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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

Plantas Medicinais e o Conhecimento Tradicional na Comunidade de São


Gonçalo/Paraty

ALUNO: Mauriceia Pimenta Tani

ORIENTADORA: Roberta Lobo

Locais de Execução do Projeto:


ICHC/ UFRRJ
Município de Paraty/ Comunidade de São Gonçalo – Paraty/RJ

SEROPÉDICA
2018
AGRADECIMENTOS

A minha família dedico cada palavra que se encontra aqui, foram através dessas
ancestralidades que pude nascer e ter a chance de me tornar quem sou hoje. Aos úteros
que geraram quem me gestou, um respiro de amor, carinho respeito e agradecimento
pois não é fácil ser mulher.

As colegas de turma e alojamento e vida Aline Braida, Emerson Ramos e Raquel


Albino que resistiram junto a mim nesse espaço acadêmico meus sinceros
agradecimentos. Aos companheiros de turma pelas experiências vividas ao longo destes
anos e pela oportunidade de viver realidades diferentes as do meu cotidiano.

Ao meu companheiro Luan da Silva por tanto incentivo a encarar este espaço de
formação e por estar ao meu lado estes últimos anos, me concedendo a honra de poder
gestar duas filhas.

A minha filha Inaê Pimenta Tani da Silva em poder ser mãe de uma estrela tão linda e a
esse brotinho de mim que carrego agora.

Aos amigos de dentro e fora da vida universitária que deram tanto apoio nesses anos de
minha vida em especial Ana Luiza, Januária, Eloá e minha sogra Fátima Regina da
Silva um forte matriarcado.

Aos educadores te toda vida que foram responsáveis pelo meu aprendizado escolar,
cada um com sua essência de educar. As educadoras Roberta Lobo e Fabiana pelo apoio
e incentivo neste estudo, as professoras Aline Abinnizio e Marilia campos pelas
orientações dos primeiros períodos da licenciatura e educação do campo.

As caiçaras da comunidade de São Gonçalo Janete, Jumara, Maria (tia Mercedes),


Maurilia Pimenta e Isalra, páginas de memória e conhecimento ancestral da comunidade
de São Gonçalo que resistem.
RESUMO

Palavras Chaves: Ervas Medicinais, caiçara, conhecimento tradicional.

Esta pesquisa esta voltada a investigar como se encontra o conhecimento tradicional das
ervas medicinais na comunidade de São Gonçalo, no município de Paraty Rio de
Janeiro. Buscar entender como as transformações no cotidiano de vida e no território
podem afetar o conhecimento assim como o uso destas plantas, tendo como objetivo
levantar citações das plantas mais populares, suas indicações e meios de localização
através de entrevistas conduzidas com mulheres caiçaras da área de estudo.
Mostraremos um breve histórico de desenvolvimento regional e como a
descaracterização do território tradicional, pode influenciar diretamente no
autoreconhecimento do caiçara, ameaçando sua identidade que carrega uma farta carga
de conhecimento sobre vários tópicos que envolvem sua existência e resistência. Os
achados apresentam que são de extrema importância estudos que evidenciem e
registrem o conhecimento de caiçaras que ainda tem alguma relação de subsistência
com o território através das plantas medicinais.
Desenho feito especialmente para este trabalho. “Terramicina” - Elison Fernandes
(caiçara) de Paraty, RJ. 05/12/2018
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Vista do alto para o vale do sertão de São Gonçalo, o encontro do rio com o

mar e de frente morro das Gamelas. Foto cedida gentilmente por João Reis,201610

Figura 2 - Nesta foto vemos uma parte extensa, que se localiza a direita da imagem

anterior, e nitidamente o impacto que foi e é a BR – 101 no litoral (na comunidade).

Foto cedida gentilmente por João Reis, 201610


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

2. ENSAIO AUTOBIOGRÁFICO ................................................................................ 2

3. OBJETIVOS ............................................................................................................... 7

3.1. Objetivos específicos ................................................................................................ 7

4. CENAS DO HORROR: PROGRESSO E PERDA DA IDENTIDADE

CAIÇARA.................................................................................................................... 7

5. A COMUNIDADE VIVA E A RETOMADA DA IDENTIDADE: A FORÇA

HISTÓRICA E ANCESTRAL DAS PLANTAS MEDICINAIS .......................... 13

6. METODOLOGIA..................................................................................................... 16

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 17

7.1. Plantas Medicinais Utilizadas na Comunidade de São Gonçalo, Paraty, Rio de

Janeiro, Brasil ........................................................................................................... 18

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 23

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 25

ANEXO I ....................................................................................................................... 27
1. INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no litoral sul fluminense afetaram e afetam, diariamente


inúmeras comunidades tradicionais Caiçaras assim como os Indígenas, Quilombolas e
agricultores locais. Afirma: (Siqueira, p.14) “Até os primeiros anos da década de 50, a
terra onde moravam esses caiçaras tinha pouca valia. Daí eles viveram em paz,
praticamente isolados do resto do mundo. Há quem compare o litoral entre as cidades
do Rio de Janeiro e Santos, até aquela época, com o ‘vazio econômico’ da Amazônia de
antes da era Médici. E ‘vazio econômico’ é o isolamento frente ao progresso capitalista
desenrolado no restante do pais.”
Entende-se que um povo precisa de sua terra para permear seus saberes e
tradiçõe, dar continuidade às práticas ancestrais de cada local/região sendo este um fator
primordial na construção da identidade comunitária e individual caiçara. De acordo com
esta perspectiva abordamos um breve contexto de violência e transformação que a
região da costa verde sofreu afetando diretamente na expropriação e grilagem de terras
no litoral sul fluminense. Diante destas transformações nota - se como os povos caiçaras
que ocupam muitas comunidades nesta região sofrem diariamente a violação dos seus
direitos.
Mediante a essa percepção nos voltamos à comunidade de São Gonçalo, no
município de Paraty, que tem sua história de conflito relatada em algumas biografias,
assim como na memória e cotidiano dos comunitários que resistiram no território
geográfico, embora alguns tenham sido expropriados violentamente dos locais de
moradia antigas de suas famílias. A retirada do território para um povo tradicional pode
trazer perdas irreparáveis como o conhecimento sobre um determinado ambiente que
alimenta saberes preciosos.
O povo caiçara cultuava a terra para sobreviver, ali se tinha alimento, moradia e
também saúde, já que nas comunidades isoladas era preciso entender das plantas
medicinais, pois assim podiam se curar e curar ao outro. Nesse contexto o referente
estudo aborda o conhecimento das plantas medicinais na comunidade de São Gonçalo,
com olhar especial sobre as mulheres e o papel fundamental que elas representam. Junto
a isto observar como o processo histórico pode ter acelerado a perda do território assim
como a expropriação do conhecimento tradicional.

1
Percebe-se a importância de desenvolver tal estudo que visa recorrer ao
conhecimento tradicional como ferramenta de resistência para fortalecimento da
identidade caiçara.
Contamos com biografias que puderam expandir nossos horizontes em relação
ao contexto histórico podendo assim ter um olhar reflexivo sobre como se encontra
agora esse conhecimento.
A primeiro momento temos o ensaio autobiográfico que vem com a função de
valorizar a importância dos espaços de auto formação social para um comunitário,
dando a este a oportunidade de saber sobre sua história assim como dar propriedade
para que este possa falar sobre seu lugar.
O segundo momento cenas de horror e perda de identidade caiçara narra de
forma rápida a história dos ciclos econômicos dando ênfase ao conflito territorial
ocorrido na região e na comunidade e as conseqüências de disputa pelas terras caiçaras
em São Gonçalo.
No terceiro momento nos preocupamos em relatar a relação do conhecimento
tradicional e a pratica na construção da comunidade. Vinculando este saber à
importância da mulher como difusora do conhecimento das ervas dentro da comunidade
e entendendo que a valorização deste saber pode fortalecer cada vez mais a manutenção
oral.
Por fim concluímos que a comunidade sofreu uma descaracterização dos modos
de vida tradicionais, após a perda de grande parte do seu território de origem. Observa-
se também que as novas formas de vida que foram impostas ameaçam em algum grau o
conhecimento e uso que se tem das plantas medicinais. Desta forma entendemos
também que este estudo é uma forma simples de registrar e dar voz a esses saberes
ancestrais, valorizando as mulheres e o forte papel desempenhado por elas em seus
quintais.
1. ENSAIO AUTOBIOGRÁFICO
Nascida na comunidade Praia de São Gonçalo, localizada ao lado norte do
terceiro distrito do Município de Paraty, sou caiçara por ancestralidade. A família
materna tem origem neste lugar e a família paterna na Praia Grande da Ilha Bela, estado
de São Paulo. Neste local a vida era tranquila, fui criada nos quintais de casa e era raro
irmos à cidade, íamos com mais frequência à igreja dessa comunidade, lá eu podia
cantar e tocar, porém na igreja não desenvolvi um senso crítico sobre a identidade, a
história e as raízes do meu lugar.

2
A partir dos 14 anos parei de ir à igreja e fui experimentando coisas novas,
iniciei em um projeto que acontecia na localidade com o objetivo desenvolver a
comunidade local, com foco no esporte, lazer e na cultura. Tínhamos ali aula de teatro,
música, xadrez entre outras atividades. Mais tarde me tornei monitora, auxiliando nas
atividades dentro da comunidade. Com este processo fui ocupando alguns espaços
dentro e fora da comunidade, saindo para representar a comunidade em rodas de
conversas e formações políticas em outros espaços.
A partir desse processo fui entendendo a expropriação que havíamos passado
com o projeto de modernização conservadora para a região1,o qual trouxe para território
grandes transformações, restando para nós a violência direta e indireta resultante da
desintegração do território e o esvaziamento da nossa identidade enquanto comunidade
caiçara, pertencente aos povos tradicionais deste país.
Atualmente, na comunidade de São Gonçalo, as alternativas para o público
infanto-juvenil são as quatro igrejas evangélicas, a Escola Municipal Marechal Santos
Dias, a quadra de esporte que é ocupada pelos jovens, além dos atrativos naturais como
a praia, as cachoeiras e a imensa floresta à nossa volta.
Minha família tem um sitio chamado Humaitá, localizado ao lado de São
Gonçalo na comunidade do Iriri no bairro do Taquari, lá buscamos manter uma técnica
comum de construção para moradia das populações tradicionais e populações de maior
contato com o campo, o pau a pique. Neste mesmo espaço familiar, desenvolveu-se o
plantio para alimentação, beneficiamento de matérias primas, assim como o manejo da
vegetação e do ambiente ao entorno, como eram as práticas tradicionais das
comunidades caiçaras. Estas formas de convivência e práticas foram afastadas das
realidades dos mais jovens mediante ao crescimento da comunidade ameaçando assim o
conhecimento tradicional caiçara.
Por volta de 2013, compreendemos a necessidade de formar um grupo com
pessoas nativas de Paraty, tendo como finalidade desenvolver trabalhos sociais que
pudessem “sanar” a carência da população local marcada pela marginalização. Os
Filhos da Terra enquanto uma auto-organização de jovens de comunidades locais tinha
o objetivo de fortalecer iniciativas que fossem favoráveis ao público local. As atividades
sociais desenvolvidas pelo Grupo tinham como base os mutirões e as rodas de conversa.

1 Este tema será retomado adiante, porém tratamos aqui da aliança entre ditadura militar,
empresariado nacional e internacional, materializada através da construção da Rodovia Rio-Santos, da
Usina Nuclear e do Turismo predatório.

3
Com o tempo a organização Filhos da Terra não se manteve, porém
permanecemos come se ideal de uma auto-organização dos jovens nativos, unindo
espaços de convivência, relações afetivas e práticas comunitárias. Fomos participando
de momentos de formação e aprendizado tradicional com pessoas detentoras de saberes
tradicionais, como por exemplo, a feitura de farinha no Quilombo do Campinho com o
mestre Seu Ló, em 2013. Um grupo de amigos foi aprendendo, através da oralidade e da
atividade concreta, a feitura da farinha e seus processos.
A partir das experiências vividas, fortalecemos a luta do Fórum de Comunidades
Tradicionais(FTC) de Paraty (RJ), Angra dos Reis(RJ) e Ubatuba (SP). O FCT é um
espaço políticos construído por legítimos representantes das comunidades tradicionais
quilombolas, caiçaras e indígenas guaranis situados no território compreendido entre o
sul de Angra dos Reis, Paraty e o norte de Ubatuba, lutando pela garantia dos direitos e
pela manutenção da identidade cultural dessas comunidades2.
No ano de 2012, tive conhecimento do Curso de Licenciatura em Educação do
Campo da UFRRJ (LEC/UFRRJ), curso este que já havia formado uma caiçara,
Marcela Cananéia, de origem da comunidade Praia do Sono. Neste curso, foram
conquistadas vagas para os povos e comunidades tradicionais através de diálogos feitos
com o Fórum de Comunidades Tradicionais de Paraty, Angra e Ubatuba.
Com processo seletivo especial aberto, eu e outras três caiçaras de realidades
diferentes, decidimos nos inscrever e tentar. Aprovadas, em 2014 iniciamos o curso e
um novo processo de formação e no mesmo ano idealizamos enquanto alunas da
Licenciatura em Educação do Campo (LEC/UFRRJ) e bolsista do Programa de
Educação Tutorial Etno Desenvolvimento e Educação diferenciada (ETNOPET), uma
atividade de formação para jovens caiçaras de diferentes realidades dentro do município
de Paraty. A atividade envolveu tanto jovens oriundos de sua comunidade de origem,
quanto outros que já haviam sido expropriados pelo processo de modernização na
região.
A atividade era para reconhecimento da matéria prima do tipiti e sua construção,
sendo esta experiência um elemento a fortalecer a luta pelo território, assim como a
importância que esta memória/saber/conhecimento pode ter na vida do caiçara que se
encontra ou não na sua comunidade de origem, porém preserva os saberes tradicionais
fortalecendo ainda mais a ideia de que o território não tem limites.
O tipiti é um trançado utilizado na prensa da massa da mandioca na feitura da
farinha da terra, um material delicado e raro de se encontrar alguém fazendo, poucos

4
ainda detém o conhecimento desta arte. A atividade trazia no seu cunho central a
manutenção de conhecimento através da oralidade e da prática com um mestre
ensinando e dando à nova geração a oportunidade de se vivenciar esse saber, assim
reunimos três gerações na comunidade do morro do Currupira na casa do Sr. Jarbas.
Dentro da LEC/UFRRJ, os trabalhos de pesquisa e extensão desenvolvidos
foram relacionados, desde o início do curso, com o nosso território, debatendo o antes e
o após a construção da estrada BR-101 na década de 1970. Com este bombardeio de
informações, retoma-se a consciência histórica sobre o processo de violência e
expropriação que São Gonçalo, assim como todas as comunidades do litoral sul
fluminense haviam passado. O próprio sujeito e sua condição comunitária se auto-
reconhece dentro do seu processo de expropriação cultural, histórica e identitária
automaticamente a valorização de um modo de vida, que em parte já não existe mais, se
desenvolve construindo maior vontade de resistir em seu território de origem.
Percebi que tenho uma grande responsabilidade diante das gerações futuras,
como um fio da meada que vai tecendo o que a história dos vencedores insiste em
romper, atualmente faço parte da coordenação nacional caiçara e fortaleço a
organização da juventude dentro do FCT.
Em 2013 me profissionalizei como Guia de Turismo credenciado Pela Embratur,
fruto da participação em um Curso de Turismo para Guia Regional, ministrado no
centro de Paraty, onde ocupei com outros comunitários nativos vagas destinadas à
comunidade local.2
Desenvolvo atividades com comunidades nativas através de um projeto chamado
Nativos Paraty3 que constitui uma rede formada por jovens nativos do município de
Paraty que tiveram oportunidade de formação acadêmica em diferentes áreas, como
História, Ciências Biológicas, Licenciatura em Ciências Agrícolas e Licenciatura em
Educação do Campo. A Nativos Paraty trabalha com turismo e atividades sociais que
não envolvem apenas os comunitários que permaneceram no território “tradicional”,
envolvem também os sujeitos e comunidades que foram expropriados, desenvolvendo
atividades que promovem o conhecimento da própria região, fortalecendo suas
identidades e saberes ancestrais.
Outro principal objetivo da Nativos Paraty é gerar autonomia para os jovens e
adultos nativos,pois necessitam de espaço de trabalho e profissionalização, já que estes

2 http://forumtradicionais.blogspot.com/
5
não são inseridos nas atividades econômicas locais. A não inserção destes jovens é fruto
da desigualdade de formação e de oportunidades sob lei da concorrência com a
população migratória qualificada que vem aumentando desde a abertura da estrada BR-
101 na região.Esta onda migratória tem um corte de classe bem definido,na grande
maioria famílias são pessoas de classe média, que buscam uma vida tranquila, onde
podem construir suas famílias e criar seus filhos longes das grandes capitais. Assim, os
jovens nativos capacitados perdem as poucas opções de trabalho para os recém
chegados ao território.
O horizonte de muitos caiçaras se limita a uma realidade de formação já
imposta, a educação não é de qualidade, o que os limita na continuação de formação
acadêmica. Então estes comunitários se moldam às necessidades do mercado que
alimenta o município, sendo fornecedores de mão de obras renováveis com as novas
gerações.
Os que vivem nos centros urbanos, na grande maioria já não têm vínculo com a
comunidade de origem, precisam sobreviver sendo assim se inserem nestes locais sendo
afastado das práticas e manutenção de alguns saberes ancestrais que precisam do
território de origem. Muitos vivem em um mundo isolado e desconstroem a sua
identidade e vínculos ancestrais para se recriarem dentro deste novo mundo, nele a
violência e opressão por parte do estado e das organizações criminosas que dividem
esses povos nativos é notoriamente visível.
E na cidade dos festivais, as várias realidades dos caiçaras, neste amplo território
podem trazer uma grande fartura cultural de um povo que resiste plantando suas ervas
não nos quintais, mas sim nos latões, garrafas, pneus entre outros espaços criados pra
resistir o saber ancestral.
No meu caminho de auto formação, pude enxergar o quanto estar no território de
origem faz de mim uma caiçara3 privilegiada, pois tenho uma identidade a qual tive que
absorver para resistir, esta se encontra respaldada pelo fato de eu ainda estar no meu
território. Muitos outros vindos dos mesmos locais são desacreditados em alguns

3 “Caiçaras: o caiçara, povo nativo com sua ancestralidade e identidade,


simples, solidário e receptivo, que se reconhece e é reconhecido por sua comunidade, vive e
integra um cenário de beleza única na zona costeira e insular da APA Cairuçu, manejando os
recursos no mar, na mata, na restinga e no mangue com sua cultura, modo de ser e fazer que,
com sua resistência e defesa de seu território, mantém sua essência e preserva seus direitos e
valores, do mesmo modo em que protagoniza a sua dinâmica cultural, social, econômica,
linguística e tecnológica”. (ICMBIO, 2018)

6
espaços, por terem sidos expropriados de seus locais de origem. A consequência
movimento no território ultrapassa as barreiras do acesso à terra, podendo interferir em
como você deve ou não se reconhecer, nos saberes passados de gerações a gerações
através das práticas que se tornam distantes. Após reconhecer e me enxergar dentro
desse processo de expropriação, violência e violações causadas a esses povos restantes
abandonados de um passado de escravidão, de genocídio de povos, entendo que as
organizações sociais a qual eu tive contato somaram no entendimento de direitos e de
identidade que nós caiçaras temos.

2. OBJETIVOS
Identificar as diferentes citações de ervas medicinais utilizadas pelas mulheres
da comunidade de São Gonçalo, absorver estas informações através de um
questionário que será aplicado na entrevista das que aceitarem a colaborar com o
processo, descobrindo em um numero menor de mulheres como anda este saber.
Espera-se descobrir qual a principal fonte de coleta das plantas citadas se
quintal, mata espaços publico entre outros, assim como identificar nesse contato, se a
facilidade de acesso a remédios farmacêuticos pode interferir no interesse e uso das
ervas medicinais.
2.1. Objetivos específicos

• descobrir qual a principal fonte de coleta das plantas;


• analisar se a facilidade de acesso aos recursos farmacêuticos interfere no
uso das ervas medicinais;
• a manutenção do conhecimento se altera conforme as diferentes faixas
etárias.

3. CENAS DO HORROR: PROGRESSO E PERDA DA IDENTIDADE


CAIÇARA
A região Sul Fluminense teve sua importância durante diferentes ciclos
econômicos da Colônia ao Império. Angra dos Reis e Paraty mantiveram uma
importância que deriva de seu acesso por mar, para o escoamento não só do ouro como
de outros produtos.
Como afirmam os autores do livro “Paraty Religião e Folclore”, Tereza e Tom Maia:

7
Nas últimas décadas do século XIX, entretanto, devido a dois
fatores que ocorreram em rápida sucessão, declinou
verticalmente o movimento do porto acarretando a decadência
do comércio na cidade. O primeiro fator foi a ligação entre São
Paulo e Rio de Janeiro por terra, através do Vale do Paraíba,
pela estrada de Ferro, inaugurada no fim da década de 1870
(MAIA: 2015, p.25).

O segundo fator foi a abolição da escravidão que nitidamente marcou o declínio


dos grandes donos de terras e engenhos. No mesmo texto citam:

Frustrada essa tentativa e, com ela, a possibilidade de se levar


maior movimento ao porto, Paraty parou. Pararam os engenhos,
despojados de mão-de-obra-servil. Parou o comercio, que vivia
em função daqueles. Deu-se, então, o êxodo da população
válida, que foi procurar fora o trabalho que na cidade não mais
existia. A estrada, que ainda se valia da antiga trilha dos
Guaianá, aos poucos foi abandonada. A cidade se isolou do
mundo, restando, durante muitos anos, apenas uma precária
ligação marítima com Angra dos Reis (MAIA:2015, p.25 e 26).

Após este processo de declínio com a abolição da escravatura, surgiram


comunidades com características particulares, que tiveram que se desenvolver para
resistir nesse isolamento. Assim se deu a formação da comunidade/população caiçara
que é resultado dos povos que colonizaram e os povos que foram escravizados
(indígenas e africanos). Seus conhecimentos são oriundos da prática e da oralidade se
perpetuam até os dias atuais tanto nos “centros urbanos” como nas comunidades
tradicionais, estas vilas caiçaras se desenvolveram ao longo da costa verde
principalmente em áreas litorâneas.
Como mostra o texto “Conflitos e Repressão no Rio de Janeiro” com a ditadura
militar os interesses novamente vieram para nossa região, o litoral da Costa Verde se
revela um pólo lucrativo por sua exuberância natural, a estrada BR-101 se mostra pela
década de 1970 trazendo grande desenvolvimento e imposição de modos de vida para
população local.
Observa-se claramente o desenvolvimento que ocorreu no território da Costa
Verde, assim como suas perdas territoriais e culturais e atualmente uma explosão
populacional se instalou de forma irreversível trazendo mediante a realidade da região,
fatores como a “marginalização” da comunidade local, que durante a instalação do
projeto “Turis”, Plano de aproveitamento turístico foi violentamente expropriada.

8
O índice de desemprego e baixa escolaridade são grandes, uma importante
atividade de lucro da comunidade é o turismo, que em sua maioria age de forma
predatória, desvalorizando a mão de obra local e aumentando a perda das práticas
culturais. Grande parte da população local que antes produzia a rede, canoa, cestaria,
remédios naturais, entre outras coisas, hoje trabalha na cidade nos casarões de veraneio
ou servindo o turismo predatório.
Grandes trechos das planícies do bairro de São Gonçalo atualmente inserem se
na propriedade Fazenda São Gonçalo Empreendimentos Imobiliários e Urbanísticos
LTDA, que no passado era de posse da White Martins, não sendo permitido nestas áreas
práticas agricultáveis tradicionais por se tratar de uma propriedade particular. A
comunidade ficou encurralada entre a fazenda e o Parque Nacional da Serra da Bocaina,
que é uma unidade de conservação de proteção integral, fazendo com que determinadas
práticas tradicionais também sejam assim proibidas.
No passado, a empresa retirou parte da mata nativa em torno do PNSB4 e iniciou
a produção de madeiras de eucalipto para diferentes fins, eram hectares floresta a
dentro, de uns anos para cá a suposta venda da fazenda para um grupo de empresários, o
qual não se tem muitas informações, fez com que o foco de plantio mudasse.
Atualmente parte das terras que antes eram ocupadas por eucalipto são hoje plantações
de palmito pupunha.
Com o processo de modernização conservadora implantado pela ditadura civil-
militar nos anos 1960 e 1970, a Região Costa Verde, no Sul Fluminense, foi totalmente
afetada pelo desenvolvimento econômico incontrolável pautado pela produção da
energia nuclear e pela consolidação de turismo internacional e predatório. O
“progresso” marcado pela ideologia do desenvolvimento nacional gera processos
violentos de expropriação das comunidades tradicionais da região, afetando diretamente
seus modos de vida, causando um cansaço existencial e uma quase inevitável perda da
identidade e dos saberes ancestrais. Saberes que foram mantidos por longos anos, como
a habilidade para o reconhecimento e utilização das ervas medicinais na região,
conhecimento transmitindo de geração em geração até os dias atuais.

4 O Parque Nacional da Serra da Bocaina foi criado por Decreto Federal em


1971, compreende uma área aproximada de 134 mil hectares e uma
expressiva biodiversidade.

9
No que diz respeito aos modos “imaterial e material” do viver caiçara há uma
perda muito grande, e um esvaziamento quase que por completo das práticas culturais
das populações destas comunidades, atingindo diretamente a memória afetiva. Ou seja,
junto à perda do território de origem, o comunitário perde seus espaços de interação
com o ambiente à sua volta, reforçando lentamente a perda das práticas e conhecimentos
tradicionais e a identidade local.
As figuras1 e 2 mostram parte das terras que hoje são de propriedade da Fazenda
São Gonçalo Empreendimentos Imobiliários e Urbanísticos LTDA, região que no
passado era habitada por moradores ao longo da orla da praia.

Figura 1- Vista do alto para o vale do sertão de São Gonçalo, o encontro do rio com
o mar e de frente morro das Gamelas. Foto cedida gentilmente por João Reis, 2016.
.

Figura 2 - Nesta foto vemos uma parte extensa, que se localiza a direita da imagem
anterior, e nitidamente o impacto que foi e é a BR – 101 no litoral (na comunidade).
Foto cedida gentilmente por João Reis, 2016

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A comunidade de São Gonçalo, localizada no terceiro distrito de Paraty, hoje é
uma comunidade de poucos nativos, porém com grande número de casas de pessoas
quem vêm de fora, entre a praia de São Gonçalo e São Gonçalinho existe um morro
conhecido como “Morro do Arpoar”.
Segundo (Monteiro, p.79) “Existem evidencias que, no alto deste morro, foi
construída uma capela em homenagem a São Gonçalo. Que acabou sendo destruída por
indígenas em um confronto com os padres, no período colonial. Os escombros e objetos
desta capela encontram-se, hoje, no fundo do mar, (...) Isso só reforça o quão antiga é a
ocupação daquelas terras”.
Na atualidade, o que sustenta o mercado de trabalho na comunidade são as
construções e o turismo predatório. A praia, considerada a maior do município, é uma
das mais procuradas nos períodos de alta temporada e feriados comuns. A procura por
terrenos impulsionou o loteamento do pouco das terras que ainda sobraram na
comunidade.
Na grande maioria, os visitantes que vêm aproveitar as atrações naturais é
público de veraneio. Este público não busca a essência nem a história da comunidade,
não é consciente das cenas de horror que o progresso deixou naquele local, continuam
assim o processo de destruição iniciado pela modernização conservadora dos anos 1970.
Neste caso, o turismo massivo como turismo predatório está totalmente desvinculado
das práticas de resistência e politização da comunidade. Sendo assim, a comunidade se
encontra cada vez mais frágil diante da grande massa que vem com seus lixos e
costumes.
O processo de modernização, combinando violência e expropriação direta da
terra e do mar determinou na prática como seria a vida de parte da população que restou
naquele local. Essas pessoas sem terra, sem mar 5 , com pouco estudo alimentamos
mercado de trabalho nas temporadas e nos feriados, ou vendem sua mão de obra aos
novos moradores que vieram de outros lugares para estabelecerem moradia ou apenas
usufruir de suas casas de veraneio.

5 Sem Mar, com essa modernização o mar foi abraçado com áreas de
preservação, na região de São Gonçalo e comunidades vizinhas temos inclusive uma
sobreposição da Estação ecológica tamoios e Apa Cairuçu e nelas as práticas que
envolvem o mar como pesca de rede, cerco entre outras são proibidas.

11
A comunidade da Praia de São Gonçalo está localizada no quilometro 154 na
porção norte do município de Paraty é constituída por aproximadamente 1276 famílias
em torno de 330 habitantes, dentre as pessoas nativas caiçaras e outras oriundas de
comunidades diferentes. A comunidade da Praia de São Gonçalo foi escolhida por sua
história de conflito territorial, e grande expropriação ocorrida neste local, muitas
famílias foram removidas e logo se constituiu comunidades periféricas nos centros
urbanos como cita o autor:

Mas são os investimentos do governo federal, a partir da década


de 1930, e o direcionamento da região para a atividade turística,
a partir da década de 1970, que vão modificar de maneira
significativa a vida destas famílias. Com a valorização das terras
e um intenso processo de especulação imobiliária e de grilagem
de terras, os caiçaras foram forçados a sair de suas casas e
acabaram perdendo o território original de suas vilas.
(MONTEIRO, 2017, p.25).

O acesso a praia de São Gonçalo é rápido e fácil, são inúmeros caminhos que
darão ao mar, sendo também possível o deslocamento através de barco para ilhas
próximas como “Ilha do Pelado, Ilha do Peladinho, Ilha do Cedro entre outros roteiros”.
Atualmente partes das famílias da comunidade localizam-se ao pé da serra, conta com o
suporte de um sub posto de saúde onde a agente de saúde ajuda a conduzir, apenas a
escola Municipal Marechal Santos Dias que abrange do o primeiro e segundo ciclos do
ensino fundamental sendo preciso sair da comunidade para seguir com os estudos, uma
quadra de esporte. A principal fonte de renda da comunidade é o “turismo predatório” e
como cita:

O turismo é uma atividade que vem crescendo nos últimos anos,


com um significado econômico muito importante para a
comunidade, que aposta nele como via para a conquista de uma
vida melhor. (BRITO et al., 2011, p.365):

Atualmente a comunidade vem passando por um processo de reeducação em


relação a esta fonte de renda, para que assim possa entender e trabalhar o “Turismo de
Base Comunitária” que vem a fortalecer a permanência no território e identidade local, a

6 Informação cedida pela agente de saúde local.

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comunidade conta com um roteiro desde o continente até o roteiro náutico pela baía em
frente.
4. A COMUNIDADE VIVA E A RETOMADA DA IDENTIDADE: A
FORÇA HISTÓRICA E ANCESTRAL DAS PLANTAS MEDICINAIS.
Observava durante a infância o avô vindo e indo ao mato, um ato de amor,
respeito e conhecimento pela imensa floresta a nossa volta. Meu avô, Esmelindo
Alfredo da Silva, conhecido pelas bandas de cá como “Ermindio”, um homem preto e
de mãos duras, era mateiro conhecedor dos bichos, das madeiras, das plantas e do
manejo da terra, além de artesão tradicional. Ele já havia falecido quando comecei a
acompanhar meu companheiro Luan em caminhadas pelas matas da região. Dei
continuidade a um hábito de criança quando ia ao mato com minha mãe e meu pai pegar
lenha ou lavar roupa na cachoeira.
No terreiro de casa, absorvi com a avó Alzira e minha mãe Maurilia, o
conhecimento de algumas ervas medicinais. Nas lembranças da infância, vejo que a
coleta de ervas e cascas para o uso medicinal era mais comum. Com a perda dos nossos
mais velhos,com as transformações no território e nas formas de vida da comunidade, os
saberes ancestrais se afastam cada vez mais do cotidiano das pessoas comuns, afetando
diretamente o conhecimento transmitido a partir da oralidade e da prática, como modo
de vida.
Durante minha criação, era muito comum o uso de folhas, raízes, cascas e
banhas de animais com efeito medicinal. Desta forma, pude desenvolver um afeto muito
grande pelas ervas medicinais. Entende-se que através do histórico da comunidade este
conhecimento ancestral foi e continua seriamente ameaçado com o processo de
modernização conservadora que tomou a região de Paraty, assim como a comunidade de
São Gonçalo.
O conhecimento ancestral nas populações tradicionais caiçaras é evidente nas
suas varias formas de vida, sendo que hoje, podemos lidar com diferentes realidades e
necessidades desenvolvidas por estas pessoas. Entretanto o conhecimento em relação à
floresta que permeia as comunidades tradicionais é oriundo das formas de vidas de seus
ancestrais em determinados espaços geográficos.
Anterior à estrada de rolagem na região da Costa Verde, as comunidades
tradicionais ali localizadas tinham suas maneiras de vida relacionadas com à terra e seu
manejo. Dali vinha parte das matérias primas utilizadas em construções; artefatos gerais
(de cabos de ferramenta a colheres de pau), cestarias, remédios, meio de transporte, no

13
caso a canoa caiçara; a coleta do alimento, que antes não vinha do açougue e sim da
floresta ou dos quintais, respeitando as épocas de cria. Assim como a culinária e a
preparação dos doces, alémdas muitas casas de farinha de mandioca.
O conhecimento passado através do cotidiano vivido atravessa qualquer divisão
territorial, os caiçaras que foram expropriados com a especulação imobiliária continuam
sendo donos de suas memórias e de seus conhecimentos tradicionais, o indivíduo muitas
vezes perde a terra, porém não perde a prática e o saber cultural, sendo muitas dessas
práticas reestruturadas e mantidas em novo território.
Hoje, pouquíssimos destes conhecimentos estão presentes na oralidade e na
prática cultural da comunidade e o território tem um papel importante na construção do
ser caiçara, pois é através deste espaço geográfico que iremos conduzir nossas práticas
de vida. Podendo elas estar ligadas a terra tanto quanto ao mar sem um exato
condicionamento de padrão de vida.
Ao momento que essa prática se torna mínima junto a ela a construção de
identidade comunitária se desmonta cada vez mais, esse é um fator que abala o auto
reconhecimento do comunitário tradicional. A disputa incansável da especulação
imobiliária, e todo o conjunto de negatividades que chegam com esta, afeta a vida no
território, o que para uma organização comunitária é totalmente agressivo.
As novas formas impostas pelo capital dificultam a permanência dos nativos nos
seus lugares de origem, a grande valorização das terras entre floresta e mar, é
convidativa para a classe social elitista branca que vem lentamente tomando uma grande
extensão do território, a modernização descontrolada e sem consciência da sociedade
acaba por controlar tudo à nossa volta, inclusive a natureza para continuidade do próprio
progresso.
Precisamente na comunidade São Gonçalo o conhecimento da fauna e da flora
local fazem com que alguns jovens caiçaras entendam a importância da sua identidade,
a riqueza de ser da terra, observa-se vagamente jovens que reproduzem a pesca como
seus pais. Sendo assim sentem qual a importância de poder ter aquele conhecimento e
executar aquela prática como resistência.
A consciência histórica da população local é diretamente afetada a partir das
grandes imposições e transformações, fazendo com que estes percam suas identidades,
desvalorizando assim o “saber tradicional” e enfraquecendo cada vez mais a oralidade
como prática, processos de aprendizagem e resistência. Um grande viés de resistência é

14
o conhecimento das plantas medicinais, estes mesmo com as alterações na dinâmica de
vida do caiçara chegam a atualidade.
Entende-se que tanto a mulher como o homem guardam saberes relacionados às
ervas medicinais, tendo um condicionamento específico a essas mulheres em territórios
tradicionais. Segundo ARAÚJO (2007: p.141), observando a Praia do Bonete, no litoral
de São Paulo:

Homens e mulheres do Bonete têm conhecimentos diferentes


sobre plantas utilizadas na alimentação, plantas medicinais e
madeiras usadas na construção de canoas. Os homens conhecem
melhor as espécies nativas dos ambientes de Mata Atlântica, e as
mulheres conhecem uma diversidade maior de plantas
medicinais, sendo elas, as responsáveis pelo preparo dos
remédios e pela coleta e manejo das plantas. Entre elas, há
algumas que possuem um conhecimento mais aprofundado,
assumindo um papel importante na transmissão desse
conhecimento às meninas e adolescentes. As mulheres estão
mais envolvidas com o manejo de quintais e roças e homens são
mais familiarizados com os ambientes de vegetação nativa.

O conhecimento das ervas medicinais que tem fundamento no nosso cotidiano


representam o mais puro saber, vindos de épocas passadas, onde a cura não estava
vinculada ao mercado e sim à natureza. Estes saberes em muitas localidades da região
se concentravam em pessoas especificas, pessoas que rezavam os doentes. Outra figura
importante na comunidade eram as parteiras.
Entretanto, como citado acima, a mulher acaba por manter em suas rotinas esses
manejos, tomando para si grande responsabilidade de permear estes conhecimentos. No
documentário “PARATY TERRA DE PRETO7”, o comunitário Sr. Domingos Martins
relata como era o cotidiano dessas mulheres em meados da década de 1970 e 1980.
O conhecimento ancestral das ervas medicinais ainda resiste na memória dos
comunitários, talvez o uso já não seja o mesmo que era antes da chegada do posto de
saúde e da modernização. Mas também, podendo ser encontrado na memória dos que
tiveram que sair do território tradicional por conta de especulação.
Faremos um exercício de observar como estes conhecimentos podem estar
ameaçados após este processo de crescimento e limitações de uso da terra. Já que estes

7 Filme produzido em Paraty ano de 2017, ministério da cultura Edital


03/2012
15
são ensinados através da oralidade e da prática cotidiana, assim ao acompanhar os mais
velhos desde muito cedo, principalmente as meninas, os conhecimentos sobre as ervas
são difundidos. A imersão neste tema é justamente para entender como nos dias atuais
as ervas medicinais estão inseridas no cotidiano dessas mulheres. De acordo com
BRITO(2011), o estudo sobre os recursos medicinais em comunidades tradicionais está
se tornando uma necessidade urgente, já que se corre o risco de perder não só as
espécies nativas potencialmente úteis, mas também o conhecimento obtido pela
experiência de contato estreito com seu ambiente transmitido de geração para geração.
A importância de saber, através do levantamento com as mulheres, as ervas
mais utilizadas na atualidade, demarca tanto a dificuldade de ter acesso à medicina
convencional que chega junto com a modernização conservadora, quanto a permanência
do manejo das ervas pelas mulheres em suas roças e quintais.
5. METODOLOGIA
A seguir apresentamos as bases metodológicas utilizadas durante o presente
estudo. Os dados foram obtidos através de entrevistas aplicadas pela metodologia bola-
de-neve, que visa um ciclo de reconhecimento dentro de um território. Segundo
VINUTO (2014, p.203):

A execução da amostragem em bola de neve se constrói da


seguinte maneira: para o pontapé inicial, lança-se mão de
documentos e/ou informantes – chaves, nomeados como
sementes, a fim de localizar algumas pessoas com o perfil
necessário para a pesquisa, dentro da população geral.

Tendo em vista que será escolhida uma comunitária referência para São
Gonçalo, com experiência empírica no uso dos recursos locais antes do acesso ao
serviço de saúde. Como cita: Pilla et al. (2009, p.2):

Procuraram - se inicialmente pessoas de idade avançada, que já


viviam na comunidade antes da chegada do posto de saúde, e
que são reconhecidas na comunidade pelos conhecimentos que
possuem.

Foi aplicado um breve questionário contendo questões relativas ao uso


tradicional de ervas medicinais na comunidade de São Gonçalo, bem como informações
sobre o perfil social de cada entrevistado. As plantas citadas na entrevistas serão se
possível identificadas em literaturas já existentes, embora ARAÚJO (2007, p.41)

16
observa que:“(...) a identificação de espécies através de publicações é problemática e a
probabilidade de erros nessas identificações, apesar de reduzida, existe”.
Foi realizada uma visita prévia às cinco entrevistadas para o esclarecimento
sobre o objetivo da abordagem, as mesmas aceitaram desde a primeira visita a participar
dando a oportunidade de se sentirem parte dessa construção, constituindo desta forma,
uma importante ferramenta de acesso ao conhecimento tradicional. Também foi
aplicada uma análise qualitativa dos dados obtidos através do questionário aplicado
durante as entrevistas (ANEXO).
O mapeamento das mulheres se deu por visita prévia, para saber se estas
aceitavam os convites que foram baseados na metodologia bola de neve, onde a
primeira entrevista da indicava a próxima a ser entrevistada e a partir desse primeiro
contato dar a voz a estas mulheres foi fundamental, vemos ai uma oportunidade para
que o conhecimento tradicional venha aparecer nessa pesquisa.
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percebe-se que com a falta de acesso à terra, fatores primordiais como a
subsistência a partir do meio ambiente se torna cada vez mais escassa. A agricultura
com o manejo de bananais, roçado de mandiocas para a produção de farinha que na
comunidade eram comuns na base alimentar foram praticamente extintos. Poucas
famílias tradicionais da comunidade hoje possuem posse de terra para plantio. Ao fim
da estrada de São Gonçalo sentido Serra da Bocaína, vemos uma experiência de
agrofloresta do senhor Israel Fraga Filho, conhecido como Colméia.
Os indivíduos caiçaras da comunidade de São Gonçalo se adaptam a nova
forma de vida que é apresentada pela modernização conservadora, portanto não há a
frequência de subsistência a partir do ambiente a sua volta, esse contato de
reconhecimento da mata diminui. Esse é o primeiro fator que enfraquece a oralidade,
pois é no convívio com os mais velhos na rotina de vida, que os mais jovens absorviam
os saberes ancestrais.
Considerando ser uma estratégia de registro documental, visto que houve um
distanciamento da prática na terra e do uso destas plantas na dinâmica da vida atual,
buscamos com mapeamento dessas ervas medicinais ressaltar a importância deste
material, bem como valorizar as mulheres com idade mais avançada, que possuem
informações valiosas sobre as plantas medicinais e seus usos. Acreditamos que, em seus
cotidianos, a forma de vida destas mulheres foram preservadas em alguma medida do
condicionamento da modernidade medicinal, o hábito de comprar os remédios vendidos

17
nas farmácias. Foram entrevistadas 5 informantes mulheres que conheciam plantas
medicinais na comunidade. Desde a primeira visita todas aceitaram participar e citaram
no total de 58 ervas medicinais. Todas são caiçaras da comunidade nasceram e
constituíram suas famílias na localidade, as mesmas relataram com quem absorveram o
cultivo e o uso das plantas medicinais. Na maioria, as mães são referências assim ou
terceiros da comunidade. Relataram a frequência com que está sendo utilizado o recurso
das plantas medicinais e como essa influência pode aumentar ou diminuir de acordo
com a idade das entrevistadas. BRITO (2007, p.366) afirma que: (...) o extrativismo dos
recursos medicinais não foi observado como uma prática comum, restringindo-se
apenas a coletas ocasionais, decorrentes de uma necessidade específica.
Ou seja, além das coletas das plantas serem restritas, existe a necessidade de o
indivíduo ter o conhecimento do seu ambiente, suas características, tais como quais
partes utilizar, a época e à hora para coletar. O resultado deste estudo mostra a
intimidade que cada mulher possui com as plantas medicinais. Podemos observar que é
comum o plantio de algumas ervas em volta da casa, nos quintais, visto que esta é uma
forma de domesticar a planta. Tendo à disposição quando preciso, já que na entrevista
observamos que não se considera uma hora exata para colheita das plantas, esta se
encontra de acordo com a necessidade que pode não ter hora para ocorrer.
Os resultados também apontam que grandes partes das plantas citadas podem ser
cultivadas nos quintais, sendo assim, o uso destas são mais freqüente exemplo: “saião,
terramicina, Santa Maria, poejo entre outras”. As mulheres de mais idade, com a visita
doaram mudas de ervas medicinais colhidas no quintal e vasos, esse é um ato de
responsabilidade desse saber. Pois ao receber uma muda o presenteado recebe também a
responsabilidade de ecoar esse conhecimento isto é ancestral entre as mulheres.
Comprova-se que esse espaço de terra e esta pessoa podem se completar fortalecendo
essa identidade de detentora desse saber, o território e o comunitário se completam em
suas resistências.
No levantamento efetivado percebe-se que a maior parte de uso das plantas são
as folhas, a base de preparo são chás depois xaropes, emplastos xarope lambedor e a
planta decantada na água, esse é um pequeno exemplo de que a medicina tradicional
guarda suas formulas de preparo ancestral.
6.1. Plantas Medicinais Utilizadas na Comunidade de São Gonçalo, Paraty, Rio
de Janeiro, Brasil

18
Aparentemente as cinco mulheres entrevistadas detêm de fato conhecimento
sobre o uso das plantas medicinais no território, estas narram quais são, onde encontrá-
las, quais partes usarem de cada planta, ou se, em doenças diferentes usam-se partes
diferentes como é o caso da “Erva Grossa” popularmente usada raízes e folhas para
xarope contra tosse, e a entrevistada “Maria da conceição conhecida como Dona
Mercedes de 78 anos” utiliza apenas às folhas para machucadura. Segundo Isaura: “A
mãe é a mulher da raiz”, ou seja, essa é uma forma de reconhecer esta mulher que diante
dos resultados da entrevistas faz mais uso das plantas medicinais do que a própria filha
que conhece algumas plantas porem não faz uso constante.
Na fala da dona “Mercedes” vemos que os tempos mudaram forçando assim
essa mudança para os próprios indivíduos a mesma afirma: “não tinha farmácia, não tinha
nada, não pudia ir em Paraty não sei como eles passavam, eu fazia!! As vezes curria lá em casa
pra eu fazer Xarope. Agora eu não faço mais para ninguém não,eu acho que eles podi fazer
também. Pega a erva e faz!! Eu faço”. A partir dessa reflexão entende-se que o distanciamento
do uso destas plantas esta lentamente aumentando, visto que as necessidades de saúde são
supridas pelo posto, (Sr.M); “ agora o pessoal ta tudo só no posto,só no posto”.
Fazendo referencia a dificuldade na forma de vida passada dona Mercedes narra, “eu
ganhava filho sozinha”(...)“ enquanto minha mãe ia na cozinha eu ganhava neném em
cima da cama”. Com suas crianças e sem auxilio de posto de saúde era necessário saber
usar as plantas esse conhecimento envolvia a permanência e vida desses comunitários.
A senhora Isaura em um dado momento de entrevista trouxe em tom de indignação
“como pode alguém pegar um cipó e dizer que é remédio” mesmo ela tendo a
experiência de uma época antes do auxilio de saúde na comunidade assim como a
facilidade de ir a cidade.
Na tabela abaixo, encontra-se a listagem das 58 plantas citadas no questionário
de entrevista, observam-se quais as plantas mais conhecidas e usadas.
Tabela 1 - Plantas medicinais citadas pelos informantes de São Gonçalo, Paraty, RJ.
Nome local. Parte Utilizada. Local de Coleta. Indicação. Hábito.

Nome das Partes Local de Indicação Uso Hábito/


Plantas Usadas Coleta Habitat

Hortelã Folhas Quintal Verme, Chá Erva Úmido


preto digestão

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Tansagem Folhas Locais Infecção no Chá Erva/Úmido
publicos útero,verme
Poejo Folhas quintal Tosse, Chá, Erva/Úmido
resfriado xarope
Picão Folhas e Locais Epatite Banho / chá Erva / seco
Raízes publicos
Erva Folhas quintal Tontura, Cha Erva/seco
cidreira de calmante
vara
Capim Folhas quintal calmante Chá Erva/seco
limão
Gengibre Raiz quintal Resfriado Chá/ Erva/ seco
xarope
Guáco Folha Quintal Resfriado Chá, Trepadeira/
xarope seco
Erva Grossa Folha e Quintal e Tosse e Xarope e Erva/ seco
Raiz locais Machucadura Emplasto
públicos
mamão Flor Quintal tosse Xarope Arvore/seco
macho Lambedo
Aroeira Casca Mata, cicatrizante banho Arvore/
quintais úmido e seco
Locais
públicos
Pau pereira Casca mata Digestão Decanta na arvore
água
Carqueja Folha Locais Problema nos Chá Erva/seco
publicos Rins
Cabelinho Cipó quintal tosse Xarope Trepadeira/
de anjo lambedo seco

20
Limão Fruto e quintal Afinar o Sumo da Arvore/
folha sangue, fruta e cha Seco
estomago das folhas

erva preá Folha Locais machucadura Emplasto Erva/seco


públicos

goiabeira Folha Quintal caganeira Chá Arvore/seco


Urtiga Roxa Raiz Mata Erisipela banho Erva/úmido
Chapéu de Folha Locais Problema nos Chá Erva/úmido
Couro públicos Rins
Boldo Folha quintal Dor no Sumo da Erva/seco
estomago folha
Parietária Folha quintal Infecção nos Chá Erva/seco
rins
Pitangueira Folha quintal Gripe e febre Chá e Arvore/seco
xarope
Cavalinha Folha quintal Desinchar os Chá Erva/seco
rins
Romã Futo quintal garganta Chá Arvore/seco
Erva doce Sementes e quintal Cólica e prisão Chá Erva/seco
folhas de ventre
Saião Folhas quintal Machucadura Emplasto e Erva/úmido
e tosse xarope
Confrem Folha quintal machucadura emplasto Erva/seco
Babosa Folha quintal cançer Come a Erva/sol
folha
Alfavaca Folhas quintal Garganta Chá Erva/sol
inflamada
Santa Maria Folhas quintal Machucadura Emplasto e Erva/sol
e verme sumo da
folha
Batata doce Folhas e quintal Anemia / Refolgar / Trepadeira

21
raiz queimadura Polvilho da sol
raiz
Taioba Folha Quintal erisipela Folha Erva/umido
escaldada
Estomalina Folha quintal digestão Chá Arvore/sol
Espinheira Folha mata Dor no Chá Arvore/
santa estomago umido
Embaúba folha mata tosse xarope Arvore/
branca Seco
Terramicina Folhas quintal Antibiótico / Cha Erva/seco
cicatrizante
Canela de Folhas Locais Dor no corpo Cha Arbusto/seco
velho publicos
Urucum Folha quintal Diabetes e Cha Arvore/seco
colesterol
Amora Folha quintal Repor Cha Arvore/seco
hormônio
Arruda Folhas quintal Piolho banho Erva/seco
Melão de Folhas Locais Corta Sumo das Trepadeira/
são Caetano publicos envenenamento folhas Seco
de cachorro
Rosa branca Flores quintal Para olhos e Cha Erva/seco
limpar útero
Eucalipto Folhas Espaço bronquite inalação Arvore/seco
publico
Pimenta Folha quintal Furúnculo Folha Erva/seco
escaldada
Cana do Caule quintal Infecção nos Comer Erva/úmido
brejo rins caule
Arnica do Folha quintal machucadura emplasto Erva/sol
campo
Xuxu Folha quintal Baixar pressão Chá Trepadeira/
Sol

22
Graviola Folha quintal diabete Cha Arvore/
Sol
Quebra Folhas e Locais Infecção de Chá Erva/
pedra raiz publlicos e urina Seco
rasteiro quintais
Erva de Folhas Locais machucadura Emplasto Trepadeira
passarinho publicos
Sete sangria Folha e Mato e Pressão alta Sumo das Erva/sol
galhos quintais folhas
finos
Cambucá Casa Mato e Xarope xarope Arvore/sol
quintais expectorante
Erva Folhas quintal cólica Chá Erva/sombra
cidreira da
horta
Maravilha Folhas Quintal purgante Escalda Erva/úmido
maracujá folha quintal calmante Cha Trepadeira

Tomatinho Folhas e mato Crescer cabelo banho Erva


do mato frutos Sol
Jambú Folhas e Mato e Dor de dente Mastigar Trepadeira
flores locais Sombra
públicos

Caju Casca quintais Dor de dente Gargareja Arvore


Sol

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a importância do assunto trabalhado, observamos que o condicionamento
de vida que essas mulheres caiçaras de São Gonçalo têm, pode influenciar no uso das
plantas medicinais citadas. Sendo assim entender como anda esse saber/ conhecimento
no processo histórico atual é de suma importância para analisar a manutenção desta
prática.

23
Além disso, é visível que o quintal tem um papel fundamental no cultivo e
domesticação de algumas plantas não tão simples de encontrar, junto a esta soma - se
um ato ancestral que é o da troca e doação de mudas das plantas citadas.
O questionário com perguntas especificas conseguiu mostrar nitidamente que as
plantas mais citadas/usadas não se encontram na mata, sendo este um exemplo real do
afastamento que houve entre o comunitário e a floresta. Notou-se também que o grau de
escolaridade pode ser indiferente quando o conhecimento está voltado para o saber
ancestral, pois a oralidade é a principal ferramenta para que essas informações
perpassem as gerações futuras.
No desenvolvimento da pesquisa percebe-se que estudos como esses são de
grande importante para o registro do conhecimento dessas mulheres que já tiveram e
ainda tem mudanças nas suas formas tradicionais de vidas. Ameaçando assim sua
identidade tradicional e fazendo com que o comunitário e o território se separem cada
vez mais, enfraquecendo a resistência cultural do indivíduo.
Durante a abordagem observou-se que as mulheres ficam muito nervosas mesmo
sabendo que o conhecimento é importante, porém existe uma timidez muito grande em
falar essa foi uma das principais dificuldades encontradas. Desta forma para não as
constranger ainda mais não foi possível o registro fotográfico, pois já na entrevista nota-
se como as mulheres são tímidas e suas dificuldades de falar mais.
No geral elas foram pontuais nas respostas não abrindo possibilidades para
desenvolver outras questões, o gravador não foi aceito, então a entrevista se
desenvolveu de forma oral apenas. O número de entrevistas a primeiro momento foi
escolhido justamente com objetivo ter uma quantidade pequena, porém notamos que
pelo resultado adquirido temos para um próximo estudo a opção de aumentar este
número é grande, assim como encontrar formas que sejam menos constrangedoras para
as entrevistadas se sentirem mais à vontade.

24
8. . REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, L.G. Etnobotânica Caiçara: diversidade e conhecimento de recursos vegetais


no litoral paulista. 2007. 195f. Dissertação (Mestrado – Área de Concentração em
Ecologia) – Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
BRITO, M. R.; SENNA-VALLE, L. Plantas medicinais utilizadas na comunidade
caiçara da Praia do Sono, Paraty, Rio de Janeiro, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 25,
n. 2, p. 363-372. 2011.
FEITOSA, Annagenese; SILVA, Iby Monteiro de, Capitulo 5: conflitos por terra e
repressão da costa verde, litoral sul fluminense
FÓRUM. O que é o Fórum de Comunidades Tradicionais? Fórum de Comunidades
Tradicionais quilombolas Indígenas e Caiçaras. 2009. Disponível em:
http://forumtradicionais.blogsport.com
Maia, Tereza e Maia, Tom, Paraty Religião & Folclore – Ontem &Hoje., Aparecida
Editora O Lince,2015.

MOTEIRO, Thiago Lammoglia “Ação Política e resistência Territorial: Turismo de


Base Comunitária Entre os Caiçaras de São Gonçalo – Paraty, Rio de Janeiro.
Seropédica 2017

PILLA, de Paula Tiago.; SAGNORI Maíra.; Silva, da Garcia Jaine. Cartilha de plantas
medicinais do pouso da Cajaíba resgate cultural em busca de autonomia, Anais do IX
Congresso de Ecologia do Brasil, 13 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço – MG
ICMBIO - INSTITUTO CHICO MENDES DA BIODIVERSIDADE. Plano de
Manejo da Área de Proteção Ambiental de Cairuçu - APA Cairuçu, 2018. Paraty,
RJ. 82p.

VINUTO, Juliana. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate


em aberto. Revista Temáticas, Campinas, 22, (44), p. 203-220, ago/dez. 2014.
FILME:“Paraty Terra de Preto”, Edital Nº 03, de 20 de NOVEMBRO de 2012, Edital
Curta-Metragem - Curta-Afirmativo: Protagonismo da Juventude Negra na Produção
Audiovisual
Sites:
https://www.significados.com.br/pesquisa-qualitativa/

25
ANEXO I
Formulário Para Entrevista de Campo Sobre Ervas Medicinais em São Gonçalo
Localidade____________________ município _____________UF____

Dados do Informante

Nome________________________________________ Idade_______ sexo_____

Profissão__________________________ Naturalidade___________________

Escolaridade______________ Tempo que reside no Local________________

Como absorveu o conhecimento das ervas medicinais?


Pais ( ) Avós( ) tios e outros( )____________________________________

Você conhece alguma planta medicinal? Sim ( ) não ( ) se sim quais?__________

Como anda o uso das Plantas medicinais no seu cotidiano? Freqüente( ) Médio( )
pouco usada( )

Dados sobre as plantas

Nome popular:
Época de coleta:
Época de floração:
Horário recomendado para retirar:
Para que doença é utilizada e como?
Chás () Banhos () Emplastos () Xarope () Sumo da folha () Entre Outros:
Qual parte se utiliza? Folhas () Raízes () Cascas () Frutos () Flores () Entre Outras:
Onde se encontra as plantas medicinais? Quintal () Mata () Espaços Públicos entre
outros()
Hábito: Trepadeira () Erva () Arbusto () Árvore ()
Habitat/ área que gosta? Seca () Úmida () Sol () Sombra ()

26

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