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CAICÓ
2016
ANA PAULA BEZERRA
CAICÓ
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3
2 Quilombolas em luta e a emergência de um novo sujeito jurídico:............................... 8
2.1 Tradição oral, mito de origem e disputa pela terra na macambira ........................... 14
2.2 Os filhos de lázaro e a empresa de ventos ................................................................ 19
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 22
FONTES ......................................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 25
3
RESUMO:
PALAVRAS-CHAVE
História. Memória. Identidade.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduada em História Licenciatura pela UFRN, CERES, Caicó. Discente do Curso de Especialização em
História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó, Departamento de História (DHC). E-
mail: hispche@hotmail.com
2
Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: joelmatito@bol.com.br.
4
processam neste amplo grupo familiar, recorremos à memória dos sujeitos, através de
narrativas que indicam haver muitas questões a explorar e situações a registrar acerca da
Macambira. Diante da importância da memória e da oralidade, utilizou-se recursos da
História Oral para acessar, através dos relatos, elementos históricos presentes das
lembranças dos quilombolas.
A História Oral atua em um campo específico da História e busca lidar com a
pluralidade de versões acerca das experiências humanas no tempo. Debruçada
especialmente no problema da oralidade, ela lida com a particularidade das experiências
no tempo através dos relatos/depoimentos de indivíduos. Na construção da fonte oral as
narrativas sobre o vivido são transformadas em fontes, servindo de base para uma
reelaboração historiográfica. Nesse sentido, oralidade, tradição e identidade se
entrecruzam na complexa relação entre história e memória. De acordo com Thompson
(1992) na história oral em sentido mais geral, a experiência de vida das pessoas de todo
tipo passa a ser utilizado como matéria prima e sua história ganha nova dimensão, pode
ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de
investigação.
Para analisar a história da comunidade Macambira antes, durante e pós processo
de reconhecimento como “Remanescentes de Quilombo”, utilizamos as discussões
sobre a memória como principal aparato teórico-metodológico. Nesse sentido, seguimos
a linha de raciocínio de Fernando Catroga (2001), quando este afirma que: “a memória é
a nossa ‘arma’ contra o esquecimento, é essa maneira tão humanamente estranha de
‘inventar’ o passado, de selecioná-lo, de alardeá-lo através de diferentes ferramentas”.
Através desse contato com as “memórias” de forma coletiva, percebemos que além do
discurso formado em volta das lutas territoriais, existe inúmeros elementos
significativos que os identificam, desde as manifestações culturais imateriais (danças,
músicas, orações, terços tradicionais, louvores, cantigas entre outros, a comunidade
conservam de modo especial, objetos e monumentos, “lugares de memórias” assim
denominado por Pierre Nora5. Para ele, “os lugares de memórias são antes de tudo, os
restos”. Restos que tem de ser arquivados, materializados a serviço de uma história que
marca o luto da memória viva (...)”.
5
Véran, Jean- François. Rio das Rãs: Memória de uma “Comunidade Remanescente de Quilombo.
Disponível
<http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n23_p297.pdf > Acesso em 08-04-2016).
6
6
Ver site da Fundação Nacional de Saúde. Disponível em:
< http://www.funasa.gov.br/site/> Acesso em: (08-04-2016)
7
dela. Para Hall (1999, p. 48) “as identidades (...) não são coisas com as quais nós
nascemos, mas são formadas, transformadas no interior da representação” isso
caracteriza bem como essa nova identidade quilombola vem sendo vivenciada na
Macambira, uma vez que, sendo ela construída, passa a ser uma comunidade simbólica
e gera sentimentos de identidade e de pertença. A estudar o tema, SILVA (2012)
observa que uma nova identidade tem nascido (...) e tem passado por uma crise; Hall
(2006) levanta um amplo questionamento sobre a identidade cultural da época atual e
observa uma fragmentação da identidade oriunda das mudanças que estão ocorrendo na
atual conjuntura. Segundo o autor:
Apesar dessa crise de identidade discutida por Silva (2012) e Hall (2006),
Tomaz Tadeu7 destaca que “afirmar a identidade significa demarcar fronteira, significa
fazer distinções (...)”. A identidade é simplesmente aquilo que se é: (...). A identidade
assim concebida parece ser uma positividade ("aquilo que sou"), uma característica
independente, um "fato" autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como
referência a si própria: ela é autocontida e auto-suficiente8.
Nesse sentido, pretende-se então, explorar alguns conceitos que ajudam a definir
a ideia de Quilombo e seu processo de formação na Macambira, as principais
características que os define como “remanescentes de quilombo essa “nova identidade”.
Sabemos que as definições são amplas e variáveis, e que alternam-se de acordo com a
perspectiva de quem as elabora e com qual finalidade o faz. Nessa perspectiva,
buscamos analisar as relações entre as mudanças e permanências no contexto histórico
cultural da Comunidade, no que diz respeito ao antes e depois do processo de
7
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença . . Disponível em:
<http://www.diversidadeducainfantil.org.br/PDF/A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20social%20da%20i
dentidade%20e%20da%20diferen%C3%A7a%20-%20Tomaz%20Tadeu%20da%20Silva.pdf > Acesso
em: 08-04016-2
8
Ibidem
8
9
Leite, Ilka Boaventura. Os Quilombos no Brasil: Questões conceituais e normativas. Etnográfica, Vol.
IV (2), 2000. 333- 354. Disponível em: <http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_04/N2/Vol_iv_N2_333-
354.pdf >
Acesso em: 08-04-2016
9
por senhores a ex- escravos, outras compradas por escravos libertos, doações de terras a
escravos que haviam servido ao exército em tempo de guerra, ou ainda doações a
escravos por ordem religiosas. Embora apresentem características de formação,
organização e ação diferentes, as comunidades remanescentes de quilombos atuais são
frutos desta diversidade, de outras tantas experiências de lutas e conquistas10.
Mas, o que são Quilombos e que papel ocupa na sociedade? E “Remanescentes
de Quilombos”, o que seria? Muitos são os conceitos atribuídos a Quilombo, essas
denominações vão ganhando novos significados de acordo com cada período da história
do Brasil. O primeiro conceito oficial está relacionado com a interpretação do Conselho
Ultramarino11 em 1740, referente ao período colonial, definido pelo rei de Portugal
como "[...] toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco em parte despovoada;
ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele" (REIS, p.347).
Durante o Império, era considerado quilombo, aquele agrupamento formado por até três
negros fugitivos, mesmo que esses não possuíssem ranchos permanentes, já no Brasil
República, o conceito de Quilombo ganha um discurso mais político, deixa de ser
aquele grupo formado através de fuga e passa a ser agrupamentos em torno da
resistência, não dos seus senhores, mas uma resistência que luta por políticas de
afirmação no processo de construção de uma cultura negra no Brasil. O Quilombo
agora, passa a servir como base para se pensar nos feitos, frente à ordem dominante,
significa para esta parcela da sociedade brasileira, sobretudo, um direito a ser
reconhecido e não propriamente apenas um passado a ser rememorado.12
Para Munanga & Gomes (2006), o quilombo não significou apenas um lugar de
refúgio de escravos fugidos, mas a organização de uma sociedade livre formada de
homens e mulheres que se recusavam viver sob o regime de escravidão e desenvolviam
ações de rebeldia e de luta contra esse sistema. Munanga ainda acrescenta que o
10
Yabeta, Daniela; Gomes, Flávio. Memória, cidadania e Direitos de Comunidades Remanescentes (Em
torno de um documento da História dos Quilombolas da Marambaia). Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0002-05912013000100003> Acesso em: 08-
04-2016
11
Padilha, Lúcia Maria de Lima; Nascimento, Maria Isabel Moura. Comunidades quilombolas brasileiras
na perspectiva da história da educação: estado da arte. Disponível em:
<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada11/artigos/4/artigo_simposio_4_541_lu
padilha5@yahoo.com.br.pdf > Acesso em: 08-04-2016
12
Ver : Leite, Ilka Boaventura. Os Quilombos no Brasil: Questões conceituais e normativas. Etnográfica,
Vol. IV (2), 2000. 333- 354. Disponível em:
http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_04/N2/Vol_iv_N2_333-354.pdf
10
Quilombo brasileiro “é, sem duvida, uma cópia do quilombo africano reconstituído
pelos escravizados para se opor a uma estrutura escravocrata (...)”.
A legislação vigente, considera remanescente de Quilombos, de acordo com o
Decreto nº 4887/ 03.2, Art. 68 da Constituição Federal, os grupos étnico-raciais,
segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de
relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com
a resistência à opressão histórica sofrida13. Esse conceito é relativamente recente,
formado a partir da constituição brasileira de 1988, e baseia-se na autodefinição
identitária de uma ancestralidade negra, com sentido coletivo e implica na
ressignificação de valores sociais, culturais, religioso, econômico e ambientais. Assim,
a denominação “remanescentes de quilombo” deve compreender todos os grupos que
desenvolveram práticas de resistência para a manutenção e para a reprodução de seus
modos de vida característicos de um determinado lugar, cuja identidade se define por
uma referência histórica comum, construída a partir de vivências e de valores
partilhados.14A inserção do mencionado artigo na Constituição Federal, simboliza um
grande salto no que se refere ao reconhecimento das comunidades quilombolas, pois é o
início de uma nova história de valorização aos direitos humanos, uma vez que, durante
séculos, esses grupos foram abstraídos da cultura nacional e essa invisibilidade
ocasionou toda ausência de conhecimento sobre os modos de ser e viver das
comunidades remanescentes de Quilombos.
17
PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Obra citada.
12
Após essa decisão tomada pela sindicalista, foi dado início ao processo de
reconhecimento junto a Fundação Palmares, o que culminou no relatório antropológico
produzido pelo Antropólogo Edmundo Pereira (PPGAS/ UFRN) e teve como parecer
conclusivo a recomendação para o reconhecimento como área “Quilombola”. Em julho de 2005
a comunidade Macambira obteve sua certidão de auto- reconhecimento como remanescentes de
quilombos. A partir desse reconhecimento, passa a ser denominada por “Comunidade
Quilombola da Macambira” e sua população ganha uma nova identidade. (...) seus membros
apresentavam-se como sendo um mesmo grupo étnico(...) Este fato materializa-se na
expressão corrente ouvida ao longo do trabalho nos quatro cantos de seu território,
dentre todos os troncos visitados: “aqui é tudo uma família só”18.
Nasce um novo sujeito jurídico, uma nova forma de se reconhecer, uma nova
identidade. Entretanto, para boa parte dos moradores permanece o discurso sobre o
parentesco em comum a unir, por herança, aquelas pessoas em um território. Refletindo
sobre esse novo sujeito podemos afirmar com Hall (1990) que as identidades são
definidas historicamente, e não biologicamente e, assim, os sujeitos assumem
identidades diferentes em diferentes momentos. Tais identidades não são unificadas ao
redor de um “eu” coerente, existindo, dentro de nós, identificações contraditórias19. Esse
pensamento diz muito dessa nova fase da história da Macambira, apesar de se
considerarem biologicamente todos de uma mesma família, atualmente a nova
identidade que estão assumindo está sendo definida com base na trajetória histórica do
grupo.
18
PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Obra Citada.
19
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 1ª edição em 1992, Rio de
Janeiro, 11ª edição em 2006, 102 páginas, tradução: tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro):
Disponível em: <http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/hall1.html > Acesso em: 08-04-2016
13
Tudo de ruim que acontecia, botava culpa na gente. Uma briga, uma
morte, uma bagunça, qualquer que acontecia, as pessoas dizia é lá da
Macambira, é lá dos negros da Macambira (...) Naquela época em que o
povo era pobre mesmo (...) o povo vivia dizendo: Ali só tem flagelado
(...) Hoje todos se reconhecem e hoje também, graças a Deus, a gente
não anda mais rasgado, não anda mais maltrapilho hoje todo mundo
tem, quando não tem um carrinho, tem uma motinha, tem uma casinha
boa pra morar, então a questão hoje é totalmente diferente. Na verdade,
hoje as pessoas nem falam mais naquele sofrimento.
terceiros e construíram suas casas, porém, não tem descendência negra, muito delas tem
a pele branca. Dessa forma, compreendemos que não há uma unanimidade no processo
de identificação quilombola entre os moradores da Macambira. Este, portanto, não é
grupo fechado no espaço e parado no tempo. As muitas identificações mostram ser o
amplo terreno compreendido pela Macambira um lugar cheio de histórias, que serviu
como espaço de circulação de diferentes sujeitos nascidos ali, ou não, enfim, posseiros
ou herdeiros da terra desde o tempo de D. Pedro II.
20
Expressão local que se refere à localização geográfica da Macambira na planície da Serra de Santana.
15
21
Expressão usada pelos moradores da Macambira se referindo a documentação do século XIX.
22
PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Comunidade Macambira: de “Negros da Macambira” à
Associação Quilombola. Pág: 05. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol. 3, nº 1, p. 123 – 260.
jan./jun. 2011.
23
Dados presente na dissertação de mestrado de Danilo Duarte costa e Silva. Ver nas referências
bibliográficas.
24
Macambira foi o nome dado a comunidade em referência ao vegetal denominado cientificamente de
BromeliaLaciniosa.
16
Essas terras que tá em questão aí era tudo nossa. Aí depois foi vendida
a seu Elisu, né? aí seu Elisu disse, chegou e disse: Maria eu vim pá ver
se você quer me vender essa terra. Ela disse: não, eu não vou vender
que João não tá em casa, joão tá nos roçado e só vendo essa terra se
joão combinar. Aí papai chegou, ele falou. Aí papai sentou-se assim e
disse: (...) aí ele disse: não seu elisu, a terra é dela, ela pode vender.
Claro que papai disse, era pra ter dito não, ninguém vende a terra.
Muita terra, Muita terra que ia até o cabeço da grota. Aí seu Elisu
comprou, me lembro, que nesse tempo dinheiro nem era cruzeiro e
nem os de agora, era minrréis”.
Ainda de acordo com Dona Agripina, após Elísio Galvão conseguir as terras
almejadas, ele procurava impedir o acesso da população de várias formas, cercando ou
soltando animais bravos, para que estranhos não se aproximassem do território. Assim,
25
Refere-se aos saques que ocorreram a feira livre de Lagoa Nova pelos Negros da Macambira, na década
de 1980.
26
Refere-se a Elísio Galvão, proprietário de terras na Serra de Santana.
17
nos relatou: “Depois que ele conseguia a terra, logo passava uma cerca e botava boio
brabo dentro. A cerca passava bem ali (...) aí quando nós ia minha fia, quando era de
noite era lote de gado, tinha boio brabo, que a gente só ouvia o ronco dos bichos,parecia
(...) Era cada Torão passando (...) Tomou essa terra daqui, com a do Bonfim, tudo
passou a ser de Seu Elisu (...)”.
Observa-se, a partir do discurso das falas dos próprios moradores, que o maior
problema enfrentado pela comunidade envolve a posse de suas terras. Assim observou
Edmundo Pereira, (2011, p 128- 129): “O processo socio-histórico de formação da
Comunidade (e da ocupação da Serra de Santana em termos gerais) dá conta de que o problema
da terra é historicamente umas das questões centrais para o grupo – em especial ao longo do
século XX (...)”. A recriação das histórias narradas através das bibliografias disponíveis,
e as que buscamos construir em campo, nos remete não só as relações identitárias
que a comunidade tem com o território, mas também a profunda tristeza de perceber-se
marginalizados pela própria história de luta política e social por esse território. Muitas
lembranças frustrantes fazem parte da memória desse povo, é o que nos relatou Dona
Agripina, que viveu momentos de tensão desde os primeiros momentos nos quais sua
família foi convencida a vender parte de suas terras para Elísio Galvão em meados dos
anos trinta, e como foi o processo de luta da comunidade em busca de reconquistar seus
territórios perdidos.
de exemplo para os que tentarem invadir de novo27. “Teve dia da polícia chegar aqui e
a gente se armar contra os ataques deles com foice, espingarda(...)”
e toda colheita que haviam plantado “nós tava nas nossas 400 hectares de roça plantada,
milho, feijão, aí tudo isso foi tirado da gente, passamos uma dificuldade muito grande”.
“pode ser explicada, em termos físicos, como a energia cinética formada nas massas de
ar em movimento”.29
29
ALVES, Jose Jakson Amancio. Estimativa da Potência, Perspectiva e Sustentabilidade da Energia
Eólica no Estado do Ceará. Campina Grande. Universidade Federal de Campina Grande. Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais. Disponível em: http://rbgdr.net/012010/artigo8.pdf (Acesso em: 08-
04-2016)
30
Ver site do INCRA: Disponível em:
http://www.incra.gov.br/sites/default/files/incra-andamentoprocessos-quilombolas_quadrogeral.pdf
(Acesso em: 08-04-16)
21
31
Ver: Que bons ventos os trazem? A investida das usinas eólicas e a reconfiguração dos territórios rurais
no Estado do Rio Grande do Norte: desafios e perspectivas. Disponível em:
<https://bay179.mail.live.com/mail/ViewOfficePreview.aspx?messageid=mgQUti7mO45RGOwwAhWth
XMg2&folderid=flinbox&attindex=1&cp=-1&attdepth=1&n=30119439 (acesso: 08-05-2016)
32
Ver Relatório com as principais noticias divulgadas pela mídia relacionada com a agricultura.
Disponível em:
<https://bay179.mail.live.com/mail/ViewOfficePreview.aspx?messageid=mgQUti7mO45RGOwwAhWth
XMg2&folderid=flinbox&attindex=0&cp=-1&attdepth=0&n=93294720> Acesso: 30-04-2016
22
dessas terras, eles ficavam pressionando dizendo que nós ía perder tudo e se nós não
fechasse um acordo favorável a eles”.
Interrogados sobre os benefícios e os problemas causados em razão da
implantação da empresa eólica em suas terras, os moradores são unânimes em afirmar
que a chegada do empreendimento na Macambira não foi bem vinda. Ela foi instalada
na Comunidade não por uma decisão coletiva, mas por um empresário local, que juga-se
dono das terras por autorização judicial. A aceitação da eólica nas terras dos “negros
Macambira” não aconteceu em comum acordo e, segundo afirmam, a população
ofereceu resistência por medo das ameaças de morte sofridas para não intervirem.
Assim nos relatou Vilmário: “Então nós se achando acoados com essa situação, nós
fomos obrigados a ceder uma parte da terra pra eólica botar suas torres lá. Não tivemos
opção aqui, que pudéssemos se defender e lutar por nossas terras”.
Após a aceitação da Comunidade Macambira sobre a implantação do parque
eólicos em seus territórios, foi firmado um acordo no qual a empresa dos ventos teria
como contribuição social, a construção de uma casa de farinha com espaço e maquinário
moderno, e dessa forma, contribuir para gerar renda aos moradores locais. Um outro
compromisso da empresa eólica com a comunidade era aproveitar a mão de obra local,
mas de acordo com os depoimentos, isso não aconteceu. Segundo Vilmário: “segundo
eles diz, que ainda vão ajeitar nossa casa de farinha. Apesar de, no primeiro momento,
prometeram que iam beneficiar o pessoal da comunidade com trabalho e isso não
aconteceu, empregaram outras pessoas de fora os da própria comunidade, se botaram
dez pessoas da comunidade pra trabalhar foi muito talvez uns dez trabalhou lá”. Para
Anderson de 22 anos, após o direito de reintegração de posse aos quilombolas a
comunidade foi submetida a um acordo descabido, sem fundamento que só beneficiou a
empresa e aos latifundiários locais. A Comunidade até agora não recebeu nem um
projeto social, enquanto em algumas comunidade vizinhas que também foram
receptoras de torres eólicas em seu território e foram beneficiadas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
33
Silva, Simone Rezende da Silva. Quilombos no brasil: a memória como forma de reinvenção da
identidade e territorialidade negra. Disponível em :< http://www.ub.edu/geocrit/coloquio2012/actas/08-S-
Rezende.pdf>
Acesso em: 30-04-2016
24
ABSTRACT
The present article aims, the study on the process of history and identity formation of
community Macambira’s Quilombo Negroes - Lagoa Nova- RN, analyzing, from the
reports of people who live there, the importance of the expression of a secular memory
source on ownership of land and the reconstruction of a quilombo identity after the
recognition process. For this, we start from the understanding of the historical formation
of the community, in order to understand the conflict, the political and historical
importance of memory statement. Methodologically this work develops from the
construction of oral source and its theoretical assumptions discussion about memory and
present history in Jacques Le Goff and Pierre Nora and analysis of identity developed
by Stuart Hall and Tomaz Tadeu da Silva.
KEY WORDS
History. Memory. Identity
FONTES:
Pedro Daniel Pereira- 72 anos. Entrevistadoras: Ana Paula Bezerra e Francisca Iselda
de Macêdo, Áudio Mp3, duração 50 mim, 17 de Abril de 2016.
25
Manoel Luciano dos Santos (Seu Neco) – 72. Entrevista informal realizada por Ana
Paula Bezerra e Severino dos Ramos, Áudio Mp3, duração 45 mim, 09 de Janeiro de
2016.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MUNANGA, Kabengele & GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil de Hoje. São
Paulo, Editora Global, 2006.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História.
São Paulo, n.10, dez. 1993.
PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
REIS, J. J; GOMES, F. S. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São
Paulo: Companhia das letras, 2008.
RGO<wwAhWthXMg2&folderid=flinbox&attindex=2&cp=-
1&attdepth=2&n=1294385> Acesso em 01 abr 2016.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: História oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1992.