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SEBASTIÃO DOS SANTOS PERES

A CULTURA DO FUMO CAPOEIRINHA


NO MUNICÍPIO DE GUIMARÂNIA
1970 - 2003

Monografia apresentada como


requisito para conclusão do curso
de História do Centro
Universitário de Patos de Minas,
sob a orientação do prof. Altamir
Fernandes de Sousa.

UNIPAM - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS


PATOS DE MINAS, OUTUBO DE 2003.
1

SEBASTIÃO DOS SANTOS PERES

A CULTURA DO FUMO CAPOEIRINHA


NO MUNICÍPIO DE GUIMARÂNIA
1970 - 2003

Orientador: Altamir Fernandes de Sousa

UNIPAM - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PATOS DE MINAS


PATOS DE MINAS, OUTUBRO DE 2003.
2

Ao meu afilhado Ricardo, que


sempre me foi fonte inspiradora,
para transpor os obstáculos que a
vida nos impõe,

dedico este trabalho.


3

Agradeço primeiramente a Deus pela saúde que nos


possibilita galgar os degraus da vida.

A minha mãe, que embora carente de recursos, no início


de minha vida, nunca mediu esforços rumo à perspectiva
de um futuro melhor, para mim e meus irmãos.
Ao meu pai, que partiu desta vida muito cedo, mas com
tempo suficiente para nos deixar o exemplo de amor
pelo trabalho e honestidade.

Ao professor Altamir, pela orientação, e aos professores


Roberto Carlos e Sisele, pela prontidão em compor a
mesa examinadora.

À família Valadão que, na pessoa de meu primo


Joaquim, professor de História, estendo minha gratidão
aos seus irmãos e irmãs, pela influência positiva, na
minha infância, para que eu continuasse meus estudos.

Meus sinceros agradecimentos.

Sebastião
4

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................. ................. 05


INTRODUÇÃO....................................................................................................................................... 06
CAPÍTULO 1 – O FUMO NO MUNDO E SUAS ORIGENS .............................................................. 10
1.1. O Fumo no Mundo .................................................................................................................. 10
1. 1.1. Sua Expansão ........................................................................................................ ... 10
1. 1.2. Proibições.................................................................................................................. 11
1.2. O Fumo no Hoje: sua Importância no Brasil e no Mundo......................................................... 13
1.3. O Fumo no Brasil..................................................................................................................... 14
1.3.1. A Elevada Tributação................................................................................................. 17
1.3.2. A Importância Social do Fumo no Brasil..................................................................... 18
1.4. O Fumo no Município de Guimarânia – Importância e Conjuntura.......................................... 19
CAPÍTULO 2 – DA SEMENTE AO PRODUTO FINAL...................................................................... 23
2.1. O Cultivo da Planta..................................................................................................... ............. 23
2.2. O Preparo das Folhas para a Confecção das Cordas.................................................................. 30
2.3. A Comercialização e o Consumo........................................................................................... ... 34
CAPÍTULO 3 – CIGARRO DE PALHA X CIGARRO DE PAPEL..................................................... 37
3.1. As Estatísticas ........................................................................................................ ................. 39
3.2. Campanhas Antitabagistas....................................................................................................... 41
3.3. Mas por que as Pessoas Fumam?........................................................................................... ... 42
DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................................... 44
CONCLUSÃO.................................................................................................................... ..................... 46
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. .................... 47
ANEXOS.................................................................................................. ............................................... 48

LISTA DE FIGURAS
5

Figura 1 – Brasão do Município de Guimarânia.............................................................. 49


Figura 2 – Bandeira do Município de Guimarânia........................................................... 50
Figura 3 – Posição do Município de Guimarânia............................................................. 51
Figura 4 – Andaimes para a cura das folhas de fumo........................................................ 52
Figura 5 - Destala e acochação....................................................................................... 53
Figura 6 – Acochação.................................................................................................... 54
Figura 7 – Cordoamento................................................................................................ 55
Figura 8 – Formação do rolo.......................................................................................... 56
Figura 9 – Reviração em “grade”.................................................................................... 57
Figura 10 – Fermentação – exposição ao sol................................................................... 58
Figura 11 – Venda fracionada do fumo em corda capoeirinha......................................... 59

INTRODUÇÃO
6

Este trabalho dispõe de três capítulos acerca do fumo - no mundo, no Brasil e, no


centro das atenções, o fumo em corda no município de Guimarânia, MG.
O capítulo I é, praticamente, uma introdução aos capítulos subseqüentes,
registrando uma trajetória plausível para o fumo, desde a chegada de Colombo à América até
os dias atuais.
Num primeiro momento, traça referências ao fumo no mundo, sua disseminação
por todos os continentes. Em seguida, descreve os diferentes métodos repressivos de diversos
países, tencionando coibir a sua utilização.
Através de dados colhidos da obra de Guido Zeffrin, que escreve a pedido da
AFUBRA (Associação dos Fumicultores do Brasil), constata-se a importância da atividade
fumageira por mais de uma centena de países, ocupando, direta e indiretamente, mais de 100
milhões de pessoas.
No Brasil, desde a época colonial, o fumo assumiu lugar privilegiado na economia
brasileira, ora exportado para a Europa, ora servindo de moeda na compra de escravos, sem se
esquecer do consumo interno.
Recorrendo-se à bibliografia a respeito do tema, constata-se o progresso
econômico da fumicultura brasileira; sua importância foi tal que no brasão de armas do
Império figurava, além do café, um ramo da solanácea.
Ultimamente, o Brasil alterna com os Estados Unidos a posição de maior
exportador mundial de tabaco. Em 2001, o Brasil ostentava o primeiro lugar nas exportações e
o terceiro em produção, contribuindo com mais de 10% da receita tributária federal.
Na última parte do primeiro capítulo, enfoca-se o fumo no município de
Guimarânia, sua importância e conjuntura. Apresenta o fumo em corda, denominado
capoeirinha, como o principal produto da época da instituição da bandeira e do brasão do
município, em 1979, onde, como no Império, estampam também seus ramos. Desta vez, não
apenas um, mas doisfloridos.exemplares.
7

Conforme constatação, através de pesquisa de campo, a atividade fumageira deste


município passa por um processo de decadência, que ora é superada por outros segmentos
econômicos.
Um dos motivos observados para esse declínio aponta para a conscientização da
população quanto à desvantagem em se fazer uso do fumo. Outro seria o fato de o cigarro de
papel haver dominado esse mercado. Ainda outra causa da queda do consumo do fumo
capoeirinha decorre do êxodo rural das últimas décadas, subtraindo mão - de - obra para a sua
produção. Deve-se considerar, também, que o fumo em corda, hoje, restringe quase que ao
consumo em cigarro de palha e apreciado por pessoas mais idosas. Os mais novos fumantes
preferem os cigarros industrializados, talvez pela comodidade.
Observa-se que os métodos utilizados para a fabricação do fumo capoeirinha
permanecem, praticamente, inalterados por várias décadas. Algum progresso se verifica no
meio de transporte, nalgum instrumento empregado, na preparação do solo para a formação do
fumal.
Como a fiscalização parece não cumprir seu papel, raro são aqueles produtores ou
comerciantes do fumo em corda capoeirinha que prestam conta ao fisco, e quando o fazem,
declaram quantidades e valores irrisórios. Por isso, ser, no momento, impossível apresentar
gráficos e tabelas a respeito.
Outro fato importante é a recusa por parte da maioria dos fabricantes em prestar
informações sobre esta atividade, temendo alertar a fiscalização.
Quanto a preços do produto faz-se conveniente registrar que, em outubro deste
ano, um quilograma do fumo capoeirinha classificado como de primeira qualidade, custa, em
média, R$ 30,00. Isso para aquisição em estabelecimentos comerciais, que vendem, também,
de forma fracionada, em gramas ou em medida linear. No local de produção, o preço decresce
uns 40% desse valor (vide anexo, p.59).
Já, a quantidade de fumo fabricada, neste ano, no município de Guimarânia, está
estimada em 20 toneladas, conforme cálculo de alguns entendidos do assunto.
No capítulo II discorre-se sobre o cultivo da planta herba nicotiana, desde a
escolha da semente até o produto final, a comercialização da produção e o consumo.
Baseia-se nos conselhos agronômicos, captados da bibliografia concernente, relacionando-os
com as técnicas tradicionais dos fumicultores do fumo em corda capoeirinha, colhidas através
de entrevistas a fabricantes e, sobretudo, a ex-fabricantes, revelando suas peculiaridades.
8

A partir do segundo sub-capítulo, dar-se-á ênfase às operações peculiares à região


de Guimarânia, na fabricação do fumo capoeirinha.
Já o terceiro sub-capítulo alude à comercialização e o consumo do “capoeirinha”
no pós 1970 até hoje. Demonstra que os motivos do declínio dessa atividade decorre,
sobretudo, da invasão no mercado brasileiro, do cigarro sonegado, contrabandeado e
falsificado proveniente, principalmente, do Paraguai.
No último capítulo argumenta-se a favor do fumo artesanal em corda capoeirinha
em detrimento do cigarro de papel, industrializado. Sendo que o primeiro não contém certos
elementos estranhos ao produto encontrados em cigarros.
Mostram-se estatísticas com dados alarmantes sobre os efeitos nocivos do fumo à
saúde, sobretudo, aos fumantes de cigarros, que em uma análise feita no início dos anos de
1980, encontraram-se vinte e um tipos de venenos, além da nicotina.
Menciona-se, também, sobre as campanhas antitabagistas que têm evoluído, nos
Estados Unidos, desde 1966 e no Brasil, a partir da década de 1980.
Por fim, procura-se diagnosticar o por que de as pessoas fumarem, a implicação
do ato de fumar, hoje, em relação a décadas anteriores. Completando o capítulo, inserem-se
relatos de fumantes e ex-fumantes aconselhando evitar a primeira tragada ou, se viciado,
deixar de uma só vez o vício.
Este trabalho visa construir uma história dessa atividade rural, e às vezes urbana
na sua fase final, que se definha, e quiçá, poderá desaparecer um dia, esta que outrora fez
riqueza para a região.
Há a pretensão que se constitua num ponto de partida àqueles que, porventura,
venham a se interessar em conhecer um pouco daquilo que foi parte de nossos antecessores, e
até mesmo de muitas pessoas que ainda persistem nesta ocupação.
Este trabalho será muito importante para a sociedade guimaraniense e patense, que
poderão ter uma concepção mais completa dessa atividade, marcante para a região.
Importante, também, por não haver, até o momento no acervo do curso de História
da FAFIPA (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Patos de Minas), até o momento,
pesquisa sobre essa temática, pelo menos referente ao espaço geográfico em questão.
Objetiva este trabalho identificar a importância da atividade fumageira neste
município, sua conjuntura atual, seu processo específico de fabricação, mão-de-obra utilizada,
comercialização, consumo.
9

Visa, também, mostrar que este fumo contribui para a fixação do homem no
espaço rural, que já se encontra um tanto despovoado, e que o seu consumo mostra-se menos
prejudicial que o cigarro de papel.
O fumo em corda, ou se preferir, fumo de rolo capoeirinha, por sua fama, resultou
no fato de o fumo desfiado de outra região, de Astolfo Dutra, Minas Gerais, adotar, o nome
“capoeirinha”, como acontece com uma localidade do município de Guimarânia, que sempre
honrou este nome, pela expressiva produção deste importante produto.
10

O FUMO E SUAS ORIGENS

1.1- O Fumo no Mundo

A origem do fumo ainda permanece obscura.

Segundo pesquisa de Jean Baptiste Nardi, publicada no Informativo da Abifumo,


existem, pelo menos, duas correntes pretendendo elucidar o surgimento e a difusão
da fumicultura pelo mundo. Para uns, o fumo seria originário das Américas; para
outros, o tabaco designaria certas plantas já fumadas na Ásia, desde o Século IX,
provavelmente em cachimbos.1

Quando Cristóvão Colombo desembarca em Cuba, em 1492, testemunhou o


hábito de fumar folha de tabaco, comprovando que a história do fumo, na América, começa
antes da chegada dos europeus. A hipótese mais provável é a de que a planta teria surgido nos
vales orientais dos Andes bolivianos, espalhando-se até o Brasil, pelos indígenas, sobretudo,
os da tribo Tupi-Guarani.

1.1.1-Sua Expansão

Em um século apenas, após a chegada de Colombo à América, o fumo tornou-se


conhecido e usado em todo o mundo, expandindo-se de duas maneiras: a primeira, através dos
marinheiros e soldados, para quem o fumo era um bom passatempo, durante longas viagens a
segunda, por meio das expedições portuguesas ao Brasil, que levaram a planta para Portugal e
França, difundindo-se, em seguida, por outros países europeus.Sob o ponto de vista

1
ZEFFRIN, Guido. O fumo no Brasil e no mundo. Santa Cruz do Sul: Afubra, 1995, p.18.
11

terapêutico, até o ministro francês Jean Nicot, acreditado junto à coroa portuguesa, volveu sua
atenção ao tabaco, remetendo sementes da solanácea à Maria de Médicis, rainha de seu país.
Dessa maneira, ter-se-ia introduzida a planta nas mais altas rodas, passando a ser denominada
a planta rainha.
Apesar de Nicot não ser o descobridor do tabaco, não conhecer a nicotina, nem ser
fumante, em sua homenagem, o francês Delachamp pôs nesta planta o nome de herba
nicotiana.
Entretanto, o homem que, realmente, prestou grandes serviços ao tabaco e a quem
se deve a disseminação do cachimbo pelo Velho Mundo foi comandante inglês Sir Walter
Raleigh. No ano de 1584, enviou uma expedição à América Setentrional, fundando-se aí, em
homenagem à rainha virgem, uma colônia com o nome de Virgínia. Os colonos não
suportando por muito tempo a vida colonial, regressaram, após dois anos, a Plymouth. A
multidão, apinhada no porto, ficou impressionada com os estranhos objetos que traziam entre
os dentes e dos quais saiam fumaça. Eram cachimbos... Um deles foi presenteado a Raleigh,
que se manteve fiel a ele até à morte.

1.1.2- Proibições

Desde o início, os marujos e soldados eram fervorosos adeptos do tabaco. A


Guerra dos Cem Anos, por exemplo, ensinou a Alemanha a fumar. Em todos os exércitos
europeus, passou, o cachimbo a pertencer aos equipamentos do soldado. Na França, no
reinado de Luiz XIV, era vedada a cultura do tabaco; na Inglaterra análoga proibição persistiu
até 1919.

Um dos reis da França, inimigo figadal do fumo, após um banquete que oferecera
aos seus cortesãos, mandou servir charutos feitos com excrementos de animais, e
depois de ouvir elogios a respeito desses charutos, disse: - Maldito esse vício que
não permite ao homem reconhecer nele o excremento de animais2.

Primeiramente, acreditava-se ser o fumo, medicinal. Em breve, todavia, começa a

2
SILVEIRA, Ájax C. da. O Drama do Tabagismo: causas, conseqüências e solução. 13 ed. Casa Publicadora
Brasileira. Santo André - São Paulo, 1984.
12

ser combatido não só em virtude de ponderações médicas, como também morais.


Considerava-se que o fumo era companheiro da desordem, do vinho e das “esferas de livre
pensamento”. Os catedráticos da Universidade de Leyde (Sul da Holanda) afirmava a seus
estudantes que o vício de fumar deixava o cérebro carbonizado. O clero da Rússia acreditava
que os fumantes daquela “erva diabólica” aspiravam a mesma fumaça, na qual os pecadores
purgaria todas as faltas nas fogueiras do inferno.
Hoje, não há jornal nem revista que não se estampem, em suas páginas,
advertências sobre os supostos malefícios do fumo.
Países desenvolvidos já estão questionando, seriamente, as campanhas
antitabagistas. As estatísticas dão conta que mais de 1,8 bilhões de pessoas seriam, no ano de
1995, conforme Zeffrin, em sua obra, deste mesmo ano, afetadas por doenças que poderiam
ser prevenidas mediante vacinação; que a malária matará em torno de um milhão de pessoas,
ferimentos e envenenamentos estarão na ordem de 630 mil; a tuberculose e sarampo, perto de
meio milhão.
Segundo Zeffrin (1995: 126), recente divulgação de 67 Ministros de Saúde, a
maioria de países desenvolvidos, revela que o fumo, estatisticamente, figura entre as suas
menores prioridades.

Conforme uma publicação da FAO (Organização das Nações Unidas para a


Alimentação e Agricultura), a pobreza e a desnutrição podem ser alencadas entre
maiores riscos de saúde para um enorme contingente de pessoas, notadamente nos
países em desenvolvimento, do que o fumo. E alerta que a fumicultura, nos países
em desenvolvimento, pode ser de fundamental importância para o alcance de
objetivos a curto e longo prazo3.

A origem dessa elevada tributação fundamenta-se em frustradas tentativas de


combater o tabagismo, no mundo inteiro. Para os índios, o uso do fumo, era apenas uma
formalidade religiosa, não constituía prazer nem vício.
Os jesuítas, por conseguinte, identificavam-no com a prática de cultos diabólicos.
E os padres chegavam a perseguir aos brancos que nelas se envolviam.
Nos países da Europa, o combate ao uso do fumo era severo, valendo-se, até, de
castigos físicos como punição aos fumantes. Na Rússia, quem fosse surpreendido fumando ou
cheirando rapé, teria cortado o nariz. Na Itália, fez tais progressos, que uma bula do Papa

3
ZEFFRIN, Guido. Op. cit., p. 127.
13

Urbano VIII determinou pena de excomunhão aos que, na Igreja, ousassem tomar rapé. A
bula, no entanto, foi suspensa, um século depois, por Benedito XIII, apreciador do produto.
Os castigos físicos foram substituídos por elevados tributos, regulamentação da publicidade,
com advertências alertando para o mal do fumo à saúde. Nos últimos anos, a publicidade
sobre o fumo está proibida em todos os meios de comunicação.

1.2- O Fumo Hoje: sua Importância no Brasil e no Mundo

Conforme a AFUBRA (Associação dos Fumicultores do Brasil), o fumo é,


atualmente, a principal planta não alimentícia cultivada em todos os cantos do mundo. Sua
produção anual chega a seis milhões de toneladas, com crescimento previsto pela FAO de 1 a
1,5% a.a até 2005, movimentando cerca de 20 bilhões de dólares.
A China é o principal produtor mundial, correspondendo a quase 50% do produto
produzido e consumido, no mundo. A contribuição brasileira, no mercado mundial, aproxima-
se dos 10%. A comercialização internacional alcança em torno de 25% de todo o tabaco
produzido. Países como o Zimbabwe e o Malawi têm no tabaco e seus derivados, sua maior
fonte de geração de empregos e o mais importante produto de exportação. No Zimbawe, o
fumo responde por 6% do PIB (Produto Interno Bruto) e por 14% no Malawi. Por constituir-
se em cultura de mão-de-obra intensiva, o fumo é responsável pela criação e manutenção de
cerca de 33 milhões de empregos nas lavouras mundiais. O número de pessoas ocupadas
direta ou indiretamente na atividade fumageira aproxima-se de 100 milhões.
Apesar de ser cultivado em mais de 100 países, os maiores produtores ainda são
os mesmos dos últimos anos. Entretanto, a balança de exportação varia bastante. A China e a
Índia, como a maioria dos produtores, consomem, praticamente, toda a sua colheita. Dois
terços do fumo produzido no mundo provêm de 6 países: China, E.U.A., Brasil, Índia, Turquia
e Zimbabwe. Em 2001, o Brasil ostentava o terceiro lugar, entre os produtores mundiais de
tabaco. Os quatro maiores produtores seguintes são: Indonésia, Malawi, Itália e Grécia.
Entre os 74 países exportadores de fumo, destacam-se o Brasil, E.U.A. e
Zimbabwe.
As plantações de tabaco ocupam 0,3% das áreas atualmente cultivadas – menos da
metade da área destinada ao café (0,7%). Por isso, segundo a UNCTAD, entre os 30 produtos
14

agrícolas de maior expressão mundial, o tabaco é o mais estável e o de maior rentabilidade por
área cultivada.
O fumo constitui, hoje, um dos fatores mais importantes da economia dos 103
países que exploram esta cultura. São milhões de famílias envolvidas no processo produtivo
gerando muitos empregos no meio rural e urbano.
As indústrias recolhem, anualmente, altas cifras aos cofres públicos, em forma de
impostos. Importantes divisas são geradas através das exportações.
Conforme gráfico fornecido pela AFUBRA, quanto à produção mundial por tipos
de fumo, fora do setor cigarreiro, o fumo de corda, onde se insere o desfiado, destaca-se em 2º
lugar. Sua produção e consumo se concentram, basicamente, na Índia, China e Indonésia.

1.3- O Fumo no Brasil

Para os índios brasileiros, o fumo possuía caráter sagrado e origem mítica. De uso
limitado, geralmente, a ritos mágico-religiosos e fins medicinais, reservado, apenas, aos pajés
e usado em cerimônias tribais. Acreditavam que a fumaça era purificadora, que os protegiam
contra os maus espíritos. Também que a planta possuía propriedades curativas para feridas,
enxaquecas e dores de estômago.

Das formas do consumo do fumo, os índios adotavam pelo menos seis usos diferentes: poderia ser comido,
bebido, mascado, chupado, transformado em pó e fumado. Porém, entre todas essas formas, o hábito de
fumar era seguramente, o mais importante4.

Os colonos brasileiros passam, inicialmente, a adquirir o fumo dos índios, através


do escambo. Porém, repetidas guerras, entre os dois grupos, forçaram seu cultivo pelos
colonos, a partir de 1570. Objetivava, no início, o consumo próprio, depois, o comércio com
os comerciantes portugueses, tencionados a abastecer o mercado europeu.

“No final do século XVI, com a elevação dos preços do fumo, o contrabando
floresceu, envolvendo padres e freiras. Isso porque as autoridades não podiam entrar
nos conventos5“.

4
ZEFFRIN, Guido. Op. cit., p, 19.
5
NARDI, Jean Baptiste. O Fumo no Brasil – Colônia. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 37.
15

Jean Baptiste Nardi, em sua obra, reconhece que o fumo brasileiro foi sempre
considerado como uma atividade secundária da economia colonial, porém, seu estudo mostra
que, pelo contrário, ele foi um “gênero primordial”, apesar de ser muito “entravado”, pelas
leis, impostos e taxas.
Lembra Nardi que, em 1674, o aumento da massa dos rolos – de 4 a 5 arrobas, a
pedido dos comerciantes, passou em poucos anos a 10 – 12 arrobas. Com isso, o rei de
Portugal limitou a 8 arrobas, estabelecendo, em 1713, um mínimo de 6 arrobas. Contudo, o
tamanho dos rolos continuou aumentando cada vez mais, chegando a pesar cerca de 20
arrobas, no final do século XVIII. O motivo desse aumento da massa dos rolos se explica pelo
fato de a Alfândega de Lisboa taxar o fumo, de modo quantitativo dos rolos.
As lavouras de fumo ocupavam pequenas áreas, na costa, entre Salvador e Recife
e, sobretudo, no recôncavo baiano.
O fumo brasileiro tomou três dimensões: o de primeira e segunda qualidade era
destinado a Lisboa, sendo sua maior parte reexportada para outros países da Europa. Uma
outra parte servia de moeda, no período colonial, para o comércio de escravos com a África. E
a de terceira destinava-se ao consumo interno. É verdade que, nenhum outro produto colonial
se propagou, no continente europeu, com tamanha rapidez e angariou tantos apreciadores
como o tabaco. Foi como fogo em palha seca!
No entanto, conforme Guido Zeffrin (1995:20), a produção de fumo, durante o
período colonial, segundo relata a pesquisa de Jean Baptiste Nardi, apresentava numerosas
variações por causa das pragas que atingiam a planta, e das chuvas e secas que reduziam as
safras. O fumo brasileiro beneficiou-se, porém, de conjunturas que favoreceram o seu
desenvolvimento. Em 1680, já atingia 3.750t, e continuou crescendo com a política de
fomento à agricultura implantada pelo Marquês de Pombal.
Abrem-se novas fronteiras além da Bahia. Começa-se a aparecer áreas fumageiras
em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, e de forma mais acentuada no Rio Grande do Sul, com a
chegada de imigrantes europeus. Em 1824, o fumo começou a ser cultivado na colônia de São
Leopoldo e, em 1850, na colônia de Santa Cruz do Sul, futura Capital Mundial do Fumo.
De 1808 até o início do século XX, diversificava-se tanto o nível de agricultura,
quanto de indústria e comércio. A indústria fumageira nacional começou com a produção de
16

rapé, sendo superado pelo charuto, o qual teve de conviver, em situação de desvantagem, com
o cigarro, que iniciava o seu ciclo glorioso. O Brasil, desde o final dos anos de 1960, atua no
mercado internacional e suas exportações alternam, ultimamente, o primeiro lugar com os
E.U.A.
As atuais estruturas de lavouras, indústria e comércio do fumo, no Brasil,
resultaram de fenômenos de concentração, ocorridos entre 1910 e 1930. No século XIX,
notadamente em sua metade, o fumo era cultivado em todas as províncias, tendo sido criadas
inúmeras fábricas, em várias regiões do país, tanto para beneficiamento do tabaco quanto para
a produção de fumo em corda, rapé, charutos, cigarros ou fumo desfiado.
No limiar do século XX, começou o fenômeno da concentração, que fez a
produção cair, na maioria dos Estados, e aumentou, consideravelmente, na Bahia e no Rio
Grande do Sul. A única diferença, nas duas regiões era o tipo das culturas e a tecnologia.
Enquanto na Bahia mantinha a hegemonia da produção de fumos escuros para charutos, o Rio
Grande do Sul aprimorava a produção de fumos claros, especialmente o Virgínia. Além disso,
a Bahia continuava com a secagem ao sol e em galpões, ao passo que o Rio Grande do Sul,
desde 1920, especializava-se na secagem em estufas, melhorando a sua qualidade.
Após 1940, o fumo brasileiro passou a se beneficiar de conjunturas favoráveis,
com o crescimento do consumo de fumos claros, no mundo inteiro.
A cultura de fumos claros, no Rio Grande do Sul, estendeu-se à Santa Catarina e
Paraná; a Bahia, por sua vez, sofreu a concorrência do Estado de Alagoas.

Assim, definiram-se nitidamente as três regiões produtoras do país: o Sul (RS, SC e


PR), pelos fumos claros para cigarros (79% da produção nacional), incluindo, em
sua menor escala, a produção do Burley e Galpão Comum; o Nordeste (BA e AL),
pelos fumos escuros para charutos (16%) e os demais Estados (em particular, MG,
SP e GO), pelo fumo em corda (5%).6

O tabaco sempre foi um produto economicamente importante no Brasil, tanto que,


no brasão de armas do Império, além do café, constava um de seus ramos; já na República,
tornou-se um dos principais geradores de tributos.

6
ZEFFRIN, Guido. Op. cit., p. 26.
17

1.3.1- A Elevada Tributação

Em 2001, o Brasil se apresentava como o 3º maior produtor mundial de fumo e o


1º em exportação. Sendo o produto que mais paga imposto, no Brasil, contribuindo com mais
de 10% da receita tributária federal.
Quem poderia imaginar que a planta mágico-religiosa dos índios, a moeda forte na
compra de escravos africanos, o elegante rapé cheirado nos salões da corte, o misticismo
envolvendo os apreciadores do charuto ou mesmo os primeiros e tímidos passos da produção
cigarreira, viessem a constituir um produto tão importante para a economia brasileira. Tal
importância, praticamente, cresceu na mesma proporção em que dos decretos baixados,
visando ao recolhimento de mais impostos originários do fumo.
Em 1993, 73,55%, era o percentual taxado sobre o valor bruto do cigarro. Por um
lado, “galinha dos ovos de ouro” dos cofres federais e estaduais, por outro lado, um
esvaziamento do rendimento desde a produção até a industrialização do produto.
No Brasil, em particular, a taxação sobre o fumo já era pesada desde o século
XIX. Os impostos se acumulavam nas mais diferentes atividades (importação, exportação,
circulação, consumo) e em todos os níveis: municipal, estadual e nacional.
O controvertido imposto sobre o consumo (atual IPI) surgiu em janeiro de 1891.
Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda do governo provisório da República, elaborou uma
proposta de reforma tributária, para restabelecer o equilíbrio das contas da União. Aprovada
pelo Congresso Nacional, a nova lei exigia que os industriais antecipassem o pagamento de
um imposto sobre o consumo do produto, mesmo antes de ser consumido, e sem previsão de
restituição.
De nada adiantou a reação dos industriais e comerciantes, acabando na resignação
do setor, depois de quase 30 anos de luta.
Cai a produção. O governo não se sensibiliza. Encarece o produto. As pequenas
empresas ficam impossibilitadas de prosseguir na atividade, por falta de capital, pois deveria
adiantar o pagamento do imposto, e também, da necessidade de criar novos tipos de produtos
mais baratos e acessíveis.
18

Conforme Guido Zeffrin (1995:116), nos anos seguintes, novos impostos de


consumo foram criados sobre outros produtos, entre os quais as bebidas. Em 1899, o fumo já
representava 25% do total do imposto de consumo e 1,1% do total da receita federal. Os
percentuais elevaram-se em 1974, para 20% do IPI e 10,9% do total da arrecadação federal,
transformando o fumo no produto que mais verbas contribui ao erário nacional.
No ano de 1993, a arrecadação brasileira sobre o fumo somou-se 4.089.000.000 de
dólares, sendo 34.000.000 para a Previdência e 4.055.000.000 de impostos. Essa cifra
corresponde ao custo para se construir 765.690 casas populares.
O que sobra ao produtor?
Conforme gráfico referente a janeiro de 1993 (ZEFFRIN, 1995:117), informa que
o valor que representa o fumo no cigarro é de 73,55%, correspondente ao total de tributos. A
margem da indústria é de 13,56%, a parte do fumicultor, 4,44%, e do varejista, 8,45%.

1.3.2- A Importância Social do Fumo no Brasil

Conforme Zeffrin (1995:118), o fumo representa um grande valor social, pois


através de gráfico, referente ao ano se 1993, fica evidente a sua contribuição no campo do
trabalho, atribuindo à atividade fumageira 980.000 empregos diretos, na lavoura, mais 20.000,
na indústria, perfazendo a soma de 1.000.0000 de empregos. Para as ocupações que têm
algum vínculo com o setor, ou seja, os empregos indiretos, absorvidos na indústria e noutros
setores congêneres, somam-se a quantidade de 2.400.000 empregos.
Na safra 93/94, com a redução de 51.000 hectares na área de cultivo de fumo, no
Brasil, houve perda de 300 mil empregos diretos e indiretos. O produtor deixou de arrecadar
mais e 200 milhões de dólares.
A International Tobbaco Growers‟ Association (ITA) – Associação Internacional
dos Produtores de Tabaco – vem travando incessantes lutas contra os antitabagistas. Defende
que a fumicultura evita o êxodo rural, pois, demanda uma expressiva quantidade de mão-de-
obra; que essa atividade propicia uma oxigenação das finanças públicas.
Segundo Zeffrin (1995:142), a Afubra, através do “Projeto Verde é Vida”,
promove reflorestamento, tornando, os fumicultores, auto-suficientes na produção de lenha e
preservação das matas ciliares.
19

Também, a Afubra conta com o “Mutualismo” (Seguro Mútuo) que ampara o


produtor, quando sua lavoura é atingida por granizo ou vendaval, outrossim, socorre-o no caso
de eventuais sinistros de estufas, durante o processo de secagem do fumo. O Mutualismo
assegura, também, a família do associado em caso de falecimento do marido, esposa ou filhos
que trabalham na lavoura, com cobertura a sócios e meeiros.
A Associação dos Plantadores de Fumo em Fôlha do Rio Grande do Sul, foi
declarada de utilidade pública, pelo governo do Rio Grande do Sul, através do Decreto nº
8.301, de 6 de dezembro de 1957.

1.4- O Fumo no Município de Guimarânia – Importância e Conjuntura

Em 1979, o então prefeito municipal de Guimarânia – José Pereira Nunes instituiu


a Bandeira e o Brasão do município. Para isso, sancionou a Lei nº 218, que em sua Secção IV
– Do Brasão Municipal – Artigo 19º - Parágrafo Único – Alínea “g”, reza o seguinte: “Nos
ornamentos exteriores, o fumo representado aponta o principal produto oriundo da terra
dadivosa e fértil, exportada para todo o País, celebrizando a marca „capoeirinha‟ e produzido
em local de mesmo nome em terras do município” (vide anexo, p. 49 e 50).
Guimarânia obteve sua emancipação política através da Lei nº 2.764 de 30 de
dezembro de 1962. Porém, a instalação do município data de 1º de março de 1963. Portanto,
trata-se de um município de criação recente.
Localiza-se na Zona Geográfica do Alto Paranaíba, Micro-Região Homogênea
172 – Mata da Corda. A sua área é de 384 Km2, com altitude média de 915 m.
Suas confrontações são: município de Patos de Minas, Patrocínio, Cruzeiro da
Fortaleza e Coromandel (vide anexo, p. 51).
Atualmente, a atividade fumageira encontra-se em declínio, neste município,
conforme constatação através de pesquisas de campo. Outras atividades sobrepõem-na, tais
como: produção de leite, café, milho e maracujá.
Essa diminuição na produção do fumo de rolo, que poderá ser, também, denominado de fumo
em corda, apresenta outras causas, dentre elas, o aumento dos adeptos aos fumos desfiados e,
mais acentuadamente, ao consumo do cigarro de papel, industrializado.
20

Outro motivo notado é o abandono ao vício de fumar, principalmente, por parte de


pessoas mais adultas.
Uma retração do comércio do fumo em corda converge à redução de sua
produção, que por sua vez, representa uma injeção menor de capital na economia do produtor.
Ao lado disso, o êxodo rural contribui para uma diminuição da oferta de mão de obra – mais
uma razão da queda da produção do fumo.
As técnicas de produção continuam quase que as mesmas há várias décadas. São
conhecimentos práticos passados de pais para filhos, geralmente estabelecidos em pequenas
propriedades rurais.
Na preparação do solo para plantio, até a década de 1970, utilizava-se o arado de
aiveca de tração animal, mormente puxado a bois, em número de quatro, ou seja, duas
“juntas” de bois. Deveriam ser bois mansos e fortes, como diziam: “bois erados” (adultos) e
bons de “canga”. Costumavam colocar uma junta de bois principiantes entre as duas outras,
para amansar. O candeeiro era peça indispensável como o era aquele que, na retaguarda,
empunhava o cabo do arado.
Em menor escala, usava-se a tração eqüina para arações mais leves, com a
vantagem, neste caso, de dispensar o ajudante da vanguarda.
A gradeação era processada através da grade de discos de tração animal - prática
pouco recorrente. O mais habitual era a destoca a toque de enxada.
Os tratos culturais dispensados à lavoura de fumo de rolo continuam, por várias
décadas, inalterados, desconsiderando – se o uso de algum inseticida na plantação, no combate
ao pulgão e ao piolho que a cometem a parte aérea da planta.
Os instrumentos utilizados na fabricação do fumo permanecem, também,
praticamente, sem alteração. A inovação mais visível é a adaptação de rolamento nalgum
agente mecânico, como a gangorra e a roda de acochar.
Outra pequena inovação é a amarração dos andaimes com arame liso, substituindo
o cipó antes utilizado, sendo que o cipó São João era o mais empregado pela sua flexibilidade
e resistência. Com isso, andaimes construídos que duravam apenas um ano, passam a ter vida
útil de até três anos.
O transporte que era realizado por carro-de-boi, foi substituído pela carroça,
camioneta, e até carrinho-de-mão. Este, muitas vezes utilizado, pois, é freqüente,
ultimamente, cultivar fumo nos arredores das moradias, adubado com esterco de curral.
21

De um certo tempo pra cá, uns vinte anos pra cá melhoraram bem, né?
Principalmente no meio de transporte que era de carro de boi, agora passou a ser
carroça, caminhonete...Também isso tudo, agora a gente usa a roda de acochar, né?
De rolamento; um jeito de virar o fumo também; tem um processo de rolamento de
dar a cocha no fumo. Então, melhorou um pouco. E sobre o jeito de arrumar a folha,
né? Antigamente era feito mais só na pindoba7, com dificuldade; hoje usa o andaime
feito a bambu, e era feito para um ano só, agora faz que dá pra três anos. Então,
evoluiu um pouco. 8

O fumo em corda já teve múltiplas utilidades: o rapé era cheirado para provocar
espirros; o fumo com urina, para curar umbigo e machucado; o pó de fumo, geralmente de
fumo mais barato, de pouca qualidade, misturada com banha de porco, depois substituída por
óleo queimado, servia para erradicar bernes e carrapatos do gado, sobretudo, do bovino; para
impedir a infestação de piolho-de-galinha nos ninhos, ou para liquidá-los, quando já presentes
nestes, colocava-se folhas de fumo no interior desses ninhos.

(...) O povo usava fazer o pó do fumo, além de pra cheirar, pra misturar no
querosene pra combater o carrapato, o berne do gado, né? Também usava para matar
piolho, hoje está usando pra plantio de café, né? Até pra certas lavouras de hortaliças
eles está usando a água do...(fumo).9

Alguns ainda mascavam o fumo, prática menos observada ultimamente. Porém, o


memorialista Nêgo Moreira, hoje, com aproximadamente 80 anos, relata costumes de seu
passado:

Muitos eram as pessoas que mascavam fumo. Colocava-se uma pequena fatia de
fumo de rolo na boca, entre os lábios e a arcada, o que permitia a limpeza dos
dentes. Entre as pretas velhas era corrente o uso de marcar fumo, o que lhes
assegurava uma alvura invejável nos dentes. Era natural que pessoas jovens ainda, se
apresentassem desdentadas e banguelas.10

7
Consiste, neste caso, numa vara de bambu colocada à sombra de forma horizontal, onde se colocavam as folhas
de fumo em pequenos molhos, previamente destaladas na roça, para a cura.
8
MOREIRA SOBRINHO, Sebastião. Entrevista. Localidade de Borges – município de Guimarânia,
10/08/2003. Mais conhecido por Tatão, fazendeiro natural deste município, tem hoje 59 anos, fumeiro desde os 7
anos. Neste ano, não está fabricando fumo, pois sua família mudou-se para a cidade.
9
Idem, entrevista cit.
10
MOREIRA, Nêgo. Quarenta balaios de saudade. Patos de Minas: N. Moreira, 1998 p.178.
22

Alguns agricultores costumam acender um cigarro de palha para afugentar os


mosquitinhos que sempre aparecem, principalmente no verão.
Ainda se usa fumar cachimbo contendo o fumo de rolo nos terreiros de candomblé
e noutros locais de cultos, sobretudo, das crenças africanas, cuja finalidade acredita ser para
evocar espíritos - prática atribuída especialmente ao mestre da cerimônia.
23

DA SEMENTE AO PRODUTO FINAL

2.1- O Cultivo da Planta

Sob o ponto-de-vista botânico, pertence o fumo ou tabaco à família das


solanáceas, tribo Cistrineas. É uma planta herbácea e anual, de caule ereto, forma cilíndrica e
de cor verde.
Conforme Maciel, já naquele tempo, em 1958, dizia ser “raro encontrar-se uma
planta em que todas as folhas se apresentassem claramente conformadas segundo as formas
típicas das espécies e variedades descritas pelos botânicos”.11
Observa ele, que os tipos comerciais procedem de inúmeros cruzamentos e
mestiçagens, numa associação de duas ou mais raças, sem que, no entanto, transmitam a sua
descendência a integridade dos caracteres primitivos.
Isso acontece no Sul do Brasil, onde a cultura do fumo para cigarros é bastante
evoluída; como na Bahia, produtora de fumos para charutos.
No município de Guimarânia, palco das investigações acerca do fumo
capoeirinha, não se conhece as variedades existentes, uma vez que, não se conta com
nenhuma instituição que cuida de melhoramentos dos fumos para a elaboração do fumo em
corda. O que é observado pelos fumicultores é a escolha de sementes que proporcionam
plantas de folhas largas, visando, apenas, maior rendimento.
Ao ser perguntado se existe alguma instituição que apóia a atividade fumageira, na
região de Guimarânia, no que diz respeito a melhoramento de sementes ou técnicas de cultivo,

o entrevistado responde: −“Não. O governo apóia somente a produção de gêneros


alimentícios”¹².

11
MACIEL, Nelson Dantas. Fumo. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura – Serviço de Informação Agrícola,
1958 (série: “Produtos Rurais”).
24

É verdade. Através do PRONAF (Programa Nacional de Agricultura Familiar), o


governo incentiva apenas a produção de gêneros alimentícios de primeira necessidade.
Para o cultivo do fumo há de se atentar para inúmeros detalhes como o clima e o
solo, bem como para uma série de providências desde o preparo da terra para o viveiro de
mudas até a maturação das folhas.
É sabido que o clima é de grande importância para a cultura do fumo, pois influi
na qualidade do produto final.
Chuvas de granizo e geadas são detestadas pelos cultivadores de fumo. As geadas,
quando acometem os pés-de-fumo, matam as folhas em questão de horas. Como medida
profilática, costuma-se transplantar as mudas mais cedo; o granizo, ao furar as folhas,
proporciona fumo de péssima qualidade, o que se torna inviável a sua fabricação.
Outro inimigo do fumal é o vento. Recomenda-se formar renques vegetais para a
defesa. Porém, o que se verifica nesta região, é a inobservância desta medida, pois, para o
fumo em corda não requer folhas intactas como para outros tipos de fumo, principalmente
para a confecção de charutos.

“O clima que mais convém ao fumo, planta tropical, é o quente e


úmido. É cultivado com pleno sucesso, produzindo tabaco de qualidade superior nas
regiões em que a temperatura média não desce jamais de 24ºC, variando o ótimo
entre 18º e 27ºC”.13

Quanto aos solos, devem ser evitados aqueles de contextura compacta, os mal
drenados e os batidos por ventos fortes ou muito sujeitos à ocorrência de geadas.
Até a década de 1970, aproximadamente, no município de Guimarânia,
aproveitavam-se os solos, para o plantio do fumo, aqueles provenientes de roçados ou de
terras de “cultura”, muitas vezes, de topografia acidentada.
Para se fazer o roçado, primeiramente, roçava-se o mato, usando foice, depois, já
usando machado, providenciava-se a derrubada das árvores maiores, restantes. Feito isso,
cuidava-se de fazer o aceiro contra o fogo. Dias depois, ateava fogo no roçado. Apagado o
fogo, era hora de amontoar as coivaras que restara e, novamente, colocar-lhe fogo. Então, já se
considerava, nesta fase, que o terreno estava pronto para o transplante das mudas de fumo;

¹² CAIXETA, Geraldo Vieira. Entrevista. Patos de Minas, 02/09/03. Fazendeiro do município de Guimarânia tem
hoje 51 anos. Não fabrica fumo há uns dez anos, pois veio para a cidade a fim de viabilizar escola superior para
os filhos
13
MACIEL, Nelson Dantas. Op. cit., p. 16.
25

porém, o que se fazia, de costume era plantar milho antes, para, depois, consorciar com fumo.
A arruação não era uniforme, pois os tocos impossibilitavam que fosse.
Nas terras de cultura, desprovidas de mato, o preparo da roça começava-se com a
queima do capim. O arado de aiveca, puxado a bois ou a cavalos, rasgava o chão. Seguia-se a
destoca, feita através do uso de enxada, ou em menor escala, da utilização da grade de discos
de tração animal. E estava pronta a terra para o plantio.
Atualmente, planta-se fumo, para obtenção do fumo capoeirinha, costumamente,
nos cerrados adubados com esterco de curral e, nos terrenos de cultura, na maioria das vezes,
declivosos.
Através do trator faz-se a aração e a gradeação, utilizando-se o arado e a grade,
respectivamente.
Para a formação de uma roça de fumo, faz-se necessário instalar um viveiro de
mudas. Observa-se que uma das razões fundamentais do sucesso de uma lavoura de fumo é a
disponibilidade de mudas sadias, vigorosas e isentas de pragas e doenças.
Sendo assim, para a instalação de um viveiro de fumo, diversos são os itens a
serem obedecidos:

O local para a instalação do viveiro deve ser próximo a um suprimento de água


limpa. Deve estar afastado do rancho onde se lida com o fumo. Também, deve estar
afastado das hortas de tomate, pepino, batata, pimentão, que atuam como focos de
moléstias.14

No espaço pesquisado, não se observam tais profilaxias. No que tange ao


suprimento de água, a sua falta sempre foi motivo para muitos, pretensos em formar lavoura
de fumo, ficarem na dependência de mudas provenientes de viveiro de algum vizinho, ou
mesmo ficar sem plantar sua roça.
Quanto ao distanciamento do local onde se lida com o fumo, às vezes não há, pois
a leira, como se denomina o viveiro nesta região, é instalada no próprio quintal do fabricante.
Portanto, é indispensável providenciar o cercamento da leira, contra animais domésticos,
sendo que o tapume mais acessível e barato é o bambu lascado.
Já o distanciamento das culturas de tomate e das outras supracitadas, sempre não há o
que se preocupar, porque os fumicultores não exercem a prática da horticultura, quase
inexistente, nesta região.

14
ALMEIDA, Tharcizio de Campos; CANÉCHIO FILHO, Vicente. Principais culturas II. 2 ed. Campinas:
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1973, p.35.
26

Há outras prevenções a serem adotadas, que dependerá, em muito, do bom senso


do fumicultor.
Na demarcação do terreno para o viveiro, por exemplo, deve-se observar que cada
m2 de canteiro deve suportar de 300 a 400 mudas em saudável grau de desenvolvimento. Que
a semeação deve se dar em dias espaçados de uma semana, objetivando obterem mudas no
ponto de transplante em épocas diferentes.
O agricultor, desse espaço em questão, não atenta para esses detalhes. É comum
sua leira não atender à demanda de mudas para o transplante. Quase não há cuidados com
pragas e moléstias que costumam acometer os canteiros. Não se efetuam semeação em dias
espaçados, ocorrendo, não raras vezes, de as mudas, ao chegarem ao ponto de transplante, não
coincidirem com as tão esperadas chuvas.
A terra para o viveiro deve ser preparada através da estercação ou da adubação,
sendo a primeira a adotada na região citada anteriormente. Sempre há o cuidado de utilizar o
esterco curtido, para evitar fermentação e, conseqüentemente, a morte das sementes de fumo.
Faz-se necessário construir proteção contra as intempéries.
Obedecendo as recomendações de Tharcizio de Campos Almeida (1973:34),
devem-se preferir os toldos de lona de algodãozinho, presos a esquadrias de sarrafos,
levemente inclinados para o Sul; deve-se mantê-los numa altura razoável do solo, para
garantir a ventilação; a cobertura deve ser removível parcial ou totalmente, conforme a
necessidade de luz solar.
Na região de Guimarânia, as coberturas são rústicas, geralmente de folhas de
coqueiro, mas podem ser usadas, também, folhas de bananeira. Houve época em que se usou
capim Jaraguá (provisório), para fazer a cobertura. Também já se valeu de capim de campo. O
capim era colocado sobre o canteiro, à medida que as mudinhas iam crescendo, iam retirando
o capim.
Providenciada a cobertura, semeia-se, geralmente, dois meses antes do transplante,
na proporção de uma colherinha de café de semente para cada m2 de canteiro. Para a
uniformidade na distribuição das sementes, misturam-nas com cinza de fornalha. Aqueles que
crêem na influência das fases da Lua fazem a semeação durante a Lua Nova do mês de
dezembro.
Decorridos dez dias, poder-se-á fazer ressemeação nas falhas acima de 10%.
Conforme a Revista Globo Rural (jan. /1999:8), no sul do Paraná existe uma
técnica de produção de mudas de fumo aparentada com a hidroponia. Denominado float, que
27

em inglês significa flutuar, o sistema foi desenvolvido nos Estados Unidos e adaptado para o
uso em pequenas propriedades no Brasil pela Souza Cruz. Economiza mão-de-obra,
proporciona uniformidade das mudas e reduz a necessidade da aplicação de agrotóxicos.
Nascidas as mudas, é preciso atentar para os tratos do viveiro. São vários os
cuidados: regas (na falta de chuva), exposição ao sol (quando há excesso de chuva), desbaste
(consiste em ralear os canteiros quando há superpopulação de mudas), repicagem (replantar
mudas em áreas ralas do viveiro), e limpeza (retirar objetos estranhos às mudas).
Geralmente, na região pesquisada, observa-se, apenas, a exposição ao sol e a
limpeza. Alguns pulverizam as mudas com o inseticida K-Othrine.
Quando as mudas chegam a uns 15 a 20cm de altura, estão prontas para serem
plantadas em local definitivo. Elas devem ser arrancadas em horas de fraca insolação,
molhando previamente os canteiros.
Na região abordada, não se usa molhar os canteiros, pois somente se arrancam as
mudas quando já choveu no canteiro e na roça que irá receber o transplante - requisito
indispensável, a presença de chuva.
Ë importante cuidar do espaçamento. Em “terra solteira”, ou “consorciado”, no
geral, com lavoura de milho, o espaçamento do milho é de 120 cm a distância entre as linhas.
Para o fumo, 120 cm entre linhas, entre plantas: 60 cm.
As covas são feitas usando um pequeno enxadão.
Não há variação com relação à região abordada.
Plantadas as mudas, dias depois, requerem os tratos culturais que são as capinas e,
a limpeza e amontoa.
No caso da capina, a carpideira pode ser usada nas culturas solteiras e quando as
plantas estão novas.
O fumo cultivado no município de Guimarânia, sobretudo, na localidade de
Capoeirinha, ocorre em terras, principalmente, acidentadas e com presença de cascalho,
inviabilizando a ação da carpideira. A enxada se torna mais recomendável, que para a roça
encascalhada, deve ser estreita, para melhor penetrar o solo.

No decorrer do primeiro mês, as limpezas devem ser efetuadas com certa freqüência,
retirando-se as folhas estragadas e brotos. Uma amontoa moderada é interessante para que a
28

fixação das plantas novas seja mais segura. A amontoa é conhecida como o ato de “chegar
terra” nas mudas, ou seja, amontoar terra ao pé da planta.
Na referida região, não se costuma retirar os brotos, pois poucos aparecem antes
que apanhem a maioria das folhas; as folhas estragadas costumam ser deixadas para os
pulgões. O pulgão (Aphis spp) suga o mel das folhas do pé-de-fumo, de baixo para cima.
Levando em conta que, as folhas baixeiras são de pouco valor, costumam ser desprezadas, no
momento da colheita, pelo fumicultor.
Recomenda-se, para eliminar o pulgão, pulverizações com inseticidas sistêmicos.
Utilizam-se, nesta região, o K-Othrine, o Tamaron e o Pi-rimor.
Crescidos os pé-de-fumo, é importante que se faça o desponte ou capação, para
melhorar a qualidade do fumo.

A capação tem grande influência sobre a qualidade das folhas de fumo destinadas à
fabricação do fumo em corda. Essa influência se traduz em maior desenvolvimento
das folhas e numa composição mais rica em gomas e resinas, propiciando melhores
condições ainda para que a maturação se dê por igual. 15

A capação consiste na remoção do broto floral, tão logo se torna visível, sendo
eliminado, também, de duas a três folhas próximas. Assim é a capação “alta”. Quando
eliminada maior número de folhas, denomina-se capação “baixa”.
Os procedimentos acima condizem com os observados na região pesquisada.
A partir dessa fase, já requer o uso de camisa de manga comprida, para livrar-se
do mel que gruda nos braços, sobretudo em seus cabelos.
Até a década de 1970, mais ou menos, os fumicultores do fumo capoeirinha
usavam camisas feitas de algodão tecido no tear mecânico. Ultimamente, costuma-se usar o
tecido de algodão, proveniente de sacos de açúcar, disponíveis nos supermercados das cidades
vizinhas, para as mais variadas utilidades.
Alguns dias após o desponte, aparecem os brotos do pé das folhas que precisam
ser eliminados.
“A eliminação dos brotos que aparecem ao pé das folhas é necessária, uma vez que,
influi na fortidão do fumo. Sem esse procedimento, produzirão fumos fracos, pobres
em gomas, resinas e açúcares”.16
É prática usual a eliminação dos referidos brotos, na região em evidência, com o
nome de desolha.

15
ALMEIDA, Tharcizio de Campos; CANÉCHIO FILHO, Vicente. Op. cit., p. 43.
16
Ibid. p. 62
29

A adubação do fumal é orgânica.


Mesmo que as adubações mais racionais sejam aquelas orientadas pelas análises
de solos, os fumicultores do fumo capoeirinha não as adotam, em se tratando de adubação
química. Nem o calcário é incorporado na roça de fumo, somente o esterco de curral, sendo o
mais propício para tal adubação aquele oriundo, em sua maior parte, de capim. Esterco
originário de ração ingerida pelo gado interfere, negativamente, na qualidade do fumo.
Ao ser perguntado, se utiliza adubo químico na lavoura de fumo, Tatão Moreira
disse:
“É... não utiliza não. Esse já foi experimentado, não foi aprovado, que atrapalha
o artigo do fumo, usa mesmo é só esterco de gado”.17
Após umas duas desolhas, começa-se a colheita.
De noventa a cento e vinte dias, após o transplante, começam as folhas a
apresentar os primeiros sinais de maturação: cobre-se de manchas amareladas, transparentes,
que, pouco a pouco, tomam toda a folha; as pontas das folhas inclinam-se, nas horas quentes
do dia; sente-se um cheio forte, típico.

“(...) de seu ponto exato de maturação e de sua localização no corpo da planta


dependerá o aspecto, o aroma, o gosto, a fortidão, todas as características enfim que
determinam a qualidade do produto elaborado”. 18

A teoria da colheita divide-se em dois pontos: maturação das folhas e processo de


colheita.
Os sinais de maturação manifestam-se de baixo para cima, no pé-de-fumo.
Primeiramente, maturam-se as folhas “baixeiras” (3 ou 4), a seguir, as “medianas” (7 ou 8) e,
finalmente, as “ponteiras”(4 ou 5).

O fumo baixeiro, por exemplo, tem pouca massa, é seco, apresenta menos teor de
nicotina, exige menos tempo na fase de fermentação e não pode ser conservado por
muito tempo. Entre o fumo mediano e ponteiro, praticamente não há diferença. O
ponteiro é, no entanto, mais rico em nicotina. Ambos atingem, geralmente, o mesmo
valor de mercado; o fumo baixeiro, via de regra, alcança um terço do valor dos
fumos mediano e ponteiro.19
Três fatores externos podem afetar no desenvolvimento da maturação: a adubação, a
seca, e a chuva.

17
MOREIRA SOBRINHO, Sebastião. Entrevista cit.
18
ALMEIDA, Tharcizio de Campos; CANECHIO FILHO, Vicente. Op. Cit. p. 52.
19
RIBEIRO FILHO, José. Preparo do fumo em corda. Técnica e considerações gerais. Ceres. [S. L.], p. 456-
478, [1955].
30

Dependendo da adubação praticada, pode-se apressar a maturação ou mesmo


retardá-la.
A influência da seca: secas prolongadas apressam a maturação do fumal.
Influência da chuva: ao contrário das secas, períodos chuvosos retardam a
maturação das folhas. Folhas colhidas, em condições chuvosas, não sofrem o fenômeno
posterior da cura em processos normais: podem ocorrer putrefações ou “ardidos”.
Neste município - Guimarânia, é observado o fato de as folhas se enrugarem,
quando colhidas, em condições chuvosas, diz-se que as folhas encresparam. Isso se mostra
inconveniente, pois as folhas ficam susceptíveis de serem rasgadas no ato da destala,
comprometendo o rendimento do produto.
No processo de colheita, procede-se assim: primeiramente, serão colhidas as
folhas baixeiras, ou simplesmente são descartadas. Poucos dias depois, inicia-se a colheita das
medianas, que darão o melhor fumo. As ponteiras, colhidas por último, produzem fumo
bastante aromático, mas ligeiramente inferior ao obtido das medianas.
A colheita deve ser praticada com tempo bom, logo após o desaparecimento do
orvalho, para que o murchamento das folhas facilite o manuseio das mesmas.

2.2- O Preparo das Folhas para a Confecção das Cordas

Inicia-se, neste ponto, a fase altamente especializada da manufatura da corda de


fumo, bastante complexa e que demanda profunda experiência por parte do fumeiro. Consta
ela de uma série de operações preliminares de preparo e de confecção da corda propriamente
dita, cujo “modus operandi” varia de região para região, apesar de se basear sempre nos
mesmos princípios.
Dar-se-á ênfase, doravante, neste sub-capítulo, às operações peculiares à região de
Guimarânia, na fabricação do fumo capoeirinha.
As folhas chegadas do campo vão diretamente para os estaleiros, onde sofrem a
cura normal. Por intermédio da cura as folhas perdem água e sofrem uma série de
transformações químicas, quando são fixadas as qualidades peculiares do fumo em corda.
A cura é processada nos andaimes, onde atravessam as fases de “amarelecimento” e
“secagem”.
31

O andaime (estaleiro) consta de uma armação de bambus, geralmente rachados ao


meio, dispostos horizontalmente, em pares, em número de nove ou dez. Cada par é
denominado “vara”, distando umas das outras de 30 cm. É sustentado, o andaime, por estacas
de madeira ou bambu, que separam os “lanços”, de, aproximadamente, 2m de comprimento
por 2m de altura. Cada andaime se constitui de um número variado de lanços, dependendo da
necessidade e do espaço disponível, destinados a receberem as folhas para a cura.(vide anexo,
p, 52).
Na fase de amarelecimento, as folhas não perdem apenas umidade, mas também
permanece viva, respirando, ao mesmo tempo em que os seus componentes químicos sofrem
alterações bastante acentuadas.
Após a fase de amarelecimento, a folha morre, seguindo-se a fase da secagem. As
mesmas alterações químicas, observadas na fase anterior, têm prosseguimento, apenas, com
maior intensidade.
Nas condições em que se processa a cura da folha para o fumo em corda, nos
galpões abertos, ou a céu aberto, as folhas vão amarelecendo e secando quase ao mesmo
tempo. A clorofila não é decomposta na proporção desejada, tornando-se logo de cor castanha.
Este, portanto, é o grave inconveniente dos galpões abertos que, não permitindo controle da
umidade, da temperatura e da ventilação e, ainda deixa entrar nele os raios solares, prejudica a
qualidade da folha.
Poucos são os que cuidam de construir abrigo (rancho ou galpão), que deve ser, de
preferência, fechado, com janelas que possibilitem o controle da temperatura e da umidade. O
mais comum é a construção de andaimes sob mangueiras, bananeiras, abacateiros, ou no meio
de arbustos próximos ao local de destala, ou até mesmo a céu aberto - hábito nada
recomendável. Quando da ameaça de chuva, é habitual cobrir os andaimes com lonas de
plástico, para evitar a encrespação das folhas.
O tempo de cura varia de 8 a 16 dias.
A fase seguinte consiste na destala das folhas. Recebe este nome o ato de se
retirar, total ou parcialmente, o talo ou nervura principal da folha de fumo.
A destala verde não é processada nesta região.
A destala murcha ou seca é o processo empregado, depois de curadas as folhas,
nos andaimes (vide anexo, p. 53).
Geralmente é um trabalho executado por mulheres, pois o trabalho na roça e os demais
são da responsabilidade dos homens. As folhas são levemente molhadas para facilitar a
32

destala. Colocadas no colo forrado com um pano - sempre um saco de aniagem, dobrado e,
debaixo deste, um forro de plástico para impedir que se molhe pelas folhas, no decorrer do
trabalho. Essas folhas vão sendo superpostas em molhos de, aproximadamente, 40 folhas
destaladas, denominados “gatos”. As destaladeiras sentam-se, na maioria das vezes, em
cadeiras, pois é prudente escorar para prevenir possíveis lombalgias. Outra providência é
colocar um tijolo no chão para que se possa apoiar um dos pés, ou os dois, nivelando a perna
direta apoiadora do gato, proporcionando maior comodidade à operante.
O passo seguinte é a fiação (vide anexo, p. 54).
Depois de curadas e destaladas, as folhas são submetidas a um processo de fiação,
variável de região para região, mas que obedece a um dos seguintes sistemas: fiandeira,
cambito ou mesa. Para o caso em questão, interessa-se a preferência à fiandeira, usada nesta
região e que recebe a denominação de “roda de acochar”. É considerado o processo mais
eficiente, pois basta uma pessoa para confeccionar a cocha (corda), sem contar que o
rendimento se apresenta superior aos demais. Porém, para agilizar a acochação, conta,
geralmente, com o “apartador” de folhas, que vai colocando uma a uma, ou até duas folhas na
perna direita do acochador. Essa função é sempre desempenhada por criança, pois dispensa
certas habilidades indispensáveis noutras, no fabrico do fumo.
Feito isso, faz-se o cordoamento (vide anexo, p. 55).
Obtidos os fios, denominados “cochas”, através da roda, tem o início a operação
de feitura da corda, que é a junção de três fios para a formação de um só: o cordoamento. Para
tanto, utiliza-se, neste município, um maquinismo chamado “burro”.
Terminada a operação anterior, é formado o “rolo”, enrolado em torno de um eixo
de pau, suportado por dois mourões e acionado por uma manivela, também conhecida por
“munheca” (vide anexo, p. 56). O eixo é removível e desde que terminado o enrolamento, o
rolo é levado ao local de fermentação. Este eixo é chamado de “bengala”, extraído nunca de
bambu, mas sempre de pindaíba e pororoca, via de regra.
“É... antigamente usava-se muito o assa-peixe, depois se usam a pindaíba ou a
pororoca, nunca se usa o bambu para fazer fumo”.20

Feito o rolo, inicia-se a fase de fermentação da corda, quando o produto deve sofrer
“cochas” ou “viras”, para eliminar a água e compactar a massa das folhas enroladas.

20
CAIXETA, Geraldo Vieira. Entrevista cit.
33

A cocha, neste momento, consiste na torção da corda, que é obtida através do


acionamento da gangorra, em sentido horário, que enrolada na bengala, através da munheca,
movimentada para frente, num movimento circular. Pau-de-fumo (bengala) e manivela
(munheca), colocados à frente da gangorra. O operador fica de costas para a gangorra, e
imediatamente antes da bengala e munheca acoplados. A essa passagem de um pau para outro
se constitui a vira, mais conhecida por reviração (reviramento).
É preciso efetuar a gradeação (vide anexo, p. 57).

Durante o primeiro mês, o rolo deve ser exposto ao sol a fim de que o excesso de
água seja eliminado. Para tanto, o rolo é preparado, sendo a corda disposta em torno
de um eixo de um modo especial, entrecruzada, formando um tipo de “grade”. Tal
operação é realizada por intermédio do burro e do macaco.²¹

Em Guimarânia, o burro corresponde à bengala com a munheca acoplada; e o


macaco equivale à gangorra.
Deve-se mudar o rolo, constantemente, de posição, desde que exposto ao sol, para
receber insolação de todos os lados (vide anexo, p. 58).
“O processo de fermentação demanda de dois a três meses e é quando as
principais transformações químicas determinam as qualidades do produto”.22
Durante a fermentação e, principalmente, durante as cochas, a corda elimina um
líquido viscoso, negro, denominado “mel”.
No final da fermentação, o rolo perdeu perto de 60% de sua massa, em água.
Depois de curado o fumo, os rolos são enrolados com todo capricho e envolvidos
em palha de milho. As palhas são colocadas do avesso e fixadas com barbante de
polipropileno, de cor branca, substituindo o barbante de aniagem, usado há umas duas décadas
antes.
Os rolos, com massa de 3 a 5 Kg, em média, são armazenados, geralmente, em
porões de terra batida, para conservar a umidade necessária. Assim, estarão protegidos contra
o vento e o frio, provocadores do indesejável ressecamento.
Quanto ao custo de produção, não há estudos experimentais a respeito, uma vez
que predomina o trabalho familiar e artesanal, em que mulheres e crianças desempenham
trabalhos leves e auxiliares. São inúmeras as tarefas a serem executadas desde a construção do
viveiro até a comercialização do produto, pronto para o consumo.

21
ALMEIDA, Tharcizio de Campos; CANÉCHIO FILHO, Vicente. Op. cit., p. 61.
22
Ibid. p. 62.
34

Ultimamente, muitos produtores perderam parte de seu contingente de mão-de-


obra familiar, passando a depender da participação do trabalho de vizinhos, ou mesmo
abandonando a produção fumageira própria e ingressando na produção de outros fumeiros.
Quanto ao rendimento, gastam-se 100 Kg de folhas para render 13 a 14 Kg de
fumo em corda.

2.3- A Comercialização e o Consumo

Na década de 1970, houve produtor do fumo capoeirinha que vendia toda a sua
produção a um único comerciante, como, por exemplo, o proprietário do “Bar Capoeirinha”,
na cidade de Patos de Minas.
Como não era suficiente o seu produto, o mesmo comprava de outrem, para
atender à necessidade de seu cliente. Com a queda do consumo desse fumo artesanal, a
comercialização tornou-se pulverizada entre vários comerciantes atravessadores. Isso porque
já não se comercializa diretamente com os comerciantes de “balcão”, que neste ramo de
atividade são os donos de bares, mercearias, supermercados e tabacarias.
Há, também, um atendimento do fabricante do fumo capoeirinha aos
consumidores da vizinhança, ou até a apreciadores de outras regiões que vão aos locais de
produção para adquiri-lo.
O desaquecimento do setor fumageiro tem possibilitado a dilatação dos prazos de
pagamento do fumo comprado, pelos comerciantes, junto aos fabricantes, bem como a
redução dos preços. O mercado fumicultor se debilita, ao mesmo tempo em que propicia a
ação de atravessadores desonestos, aproveitando-se dessa fragilidade.
Constitui, o fumo de rolo, na atividade mais importante do município de
Guimarânia, notadamente, na década de 1970, prova disso, é estampar no brasão da Bandeira
do município, instituída em 1979, exemplares dessa solanácea. Daí em diante, vai perdendo
espaço para outras culturas, talvez pelo surgimento dos fumos desfiados, proporcionando mais
facilidades para o usuário do tabaco.

Aquele hábito de tirar a palha, cortá-la - que para isso faz-se necessário o canivete -
picar o fumo, enrolar o pito, é tarefa para quem dispõe de tempo.
35

Para aqueles trabalhadores nas lavouras de café, onde demanda maior número de
pessoas, sobretudo, em época de colheita, também nas fábricas das grandes cidades, não se
podem dar ao luxo de preparar-lhes seu próprio cigarro. É preciso abreviar o tempo. Daí,
predominar, nestes espaços, o fumo desfiado, mais barato que o cigarro em carteira.
Mas, nos últimos anos, o cigarro contrabandeado do Paraguai tem substancial
espaço no mercado consumidor brasileiro. Um dos motivos é o preço:
“Um terço do mercado brasileiro de cigarros é falsificado e contrabandeado. O
cigarro legal custa, em média R$ 1,42. O ilegal, R$ 0,78”.23
Considerando-se que, o contingente feminino que aderiram ao hábito de fumar,
nas últimas décadas, tem-se revelado em curva ascendente, porém, caracteriza-se como tímido
consumidor de fumos rústicos, como é o caso do fumo capoeirinha. Deduz-se, então, que são
as mulheres, usuárias em potencial, do cigarro industrializado.
Informa a mesma revista:
“Cerca de 50% dos pontos de venda, no Brasil, repassam cigarros ilegais. A
venda de cigarro clandestino não se restringe mais às bancas de camelôs”.24
Daí, a acessibilidade ao cigarro de papel, em detrimento ao consumo dos demais
fumos.
As propagandas de cigarros das mais variadas marcas: Hollyood, Arizona,
Marlboro, Free, Carlton, Ls (“o fino que satisfaz”) e muitos outros, veiculados através do
rádio e, principalmente, da televisão que emitia imagens belíssimas de pessoas, paisagens, de
ícones de luxo e de progresso, induziam a um considerável aumento do consumo do cigarro.
Esse aumento, nas últimas décadas, conta com a participação feminina, que uma vez
aprendendo a fumar, dificilmente abandona o vício. Dispensa-se estatística a respeito. Basta
um pequeno exercício de memória.
Esses anúncios estão, hoje, proibidos, e não faltam advertências ao uso do
produto, que a partir de 31 de outubro vigente, conforme noticiário do Jornal da Globo, de 22
de outubro deste ano, os atores personagens das advertências estampadas nas carteiras de

cigarros devem ser substituídos por fotografias de vítimas do tabaco. Serão cenas ainda mais
chocantes e reais, tendo as indústrias fumageiras nove meses para processar essa substituição.

23
GARÇONI, Inês. A MÁFIA DOS CIGARROS. Revista Istoé. São Paulo. Ed. Três, n. 1765, p. 64, 30 jul.
2003.
24
Ibid. p. 62.
36

As elites, ao impor à cultura caipira tudo aquilo que reflete o atraso, prejudica a
perpetuação das tradições rurais, vistas como contrárias ao progresso.
O uso do cigarro-de-palha parece ter sido engolido pela propaganda do cigarro de
papel. Atualmente, mesmo sem propaganda, este parece fazer parte do imaginário do
brasileiro, como sendo, ainda, um dos ícones da modernidade, mas sinaliza para maiores
restrições e discriminações ao uso.
Sobretudo, no período compreendido pela ditadura militar, portar um canivete, nas
áreas urbanas, poderia resultar em dissabores com a polícia - mais um empecilho para
saborear, também, na cidade, um “Souza Paiol”.
Nesta região, não há associação nem sindicato para assistir a atividade fumageira.
Não há classificação do produto, como há na região assistida pela Afubra, no sul do Brasil,
resultando, com isso, num mercado restrito quase que somente aos municípios vizinhos.
Apesar de escapar da tributação, pois a fiscalização competente apresenta-se
inoperante, a fumicultura, deste município, não é lucrativa como antes dos anos de 1980. O
baixo rendimento da produção, decorrente de técnicas arcaicas, aliadas à baixa fertilidade
natural dos solos e o baixo consumo do produto, resulta em desestímulo do setor.
37

CIGARRO DE PALHA X CIGARRO DE PAPEL

O fumo artesanal, em corda, que ora se refere ao fumo capoeirinha, do município


de Guimarânia, longe de ser uma panacéia, mais remota ainda é a possibilidade de se
equiparar à maleficência do cigarro de papel, industrializado.
Raramente se utiliza inseticida no combate às pragas das folhas que acometem
principalmente a parte apical da planta, com exceção do pulgão que suga as primeiras folhas,
que costumam ser descartadas, na hora da colheita. Sendo assim, trata-se de um produto
ecologicamente produzido, praticamente, sem agredir o meio ambiente e a saúde do usuário.
Os inseticidas quando utilizados são: o K-Othrine, o Pi-rimor e o Tamaron, sendo
este último o de maior carência - 21 dias. Como sempre se aplica o agrotóxico nas folhas
ainda verdes e colhem-nas maduras, a carência do produto é respeitada. Mesmo que não fosse,
as folhas depois de colhidas passam pelo processo de cura por uns quinze dias, continuando
assim o seu metabolismo. Além disso, a fermentação do fumo, sempre exposto ao sol,
prossegue por mais uns três meses, eliminando água, açúcar, amido, e uma série de
substâncias químicas que o compõe.
Resta, então, apenas, a nicotina que, apesar de ser um veneno em potencial, o teor
encontrado no fumo capoeirinha é baixo, pois a quantidade de nicotina é proporcional à
fortidão do tabaco, que no caso do “capoeirinha” predomina o teor fraco e aromático.
Somando-se os prós e os contras, pode-se dizer que o fumo capoeirinha presta
uma contribuição social à população fabricante e à consumidora do mesmo. Isso porque os
recursos financeiros advindos da atividade permanecem nas mãos dos produtores locais e não
como os cigarros contrabandeados que enriquecem os contrabandistas, armando-os para
práticas criminosas, tais como: seqüestros, assaltos e sonegações fiscais.
Os fumantes, uma vez consumindo o fumo em corda capoeirinha, deixarão de se
envenenar com cigarros falsificados e contrabandeados principalmente do Paraguai, e que não
geram divisas para o nosso país.
38

Acresce que, caso deixasse de existir o fumo capoeirinha, certamente, os seus


apreciadores passariam a consumir outros fumos, incluindo-se o cigarro de papel.
Além disso, a atividade fumageira em evidência contribui para uma diminuição do
êxodo rural, este que compromete a produção agrícola e ao mesmo tempo provoca um
indesejável “inchaço” das cidades, aumentando assim o exército de desqualificados
funcionais.

“O universo rural não é um mundo idílico, mas as periferias metropolitanas também


não o são. Fica mais barato revitalizar o Brasil a partir do interior ou concentrar
problemas nas capitais?”.25

Os cigarros provenientes de contrabando, comercializados no Brasil contêm


elementos os mais estranhos possíveis, parece não se submeterem a nenhum controle de
qualidade.

“Pêlo de rato, asas de inseto, pedaços de barbante, plástico e grãos de areia. Não,
não é uma receita qualquer de bruxaria. Esses ingredientes estão na composição dos
cigarros falsificados e contrabandeados para o Brasil”. 26

O deputado Emerson Kapaz, presidente do ETCO (Instituto Brasileiro de Ética


Concorrencial), atribui a culpa pelo aumento do contrabando ao governo Fernando Henrique
Cardoso, que pregava a diminuição do consumo através do aumento da carga tributária. “Foi
uma visão enganosa que só piorou. Agora as pessoas fumam o mais barato, que tem
inseticida e outros venenos”.27
Hoje, sabe-se que 78% do valor do cigarro corresponde a tributos.
Já na página seguinte desta revista consta que:

Um laudo realizado pelo perito Edmundo Felipe Braun, professor da Academia de


Polícia de São Paulo, avaliou os componentes de pelo menos 20 marcas encontradas
no mercado clandestino. Surpresa desagradável. Entre outros ingredientes indigestos
estão pedaços de barbante, grãos de areia, insetos, bichos de fumo, capim, sementes
de ervas e plástico. Mais assustador ainda são os teores de alcatrão, nicotina e
monóxido de carbono, todos acima do nível permitido pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).

25
Fumo sobre as águas. Revista Globo Rural. São Paulo: Ed. Globo, ano 14, n. 159, jan./99, p. 33.
26
GARÇONI, Inês. A Máfia dos Cigarros: Revista Istoé. São Paulo: ed. Três, n. 1765, 30 jul. 2003, p. 62
27
Ibid., p. 65.
39

Conforme o laudo acima, na média, eles possuem 16 mg de alcatrão (4mg a mais), 1,10mg de
nicotina (0,10 a mais) e 15 mg de monóxido de carbono (13 mg a mais). Informa, também,
que a identificação dos teores é rara e que quando ocorre, pode estar errada. E, além disso,
foram encontrados dois tipos de inseticidas: Endosulfan e Permethrin, cuja utilização está
proibida no Brasil.
Foi-se o tempo em que cigarro falsificado só era encontrado em bancas de
camelôs. Hoje é possível obter um maço na padaria, ou em qualquer bar, sem notar a
diferença. A qualidade das falsificações tem melhorado muito, possibilitando que o mercado
formal absorvesse esses produtos, comprando por menos da metade do preço e repassando
pelo valor de tabela. Há falsificações até dos selos da Anvisa, por fábricas brasileiras.
Em cartaz do Ministério da Saúde encontrado numa farmácia, lê-se:

“E tem gente que diz que o cigarro não é droga.


Contém acetona, removedor de esmalte.
Contém formol, conservante de cadáver.
Contém naftalina, eficiente mata-baratas.
Contém fósforo P4/P6, usado em veneno para ratos.
Contém terebintina, que dilui tinta a óleo.
Contém amônia, desinfetante para pisos, azulejos e privadas.
Cigarro faz mal até na propaganda”.

Analisando um cigarro encontraram-se os seguintes venenos, tendo em vista que o


número exato não estava bem determinado:

“São os seguintes: Fenol, Cresol, Paracrisol, Naftol, Catecol, Resorcinol, Quinol,


Furfurol, Quaiacol, Pireno, Azuleno, Benzantracena, Piridina, Acroleína,
Benzopirina, Picolina, Lutilina, Mentol, Glicerina, Cianeto de Amônio, substâncias
radioativas; e acima de tudo e de todos, a nicotina·.”28·

Esses elementos químicos foram identificados há duas décadas, tendo em vista


que foram extraídos de uma obra editada em 1984, provavelmente já se conhece outros mais.

3.1- As Estatísticas

28
SILVEIRA, Ájax C. da. Op. cit., p. 42.
40

Estatísticas há de diversos organismos nacionais e internacionais acerca do


tabagismo, porém, a divergência de números para o mesmo assunto em mesma época é

notória. Isso porque a impossibilidade de efetuar diagnóstico exato conduz a certas


estimativas.
Vejam as progressões numéricas dos anos de 1980 aos dias atuais no tocante ao
número de vítimas provocadas pelo cigarro:

Em 1980, estatísticas da OMS revelam que “o cigarro é culpado por um milhão de


mortes evitáveis anualmente em todo o mundo.
O tabagismo é responsável por 90% dos óbitos por câncer do pulmão, 25% das
afecções cardíacas, 75% das bronquites crônicas.
No Brasil, em 1979, dos brasileiros mortos por câncer do pulmão, 94,5% eram
fumantes”.29

A maior causa evitável de morte em todo o mundo é o cigarro, conforme a


Organização Mundial de Saúde (OMS), que através de estudos constatou o seguinte:
“Oito pessoas morrem a cada segundo no planeta, vítimas de doenças
relacionadas ao fumo, e, por ano, são quase 4 milhões de mortes”.30
Os dados do Inca são um pouco mais pessimistas:

“A cada ano, quatro milhões de pessoas no mundo morrem por doenças


desencadeadas ou agravadas pelo tabagismo, número que deve dobrar até 2020. No
Brasil, 80 a 120 mil mortes anuais”.31

Outra referência ainda mais pessimista sobre o cigarro:

“Segundo a Organização Mundial Pan-Americana de Saúde (OPAS), 200 mil


pessoas morrem anualmente no Brasil em conseqüência de problemas relacionados
ao cigarro. Em todo o mundo, são 5 milhões, de acordo com a organização Mundial
de Saúde (OMS)”.32

Um fumante pode ser comparado a uma árvore coberta de parasitas que lhe sugam
a seiva.

29
SILVEIRA, Ajax C. da. Op. cit., p. 9.
30
PREVIMINAS - Fundação de Seguridade Social de Minas Gerais - O Farol (suplemento). Tabagismo. Ed.
Ago/2003. Belo Horizonte.
31
AMMG - INFORMATIVO DA ASSOCIÇÃO MÉDICA Você sabia? 43 ed. Patos de Minas, 2003, p.3.
32
O cigarro está matando. Folha Patense. Patos de Minas, 23/08/2003, p.2.
41

“Aquele que fuma a 30 cigarros por dia, perde 7 horas de vida diária,
corresponde a 7 anos de vida perdidos”.33

Outra estatística desta mesma obra revela que:


“uma gota de nicotina introduzida no bico de uma pomba é suficiente para provocar
sua morte. Oito gotas de nicotina matam um cavalo em poucos instantes. Pássaros
colocados num salão reservado para fumantes morreram em poucos dias”
(SILVEIRA, 1984: 34).

3.2- Campanhas Antitabagistas

Nos Estados Unidos, desde o início do ano de 1966, por força de lei, os maços de
cigarros já saem com alguns dizeres de advertência aos fumantes.
No Brasil, a partir da década de 1980, as campanhas de combate ao fumo
ganharam uma adesão maior com a proibição de se fumar em locais públicos (ônibus,
elevadores, lojas, e em determinados locais de trabalho).Tais atitudes visam contribuir para
que as pessoas se conscientizem dos malefícios causados a elas e aos outros pelo ato de fumar.
Pois a fumaça que é liberada do cigarro altera inclusive o organismo de quem não fuma, o
chamado “fumante passivo”. As crianças de pais fumantes são as vítimas mais freqüentes.
O tabagismo pode ser considerado como uma ferramenta com a qual se cava a
sepultura do fumante, pois quando um homem compra um cigarro está, também, comprando a
doença antecipada. Não é um paradoxo?
A campanha iniciada pelo Ministério da Saúde fazia a seguinte advertência:
“Fumar é prejudicial à saúde”. Hoje, acrescentam-se nomes de diversas doenças provocadas
pelo fumo.
“O fumo é um veneno lento, insidioso, e seus efeitos são mais difíceis de
desaparecer do que o álcool”.35
Para a Medicina, “insidioso, diz-se do mal que se inicia e progride sem que se
perceba prontamente e cujos sinais só se evidenciam quando a moléstia está bastante
adiantada”.36
Fica evidenciada uma hipocrisia por parte do Estado que proíbe a propaganda
tabagista, mas permite a comercialização do tabaco, isso porque carreia divisas para seus

33
SILVEIRA, Ajax C. da. Op. cit., p. 33.
35
SILVEIRA, Ajax C. da Op. cit., p.16.
36
BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. 11 ed. Rio de janeiro: FENAME.
1979. 1264 p.
42

cofres. É como um dístico de uma empresa funerária que reza assim: “Desejo que ninguém
morra, mas que o negócio corra”. Outros dizem que é um “veneno ignorado”. Outros há que
brincam: “O meu coração é só de Jesus, mas o meu pulmão é da Souza Cruz”.
3.3- Mas por que as pessoas fumam?

O ato de fumar tem início geralmente na adolescência, desencadeado pela


irritação, pelo desejo de se auto-afirmar, sempre em relação ao sexo oposto; antes, também
pelos meios de comunicação que, muitas vezes, eram negligentes em não informar quanto aos
malefícios do fumo e agiam como agentes estimuladores do vício, através de “belas
propagandas”. Apareciam, nestes comerciais, pessoas praticando esportes ou em ambientes
requintados.
Perguntando a um fumante como ele aprendeu a fumar, se foi influenciado por
alguém, ou se iniciou por simples curiosidade, responde:

Eu acho que fui influenciado até pelo meu pai, por uma questão de genética; sentia-
me bem com o cheiro da fumaça do cigarro de palha que ele usava. Com o passar do
tempo, fui influenciado, na época de colégio, quando eu fui estudar, tinham uns
colegas de sala que fazia uso e acontece que me tornei um viciado.37

Há engodos para os fumantes, que são os aditivos para aperfeiçoarem ao paladar,


tais como: menta, manteiga de cacau, cravo, canela, runs, etc.
Em torno dos vícios sempre existem tabus que, ao que se refere ao cigarro,
aparecem os da masculinidade e independência, para o caso dos homens. Para as mulheres, há
o desejo de se igualarem aos homens.
“É mimetização masculina de muitas mulheres que estão no poder”.38
Parece prevalecer, hoje, um consenso de que fumar é anti-social e que realmente
prejudica a saúde.
Ao perguntar a uma ex-fumante o que ela acha do hábito de fumar, disse o
seguinte:

37
GONÇALVES, Márcio Antonio. Entrevista cit.
38
CEIPA, Maria Lúcia da Cruz. Cultura feminina X cultura masculina. In: Mulheres 40 à sombra. Rio de
janeiro: Objetiva, 1994, p. 42.
43

“Hoje eu acho que é brega, que incomoda muito as pessoas, mas antes eu achava que
mulher que fumava era chique; e o homem fumava para autoafirmar; porque a
propaganda nos incentivava ao vício para autoafirmar”.39

Mas há aqueles que deixam de fumar: uns porque se conscientizam dos males e do
desconforto que o fumo causa, outros porque levam em conta o desgosto que proporciona a
algum membro da família, outros ainda que contabilizam as perdas financeiras decorrentes da
aquisição do tabaco.
Através de entrevistas a ex-fumantes e também em consulta a alguns livros sobre
como deixar de fumar, constata-se que se deve deixar o vício abruptamente, e não de forma
gradual. Pois é preciso desintoxicar o organismo para diminuir a vontade de fumar, que para
isso, o primeiro passo consiste em abster-se desse produto.
Há tratamentos auxiliares no combate ao uso de cigarro, mas uma vez não
reabastecendo de nicotina (e dos outros venenos), o organismo se encarrega da
desintoxicação, e assim, de liquidar com a dependência orgânica.
Em depoimento, uma ex-fumante confessa:

“Eu deixei de fumar de uma vez, porque aos poucos eu já tinha tentado várias vezes
e não tinha conseguido, fumava um cigarro hoje, amanhã fumava dois, e quando via
estava fumando normalmente”.40

Essa depoente revela que hoje se sente muito bem, porque antes tinha taquicardia,
insônia e outros infortúnios, que somente hoje sabe que eram provocados devido ao uso do
cigarro.
Por mais sórdido que seja o ambiente em que se vive, por mais que se exponha a
certas circunstâncias, ainda assim é possível se esquivar de se corromper.
Há lírios que crescem no lodo sem perder a sua cor, que é bela. Há flores que
exalam seu perfume em meio à poluição. Existem profissões que oportunizam ao vício.
Pracistas, garçons, recepcionistas, procurando ser agradáveis aos clientes, expõem sua saúde.
Não obstante, há valores morais e pessoas de normas inquebráveis, que de forma
alguma se deixam influenciar pelo meio.
Então, faz-se prudente evitar a primeira tragada.

39
OLIVEIRA, Maria Auxiliadora. Entrevista. Ela é natural de lagoa Formosa, tem 45 anos de idade, é auxiliar
de enfermagem, deixou de fumar há 4 anos e se sente orgulhosa por isso.
40
OLIVEIRA, Maria Auxiliadora. Entrevista cit.
44

DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA

Três obras foram imprescindíveis para a conclusão deste trabalho: “O fumo no


Brasil e no mundo”, de Guido Zeffrin, “Principais culturas”, de Tharcizio de Campos e
Vicente Canéchio Filho, e “O drama do tabagismo: causas, conseqüências e solução”, de Ajax
César da Silveira.
A primeira defende a fumicultura como atividade social, oxigenadora das finanças
públicas e fonte de geração de empregos para milhões de pessoas em todo o mundo:

Quantos há que mantêm suas atividades nas indústrias de fumo. Quantos há que
ganham o seu sustento, nas indústrias anexas, no transporte e em numerosos
estabelecimentos que exploram o comércio do fumo, sem contar o grande número de
agricultores que sobrevivem, graças ao seu cultivo (...). E o mais aquinhoado, nisso
tudo é o próprio Estado, que arrecada bilhões em impostos e taxas (ZEFFRIN, 1995:
124).

Este livro foi escrito a pedido da AFUBRA (Associação dos Fumicultores do


Brasil), em comemoração aos 40 anos desta entidade, onde retrata sua trajetória e defesa `a
fumicultura. Contesta as campanhas antitabagistas, faz duras críticas à “fome do leão”, ou
seja, à tributação ao fumo, e tenta, a todo custo, redimir a fumicultura das possíveis seqüelas
causadas aos fumantes.
A segunda presta orientações acerca da fumicultura, desde a escolha da semente
até o produto elaborado, perpassando pela preparação do viveiro de mudas, cultivo da planta,
colheita, fabricação, cura do fumo e armazenagem.
Esta obra é de autoria de dois experientes agrônomos do Instituto Campineiro de
Ensino Agrícola, de Campinas, que dentre os vários conselhos, pode-se citar o seguinte:

Aqueles que pretendem se dedicar com êxito a fumicultura na escolha do terreno,


sistematicamente deverão pôr de lado os de contextura compacta, os mal drenados e
aqueles batidos por ventos fortes ou muito sujeitos à ocorrência de geadas.
(CAMPOS e CANÉCHIO FILHO, 1973, p.34).
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A terceira obra, escrita por um profissional da Medicina que, embasado em


estatísticas, experiências próprias e de outros profissionais da área, presta informações das
mais valiosas para este trabalho:
“O câncer dos lábios surge justamente no local onde o cigarro permaneceu por
mais tempo”. (SILVEIRA, 1984: 60).
Consta-se de ensinamentos científicos, relatos de experiências de vida de
fumantes e de ex-fumantes, bem como de um método para deixar de fumar em apenas cinco
dias.
Apesar de este livro ser editado no ano de 1984, já em sua 13ª edição, ainda assim,
encontra-se atualizado na essência do assunto abordado, que são as causas, as conseqüências e
a solução a respeito do tabagismo. A solução, neste caso, é “deixar de fumar”.
Demais fontes, as mais variadas: livros de áreas não científicas, revistas, jornais,
informativos, folhetos, cartazes do Ministério da Saúde, dicionário da língua portuguesa, cada
qual prestando sua utilidade, para o aperfeiçoamento deste trabalho.
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CONCLUSÃO

Este trabalho comporta referências ao fumo no mundo e suas possíveis origens,


sua expansão, proibições e repressões. Outrossim, comporta alusão ao fumo no Brasil,
explicitando suas aplicabilidades desde o século XVI.
Retrata, também, o fumo hoje: sua importância social no Brasil e no mundo, como
geradores de empregos e impostos. Destaca a elevada tributação que impera no Brasil desde o
século XIX, visando diminuir o consumo.
Enfatiza o tabaco do município de Guimarânia - sua importância e conjuntura
atual que, através de pesquisas de campo, delineia a fumicultura, desta região, como
declinante, nos últimos anos.
Perpassa o processo de cultivo da solanácea, da escolha da semente até a colheita,
fabricação artesanal do fumo em corda denominado capoeirinha, revelando suas
especificidades, bem como sua comercialização e consumo, através de constatação in loco.
Por fim, confronta o cigarro de palha - capoeirinha, com o de papel –
industrializado.
Utiliza-se de várias fontes: entrevistas, livros, revistas, jornais, informativos,
folhetos, cartazes do Ministério da Saúde e dicionário da língua portuguesa, para a elaboração
deste trabalho.
Conclui-se, finalmente, que o fumo capoeirinha é menos prejudicial à saúde que o
cigarro de papel, industrializado, pois aquele não contém certos aditivos encontrados neste.
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REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Tharcizio de Campos; CANÉCHIO FIHO, Vicente. Principais culturas II. 2 ed. Campinas:
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1973, p. 35.

AMMG - Informativo da Associação Médica de Patos de Minas. 43. Ed. Patos de Minas, 2003, ano IV,
maio/jun. /2003.

BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. 11 ed. Rio de Janeiro: FENAME.
1979. 1264p.

CARDOSO, Alcina Maria de Souza; GONÇALVES, Heitor Antônio; CARDOSO, Marcos Antônio Benigno.
Ciências, realidade e vida. 3. Ed. V. 4. Belo Horizonte: Ed. Lê. 1991.

CEIPA, Maria Lúcia da Cruz. Cultura feminina X cultura masculina. In.: Mulheres 40 graus à sombra. Rio de
janeiro: Objetiva, 1994, p. 42.

FUMO SOBRE AS ÁGUAS: Revista Globo Rural. São Paulo. Ed. Globo, n. 159, ano 14, jan. /1999, pp. 7-9; p.
33.
GALETI, Paulo Anestar. Mecanização Agrícola: preparo do solo. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino
Agrícola, 1981.

GARÇONI, Ines. A Máfia dos Cigarros. Revista Istoé. São Paulo. Ed. Três, n. 1765, p.62-66, 30 jul. 2003.

MACIEL, Nelson Dantas. Fumo. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura - Serviço de Informação Agrícola,
1958. (Série: “Produtos Rurais”).

MOREIRA, Nêgo. Quarenta balaios de saudade. Patos de Minas: N. Moreira, 1998.

O CIGARRO ESTÁ MATANDO. Folha Patense, 23 ago 2003, n. 544, ano 11, p.2.

PREVIMINAS - Fundação de Seguridade Social de Minas Gerais - O Farol (suplemento). Tabagismo. Ed.
Agosto/2003. Belo Horizonte.

RIBEIRO FILHO, José. Preparo do fumo em corda. Técnica e considerações gerais. [S. L.], p. 456-478,
[1955].

SILVEIRA, Ajax C. da. O Drama do Tabagismo: causas, conseqüências e solução. 13. ed. São Paulo: Casa
Pubicadora Brasileira, 1984, 185 p.

ZEFFRIN, Guido. O fumo no Brasil e no mundo. Santa Cruz do Sul: Afubra, 1995, 186p.

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