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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Professor: Rafael Pereira da Silva


Curso: Geografia
Componente: Geografia Agrária
Período: 2023.1
Discentes: Débora Talita Gomes; Kayke Humberto Trajano Macêdo.

O QUILOMBO CAIANA DOS CRIOULOS: OS ASPECTOS DO QUILOMBO


APRESENTADOS A PARTIR DO TRABALHO DE CAMPO

Guarabira-PB
2023

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Débora Talita Gomes
Kayke Humberto Trajano Macêdo

O QUILOMBO CAIANA DOS CRIOULOS: OS ASPECTOS DO QUILOMBO


APRESENTADOS A PARTIR DO TRABALHO DE CAMPO

Relatório de aula em campo realizada no Quilombo Caiana dos Crioulos

Guarabira-PB
2023

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SUMÁRIO
SUMÁRIO 3
1. RESUMO 4
2. INTRODUÇÃO 4
3. EDUCAÇÃO 5
4. TERRITÓRIO DE CAIANA 8
5. MIGRAÇÃO 10
6. CULTURA 12
7. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA & ESPAÇOS DE REPRESENTAÇÃO 13
8. ATIVIDADES PRODUTIVAS NO QUILOMBO CAIANA DOS CRIOULOS 14
9. CONCLUSÃO 15
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16

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1. RESUMO

Caiana dos crioulos é uma das 47 comunidades quilombolas existentes na Paraíba, que
foram se constituindo com o passar do tempo por negros escravisados, muitos fugidos dos
seus senhores e outros que já tinham sido libertos, em espaços de terra que hoje estão
legalizados. Eles se utilizam do espaço de terra que lhes pertence para fins da agricultura,
extraindo a renda, com uma policultura e pecuária. Apesar de estarem legalizados
oficialmente, a comunidade em específico de Caiana enfrenta diversos problemas quanto à
mobilidade e recursos hídricos. Mesmo com todas as lutas que enfrentam, a força e garra
ainda estão presentes, encontram muitas vezes aconchego em sua cultura e religião, que os
impulsionam a continuar lutando estendendo o seu legado. A comunidade tem grande
potencial de crescer e ganhar visibilidade, mas para isso é preciso que as políticas públicas
saiam do papel e sejam devidamente implementadas. A luta não acaba com cada conquista,
ela aumenta ainda mais.

Palavras-chave: Caiana dos crioulos, território, remanescentes, resistência.

2. INTRODUÇÃO

A comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos assim como tantas outras é sinônimo
de resistência, de luta, coragem e muita força. A história dos negros aqui no Brasil não é de se
dar orgulho, a forma totalmente desumana como eles foram trazidos amontoados em porões a
força e escravizados, e depois de tanto servir e sofrer foram libertos sem nada possuir e sem
ter pra onde ir, trazem consigo marcas até hoje percebidas. Quando nos direcionamos a
localidade do quilombo Caiana para assim fazermos uma aula em campo, pudemos perceber
desde a saída da área urbana da cidade de Alagoa Grande PB, até o destino na área rural, uma
dificuldade em questões de mobilidade, como é o caso da estrada não pavimentada e estreita,
algumas muitas entradas e uma distância de meia hora da cidade para o campo. Caiana fica a
13 quilômetros de distância da área urbana na cidade de Alagoa Grande PB, sua comunidade
é constituída por remanescentes de negros africanos, que outrora foram trazido para o Brasil e
escravizados, muitos se rebelaram e fugiram, históricamente se cosntituiram em Caiana e
fazeram desse espaço seu território de vida, local onde moram e constroem suas histórias. Em

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seu espaço de produção, possuem uma lógica diferente dos demais, a terra para o quilombola
e para o assentado de reforma agrária tem um valor simbólico e coletivo, o reconhecimento da
terra é coletivo, toda a comunidade quilombola a possuí, recebem uma titulação da terra como
bem comunitário. Até 1850, antes da lei de terras, os negros eram presos, tratados como
mercadoria, a terra era livre e com a lei de terras ela passa a ser cativa e os homens que antes
eram escravisados passam agora a serem livres, mas continuam reféns da propriedade, ou
seja, os homens antes escravisados eram agora livres mas sem ter uma terra para habitarem,
não tendo pra onde ir, a única forma espacial de estratégia é se aquilombar, que é um processo
que demanda tempo e o uso do espaço.
Neste relatório abordaremos também outros aspectos da comunidade do Quilombo
Caiana, como é o caso da diferença da educação quilombola para a educação acadêmica, o
processo de certificação e identificação das terras, questões de migração para outras cidades e
estados a fim de uma melhor qualidade de vida com melhores políticas públicas, relato de
vivência e questões culturais.

3. EDUCAÇÃO

Após o trajeto que liga Guarabira à Alagoa Grande, cidade em que está localizada a
comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos, iniciou-se a aula de campo por volta das 9h55
do dia 18 de Abril de 2023. Inicialmente nos foi apresentado a Escola Municipal Firmo
Santino da Silva que leva esse nome em homenagem a um morador do quilombo que se
tornou sinônimo de resistência naquela localidade chamado de Firmo Santino da Silva (figura
01). A Escola possui uma estrutura comum onde existem salas de aula, biblioteca, diretoria,
secretaria, banheiros, cozinha e um ginásio onde ocorrem algumas apresentações culturais
típicas do local. O quadro de funcionários também segue o mesmo padrão que encontramos
na maioria das escolas brasileiras, que é composto por gestor, professor, bibliotecário,
vigilante, porteiro e merendeiras. A instituição oferece turmas do ensino infantil, fundamental
I e fundamental II.

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Figura 1: Fotografia de um banner na escola Firmo Santino da Silva, Alagoa Grande PB. Autor: Kayke Humberto.

A caracterização do ambiente escolar se dá através de adereços que lembram a cultura


daquele povo, isso serve para despertar nos alunos a consciência do local em que ele está
inserido, fazendo lembrar que aquele território foi conquistado através de muita luta de seus
antepassados. Outro ambiente que marca a escola é a biblioteca da instituição que oferece ao
alunado da instituição um rico acervo de livros que trazem conteúdos históricos e culturais
que contribuem para a formação social e educacional. Segundo a responsável pela biblioteca
(figura 02) a maioria das obras ali presentes não são voltadas para o povo negro ou
quilombola, mas que ainda assim ajuda na formação cultural dos alunos.

Figura 2: Bibliotecária da Escola Firmo Santino da Silva, Alagoa Grande PB. Autor: Kayke Humberto.

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Ao chegar na instituição de ensino citada, algo que chama muito a atenção é a
disciplina e bom comportamento dos alunos (figura 3). Segundo o professor Waldecir, esse
bom comportamento é um traço cultural que também é aprendido dentro de casa, isso porque
os pais dos alunos veem na escola um ambiente de aprendizado das disciplinas escolares e que
o aprendizado voltado para comportamento, costumes fica a cargo das famílias. Essa é uma
diferença encontrada na escola quilombola para a maioria das escolas tradicionais situadas na
zona urbana

Figura 3: Alunos do Pré na escola Firmo Santino da Silva, Alagoa Grande PB. Autor: Kayke Humberto

A oferta do ensino médio se concentra na zona urbana que fica cerca de 13 km de


distância da zona rural onde fica localizado o quilombo. A única forma de chegar à escola que
oferta o ensino médio é através de estradas de bairros de difícil acesso e que em dias chuvosos
ficam inacessíveis. Desse modo, ao concluir o ensino fundamental o quilombola que queira
prosseguir na vida acadêmica encontra dificuldades que muitas das vezes são impostas pelo
próprio poder público.

Apesar da instituição de ensino estar sediada em uma comunidade quilombola, a


mesma não possui um programa pedagógico específico para aquela localidade que leve em
consideração os seus aspectos culturais e históricos. Ou seja, a instituição funciona como
qualquer outra da realidade brasileira. Essa realidade é refletida no quadro de professores que
embora ministram aula na localidade se quer ali residem. Segundo o professor Jocélio , fica a
critério do professor a elaboração de aulas que leve em consideração os aspectos da
localidade, já que segundo ele o Ministério não oferece recursos didáticos para aquele povo.
Assim, fica a critério do docente a elaboração de aulas voltadas aos aspectos da realidade dos
alunos. Na comunidade Caiana dos crioulos existem profissionais que são formados em
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cursos de licenciatura e que ali vivem e, portanto, conhecem a realidade em que estão
inseridos, assim como os aspectos históricos, sociais e culturais. Entretanto, esses
profissionais encontram entraves políticos para que possam exercer sua profissão dentro da
sua localidade em que vivem e assim transmitir o conhecimento para os seus iguais. Esse
entrave ocorre porque existem poucos meios de se tornar docente da instituição, existem dois
meios, o concurso público ou a indicação política.

Em Alagoa Grande, município em que está localizado o quilombo, não há nenhuma


instituição de ensino superior pública. Por isso, os moradores que querem cursar o ensino
superior migram para outros locais, criando assim um processo migratório que discutiremos
no decorrer do presente resumo.

A escola através do seu papel educacional que exerce tem um papel fundamental na
caracterização de um espaço e sua formatação cultural, histórica, religiosa e social. Assim,
discutiremos nos próximos tópicos os assuntos que cercam a vida no quilombo caiana dos
crioulos e que foram abordados na aula de campo.

4. TERRITÓRIO DE CAIANA

O território do Quilombo Caiana dos Crioulos é totalmente legalizado, as


comunidades foram primeiramente reconhecidas pelo Estado do Governo Federal, a partir da
constituição, o próprio sujeito, as pessoas se autodeclaram quilombolas e a partir dessa auto
declaram deles como remanescentes quilombolas é feito um laudo antropológico o qual é
encaminhado para a fundação palmares. Apenas 3 são intituladas, ou seja, aquelas que
recebem o título dado pelo governo, um título só da terra, onde as pessoas podem desfrutar da
terra. As pessoas que moram na terra não podem vendê-la, pois a terra passa de pai pra filho, a
fim de que a cultura permaneça e perpetue
A Linha história do povo diz que após 1888, na cidade de areia, depois de libertos,
não tinham onde morar e ganharam o mundo para sua existência. Outra versão seria que esses
povos teriam vindo do litoral, chegam ao espaço e constituem a comunidade. Não há uma
documentação que dê conta de como a comunidade se formou, todas as comidas quilombolas
passam pelo processo, no imaginários dos moradores antigos têm suas versões de como se
formaram as comunidades.

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Hoje a história não está preocupada em construir uma verdade acerca da origem, e sim
construir verdades acerca da origem das comunidades, pois se formos observar quaisquer
aspectos, há várias versões sobre como foram constituídas. O fato de não existir um
documento escrito, uma declaração de terra do imperador da época não dá conta dessa
história, ela vai se inventando e reinventando no imaginário dos moradores, isso tem
importância para constituição do território.
Ednalva, a quem nós fizemos uma visita e pudemos aprender mais sobre o território
de Caiana, é proprietária do restaurante Rita de Chicó, diz ela que ser dona do restaurante não
faz dela somente uma empreendedora ou mais uma empresária como muitos dizem, ela se
enxerga como quilombola, essa é sua identidade, e por isso, é preciso dar continuidade a esse
legado. Ela nos relatou que não há versões exatas de onde exatamente vieram a se constituir, o
que se sabe é que são descendentes de povos que vieram da África e foram escravizados.
Ainda que não registrada, houve um levantamento de informações que data a existência da
comunidade de Caiana a cerca de aproximadamente mais de 300 anos, sendo o quilombo mais
antigo da Paraíba. Na Paraíba existem 47 comunidades quilombolas oficialmente
reconhecidas pela Fundação Palmares.
Uma característica bastante perceptível é o lugar onde ficam as moradias em Caiana,
localizadas em relevos altos (figura 4), nas serras, um lugar de fácil acesso para observar a
aproximação de qualquer pessoa, que na época poderiam recaptura-los.

Figura 4: Terreno dos moradores em Caiana dos Crioulos, Alagoa Grande PB. Autora: Débora Talita.

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Um quilombo que existe há mais de 300 anos e só em 2020 é que vieram ter acesso a
posse de seu território, antes as famílias só plantavam em seus espaços de quintais, depois de
26 anos e muitos processos na justiça é que conseguiram de fato a posse do território
quilombola da área de plantio. Enquanto o espaço quilombola não foi legalizado, as famílias
em seus espaços de plantio, tinham dificuldades quanto a manutenção da terra, tinham de
comprar arames para cercar os roçados, pagar para que instalassem as cercas e tudo isso para
que o gado de outros proprietários não acabassem com a plantação.
Foram criadas muitas políticas públicas para promover uma melhor qualidade para
toda comunidade quilombola, mas sua realidade é diferente, muitas de suas políticas não saem
do papel. Tudo isso só enfatiza o descaso que fazem acerca da comunidade, a persistência da
invisibilização desse povo. A escravidão não acabou, ela vem sendo mascarada com outras
formas, antes eram presos por correntes e hoje pelas desigualdades e e falta de recursos.
Tendo um bom acesso, ruas pavimentadas, a comunidade pode se desenvolver, desfrutando
assim de benefícios como saúde, escola, água, produção, escoamento, geração de renda e
turismo. Há aproximadamente 650 pessoas com 130 famílias morando na comunidade de
Caiana, várias casas estão desocupadas, pois muitos idosos estão indo morar na cidade por lá
possuir atendimentos nos postos de saúde.
Com tanta história, resistência e cultura que o povo quilombola carrega, não justifica a
falta de acesso à comunidade, que faz falta nos dias chuvosos, onde a estrada não calçada com
o barro vermelho dificulta e até interfere na mobilidade dos moradores e visitantes da
comunidade. Todo ano as mesmas dificuldades quanto a estrada e recursos hídricos
retornam a comunidade e a pergunta que se faz é: Onde estão as políticas públicas? Será que
ela funciona para todos ou só serve para favorecer aqueles que recorrem a seus próprios
interesses? Por que ainda deixá-los viver sob essas dificuldades?

5. MIGRAÇÃO

Durante o trabalho de campo, os professores Jeocélio e Waldeci conduziram uma roda


de conversa com os alunos visitantes (figura 5) onde responderam algumas indagações e
explicaram alguns fatos que ocorrem na localidade, realizando uma discussão aprofundada
sobre a realidade diária do local visitado

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Figura 5: Roda de Conversa com alunos da UEPB Alagoa Grande PB. Autor: Rafael Silva

Como dito no tópico que se refere a educação, ocorre um processo migratório do povo
quilombola da comunidade Caiana dos Crioulos, pois não há na cidade de Alagoa Grande
nenhuma instituição pública de ensino superior.
No que concerne ao ingresso do povo quilombola às instituições de ensino superior
não há no Brasil nenhuma lei que institui a política de cotas em benefício do povo
quilombola. Entretanto, algumas universidades públicas publicaram resoluções que
regulamentam a política de cotas e assim facilitam o ingresso no ensino superior. É o caso da
Universidade Estadual da Paraíba que aprovou em novembro de 2021 a implantação da
política de cotas para graduação e pós-graduação que reserva 2% das vagas de todos os cursos
da instituição para o povo quilombola. A política citada acima foi relatada pelo professor
Waldeci Ferreira que estava presente no trabalho de campo aqui retratado. Tais políticas como
essa facilitam o ingresso de jovens no ensino superior e ajudam a diminuir um outro processo
migratório que ocorre no quilombo.
Outra forma de migração que ocorre na comunidade é a migração inter-regional. Isso
porque os remanescentes negros que encontram dififuldades de sobrevivencia na comunidade
acabam migrando para o sudeste ou sul do pais em busca de uma vida melhor. Segundo
exposto na aula de campo, o principal destino desses migrantes é o Rio de Janeiro.
Outro ponto que gera migrações, dessa vez para a zona urbana, é a falta de acesso à
serviços básicos. Essa situação é gerada principalmente por dois motivos: a falta de água e a
dificuldade de acesso a tratamentos de saúde; a falta de água gera essa situação porque na
comunidade não existe abastecimento de água o que dificulta a sobrevivência no campo, já a
escassez de tratamentos de saúde faz com que os moradores enfermos migrem dali, pois a
única unidade básica de saúde da comunidade dispõe de poucos recursos. Conforme exposto
no campo, a principal demanda da comunidade é a pavimentação da estrada que liga a
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comunidade à zona urbana, essa problemática torna mais difícil a permanência dos
moradores. Essa problemática das estradas ruins traz outras consequências para o quilombo,
conforme exposto no trabalho de campo, são gerados problemas que atrasam o
desenvolvimento do quilombo em áreas fundamentais do mesmo, tais como; o potencial
turístico do local e o escoamento da produção, já detalhados no presente artigo.

6. CULTURA

Há mais de 300 anos existem e apresentam uma cultura muito forte, como é o caso da
dança do coco de roda, cujo ritmo é exatamente da forma que fora criado pelo povo em
manifestação e celebração de suas vidas, de forma que o corpo fica livre para expressar sua
emoção, gingar, sentir o que a música está falando. Em meio a todas as dores ainda se
alegravam com sua cultura e religião, deixando um legado para toda a comunidade
Quilombola. Outra dança cultural é a ciranda, com um ritmo diferenciado do coco de roda,
que é puxada para uma marcha, já a ciranda costuma-se dançar em roda.
O restaurante de Edinalva não é só um meio de renda, é também uma forma de trazer
pessoas à comunidade de Caiana e fazer com que sua cultura e história possam ser conhecidas
por mais pessoas, é uma forma de trazer visibilidade. Lá nos foi apresentado a dança do coco
de roda (figura 6). Também nos foi apresentada na escola Firmo Santino da Silva uma dança
cultural do Olodum (figura 7)

Figura 6: Apresentação do coco de roda no restaurante Rita de Chicó, Alagoa Grande PB. Autora: Débora Talita.

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Figura 7: Apresentação da dança do Olodum, escola Firmo Santino da Silva, Alagoa Grande PB. Autor: Kayke. Humberto.

A luta não é somente por Palmares, Zumbi ou outros nomes conhecidos, mas sim por
todos os negros. Cultura não é pra ser contada, é pra ser vivida. Ancestralidade não é pra ser
contada, é pra ser vivida. Resistência é saber que a vida em sociedade é capaz de comportar a
todos.
Em 2019 aconteceu o primeiro evento quilombola na Paraíba, um festival em parceria
com o Governo do Estado e os Caiana dos Crioulos, contaram com a presença de onze
quilombos e outros visitantes. Anualmente eles promovem eventos para apresentar a cultura,
como é o caso do evento da Consciência Negra, o Vivenciando e a festa do coco. Esses
eventos tem como objetivo mostrar que a cultura não deve ser somente apresentada e
lembrada, mas deve ser vivida.

7. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA & ESPAÇOS DE REPRESENTAÇÃO

Durante o momento de exposição da realidade vivenciada pelos moradores, nos foi


exposto que no quilombo caiana existem espaços de representação para os seus moradores
que queiram participar da luta política. O principal espaço dentro da comunidade é a
associação de moradores de Caiana dos crioulos. O maior objetivo dessa associação é a busca
de soluções das demandas da comunidade frente ao poder público. A escolha da presidência
da associação se dá através de eleições diretas entre os moradores da comunidade.
Participando da política partidária, Caiana do Crioulos viu em novembro de 2020 a primeira
candidata ao cargo de vereadora que era moradora do quilombo. Segundo o Tribunal Regional
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Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), Edinalva Rita do Nascimento obteve 122 votos. Infelizmente,
terminou o pleito não sendo eleita, mas marcando o processo eleitoral por se tornar a primeira
moradora do quilombo a disputar uma eleição geral. Segundo Edinalva, durante a campanha
ela enfrentou diversos desafios para angariar votos dentro da própria comunidade, segundo
Edinalva houve uma divisão dentro dos próprios moradores do território, essa divisão ocorreu,
pois Nalva de Caiana, como é conhecida, fazia oposição ao prefeito que a época buscava a
reeleição. Segundo Edinalva, a divisão criada no pleito de 2020 persiste até os dias atuais e
chegam nas eleições para a presidência da associação, a qual Nalva também perdeu a disputa.

8. ATIVIDADES PRODUTIVAS NO QUILOMBO CAIANA DOS CRIOULOS

Além da riqueza cultural, ambiental e histórica que Caiana dos Crioulos preserva,
outro ponto forte da comunidade são as atividades produtivas. Em Caiana dos Crioulos, a
policultura é a principal atividade produtiva. A policultura de subsistência consiste na criação
de animais e no cultivo de vários tipos de plantas em um mesmo local. Conforme exposto na
aula de campo, é exatamente isso que ocorre em Caiana: existem diversas pequenas
propriedades que estão inseridas em um mesmo ambiente e que plantam e criam diversas
espécies. É o caso da pequena propriedade rural que cria gado (figura 8) por trás do ginásio da
Escola da Comunidade. Além dessa pequena criação de bovinos que ocorre na comunidade,
destacam-se também o cultivo de café ( figura 9), a plantação de feijão, milho, entre outros. A
destinação dos alimentos produzidos em Caiana é a própria comunidade, seja para consumo
próprio ou para abastecimento dos ambientes que estão inseridos no quilombo. Como dito nos
tópicos anteriores, existe na comunidade quilombola caiana dos crioulos existem pequenos
comércios que servem para movimentar a economia local e oferecer aos visitantes opções de
vivenciar a gastronomia e a cultura daquele povo, a produção feita na comunidade também
esse papel de possibilitar que isso aconteça.

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Figura 8: Criação de gado na comunidade quilombo Caiana dos Crioulos. Autor: Débora Talita.

Figura 9: Plantação na comunidade quilombo Caiana dos Crioulos. Autor: Rafael Silva.

9. CONCLUSÃO

Diante do exposto no desenvolver do relatório, podemos concluir que apesar das


melhorias na qualidade de vida que ocorrerão ao longo do tempo para o povo do quilombo
caiana dos crioulos ainda é necessário ressaltar a importância histórica, social e cultural do
povo quilombola da comunidade caiana dos crioulos que por tanto tempo lutou por seu
território para ter uma vida minimamente digna. É triste saber que persiste até hoje as
políticas públicas básicas não chegarem a um povo tão maltratado por nossa história. Para a
solução das problemáticas citadas no decorrer, é necessário que o Estado Brasileiro haja para
solucionar problemas que são considerados básicos, entretanto são tão ruins para uma
comunidade tão importante para nossa história. É necessário também que o Estado haja para
melhorar aquilo que já existe no quilombo como a educação, a cultura, a produção de

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alimentos. E que solucione os problemas como a migração, a saúde, o acesso ao local. Assim,
Caiana dos Crioulos conseguirá alinhar desenvolvimento, história e qualidade de vida.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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2007, p. 43-65.
SANTOS, Milton. A evolução recente da população urbana, agrícola e rural. In: SANTOS,
Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993p. 29-34.
SANTOS, Milton. A nova urbanização: diversificação e complexidade. In: SANTOS, Milton.
A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993, p. 49-56.
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In: SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993, p. 65-68.
LOPES, Severino. Consepe aprova implantação da política de cotas para a Graduação e
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TRE-PB. Resultado das Eleições na Paraíba. TRE-PB, 2023. Disponível em:
https://www.tre-pb.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/resultados-de-eleicoes. Acesso em:
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Grafset. Disponível em: https://editoragrafset.com/quilombos-paraibanos-simbolo-de-
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Performance, tradição e oralidade em Caiana dos Crioulos (Paraíba-Brasil). Amerika.
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Observatório Quilombola, v. 8, n. 15, 2005.
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