às pessoas que faziam uso de crack.
to, custaria a encarar a questão do cuidado diri-
gido a pessoas que usam álcool e outras drogas, Este ataque organizado encontraria respos-
ainda que importantes narrativas da violência ma- ta a partir de uma articulação que já vinha sendo
nicomial, muito inspiradoras para o movimento, construída desde o final da década de 1990, no
tenham sido produzidas justamente por pessoas encontro entre as políticas e movimentos de Saú-
internadas por conta do uso de substâncias24-26. de Mental e de HIV/aids. O lançamento da Políti-
As razões para este vazio reflexivo são controver- ca de Atenção Integral para Pessoas que usam
sas, mas o reconhecimento da demora no acolhi- Álcool e Outras Drogas28, fruto do esforço de téc-
mento do tema é, até onde sei, um consensoIX. nicos de diversas áreas do Ministério da Saúde,
foi um marco deste momento. O documento tra-
A experiência brasileira com Redução de
duzia oficialmente, pela primeira vez, uma pers-
Danos, por seu turno, também demorou para
pectiva que transformava a Redução de Danos
encontrar a Saúde Mental, “surfando” apenas a
em diretriz do cuidado no Sistema Único de Saú-
Termo que se origina da expressão chemical sex (sexo químico, em inglês) e
de (SUS), como um todo:
V

se refere a prática sexual feita sob influência de drogas psicoativas.


VI
A eugenia foi uma teoria importante na passagem entre os séculos XIX e “Vemos aqui que a redução de da-
XX. Os eugenistas defendiam a purificação e aperfeiçoamento da raça hu-
mana, por meio de políticas que impedissem a procriação entre indivíduos nos oferece-se como um método e, portan-
portadores de “fatores de degenerescência”, como alcoolismo e dependên-
cia de drogas.
to, não excludente de outros. Mas, vemos
Na passagem entre as décadas de 1960 e 1970, as teses sobre eugenia
VII também, que o método está vinculado à di-
foram finalmente silenciadas no Brasil. Em seu lugar, ganharam força as reção do tratamento e, aqui, tratar significa
teorias vinculadas à uma psiquiatria tecnicista que articulava a defesa do
dispositivo manicomial, o uso de medicamentos e eletroconvulsoterapia, e
uma verdadeira fobia aos valores expressos pela contracultura. IX
Não disponho de fontes ou referências para esta afirmação; apenas os re-
latos de um grande número de militantes históricos da Reforma Psiquiátrica
História é descrita em pormenores por Petuco , no livro “O pomo da Dis-
VIII 1
a quem interroguei sobre o assunto, inúmeras vezes
córdia: drogas, saúde, poder”.

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aumentar o grau de liberdade, de co-res- que isto não significa a ausência de conflitos e
ponsabilidade daquele que está se tratan- tensões. Um bom encontro caracteriza-se, não
do. Implica, por outro lado, no estabeleci- pela paz, mas pelo aumento da “potência de agir
mento de vínculo com os profissionais, que no mundo”29 (p.66). No caso em questão, a Redu-
também passam a ser co-responsáveis ção de Danos oferecia à Saúde Mental, não res-
pelos caminhos a serem construídos pela postas prontas, mas reflexões éticas que exigiam
vida daquele usuário, pelas muitas vidas
movimento e invenção. Do mesmo modo, a Saú-
que a ele se ligam e pelas que nele se ex-
de Mental permitia à Redução de Danos a supe-
pressam” (p. 10)28.
ração definitiva de qualquer resquício de redução
A política do Ministério da Saúde se tor- da questão do uso de drogas à uma dimensão
nou a principal referência do SUS no que tange meramente instrumental de caráter preventivista.
à atenção integral a pessoas que usam álcool
Mas que não reste dúvidas: isto não signi-
e outras drogas. Não obstante, a Redução de
fica que trabalhadores, militantes e pesquisado-
Danos expressa no documento não possuía a
res comprometidos com a Saúde Mental tenham
mesma objetividade daquela que orientava o en-
sempre encontrado respostas satisfatórias pa-
frentamento do HIV/aids, o que dificultava a sua
ra traduzir o conceito de Redução de Danos no
materialização no cotidiano dos serviços: o que
cotidiano dos serviços de Saúde Mental. Rose
seria, concretamente, uma prática de Redução
Meyer, coordenadora do Centro de Referência em
de Danos em um Centro de Atenção Psicossocial
Redução de Danos da Escola de Saúde Pública
especializado em álcool e drogas (CAPS-ad)?
do Rio Grande do Sul, sempre lembrava que a
A política não oferecia respostas concretas Redução de Danos nunca fez mais do que lem-
para este tipo de questionamento, mas induzia brar que os princípios do SUS também valiam pa-
elaborações inovadoras a partir de imperativos ra as pessoas que usam drogas. Ao lembrar o
éticos. Ao afirmar que as pessoas sob efeito de compromisso com a equidade, a universalidade
drogas têm o direito de ser atendidas, impunha e a integralidade, a Redução de Danos estimulou
a reflexão sobre como fazer isto; ao dizer que os a Saúde Mental a buscar respostas construídas
serviços devem acolher àqueles que não querem através da experimentação e do movimento de
ou não conseguem abandonar o uso, interrogava tentativa e erro.
as ofertas a estes sujeitos; ao recomendar a in-
O “Projeto Caminhos do Cuidado”30 foi mais
tegralidade no cuidado, questionava a medicali-
um momento desta onda. A ampliação das ofer-
zação e a psicologização.
tas de cuidado para pessoas em sofrimento psi-
Em outro artigo2, já me vali de Spinoza29 pa- cossocial e com problemas relacionados ao uso
ra afirmar que a aproximação entre Saúde Mental de álcool e outras drogas exigia a mobilização
e Redução de Danos poderia ser caracterizada dos serviços de Atenção Primária à Saúde, ense-
como um “bom encontro”, produtor de “paixões jando um processo formativo para trabalhadores
alegres”X. Mas creio que seja o caso de explicar de nível médio da Estratégia de Saúde da Família
(ESF), em todo o Brasil. Dadas as dimensões do
X
Para Spinoza, os encontros fazem circular afetos que tocam as partes que
se encontram, aumentando ou diminuindo sua potência de agir no mundo. SUS e a imensa capilaridade da ESF por todo ter-
Os bons encontros resultam em alegria, considerada a mais nobre das pai-
xões, porque resulta em ampliação da potência de agir. Os maus encontros, ritório nacional, não seria exagero suspeitar que
por outro lado, produzem tristeza, que diminui a potência. Pela chave de
Spinoza pode-se observar encontros entre pessoas, grupos, ideias, coisas,
ou mesmo entre entes de natureza distinta, como pessoas e coisas, ideias
este talvez tenha sido um dos maiores projetos
e grupos, etc.

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de formação em Redução de Danos já vistos no nos CAPS-ad, por exemplo, muitas vezes apon-
mundo. taram na direção de uma articulação complexa e
Outro resultado desta busca de tradução é radicalmente intersetorial. Em ato, as experimen-
o “Consultório de Rua”. Inicialmente vinculado à tações iam pouco a pouco alimentando uma nova
política de Saúde Mental, este projeto acabaria onda.
se transformando em “Consultório na Rua”, su- Caberia também valorizar o impacto de
bordinado à política nacional de Atenção Básica. contribuições trazidas por novos atores. O con-
Não obstante, sua inspiração seguiu sendo tribu- vite feito pela Coordenação Nacional de Saúde
tária da experiência brasileira com Redução de Mental para que o sociólogo Jessé Souza ousas-
Danos, sobretudo no que diz respeito ao trabalho se pensar a questão do uso de crack a partir de
de campo desenvolvido por redutoras e redutores suas elaborações sobre a “ralé brasileira”32, por
de danos, especialmente no contexto da primeira exemplo, permitiu importantes ampliações desta
ondaXI,31. temática. Em paralelo, toda uma nova geração de
Seria possível falar de outros esforços, co- militantes cobrava o reconhecimento de intersec-
mo a inclusão de redutoras e redutores de danos ções da mesma com questões de raça, gênero e
em equipes de CAPSad, experiência desenvolvi- orientação sexual. A Redução de Danos brasilei-
da em algumas cidades brasileiras; ou ainda, das ra, tensionada, esgarçada, dobrada e reconfigura-
transformações de algumas organizações não go- da, aproximava-se de uma nova síntese.
vernamentais (ONGs) de Redução de Danos, em Uma primeira sistematização mais robus-
direção ao campo da Saúde Mental. Não obstan- ta desta nova onda seria desenvolvida em Per-
te, o mais importante seria reforçar que os ques- nambuco, durante a gestão de Eduardo Campos,
tionamentos lançados pela Redução de Danos do Partido Socialista Brasileiro (PSB). À época,
seguiram movendo experimentações e reflexões alguns técnicos envolvidos com a gestão de polí-
no âmbito da Saúde Mental. E não seria exage- ticas de proteção a crianças e adolescentes ame-
ro afirmar que esta busca por respostas termina- açados de morte perceberam que grande parte
ria por conduzir-nos ao que chamo de “terceira da demanda vinha de pessoas que faziam uso de
onda”. drogas. Em paralelo, percebia-se que esta mes-
ma população era também a mais vitimada por
crimes de morte.
Terceira onda: direitos humanos e desenvolvimen-
to social A história da Redução de Danos, em Per-
nambuco renderia um capítulo à parte. O Institu-
Seguindo o esforço de revisão a que me
to Papai, por exemplo, foi uma ONG pioneira na
proponho neste artigo, quero iniciar esta parte
reflexão sobre o uso de drogas e masculinidades.
dizendo que a passagem para uma terceira onda
Recife, por seu turno, foi a primeira capital a rea-
não implica em ruptura com as ondas anteriores,
lizar concurso público para contratar redutoras e
mas em um acúmulo crítico. Um olhar retrospec-
redutores de danos, além de implementar a “Ca-
tivo não teria problemas para encontrar indícios
sa do Meio do Caminho”, inspiração para as Uni-
desta nova etapa nas ondas anteriores. Os Pro-
dades de Acolhimento (UA) propostas pela Políti-
jetos Terapêuticos Singulares (PTS) construídos
ca Nacional de Saúde Mental27. Sem falar na ges-
XI
Uma ótima referência desta experiência é o documentário “Redutores de tão estadual, que já havia inovado com a criação
Preconceitos”, de 200331.

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de serviços de assistência social especializados “O Corra pro Abraço atua também na redu-
no atendimento de pessoas que faziam uso de ção de danos sociais relacionados ao consumo
drogas. de drogas, como a estigmatização dos usuários,
Todo este acúmulo seria condensado no a violência e o racismo institucional. A partir des-
“Programa Atitude”, criado em 2011. Lotado na sa estratégia, o programa oferece, por exemplo,
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social orientação sobre como se portar diante de uma
e Direitos Humanos de Pernambuco, o programa abordagem policial”34 (p.3)
constituiu-se em uma ampla articulação interse- Em 2014, seria a vez da cidade de São Pau-
torial que permitia concretizar o cuidado integral: lo implementar aquela que se tornaria a proposta
proteção à vida, abrigamento, testagem para o de maior visibilidade nacional no que diz respeito
HIV, encaminhamento para CAPS-ad, geração de à terceira onda. O programa “De Braços Abertos”
trabalho e renda, acesso à educação e cultura, oferecia trabalho, renda e moradia, em articula-
compunham um leque de ofertas que ampliava ção com um amplo cardápio de ofertas de saúde,
conscientemente os sentidos da Redução de educação, cultura, direitos humanos e assistên-
Danos: cia social, dentre outras políticas públicas35. O
“A redução de danos, no contexto la- foco eram as pessoas que faziam uso de crack
tino-americano, deve ir além da definição no Bairro da Luz, região que ficou conhecida co-
convencional que tem nos contextos norte- mo “Cracolândia”.
-americanos ou europeus. Nessa região, o Provavelmente inspirada por estas experiên-
conceito deve incorporar a proteção contra cias, a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Dro-
a violência e o desencarceramento como gas (SENAD) lançaria, também em 2014, o “Pro-
um elemento intrínseco e definidor de tal jeto Redes”, com o objetivo de financiar e apoiar
ideia. O principal dano que se quer reduzir iniciativas municipais semelhantes às descritas
é a violência e o encarceramento que es- acima. Este projeto marcou um momento ímpar
tão ligados, principalmente, às dinâmicas na história da SENAD, que seguia uma mesma
dos mercados de drogas”33 (p. 3) linha política desde os tempos de Fernando Hen-
Em 2013, seria a vez dos baianos desen- rique Cardoso até quase o final dos governos pe-
volverem uma iniciativa semelhante. O “Corra Pro tistas. Nos dois anos que precederam o impeach-
Abraço”, lotado na Secretaria de Justiça, Direitos ment da presidenta Dilma Rousseff, entretanto, a
Humanos e Desenvolvimento Social do Estado SENAD foi ocupada por um conjunto de pessoas
da Bahia, também se caracterizou pela amplia- comprometidas com a construção de novas polí-
ção do conceito de Redução de Danos para além ticas. Neste curto período, o “Projeto Redes” via-
da saúde, pelo menos no sentido estrito do ter- bilizou o repasse de recursos para que mais de
moXII . Esta perspectiva pode ser encontrada nos trinta cidades desenvolvessem ações interseto-
documentos oficiais do programa, que criticam riais para garantia de trabalho, renda e moradia a
dimensões estruturais e práticas cotidianas de pessoas que faziam uso de drogas em situações
opressão e violência institucional: de vulnerabilidade social, conferindo mais consis-
tência à “terceira onda da experiência brasileira
com Redução de Danos”.
XII
É importante salientar que para as vertentes críticas (caso da Reforma
Sanitária brasileira), a saúde não depende apenas das técnicas e políticas
de cuidado, mas de uma miríade de determinações sociais.

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Considerações finais - É violento o mar que Referências


tudo arrasta? 1. Petuco DRS. O pomo da discórdia? drogas, saúde, po-
der. Curitiba: Ed. CRV; 2019.
Meu objetivo com este artigo foi oferecer
2. Petuco DRS. Redução de Danos: das técnicas à ética
uma outra possibilidade de narrar a história da do cuidado. In: Ramminger T, Silva M. (orgs.). Mais subs-
experiência brasileira com Redução de Danos. tâncias para o trabalho em saúde com usuários de dro-
Uma narrativa que critica minhas próprias ela- gas. Porto Alegre: Rede Unida; 2014. p.133-148.
borações anteriores, ao valorizar o acúmulo em 3. Petuco DRS. Era uma vez: uma pequena história do
detrimento das rupturas. Além disso, procurei cuidado e das políticas públicas dirigidas a pessoas que
usam álcool e outras drogas. In: Teixeita M, Fonseca Z.
valorizar a reflexão e elaboração coletivas que
(orgs.). Saberes e práticas na Atenção Primária à saúde:
buscaram respostas para os desafios coloca-
cuidado à população em situação de rua e usuários de
dos pela realidade sem abrir mão dos compro- álcool, crack e outras drogas. São Paulo: Hucitec; 2015.
missos éticos impostos pela Redução de Da- p.179-200.
nos, elevando as práticas e políticas de cuida- 4. Fonseca C. Pátria vermelha: comunismo em Santos
do de pessoas que usam álcool e outras dro- (1930-1964). Rio de Janeiro: Fundação Dinarco Reis;
gas a um patamar que, talvez pela primeira vez 2002.
5. Tavares RR. A “Moscouzinha” Brasileira: cenários e
em nossa história, fez jus à complexidade das
personagens do cotidiano operário de Santos (1930-
demandas elaboradas pelos sujeitos aos quais
1954). São Paulo: Humanitas/FAPESP; 2007.
se destinam este cuidado e estas políticas. 6. Campos FC, Henriques CM. Contra a maré à beira-
A história das “três ondas” da Redução -mar: a experiência do SUS em Santos. São Paulo: Scrit-
de Danos, como contada aqui, é a história da ta; 1996.
construção de respostas com base em compro- 7. Brasil. Presidência da República. Lei no 8.080 - dispõe
sobre as condições para a promoção, proteção e recu-
missos éticos, em contextos raramente acolhe-
peração da saúde, a organização e o funcionamento dos
dores. Neste caminho, as dificuldades nunca
serviços correspondentes e dá outras providências. Bra-
foram apenas técnicas: disponibilizar seringas sília; 29 set 1990. (on line). [acesso em: 04 mai 2020].
é necessário, mas a legislação proíbe; cuidar Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
em liberdade é imperativo, mas sociedade e leis/l8080.htm
autoridades exigem segregação; é preciso des- 8. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de
construir processos de estigmatização, mas a DST e Aids. Boletim epidemiológico aids, jan. 1993. Bra-
sília: Ministério da Saúde; 1993.
lei criminaliza.
9. Mesquita F. Dar oportunidade de vida aos usuários
Não estranha, portanto, que a terceira on- de drogas injetáveis – polêmica nacional. In. Bastos FI,
da nos coloque diante de um desafio que pa- Mesquita F, Marques LF. Troca de seringas: drogas e Aids
rece intransponível: como materializar um cui- – ciência, debate e saúde pública. Brasília: Coordenação
dado comprometido com a garantia de direitos Nacional de DST e Aids; 1998. p.101-114.

num contexto de avanço do ideário neoliberal, 10. Bertoni N, Bastos FI. Pesquisa nacional sobre uso
de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares
caracterizado pelo enfraquecimento das políti-
do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras?. Rio de
cas de assistência e desenvolvimento social?
Janeiro: ICICT/Fiocruz; 2014.
Que estratégias de resistência estamos cons- 11. Porter J, Bonilla L, Drucker E. Methods of smoking
truindo? Que articulações? Que alianças? crack as a potential risk factor for HIV infection: ‘crack
A narrativa chega ao seu final, mas não a smokers’ perceptions and behavior. Contemp. Drug Pro-
bl. 1997; 25(2):319-347.
história que se busca narrar.

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Drogas & 30 Anos de Redução de Danos

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