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DRONES
REGULAÇÃO E DIREITOS INDIVIDUAIS
Londrina/PR
2023
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)
(Alan Moore)
The true measure of a man is not
his intelligence or how high he rises
in this freak establishment. No, the
true measure of a man is this: how
quickly can he respond to the needs
of others and how much of himself
he can give.
(Philip K. Dick)
À Lara
AGRADECIMENTOS
1. “What is known is that the word drone was used in a 1936 report by Lieutenant Commander
Delmer Fahrney of the US Navy who was in charge of a radio-controlled unmanned
aircraft project.” HODGKINSON, David; JOHNSTON, Rebecca. Aviation Law and Drones:
unmanned aircraft and the future of aviation. Nova York: Routledge, 2018. p. 18.
ABREVIATURAS
CAPÍTULO 1
OCUPAÇÃO URBANA DOS DRONES ..............................................................33
1.1 Incorporação dos drones em nossa sociedade ..................................................33
1.2 Tecnologia em conflito ........................................................................................39
1.2.1 França ..................................................................................................................40
1.2.2 Estados Unidos ..................................................................................................43
1.2.3 Portugal ................................................................................................................49
1.2.4 Argentina .............................................................................................................51
1.3 Espaço aéreo no ordenamento nacional ............................................................53
CAPÍTULO 2
DIREITOS DO CIDADÃO A SEREM OBSERVADOS NA REGULAÇÃO
DOS DRONES............................................................................................................73
2.1 Limite Aéreo ou Limite Espacial da Propriedade.............................................74
2.2 Expectativa de privacidade ...................................................................................84
2.3 Incolumidade física dos indivíduos expostos às operações com drones ......90
CAPÍTULO 3
REGULAÇÃO DOS DRONES...............................................................................99
3.1 Teoria sobre as falhas da regulação .....................................................................99
3.2 Falhas de coordenação e a aviação civil .......................................................... 105
3.3 Parâmetros mínimos a serem observados....................................................... 112
1. O livro não abordará as Aeronaves Autônomas Não Tripuladas, pois estas se configuram
como aquelas que não permitem a intervenção do piloto na condução do voo, devendo este
ocorrer da forma como foi planejado.
2. BRASIL. Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do
Espaço Aéreo. Portaria DECEA nº 143/DGCEA, de 4 de outubro de 2021. Aprova a reedição do
MCA 96-3 “Manual de Confecção das Cartas de Procedimentos IAC, SID, STAR, ATCSMAC
e VAC”, p. 19-20. Disponível em: https://publicacoes.decea.mil.br/publicacao/mca-96-3.
Acesso em: 20 out. 2022.
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5. MUNDOGEO. ANAC: Novas Perspectivas para a Regulação de Drones. (11:13). YouTube, 11 ago.
2020. (1:38:36). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4M9BoKOr8LI&ab_
channel=MundoGEO. Acesso em: 24 set. 2020.
6. A OMS afirma que a emissão sonora de aeronaves acima de 45 dB para voos diurnos e
acima de 40 dB para voos noturnos já é capaz de produzir efeitos nocivos aos ouvidos
humanos expostos. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Regional Office for Europe.
Environmental Noise Guidelines. Copenhagen, 2018, p. 17. Disponível em: https://apps.
who.int. Acesso em: 20 out. 2022.
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não só ser insuficiente para a proteção dos indivíduos, mas também ser
temerária a novos investimentos e um próspero desenvolvimento do setor.
A insegurança jurídica em face do atual estado regulatório não só é
frágil em face de um possível desrespeito a direitos fundamentais, como
consequentemente pode propiciar uma predominância do poder econômico
com o fulcro de se resguardar apenas os interesses financeiros dos agentes
envolvidos na exploração desse mercado ao longo da elaboração dos
processos regulatórios.
É imprescindível um desenvolvimento harmônico e sustentável deste
setor da aviação. Da mesma forma, requer que sejam estudados os limites
da regulação. A justificativa de se entender os limites do espaço aéreo de
tráfego dos drones e a propriedade privada, bem como a convergência
destes, aparenta ser o início de um debate promissor, mas que não pode
se limitar a apenas esta temática. A regulação obviamente não pode ser
omissa acerca dos direitos à privacidade e intimidade de todos os sujeitos
sobrevoados por esses veículos aéreos não tripulados, entendendo que os
direitos à segurança e a saúde dos indivíduos vão além dos simples casos
de colisão.
Do ponto de vista científico, justifica-se este estudo por ser ainda um
campo praticamente inexplorado juridicamente e muito promissor tanto
em uma perspectiva social como comercial e econômica. O Brasil, como
uma economia emergente e provido de um vasto espaço aéreo, tem muito a
se beneficiar de um saudável desenvolvimento deste mercado em expansão
que atrai muitos investidores.
A discussão acerca da regulação para um desenvolvimento econômico
ganha impulso com o desenvolvimento tecnológico cada vez mais inovador.
Por exemplo, estão em desenvolvimento e aperfeiçoamento projetos de táxi
drone, entrega de mercadoria, aperfeiçoamento agrícola, segurança pública
etc., sendo que alguns destes serviços já possuem licenças de operação no
Brasil.
A regulação nacional pode contribuir para a evolução da tecnologia
dos drones auxiliando no crescimento do setor, além do desenvolvimento
de aplicações e de serviços capazes de gerar novos modelos de negócios,
trazendo mais benefícios à sociedade bem como aos agentes econômicos.
O livro pretende contribuir para um aprimoramento das regulações
e criação de políticas adequadas através da perspectiva da análise da teoria
das falhas da regulação, com o enfoque nos direitos individuais das pessoas
expostas aos voos não tripulados.
As problematizações de pesquisa que nortearam o livro consistem
nas seguintes perguntas diante do atual desenvolvimento da tecnologia e
sua implementação em nossa sociedade: Os drones seriam parte de uma
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1. HODGKINSON, David; JOHNSTON, Rebecca. Aviation Law and Drones: unmanned aircraft
and the future of aviation. Nova York: Routledge, 2018, p. 18.
2. “Essas aeronaves começaram a emergir nos céus e ganhar notoriedade em cenários militares,
se tornando de conhecimento popular os modelos MQ-1 Predator e MQ-9 Reaper, utilizados
pelos Estados Unidos entre os anos de 2001 e 2015 na Guerra ao Terror, porém não
demorou muito para que elas passassem a ser produzidos e empregadas em operações civis. A
tecnologia que era utilizada pelo exército norte-americano para tirar as vidas dos seus inimigos
de Estado, hoje está sendo utilizada para operações de regaste em situações de desastre ou
entrega de medicamentos.” PINTO, Felipe Chiarello de Souza; PORTO, Henrique Andrade.
O Poder Disruptivo dos Drones e o seu Potencial de Impacto no Mercado de Trabalho.
In: BITTENCOURT, Renata Osório Caciquinho; CREPALDI, Daniela Cristina; INÁCIO,
Hillary Christine Piedade; RODRIGUES, Yuli Barros Monteiro. Direito do Trabalho como
Instrumento de Civilização – vol. 1. Homenagem ao professor Maurício Godinho Delgado. 1.ª ed.
Leme: JH Mizuno, 2022, p. 184.
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ter contribuído para que grande parte da população nacional só tenha tido
contato com essa tecnologia através de obras televisivas, notadamente as
importadas.
O distanciamento proporcionado pelo contato unicamente através de
uma tela eletrônica pode passar a impressão de tratar-se de uma tecnologia
distante, futurística; no entanto, não se poderia estar mais equivocado.
Para uma melhor compreensão acerca da dimensão do cenário nacional
das aeronaves não tripuladas, é preciso ter em mente os dados oficiais das
agências brasileiras. A ANAC3, a título demonstrativo, até 14 de abril de
2022, já havia realizado o registro de 93.445 aeronaves, ainda, para essas
aeronaves foram realizadas pelo menos 243.842 solicitações oficiais de voo.4
Um dos maiores campos de aplicação dos RPA’s é o setor de transporte
de produtos, cargas e entregas delivery. A possibilidade de locomoção do local
de retirada até o ponto de entrega por drones com um alcance médio de até
33 quilômetros5, em um tempo menor do que o percorrido pelos veículos
terrestres e com uma economia de custos, torna a escolha desse meio de
transporte atrativa para todos que utilizam e dependem desse serviço. Não
é preciso apenas ter a necessidade de percorrer grandes distâncias para
empregar o modelo de entregas por UAV’s, uma vez que estas aeronaves
também têm a possibilidade de serem utilizadas na cadeia de produção de
determinada indústria ou em outras funcionalidades.
A possibilidade de alçarem voos de maneira mais fácil que aviões e
helicópteros permite que essas aeronaves sejam utilizadas para captação
de imagens, não apenas por proporcionarem o ângulo aéreo que era ou
impossível ou deveras custoso, mas por serem dotadas de câmeras de alta
tecnologia capazes de realizar registros de alta qualidade gráfica, bem como
infravermelho e calor. A indústria audiovisual não hesitou ao empreender
essa possibilidade de novas perspectivas, seja para programas de televisão,
cinemas ou comerciais. A percepção dos drones não mais como brinquedos
3. A ANAC, em seu portal eletrônico, mantém um banco de dados frequentemente atualizado
em que é possível verificar quantas aeronaves possuem registro. BRASIL. Agência Nacional
de Aviação Civil (ANAC). Contém as aeronaves não tripuladas cadastradas em cumprimento ao
parágrafo E94.301(b) do RBAC-E nº 94. Disponível em: https://www.anac.gov.br/acesso-
a-informacao/dados-abertos/areas-de-atuacao/aeronaves/drones-cadastrados/painel-de-
drones-cadastrados. Acesso em: 14 abr. 2022.
4. As solicitações de voo são realizadas ao DECEA através da plataforma especializada para
solicitação de acesso ao espaço aéreo por aeronaves não tripuladas (SARPAS), que presenciou
um aumento de 1.300% desde a implementação desse sistema. BRASIL. Ministério da Defesa.
Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Força Aérea Brasileira. DECEA orienta pilotos
de aeronaves não tripuladas no congresso Drone in Búzios, 19 abr. 2022. Disponível em: https://
www.decea.mil.br/?i=midia-e-informacao&p=pg_noticia&materia=decea-orienta-pilotos-
de-aeronaves-nao-tripuladas-no-congresso-drone-in-buzios. Acesso em: 20 abr. 2022.
5. SHAHZAAD, Babar et al. Resilient composition of drone services for delivery. Future
Generation Computer Systems, v. 115, p. 335-350, feb. 2021. Disponível em: https://www.
researchgate.net. Acesso em: 20 out. 2022.
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