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INTRODUÇÃO
Escrever e pesquisar são, sem dúvida, tarefas que necessitam de muito esforço e
motivação, haja visto, o enorme valor que existe no trabalho do historiador. Historiar é refletir
acerca de pensamentos, memórias e fatos de um determinado ponto de vista ou
acontecimento. É perceber nas entrelinhas de uma fonte, seja ela escrita, iconográfica ou oral,
suas perspectivas e esperanças. Assim, como aprendizes de historiador, iniciamos a presente
pesquisa.
Através das palavras de Caio Prado Júnior, que nos diz que: "Todo povo tem na
sua evolução, vista à distância, um certo 'sentido'", 1 resolvemos escrever esta monografia a
qual relata os principais aspectos da história de uma cidade, pouco visitada pelos
historiadores do passado e atuais, assim debastamos o cipoal de histórias e memórias que a
acompanham e a fazem muitas vezes uma cidade complexa. É isto que se deve antes de mais
nada, procurar quando se aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o
momento ou o aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos não são senão
partes de um todo que devem ser sempre o objetivo primordial do historiador.
Sendo assim, o sentido de evolução de um povo pode variar; acontecimentos,
transformações internas profundas do seu equilíbrio ou estrutura, ou mesmo ambas, estas
circunstâncias podem intervir no processo histórico que será produzido.
Observando essa conjuntura, resolvemos iniciar um trabalho sobre “as histórias” e
“memórias” de Carmo do Paranaíba, procurando destacar três fenômenos que são realidades
na cidade: a queda do número de trabalhadores na lavoura cafeeira; o descontentamento dos
lavradores em relação a esse acontecimento; e as conseqüências da recente crise do café para
o município.
1
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 10.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 3
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
aumenta a produtividade e libera cada vez mais, mão-de-obra, provocando assim, o fenômeno
denominado êxodo rural.
Realizando a presente pesquisa, espera-se estar contribuindo com a cidade de
Carmo do Paranaíba, no sentido de mostrar que a mesma não é um ponto isolado no interior
do Estado. Além do mais, excetuando-se as obras de Hélio Hilton Rezende, "Cem Anos de
Carmo do Arraial Novo"2, e Silveira Neto com a obra História do Carmo do Paranaíba3
que dissertam acerca do município em pesquisa, não existem relatos que trabalham com a
presente temática.
Portanto, estaremos resgatando um espaço regional, que ao contrário do que
parece, está ligado ao resto do país. Procuraremos estudá-lo de acordo com sua própria
dinâmica e suas relações com o nacional e total, destacando uma parte da história carmense
que ainda não foi apresentada aos cidadãos do município.
As informações básicas que se inserem neste texto foram se dando a conhecer no
decorrer da própria pesquisa. Alguns sujeitos, neste sentido, forneceram elementos
importantes para abrir novos campos e entender outros. Por outro lado, outros indivíduos4
deixavam a desejar na escassez de informações a respeito da mecanização da lavoura cafeeira
em Carmo do Paranaíba, seja por receio ou até mesmo por desinteresse.
Primeiramente, cabe salientar que em nossa pesquisa, ocorre uma grande escassez
de informações, no que tange a cidade de Carmo do Paranaíba, como também sua produção
cafeeira. O primeiro passo foi conseguir obras de autores e memorialistas que falassem acerca
da cidade, para então com a história do município em mãos tentar organizar um grupo de
entrevistados e posteriormente pesquisar as fontes escritas (jornais e revistas).
Diante das fontes, em particulares as escritas, nos vimos no dilema de como
conseguir informações o mais verdadeiras possíveis5, sem adentrar em determinada facção ou
grupo político. Além disso, é necessário dizer que a maioria dos arquivos pesquisados, tanto
em Carmo do Paranaíba, como Patos de Minas, se encontra em situações precárias de
alocamento de periódicos, manutenção dos mesmos, falta de funcionários capacitados para
desempenhar o arquivamento adequado dos periódicos e outros problemas de alocamento.
2
REZENDE, Hélio Hilton. , Cem Anos de Carmo do Arraial Novo. Uberlândia: Editora Brasil, 1992. 184 p.
3
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba:s/editora, 1956.
4
Fazemos referência aos grandes fazendeiros que infelizmente, em suas entrevistas se refugiavam em respostas
evasivas e sem sentido, dificultando assim, a pesquisa oral.
5
Queremos deixar claro, que a posição de encontrar informações o mais “verdadeiras possíveis”, não quer dizer
que não nos deparamos com versões sobre um mesmo fato. Contudo, acreditamos que a história deve ser o
mais verdadeira possível até que se prove ao contrário.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 4
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
6
SAMUEL, Raphall. História local e História oral. In.: Revista Brasileira de História. São Paulo: Marco
Zero/ANPUH, 1990. p. 227/8.
.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 5
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
7
VISCARDIS, Claúdia Maria. História, região e poder: a busca de interfaces metodológicas. In.: Revista
Brasileira de História. São Paulo: Marco Zero/ANPUH, 1990. p. 25.
8
VISCARDIS, Cláudia Maria. Op. Cit. p. 23.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 7
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
CAPÍTULO 1
HISTÓRIAS - UM TEMPO, UMA CIDADE
9
MUNFORD, Lewis. A cidade na História. Brasília: Martins Fontes, 1982. p. 555.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
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A vasta área produtiva da qual pertence a cidade de Carmo do Paranaíba é formada tipicamente pelo cerrado,
assim, neste cenário a tecnologia chegou e destruiu grande parte da paisagem natural para dar espaço à
agricultura, principalmente a de subsistência: batata, cenoura, maracujá, o café do cerrado que está hoje no
mercado nacional e internacional.
11
O atual território do Alto Paranaíba, teve sua história ligada às bandeiras paulistas que adentravam o
continente em busca de metais e pedras preciosas e, secundariamente, da captura de índios . Toda essa área
tornou-se parte integrante da Capitania Geral de São Paulo. Salienta-se ainda que, as bandeiras partiam de São
Paulo para Minas Gerais e outras regiões. É pois a partir deste movimento bandeirante, que esta região,
integrou-se ao cenário nacional, como fornecedora marginal de metais preciosos e ponto de apoio aos núcleos
mineratórios do Centro – Oeste.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 10
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
Carmo
do Paranaíba
POPULAÇÃO PRESENTE
LOCALIZAÇÃO Recenseamento IBGE – 2000
DA POPULAÇÃO TOTAL
HOMENS MULHERES Números % sobre o total
absolutos geral
Sede (Carmo do
Paranaíba) 14. 977 14. 483 29. 460 82,05%
Vila de Quintinos
Quadro Rural 456 425 881 9,49%
745 956 1701 --------
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2000.
12
REZENDE, Hélio Hilton. , Cem Anos de Carmo do Arraial Novo. Uberlândia: Editora Brasil, 1992. 184 p.
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba: s/editora, 1956.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
13
NETO, Silveira. História do Carmo do Paranaíba. Carmo do Paranaíba: s/editora, 1956. p. 24.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 13
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
14
A Revolução Industrial foi o momento na história mundial marcado que consistiu num conjunto de mudanças
tecnológicas profundas na economia, que transformaram a humanidade a parir do século XVIII, prolongando-
se pelo XIX. A partir desse momento a máquina foi suplantando o trabalho humano e uma nova relação entre o
trabalho e o capital se impôs. Junto à Revolução Industrial emergiu um novo sistema econômico, político e
social, o capitalismo, que se tornou hegemônico ao longo do século XIX. Houve a substituição do trabalho
artesanal pelo trabalho assalariado, com o predomínio do uso de máquinas, o que significou uma profunda
transformação nas relações de trabalho, diretamente vinculadas ao capital.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 15
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
O trabalhador pode ser tanto rural quanto urbano. No nosso caso estaremos enfatizando o trabalhador rural,
destacando a mecanização do campo.
15
O trabalhador pode ser tanto rural quanto urbano. No nosso caso estaremos enfatizando o trabalhador rural,
destacando a mecanização do campo.
16
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 5ª ed.
São. Paulo: Boitempo, p-205. 2001.
17
VITA, Álvaro de. Sociologia da Sociedade Brasileira. 5ª ed. SP: Ática, 2001. p 94.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
18
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da Terra. Editora Hucitec. São Paulo. 1986. p. 09.
19
MACHADO, Maria Clara T. Cultura Popular em Minas Gerais – Transformações, persistências e
desagregação. São Paulo: Universidade de São Paulo. p. 07
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 17
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
Pode-se observar que a agricultura é o grande ramo produtivo que produz receita
para o município, além de também possibilitar a maior arrecadação. É bom lembrar que a
agricultura continua presente e atuante na sociedade. Apesar de todas as mudanças por quem
tem passado a sociedade brasileira, a estrutura da terra continua a ser calçada sobre os
mesmos interesses que norteavam a colonização e que privilegiam apenas um pequenos
número de fazendeiros em detrimento do restante da população rural. Nessa perspectiva, para
que a agricultura consiga dar continuidade a sua participação no processo de desenvolvimento
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 18
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
deve implementar alguns fatores fundamentais, os quais cita-se: em primeiro lugar do nível
técnico da mão-de-obra, em segundo lugar do nível de mecanização e em terceiro lugar do
nível de utilização de adubos e da existência de variedades adequadamente selecionadas.
A cafeicultura é a principal de riquezas, além de ser também o setor que absorve a
maior parte da mão-de-obra não qualificada. Além disso, o café produzido em sua quase
totalidade é exportado para o Mercado Comum Europeu e Japão.
A Fazenda Paraíso, de propriedade dos irmãos Shimosaka, exporta diretamente
para o Japão o café nela produzido. Naquele país, seu produto é comercializado com o nome
de “Café do Carmo”, após cuidadosa preparação dentro de noderníssimos métodos de
torrefação, moagem e embalagem.
Além desta, existem também em Carmo do Paranaíba as empresas Andrade e
Irmãos, Agropecuária Manoel Veloso dos Reis (MVR), Cooperativa Sul-Brasil,
Agropecuária de Carmo do Paranaíba, Cooperativa de Mirandopólis e Paulo Veloso dos
Santos.
Os cafeicultores através de cooperativas e associações, estão se mobilizando,
visando, melhorar o produto final e assim obter remuneração mais compensadora para o
mesmo. A crise, entretanto, ronda o empreendimento. Para se ter uma idéia uma saca de café
tipo exportação, que deveria ter um preço de US$150 dólares, hoje é vendida por apenas US$
100 dólares. Nossa cafeicultura sofre concorr6encia não só de países tradicionalmente
produtores, como de muitos outros incipientes na cafeicultura.
Para garantirem seu produto tanto no mercado nacional quanto no internacional,
os produtores de café carmenses, tiveram que investir e modernizar a produção de café, desde
o plantio até a colheita. Por volta de 1990, a produção de café do município sofreu uma
grande mecanização, principalmente no que se refere a colheita. Foram colocadas na lavoura
máquinas colheitadeiras que realizam o trabalho de centenas de trabalhadores. Em
conseqüência disso, os trabalhadores que são "substituídos" pelas máquinas, são jogados para
fora de seus empregos.
Com o recente e considerável desenvolvimento da cafeicultura, em conseqüência
da exploração do cerrado, antes improdutivo, a economia da cidade sofreu grande impulso,
refletindo na dinamização do comércio e da construção civil.
É bastante acentuada a importância da agricultura na economia local. A cultura
mais disseminada é a cafeicultura, que lidera também a safra carmense. Este produto
representa mais de 51% da produção agrícola municipal.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
café
feijão
laranja
mandioca
20
Arquivo da Prefeitura Municipal de Carmo do Paranaíba. 2000.
21
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 14.
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EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
CAPÍTULO 2
A MECANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA CARMENSE
TRAJETÓRIAS
A sociedade brasileira não pode ser compreendida sem que se tenha em mente o
peso de um passado colonial e escravista e um presente marcado pela dependência em relação
às economias dominantes do mundo atual. Assim, ausência de autonomia ou pelo menos, a
existência de uma autonomia muito limitada sempre marcou a vida e a ação dos personagens
centrais do processo histórico agrário brasileiro - o senhor de terras, o escravo, o índio, o
sertanejo, o fazendeiro-capitalista, o empresário urbano, o lavrador, as classes médias, o
operariado urbano e rural.
Uma das características da economia do café23 tem sido, ao longo de sua história,
o fenômeno dos ciclos de prosperidade e declínio. Enquanto a produção se concentra nos
países tropicais, os grandes mercados consumidores localizam-se na Europa e na América do
22
NETO, Wenceslau Gonçalves. Agricultura e política agrícola na década de 70: a cafeicultura em
Araguari – Minas Gerais. Campinas: Universidade estadual de Campinas, 1983. p. 83.
23
O objeto de análise do referido texto - o café - era um produto destinado a abastecer os mercados externos.
Era uma mercadoria, no qual, as práticas capitalistas cafeeiras não se limitaram ao comércio com os mercados
metropolitanos. O comércio mundial do café movimenta bilhões de dólares e mais de vinte milhões de pessoas
dependem, em quarenta países, da economia cafeeira como meio de subsistência.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 22
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
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Cabe salientar que, na perspectiva brasileira o cafeeiro não se fixou na região amazônica pela ausência de
boas condições para seu desenvolvimento. A cultura foi tentada depois no Nordeste brasileiro sem resultados
satisfatórios. A introdução do café no Rio de Janeiro, então capital do Brasil colonial, se deu por volta de 1760.
A situação no final do século XVIII era de miséria. O sonho do ouro transformara-se em pesadelo. As lavras
esgotadas não atraíam mais os aventureiros. A emigração para as minas cessara por volta de 1780 e aos poucos
os bandeirantes desiludidos voltavam-se para a agricultura, quase sempre de mera subsistência, num esforço
lento e difícil de readaptação. A cultura mais rentável economicamente era a cana-de-açúcar. O comércio
exterior da província não tinha qualquer relevância. Ocorreu, então, a penetração do café através da região
fronteiriça. O oeste foi a região mais procurada, até estender-se pelo norte do Paraná. Com o café, chegaram as
ferrovias e, com elas, colonos estrangeiros e o comércio semi-sedentário. Um dos estados mais pobres da
federação haveria de se transformar no mais pujante de todos, graças à monocultura cafeeira.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 23
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
plantações nos últimos anos do império e nos primeiros anos da república foram tantas que,
ao iniciar-se o século XX, só a exportação do produto somou 14.760.000 sacas. O "ouro
verde" representava um novo ciclo econômico no Brasil, criando novas possibilidades de
acumulação de capital. Depois dos senhores de engenho, que foram os barões do açúcar, os
fazendeiros os barões do café tornaram-se a camada dirigente brasileira.
Em 1906, ocorreu uma superprodução de café. A fim de evitar uma crise grave, os
estados produtores decididiram tomar medidas em comum para a defesa dos preços do
produto.
O convênio de Taubaté marca o início da política de valorização cafeeira. O
encargo do convênio recaiu sobre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,
vigorando até 1929.
A partir do Convênio de Taubaté , o governo passou a intervir no mercado de
café. As principais intervenções verificaram-se no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922);
após a Primeira Guerra Mundial; e no governo de Artur Bernardes (1922-1926), quando se
passou à valorização permanente, em conseqüência de um desvirtuamento das funções do
Instituto do Café de São Paulo, fundado para regulamentar o escoamento das safras. A
valorização fez-se pela retenção das sobras de exportação e do consumo interno,
comprometendo-se alguns grupos estrangeiros a financiar os estoques. Com a subida dos
preços, outros países com solos adequados à cultura do café aumentaram sua produção e
passaram a competir no mercado mundial.
O colapso da bolsa de Nova Iorque, em outubro de 1929, aliado à superprodução,
trouxe, como reflexo econômico, a derrubada dos preços do café, em plena campanha política
para a sucessão do presidente Washington Luís. Durante o decênio 1931-1940, foram
incineradas 71.068.581 sacas, quantidade que daria para atender ao consumo mundial durante
três anos.
A vitória da revolução de 1930 foi responsável por mudanças consideráveis no
panorama político brasileiro. O novo governo, encabeçado por Getúlio Vargas, surgiu de um
movimento que aglutinou diversas forças sociais (oligarquias dissidentes, classes médias,
setores da burguesia urbana) e instituições (notadamente o exército), reivindicando
participação política em um cenário dominado exclusivamente pela oligarquia cafeeira.
Trata-se de uma novidade na história do país, uma vez que, desde a
independência, os governos representaram uma única classe. Assim, o Estado imperial
brasileiro que emergiu das lutas do período regencial representava a aristocracia rural
escravocrata, enquanto a República instalada em 1889 era liderada pelo grupo cafeeiro. No
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 24
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
estoques de café, ou seja, a queima dos excedentes invendáveis. Até 1944, enquanto durou
essa política de compra e queima de café, foram destruídas mais de 78 milhões de sacas (14
milhões só em 1931).
No entanto, essa política de compra e queima de café trouxe conseqüências
benéficas para a economia já a curto prazo. O comprometimento do governo com a
manutenção da demanda de café ajudou a manter em funcionamento a economia brasileira,
pois, graças à atividade cafeeira foram sustentadas as atividades comercial e bancária, as
ferrovias e até a pequena indústria nacional; todos esses setores, de alguma maneira
dependiam dos recursos gerados pela cafeicultura.
Além da cafeicultura, o setor que mais se beneficiou da política governamental
foi o industrial. A economia brasileira retomou à atividade normal, enquanto grande parte do
mundo ainda amargava a Depressão. Ao mesmo tempo, praticamente inexistia a
entrada de moeda estrangeira no Brasil, uma vez que o café, principal fonte de divisas, agora
era vendido para o governo, que , obviamente, remunerava os cafeicultores com moeda
nacional. Assim, inviabilizavam-se as importações. As emissões de papel-moeda ajudavam a
desvalorizar o mil-réis, dificultando ainda mais as importações. Todos esses fatores
encorajavam o desenvolvimento de uma produção industrial nacional.
CAPÍTULO 3
CAFEICULTURA: MECANIZAÇÃO E DESEMPREGO
25
Énile Zola. O Idílio. São Paulo: Clube do Livro, 1966. p. 134.
26
NETO, Wenceslau Gonçalves. Op. Cit. . p. 99.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 28
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
A partir dessa visão era preciso implementar, assim como, promover uma
evolução nos moldes da produção em larga escala, de sorte a ampliar as possibilidades de
realização do capital.
O PRRC atacou em duas frentes: nas antigas áreas produtoras, de onde o café
havia sido erradicado e que contava com a infra-estrutura para a cultura, e em áreas novas,
procurando difundir o plantio por regiões até então fora do circuito do café.
Referindo ao cerne da presente discussão, como o Brasil, Carmo do Paranaíba é
uma cidade que não possui uma diversidade muito grande em trabalhos, são muito poucas as
chances de se conseguir emprego. Este efeito é visto perfeitamente, uma vez que, desde o
aparecimento do capitalismo, ocorre uma tentativa transformações que culminassem no lucro
máximo. Com a revolução tecnólogica das três últimas décadas do século XX, o trabalho
humano passou a ser substituído por máquinas e processos produtivos cada vez mais
complexos e sofisticados.
Além da busca constante pelo capital máximo, soma-se a esse problema a grande
queda do preço do café ocorrida na safra de 2000, no que se refere ao município de Carmo do
Paranaíba, levando os produtores a grandes prejuízos e conseqüentemente mais trabalhadores
rurais ao desemprego. Essa situação complica-se ainda mais, levando-se em conta que Carmo
do Paranaíba é uma cidade que vive da monocultura. Vários setores foram afetados com a
diminuição dos empregos, seja em virtude da mecanização da lavoura, ou da queda do preço
do café. Os principais setores atingidos foram o comércio, em decorrência da queda do poder
aquisitivo dos trabalhadores, e a Prefeitura Municipal, em fator da arrecadação de tributos
provenientes da produção do café.
Como colocamos anteriormente, o processo de modernização da agricultura na
década de 70 visava, em seu maior sentido, aliviar a economia nacional de diversos entraves à
continuidade de seu crescimento, tais como a elevação dos preços dos produtos agrícolas para
o consumo da população urbana, bem como das matérias-primas das indústrias em
27
DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ática, 1997. p. 28.
28
Entrevistado 01 - Carmo do Paranaíba. Maio de 2003.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 30
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS
desempregados
empregados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecemos que muitos outros aspectos ainda deveriam ser levantados para a
complementação das informações apresentadas aqui e maior análise da mecanização da
lavoura cafeeira em Carmo do Paranaíba. Entretanto, em razão de dificuldades para o
levantamento de dados, uma vez que não são corretamente alocados, dificuldades no que se
refere a entrevistados, esses aspectos foram promovidos a objeto de pesquisa posteriores.
A MECANIZAÇÃO DA CAFEICULTURA - CARMO DO PARANAÍBA 34
EVOLUÇÃO – TRAJETÓRIA – PROBLEMAS