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A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 1

EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

“A cidade é histórica por natureza. Entender e


aprender as mudanças decorrentes das
relações sociais que nela se processam
significa o reconhecimento de que as
experiência urbana desde as suas origens, é
por excelência palco de dominação e de
tensões permanentes.” SANTOS, Roberto
Carlos – Urbanização, Moral e Bons
Costumes: Patos de Minas (1900 – 1960)
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 2
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

INTRODUÇÃO

Escrever e pesquisar são, sem dúvida, tarefas que necessitam de muito esforço e
motivação, haja visto, o enorme valor que existe no trabalho do historiador. Historiar é refletir
acerca de pensamentos, memórias e fatos de um determinado ponto de vista ou
acontecimento. É perceber nas entrelinhas de uma fonte, seja ela escrita, iconográfica ou oral,
suas perspectivas e esperanças. Assim, como aprendizes de historiador, iniciamos a presente
pesquisa.
Através das palavras de Caio Prado Júnior, que nos diz que: "Todo povo tem na
sua evolução, vista à distância, um certo 'sentido'", 1 resolvemos escrever esta monografia a
qual relata os principais aspectos da história de uma cidade, pouco visitada pelos
historiadores do passado e atuais, assim debastamos o cipoal de histórias e memórias que a
acompanham e a fazem muitas vezes uma cidade complexa. É isto que se deve antes de mais
nada, procurar quando se aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o
momento ou o aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos não são senão
partes de um todo que devem ser sempre o objetivo primordial do historiador.
Sendo assim, o sentido de evolução de um povo pode variar; acontecimentos,
transformações internas profundas do seu equilíbrio ou estrutura, ou mesmo ambas, estas
circunstâncias podem intervir no processo histórico que será produzido.
Observando essa conjuntura, resolvemos iniciar um trabalho sobre “as histórias” e
“memórias” de Carmo do Paranaíba, procurando destacar três fenômenos que são realidades
na cidade: a queda do número de trabalhadores na lavoura cafeeira; o descontentamento dos
lavradores em relação a esse acontecimento; e as conseqüências da recente crise do café para
o município.

Além disso, desde os anos setenta, a mecanização, vem transformando a


agricultura do cerrado, piorando a situação do trabalhador rural, uma vez que, a tecnologia

1
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 10.
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aumenta a produtividade e libera cada vez mais, mão-de-obra, provocando assim, o fenômeno
denominado êxodo rural.
Realizando a presente pesquisa, espera-se estar contribuindo com a cidade de
Carmo do Paranaíba, no sentido de mostrar que a mesma não é um ponto isolado no interior
do Estado. Além do mais, excetuando-se as obras de Hélio Hilton Rezende, "Cem Anos de
Carmo do Arraial Novo"2, e Silveira Neto com a obra História do Carmo do Paranaíba3
que dissertam acerca do município em pesquisa, não existem relatos que trabalham com a
presente temática.
Portanto, estaremos resgatando um espaço regional, que ao contrário do que
parece, está ligado ao resto do país. Procuraremos estudá-lo de acordo com sua própria
dinâmica e suas relações com o nacional e total, destacando uma parte da história carmense
que ainda não foi apresentada aos cidadãos do município.
As informações básicas que se inserem neste texto foram se dando a conhecer no
decorrer da própria pesquisa. Alguns sujeitos, neste sentido, forneceram elementos
importantes para abrir novos campos e entender outros. Por outro lado, outros indivíduos4
deixavam a desejar na escassez de informações a respeito da mecanização da lavoura cafeeira
em Carmo do Paranaíba, seja por receio ou até mesmo por desinteresse.
Primeiramente, cabe salientar que em nossa pesquisa, ocorre uma grande escassez
de informações, no que tange a cidade de Carmo do Paranaíba, como também sua produção
cafeeira. O primeiro passo foi conseguir obras de autores e memorialistas que falassem acerca
da cidade, para então com a história do município em mãos tentar organizar um grupo de
entrevistados e posteriormente pesquisar as fontes escritas (jornais e revistas).
Diante das fontes, em particulares as escritas, nos vimos no dilema de como
conseguir informações o mais verdadeiras possíveis5, sem adentrar em determinada facção ou
grupo político. Além disso, é necessário dizer que a maioria dos arquivos pesquisados, tanto
em Carmo do Paranaíba, como Patos de Minas, se encontra em situações precárias de
alocamento de periódicos, manutenção dos mesmos, falta de funcionários capacitados para
desempenhar o arquivamento adequado dos periódicos e outros problemas de alocamento.

2
REZENDE, Hélio Hilton. , Cem Anos de Carmo do Arraial Novo. Uberlândia: Editora Brasil, 1992. 184 p.
3
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba:s/editora, 1956.
4
Fazemos referência aos grandes fazendeiros que infelizmente, em suas entrevistas se refugiavam em respostas
evasivas e sem sentido, dificultando assim, a pesquisa oral.
5
Queremos deixar claro, que a posição de encontrar informações o mais “verdadeiras possíveis”, não quer dizer
que não nos deparamos com versões sobre um mesmo fato. Contudo, acreditamos que a história deve ser o
mais verdadeira possível até que se prove ao contrário.
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Todo historiador encontra dificuldades, seja qual for a modalidade de trabalho


que optar. Assim, nos deparamos no decorrer da pesquisa, com inúmeros entraves à tarefa do
historiador, como por exemplo: difícil localização das fontes, poucas fontes disponíveis, perda
de parte da documentação oficial, ou ainda documentos importantes e de domínio público que
muitas das vezes, permanecem nas mãos de terceiros.
Neste contexto, os historiadores devem estar atentos para a interpretação das
ambigüidades do mundo simbólico e da multiplicidade de representações sociais.Para tanto, a
guisa de introdução, discutiremos aspectos relevantes acerca da história regional e local que
se inserem e justificam no âmbito do estudo realizado. A discussão acerca do regionalismo e
história local é extremamente profícua, congregando vários autores tanto no Brasil, como no
exterior. Contudo, para se discutir um tema como esse, em recortes geotemporais restritos,
faz-se necessário retomar a reflexão acerca do regionalismo. Nesses termos, Pierre Golbert
pensa a temática da História Local e Regional refletindo como ocorre um desprestígio com
relação a História Local nos últimos tempos, principalmente no século XIX, pelos defensores
da História Geral.
A História Regional busca romper as barreiras colocadas pela História Geral,
tentando renovar suas teorias e oferecendo elementos que sirvam para detectar as rupturas e as
descontinuidades existentes entre o local e o geral. É aí que o regional se dilui do geral. A
história regional não se opõe à nacional, apenas revê seus paradigmas e busca caminhos para
novas leituras do social. A história geral acaba por eliminar vários aspectos do social tais
como, a vida, os fatos cotidianos entre outros. A História regional, por sua vez busca
recuperar os acontecimentos, enfrentando assim muitas dificuldades, no processo evolutivo e
linear, pois:

"a localidade é vista como um fenômeno único, com sua própria


periodização e leis de crescimento: um organismo vivo com seu
próprio ciclo de vida que pode ser estudado continuamente por longos
períodos de tempo ..." 6

6
SAMUEL, Raphall. História local e História oral. In.: Revista Brasileira de História. São Paulo: Marco
Zero/ANPUH, 1990. p. 227/8.
.
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O regionalismo, muitas vezes, reduz o acontecimento social ao individual e, por


isso, a “recuperação” da história pode ser fragmentada e difusa. O sentimentalismo pode ser
uma arma contra o historiador que carrega em si sentimentos já formados sobre a região e
analisa os documentos com base nesses sentimentos.
A História regional é deixada de lado, dando lugar à História nacional. O
regionalismo era tido pelos defensores da História geral como da terra, da família,
verdadeiras apologias, uma biografia das pessoas mais importantes da região. Talvez pelo fato
do conceito que os historiadores têm a respeito de História Geral.
Nos últimos vinte anos surge um novo tipo de História Local. Foi o retorno aos
arquivos inexplorados das regiões, que fez emergir uma nova leva de pesquisadores. Essa
nova tendência busca suprir a insatisfação que outros métodos históricos trouxeram e
estabelecerem novos tipos de questões históricas.
O reconhecimento do valor dos documentos paroquiais permitiram estudos sobre
a região. Apontando fatos de fertilidade, casamento, batizados, de óbitos entre outros. A partir
daí levantaram uma série de questões: por exemplo, períodos de maior ou menor índice de
casamentos e batizados.
O mais importante é que estudos regionais estão aumentando cada vez mais e
muitos já estão para ser publicados. "História, região e poder: a busca de interfaces
metodológicas" é o titulo de um artigo de Claudia Maria Ribeiro Viscardi. Neste artigo a
autora, busca abordar discussões historiográficas surgidas em torno dos conceitos de região e
regionalismo e também as inovações pelas quais passaram a história e a política. A autora
propicia um encontro entre o recorte espacial e regional e a abordagem renovada da história
política. O pesquisador, quando opta por trabalhar com história regional enfrenta muitos
problemas, um deles é a definição de região e os critérios definidores do espaço regional e
sua temporalidade.
Assim, a preservação da memória deveria ser uma das grandes preocupações de
todas as pessoas , pois a memória social possibilita conhecer a História e a cultura de um povo
e através dela também podemos perceber os caminhos percorridos, as tristezas, as alegrias e
sensibilidades vivenciadas por uma sociedade. O regionalismo é para muitos historiadores um
produto do comportamento político. Por isso, a história regional, tem tornado-se nas ultimas
décadas do século XX bastante procurada.
Com a renovação da história política retornam as biografias e também o resgate
do estilo narrativo. A narrativa, busca organizar matérias em seqüência cronológica. Esta se
distingue da história estrutural, pois é mais descritiva e menos analítica.
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A delimitação do regional, além das divisões políticas, administrativas, tem


também uma reconhecida importância no imaginário coletivo. Por isso, o historiador deve
levar em conta, como a região é vista pelos seus habitantes, no momento da pesquisa. "A
identidade regional é um produto da construção humana”7.
Por isso, é preciso ir além, do que é visto, buscar novas fontes, novas pesquisas,
que o trabalho regional seja mais abrangente. E no meio de tantas abordagens diferenciadas,
podemos perceber, uma construção um pouco abstrata, devido a emoção que elas carregam.

"A História Regional não se constitui em um método e nem possui


corpo teórico próprio. É uma opção de recorte espacial do objeto
estudado"8.

Dessa forma, explicitamos que a presente pesquisa possui relevância, tanto


acadêmica como também social, fundamental no desenrolar dos fatos históricos de Carmo do
Paranaíba. Isso se deve, pelo fato de que estaremos proporcionando um melhor entendimento
acerca das relações capitalistas de trabalho, retomando o espaço (lócus) regional, para tentar
explicar o espaço geral.
Além disso, na academia disponibilizaremos uma pesquisa inédita no âmbito
universitário que discute relações econômicas de um espaço regional ainda não pesquisado
por historiadores.
A partir de todas essas informações nossa pesquisa, foi dividida em três capítulos.
No primeiro capítulo, qual seja "Histórias - um tempo, uma cidade", iremos recuperar a
historicidade da cidade de Carmo do Paranaíba, percebendo suas raízes e memórias.
No segundo capítulo, denominado "A mecanização da lavoura cafeeira
carmense - trajetórias", nos propusemos a apresentar ao leitor um panorama da lavoura
cafeeira carmense e suas perspectivas de desenvolvimento e de mão de obra.
No terceiro capítulo, qual seja, “Cafeicultura: mecanização e desemprego”
iremos expor os pormenores acerca da evolução da cafeicultura carmense e brasileira e a

7
VISCARDIS, Claúdia Maria. História, região e poder: a busca de interfaces metodológicas. In.: Revista
Brasileira de História. São Paulo: Marco Zero/ANPUH, 1990. p. 25.
8
VISCARDIS, Cláudia Maria. Op. Cit. p. 23.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

mecanização da lavoura, mostrando as conseqüências mais graves de tal efeito – o


desemprego.
Logo após o terceiro capítulo, a guisa de conclusão queremos promover um
debate que não se extinguirá por essa monografia, é um trabalho que deve e tem que ser
repensado e reanalisado, numa tentativa de avançar algumas observações a respeito da
política agrícola do município de Carmo do Paranaíba.
O que estamos ressaltando nessa introdução é que a sociedade brasileira debate-se
em grave crise, inclusive, a tem obrigado a constantes modificações no direcionamento
político e econômico. A nossa pesquisa pretende, assim, participar na análise de um momento
que tanto a população de Carmo do Paranaíba, como também do Brasil estão passando – a
modernização da agricultura, visando aumentar a produtividade, baratear o custo dos
alimentos e, posteriormente, provocar uma onda de mão de obra livre.
O objetivo dessa pesquisa acompanha as primeiras palavras de Caio Prado Júnior.
Pretendemos contribuir para a compreensão dos conflitos e das articulações que tem-se
processado no interior de uma sociedade, cuja análise e avaliação se torna efetivamente
necessária, como um esforço para a ampliação dos horizontes dos historiadores.
Assim, a partir de todas essas considerações iniciais, podemos refletir que os
costumes culturais e sociais de uma região possuem significados instigantes e preservam a
ação coletiva, colocando em questão e resistindo aos ditames da ordem vigente e de interesses
existentes, dentro do mesmo terreno dominante. É, pois, nesses termos que devemos
compreender as histórias de espaços regionais como Carmo do Paranaíba.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 8
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

CAPÍTULO 1
HISTÓRIAS - UM TEMPO, UMA CIDADE

“O estudo dos espaços, seus usos, seus


significados e, em especial, o debate a respeito
da memória (...) estão muitas vezes,
permeadas por essa visão que toma a cidade
como um texto, no qual os homens imprimem
simbologias e significados diversos. Texto a
ser decifrado, e a partir do qual se torna
possível acompanhar uma ou várias histórias.
A vida de uma cidade se dá a ler em suas ruas,
suas praças, seus edifícios. Ela está impressa
em cada um desses lugares.”9

Retomando a discussão anterior, nesse capítulo, exporemos acerca das memórias e


histórias da cidade de Carmo do Paranaíba, mostrando o valor que a cidade possui dentro do
Alto Paranaíba, na perspectiva de que cada local tem suas histórias que devem ser
rememoradas e guardadas como fontes de análises para os historiadores.
No Alto Paranaíba encontra-se um campo investigativo, no qual o historiador tem
a possibilidade de desbravar inúmeros fragmentos que compõem a diversidade geo-
econômica, cultural e social, as quais se inserem nas Minas Gerais. Como se sabe, o Alto
Paranaíba representa uma região econômica marginal, em relação ao centro econômico
brasileiro, notadamente em seus primórdios. Dito isto, estudar e compreender as

9
MUNFORD, Lewis. A cidade na História. Brasília: Martins Fontes, 1982. p. 555.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 9
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

especificidades histórico-econômicas do Alto Paranaíba, requer um esforço de apreendê-lo


no âmbito de condições reais, que, portanto, não necessariamente se esgotam no interior da
própria região. Assim, analisar a região é desvelar suas "histórias", "consciências" e
"aspectos", possibilitando novas formas de perceber a própria história da região.
Para tanto, faz-se necessário ressaltar o sentido principal da leitura que
conduzimos neste estudo histórico. Assim no campo de análise, a presente monografia
debruça-se em tentar compreender uma cidade pouco estudada e investigada pelos
historiadores do passado e atuais - Carmo do Paranaíba. É nesse cenário que procuraremos
analisar o processo de inserção da mecanização na lavoura cafeeira na região de Carmo do
Paranaíba10. Diante disso, dissertamos acerca das raízes históricas e culturais da cidade, tendo
em vista, a compreensão histórica por parte do leitor.
O município de Carmo do Paranaíba, a exemplo de muitos outros de Minas e do
Brasil, nasceu sob os influxos da afamada Picada de Goiás. No desbravamento das matas, na
procura de ouro e, muitas vezes, do índio para escravizá-lo, os paulistas iam criando núcleos
de povoamento no roteiro de seus caminhos11.
O município está localizado na Zona do Alto Paranaíba no estado de Minas
Gerais. A região onde se situa Carmo do Paranaíba, é de dois tipos: plana e montanhosa.
Orograficamente, a cidade está próxima dos morros da Mesa e Grande. A sede está localizada
nas vertentes do riacho lava-pés e do Córrego Tabuão. O município é banhado pelo Rio
Abaeté e pelos riachos Paraíso, São Bartolomeu, Córrego Fundo e outros. Os limites do
município são: Ao norte: Patos de Minas, ao sul: Rio Paranaíba, a leste: Tiros, a oeste:
Patrocínio.

10
A vasta área produtiva da qual pertence a cidade de Carmo do Paranaíba é formada tipicamente pelo cerrado,
assim, neste cenário a tecnologia chegou e destruiu grande parte da paisagem natural para dar espaço à
agricultura, principalmente a de subsistência: batata, cenoura, maracujá, o café do cerrado que está hoje no
mercado nacional e internacional.
11
O atual território do Alto Paranaíba, teve sua história ligada às bandeiras paulistas que adentravam o
continente em busca de metais e pedras preciosas e, secundariamente, da captura de índios . Toda essa área
tornou-se parte integrante da Capitania Geral de São Paulo. Salienta-se ainda que, as bandeiras partiam de São
Paulo para Minas Gerais e outras regiões. É pois a partir deste movimento bandeirante, que esta região,
integrou-se ao cenário nacional, como fornecedora marginal de metais preciosos e ponto de apoio aos núcleos
mineratórios do Centro – Oeste.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Carmo
do Paranaíba

fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2000.

Segundo dados do recenseamento de 2000 do IBGE - Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatísticas, a população de Carmo do Paranaíba é a seguinte
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 11
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

POPULAÇÃO PRESENTE
LOCALIZAÇÃO Recenseamento IBGE – 2000
DA POPULAÇÃO TOTAL
HOMENS MULHERES Números % sobre o total
absolutos geral
Sede (Carmo do
Paranaíba) 14. 977 14. 483 29. 460 82,05%
Vila de Quintinos
Quadro Rural 456 425 881 9,49%
745 956 1701 --------
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2000.

Através de informações de alguns memorialistas12 que trabalham com a cidade de


Carmo do Paranaíba, os primeiros habitantes dessa terra foram os índios da tribo do Araxás,
muito embora não haja vestígios de seus aldeamentos.
Vieram os bandeirantes, também de passagem, porque não tão longe se
encontrava o diamante de Abaeté e, mais adiante, o garimpo de Paracatu. Os terrenos não
eram ricos em garimpos de diamante ou de ouro, no entanto, o latifúndio, pela fertilidade das
terras, deu origem à fundação do município, o qual se situa na Mata da Corda e na bacia do
Rio Paranaíba.
Conforme relatos da história oficial, diz que os habitantes, cujos nomes se
destacaram na região, foram Francisco Antônio de Moraes e Elias de Deus Vieira, os quais
estabelecendo-se na região, agruparam-se economicamente e fundaram o arraial, que mais
tarde seria a cidade de Carmo do Paranaíba. Com o tempo ramificaram-se as famílias,
aumentando a população, criaram-se novos povoados, o núcleo primitivo expandiu-se
consideravelmente, dando origem ao atual município.
Francisco e Elias, quando se transferiram para essa região, trouxeram alguns
escravos em sua companhia, os quais se iniciaram na vida agropecuária.

12
REZENDE, Hélio Hilton. , Cem Anos de Carmo do Arraial Novo. Uberlândia: Editora Brasil, 1992. 184 p.
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba: s/editora, 1956.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 12
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

A cidade nasceu em torno de uma capela, construída pelos companheiros e amigos


de Francisco e Elias. Até a pouco tempo, lia-se no antigo cruzeiro: "25 de dezembro de
1835". Sobre a construção da primitiva capela, em cujo local ergue-se hoje a Matriz de Nossa
Senhora do Carmo, o livro "História de Carmo do Paranaíba" de autoria de Silveira Neto, diz
o seguinte:

"Francisco Antônio de Moraes tinha inimigos em São Francisco,


certamente por motivo de posse de terras, como era e ainda é comum
no interior do país. Uma noite, estando recolhido com a família,
Francisco foi vítima de tremenda assuada por parte dos seresteiros.
Vaias. Apupos. Palavrões. Francisco achou prudente evitar a briga.
Mas deixou imediatamente Campo Grande. Regressou ao Arraial
Novo, com uma idéia fixa na cabeça. Francisco Antônio de Morais,
homem de brio, resolveu tomar atitude. Conversou com Elias de Deus
Vieira. (...) Era preciso construir uma capela. Por que continuar
dependendo de Campo Grande, se já tinham recursos para viver por
conta própria (...)
O trabalho foi iniciado. Madeira não faltava. Nem barro. Nem capim.
O importante era o esfôrço dos moradores de Arraial Novo. E êsse
não faltou. Porque das tradições lusitanas, traziam a fé tradicional
em Nossa Senhora do Carmo, que marcou a formação de muitas
localidades mineiras. Primeiro os alicerces. Pedras, barro socado.
Depois os esteios. Vieram dali de perto mesmo, das matas vizinhas.
Não era preciso luxo. Urgia apenas erguer o templo, Ter um lugar
para a prece, para a reunião do povo. Por isso, a capela era humilde,
com a nave de capim e o teto de telha. Durou apenas dois anos a
construção, 25 de dezembro de 183513.

13
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba: s/editora, 1956. p. 24.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 13
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

O primeiro nome de Carmo do Paranaíba foi Arraial Novo. Após a construção da


capela, foi mudado para Arraial Novo de Nossa Senhora do Carmo da Ponte de Terra. Pela lei
provincial no 347, de 20 de dezembro de 1848, foi criado o Município, com sede no povoado
de São Francisco das Chagas de Campo Grande e essa designação, tendo sido o seu território
desmembrado do município de Araxá. Pela lei provincial no 472, de 31 de maio de 1850, o
Município foi suprimido, sendo restaurado pela Lei no 999, de 30 de junho de 1859. Em face
da Lei provincial no 1639, de 13 de setembro de 1870, o município foi novamente extinto. O
distrito foi instituído pela Lei provincial no 1713 de 05 de outubro de 1870. Pelo disposto na
Lei provincial n o 2032, de 1o de dezembro de 1873, restabeleceu-se outra vez o município,
cuja sede em virtude da Lei provincial no 2306, de 11 de julho de 1876, foi transferida para o
Arraial Novo do Carmo, sob a denominação de Carmo do Paranaíba, que se estendeu ao
referido município. A Lei provincial no 3464, de 04 de outubro de 1887, elevou à categoria de
cidade e sede do Município de Carmo do Paranaíba.
A sociedade carmense, neste momento, vivia quase que exclusivamente da
exploração agropecuária, em incipiente estado de subsistência, sendo exportados os
excedentes agrícolas. Salientando o que dizemos, apresentamos um trecho de Hélio Hilton
Resende:

Inexpressiva era a atividade industrial, representada ela por cinco


fabriquetas de vinho (não muito apreciado pelos degustadores da
época) e alguns engenhos, cujos produtos, açúcar e aguardente, eram
insuficientes para atender às necessidades locais (...) o comércio é o
que resulta de suas lavouras, por exemplo: café, fumo, toucinho e
alguns cereais.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 14
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Através deste trecho, observamos as dificuldades da localidade em relação à vida,


o comércio e a agricultura. Isso se torna evidente em municípios pequenos e que não têm uma
renda definida aos seus trabalhadores.

I. A MECANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA

Retornando ao sentido principal desta monografia, dissertamos acerca da


mecanização e suas influências na cidade de Carmo do Paranaíba. Atualmente, estamos
vivendo um processo de tamanho desenvolvimento das forças produtivas que jamais pensou-
se que aconteceria. Trata-se da era da mecanização do trabalho, iniciada com a Revolução
Industrial14. A cada dia que passa as máquinas estão ganhando mais espaço, seja nos centros
urbanos, ou no campo, em detrimento da mão-de-obra humana.

14
A Revolução Industrial foi o momento na história mundial marcado que consistiu num conjunto de mudanças
tecnológicas profundas na economia, que transformaram a humanidade a parir do século XVIII, prolongando-
se pelo XIX. A partir desse momento a máquina foi suplantando o trabalho humano e uma nova relação entre o
trabalho e o capital se impôs. Junto à Revolução Industrial emergiu um novo sistema econômico, político e
social, o capitalismo, que se tornou hegemônico ao longo do século XIX. Houve a substituição do trabalho
artesanal pelo trabalho assalariado, com o predomínio do uso de máquinas, o que significou uma profunda
transformação nas relações de trabalho, diretamente vinculadas ao capital.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 15
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Essa grande industrialização provoca um divórcio entre o trabalhador15 e os meios


de produção. Nessas circunstâncias, "o proletário é ideologicamente separado dos meios de
produção". Em conseqüência disso, trabalhadores e patrões podem conceber-se como
diferentes, quanto a direitos , deveres e ambições. Organizam-se e pensam a si mesmos como
categorias distintas. Delineiam-se as fronteiras e aprofunda-se as divisões, portanto, entre o
mundo dos proprietários, de uma lado, e o mundo dos trabalhadores de outro.
Em "Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho",
Ricardo Antunes16 nos mostra que diante de tantas transformações o trabalhador se torna um
"objeto" fácil de ser substituído. O que parece nos preocupar é a efetiva natureza das
contradições que determinam o movimento desta sociedade, que definem a natureza das suas
transformações ocorridas ou em curso.
Assim, o trabalhador inserido na sociedade capitalista, a qual analisamos, é
descartado como uma simples seringa. Segundo Antunes esse fenômeno ocorre e se acentua a
cada momento em função da vigência do caráter destrutivo da lógica do capital. Quanto mais
se moderniza o capitalismo, menos pessoas são empregadas, as máquinas executam com
maior rapidez e menos custos o trabalho de muitos indivíduos.
Diante disso, a classe trabalhadora se torna , na virada do século, "mais explorada,
mais fragmentada, mais heterogênea."17. O trabalhador atuando com quatro ou cinco
máquinas, torna seu trabalho desprovido de sentido, em conformidade com o caráter
destrutivo do capital.

"...as relações metabólicas sob controle do capital não só degredam a


natureza, levando o mundo à beira da catástrofe ambiental, como
também preconizam a força humana que trabalha, desempregando ou
subempregando - a além de intensificar os níveis de exploração.18"

O trabalhador pode ser tanto rural quanto urbano. No nosso caso estaremos enfatizando o trabalhador rural,
destacando a mecanização do campo.
15
O trabalhador pode ser tanto rural quanto urbano. No nosso caso estaremos enfatizando o trabalhador rural,
destacando a mecanização do campo.
16
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 5ª ed.
São. Paulo: Boitempo, p-205. 2001.
17
VITA, Álvaro de. Sociologia da Sociedade Brasileira. 5ª ed. SP: Ática, 2001. p 94.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 16
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Dentro da conjuntura agrícola surge um tipo de setor carateristicamente


capitalista: os antigos colonos foram sendo expulsos das fazendas e transformados em
assalariados permanentes ou temporários. No lugar do colono surgia o trabalhador assalariado
puro, isto é, aquele que não tem outra fonte de subsistência além de seu salário. A instauração
de relações de trabalho capitalista foi vivenciada pelo trabalhador rural como um prova
acentuada em suas condições de vida.

“(...) uma nova lógica (...) tem como objetivo a mercantilização e a


industrialização da vida humana em todos os aspectos, é uma das
chaves da reprodução do capitalismo hoje, que faz apologia da
competitividade, do determinismo tecnológico, da globalização, entre
outras coisas, sem atentar para os seus efeitos: o apagamento de
valores e tradições da memória enquanto depositária de uma
história” 19

A introdução de relações de trabalho capitalistas no campo representou uma piora


nas condições de vida. Tal fenômeno não atinge apenas os grandes centros urbanos, atinge
cidades do interior, como é o caso de Carmo do Paranaíba, uma cidade com aproximadamente
30 mil habitantes, situada no Alto Paranaíba. Esse município possui como fonte principal de
renda a produção em larga escala de café.
Além do café, há outros produtos agrícolas cultivados que fazem parte da
produção no município de Carmo do Paranaíba, assim, estes dados podem ser expressos pela
seguinte tabela:

18
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da Terra. Editora Hucitec. São Paulo. 1986. p. 09.
19
MACHADO, Maria Clara T. Cultura Popular em Minas Gerais – Transformações, persistências e
desagregação. São Paulo: Universidade de São Paulo. p. 07
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 17
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Culturas Área Produção Valor


agrícolas (ha) unidade quantidade Cr$ % sobre o
valor

Milho 235 Saco 60 kg 5 640 2256 4,04


Arroz 2105 Saco 60 kg 40 000 16 000 28,66
Batata inglesa 16 Saco 60 kg 15 300 2754 4,93
Café 7272 Saco 60 kg 160 000 28 800 51,60
Outros -- -- -- 6013 10,77
Total 14148 -- -- 55823 100,00

Fonte: Arquivo Público Municipal de Carmo do Paranaíba - 1988

Culturas Área Produção Valor


agrícolas (ha) unidade quantidade R$ (valor em reais)

Milho 235 Saco 60 kg 5 640 200


Arroz 2105 Saco 60 kg 40 000 230
Batata inglesa 16 Saco 60 kg 15 300
Café 7272 Saco 60 kg 160 000 240
Outros -- -- -- 250
Total 14148 -- -- 245

Fonte: Arquivo Público Municipal de Carmo do Paranaíba. 2000

Pode-se observar que a agricultura é o grande ramo produtivo que produz receita
para o município, além de também possibilitar a maior arrecadação. É bom lembrar que a
agricultura continua presente e atuante na sociedade. Apesar de todas as mudanças por quem
tem passado a sociedade brasileira, a estrutura da terra continua a ser calçada sobre os
mesmos interesses que norteavam a colonização e que privilegiam apenas um pequenos
número de fazendeiros em detrimento do restante da população rural. Nessa perspectiva, para
que a agricultura consiga dar continuidade a sua participação no processo de desenvolvimento
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 18
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

deve implementar alguns fatores fundamentais, os quais cita-se: em primeiro lugar do nível
técnico da mão-de-obra, em segundo lugar do nível de mecanização e em terceiro lugar do
nível de utilização de adubos e da existência de variedades adequadamente selecionadas.
A cafeicultura é a principal de riquezas, além de ser também o setor que absorve a
maior parte da mão-de-obra não qualificada. Além disso, o café produzido em sua quase
totalidade é exportado para o Mercado Comum Europeu e Japão.
A Fazenda Paraíso, de propriedade dos irmãos Shimosaka, exporta diretamente
para o Japão o café nela produzido. Naquele país, seu produto é comercializado com o nome
de “Café do Carmo”, após cuidadosa preparação dentro de noderníssimos métodos de
torrefação, moagem e embalagem.
Além desta, existem também em Carmo do Paranaíba as empresas Andrade e
Irmãos, Agropecuária Manoel Veloso dos Reis (MVR), Cooperativa Sul-Brasil,
Agropecuária de Carmo do Paranaíba, Cooperativa de Mirandopólis e Paulo Veloso dos
Santos.
Os cafeicultores através de cooperativas e associações, estão se mobilizando,
visando, melhorar o produto final e assim obter remuneração mais compensadora para o
mesmo. A crise, entretanto, ronda o empreendimento. Para se ter uma idéia uma saca de café
tipo exportação, que deveria ter um preço de US$150 dólares, hoje é vendida por apenas US$
100 dólares. Nossa cafeicultura sofre concorr6encia não só de países tradicionalmente
produtores, como de muitos outros incipientes na cafeicultura.
Para garantirem seu produto tanto no mercado nacional quanto no internacional,
os produtores de café carmenses, tiveram que investir e modernizar a produção de café, desde
o plantio até a colheita. Por volta de 1990, a produção de café do município sofreu uma
grande mecanização, principalmente no que se refere a colheita. Foram colocadas na lavoura
máquinas colheitadeiras que realizam o trabalho de centenas de trabalhadores. Em
conseqüência disso, os trabalhadores que são "substituídos" pelas máquinas, são jogados para
fora de seus empregos.
Com o recente e considerável desenvolvimento da cafeicultura, em conseqüência
da exploração do cerrado, antes improdutivo, a economia da cidade sofreu grande impulso,
refletindo na dinamização do comércio e da construção civil.
É bastante acentuada a importância da agricultura na economia local. A cultura
mais disseminada é a cafeicultura, que lidera também a safra carmense. Este produto
representa mais de 51% da produção agrícola municipal.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 19
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

café
feijão
laranja
mandioca

Segundo estimativas oficiais20, existem plantadas no Município cerca de 31


milhões de covas de café, distribuídas em aproximadamente 11 mil hectares. O produto final é
de excelente qualidade, sendo, na sua quase totalidade, exportado para vários países,
principalmente do continente europeu.
Nesses termos, para se compreender as bases da agricultura no Brasil e,
especificamente da cafeicultura temos que analisar as palavras de Caio Prado Júnior:

"a lavoura cafeeira baseou-se na grande propriedade monocultural


trabalhada por escravos negros substituídos mais tarde (...) por
trabalhadores assalariados. Com a imigração massiva, o trabalho
escravo cedeu lugar ao trabalho assalariado nas plantações de
café21."

Apesar de todas as mudanças por quem tem passado a sociedade brasileira, a


estrutura da terra continua a ser calçada sobre os mesmos interesses que norteavam a
colonização e que privilegiam apenas um pequeno número de fazendeiros em detrimento do
restante da população rural. É justamente aí, que a mecanização se insere como ponto de
divergência em relação a agricultura.

20
Arquivo da Prefeitura Municipal de Carmo do Paranaíba. 2000.
21
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 14.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 20
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Em outras palavras, a produção cafeeira do início do século XX apoiava-se em


bases capitalistas, sendo que por isso, as relações típicas entre colono e fazendeiro tinham
esse caráter. Constata-se também que a natureza capitalista das relações de produção na
fazenda de café se expressa na compra da força de trabalho - pagamento de trabalho
necessário (salário) - apropriação do excedente, sob a forma de mais-valia.
Para entender este processo, é necessário perceber, que no modo de produção
capitalista, duas classes sociais básicas se opõem: os proprietários dos meios de produção
(burguesia) e os que possuem sua força de trabalho (proletariado), a luta entre essas classes
vem se verificando desde o momento em que a burguesia, como classe dominante, forjou e
impôs seus instrumentos de dominação: O estado Burguës, o direito burguês e a ideologia
burguesa, em todas as suas formas. Os capitalistas exploram a maioria, obrigada a vender sua
força de trabalho em troca de um salário. Todavia, este salário é muito inferior ao calor
produzido diariamente pelo trabalho operário. Essa diferença a mais, apropriada pelos patrões,
chamada por Marx (1818 – 1883) de mais valia, constitui a base essencial da acumulação de
capital. Fazendo uma análise da realidade social em que vivia, Marx percebe que ela era
dinâmica e contraditória. Enquanto o avanço técnico permitia o domínio crescente sobre a
natureza, gerando o progresso e o enriquecimento de alguns homens, a classe operária era
cada vez mais explorada, empobrecida e afastada dos bens materiais de que necessitava para
viver.
E nesse sentido, o avanço da cultura cafeeira, em termos de novas áreas,
necessitava fundamentalmente de mão de obra sem isto, a terra tinha pouca utilidade dentro
da sociedade rural capitalista
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 21
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

CAPÍTULO 2
A MECANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA CARMENSE
TRAJETÓRIAS

Inaugurava-se uma nova era na


cafeicultura a da utilização de
moderna tecnologia e insumos que
permitissem a recuperação de terras
cansadas e colocassem em
condições de produção
remuneradora terras, até então,
impróprias para o cultivo do café. 22

A sociedade brasileira não pode ser compreendida sem que se tenha em mente o
peso de um passado colonial e escravista e um presente marcado pela dependência em relação
às economias dominantes do mundo atual. Assim, ausência de autonomia ou pelo menos, a
existência de uma autonomia muito limitada sempre marcou a vida e a ação dos personagens
centrais do processo histórico agrário brasileiro - o senhor de terras, o escravo, o índio, o
sertanejo, o fazendeiro-capitalista, o empresário urbano, o lavrador, as classes médias, o
operariado urbano e rural.
Uma das características da economia do café23 tem sido, ao longo de sua história,
o fenômeno dos ciclos de prosperidade e declínio. Enquanto a produção se concentra nos
países tropicais, os grandes mercados consumidores localizam-se na Europa e na América do

22
NETO, Wenceslau Gonçalves. Agricultura e política agrícola na década de 70: a cafeicultura em
Araguari – Minas Gerais. Campinas: Universidade estadual de Campinas, 1983. p. 83.
23
O objeto de análise do referido texto - o café - era um produto destinado a abastecer os mercados externos.
Era uma mercadoria, no qual, as práticas capitalistas cafeeiras não se limitaram ao comércio com os mercados
metropolitanos. O comércio mundial do café movimenta bilhões de dólares e mais de vinte milhões de pessoas
dependem, em quarenta países, da economia cafeeira como meio de subsistência.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 22
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Norte. A instabilidade do café , ocasionada pelas variações do consumo e por condições


climáticas, torna frágil e dependente a economia dos países que se dedicam à monocultura
cafeeira. Essa instabilidade favorece a especulação comercial, sobretudo nos períodos de crise
econômica internacional.
O consumo do café disseminou-se em meados do século XIX e está ligado à
elevação do padrão de vida da população dos países industrializados. Não sendo o café um
produto essencial, seu consumo sofre reduções nos períodos de instabilidade econômica ou de
crise. Um exemplo disso ocorreu em 1929 a 1939, quando a depressão econômica provocou
drástica diminuição de consumo dos Estados Unidos e na Europa. Na época o prejuízo
causado aos produtores e comerciantes de café no Brasil foi tão grande que o governo
precisou intervir e criar instrumentos de apoio, numa tentativa de amenizar a situação. Após a
Segunda guerra Mundial, os Estados Unidos aumentaram consideravelmente o consumo e a
importação do produto, tornando-se responsáveis por mais de 65 % de todo café produzido no
mundo. As riquezas acumuladas na cafeeicultura tiveram um destino capitalista e foram
mesmo o motor do desenvolvimento capitalista no Brasil.
"O Brasil é o café.24" Essa expressão, muito usada no começo do século XX e
mostra bem a importância que o café teve na economia e na vida do país, que na época se
proclamava "essencialmente agrícola".
Chama-se ciclo do café o período histórico-econômico que o Brasil atravessou da
Segunda década do século XIX a meados do século XX, decorrente da economia cafeeira,
com reflexos no mercado mundial.
Passado o período dos governos militares após a Proclamação da República, os
três primeiros presidentes civis que se seguiram foram paulistas Prudente de Morais, campos
Sales e Rodrigues Alves. Em 1889 a produção chegara a 5.586.000 sacas de sessenta quilos e
desde o começo da década o Brasil se tornara o maior produtor mundial de café. As

24
Cabe salientar que, na perspectiva brasileira o cafeeiro não se fixou na região amazônica pela ausência de
boas condições para seu desenvolvimento. A cultura foi tentada depois no Nordeste brasileiro sem resultados
satisfatórios. A introdução do café no Rio de Janeiro, então capital do Brasil colonial, se deu por volta de 1760.
A situação no final do século XVIII era de miséria. O sonho do ouro transformara-se em pesadelo. As lavras
esgotadas não atraíam mais os aventureiros. A emigração para as minas cessara por volta de 1780 e aos poucos
os bandeirantes desiludidos voltavam-se para a agricultura, quase sempre de mera subsistência, num esforço
lento e difícil de readaptação. A cultura mais rentável economicamente era a cana-de-açúcar. O comércio
exterior da província não tinha qualquer relevância. Ocorreu, então, a penetração do café através da região
fronteiriça. O oeste foi a região mais procurada, até estender-se pelo norte do Paraná. Com o café, chegaram as
ferrovias e, com elas, colonos estrangeiros e o comércio semi-sedentário. Um dos estados mais pobres da
federação haveria de se transformar no mais pujante de todos, graças à monocultura cafeeira.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 23
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

plantações nos últimos anos do império e nos primeiros anos da república foram tantas que,
ao iniciar-se o século XX, só a exportação do produto somou 14.760.000 sacas. O "ouro
verde" representava um novo ciclo econômico no Brasil, criando novas possibilidades de
acumulação de capital. Depois dos senhores de engenho, que foram os barões do açúcar, os
fazendeiros os barões do café tornaram-se a camada dirigente brasileira.
Em 1906, ocorreu uma superprodução de café. A fim de evitar uma crise grave, os
estados produtores decididiram tomar medidas em comum para a defesa dos preços do
produto.
O convênio de Taubaté marca o início da política de valorização cafeeira. O
encargo do convênio recaiu sobre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,
vigorando até 1929.
A partir do Convênio de Taubaté , o governo passou a intervir no mercado de
café. As principais intervenções verificaram-se no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922);
após a Primeira Guerra Mundial; e no governo de Artur Bernardes (1922-1926), quando se
passou à valorização permanente, em conseqüência de um desvirtuamento das funções do
Instituto do Café de São Paulo, fundado para regulamentar o escoamento das safras. A
valorização fez-se pela retenção das sobras de exportação e do consumo interno,
comprometendo-se alguns grupos estrangeiros a financiar os estoques. Com a subida dos
preços, outros países com solos adequados à cultura do café aumentaram sua produção e
passaram a competir no mercado mundial.
O colapso da bolsa de Nova Iorque, em outubro de 1929, aliado à superprodução,
trouxe, como reflexo econômico, a derrubada dos preços do café, em plena campanha política
para a sucessão do presidente Washington Luís. Durante o decênio 1931-1940, foram
incineradas 71.068.581 sacas, quantidade que daria para atender ao consumo mundial durante
três anos.
A vitória da revolução de 1930 foi responsável por mudanças consideráveis no
panorama político brasileiro. O novo governo, encabeçado por Getúlio Vargas, surgiu de um
movimento que aglutinou diversas forças sociais (oligarquias dissidentes, classes médias,
setores da burguesia urbana) e instituições (notadamente o exército), reivindicando
participação política em um cenário dominado exclusivamente pela oligarquia cafeeira.
Trata-se de uma novidade na história do país, uma vez que, desde a
independência, os governos representaram uma única classe. Assim, o Estado imperial
brasileiro que emergiu das lutas do período regencial representava a aristocracia rural
escravocrata, enquanto a República instalada em 1889 era liderada pelo grupo cafeeiro. No
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 24
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

novo Estado, instalado em 1930, os grupos oligárquicos (inclusive os aparentemente


derrotados cafeicultores) ainda teriam um papel muito importante a representar, na verdade
um papel decisivo.
No entanto, esses grupos não estariam mais sozinhos, ou seja, não mais iriam
exercer o poder de forma hegemônica. Pode-se falar de uma crise do Estado oligárquico
brasileiro.
Já nos primeiros momentos do governo Vargas a crise se anunciava: diversos
grupos disputavam o exercício do poder, mas nenhum tinha meios para fazê-lo de forma
hegemônica; abria-se o espaço para a intermediação política. É a partir daí que entendemos o
fortalecimento do poder pessoal de Getúlio Vargas: bastante habilidoso, soube se transformar
no árbitro das forças em disputa, ou ainda, no único indivíduo capaz de manter coesa a aliança
que havia se formado em 1930. Vargas, entretanto, não evitaria descartar esse ou aquele
grupo político quando as circunstâncias o exigissem.
A composição do novo governo já refletia a necessidade de satisfazer as diversas
forças por trás do poder político: gaúchos e mineiros dominavam os ministérios, destacando-
se as figuras de Osvaldo Aranha (Justiça, depois Fazenda), Assis Brasil (Agricultura),
Lindolfo Collor (Trabalho), Afrânio de Melo Franco (Relações Exteriores) e Francisco
Campos (Educação e Saúde). Políticos do PD (Partido Democrático) e da oligarquia paraibana
também ocuparam cargos no governo recém-instaurado. Entretanto, a força desse governo se
encontrava nas lideranças tenentistas que Getúlio tentou manter ao seu lado a qualquer custo.
Finalmente, Vargas mostrou sua habilidade política ao se aproximar do grupo
cafeicultor, por ele derrotado na revolução de 30. Ficava claro que, por maior que fosse o
apoio social ao novo governo, pouco poderia ser feito sem os cafeicultores, que ainda
formavam o grupo mais poderoso do país. E, devido à própria crise, o novo presidente
encontrou os mecanismos para promover sua aproximação com os paulistas.
Com objetivos eminentemente políticos, Vargas se lançou em defesa da
cafeicultura, fortemente abalada pela Grande Depressão mundial desde 1929. Para isso
buscou reeditar a velha política de valorização do café, agora sob rígido controle do governo
central através do Conselho Nacional do Café (CNC), promovendo a compra e a estocagem
do produto já a partir de fevereiro de 1931. Sabemos que tal prática estava esgotada, conforme
crescia a produção mundial de café e, portanto, a concorrência com o Brasil.
Consequentemente, a valorização do café, apesar de elevar ligeiramente os preços durante
certo tempo, acabou por levar à formação de estoques imensos, para os quais não haviam
compradores externos. Em julho de 1931, o governo decidiu-se pela eliminação física dos
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 25
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

estoques de café, ou seja, a queima dos excedentes invendáveis. Até 1944, enquanto durou
essa política de compra e queima de café, foram destruídas mais de 78 milhões de sacas (14
milhões só em 1931).
No entanto, essa política de compra e queima de café trouxe conseqüências
benéficas para a economia já a curto prazo. O comprometimento do governo com a
manutenção da demanda de café ajudou a manter em funcionamento a economia brasileira,
pois, graças à atividade cafeeira foram sustentadas as atividades comercial e bancária, as
ferrovias e até a pequena indústria nacional; todos esses setores, de alguma maneira
dependiam dos recursos gerados pela cafeicultura.
Além da cafeicultura, o setor que mais se beneficiou da política governamental
foi o industrial. A economia brasileira retomou à atividade normal, enquanto grande parte do
mundo ainda amargava a Depressão. Ao mesmo tempo, praticamente inexistia a
entrada de moeda estrangeira no Brasil, uma vez que o café, principal fonte de divisas, agora
era vendido para o governo, que , obviamente, remunerava os cafeicultores com moeda
nacional. Assim, inviabilizavam-se as importações. As emissões de papel-moeda ajudavam a
desvalorizar o mil-réis, dificultando ainda mais as importações. Todos esses fatores
encorajavam o desenvolvimento de uma produção industrial nacional.

Nessa perspectiva histórica, a superprodução e o rebaixamento da qualidade, ao


lado do surgimento de outras culturas lucrativas, como o algodão, levaram ao fim paulatino
do exclusivismo do café. A industrialização ajudou a fixar o habitante das áreas cafeeiras em
seu torrão. A monocultura deu lugar à policultura. Os latifúndios de fraca produção se
subdividiram em pequenos sítios
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 26
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

CAPÍTULO 3
CAFEICULTURA: MECANIZAÇÃO E DESEMPREGO

O (trabalhador) encontra-se fora de


casa, na rua, no meio da enxurrada.
Gastou as solas durante oito horas sem
achar trabalho. Foi de porta em porta
oferecendo os braços, as mãos,
oferecendo-se a si próprio em corpo e
alma para qualquer tarefa, incluindo a
mais repugnante, a mais dura, a mais
nociva.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 27
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Mas todas as portas se fecharam. 25

Julgamos poder dizer que na cafeicultura do município de Carmo do Paranaíba,


subsistem e se projetam as médias e pequenas propriedades, entendidas aqui não apenas pelo
critério de extensão da área total, mas também pelo da extensão das lavouras. Entretanto, a
cada ano que passa os lavradores estão diminuindo em virtude da mecanização da lavoura.
Ainda que a força de trabalho visse a ser explorada ao máximo, o capital procurava outras
formas de se reproduzir, para realizar mais rapidamente a apropriação da mais-valia.
Sem sombra de dúvida, a cafeicultura é a maior fonte geradora de riquezas do
Município, apesar da crise por que passa o setor no âmbito nacional e carmense, empregando
milhares de trabalhadores, envolvidos com os tratos culturais e a colheita do café, mão-de-
obra antes ociosa na cidade, devido a falta de empregos para a população rural e sem
escolaridade.
Todavia, hoje sentimos uma sensível diminuição na oferta de trabalho em
decorrência da progressiva mecanização da colheita de café e da erradicação de milhares de
cafeeiros, que gradativamente são substituídos por outras lavouras (milho, principalmente),
por pastagens.
Nesse perspectiva, observamos que o incentivo ao desenvolvimento técnico e
científico foi grande não por acaso.

“No começo da década de 70, o plantio de café incentivado pelo


governo chega ao Triângulo Mineiro, dentro do Plano de renovação e
revigoramento de Cafezais (PRRC), implantado pela política cafeeira
governamental visando recuperar o potencial produtivo da
cafeicultura nacional”26

25
Énile Zola. O Idílio. São Paulo: Clube do Livro, 1966. p. 134.
26
NETO, Wenceslau Gonçalves. Op. Cit. . p. 99.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 28
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

A partir dessa visão era preciso implementar, assim como, promover uma
evolução nos moldes da produção em larga escala, de sorte a ampliar as possibilidades de
realização do capital.
O PRRC atacou em duas frentes: nas antigas áreas produtoras, de onde o café
havia sido erradicado e que contava com a infra-estrutura para a cultura, e em áreas novas,
procurando difundir o plantio por regiões até então fora do circuito do café.
Referindo ao cerne da presente discussão, como o Brasil, Carmo do Paranaíba é
uma cidade que não possui uma diversidade muito grande em trabalhos, são muito poucas as
chances de se conseguir emprego. Este efeito é visto perfeitamente, uma vez que, desde o
aparecimento do capitalismo, ocorre uma tentativa transformações que culminassem no lucro
máximo. Com a revolução tecnólogica das três últimas décadas do século XX, o trabalho
humano passou a ser substituído por máquinas e processos produtivos cada vez mais
complexos e sofisticados.

Esse processo, conhecido como automação (mecanização) provocou a extinção de


milhões de postos de trabalho em todo mundo, assim Carmo do Paranaíba e sua agricultura
cafeeira não fogem à regra. Dessa forma, a grande maioria da população (excetuando-se
funcionários públicos e do setor de serviços) vive parte do ano desempregada e espera com
enorme ansiedade o período da colheita do café que se inicia entre abril e maio e termina entre
setembro e outubro.
Em conseqüência disso, observa-se uma grande desestruturação das famílias de
baixa renda, provocada pelo desemprego, fome e miséria que acometem as mesmas. o
desemprego também provoca no trabalhador a insegurança que pode ser medida com
pavorosa precisão numa pesquisa:

de cada cem trabalhadores, 87 temem perder o emprego nos próximos


meses, as entrevistas revelam ainda, uma população acuada pelo
avanço tecnológico combinado com as oscilações econômicos”27
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 29
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

Na perspectiva carmense, ressaltamos ainda que, o impacto do processo


globalizador, e consequentemente excludente, provocou um impacto no mercado de trabalho
visível, ocorrendo um corte sistemático de numeroso postos de trabalho. Em nome da
eficiência, diga-se lucro, condição indispensável para vencer a concorrência e aumentar o
capital, a lavoura cafeeira eliminou empregos. Surgiu assim, um desemprego em massa,
porque se deve a tendência crescente de substituir mão-de-obra por mecanismos e
procedimentos resultantes do desenvolvimento tecnológico, sobretudo nos processos de
mecanização. Afirmamos este contexto haja visto, entrevistas, conversas, discussões em sala
de aula e em outros locais.

Eu tô desempregado no momento, (...) tô passando dificuldade né,


(...)foi a tal da máquina, com a chegada das máquina os trabalhador
da roça perdeu o serviço e taí né a Deus dará, esperano
portunidade28.

Além da busca constante pelo capital máximo, soma-se a esse problema a grande
queda do preço do café ocorrida na safra de 2000, no que se refere ao município de Carmo do
Paranaíba, levando os produtores a grandes prejuízos e conseqüentemente mais trabalhadores
rurais ao desemprego. Essa situação complica-se ainda mais, levando-se em conta que Carmo
do Paranaíba é uma cidade que vive da monocultura. Vários setores foram afetados com a
diminuição dos empregos, seja em virtude da mecanização da lavoura, ou da queda do preço
do café. Os principais setores atingidos foram o comércio, em decorrência da queda do poder
aquisitivo dos trabalhadores, e a Prefeitura Municipal, em fator da arrecadação de tributos
provenientes da produção do café.
Como colocamos anteriormente, o processo de modernização da agricultura na
década de 70 visava, em seu maior sentido, aliviar a economia nacional de diversos entraves à
continuidade de seu crescimento, tais como a elevação dos preços dos produtos agrícolas para
o consumo da população urbana, bem como das matérias-primas das indústrias em

27
DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ática, 1997. p. 28.
28
Entrevistado 01 - Carmo do Paranaíba. Maio de 2003.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 30
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

transformação de produtos de origem rural; as importações de alimentos; a necessidade de


divisas estrangeiras; a produção de energia e mercado para as máquinas e insumos agrícolas
de origem industrial. Observamos que a política agrícola brasileira procurou se pautar nos
anos 70 dentro dessa linha de ação.
Passaremos agora a promover uma análise acerca do desemprego trabalhando
dados do DIESE – e de outras instituições, como a OIT, IBGE. Através desse dados, iremos
perceber a estrutura agrária da cafeicultura no município de Carmo do Paranaíba, para que
possamos observar a estrutura que beneficia o desemprego.

A automação dos processos produtivos iniciada a mais tempo nos países


industrializados e, agora, desencadeada de forma irreversível no Brasil, provocou um
fenômeno em todo o mundo, o que revolucionou o mercado de trabalho: o chamado
desemprego estrutural. Num cenário da globalização da economia, em que qualidade,
produtividade e custos baixos são requisitos essenciais à competitividade, a eliminação de
postos de trabalho nas indústrias, cada vez mais automatizadas, tornou-se uma rotina dolorosa
à medida que implica em um ônus social grave.
Ressaltamos que a discussão não é mais a exploração dos trabalhadores pelos
capitalistas, uma vez que, sabemos que essa exploração é o alicerce da economia e dinâmica
capitalista durante toda a história O problema discutido agora é como conseguir emprego para
o trabalhador substituído pela máquina. Podemos observar o número considerável de
desempregados a partir dos dados do gráfico abaixo:

desempregados
empregados

Fonte: OIT – Organização Internacional do Trabalho – 2000


www.google.com.br/desemprego
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 31
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

O gráfico acima nos revela através de dados mundiais, o problema estrutural do


desemprego, onde um em cada três trabalhadores do mundo estava desempregado no ano.
A introdução de novas tecnologias mudou radicalmente a relação de oferta de
emprego e crescimento econômico. Isso significa que o problema do desemprego entrou para
ficar na agenda dos problemas brasileiros neste final de século.
O desemprego ameaça metade da população brasileira, pois o mercado está
rejeitando quem não tem o primeiro grau completo, e esta é a situação de 52% da nossa
população. Em 1989 faziam-se no Brasil 170 milhões de transações bancárias sem ajuda de
funcionário. Em 1994 foram feitas 1 bilhão e meio em 20 mil bancos dia e noite. Nos Estados
Unidos chegaram a 7 bilhões de transações em 100 mil bancos dia e noite. Desde 1993, um
bancário em cada quatro perdeu seu emprego. Assim, nesse ponto de vista, deve-se levar em
conta que cada desempregado a mais pode significar quatro consumidores a menos.
Para criar um único emprego hoje no Brasil é preciso um investimento de 30 mil
dólares. Nos anos 70 bastavam 10 mil dólares, segundo estudo do sindicato dos metalúrgicos
do ABC-SP. Na fábrica da Renault, em Curitiba, cada emprego vai custar 400 mil dólares.
Esse aumento é decorrente das modernas formas de produção e da substituição do homem
pela máquina.
Retomando o desemprego na agricultura, percebe-se na safra mecanizada da cana,
a máquina faz o trabalho diário de cem homens, e já no ano de 1973 ameaçava 50 mil
empregos. A médio prazo serão mais de meio milhão de empregos ameaçados. Logicamente,
temos que perceber os benefícios e não podemos ser contra da mecanização que realiza o duro
trabalho do cortador de cana. Devemos ser criativos para remanejar essas pessoas para tarefas
mais produtivas e, principalmente, tomar providências para que nasçam cortadores de cana
em menor número e, assim, terão uma vida mais digna e mais valorizada.
O IBGE, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio –
PNAD, revelou que em 1994, 20 milhões de trabalhadores ou estavam desempregados ou não
recebiam rendimento algum; 14 milhões não possuíam carteira assinada; e 31 milhões não
contribuíam para a previdência.
Existem dois conceitos de desempregados. O DIESE coloca na situação de
trabalhador sem emprego, toda pessoa que procurou uma colocação no mercado de trabalho
no mês da pesquisa e não exerceu qualquer função profissional na última semana. E também
aqueles que estão em uma atividade precária, mas procuraram trocar de posição nos últimos
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

12 meses. Pelo DIESE a taxa de desemprego somava em dezembro de 1995, 13,2% da


população economicamente ativa.
Ao contrário do DIESE, o IBGE usa critérios menos amplos e, por isso, mesmo as
pessoas empregadas de forma muito precária não são classificadas como desempregadas. Pelo
IBGE a taxa de desemprego ficou em 4,64%. Além disso, tem o desemprego estrutural,
chamado "mal do século", que vem castigando a economia brasileira desde o final dos anos
80.
Cabe salientar acerca do risco de desemprego em massa na cafeicultura
brasileira dentro de poucos meses, com efeitos danosos não só nas áreas rurais, como também
para quem vive nas cidades. Não faz sentido que uma atividade de tamanha dimensão
econômica não seja utilizada como instrumento de justiça social. No campo da organização
da sociedade civil, o cooperativismo é apontado pelo cafeicultor como um potente
instrumento para redistribuir renda.
Na globalização, em que cada país, cada empresa, cada pessoa, concorre com
todos os demais dos quatro cantos do planeta, a sociedade está sendo submetida a duras
provas, a um feroz ambiente de competição. Nesse ambiente, é o emprego e não mais o
consumismo que ronda as sociedades estáveis e estruturadas em classes.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na busca de uma compreensão da realidade social na qual está presente nosso


objeto de estudo é importante dizer que o estudo sobre o movimento da cafeicultura e
desemprego na região de Carmo do Paranaíba está presente sob os mais diversos aspectos,
dentro e fora do ambiente universitário. Esta pesquisa, por sua vez, a partir do que já foi
escrito academicamente, é permeada de reflexões sobre uma cultura vivida e referida pelos
próprios cafeicultores e trabalhadores do meio rural. A monografia é, com certeza, a forma de
se entender e perceber as nuanças e aspectos relevantes que se inserem no meio social
carmense.

Através da pesquisa, fomos chamados à reflexão sobre a história dos


trabalhadores rurais, fazendeiros, como também a mecanização e a conseqüente
desvalorização do emprego.

Nos dias atuais, percebemos considerações que tentam manifestar alternativas


para promover o emprego no meio rural. Pela constatação das transformações ocorridas em
Carmo do Paranaíba, muncipio que apesar de não contar com passado de cultivo de café e
nem estar situado no circuito tradicional da produção de café, transformou-se num curto
período de tempo num dos municipios de grande concentração cafeicultora do país, pdoemos
Ter uma idéia do grau de transformação por que está passando a agricultura brasileira.

Reconhecemos que muitos outros aspectos ainda deveriam ser levantados para a
complementação das informações apresentadas aqui e maior análise da mecanização da
lavoura cafeeira em Carmo do Paranaíba. Entretanto, em razão de dificuldades para o
levantamento de dados, uma vez que não são corretamente alocados, dificuldades no que se
refere a entrevistados, esses aspectos foram promovidos a objeto de pesquisa posteriores.
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