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Revista Psicologia e Saúde. DOI: http://dx.doi.org/10.

20435/2177-093X-2016-v8-n2(09) 113

Gemido dos Excluídos: A Construção Social do Adoecimento


Moaning of the Excluded: The Social Construction of Illness
Gemidos de los Excluídos: La Construcción Social del Enfermarse
Jacir Alfonso Zanatta1
Márcio Luis Costa
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

Resumo
Esta pesquisa, desenvolvida na comunidade ribeirinha de Porto da Manga, situada a 76 km da
cidade de Corumbá, MS, mostra que o adoecimento é uma construção social de responsabilidade
do Estado. No local, vivem aproximadamente 30 famílias, em torno de 200 pessoas, que, na sua
maioria, são coletores de iscas, pescadores profissionais e piloteiros. Para a coleta de dados,
foram convidadas 55 pessoas, das quais 47 aceitaram responder ao questionário semiestruturado,
e oito se recusaram a participar. Como metodologia, foi utilizada a análise qualitativa, com
observação participante. A omissão do Estado no campo da saúde, educação, habitação,
transporte público e segurança contribui para a produção do adoecimento dos ribeirinhos.
Dessa forma, o Estado, que deveria ser gerador de vida, é produtor de adoecimento e morte:
não só deixa morrer, mas faz morrer.
Palavras-chave: Comunidade; Coletores de iscas; Construção do adoecimento.
Abstract
This study developed in the riverine community of Porto da Manga, located 76 km from the
city of Corumbá, MS, shows that illness is a social construction for which the government is
responsible. Nearly 30 families live in the area, approximately 200 people, most of whom are
bait catchers, professional fishermen and fishing guides. Fifty-five were invited to provide
data. Forty-seven accepted to answer the semi-structured questionnaire and eight refused to
participate. The qualitative analysis methodology was used with participant observation. The

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government’s omission in the fields of health, education, housing, public transportation and
security contributes towards the production of illnesses in riverine communities. Thus, the
government that should be a generator of life, is the producer of illness and death: it don’t only
allows them to die, but it does make them die.
Key words: Community; Bait collectors; Illness construction.
Resumen
La presente investigación, desarrollada en la comunidad ribereña de Porto da Manga, localizada
a 76 km de la ciudad de Corumbá, MS, muestra que el enfermarse es una construcción social de
responsabilidad del Estado. En el local, viven cerca de 30 familias, en torno de 200 personas, que,
en su mayoría, son recolectores de carnadas, pescadores profesionales y conductores de barcos.
Para la recolecta de los datos, han sido invitadas 55 personas, de las cuales 47 han aceptado
responder al cuestionario semiestructurado y ocho han recusado a participar. Como método,
ha sido utilizado el análisis cualitativo, con observación participante. La omisión del Estado
en el campo de la salud, educación, habitación, transporte público y seguridad ha contribuido
para que los ribereños se enfermen. De esta forma, el Estado, que debería ser el generador de
la vida, es el productor de las enfermedades y de la muerte: no solo permite que se mueran,
sino hace con que se mueran.
Palabras clave: Comunidad; Recolectores de carnadas; Construcción del enfermarse.

1
Endereço: Avenida Tamandaré, n. 6000, Jardim
Seminário, Campo Grande, MS, CEP 79117-900.
E-mail. jacirzanatta@gmail.com

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Introdução chegassem como sussurros e gemidos


aos ouvidos destes pesquisadores. De
“As palavras tornam-se fúteis tanto gritar pelos seus direitos, perde-
quando se desvinculam da reali- ram a voz; por não serem vistos pelo es-
dade vivenciada. Deixam de ter tado, já se confundem com a paisagem
energia própria. E se tornam,
da natureza e, por terem sua cidadania
com isto, incapazes de dar conta
roubada, preferem se comparar aos ani-
da energia em ação na socialida-
de contemporânea, que pode ser mais que vivem no Pantanal.
chocante, mas não menos vivaz” Tendo em vista ter sido esta pesquisa
(Maffesoli, 2007, p. 14). aplicada com observação participante,
faz-se necessário explicar para o leitor
Este texto foi devidamente autoriza- a partir de qual conceito de comunida-
do pelo sistema CEP/CONEP. O méto- de estamos trabalhando. De acordo com
do, aqui entendido como caminho das Pierson (1969), “uma comunidade se de-
pedras, tendo em vista o contexto eco- fine pela simbiose” (p. 119), isto é, pelo
geográfico, pode ser também chamado simples viver em comum. Já Almgren
de caminho/descaminho das águas. (2000) aponta que as comunidades têm
Isso significa afirmar que esta pesquisa funcionado, na sociologia contemporâ-
se propõe ver e fazer ver o que se mos- nea, como um objeto submetido a diver-
tra/oculta a partir de suas condições sos tipos de mudança, invariavelmente
de mostração/ocultação da realidade relacionados com alterações trazidas
vivenciada pelo sujeitos/participantes pela modernidade. Sendo assim, fazer
da pesquisa. Para a coleta de dados, uti- parte de uma comunidade significa não
lizou-se o formato de entrevista aberta e sermos estranhos entre nós mesmos. E

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posterior análise das falas para construir esse processo de poder se enxergar atra-
uma interpretação da compreensão que vés do outro e não se perceber estranho
os participantes expressaram de si mes- é que fortalece cada vez mais os laços
mos, de seu entorno e de suas relações. que precisam existir para que uma co-
Com isso, é possível notar o fenômeno munidade se configure.
da exclusão social e do adoecimento na Mas, para que uma comunidade se
forma de gemidos que permitem ver e configure, não basta que só anseios e
fazer o ‘des-cuidado’ e a ‘des-proteção’ sofrimentos sejam comuns, para isso é
que se mostra/oculta na vida cotidiana necessário a existência de uma série de
de uma população esquecida. elementos, que, segundo Tönnies (1973),
Diante da realidade vivenciada pelos são a “vontade comum, compreensão,
moradores da comunidade ribeirinha direito natural (fundamentado na igual-
de Porto da Manga, faz-se necessário dade entre os homens), língua e concór-
repensar os mecanismos sociais que le- dia” (p. 102). Importante ressaltar aqui
vam ao adoecimento. De acordo com que, quando falamos de elementos que
Maffesoli (2007), algumas investigações caracterizam uma comunidade, não po-
exigem que o pesquisador rompa com o demos defender a ideia de que estes são
círculo virtuoso das análises óbvias. Foi planejados ou projetados para existirem.
exatamente o que aconteceu durante o Na verdade, eles aparecem de forma
processo de contato com a realidade dos muito complexa para serem tratados de
ribeirinhos. A forma como são excluídos, forma linear. A sua complexidade segue
explorados e tratados com descaso pelo uma lógica interna que dá ao observa-
poder público fez com que as manifesta- dor a impressão de tratar-se mesmo de
ções verbais dos sujeitos desta pesquisa processos espontâneos.

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E, por ser aparentemente tão evidente Capivara


e natural, o entendimento compartilha-
do que cria a comunidade passa desper- Um dos sujeitos desta pesquisa tem
53 anos e ganha menos que um salário
cebido, a tal ponto que Bauman (2003)
mínimo por mês (R$ 500,00 – quinhen-
chega a afirmar que esse “entendimen-
tos reais) para sustentar os 12 filhos.
to característico de uma comunidade é
Durante nosso bate papo, Z_04 afirma:
tácito por sua própria natureza” (p. 16).
“nós estamos aqui, num beco sem saí-
E esse comprometimento velado entre
da. Se o cara ficar doente aqui, ele pode
cada um dos moradores ribeirinhos do
esquecer [...] Eu estou igualzinho a uma
rio Paraguai é que acaba por criar a iden-
capivara”. É possível não adoecer numa
tidade desse povo. E, quando falamos
realidade em que as pessoas se compa-
de identidade, não nos restringimos só
ram aos animais? As condições de exis-
aos aspectos físicos que os moradores
tência deste personagem são piores que
possuem, mas também às questões psí-
a dos bichos que vivem no Pantanal.
quicas e sociais. É importante ressaltar
Segundo Z_04 faz mais de um ano e
ainda que o processo de construção de
meio que ele não vai para a cidade. Pode
identidade não é algo único e duradou-
ser que ele esteja igual a uma capivara
ro. Saquet (2007) defende que a identida-
na quantidade de filhos e apenas nisso.
de é constantemente reconstruída, histó-
Mas, nas demais questões sociais, ele
rica e coletivamente, e se territorializa,
está numa escala inferior.
especialmente, através de ações políti-
Não precisa ser nenhum gênio para
cas e culturais: “a identidade se constrói,
perceber que as leis ambientais prote-
descontrói-se e se reconstrói no tempo,
gem muito mais a fauna e a flora panta-
ou melhor, através do tempo” (p. 149).
neira do que os humanos que vivem na

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Essas relações de trocas que devem ser
região. Os animais são livres, não pre-
levadas em consideração não são advin-
cisam trabalhar para retirar o próprio
das só do presente, do momento vivido
sustento enquanto esse entrevistado se
e factual, mas, sim, as trocas que já exis-
vê obrigado a ficar até 18 horas no rio
tiam até mesmo entre os antepassados.
para poder garantir a sobrevivência dos
É importante ressaltar que as subdivi-
filhos. O que se percebe é uma morte
sões deste texto vão utilizar os animais
anunciada. Será que os moradores da
que vivem no Pantanal, para mostrar
comunidade de Porto da Manga são re-
que, em alguns momentos, os animais
almente cidadãos? A pobreza, o traba-
possuem mais direito à vida do que os
lho que desenvolvem e a forma como
próprios pantaneiros. A escolha estilís-
são obrigados a viver da coleta das iscas
tica se faz necessária uma vez que os ri-
faz com que esses ribeirinhos vivam em
beirinhos, ao se compararem com esses
situação de escravidão.
bichos, estão tentando dizer que, por não
Arendt (2010, p. 79) alerta para o fato
terem sua condição humana respeitada,
de que “a pobreza força o homem livre a
gostariam, ao menos, de serem tratados
agir como escravo”. É exatamente o que
como os animais que convivem com eles
vem acontecendo no Porto da Manga.
no Pantanal. Mas o que foi possível per-
Não basta mantê-los presos ao ambien-
ceber durante esta pesquisa é que, na es-
te que vivem, é necessário privá-los de
cala de valor social dado pelos turistas e
todas as condições da própria existên-
pelo Estado, eles estão abaixo da fauna
cia. Não está mais em jogo apenas uma
da região. A atenção que os ribeirinhos
questão de saúde, educação ou segu-
não recebem, mostra esse precário valor
rança. O que se percebe na comunidade
social.
ultrapassa essas questões. O estado está

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matando lentamente aquela população rentemente não faz parte da região. Não
que busca se reinventar diariamente pretendemos estender em justificativas,
para não sucumbir ao esquecimento e a apenas trazer em defesa deste item o
tortura causadas pelo abandono e pelas fato de que os animais que mais são vis-
condições desumanas com que são leva- tos no Pantanal são bois e vacas. Esse tó-
dos a trabalhar para manter os clientes. pico será utilizado para tecer alguns co-
Percebe-se ainda que, na maior planí- mentários sobre a situação educacional
cie alagável do planeta, a vida e a morte encontrada na comunidade. Conforme
giram em torno das águas. São elas que afirma uma das entrevistadas Z_15, que
definem o local das moradias, quem en- tem 47 anos e mora na comunidade há
tra e quem sai do seu território. Elas re- 23, “aqui na manga tem cachorro que
gulam a vida e a organização dos ribei- pensa que é gente e vaca que pensa que
rinhos. A renovação passa pelo seu ciclo é cachorro”. A entrevistada manifes-
que possui poder sobre a vida e a morte. tou esse pensamento no momento que
Foram entrevistadas 47 pessoas, sen- fazia o relato sobre “Maria Perdida”,
do 21 do sexo masculino e 26 do sexo uma vaca que conseguiu subir no tercei-
feminino. Mas oito pantaneiros se recu- ro andar do prédio do hotel onde estão
saram a participar das entrevistas. Eles as duas salas alugadas pela prefeitura
não acreditam mais que alguma pesqui- de Corumbá e que servem como escola
sa ou mesmo algum pesquisador pos- para os pequenos ribeirinhos.
sam contribuir para alterar a realidade Escadas que um adulto tem dificul-
em que estão inseridos. As entrevistas dades para subir, pela distância dos
mostram que 85% dos ribeirinhos ga- degraus e por não possuir as mínimas
nham até um salário mínimo. Isso sig- condições de segurança, são utilizadas
diariamente pelas crianças. Mas, por que

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nifica que, dos 47 participantes, 40 so-
brevivem com uma renda mínima. Isso se preocupar? São os filhos dos esqueci-
ajuda a compreender o motivo pelo qual dos que estão estudando lá. Ninguém
as casas de palafita são, na sua maioria, se preocupa com a situação dos adul-
feitas com restos de madeira ou com tos que vivem na comunidade. No que
lona. Apenas dois moradores (4%) in- se refere às crianças, a situação é ainda
mais grave. Estão tirando delas o futuro.
formaram que ganham acima de cinco
E, com certeza, os políticos ainda devem
salários mínimos. Os outros cinco mora-
acreditar que estão fazendo muito ao
dores, que correspondem a 11% da po-
oferecer educação àqueles “desclassifi-
pulação, responderam que ganham até
cados”, que só são lembrados em época
dois salários. Isso mostra que 96% dos
de eleição. A percepção que os morado-
ribeirinhos entrevistados são obrigados
res possuem dos políticos se manifesta
a sobreviver com até dois salários. É
na fala de Z_01, um senhor de 46 anos,
com esse dinheiro que eles contam para
com primeiro grau incompleto e que
suprir as necessidades de saúde, alimen-
mora na região há 34. Segundo ele, “em
tação e moradia.
época de política eles vêm e promete,
promete, mas não fazem nada”. Isso re-
Vaca
vela o motivo pelo qual o poder público
Pode parecer estranho ao leitor (a) o prefere matá-los lentamente. Eles ainda
fato de nesta pesquisa se ter anunciado são úteis em anos eleitorais.
que a análise das entrevistas seria com- Agora entendemos o motivo pelo
posta com os bichos que fazem parte da qual Maffesoli (2007) classifica como
fauna pantaneira e, utilizar, logo no pri- bárbaros aqueles que excluem e mantêm
meiro sub-tópico, um animal que apa- a escravidão dos espíritos. É exatamen-

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te isso o que estão fazendo com aque- votantes. Isso mostra bem que o estado
las crianças. Roubando seus espíritos. está pouco se lixando para as regiões
Tirando delas a possibilidade de, pelo que não possuem representatividade
menos, ter um futuro diferente dos pais. política, como é o caso dos pantaneiros.
Z_08 tem 18 anos e mora na comunida- De acordo com Maffesoli (2007), exis-
de desde que nasceu. Ela defende que te um saber enraizado na existência co-
está na hora de ter uma escola para “os tidiana. E, esse saber que vem da sim-
alunos não subir no hotel e correr o risco plicidade, ganha força na expressão de
de cair de lá”. Essa situação de descaso um dos sujeitos desta investigação que
com a vida dos ribeirinhos está causan- mora na comunidade há 42 anos. Ele
do estragos irreparáveis. Estão tirando será identificado como Z_22, um senhor
deles o direito de sonhar. analfabeto de 56 anos que, mesmo sem
Outra pessoa entrevistada para esta nunca ter frequentado os bancos escola-
pesquisa foi uma senhora de 31 anos, res, sabe que “essa escola que tem aí é
aqui identificada como Z_30, mãe de alugada e o dinheiro que já gastou alu-
quatro filhos e moradora do Porto da gando essa aí, já dava pra construir duas
Manga há 20 anos. Ela é um retrato escola boa”. Temos que fazer essa per-
vivo da falta de perspectiva que atinge gunta: quem é o analfabeto? Quem o po-
a população pantaneira: “não tem nada der público pensa que engana? De tanto
pra valorizar aqui não. Nada”. Mesmo serem explorados, excluídos e por vive-
sentimento tem Z_43, um jovem de 28 rem à margem da sociedade, eles podem
anos que não conseguiu terminar nem ter perdido a voz, mas não deixaram de
o Ensino Fundamental, desistindo antes pensar a própria existência. Mas, quan-
de concluir o segundo ano. De acordo do as crianças chegam à adolescência,
com o morador “aqui pra nós não tem são obrigadas a enfrentar uma situação

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sistema médico. Não tem socorro, não ainda mais revoltante. Ou abandonam a
tem nada”. Olhando em volta, é possível família para estudar na cidade, indo mo-
entender o desânimo que se abate sobre rar na casa de algum parente, ou abando-
os dois entrevistados. As crianças não nam a escola e ajudam os pais na coleta
possuem um único lugar para brincar. das iscas vivas. Como não percebem fu-
As mães precisam atenção redobrada turo na educação, pela falta da qualida-
para que as crianças não entrem no rio de do que receberam, optam, ou melhor,
Paraguai. Mas, se resolvem brincar nas são obrigados, na maioria das vezes, a
proximidades da comunidade, correm continuar seguindo os passos dos pais.
o risco de serem mordidos por alguma Eles não têm como optar, uma vez que
cobra. E nos questionamos sobre qual a não possuem nem liberdade para isso.
dificuldade do estado em construir um É um sistema escravocrata muito bem
espaço protegido para que os morado- disfarçado pelo próprio poder público e
res e as crianças da comunidade possam pela sociedade para que as autoridades
ter melhores condições de lazer? Não educacionais e sanitárias não se sintam
é possível falar em qualidade de vida culpadas pela omissão e por matar de
numa situação dessa. Será que é tão difí- forma sádica os seres humanos que de-
cil o poder público construir umas 30 ca- veria proteger e servir.
sas de alvenaria para que os pantaneiros São essas questões trazidas até aqui,
daquela comunidade possam recuperar que não nos permitem falar de caracte-
sua cidadania e dignidade? Pelo que se rísticas sociodemográficas desta pesqui-
pôde perceber dos moradores, a dificul- sa nem de causas e sintomas das doen-
dade enfrentada por eles está no fato de ças. O que encontramos na comunidade
que o Porto da Manga possui poucos de Porto da Manga ultrapassa toda essa

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visão, muitas vezes reducionista de Jacaré


apresentar os dados de uma pesquisa.
Dos 47 sujeitos que aceitaram participar Para ser fiel à proposta de analisar
desta pesquisa, apenas 8% deles começa- as entrevistas com os animais da fauna
ram ou concluíram o ensino médio. Ao pantaneira é preciso ir além dos sinto-
cruzar os dados da escolaridade com a mas de causa e efeito das doenças para
renda familiar, percebe-se que os maio- os sujeitos desta investigação. Por esse
res salários na comunidade são dos mo- motivo, este tópico tem como título o
radores que possuem o maior índice de jacaré, um dos animais que já esteve na
instrução. A pesquisa revela ainda que, lista de extinção. Mas o que se percebe
dos entrevistados, seis são analfabetos e atualmente é que os pantaneiros estão
outros 19 sujeitos não conseguiram con- em risco sendo ameaçados em sua con-
cluir a 4ª série do ensino fundamental. dição humana. Essa ameaça tem raiz no
Assim como os analfabetos, eles tam- descaso do estado que lentamente está
bém não ultrapassam a renda mensal de dizimando os ribeirinhos e as comuni-
um salário mínimo. É importante ressal- dades da qual fazem parte. Estas ques-
tar que apenas três participantes conclu- tões apresentadas até aqui geram adoe-
íram o primeiro grau e cinco chegaram cimento físico e social nas pessoas que
ao fim do Ensino Fundamental. Se forem vivem no Pantanal. Percebe-se, pelo ex-
somados todos os participantes que não posto, que Iyda (1994) tem razão quando
terminaram o Ensino Básico, o número afirma que a relação saúde e doença não
é assustador, uma vez que 39 sujeitos é e nunca será uma relação neutra. Ela
da pesquisa, o que equivale a 83% dos é permeada pelos interesses de diferen-
participantes, não conseguiram concluir tes frações de classes envolvidas no pro-
o primeiro grau, e apenas três consegui- cesso de coleta das iscas, demonstrando

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ram forças para terminar o 9º ano. que, em sua essência, o adoecimento dos
Não é possível analisar as entrevis- ribeirinhos acaba se transformando num
tas feitas com os ribeirinhos sem levar fenômeno político.
em consideração a dimensão ética da Para entender as questões políti-
injustiça e da violência psíquica que os cas, afetivas e sociais que fazem parte
moradores da comunidade vivem cons- do adoecimento dos ribeirinhos bas-
tantemente. É um sofrimento calado ta prestar atenção ao desabafo de uma
que se manifesta em olhares perdidos, das entrevistadas para esta pesquisa. De
cansados e desesperançados. As igrejas acordo com a pescadora as causas do
que vão até o local desenvolver suas ati- adoecimento das pessoas da comunida-
vidades não conseguem nem olhar para de que trabalham com a coleta de isca
os ribeirinhos. Se conseguissem, perce- dizem respeito ao fato de que
beriam a dor da vergonha que manifes-
tam ao sair com os produtos “doados” [...] a água muito suja e muito con-
embaixo do braço e com o olhar voltado taminada. Tem vez que a gente vai
para o chão o tempo todo, como se pu- num lugar que a água tá até ver-
dessem cavar um buraco para não serem de. Já telemos assim, sem macacão.
vistos. Com certeza, esta não é uma dor Inclusive fiquei aborrecida com
física. É moral. Um pouco de sensibili- o comprador. Falei para ele sus-
dade e menos narcisismo desses “bons pender um pouco o preço que está
cristãos”, com certeza ajudaria a perce- muito baixo das iscas [...silêncio ....
ber que os ribeirinhos precisam muito lágrimas....choro....] eu falei [silên-
mais de dignidade e cidadania do que cio.. lágrimas]. Ai eu falei assim: - A
de caridade. água está muito contaminada. E daí

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ele falou assim [silêncio... lágrimas... pliada ou de vulnerabilidade. É preciso,


choro...]. Daí ele falou assim: - Não em primeiro lugar resgatar a vida que se
posso mais levantar o preço né. Daí perdeu diante dessa exploração.
eu falei assim: [silêncio...]. Aí [lágri- De acordo com Z_15, “uma dipiro-
mas... silêncio...] Ainda falei: - Nós na resolve quase todos os problemas de
vamos ficar doentes! Daí ele falou saúde. Uma dipirona e um, por exem-
assim: - Cadê o arrastão! Vocês aca- plo, um anti-inflamatório simples resol-
baram com o arrastão com o jacaré.... ve”. Pode ser que, por ter o maior salário
[lágrimas... silêncio...] Aí eu falei as- da comunidade e nunca ter enfrentado
sim.... [silêncio... lágrimas..]. Quer a realidade descrita pela entrevistada
dizer que o arrastão é mais impor- Z_13 ela pense desta forma. O que ela
tante que nossa saúde? [silêncio... ainda não percebeu é que dipirona e an-
lágrimas... choro...]. Daí ele falou: ti-inflamatório não conseguem devolver
- É. [lágrimas... choro... silêncio...]. cidadania, orgulho, respeito e nem de-
Daí eu falei assim: - Então não vou volvem sonhos desfeitos. O fato é que,
mais pegar. Então o problema é seu. por contribuir com esse ciclo de explo-
A gente estava até descascando da ração, ela também não queira ver a dor
água suja. Ele falou que o arrastão daqueles que, com ela, partilham do
dele era mais importante que nossa mesmo isolamento social.
saúde? Daí não telei mais pra ele. Por meio dos relatos vistos até aqui, é
Mas fiquei muito aborrecida com possível perceber que Sawaia (2011) ti-
ele. A água estava verde, puro coco nha razão ao ressaltar que todas as pes-
de jacaré, de tanta coisa suja, né?- soas de alguma forma estão inseridas
Daí eu vi que ele só queria explorar no circuito reprodutivo das atividades
econômicas. O grande problema dos

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nós. Foi uma coisa muito [silêncio...
lágrimas], mas tá bom. Eu esforço ribeirinhos é que eles estão inseridos
muito. A gente sai e pega pouquíssi- nesse contexto pelas privações que pas-
mo e para manter o freguês a gente sam diariamente. Em vários momentos,
esforça muito. Fico de manhã, fico o termo exclusão acabou sendo utiliza-
à noite. O pé chega a ficar branco do sem que, no entanto, seu significado
tenha sido explicado. De acordo com
(Entrevistada Z_13, 47 anos).
Sawaia (2011), exclusão é o “descompro-
Impossível não se comover com o misso político com o sofrimento do ou-
desabafo dessa catadora de iscas. São tro” (p. 8). Percebe-se, assim, que, para
lágrimas de indignação perante a ex- a autora, a exclusão é um processo com-
ploração e o desprezo humano sentido plexo que envolve questões materiais e
na própria pele. O relato dessa ribeiri- imateriais. Exatamente como o que vem
nha choca, revolta e deixa a gente com acontecendo na comunidade ribeirinha
a sensação de que foi atropelado por um de Porto da Manga. Por isso, é urgente
trem. Como discutir a relação de saúde resgatar a cidadania dessa população,
e doença numa situação desta? Por que uma vez que, na condição em que se en-
o poder público não toma nenhuma ati- contram, já não conseguem nem agir co-
tude? Com certeza desconhecem esta re- letivamente. Antes de pensar o público,
alidade, uma vez que o estado não se faz eles precisam encontrar o que comer. É a
presente na comunidade. Essa fala não sobrevivência batendo à porta constan-
mostra apenas o sofrimento humano, temente. Com isso, os problemas com
mas o aniquilamento lento da existên- o lixo e com a organização do coletivo
cia. Diante dessa realidade, não dá para para ganhar força acabam sempre fican-
falar de modelo de saúde, de prática am- do em segundo plano.

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De acordo com Arendt (2010), as pes- tam o acesso das pessoas. Dessa forma se
soas que vivem aprisionadas no traba- faz necessário prestar muita atenção aos
lho não conseguem conservar as mar- dados coletados. Caso contrário, corre-
cas da pluralidade uma vez que estão -se o risco de se pensar as informações
obrigadas a se experimentar apenas em levantadas fora da relação social onde
meio aos demais, na divisão de tare- elas foram produzidas. Quando isso
fas em vista do propósito de vencer os acontece, segundo Guareschi (2011), o
imperativos da necessidade de apenas ser humano acaba por se tornar o único
estar vivo. Diante dessa realidade, não responsável pelo seu êxito ou pelo seu
tem como não pensar nas afirmações fei- fracasso. Assim, legitima-se quem vence
tas por Sawaia (2011) quando a autora e degrada-se o vencido.
busca mostrar que
Cobra
O sofrimento ético-político abrange
as múltiplas afecções do corpo e da Mais do que as enchentes e as secas
alma que mutilam a vida de diferen- que assolam o Pantanal, o medo dos ri-
tes formas. Qualifica-se pela manei- beirinhos recai sobre os animais com os
ra como sou tratada e trato o outro quais são obrigados a dividir o espaço
na intersubjetividade, face a face ou e, muitas vezes, a alimentação. Com 53
anônima, cuja dinâmica, conteúdo anos, semianalfabeta e mãe de 10 filhos,
e qualidade são determinados pela Z_37 sabe dos perigos da profissão e
organização social. Portanto, o sofri- acredita que todo o cuidado é pouco. Ao
mento ético-político retrata a vivên- pensar no processo de adoecimento, ela
cia cotidiana das questões sociais relaciona com os riscos diários vivencia-
dominantes em cada época histórica, dos na coleta de iscas vivas. De acordo

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especialmente a dor que surge da si- com a entrevistada, “o que pode ser é o
tuação social de ser tratado como in- seguinte. É esse negócio de você telar o
ferior, subalterno, sem valor, apên- dia inteiro a noite inteira dentro d’água
dice inútil da sociedade. (p. 106). [...] Ali você está arriscado, a sucuri e
É importante observar que os pro- jacaré, tudo te pegar”. No entanto um
cessos emocionais fazem parte da dos relatos mais duros com relação à
Representação Social que os ribeirinhos situação de exploração e com a falta de
possuem de si mesmos. Dessa forma, eles humanidade foi feito por uma senhora
de 35 anos. A fala da moradora mostra
possam criar estratégias para enfrentar
o descaso e abandono vivenciado pelos
as adversidades do modo de produção
pantaneiros de uma forma geral.
capitalista que vê o ser humano como
mão de obra barata. Minayo (2011) acre- Teve uma mulher que veio de lá de
dita que a linguagem deve ser tomada cima. Ela tava com um barrigão. Ela
como forma de conhecimento e de in- tava pegando isca. Daí a cobra picou
teração social. Isso porque é, por meio ela. Ninguém queria levar. Ela ficou
dela, que se manifestam os sentimentos aí debaixo desse museu aí. Ela com
e os afetos que contribuem para se ver o barrigão. Morreu aí mesmo com
com nitidez o que os ribeirinhos vivem a criança. Porque ninguém levou a
no seu dia a dia. mulher para Corumbá. Ninguém
Mas se faz necessário prestar um deu carona. Se você não tiver um
pouco mais de atenção ao alerta feita carro pra levar ou senão pagar a
por Guareschi (2011) ao defender que o gente morre aqui. Não tem um mé-
mundo do trabalho está se estruturando dico, não tem um nada (Entrevistada
a partir de mecanismos que impossibili- Z_35).

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Revista Psicologia e Saúde. 121

Diante de um relato deste, a gente de? Tem que rezar pra não ficar do-
fica paralisado. Todos os problemas se ente. Principalmente quem não tem
tornam pequenos e perdem o sentido carro. Não tem nada, como é que
diante da experiência de morte descri- você vai? E se você não tem dinhei-
ta pela pantaneira. Mas a fala transcrita ro como você faz? O que você ganha
acima revela, nas suas entrelinhas, um morre tudo aqui [...] Ganha só pra
problema, aparentemente simples de se come. Se conseguir guardar um di-
resolver e que afeta todos os moradores: nheirinho é até sair o seguro e olha
a falta de transporte público. Com isso, lá [...] (Entrevistada Z_33, 52 anos).
o discurso de que o estado está matan- Diante de tudo o que se escutou dos
do lentamente os ribeirinhos também sujeitos que aceitaram contribuir com
cai por terra. O poder público não tem esta pesquisa, é importante prestar aten-
como matá-los de forma rápida para re- ção ao alerta feito por Sawaia (2011), ao
solver a situação; então, a impressão que mostrar que, para analisar as ambigui-
se tem é a de que ficam torcendo para dades existentes na exclusão, o pesqui-
que os animais do Pantanal terminem o sador precisa captar o enigma da coesão
serviço que o estado começou. social sob a lógica da exclusão na sua
As questões relacionadas com o trans- versão social e subjetiva. Uma tarefa
porte chamaram a atenção na hora das complicada, mas, ao entrar na vida da-
entrevistas. queles seres humanos tão singulares, as
Para nós ir na cidade tem que pagar questões subjetivas dos entrevistados
condução. R$ 150 para ir e R$ 150 começaram a aparecer e a fazer sentido
para voltar. Faz falta uma linha de dentro do que se propunha a investigar.
ônibus. A doença que a gente mais Por isso, a exclusão não é resultante

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vê é febre, diarréia e dor de cabeça. apenas da ausência de renda, mas de fa-
Como a gente não tem como ir para tores como acesso aos serviços públicos.
a cidade, fica na base de remédio ca- Dessa forma, os mecanismos de exclusão
seiro (Entrevistado Z_11, 47 anos). criam, de acordo com Wanderley (2011,
p. 25), “indivíduos inteiramente desne-
E, um ônibus também é bom. Você
cessários ao universo produtivo, para os
traz um monte de coisa e paga só
quais parece não haver mais possibilida-
aquela taxinha. Isso é bom pra nós
des de inserção”. Percebe-se assim, que
aqui na Manga (Entrevistado Z_24,
os ribeirinhos acabam sendo descartá-
36 anos).
veis pelo sistema durante o período em
O médico disse que estou com pro- que a pesca é proibida. Ao dependerem
blema de coração, mas até hoje não dos programas criados pelo governo,
consegui fazer os exames que o mé- cria-se a falsa ilusão de que eles pos-
dico pediu. Não faz pelo SUS. Tem suem autonomia, liberdade e cidadania.
que pagar e é muito caro. Trabalhei, Mas é preciso prestar atenção nos
trabalhei, mas não consegui dinhei- fenômenos da exclusão. Até porque
ro. É duro você está doente sem po- os integrantes da comunidade são, em
der comprar um remédio. Sem você sua maioria, de acordo com Carreteiro
poder trabalhar para poder comprar (2011), os que permanecem à margem
aquele remédio. Já pensou você es- das grandes dimensões institucionais
tar doente e não poder fazer nada? como sistema de educação, saúde e tra-
E não ter ajuda nenhuma? Torna di- balho. Isto significa perceber que os su-
fícil. De onde você vai tirar dinheiro jeitos desta pesquisa mantêm posição
pra poder pagar um carro até a cida- social extremamente frágil. De acordo

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Revista Psicologia e Saúde. 122

com Sawaia (2011), faz-se necessário teressante observar que, ao serem inda-
colocar, no centro das discussões sobre gados se também coletavam iscas vivas,
exclusão, a ideia de humanidade. Dessa todos foram unânimes em afirmar que
forma, é possível perceber que a temáti- sim. Percebe-se assim, que dos 47 entre-
ca da exclusão gira em torno do sujeito vistados, 31 sustentam a família das ati-
e da maneira como ele se relaciona com vidades ligadas diretamente à pesca.
o social. Assim, Sawaia (2011) defende É importante observar ainda, que
que, ao falar de exclusão, “fala-se de de todos os entrevistados, apenas uma
desejo, temporalidade e de afetivida- pessoa afirmou estar desempregada no
de ao mesmo tempo que de poder, de momento da entrevista. Ao fazer uma
economia e de direitos sociais” (p. 100). comparação com a faixa etária dos en-
Wanderley (2011) reforça essa postura trevistados, constata-se que os mais jo-
ao alertar para o fato de que os excluídos vens, com idade entre 18 e 29 anos, pos-
são rejeitados física, geográfica e mate- suem maior dificuldade de se aceitarem
rialmente do mercado e de suas trocas. como coletores de iscas. A pessoa mais
Eles também são excluídos, de acordo jovem que concedeu entrevista estava
com Wanderley (2011), “de todas as ri- com 18 anos e informou que era estu-
quezas espirituais, seus valores não são dante. Ao indagar sobre a série que es-
reconhecidos, ou seja, há também uma tava estudando, a entrevistada afirmou
exclusão cultural” (pp. 18-19). Mas, ape- apenas que tinha parado de estudar na
sar de toda exploração e exclusão sofri- 6ª série e que estava ali na comunida-
das, eles precisam se reconhecer uns nos de ajudando os pais na coleta de iscas.
outros como membros do mesmo grupo. As outras duas pessoas mais jovens da
A pesquisa revela ainda que, em al- entrevista, uma com 20 e outra com 21
gum momento, todos passaram pelo anos, declararam-se doméstica e mani-

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processo de desqualificação social e aca- cure, respectivamente. As duas também
baram se tornando dependentes dos ser- confirmaram que, nos dias em que não
viços sociais, principalmente no período estão exercendo a profissão, ajudam a
de defeso, quando a pesca é proibida. família a coletar iscas.
Por isso, a humilhação que sofrem dia- A investigação revelou ainda que os
riamente por serem coletores de iscas os ribeirinhos que moram na comunidade
impede de aprofundar qualquer senti- de Porto da Manga não possuem víncu-
mento de pertença a uma classe social. los sociais, o que atualmente acarreta a
Com relação à ocupação profissional dos fragilidade e a dependência a que são
habitantes da comunidade, levou-se em submetidos constantemente aos órgãos
consideração a primeira profissão infor- públicos. Diante disso, Carreteiro (2011)
mada por eles. Essa observação é impor- argumenta que as pessoas que per-
tante, uma vez que, por serem obrigados tencem às categorias profissionais que
a desenvolver outras atividades no perí- possuem um acúmulo de desfiliações
odo de defeso, muitos não se reconhe- sociais, como habitação e educação, o
cem como tirando o próprio sustento da trabalho legalizado é o único meio sim-
pesca e de seus derivados. Dos entrevis- bólico que eles encontram para manter
tados, 19 deles se declararam pescador algum tipo de vínculo com a cidadania.
e fizeram questão de reforçar que são A impressão que temos é que este é um
profissionais, ou seja, durante as entre- dos motivos de eles insistirem tanto em
vistas faziam questão de dizer que eram se denominarem pescadores profissio-
profissionais. Apenas sete assumiram nais. É como se pertencessem a uma
que são coletores de iscas vivas e cinco classe e, com isso, recuperassem a pró-
se posicionaram como piloteiros. É in- pria cidadania.

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Piranha de dois filhos por não saber manusear os


instrumentos do seu trabalho diário.
Outro animal que não é muito visto,
mas é temido pelos ribeirinhos é a pira- Em 83 pegou fogo na minha casa
nha. Não assusta tanto como jacaré, a [silêncio... olhar distante... começa a
cobra ou a onça, mas seus dentes afia- mexer a mão e os pés...] Perdi duas
dos podem fazer um estrago nas pernas crianças. Um guri e outra menina.
dos coletores de isca se a pessoa não [voz trêmula... silêncio.... pigarro
tiver o cuidado necessário quando for na garganta... a voz fica embarga-
pegar as iscas de dentro das telas. Uma da... olha para o céu... os olhos ficam
das entrevistadas com apenas 18 anos cheios de lágrimas). E esse sinal tudi-
já sabe bem o que significa a piranha nho é do fogo. [se olha em silêncio...]
para quem sobrevive da coleta de iscas. Tava mexendo com gasolina. Tava
Identificada como Z_08, a jovem explica enchendo o tanque pra sair outro
que já foi obrigada a ficar internada por dia cedo. Só que a casa fechada e eu
causa do peixe. De acordo com a entre- não tinha mais ou menos a orienta-
vistada, ela já foi mordida de piranha. ção como que era. Se estivesse aber-
Z_08 explica: “estava coletando iscas. ta ou a janela saia o vapor [silêncio...
Foi uma mordida só no pulso e daí fi- olha para cima...] Essa luz aí chegou
quei internada três dias”. Pelo exposto tem uns dois anos. Antes era vela e
até o momento, é possível perceber que lamparina [a voz volta a ficar trêmu-
a produção social do adoecimento dos la.. vira a cabeça para o lado do rio]
ribeirinhos também passa pelo trabalho Daí começou a depositar o gás lá, da
que desempenham. gasolina. De repente eu só senti que
É importante observar que, para a explodiu na minha cara. Pra não coi-

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grande maioria dos entrevistados, ter sa eu peguei o tanque e saí. E quan-
saúde é poder trabalhar, e ficar doente do saí trompou no, no [olha para o
é estar incapacitado de exercer suas ati- chão... fica um tempo em silêncio..]
vidades profissionais. Pela forma como Eu tinha um armário bem na porta
se posicionam nas entrevistas, é possível cheinho de vasilha. Bateu o tanque
constatar que eles não gostam de depen- no armário daí derramou mais gaso-
der dos demais para o desenvolvimento lina ainda e daí pegou fogo mesmo.
das atividades e que ninguém quer ser Sai com o tanque, joguei o tanque
um fardo para o outro. Isso mostra bem pra fora pegando fogo, daí eu caí na
que Singer, Campos, e Oliveira (1988) água [olhos cheios de lágrimas... si-
têm razão ao defender que, na sociedade lêncio]. Daí me levaram. Eu, a mu-
capitalista, as pessoas são consideradas lher e duas crianças [...] A menina
doentes em função de sua incapacidade morreu no caminho, no rio. Tinha
de desempenhar seus papéis. Os mo- nove meses. O guri tava com dois
radores do Porto da Manga sabem dos anos. Morreu no hospital quando
riscos para a saúde no trabalho que de- tomo o soro (Entrevistado Z_22, 56
senvolvem, mas a falta de instrução e de anos).
novas oportunidades, acaba obrigando Aproximadamente 30 anos depois,
os ribeirinhos a se subjugarem a um re- o sofrimento psíquico ainda é latente.
gime de opressão e de adoecimento. Uma ferida que teima em não cicatrizar.
Para compreender a relação do tra- O rosto sofrido e as mãos calejadas re-
balho com o adoecimento, é importante clamam apenas das dores nas costas por
perceber o sofrimento de um dos entre- ter que ficar muito tempo sentado pilo-
vistados ao relatar que causou a morte tando barco para poder sobreviver. A

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Revista Psicologia e Saúde. 124

tragédia, segundo ele, fez com que o ca- vidualmente a água que vão consumir.
samento não resistisse. Percebe-se aqui, Mesmo com todo o cuidado que tomam
que Backes, Da Rosa, Fernandes, Becker, com relação à medida dos produtos quí-
Meirelles, e Santos (2009) têm razão micos utilizados nesse tratamento, eles
quando defendem que a doença possui reclamam que, algumas vezes, erram a
caráter histórico e social, sendo que a na- medida e a água acaba ficando amarga
tureza social se verifica no modo carac- o que gera, segundo os entrevistados,
terístico de adoecer e morrer nos grupos dores no estômago e diarreia. A forma
humanos. Dessa forma, faz-se necessário como os moradores descrevem o trata-
ressaltar que, para Backes et al. (2009), a mento que recebem quando procuram
concepção de saúde como qualidade de os serviços de saúde mostra que eles
vida é condicionada por vários fatores não confiam no poder da ciência institu-
que englobam inclusive paz de espírito, ída pelo modelo biomédico. Também é
abrigo decente, equidade e justiça social. possível perceber a falta de perspectiva
Nota-se, no relato acima, que, além de de futuro, uma vez que dependem da
acarretar sofrimento psíquico, a doença coleta de isca para sobreviver e, por isso,
deixa marcas profundas, sobretudo em adoecer é, na concepção dos ribeirinhos,
quem foi por ela afetado, mas, em algu- inevitável.
ma medida, atinge também aos que o Diante do que foi exposto até aqui, é
cercam. importante ressaltar que, para Oliveira
Estudar a saúde e doença é, num pri- (2011 p.602), as representações sociais
meiro momento, perceber que não é pos- se articulam em redes interdependen-
sível desvincular a saúde do ambiente tes. Dessa forma, “pode-se inferir que as
concreto no qual o sujeito está inserido, representações de saúde e doença inte-
uma vez que o contexto influencia na ragem para determinar concepções es-

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vida psíquica dos participantes/sujeitos pecíficas de necessidades humanas e de
da pesquisa. Assim, é possível notar que saúde” (Oliveira, 2011, p. 602). Assim,
Contini (2010) tem razão ao defender Oliveira (2011) defende que, quanto
que a saúde de uma população é condi- mais complexas forem as representa-
cionada pela nutrição, moradia, higiene, ções de saúde e doença, maiores serão
condições de trabalho, lazer, educação e as demandas por saúde, uma vez que
todos os demais fatores ambientais onde as necessidades das pessoas, enquanto
as pessoas estão inseridas. Nesse senti- representações, são determinadas, den-
do, é importante lembrar o que Scliar tre outros aspectos, pelas concepções de
(2007) defende com relação ao conceito saúde e doença socialmente construídas.
de saúde. Para Scliar (2007) a saúde re- Observa-se aqui, que Rosen (1979)
flete sempre a conjuntura social, econô- tem razão ao defender que a relação en-
mica, política e cultural de uma determi- tre saúde e doença mostra a instabilida-
nada localidade. de entre os vários componentes do cor-
As entrevistas mostram ainda que po e entre o corpo e o ambiente externo
uma das causas do adoecimento físico onde ele se manifesta. Com isso, perce-
dos moradores da comunidade ribeiri- be-se que Dejours (1986) está correto ao
nha de Porto da Manga está relaciona- defender a saúde como uma sucessão de
da, principalmente ao fato de os ribeiri- compromissos com a realidade. Fica evi-
nhos não possuírem água tratada. Como dente, então, que a saúde é um processo
o local não possui saneamento básico e em permanente construção e conquista.
sistema de tratamento da água para Dejours (1986) defende ainda que a re-
consumo humano, os moradores aca- alidade do ambiente material, a reali-
bam sendo obrigados a tratarem indi- dade afetiva e a realidade social devem

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ser levadas em consideração quando se mente a água que vão consumir. Mesmo
pretende trabalhar a saúde de uma de- com todo o cuidado que tomam com re-
terminada população. lação à medida dos produtos químicos
É importante observar que a fala dos utilizados no tratamento da água, eles
entrevistados, além de ser carregada reclamam que, algumas vezes, erram a
de afeto, traz no seu bojo a visão social, medida, e a água acaba ficando amarga,
política, econômica e cultural da comu- o que gera, segundo os entrevistados,
nidade da qual fazem parte. Nessa li- dores no estômago e diarreia.
nha de pensamento, estão Guareschi e Para entender as causas e os sintomas
Jovchelovitch (2011), ao argumentarem das doenças enfrentadas pelos ribeiri-
que o caráter simbólico e imaginativo nhos, faz-se necessário compreender
dos ribeirinhos traz à tona a dimensão como as ações individuais e coletivas
dos afetos. Isso porque a construção da acontecem no contexto das relações so-
significação simbólica que a comunida- ciais vivenciadas no espaço da própria
de tem de si mesma é, ao mesmo tempo, comunidade. Dessa forma, é preciso va-
um ato de conhecimento do mundo que lorizar a cultura dos moradores da co-
a cerca, mas também é um ato afetivo munidade, que, por estarem à margem
que exige interação e participação com da sociedade, acabam buscando na sa-
os demais membros que compõem a bedoria popular a forma de combater os
coletividade. De acordo com Traverso- males que sofrem e enfrentam na difícil
Yépez (2001), a doença gera nas pes- luta pela sobrevivência. Assim, fica cla-
soas sentimentos de insegurança e te- ro o que Moscovici (2011) tentou mos-
mor, uma vez que a população de um trar ao afirmar que as pessoas não são
modo geral conhece cada vez menos o apenas processadoras de informações,
nem meros portadores de ideologias ou

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funcionamento do próprio corpo, des-
valorizando os sinais emitidos antes do crenças coletivas, mas pensadores ati-
processo de adoecimento. Com isso se vos, que, produzem e comunicam repre-
justifica o discurso dos ribeirinhos de sentações e soluções específicas para as
que não há nada para ser feito com rela- questões que se colocam a si mesmas.
ção à doença, ela sempre vem. O texto em questão mostra claramen-
te a violação dos direitos humanos bá-
Considerações Finais sicos e a falta de políticas públicas que
atendam aos ribeirinhos. A comunidade
Estudar a saúde e doença é, num pri- não é atendida pelo transporte público e
meiro momento, perceber que não é pos- não possui água tratada, posto de saúde,
sível desvincular a saúde do ambiente coleta de lixo nem rede esgoto. Isso mos-
concreto no qual o sujeito está inserido, tra que estão completamente esquecidos
uma vez que o contexto influencia na pelos órgãos públicos. Assim, o Estado
vida psíquica dos participantes/sujei- que deveria ser gerador de vida é pro-
tos da pesquisa. As entrevistas mostram dutor de adoecimento e morte: não só
ainda que uma das causas do adoeci- deixa morrer, mas faz morrer. A omis-
mento físico dos moradores da comu- são do Estado no campo da saúde, edu-
nidade ribeirinha de Porto da Manga cação e segurança contribui para a pro-
está relacionada, principalmente ao fato dução do adoecimento dos ribeirinhos
de não possuírem água tratada. Como que são obrigados a viver em casas que
o local não possui saneamento básico e não oferecem as mínimas condições de
sistema de tratamento da água para con- moradia digna. A construção social do
sumo humano, os moradores acabam adoecimento, a falta de políticas públi-
sendo obrigados a tratarem individual- cas eficientes e o descaso com os direi-

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Revista Psicologia e Saúde. 126

tos humanos dos ribeirinhos também do esquecimento em que os ribeirinhos


fica evidente na forma de trabalho que são colocados constantemente, é possí-
desenvolvem como coletores de iscas vel perceber que Maffesoli (1998) tinha
vivas. razão ao afirmar que a vida, em ne-
Para finalizar, é importante ainda des- nhum momento, se deixa enclausurar.
tacar que, dos ribeirinhos que participa- Percebe-se assim que a Psicologia Social
ram da pesquisa, 27 estão com a idade pode desempenhar um papel impor-
acima dos 40 anos, o que equivale a 58% tante junto à comunidade, caso busque
dos entrevistados. Destes, apenas três, focalizar as dimensões simbólicas e os
ou seja, 6%, possuem idade superior aos processos psicológicos que se articulam
60 anos. Dez sujeitos possuem entre 18 aos fundamentos materiais das relações
e 29 anos, e outros dez têm idade entre vivenciadas pelos ribeirinhos. Dessa for-
30 e 39 anos. Isso mostra que 42% da po- ma, fica evidente que é preciso respeitar
pulação pesquisada têm idade inferior a o espaço de interação no seio no qual as
30 anos. Ao analisar a idade dos mora- pessoas ou grupos se constroem e fun-
dores, constatou-se que 26 residem no cionam. Ainda escutamos o gemido de
local há mais de 20 anos. Nota-se assim, dor e sofrimento dos moradores moti-
que 55% da população residem no local vados pelo descaso do estado. Excluídos
desde a década de 90 do século passado. e explorados, eles não tem mais a quem
Percebe-se ainda que 19% dos morado- recorrer. Não sabem mais o que fazer
res, ou seja, nove entrevistados, passa- para resgatarem a própria cidadania. A
ram a residir na comunidade no século falta de água tratada, saneamento bá-
XXI. Ao cruzar os dados da idade com sico, moradia digna, educação para os
o tempo de residência na comunidade, jovens e adultos e a ausência de um sis-
foi possível perceber que os mais velhos tema de saúde e segurança só reforçam

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estão no local há mais tempo e não pen- o sentimento de que eles não são vistos
sam em sair. pelo poder público como seres humanos
Dos entrevistados, 13 moradores, o e, para conseguir a proteção do estado
que equivale a 28% deles, estão com ida- de direito, precisam ser “igualzinho
de entre 40 e 49 anos. A faixa etária com uma capivara”.
o segundo maior número de entrevista-
dos está com a idade entre 50 e 59 anos, Referências
isso significa que, dos 47 integrantes da
pesquisa, 11 pessoas ou 24% delas têm Almgren, G. (2000). Community. In E.
idade superior aos 50 anos. Essas duas Borgatta, & R. Montgomery (Eds.),
camadas da população compõem quase Encyclopedia of sociology (2a ed., Vol. 1,
que a maioria dos ribeirinhos que resi- pp. p. 362-369). New York: Macmillan.
dem no local há mais de 20 anos. Pelo Arendt, H. (2010). A condição huma-
exposto, é possível que os mais jovens, na. (11a ed). Rio de Janeiro: Forense
por estarem no local há menos tempo Universitária.
ainda alimentam esperança de deixar Backes, M. T. S., Da Rosa, L. M.,
a comunidade para morar na cidade. Fernandes, G. C. M., Becker, S. G.,
Dessa forma, constata-se que, quanto Meirelles, B. H. S., & Santos, S. M.
maior a idade, maior o tempo de perma- (2009, janeiro/março). Conceitos de
nência na profissão e, quanto menor a saúde e doença ao longo da história
idade, menor o tempo de residência na sob o olhar epidemiológico e antro-
comunidade. pológico. Revista de Enfermagem, 17(1),
Ao término desta pesquisa, foi possí- 111-117. Disponível em: http://www.
vel perceber que, apesar do abandono e facenf.uerj.br/v17n1/v17n1a21.pdf.

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ISSN: 2177-093X Revista Psicologia e Saúde, v. 8, n. 2, jul./dez. 2016, p. 113-128


Revista Psicologia e Saúde. 128

Recebido: 20/09/2016
Última revisão: 16/11/2016
Aceite final: 18/11/2016

Sobre os autores:
Jacir Alfonso Zanatta - Doutorando em Psicologia da Saúde pela Universidade Católica
Dom Bosco (UCDB), mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS) e mestre em Psicologia da Saúde pela (UCDB). Formado em Psicologia pela
(UCDB), Jornalismo pela (UFMS) e Filosofia pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato
Grosso (FUCMT). Professor da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), membro do
Comitê Científico e vice-presidente do Comitê de Ética na Pesquisa (CEP/UCDB). E-mail:
jacirzanatta@gmail.com
Márcio Luís Costa - Doutor e mestre em Filosofia pela Universidad Nacional Autonoma de
México. Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior e formado em Filosofia
pelas Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT). É Coordenador do Programa
de Mestrado e Doutorado em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
Editor da responsável pela revista Psicologia e Saúde e Presidente do Comitê de Ética na
Pesquisa (CEP/UCDB). E-mail: marcius1962@gmail.com

Programa de Mestrado e Doutorado em Psicologia, UCDB - Campo Grande, MS

ISSN: 2177-093X Revista Psicologia e Saúde, v. 8, n. 2, jul./dez. 2016, p. 113-128

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